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A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) comemora, nesta segunda-feira (17), 80 anos de existência. Por causa da pandemia de covid-19, a celebração será feita por meio de concertos em vídeo divulgados nas redes sociais.

O plano inicial para comemoração das oito décadas de existência da OSB se baseava em uma Temporada 2020 festiva, com destaque para a música brasileira e os artistas nacionais, tendo a história da instituição como fio condutor das atividades. Em razão da pandemia, o projeto precisou ser alterado.

“O isolamento nos proporcionou a possibilidade de inovarmos – o que já é uma tradição da OSB. Adaptamos nossa programação para o formato digital, pois acreditamos que o cenário ainda não oferece a segurança sanitária necessária para voltarmos à rotina de ensaios e concertos presenciais”, disse, em nota, a diretora-geral da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira, Ana Flávia Cabral Souza Leite.

“Sabemos que nada substitui a experiência de estar em uma sala de concerto, mas estamos trabalhando no sentido de oferecer, em nossos canais digitais, um produto de qualidade e que transmita ao público a emoção presente em todas as nossas apresentações”, acrescentou.

Todos os programas serão gravados pelos músicos individualmente a partir de suas casas, e os concertos serão exibidos nas páginas da OSB no Facebook e YouTube, semanalmente. Amanhã, dia do aniversário, terá início a “Série OSB 80 Anos”. Serão seis vídeos publicados diariamente até o dia 22 de agosto.

O primeiro terá “Música para fogos de artifício reais”, de Haendel. Nos quatro vídeos seguintes, serão homenageadas as famílias de instrumentos da orquestra: a percussão, interpretando Bach e Ernesto Nazareth; as cordas, executando uma obra de Alberto Nepomuceno; Mozart sob os cuidados das Madeiras; e Giovanni Gabrieli ao som dos metais. Encerrando a série, a orquestra se une novamente para interpretar o célebre trecho do quarto movimento da 9ª Sinfonia de Beethoven, a “Ode à Alegria”.

A Série Beethoven, em homenagem aos 250 anos do compositor alemão, contará com cinco concertos virtuais, e o primeiro deles será exibido no dia 25 de setembro. Ao longo do ciclo, será apresentado um panorama com algumas das suas principais obras.

Já a Série Clássica Brasileira também ganhará espaço no novo cenário, com dez concertos. No ciclo, serão apresentadas obras de compositores nacionais desde Carlos Gomes e Villa-Lobos até artistas contemporâneos como Rodrigo Cicchelli e João Guilherme Ripper. O primeiro programa ganha as plataformas no dia 1º de outubro, e os concertos vão se revezar com a Série Beethoven até o fim do ano.

Responsável por revelar talentos como Nelson Freire, Arnaldo Cohen e Antônio Menezes, a OSB promoveu a popularização da música de concerto com projetos relevantes como os Concertos da Juventude e o Aquarius.

(Fonte: Agência Brasil)

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Quem alcunhou Manuel Nunes Pereira, um dos maiores etnólogos brasileiros, de “gênio florestal”, foi um homem que tem a poesia na alma e um alexandrino no nome: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac.

Manuel Nunes Pereira, infelizmente pouco conhecido pelos nossos conterrâneos e por seus pares da Academia Maranhense de Letras, foi uma das pessoas mais extraordinárias e generosas que tive a felicidade de conviver; nasceu na velha “Casa das Minas”, de origem daomeana, com traços da religião ou mitologia jeje-nagô, com culto Vodu, na Rua de São Pantaleão, em São Luís do Maranhão, em 26 de junho de 1893; era filho de Mãe Almerinda e afilhado da velha Nochê, Mãe Andreza Maria; e morreu no Rio de Janeiro, noventa e dois anos depois, em 27 de fevereiro de 1985.

Foi muito cedo para Belém do Pará e, depois, para Niterói e Rio de Janeiro, onde abandonou o curso de Direito para estudar Veterinária, Biologia e Botânica, especializando-se em Etnografia e Etnologia, cujas ciências dedicou sua vida inteira até aposentar-se pelo Ministério da Agricultura, possuindo, nesse campo cientifico, um dos maiores acervos do país, em livros, documentos, anotações, fitas, filmes e registros das mais variadas espécies.

Era um etnólogo do porte de Roger Bastide, de Arthur Ramos e de Levi Strauss, e “um homem de ciência agudamente provido de sensibilidade e visão humanística, eis o que é o caboclo maranhense Nunes Pereira”, na visão sensível, mas objetiva de Carlos Drummond de Andrade.

Era membro da Academia Maranhense de Letras, para onde foi eleito duas vezes; a primeira, ele não tomou posse no prazo regimental, tendo sido, por isso, passivo de uma nova eleição que o ratificou na cadeira nº 23, patroneada por Graça Aranha, e atualmente ocupada pelo engenheiro e mestre em Desenvolvimento Urbano, Luis Phelipe Andrès; Nunes Pereira é também um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras, onde conheceu e foi amigo de seu conterrâneo Maranhão Sobrinho, um dos maiores poetas simbolistas do Brasil.

Como prova de sua grandeza em direção do bem, trago a este dedo de prosa o nosso escritor Jorge Amado que assim explana, em “Literatura Comentada”, edições Abril [1981-2]: “(...) Antes de decretarem o Estado Novo cheguei a Manaus e fui preso... Fui colocado numa cela com o Nunes Pereira, o etnólogo, um homem encantador. Eu e o Nunes Pereira passávamos o dia inteiro debaixo do chuveiro porque fazia um calor infernal, e os integralistas desfilavam na frente ameaçando a gente de morte ...”

Estas são algumas das publicações de Nunes Pereira: “A Casa das Minas: contribuição ao estudo das sobrevivências do culto dos Voduns, do Panteão daomeano, no Estado do Maranhão, Brasil”, Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, 1947, 2ª ed., Petrópolis, Vozes, Rio de Janeiro, 1979; “Moronguetá – um Decameron Indígena”, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967 e 1976, 2 vols. [Coleção Retratos do Brasil, nº 50]; “Panorama da alimentação indígena: comidas, bebidas e tóxicos na Amazônia brasileira”, Rio de Janeiro, Livraria São José, 1974; “Os índios maués”, Rio de Janeiro, Organização Simões, 1954; “Curt Nimuendaju”, [Síntese de uma vida e de uma obra], 1946; (Opúsculo) [“A tartaruga verdadeira do Amazonas”] de 17 páginas, foi elaborado pelo veterinário Nunes Pereira e trata de uma obra bastante interessante e extremamente difícil de ser encontrada nas bibliotecas e acervos públicos.

