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Encerra-se, nesta quarta-feira (3/4), o prazo para inscrições no Gestores em Movimento que será realizado em São Luís. O programa visa a capacitação de músicos, estudantes de música e administradores da área cultural em gestão de teatros, orquestras e salas de concertos, além da realização do Festival Gestores.

Para se inscrever, basta acessar o site www.gestoresmovimento.com

Apresentação do prograna

A equipe responsável pulo Gestores em Movimento apresentou o programa a potenciais parceiros em São Luís.

Na foto, um dos gestores do projeto Bruno Cunha (@brunomcunha), com o diretor da Galeria Trapiche,  Uimar Junior (@uimar.junior), e o diretor do Teatro da Cidade de São Luís,  Aldenor Filho (@aldenor_filho).

(Fonte: Assessoria de comunicação)

TIA LUÍZA

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“– Meu sobrinho, eu não sei nada de política... mas eu sei de você. E tenho certeza de que sei qual é a resposta que você vai dar”.

*

Ela se chama Luíza Gama Soares e aniversaria neste 1º de abril. É minha tia. Em razão de seu nascimento no primeiro dia deste mês, ela e eu costumamos brincar um com o outro: “Luíza abre, Edmilson fecha” – porque eu sou do último dia do mesmo mês.

Há tempos, devia a mim mesmo, mas sobretudo à minha tia, um texto com registro de parte de uma conversa que ela e eu mantivemos há anos, lá por 2016 ou 2018, um desses anos de eleições.

Nessa época, eu era dirigente partidário em Imperatriz e candidato com, pelo menos, sete a oito campanhas disputadas para vereador, prefeito, deputado estadual e federal. No total, foram nove campanhas em que fui candidato.

Tendo eu alguma prestação de serviços ao município imperatrizense, com postura e compostura ética em relação às coisas e causas da Política e da Administração Pública maiúsculas, com resultados eleitorais de mais de quatrocentos a até cerca de vinte e cinco mil votos, construiu-se na cidade e região uma percepção razoavelmente positiva em torno de meu nome, que se adensava em época de campanhas políticas.

Isso, de certa forma, e o fato de ser dirigente partidário (presidente), autorizava membros, sobretudo gestores e candidatos, de outros partidos a enviarem prepostos para tentar um “acordo”, uma convergência de esforços, essas coisas. Afinal, a Política – dizem – não é a arte do diálogo?

Pois certa feita um emissário de uma coligação partidária veio “dialogar” comigo. Veio com argumentos na fala... e algumas centenas de milhares de reais na mala.

O emissário era um conhecido meu, profissional liberal, professor universitário. Ele representava e negociava, naquele ano, os interesses político-partidário-eleitorais de uma coligação.

Após as cortesias iniciais de praxe, ele abriu o jogo, e a mala. Em resumo, disse que, se eu aceitasse isso e isso, a mala ficaria, eu contaria o dinheiro e, estando tudo certo, eu o informaria e ele ligaria para um determinado número (que ele me mostrou na tela de seu celular), após o que viria até a minha residência uma equipe de filmagem para gravar trinta segundos de imagens e áudio, em que eu diria que fulano e sicrano eram as melhores pessoas desde Jesus Cristo e declararia apoio à coligação e suas pretensões.

É claro, não disse sim nem não logo. Pedi ao emissário que esperasse, enquanto eu daria alguns telefonemas para ouvir a opinião de gentes de meu “grupo” político – na verdade, alguns amigos de referência e reverência, que (ainda) acreditam e apostam em nosso nome quando este é colocado entre os demais que, como eu, ousam entrar nesse moedor de carne e reputação humanas que são as campanhas, as eleições, a Política.

Enquanto o emissário estava, admirado, passeando os olhos pelas dezenas de milhares de livros de minha biblioteca, entrei no quarto, fechei a porta, liguei o ar-condicionado (para produzir um certo barulho...) e fui fazer contato com o “grupo”. Depois, liguei para minha tia Luíza – é aqui que ela entra na história...

