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De folhas e raízes (ou do visível e do invisível em nós)*

Edmilson Sanches, entre paredões e árvores de Paris

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Paredões parisienses não me impressionam. Não é para eles que olho. As árvores, elas sim, em qualquer lugar, nos dão lições – se, como bons alunos, pudermos nos aperceber disso.

As árvores nos dizem de adaptação, sem arredar dos propósitos. Perder as folhas, mas manterem-se fincadas as raízes. Pois da resistência destas dependerão as folhas novas que amanhã se penderão nos galhos hoje outonalmente desfolhados.

Muita gente tem largado suas ruas, mudado de endereço e de vida, abandonado seus caminhos pela ambição de apressarem a próxima estação. Não querem parecer flores sem pétalas, ramos sem folhas, galhos sem ramos, troncos parecendo sem vida. Pessoas que não querem parecer plantas desnudas, quando obrigadas ao “strip-tease” da sobrevivência.

Mas folhas que caem não são doença – é estratégia. É economia de energia, desviada da sustentação dos pecíolos para o que, na árvore, por um breve período, lhe será mais essencial: tronco e raízes. É o típico exemplo do perderem-se os anéis e conservarem-se os dedos. Abscisão. Mais tarde, daqui a pouco, novas folhas e flores brotarão e a quem sabe ver comunicarão a alegria, exibirão a aquarela multicor surgindo de pincéis e palhetas manuseados pela Natureza mãe e pintora.

Quantos, ao chegarem ao outono de recursos, relações, aparências, suportam-se em cima das próprias raízes?

Muitas das vezes, avançar não é mudar. É manter(-se).

Desflore. Desfolhe. Desenrame. Mas não (se) desenraíze.

Mantenhamos nossas raízes interiores. Pois o invisível sustenta o visível em nós. Assim como a base, as fundações de uma casa, escondidas lá mais embaixo, sem uma mão de cal, sem uma pá de cimento, sem um azulejo ou outro acabamento... Mas são elas, as fundações, como raízes, que sustentam as paredes que sustentam a laje ou vigamento que sustentam o telhado.

Assim também o invisível em nós, árvores humanas, cujas raízes, como certas plantas aquáticas, vão aonde nos levam o fluxo da vida.

Viva sua raiz. Radicalmente.

“Adieu!”

* EDMILSON SANCHES