Dentre as muitas lembranças e saudades deixadas por Nunes Pereira, uma placa de bronze foi inaugurada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por ocasião de seu centenário de nascimento, cuja confecção foi providenciada pelo último secretário do cientista, o pesquisador ítalo-brasileiro Savério Roppa.

Certa vez, no Rio de Janeiro, contou-me Nunes Pereira, procurou o escritor Coelho Netto, nosso conterrâneo ilustre, para lhe pedir, dado seu prestígio, uma colocação em qualquer abrigo, desde que o remunerasse, para que ele, o jovem maranhense, pudesse custear os estudos e pagar em dia a francesa dona da pensão, a qual fazia uma algaravia infernal quando recebia a mensalidade fora do prazo combinado.

Numa noite qualquer, em casa de Coelho Netto, o jovem disse ao mestre o prazer que tinha em cumprimentá-lo e o motivo da visita. Depois de ouvi-lo, o “Príncipe da Prosa Brasileira” levantou-se e se dirigiu à sua escrivaninha, e lá, de pé, como dizem que escrevia, o autor de “Rei Morto” minutou num papel timbrado com seu nome, um bilhete endereçado a um tal Prestes, diretor das Docas do Rio de Janeiro, que dizia textualmente isto, que me foi ditado pelo velho etnólogo:

“Prestes, amigo! O portador, Manuel Nunes Pereira, é do Maranhão como eu; e, em sendo de tal terra, é natural que faça versos, pois é filho da ‘Oliveira e da Cigarra’. Ele está precisando de uma colocação aí nas docas do Rio de Janeiro, de cujo parasitário és defensor perpétuo e escarchas contrabandistas. Se deferires este meu requerimento, saberei cantar-te agradecido em rimas d’oiro. Um abraço. Do teu, Coelho Netto”.

Essa empreitada infelizmente foi frustrada. O diretor das Docas do Rio de Janeiro não atendeu ao pedido do “Príncipe da Prosa Brasileira”, resultando apenas desse ilustre pedido, a tomada do bilhete pelo próprio Nunes Pereira que o guardou como lembrança.

Parnasianamente, “numa noite assim, de um céu assim...” Nunes Pereira desembarca em Brasília para receber o “Prêmio do Mérito Indigenista” que seria outorgado pelo Ministério do Interior, pela publicação de sua obra em dois volumes “Moronguetá – um Decameron Indígena”, a qual o contemplara com o prêmio “Roquete Pinto”, da Academia Brasileira de Letras; e como de costume, e para minha honra, levei-o para nosso apartamento como sempre o fazia. Quando de sua chegada, naquela mesma noite, bebemos uns goles de pinga que ele trouxera de Ji-Paraná, cidade de Rondônia, de onde era egresso naquela noite, e já onde se encontrava por algum tempo a pesquisar indígenas daquela região, tempo em que providenciávamos o preparo de um “tambaqui” que também trouxera carinhosamente consigo. E varamos a madrugada como se estivéssemos à margem do Rio Madeira...

No dia seguinte, pela manhã, fomos a uma livraria que distribuía os livros da “Civilização Brasileira”, para comprar os dois volumes de “Moronguetá – um Decameron Indígena”, que o velho esquecera de trazer para presenteá-los ao ministro do Interior; e, à tarde, foi o evento: justo quando Nunes Pereira autografava os volumes, o ministro, num gesto de gentileza, disse-lhe: “Já li alguns livros seus...” o que fez Nunes Pereira esboçar um sorriso de hiena e devolver-lhe o agradecimento em tom de blague: “Já se vê, ministro, que o senhor anda a ler alguma coisa!...”

Chegado o dia de sua volta, fui levá-lo ao aeroporto e, num desses voos que aparecem não se sabe de onde, eis que surge o Fernando Lobo, jornalista, poeta, compositor e, orgulhosamente, como ele mesmo dizia, pai do Edu Lobo. Ao ver o velho Nunes, dirigiu-se a ele com carinho e pilhérias bem à moda dos dois, sendo de logo a mim apresentado, tempo em que rumamos para o restaurante do aeroporto, onde nos amesendamos, entre aperitivos, reminiscências e piadas; lá pelas páginas tantas, depois de ter perdido uns três aviões da ponte aérea, o velho Nunes perguntou-me se eu não queria ir com eles para o Rio de Janeiro, a tirar do bolso do paletó um “bilhete” de passagem a sugerir que eu fosse ao balcão da companhia marcar uma ida, caso tivesse vaga... e sempre tinha... E assim foi!

Já no Rio de Janeiro; despedimo-nos do Fernando Lobo, uma pessoa que jamais esqueci pela inteligência e simpatia irradiadas, e seguimos para a Avenida Almirante Alexandrino, em Santa Teresa, endereço que escondia o velho cientista, momentaneamente vazio, vez que seus familiares se encontravam de veraneio em Nova Friburgo, no Estado do Rio.

No dia seguinte, o “bondinho de Santa Teresa”, cansado de carregar artistas e boêmios, nos deixou quase sem querer no “Amarelinho”, na Cinelândia, [donde nunca deveria ter saído], e onde gastamos toda a tarde daquele dia ao encontrarmos, por feliz coincidência, Nauro Machado, Franklin de Oliveira e Lago Burnett... à noite retornei a Brasília.

Desandando o fio à meada, quis os desígnios de Deus que eu estivesse em Porto Velho, no Estado de Rondônia, antigo “Território do Guaporé”, a realizar um trabalho temporário que fui designado a fazê-lo; lugar em que também, por períodos temporais, era núcleo natural de estudos antropológicos do velho Nunes Pereira, para onde os ventos da vida nos uniria pela derradeira vez...

Algum tempo depois, certa manhã chuvosa, para ser mais triste que de costume, ao atravessar uma praça da cidade, onde ele era muito conhecido e querido, um jornaleiro passou a apregoar o “Alto Madeira”, o maior jornal da região, com uma voz de lamento: “Atenção! Morreu, no Rio de Janeiro, o doutor Nunes Pereira!” Atenção! Morreu, no Rio de Janeiro, o doutor Nunes Pereira!”. Comprei um exemplar do jornal, encostei-me a mureta da praça e ali mesmo, antes de ler a notícia, “rezei como o salmista na caverna, e olhei para minha direita e vi; mas não havia quem me conhecesse; refúgio me faltou; ninguém cuidou de minha alma”; e ali mesmo chorei... chorei muito!...

* Fernando Braga, in “Conversas Vadias”, [Toda prosa] antologia de textos do autor.