Minha tia mora em um município do lado norte do Maranhão. Após pedir a bênção e procurar saber como ia ela de saúde (ela é setentã), contei-lhe o que estava ocorrendo naquele instante – a montanha de dinheiro por um apoio e tudo o que esse apoio representaria de envolvimento, cobranças etc.

Paciente e silenciosamente, minha tia me escutou. Quando terminei, ela, com aquela sabedoria que os mais velhos vão desenvolvendo ao longo das décadas de vida, só disse uma frase. Não falou nem se impressionou com o volume de dinheiro, com a retribuição (pouca, para alguns) que eu teria de dar para ter a “grana” e, depois, gastá-la. Minha tia não perguntou sobre o emissário... nada. Tia Luíza focou, centrou no essencial – que era o sobrinho dela. Sem titubear, sem arrodeio, segura, ela disse o que quase ninguém mais diria:

“– Meu sobrinho, eu não sei nada de política... mas eu sei de você. E tenho certeza de que sei qual é a resposta que você vai dar”.

Pronto. Só. Uma pancada. Como também se diz: Nem Salomão, em toda sua sabedoria, diria o que minha tia disse.

Naquelas palavras dela, estava o testemunho de quem, desde adolescente, com outra irmã (Isabel) e dois irmãos (Raimundo João e José Lourenço), conviveu com minha mãe, Dª Carlinda Orlanda Sanches, e comigo e meus outros quatro irmãos (Francisca Cláudia, Carlos Magno, Júlio César e Wendel). E não esquecer o Papai Velho (Papai Véi, como chamávamos), nosso avô materno Manoel, já falecido, que sabia tocar boiada e flauta e, além de histórias sobre nossos remotos antepassados e antecedentes, me falava de música e dos termos e notas musicais, acerca dos quais sou ignorante até hoje.

Tia Luíza disse, naquelas palavras curtas e sábias, da índole, da ética, da criação que todos (meus irmãos e meus tios) tivemos, sob a inspiração (honestidade) e a transpiração (trabalho) de minha mãe. Uma índole, uma ética, uma criação que, para alguns e para hoje (mas desde já há algum tempo), parecem coisas ultrapassadas, parecem “frescura”, lembranças de gente velha... Já imperam por aí as gerações que não conheceram ou não querem saber de hábitos e costumes como pedir a bênção, pedir licença ao passar entre duas pessoas que conversam, obedecer aos pais, respeitar os mais velhos, ter temor (ou. pelo menos, respeito) a Deus e aos valores espirituais.

Minha tia é da família, que é onde estão as poucas pessoas que sabem mesmo de mim, de minhas raízes, caule, tronco – quando alguns outros, que acham que me conhecem, da minha árvore de vida sabem, quando muito, apenas de ramos, folhas, flores, frutos...

As conversas com meus tios são repletas de lembranças e sorrisos.

Não temos problemas em rirmos de nós mesmos...

Memórias da infância, da adolescência e juventude...

As brincadeiras, as rodas de conversas, os jogos de mesa, as anedotas, as pescarias com simples anzóis de chumbada no Rio Itapecuru, quando este não era o atual curso d’água líquido, sujo e incerto de hoje...

Pescar também pelo método de “tapagem”, em que a entrada de água de um braço do rio era obstruída com uma barreira ou barragem feita de toras de madeira, galhos, folhas, barro etc. e, depois, esvaziada, após o que se retiravam com as mãos, da água rasa, diversos tipos de peixes – piaus (de coco, de vara), curimatás, pescadas, surubins, branquinhas, carás, mandis (inclusive o mandi dourado), traíras, lampreias, anojados, aniquins, mandubés, piabas, piranhas, caranbanjas, futricas (mandis e outros peixes ainda bem pequenos), tubis, sarapós, muçuns, cangaparas (espécie de pequenas tartarugas)... E também retirávamos, de locas em lajes, bodós, violas e outros cascudos (inclusive o sete léguas)...

