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MIL E UMA VEZES DENTRO DE TI*

– Milla...

– Hummm...

Madrugada sonolenta. A janela traz-me o mesmo olhar de estrelas, imensidão e lua.

Deitada lindamente a amada. Dela tornara-me senhor e nela escrava isaura escravizara meu amor.

Que coisa! Em mil dias mil vezes o amor se fez e liqüefez-me dentro dela. Sêmen sangue suor saliva sexo.

Sabe, neste momento em que acoplo minhas mãos em concha sobre o contorno dos teus seios...

Milla. Mil.

Mil corações valsou ataulfo. Mil lágrimas chorou adelino. Mil mulheres cantou herivelto. Mil. Mil coisas.

Ronronando educadamente, um Mille (o Mille é Uno; fia-te nele) atravessa lá embaixo a madrugada que não descamba. A lua lá em cima acima de nós espia pelas frestas e nos percebe nus. Agora por exemplo tuas ancas se repartem e cada parte me aglutina me deglute amalgama catalisa catalético cataplasma cataclismo. É assim nós dois. Fundimo-nos. Fundimos o que podemos. E mil vezes nós nos podemos quase tudo.

Madrugada sem horas. “Uma chuva chocha e chata chapinha o chão e chacoalha o choco coaxar de coxos sapos”.

Mil. Milla. Mil milhas nós nos andamos nossos corpos. Mil vezes a mastro e vela tuas costas eu litoraneei. Mil vezes tu e eu, nós, milady milord. My Lord! Mil! – a imortalidade da felicidade, a longevidade dos justos. Cada dia da árvore da vida, mil anos. “Mil anos são como um dia”, salmeia a Bíblia. Adão perdeu sua vida de mil anos porque pecou uma vez. Uno. Mille. Pecamos adamicamente mil vezes e, eu e ela, quanto tempo perdemos? Sei lá.

Milla... Esse teu corpo mil-flores que incenso, millefoliu que desfolho, despetalo talho entalho e criminosamente retalho, te entalo, ingresso em teus lugares vazios espaços apertados até tu te sentires completa ocupada lotada. Lotação esgotada. Amar a mil (kama sutra é prefácio perto de nós).

Milla. Una. Mil e um motivos para amar mais uma vez. Mil e uma trapalhadas fez sinhô. Mil e uma noites marchou joão de barro. Mil e uma noites eu conto. Mil. Mil... e uma vez mais dentro de ti. Assim, “aliso espremo vergo tremo martirizo gemo: nervo de Touro em carnes de Virgem”. E tu também de tremes te torces retorces contorces te mexes remexes tu gemes nós gêmeos...

Como uma lava leve neve láctea meu eu líquido te leva ao enlevo e percebo tuas bordas íntimas róseas tua vulva ígnea qual miniatura de vulcão preparando sua erupção e regurgitando de prazer e jorro. Quase morro. E essa calma quase morte que se afoita e se afoga em nossos corpos quase mortos sem fôlego...

As janelas escancaram e deixam passar a brisa açoitada pela chuva. Surpreendida na sua espreita, a lua espiã puxa para si uma nesga de nuvem que passeava plúmea e plúmbea e se esconde, agora corada de vergonha e relâmpagos.

Cá embaixo, na cama, Milla e eu levantamos um brinde igualmente rubro. Depois, liberados os copos, de corpos nas mãos, esperamos o sol, o solene amanhecer.

E, logo mais, manhã cedinho, novamente o amor acontecer...

Ahhhnnn....

* EDMILSON SANCHES