Alunos do 5º ano do ensino fundamental de duas escolas municipais de Cotia (SP) experimentaram, em janeiro de 2020, fazer um curso de férias de matemática. A atividade, que contou com 70 estudantes, teve dez dias de duração. Na avaliação após o programa, os alunos apresentaram uma evolução média, na disciplina, de 1,3 ano de escolaridade em conceitos matemáticos.

Eles participaram do Curso de Férias do Programa Mentalidades Matemáticas, baseado na abordagem de ensino criada pela professora Jo Boaler, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos.

No Brasil, o programa foi adaptado à realidade do país e implementado em Cotia pelo Instituto Sidarta, em parceria com o Itaú Social e a Secretaria Municipal de Educação da cidade. O trabalho foi liderado por Jack Dieckmann, diretor do Centro de Pesquisas Youcubed da Universidade Stanford (EUA).

“Como um estudo de validação, estamos construindo evidências para o Mentalidades Matemáticas fora do contexto original nos Estados Unidos. A equipe do Sidarta implementou o programa em uma escola pública brasileira, mostrando que, com a escolha certa das práticas de ensino e currículo, estudantes de todas as origens podem desfrutar e se sentirem capazes em matemática”, destacou Dieckmann.

Segundo os pesquisadores, a evolução de 1,3 ano alcançada pelos alunos é correspondente ao padrão norte-americano, calculado a partir do desempenho na avaliação Mathematics Assessment Resource Service. A prova feita pelos estudantes brasileiros é a mesma usada por Stanford nos cursos de férias realizados nos EUA.

“A pesquisa nos trouxe evidências consistentes de que crianças brasileiras são capazes de aprender matemática em altos níveis quando desafiadas por um ensino aberto, criativo e visual. Ao desenvolver uma relação positiva com a matemática, elas se permitiram arriscar mais e aprenderam mais”, disse o presidente do Instituto Sidarta, Ya Jen Chang.

Com os resultados promissores, o Itaú Social disse que pretende levar a experiência para outros lugares no Brasil, transformando-a em uma tecnologia social para redes públicas.

“Estes resultados significam que mais estudantes podem se beneficiar, não só o grupo que já apresenta um bom desempenho, aspecto fundamental para colocarmos a metodologia à disposição de municípios e Estados parceiros”, destacou a especialista em educação do Itaú Social, Juliana Yade.

(Fonte: Agência Brasil)

Do cacique Tibiriçá, nascido antes de 1500 e batizado pelos jesuítas como Martim Afonso de Sousa, que teve papel importante na fundação da cidade de São Paulo a Jackson Viana de Paula dos Santos, jovem escritor nascido em Rio Branco (AC) no ano 2000, fundador da Academia Juvenil de Letras e representante da Região Norte na Brazil Conference, em Harvard.

Essas são as duas pontas de uma linha do tempo que busca contar a história de importantes personagens brasileiros que estão fora dos livros oficiais, num total de 2.251 verbetes, publicados agora como dicionário biográfico Excluídos da História.

O trabalho foi feito pelos 6.753 estudantes que participaram da quinta fase da Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) do ano passado, entre os dias 3 e 8 de junho de 2019, divididos em equipes de três participantes cada uma.

A olimpíada foi criada, em 2009, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e reúne, atualmente, mais de 70 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio em uma maratona de busca pelo conhecimento em história do Brasil. A competição tem cinco fases “on-line”, com duração de uma semana cada uma, e uma prova para os finalistas das equipes mais bem pontuadas para definir os medalhistas.

Começou com samba

A coordenadora da Olimpíada Nacional em História do Brasil, Cristina Meneguello, explica que a história do dicionário começou a partir do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira, escola campeã do Carnaval carioca no ano passado, que levou, para a Sapucaí, o enredo História para Ninar Gente Grande.

Os versos abriram alas para os “heróis de barracões” com “versos que o livro apagou” para contar “a história que a história não conta” e mostrar “um país que não está no retrato” e o “avesso do mesmo lugar”. Versos que caíram no gosto popular antes mesmo do desfile oficial, sendo tocado em blocos de rua e rodas de samba pela cidade.

Segundo Cristina, a discussão sobre os excluídos da história foi intensa entre os historiadores depois do Carnaval no ano passado, e o tema permeou toda a competição, que começou no dia 6 de maio.

“Logo na primeira fase da prova, a gente fez uma pergunta usando o próprio samba-enredo da Mangueira. A gente usa documentos variados, letra de música, propaganda, documentos históricos mais clássicos, imagens, etc. A gente já tinha definido que esse seria o tema da tarefa deles para a quinta fase e fomos colocando as perguntas para eles irem entendendo o tema desde a primeira fase”, lembra.

De acordo com a professora, originalmente não havia a intenção de se publicar o material produzido pelos estudantes. Porém, diante da riqueza e diversidade das pesquisas apresentadas, a coordenação decidiu compartilhar o material com professores, estudantes e todos os interessados, disponibilizando o conteúdo “on-line”.

“A gente já sabia que ia ficar uma tarefa muito boa, porque esse conhecimento que eles produzem a partir da escola é sempre muito surpreendente. Mas teve uma série de fatores. O primeiro foi que realmente ficou muito bom o trabalho realizado pelos participantes. Depois, o ‘template’ que foi criado, com essas quatro páginas como se fosse de um livro didático, ficou um ‘design’ muito bom e ganhou a medalha de prata no Brasil Design Award no ano passado, como ‘design’ de sistema educativo”.

Personagens desconhecidos

A escolha do personagem era livre para os estudantes, dentro do critério de ser importante para a história do Brasil e não ser lembrado nos livros didáticos. Cristina diz que o resultado surpreendeu a organização, com verbetes sobre pessoas com importância local e regional, inclusive muitos ainda vivos, mostrando que os participantes entenderam que a história é construída continuamente por personagens diversos, inclusive os que não são apontados pelos historiadores.

“Superou nossa expectativa. Nós observamos que esses personagens desconhecidos são personagens negros, são mulheres importantes para a história do Brasil, são mulheres negras, são líderes locais. Muitos fizeram o verbete de pessoas que estão vivas. São líderes indígenas, pessoas perseguidas na ditadura militar, professores que foram censurados na ditadura militar. Temos de personagens do Brasil colônia até pessoas que estão vivas nesses verbetes”.

Alguns personagens foram lembrados por mais de um grupo, portanto, há verbetes repetidos no dicionário, mas que trazem abordagens diferentes sobre a mesma pessoa.