Cozinheira de mão cheia e de pratos vazios (pois do que ela prepara nada sobra...), tia Luíza mantém a tradição familiar de excepcionais mulheres de mão boa e paladar bom na cozinha, que nem mãe Carlinda e tia Isabel e também minha irmã Cláudia. Aqueles peixes, então, cozidos, fritos ou, em certos casos, assados, eram de a gente comer que “dava bom dia a jumento”  (expressão da época – anos 1960/1970 – de múltiplo uso e sentido).

Um tempo atrás, tia Luíza esteve umas duas semanas comigo, na casa em que moro. Entre tantas lembranças que reavivamos, lembrei a ela a frase:

“– Meu sobrinho, eu não sei nada de política... mas eu sei de você. E tenho certeza de que sei qual é a resposta que você vai dar”.

Foi não.

A resposta que dei foi: “Não”.

Eu não aceitei a proposta.

Sei que há os que dizem ou diriam que não veem problema em aceitar uma oferta ou negociação política dessas, que faz parte do “jogo”, que não se perde uma reputação por isso etc. etc.

Bom, cada um decide como lhe convém, como pode e quer. O certo é que, minutos depois de nos despedirmos, o advogado e emissário político enviou-me mensagem pelo telefone, onde expressava sua admiração por mim, dizia que veio apresentar a proposta porque era sua missão dentro do partido, porém – afirmou ele – já sabia desde o início que, apesar da volumosa tentação monetária, eu não iria aceitar.

Como se vê, a gente também ganha quando não se perde...

Por suas palavras, obrigado, tia Luíza.

E, neste 1º de abril, dia de seu aniversário, que o bom Deus cuide de sua saúde, mantenha seu bom humor e amplie seu crescimento espiritual.

Felicidades.

A bênção.

Parabéns.

(... E guarde minha fatia do bolo...).

* EDMILSON SANCHES

FOTOS:

Tia Luíza e o filho, Diego. Bons de trabalho... e bons de prato...

NÃO É FÁCIL

*

Não é fácil pregar o novo, o diferente, o justo, o correto. Pode-se terminar enxovalhado pelas multidões e sacrificado na cruz.

Não é fácil pregar – e praticar – o novo. Poucos aceitam mudanças em cima daquilo de que se beneficiam.

Quando recusamos uma nova mensagem, ou a proposta de um novo jeito de ser, de um diferente modo de fazer, não nos diferenciamos daqueles que, frente ao palácio de Pôncio Pilatos, pediam por Barrabás e condenavam o Pregador ao martírio dos cravos, ao suplício da cruz.

Neste ano eleitoral, só a Sexta-Feira passada foi da Paixão e Santa – todas as demais serão da Política e do fingimento.

Mas o povo quer que seu político escolha a claridade, não o acinzentamento;

... o holofote potente do campo de futebol, não a lâmpada tremeluzente da boate da esquina.

Escolher a luz, não a escuridão;

... a transparência, não a obscuridade;

... a seriedade, não o acanalhamento;

... o servir, não o ser vil ou servil;

... a verdade, não a mentira;

... o Bem, o Bom, o Belo, não o mal, o ruim, o feio.

Enfim, procurar o humano e o divino, e não o desumano e o diabólico.

*

Boa Páscoa para você.

* EDMILSON SANCHES

Tiradentes (MG), 18.01.2024 - 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes. – Mussum, o filmis. Foto: Universo Produção/Divulgação

Ocorre até a próxima terça-feira (2) o 26º Festival de Cinema Brasileiro em Paris, na capital francesa. O evento deste ano homenageia o ator e diretor Antônio Pitanga, ícone do cinema brasileiro. Ao todo, 30 produções nacionais serão exibidas durante o festival, que se realiza no renomado cinema de arte L’Arlequin.

Os parisienses, turistas ou brasileiros que estejam em Paris interessados em conhecer o Brasil pelas telas do cinema poderão conferir filmes legendados em francês que retratam desde a disputa política eleitoral no país até os que retratam a Floresta Amazônica por dentro.

O documentário No Céu da Pátria Nesse Instante, de Sandra Kogut, conta como foi a eleição de outubro de 2022 até o dia 8 de janeiro de 2023. Já o documentário A Invenção do Outro, de Bruno Jorge, mostra uma expedição liderada por Bruno Pereira em busca de estabelecer contato com indígenas isolados.

Para a produtora Ana Arruda, da Sétima Cinema, empresa especializada em exibição e distribuição de projetos de cooperação internacional, em especial, entre Brasil e França, o Festival é uma vitrine histórica para os filmes brasileiros.

“É um festival importante para mostrar como o Brasil é bem maior, bem mais amplo do que três obras de referência, três clássicos que foram mais reconhecidos em outras décadas. Em termos de mercado, aquece bastante para a coprodução, é um ponto de encontro também onde distribuidores, produtoras vão para buscar os talentos, para ter um contato direto com artistas brasileiros”, diz.

Parte do Brasil também será exibida em Paris por meio de um documentário que conta a história da cena de funk, soul, rap e pagode, entre outros ritmos, que marcaram a vida paulistana nas décadas de 1970 e 1980. O filme Chic Show, de Emílio Domingo e Felipe Giuntini, conta a história do baile Chic Show, que recebeu artistas como Tim Maia, Gilberto Gil, Kurtis Blow, Betty Wright e até James Brown.

Outro filme que retrata o Brasil é Mussum, o Filmis, de Silvio Guindane, que conta a história do humorista Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, dos Trapalhões. O festival exibiu ainda o documentário Nas Ondas de Dorival Caymmi, de Locca Faria, que revela a criação das obras musicais do baiano Dorival Caymmi. Já a ficção Meu Nome é Gal, de Dandara Ferreira e Lô Politi, conta a história do movimento Tropicália e como ele transformou a música brasileira.

Outra obra exibida é o documentário Utopia Tropical, de João Amorim, feito a partir de uma conversa entre o linguista e escritor estadunidense Noam Chomsky e o atual assessor internacional da Presidência da República, o embaixador e ex-ministro Celso Amorim. Na conversa, ambos discutem a ascensão e queda dos governos de esquerda na América Latina nos últimos anos.

Já os filmes de ficção que estão na mostra competitiva do festival são: Sem Coração, de Nara Normande e Tião, Betânia, de Marcelo Botta, Nosso Sonho, de Eduardo Albergaria, Pedágio, de Carolina Markowicz, Pérola, de Murilo Benício, Felicidade Fez Morada Aqui Dentro, de Haroldo Borges, A Batalha da Rua Maria Antônia, de Vera Egito e O Diabo na Rua no Meio do Redemunho, de Bia Lessa.

Confira a programação completa aqui.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, destacou que o Festival é fundamental para ampliar a visibilidade dos filmes e dos artistas brasileiros no cenário internacional. “Nesta edição do festival de Paris, que tem o Pitanga como homenageado, o público vai viver uma experiência cinematográfica única, marcada pela qualidade e originalidade de nossas produções”, destacou.

Homenageado

O 26º Festival de Cinema Brasileiro em Paris homenageia Antônio Pitanga. “Figura importante do cinema brasileiro, já atuou em mais de 70 filmes, e em sua rica e longa carreira colaborou com diretores emblemáticos do Cinema Novo como Glauber Rocha, figura central do movimento. A homenagem que lhe será prestada este ano oferecerá ao público a oportunidade de conhecer uma seleção dos filmes mais significativos da sua carreira”, destaca a organização do evento.

Entre os filmes da carreira de Antônio Pitanga transmitidos em Paris, estão: Barravento, de Glauber Rocha, Na Boca do Mundo, primeiro filme dirigido por Pitanga de 1979, além de Ladrões de Cinema, de Fernando Coni Campos, Casa de Antiguidade, de João Paulo de Miranda Maria e Pitanga, documentário sobre o ator dirigido por sua filha, a também atriz Camila Pitanga.

“Sua trajetória de mais de cinco décadas é marcada por interpretações memoráveis e pela participação em filmes que se tornaram referências no cenário cinematográfico nacional e internacional”, exaltou a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

(Fonte: Agência Brasil)

Fim de Sexta-Feira Santa...

Sabe essas horas em que caímos embevecidos ante a Beleza?

Beleza nos detalhes da Criação.