O grupo da estudante Juliana Kreitlon Pereira foi um dos dois que escreveram sobre Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

A sugestão da personagem foi feita por Juliana, que estava no último ano da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa e conheceu a história de Mercedes Baptista pelo professor de História da Dança Paulo Melgaço, semanas antes do desafio da olimpíada.

“A Mercedes sempre fez questão de trazer a dança brasileira para os palcos. Foi uma das coisas que mais me chamou atenção. Ela trabalhou com a Katherine Dunham, uma pesquisadora de movimento e coreógrafa dos Estados Unidos. A Mercedes viu o quanto a gente precisava desse tipo de estudo no Brasil também. Ela recorreu a vários movimentos culturais, coisas que já ocorriam no Brasil mas não tinham holofote. E ela sempre quis trazer bastante atenção para isso”.

Falecida em 2014, Mercedes teve sua estátua inaugurada em 2016, no Largo da Prainha, no circuito Pequena África da zona portuária do Rio de Janeiro.

Juliana se diz muito feliz com a publicação do dicionário “on-line”. “Eu não sabia que seria publicado. A gente se esforçou tanto, eu li o livro dela inteiro, até porque era muito interessante. Pensei, poxa, não vai acontecer nada. Quando foi publicado, eu fiquei muito feliz porque mais pessoas poderiam conhecer essa bailarina”.

Já a equipe do estudante Lucas do Herval Costa Teles de Menezes decidiu escrever sobre um personagem que representasse o Rio de Janeiro e estivesse presente no cotidiano, mas que as pessoas não percebessem. Um personagem que não tivesse sido completamente apagado da história. O escolhido tem um feriado municipal em sua homenagem em Niterói e dá nome à estação das barcas que chegam do Rio de Janeiro e à praça em frente a ela, onde tem uma estátua: o indígena temiminó Araribóia.

“Eu achei interessante a dinâmica que o personagem teve com os povos estrangeiros, no caso, os portugueses e os franceses. Porque, geralmente, quando a gente aprende sobre a relação dos povos indígenas e os povos europeus invasores, a gente não pensa muito em identificar esses povos indígenas, nunca aprende sobre a história individual de uma figura indígena. Eu achei que ele teve uma história individual muito interessante, foi uma figura de liderança, teve muito envolvimento em mais de uma narrativa política daquela época, e isso me chamou atenção”.

O grupo de Lucas foi o único a lembrar de Araribóia, conhecido como fundador de Niterói e figura fundamental na disputa entre portugueses e franceses que levou à expulsão destes.

Olímpiada

A 12ª edição da Olimpíada Nacional em História do Brasil está com inscrições abertas até o dia 7 de setembro. Podem se inscrever equipes de três estudantes de 8º e 9º anos do ensino fundamental e todos os anos do ensino médio, com a orientação de um professor ou uma professora, de escolas públicas e particulares.

Diferentemente da maioria das olimpíadas científicas, a ONHB estimula a busca pelo conhecimento em história, e não avaliar o que o estudante já sabe por meio de uma prova.

“É um sistema de aprendizagem participar de olimpíadas. Ela é muito exigente e não quer aferir se os estudantes já sabem, ela dá tempo para eles estudarem, perguntam para o professor, perguntam uns para os outros. Tem uma pergunta de uma coisa que ele nunca ouviu falar, não viu na escola. Mas do lado tem um texto, ele lê, se informa, pesquisa na ‘internet’ e volta para responder. Nesse processo, ele aprendeu história. Eu não estou muito interessada se ele já sabia, mas se ele aprendeu naquele momento, o nosso objetivo pedagógico é esse”, afirma Cristina Meneguello.

A primeira edição da ONHB, em 2009, contou com 15 mil participantes. No ano passado, o número chegou a 73 mil. Por causa da pandemia de covid-19, a competição deste ano será online, não havendo a prova presencial para os finalistas que normalmente é aplicada na Unicamp.

As fases são compostas por questões de múltipla escolha e uma tarefa que será corrigida por outros grupos. Serão escolhidas 400 equipes finalistas, o dobro do usual, com distribuição de 20 medalhas de ouro, 30 de prata e 40 de bronze, que serão enviadas para as escolas.

(Fonte: Agência Brasil)

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A data foi instituída, em 1976, pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF, quando ainda era CBD – Confederação Brasileira de Desportos).

A data homenageava o mais antigo clube do Brasil em atividade, o Sport Club Rio Grande, fundado no século XIX, em 19 de julho de 1900.

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ÓPIO DO POVO

Soldados de calção
no campo de batalha
driblando o coração
pondo a bola na malha.

A bola
no peito
no pé
na raça.

A força
no muque. Perícia.
A ginga
o jeito
(também
o dengo
o truque. Malícia.)

A bola
que topa
que passa
a mil:
é o gol
é a Copa
é a Taça.
Brasil! Brasil! Brasil!

* EDMILSON SANCHES

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O poeta Federico García Lorca (Foto: Reprodução)

Federico aliou-se a rastros de sangue
pela liberdade e pelo verde que queria
verde, como no romance sonâmbulo.
O poeta sem defesa, fora franqueado

por homens de crânios de chumbos
que cantavam a balada da guarda-civil.
Federico longe das colinas de Vega,
amanheceu desgraçadamente fuzilado,

morto como um pássaro na ramagem
e desvalido numa vala rasa em Vizna,
porque seu canto, eterno em Espanha,

como todos os ciganos feridos pela dor,
que o aterraram na “Carmen” entre flores,
ainda agoniza nas neblinas de Granada.

* Fernando Braga, in “O Sétimo Dia" - Prêmio Cidade São Luís (Sousândrade) 1994.

Iluminação de Sol num poente de tristeza. Sol esmaecido, em agonia... Sombras de tarde caindo... Poesia da Natureza Criadora... Noivado das emoções num murmúrio de prece... E há em tudo a presença de Deus no coração dos homens. E, nos olhos das mulheres e das crianças, a contrição dos sentimentos religiosos. No conjunto da paisagem, a fulguração geográfica da Terra, da ILHA, da cidade.

Tudo assim, Sérgio Miranda, para te sentir mais de perto, para te relembrar mais intimamente, para te rever em toda a extensão da tua vida terrena, esta que viveste na terra, a terra que um dia é berço, na terra que um dia é túmulo.

E aí estás... na expressão dolorosa da vida, na transformação do nada. E aí estás: na imobilidade que é morte. O corpo em repouso. O corpo sem vida. O corpo nesta extraordinária fascinação que não mais arrebata, mas que comove, que indica a verdadeira realidade da vida que aqui se vive, que aqui se sonha, que aqui se luta, que aqui se desgasta em sucessivas etapas de deveres e de obrigações.