Nas formas fêmeas femininas curvas contornos curvaturas formas fléxeis férteis formas de mulher fôrma do Homem.

Nas cores tessitura odores textura sabores contextura de flores e frutos.

Beleza no que podemos, nós seres humanos, extrair de nós mesmos – como a Música.

Ah... a música!...

Para este fim de semana, antes de embebedar-se com os atuais gêneros musicais que “arrastam multidões”, permita-se menos de três minutos com uma composição de antigo gênio musical.

“Gloria in Excelsis Deo”, do italiano Antonio Vivaldi, 346 anos de seu nascimento neste março de 2024.

Há versões dessa música, ao sabor ou humor do maestro/arranjador. Umas, mais rápidas; outras, bem menos.

A língua italiana tem nomes para a velocidade ou “andamento” em música: pianíssimo, piano, largo, adagio, andante, allegro, allegretto, presto...

Bom fim de semana.

E curta esse curto trecho da Grande Música.

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Advirto logo:

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DE MÚSICA NADA SEI. APENAS SINTO – SINTO MUITO...

*

De música nada sei.

Não sei identificar qualquer daqueles símbolos que dizem representar notas musicais.

Aliás, sequer sei quando uma nota musical é ela:

DÓ para mim ainda é piedade, compaixão, uma pena...;

RÉ é apenas a mulher solitária esperando a sentença ante o juiz;

MI é tão só uma parte desse mimimi monótono, repetitivo, fastidioso, maçante, recorrente, enfadonho...;

FÁ, meu Deus, no máximo é parte de alguma coisa: metade de fato, redução modernosa de "Fátima", antes "Fafá";

SOL é o astro-rei, fonte de calor e vida, indevidamente responsabilizado pela seca na natureza mas não pela secura dos homens;

LÁ ainda é ali, aquele lugar, onde quem não sabe cantar soletra monossilabicamente “lalalá”;

SI é para os que deviam cair em si em vez de estarem cheios de si entre si mesmos.

Pois é. De música nada sei.

Só sinto.

Sinto muito...* EDMILSON SANCHES

“Cultuo a vida”

(Carvalho Junior)

*

Enquanto o escritor Carvalho Junior lutava pela sobrevivência, eu ficava pensando no que pensavam suas duas maiores obras – as filhas – e a esposa, Joseneyde. Sem querer, mas sem controlar, me lembrava de minha mãe doente, entubada, e de como seríamos nós seus filhos sem ela, a grande mãe, a grande fieira, o grande cambo que nos unia a todos. (Aliás, a palavra “Cambo” é título de um livro que estou escrevendo e Carvalho Junior por “n” vezes me dizia do quanto gostava desse título e brincava: “– Se você não escrever esse livro, escrevo um com esse nome...”.

Não há como esquecer as conversas ao telefone por horas e horas seguidas, o sem-número de áudios e as mensagens, as dúvidas e perguntas que me fazia o Carvalho Junior sobre algum aspecto da Língua Portuguesa, da Literatura e da História caxiense.

A gente fica pensando no quanto de orações, “energias”, mensagens, poemas, imagens foram feitos, enviados, trocados, todos torcendo pela recuperação do grande jovem poeta. Nas solenidades – controladas, desaglomeradas... – dos dez anos da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão, a Asleama, de 15 a 19 de março deste 2021, quantas vezes antes e/ou depois de pronunciamentos eu e outros colegas acadêmicos nos manifestamos com uma fala sobre o Carvalho Junior e pedidos e endereçamentos de minutos de silêncio e contrição, energia e oração em prol do Carvalho...

Em janeiro último, Carvalho Junior, Eziquio Barros Neto e eu  vencemos a tarde e a noite em uma mesa frente ao Excelsior Hotel, em Caxias (neste momento estou em Fortaleza/CE), e, entre goles de um líquido ouro, partilhamos sonhos áureos para Caxias, para o futuro da cidade, para um possível reconhecimento da grandeza de seus valores de ontem e de agora... (Aliás, era nesse Hotel, mas, também frequentemente, no menor bar do mundo, o Fiapu, do amigo Paulo Sérgio Assunção, praticamente em frente à Igreja Matriz, que Carvalho, Ezíquio e eu nos reuníamos, “lavando o peritônio” e remoçando sonhos que poderiam envelhecer de tão sonhados que são...).

Jovem, 35 anos, não fumante, forte... Nós, que não sabemos nada, nos perguntamos: Como pode ter ido o Carvalho Junior, assim?

30 de março de 2021...

Caxias, o Maranhão e o Brasil não só perdem o Carvalho professor, gestor escolar, ativista cultural, sonhador por uma Caxias melhor – perde também provavelmente seu mais consistente e promissor poeta das últimas décadas. Ele me falava de um novo livro em preparo, além de outros já prontos, inclusive um livro infantil, para o qual me pediu um prefácio, em versos.

Joseneyde e as meninas não deixarão que essas obras se enterrem com seu Autor. Ante tantos dias de luto, dor, tristeza, saudade, publicar os inéditos de Carvalho Junior é uma forma de o escritor ressuscitar em palavras e dar-lhe a parição de mais filhos – de celulose e tinta, que também cuidarão de eternizar o pai-Autor.

Não é fácil desviver... Aliás, nós, os Morituros, de verdade nem intuímos isso de verdade. Parece que o fato de se estar vivo provoca a ilusão de que se seja eterno em carne e osso. Mas – já o disse – não somos eternos; somos apenas enfermos – enfermos de vida.

Carvalho Junior foi à frente, para desvendar o maior dos mistérios poéticos – a Criação (“poesia”, em grego).

Carvalho resistiu o quanto pôde.

E, quando tombou, tombou para o Alto.

Descansa, Grande Poeta.

Carvalho Junior:

Conterrâneo – de Caxias;

Colega – de Magistério, Educação, Literatura;

Parceiro – de ideais;

Confrade – de Academias;

Amigo – de sempre.

*

(ESCRITO E PUBLICADO EM FORTALEZA/CE, 30 DE MARÇO DE 2021)

*

Aqui, o prefácio para o livro infantil (inédito) escrito pelo Carvalho Junior:

CHIQUINHO SAPATINHO

(para o livro “A Volta do Sapatinho de Ploc”, de Carvalho Junior)

*

Tem pai. Tem mãe. Tem irmãos. Tem, claro, amigos.

Se briga, se zanga, se se irrita, o que faz?

– Uns biquinhos.

Além do topete, da pose e a teimosia,

sim, ele, um menino, levado, o que traz?

– Sapatinhos...

... que cheiram a festa e, nham!,  goma de mascar

– bola (ploc!) que estoura gostoso no ar.

Estoura também bolha-tempo, e o guri cresce

– pois Peter Pan é (de) outra história:

– um tiquinho

de gente que voa, voa. Nosso menino, não:

tem pés no  chão. Vira pai. É clara sua glória.

 – É, Chiquinho...

O Chiquinho – feito gente feita de letras

 ... e carinho

para quem sabe ler e imaginar – ao menos

– um pouquinho.

*

REPERCUSSÃO

– “Que belas palavras!! Você o descreveu tão perfeito que ao ler suas palavras tive a sensação de que escrevia olhando para ele” (RENATA SANTOS FERREIRA, professora. Caxias/MA, 30/3/2021)

– “Uma grande perda para nossa literatura, caro confrade. Nosso amigo Carvalho estava no ápice de sua produção intelectual. Resta-nos as boas lembranças e a saudade. O legado permanece para sempre.” (HUMBERTO BARCELOS, professor, escritor, gestor de marketing; da Academia Imperatrizense de Letras. Imperatriz/MA, 30/3/2021)

– “Uma tristeza... um grande amigo e irmão... uma tristeza...” (ANTÔNIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA, mestre em História/UFPE; professor, escritor; do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão/IHGM. São Luís/MA, 30/3/2021)

– “Caro Sanches, sempre me encanto com suas bonitas palavras!! Hoje, minha alma está chorando, mesmo sem conhecer o jovem senhor que partiu para a eternidade 🙏 Meus sinceros sentimentos. LINDALVA BASTOS LOPES. Imperatriz/MA, 30/3/2021)