E aí estás... cigarra que cantou seu último canto, na noite iluminada, as estrofes dos últimos versos e, na garganta, estrangulou o último soluço. E aí estás... cigarra que emudeceu quando cantava as últimas canções e interpretava, como tu só os sabias, as páginas magníficas das canções brasileiras. Aí estás... cigarra dos estios no abandono de ti mesmo, glorificado pelos teus sofrimentos, redimido pelas tuas decepções. Aí estás... seresteiro das noites tradicionais da cidade... nesta postura que aflige, que atormenta, que é ainda incompreensão, que é ainda dúvida, que é ainda justificativa impressionante dos mistérios da vida, da vida que já começaste a viver, da vida que é eterna, da vida que é uma continuação de outras vidas.

Tudo é assim, Sérgio Miranda. E tu o sabias. Todos sabemos que há um dia assim em cada vida. É o fim da caminhada que se inicia no berço. E caminhaste pela vida, foste criança da cidade, moleque da cidade, homem da cidade. Teu mundo foi diferente, Sérgio Miranda. Um mundo de sonhos e fantasias. Enamorado das emoções. E relembrando Coelho Netto: “um esbanjador de talento”. Uma vida em constante fulguração dos sentimentos mais diversos. Tua vida, uma eterna canção das tuas próprias tristezas e dos teus próprios sonhos. E, quando, para ti, tudo parecia uma revoada de novas conquistas – teus 41 anos – eis que tudo se modifica tão terrivelmente. Eis que tu tombas, eis que teu corpo cai, eis que escapa de ti, dramaticamente, isto que Bilac chamou: “alegria de viver”. E se não morreste num “dia assim, de Sol assim”, fechavas os olhos numa noite assim, iluminada de estrelas, feericamente iluminada de luz.

E tu bem sabes que eu te sinto aqui, tua presença aqui, fisionomia calma, e é de ti que vem ainda, nesta tarde de Sol morrendo, simbolismo do esmaecer, esta suavidade que é um balsamo de consolação, uma mensagem de resignação, de fé e de crença, que é Amor. Este amor que redime e que perdoa.

Sei que me estás ouvindo, ouvindo o boêmio que ficou, o companheiro das serenatas, o companheiro das noites perdidas, vividas por nós, na grandiosidade desta boemia do espírito. E vim para te sentir, já o disse, mais intimamente. E a cidade, Sérgio Miranda, palco da nossa existência, se vestiu de tristeza não para ti chorar, mas para te glorificar nesta tarde, à sombra dos ciprestes. Nas suas ruas, nos seus becos, nos seus botecos, nos seus bares, nos seus bairros, nas suas ladeiras, por toda a parte, viva estará a tua presença. Tu eras a alma da cidade, seu intérprete inconfundível. E nas noites enluaradas, salpicadas de astros, estrelas, sóis, tu voltarás a cantar no silencio das nossas recordações. E aqui, tantas vezes, virão os pensamentos dos boêmios que ficaram para ungir de saudade este teu túmulo.

Será assim, Sérgio Miranda. E até logo, amigo. Até logo, companheiro das horas alegres e cheias de amarguras. Até logo, companheiro das serestas da cidade. Não é uma despedida. Ninguém, Sérgio Miranda, se despede à beira do túmulo. Porque é aqui a verdadeira morada dos que vivem na terra. Até logo, Sérgio Miranda...

* Paulo Nascimento Moraes. In “A volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 22/9/1963 (domingo)

Neste domingo...

Dicas de ortografia
1ª) Devemos escrever com “SS” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “GREDIR”:
AGREDIR – agressão, agressor, agressivo;
REGREDIR – regressão, regresso, regressivo;
PROGREDIR – progressão, progresso, progressivo;
TRANSGREDIR – transgressão, transgressor, transgressivo.

2ª) Devemos escrever com “SS” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “MITIR”:
OMITIR – omissão;
DEMITIR – demissão, demissionário;
ADMITIR – admissão, admissível, inadmissível;
PERMITIR – permissão, permissivo, permissível;
TRANSMITIR – transmissão, transmissivo, transmissível, intransmissível, transmissor.

3ª) Devemos escrever com “SS” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “CEDER”:
CEDER – cessão;
SUCEDER – sucessão, sucessivo;
CONCEDER – concessão, concessivo, concessionária.

4ª) Devemos escrever com “S” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “ENDER”:
TENDER – tensão;
COMPREENDER – compreensão, compreensivo, compreensível, incompreensível;
APREENDER – apreensão, apreensivo, apreensível;
PRETENDER – pretensão, pretensioso, despretensioso;
ASCENDER – ascensão, ascensorista.

5ª) Devemos escrever com “S” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “VERTER”:
VERTER – versão;
REVERTER – reversão, reverso, reversivo, reversível;
CONVERTER – conversão, conversível;
SUBVERTER – subversão, subversivo.

6ª) Devemos escrever com “S” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “PELIR”:
EXPELIR – expulsão, expulso;
IMPELIR – impulsão, impulso;
REPELIR – repulsão, repulsivo.

7ª) Devemos escrever com “Ç” todas as palavras derivadas dos verbos TER e TORCER:
ATER – atenção;
DETER – detenção;
RETER – retenção;
OBTER – obtenção;
MANTER – manutenção;
ABSTER – abstenção;
TORCER – torção;
CONTORCER – contorção;
DISTORCER – distorção.

Teste da semana
Assinale a opção que completa, corretamente, as lacunas da frase abaixo:
“Pela estrada __________ ela, o pai e eu: o relógio __________ três horas”.
(a) vínhamos / dera;
(b) vinhamos / dera;
(c) vinham / davam;
(d) vinham / deram;
(e) vínhamos / deram.

Resposta do teste: letra (a).
Quem vinha pela estrada era “ela, o pai e eu”, ou seja, “nós”. Quando um dos núcleos do sujeito composto for “eu”, o verbo deve concordar na primeira pessoa do plural (= nós vínhamos). O acento agudo no “i” se deve ao fato de ser uma forma proparoxítona: vínhamos. Na segunda lacuna, o verbo deve ficar no singular, porque o sujeito é “o relógio”: “o relógio dera…” Se não houvesse o sujeito (= o relógio), o verbo DAR deveria concordar com as horas: “Deram três horas”; “Deu uma hora da tarde”; “Davam dez horas da noite quando ele chegou”.

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Veja o tamanho da contribuição de Caxias para o Brasil, só no campo das Letras, Artes e Cultura, em geral:

Caxias é a terra onde nasceram...

... GONÇALVES DIAS, advogado, etnólogo e escritor, o “pai” do Indianismo na Literatura Brasileira, autor da “Canção do Exílio”, provavelmente os versos mais conhecidos de um escritor brasileiro: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá” [...];

... TEÓFILO DIAS, advogado e escritor, o introdutor do Parnasianismo no Brasil;

... CELSO ANTÔNIO DE MENEZES, escultor e escritor, introdutor do Modernismo nas Artes Plásticas no Brasil;

... COELHO NETTO, o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, três vezes indicado ao Prêmio Nobel, pioneiro do cinema seriado no Brasil (foi também roteirista e diretor); “inventou” a palavra “torcedor” com o sentido de quem é fã de esportes; capoeirista, foi o responsável pela disseminação da capoeira como esporte/dança/arte digna; seu filho João, apelidado “Preguinho”, foi autor do 1º gol da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo; Coelho Netto foi quem deu a ideia de o Hino Nacional Brasileiro ter uma letra, pois era apenas a música de Francisco Manuel da SIlva;

... JOÃO MENDES DE ALMEIDA, advogado, jornalista, tupinólogo, abolicionista, redator da Lei do Ventre Livre, que considerou livres os filhos de escravos a partir da Lei; homenageado com praça e busto em São Paulo (SP), teve sua monumental obra jurídica relançada pelo Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp); foi deputado e presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo;

... TEIXEIRA MENDES, filósofo e matemático, apóstolo do Positivismo no Brasil, autor da Bandeira Brasileira e de centenas de livros e outras publicações;

... ARMANDO MARANHÃO, artista plástico, teatrólogo e professor de Teatro, considerado “A Pedra Angular do Teatro Paranaense”; estudou na Europa com os maiores diretores de Cinema e Dramaturgia da História: Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Laurence Olivier, entre outros.

... UBIRAJARA FIDALGO, dramaturgo, apresentador, ator, considerado o primeiro dramaturgo negro do Brasil, fundador do Teatro Profissional do Negro, autor de várias peças, encenadas no Rio de Janeiro mas inéditas em livro;

... BERREDO DE MENEZES, advogado, escritor, ex-prefeito de Vitória, capital do Espírito Santo, poeta com obras traduzidos para outros países e línguas;

... JOÃO DE DEUS DO REGO, escritor, foi da Academia Paraense de Letras;

... CÉSAR MARQUES, médico, historiador, tradutor, pesquisador, professor, autor do “Dicionário Histórico-geográfico da Província do Maranhão”;

... VESPASIANO RAMOS, precursor da Literatura no Estado de Rondônia, autor do livro “Coisa Alguma...”;

... ELPÍDIO PEREIRA, músico, maestro e escritor, autor da melodia do Hino Caxiense, estudou e apresentou-se em Paris e teve sua obra musical e óperas editada na Amazônia, onde ensinou, compôs e apresentou-se;

... ADÉRSON FERRO, odontólogo, jornalista, dramaturgo e escritor, considerado a “Glória da Odontologia Brasileira”, foi pioneiro no uso de anestesia odontológica no Brasil e autor do primeiro livro científico sobre Odontologia, no século XIX;

... RODRIGUES MARQUES, romancista, considerado o “papa-concursos”; morava em Niterói (RJ);

... e ADAÍLTON MEDEIROS, CID TEIXEIRA DE ABREU, DÉO SILVA, FLÁVIO TEIXEIRA DE ABREU, JOSÉ JOAQUIM DA SILVA MAÇARONA, LUCY TEIXEIRA, MANOEL CAETANO BANDEIRA DE MELLO, e tantos – taaaaaaaantos – outros, mortos e vivos...

Pois esses e outros homens e mulheres – sem mencionar aqueles que honraram o Brasil na Administração Pública, na Ciência e Saúde, no Direito, nas Artes, na Economia etc. – têm espaços onde, muito ou pouco, são lembrados – ou, pelo menos, não são esquecidos. Entre esses espaços, o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, a Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão e a Academia Caxiense de Letras (ACL), a instituição-máter e/ou referência, que completa anos exatamente hoje, 15 de agosto.

A solenidade de posse dos membros da ACL foi realizada no ano seguinte, 1998, dia 1º de agosto, a grande data cívica do município. Convidado pelos meus Pares Acadêmicos, fiz o discurso de posse em nome de todos. Este discurso:

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“O PASSADO DE CAXIAS É UM PRESENTE DE FUTURO”

(DISCURSO DE EDMILSON SANCHES NA SOLENIDADE DE POSSE DOS MEMBROS-FUNDADORES DA ACADEMIA CAXIENSE DE LETRAS, NO AUDITÓRIO DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, INDUSTRIAL E AGRÍCOLA DE CAXIAS, EM 1º DE AGOSTO DE 1998).

Senhoras e Senhores:

O local mais seguro para um navio é o porto onde ele está fundeado. Mas não é para portos que se constroem navios.

O lugar mais seguro para um automóvel é a garagem, onde ele fica guardado. Porém, não é para as garagens que se fabricam carros.

O melhor lugar para uma criança é o colo da mãe ou os braços do pai. Entretanto, não é para ficar vitaliciamente debaixo das vistas do pai ou sob as saias da mãe que se geram filhos.

Uma Academia igualmente é um local razoável para um intelectual, para um humanista. Mas, ouso dizer, não é somente para reunir gentes sábias que se formam academias.

Não, Senhores. Apesar de ali estarem seguros, não é para portos, mas sim para os mares, que navios são construídos. É para a probabilidade da tempestade, é para a possibilidade da bonança, é para a certeza da viagem que navios são feitos e são lançados à água e singram mares já ou nunca dantes navegados. Navios são feitos porque os mares, e não os portos, existem.

Também é para roer distâncias, encurtar tempos, transportar pessoas e coisas, que se fazem carros. Eles são para as ruas e estradas, pois das vielas e becos cuidam nossos pés. É porque existem espaços para transitar, e não garagens para estacionar, que se industrializam carros.

É para a vida, para o mundo, para a certeza das buscas e incerteza do encontro, que se geram filhos. Sobre eles, pais, no máximo, têm autoridade, não propriedade.

É principalmente para unirem-se em torno de um ideal, e não em frente uns dos outros, que pessoas se juntam em clubes de serviço. E uma Academia de Letras também é, ou deve urgentemente ser, um clube de serviços, ou, melhor, menos clube, e mais serviço. Prestar serviços que prestam.