– “Que bom que existe pessoas como você, que valoriza os amigos. // Muito jovem o seu amigo, poeta, professor e papai de duas lindas meninas. Descanse em paz, e lá do alto continue cuidando do seu maior tesouro: “Família”. (MARIA DO SOCORRO DIAS MOURA, graduada em Pedagogia; servidora pública federal. Caxias/MA, 30/3/2021)

– “Nossos sentimentos!” (PAULO HELDER, advogado, ex-procurador da Prefeitura de São Luís. São Luís/MA, 30/3/2021)

– “Muito triste. Meus pêsames.” (HAROLDO SABOIA, graduado em Direto/UnB e em Economia/Universidade de Paris I, França. Jornalista. Vereador. Ex-deputado federal. São Luís/MA, 30/3/2021)

– “Ser humano espetacular. Muito triste.” (MARIO LUNA FILHO, médico, poeta, contista, ensaísta. São Luís/MA, 30/3/2021)

– “Perdemos um bom poeta. Perdeu a literatura maranhense”. (Wilson Martins, artes gráficas e cênicas. São Luís/MA, 30/3/2021)

– “Bela Homenagem!!! Você sempre descrevendo muito bem os seus sentimentos e nos emocionando.... // Até logo ao jovem Poeta! Grande perda!🥺💐” (Kelen Oliveira, caxiense, professora; graduada em Pedagogia. São Paulo/SP, 30/3/2021)

– “Ah que pena! Lamento a sua perda, Edmilson Sanches. Vocês eram muito próximos. Não tive a honra de conhecer pessoalmente o poeta, mas li algumas de suas produções. Muito talento, uma perda para Caxias”. (LUÍSA VAZ, Licenciada em Letras e Ciências Religiosas. Revisora (artigos, monografias, dissertações, teses, livros...). Ambientalista. Fortaleza/CE, 30/3/2021)

– “Que pena, meu Deus! Que pena!😪😪” (Luciana Bezerra, empresária de Turismo. Caxias/MA, 30/3/2021)

– “DEUS o levou para a Morada Celeste... Descanse em Paz, Poeta!” (SILVÉRIA MARIA DA SILVA VIEIRA, graduada/Cesc-Uena. Caxias/MA, 30/3/2021)

– “Uma bela homenagem, onde sentimos um verdadeiro laço de amizade. // Que Deus conforte o coração de todos os amigos e familiares.” (FLOR DE LIS SILVA, graduada/Uema e FAI. Caxias/MA, 30/3/2021)

– “Lamentável perda para a poesia e para a vida... Maldito e inclemente vírus invisível!... // Meus sentidos pêsames!!” (Chico Senna, graduado em Direito/Unifacema e Letras/Uena; servidor público municipal. Caxias/MA, 30/3/2021)

– “Descanse em paz, professor”. (FRANCISCA RIBEIRO, Timon/MA, 30/3/2021)

– “Vou insistir em perguntar sempre... Somos tão órfãos de "novos tudo"? Qual o motivo de deixar essa terra de poetas na ausência desse??? // Tive a honra e o prazer de degustar um pouco desse dia registrado na foto, de onde ouvi ele falar da legitimidade que acompanha a minha pessoa... Que descanse em paz 🙏🏽” (CONSTANTINO FERREIRA CASTRO NETO – TINO. Economista/Uniceuma; empresário; desportista. Caxias/MA, 30/3/2021)

– “Magnífica sua descrição! O poeta se foi em carne, mas seu legado ficou eternizado e será sempre lembrado quando pensarmos em poesia. // Que tenha o descanso no paraíso celestial poeta!” (DIAH OLIVEIRA, graduada/Uema; ex-servidora pública municipal e estadual. Caxias/MA, 31/3/2021)

– “Meu Deus! Lamentável!😪” (MARIA DA PROVIDENCIA SILVA. Rio de Janeiro/RJ, 1º/4/2021)

*

* EDMILSON SANCHES

O OLHAR DE MINHA MÃE

(À memória de Carlinda Orlanda Sanches, minha mãe; e aos meus irmãos Cláudia, Carlos Magno, Júlio César e Wendel)

* * *

Eu caminhava mais uma vez por São Paulo, olhando sem enxergar, ouvindo sem escutar.