Porque é urgente e preciso organizar as pessoas para que elas organizem, para melhor, o mundo. Abrir não o leque que espalhe um arzinho de conforto, mas um fole, que resfolegue, que crie, espalhe e trabalhe também o desconforto, donde poderão sobrevir respostas e realidades – assim como do desconforto, da irritação da ostra nasce a preciosidade da pérola. As Letras não são somente canto de acalanto, mas toque de despertar, sinal de alerta, sirene de alarme, aviso de marcha, hino de guerra, canção de vitória.

Senhores:

O que legaliza uma Instituição é seu registro, mas o que a legitima é a qualidade de sua ação. Os Cartórios e as Juntas Comerciais estão cheios de certidões de fantasmas, de escrituras de vivos-mortos. Nesse caso, não há muita diferença entre uma certidão de nascimento e um atestado de óbito.

Não tem jeito. O mundo exige, as cidades precisam, o ser reclama: pessoas e instituições têm de fazer diferença. Há muita inércia no mundo, muita energia estática.

Em uma Academia, não basta assinar o ato de posse – temos de tomar posse dos nossos atos. Pelo menos, nós aqui, gente escolada na vida e no ofício, sabemos que o ato de posse não se exaure, ou não se deve exaurir, nesta noite de destaques e de discursos. Não basta tomar posse NA Academia; e indispensável tomar posse DA Academia... Que ninguém se sinta pleno aqui e agora. Academia não mais é reverência; quando muito, é referência. É, em igual tempo, museu e laboratório, conservação e criação, pensamento e ação.

Por mais inusual, pouco comum, que pareça, também cabe a uma Academia – como caberia a qualquer Instituição – auxiliar na desinstalação das pedagogias criminosas. Da pedagogia que não adiciona valor, embora subtraia rendas. Da pedagogia prendedora, e não empreendedora: a educação para a passividade, que disciplina para a dependência, não para a competência.

A dependência cria, no máximo, a revolta; a competência faz a revolução. A revolta muda as pessoas do poder. A revolução muda o poder das pessoas, mostra às pessoas que elas são ou têm o poder.

O revolucionário preexiste à revolução. Uma revolução inicia-se pelo nível da consciência. Uma revolta, pelo nível da emoção. O que se inicia pela consciência fortalece a emoção; o que começa pela emoção, fragiliza a consciência. O revolucionário tem consciência da necessidade. O revoltado tem necessidade da consciência.

Uma Academia é um laboratório – e não um repositório – de consciências.

Senhoras e Senhores, meus Confrades da Academia Caxiense de Letras:

Muito do que aqui estou dizendo é repetição, senão pregação, do que venho falando ou escrevendo já há algumas décadas, a partir, mesmo, desta minha Caxias, ela que é muito mais de mim que eu dela, pelas necessidades e oportunidades que me tornaram saudável vagamundo cidade afora.

Caxias merece sua – esta – Academia. Estranha-se, até, o não ter havido há mais tempo, há décadas, mesmo há séculos, a ocorrência da salutar tradição que somente hoje, agora, aqui se repete, excetuadas as outras formas de ajuntamento de pessoas e nominação de entidades similares que existiram no município.

Caxias, a do Maranhão, pode-se dizer, é uma das raras cidades das mais de 5 mil que existem no país que não se diz apenas berço de homens de letras: mais que escrever livros, seus filhos construíram Literatura, deram início a Escolas, gêneros, modos de fazer, que influenciaram e influenciam. Porque foram seres que não só usaram as Letras; eles ousaram nelas.

Caxias, portanto, sem passadismo, tem, de ser mais ousada e menos usada. Menos reverência à História (cujo mérito ninguém nos tira) e mais referência de Futuro, cuja construção se inicia todo dia e pode ser negada.

Não basta a Caxias ser um museu a céu aberto se livros e mentes permanecerem fechados. O passado desta cidade, como bem poucas cidades podem dispor, é o baldrame, pode ser as fundações sobre as quais se podem alevantar edifícios inteiros na área econômica, como o turismo de eventos, o turismo cultural e o ecoturismo. O passado está – e é um – presente... de futuro.

Talvez isso, quem sabe, seja a grande fórmula do desenvolvimento, um desenvolvimento onde aos haveres econômicos se aliem os valores culturais. Tudo tem de estar integrado. Onde a Engenharia erga prédios, a Estética espalhe sensibilidade. Onde a Geografia imponha limites, a Cultura interponha pontes. Onde a Economia fixe preços, a Arte destaque valores. Enfim, onde o Homem faz corpo, Deus sopre alma. Porque, à maneira de Vieira, prédios sem pessoas viram ruínas senão escombros. Países sem pontes viram isolamentos senão ditaduras. Economia sem cidadania vira exploração senão barbárie. Política sem Humanismo vira escravidão senão tirania. E pessoas sem cultura nem alma viram máquinas senão monstros.

E por que assuntos como este, de Arte e Cultura, parece ser tão incompreensível, inadmissível, tão “démodé”, às vezes tão estranho, hoje?

O que foi que aconteceu? Houve a banalização da fala? A vulgarização da palavra? A dessensibilização dos sentidos? A dessacralização dos sentimentos?

É o mau uso da Língua, a incorreção da linguagem, a palavra de duplo sentido ou a vida sem nem um significado?

É a precariedade ética, a prevenção cética, o primarismo estético, o pragmatismo técnico?

É a miopia política, a ausência de crítica, a repetição cíclica, a deseducação típica?

É a inafeição cultural, a inaptidão intelectual, a indisposição literal, a desinformação atual, a decomposição moral e coisa e tal, o que é, Senhoras e Senhores? É a falta da virtude rara, da vergonha na cara?

Desculpem-me – peço-lhes – se, em vez de um fraseado bonito e soluções confortantes, trago-lhes eu aqui um leriado, um palavreado feio e dúvidas cortantes, constantes. Mas, até nisto, há de se entrever algum mérito, porque o homem também cresce quando duvida.

É preciso mais. É urgente dar mais vida à vida.

Nós, os acadêmicos “de fora”, claro, não estamos EM Caxias, mas sempre estaremos COM Caxias. Ser caxiense não é construir residência em Caxias – é construir Caxias dentro de si. Não é ter emprego na cidade – é trabalhar por ela. Não basta apenas ser filho da cidade – é preciso criar e crescer a cidade dentro de si.

Uma cidade e uma academia têm esse ponto em comum. Caxias – e sua Academia – não são somente referência, reverência, abstração, memória, história, inspiração. Caxias – e sua Academia – não são só um sentido, um sentimento. A cidade – e sua academia – também são matéria, chão, paredes, mobília, necessidades a serem supridas, reclamos a serem atendidos, participação a ser cobrada, direitos a serem exigidos, deveres a serem cumpridos, contas a serem pagas. Nesse ponto, estou certo, pela cidade e pela Academia, nós, os acadêmicos “de fora”, faremos o possível – embora, reconheçamos, o possível nem sempre é bastante.

Senhores Acadêmicos, Senhoras e Senhores:

Em Caxias, sua Academia de Letras não é um contraste – é do contexto. Não é um confronto – é um encontro. Nasce de espíritos interessados, não de mentes interesseiras. A lógica de sua criação baseia-se em argumentos, não em argúcias.

É demagógico o discurso de que uma academia não é necessária a uma cidade, de que a região tem outras prioridades. Claro, ninguém vai à “vernissage” nem à “avant-première”, ninguém vem a uma solenidade como esta com olhos e bucho de fome. Mas Terra e homem foram dotados de recursos suficientes para que, explorados de forma inteligente e íntegra, integral e integrada, a vida se faça plena, dispensando, pois, prioridades isolacionistas, hierarquias mecanicistas, vícios segregacionistas, demagogias separatistas. Visão de conjunto, percepção do todo: É perfeitamente possível transformar em complementar o que se diz concorrente. Tornar compatível o que se julga contraditório. Fazer amigo no que é adversário.

Senhoras e Senhores:

Como disse no dia 1º de maio deste ano, nas solenidades da Semana de Gonçalves Dias, o orgulho de ser caxiense se amplia saudavelmente todas as vezes que aqui me encontro – “me encontro”, aqui, no sentido de que aqui chego e aqui me redescubro mais filho desta terra, mistura deste pó, amálgama deste barro.

Descontados os intelectuais caxienses que aqui continuam a residir, a cidade, por estes dias, ficou um pouco maior, populacional e, ouso dizer, culturalmente.

Neste 1º de agosto, Caxias tem duplo motivo para comemorar: a História que se repete há 175 anos, pela adesão à Independência; e a História que se inicia, pela posse formal dos membros desta Academia. No mínimo, deve estar contente o cantor dos Timbiras, e se água do oceano neste instante se encrespar mais é porque o Poeta se regozija sob o manto marinho que lhe serve de coberta há 133 anos.

Como se vê, Caxias, assim como Paris, é uma festa. Festa literária. Festa de reencontros. Festa de relembranças. Festas de História.

Colegas Acadêmicos:

Como veem, por tudo o que disse aqui, Academia não é só um fardão: ela é também um fardo.

O qual, pessoalmente, ajudo a carregar.

Senhoras e Senhores, colegas de Academia:

Sejamos cada vez mais caxienses.

Sejamos cada vez mais cidadãos.

Sejamos cada vez mais solidários.

Sobretudo, sejamos cada vez mais felizes.

Pela paciência e atenção, aceitem minha gratidão; e, com afeto, aceitem o afeto que se encerra neste peito juvenil.

Muito obrigado!

* EDMILSON SANCHES

Uma pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros durante o isolamento social mostra que as pessoas que deixaram o isolamento para se entreter, apresentaram piores níveis de adoecimento mental do que aquelas que continuaram em quarentena. O isolamento social foi uma das medidas adotadas por governos estaduais e municipais para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus.

“A pessoa que permaneceu em quarentena parece ter mais recursos emocionais, cognitivos, para ficar confinada, em comparação com aquelas pessoas que flexibilizaram para o entretenimento”, disse o coordenador da pesquisa, professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O estudo começou em março e está agora na terceira fase, de análise de dados. Os resultados da terceira fase, realizada entre os dias 20 e 25 de junho, deverão ser divulgados até o fim deste mês, prevê Filgueiras.

Outro dado interessante é que pessoas que precisam sair para trabalhar costumam adoecer mais, do ponto de vista mental, do que aquelas que permanecem trabalhando de casa. “O advento do “home office” é protetivo do ponto de vista de saúde mental, comparado com pessoas que precisam sair para trabalhar”, apontou Filgueiras. Motoristas de ônibus, entregadores, profissionais de saúde que estão na linha de frente, todos apresentam quadros piores de sintomas de doenças mentais, completou.

Etapas

Participaram das duas fases anteriores do estudo, realizadas de 20 a 25 de março e de 15 a 20 de abril, 1.460 pessoas de 23 cidades de nove Estados brasileiros, que responderam a um questionário “on-line” com mais de 200 perguntas. A pesquisa é coordenada pelo professor Filgueiras, do Laboratório de Neuropsicologia Cognitiva e Esportiva (LaNCE), em parceria com doutor Matthew Stults-Kolehmainen, do Yale New Haven Hospital, dos Estados Unidos.

Nessa terceira fase, foram entrevistados 1.896 brasileiros de 16 Estados, dos quais apenas 120 participaram das etapas anteriores. Segundo Filgueiras, não houve queda do nível de adoecimento mental em relação a abril. Nas duas etapas anteriores, as ocorrências de ansiedade e estresse apresentaram aumento de 80%.

Embora ainda não possa afirmar com precisão, Filgueiras disse que “se a gente pensar que os dados de março são dados parecidos com a prevalência na população brasileira, além de ter dobrado desse momento para abril, provavelmente ainda teve um aumento para junho. Isso significa que nós estamos com duas vezes, pelo menos, mais pessoas doentes mentalmente do que comparado fora da pandemia. Isso é uma situação bem grave”.

Depressão

Alberto Filgueiras analisou que os casos de depressão, por exemplo, podem ter consequências graves. A mais básica delas é o suicídio. “É a ocorrência mais comum nos casos de depressão agudizada, quando ela está bem evoluída, além de dificuldades de trabalhar, de lidar com situações da vida. A pessoa perde a capacidade de fazer coisas básicas, como tomar banho, ela perde energia para trabalhar, para fazer as coisas, como se a vida fosse insossa para o deprimido”.

Os casos de ansiedade e estresse, por sua vez, podem resultar em doenças cardíacas, coronarianas, possíveis enfartes, gastrites, problemas estomacais, obesidade, anemia. “A alimentação fica desbalanceada. Muita coisa pode ser causada por esses quadros de ansiedade e estresse que a gente está observando”. Filgueiras afirmou que, muitas vezes, isso é tratado como se fosse um problema físico quando, na verdade, se trata de um problema de ordem mental que não está sendo detectado. “Isso é comum de acontecer”.

Os dados de março e abril revelaram que as mulheres são mais propensas do que os homens a sofrer com estresse e ansiedade durante a quarentena. Mas quem recorreu à psicoterapia pela internet apresentou índices menores desses dois problemas. (Alana Gandra)

(Fonte: Agência Brasil)