Mais uma vez eu tinha trazido minha mãe, Dª Carlinda, para um hospital altamente especializado em doenças do fígado (hepatopatias).

Quando minha mãe me dizia “Meu filho, estou sentindo gosto de sangue na boca” tudo se transformava, a família toda se mobilizava: passagens de avião, justificativas de ausência no local de trabalho, divisão de tarefas para os filhos (meus irmãos) que ficavam etc. etc.

Minha mãe era uma heroína. Sofria de uma doença rara, à época de menos de quarenta casos no mundo – uma tal de colangite primária, irreversível, fatal.

Suportar o que minha mãe suportou por puro amor aos filhos é algo só de mãe. Às vezes, ela dizia:

“– Meu filho, se eu for gritar as dores que sinto, ninguém dorme nesta casa”.

Ah, minha mãe!...

Essas lembranças e tantas outras mais me vinham naquelas manhãs e tardes e noites em que eu caminhava pela capital paulista, como recorrente e noctívago “globe-trotter”.

Eu só podia visitar minha mãe na UTI por poucos minutos, ao meio-dia e às 7h da noite. Antes da permissão para adentrar a enorme UTI, cheia de pessoas entubadas, pequenos sons e luzes brilhando dos mostradores dos sofisticados equipamentos, antes de adentrarmos essa ilha de sobrevivência, lotada de pacientes, aparelhos, médicos e enfermeiros intensivistas, todos os parentes dos doentes passavam por um duro, um dramático, um indesejável momento: aguardar a atualização da lista de doentes da UTI.

Nessa lista, os nomes dos internados vinham com palavras que iam de ESTÁVEL a ÓBITO. Quando alguém falecia, todos os que aguardavam na antessala da UTI se dirigiam até os parentes do morto e os abraçavam, pesarosa e irmãmente, tal o sentimento de fraternidade que todos desenvolviam ali, uns em relação aos outros.

Naquela vez, entrei na UTI e já fui até minha mãe. Logo seu olhar vivo e brilhante me reconheceu. Mas os tubos a impediam de falar. Estava tão miúda e frágil minha mãe!...

Peguei sua mão direita entre as minhas e comecei a falar, a fazer perguntas, a contar como estavam meus irmãos menores, a dizer-lhe palavras positivas e repassar-lhe as esperanças de todos, os familiares e amigos, em sua recuperação.

De repente, percebo o olhar de minha mãe mais vívido, como se quisesse falar. Sabe aquele olhar, aquele jeito, aquela sensação, os olhos querendo dizer algo?

Comecei a perguntar a minha mãe o que era: Queria que chamasse um médico? Uma enfermeira? Não sei que outras perguntas fiz, tantas as que devem ter saído de mim aflito, angustiado...

E chegou o final da visita. Deixei a mão de minha mãe e pude ver seu olhar que continuava a querer me dizer algo. Ela sabia que eu iria ficar preocupado o tempo todo e, talvez, quisesse me acalmar – essas coisas de mãe, que abdica da própria dor para não permitir que um filho sofra...

Fui saindo da Unidade de Terapia Intensiva do grande hospital paulistano e ainda me voltei para o leito de minha mãe, a ponto de alcançar um último olhar, como a dizer... o quê? O que minha mãe queria dizer, contar, transmitir? Ah insensibilidade filial, que não sabe perceber em vida o verdadeiro valor e sentimento que de tantas formas são comunicados pela mãe!...

Naquele dia e por causa daquele olhar, o mundo deixou de ter sentido. Sem ter o que fazer (estava ali por minha mãe), caminhava repetidamente do começo ao fim da Avenida Paulista. Descia por um lado e subia pelo outro. Lojas... empresas... bancos... O Parque Trianon (oficialmente, Parque Tenente Siqueira Campos) e seus quase 50 mil metros quadrados de árvores, trilhas, esculturas, “playgrounds” e bancos de sentar... o Shopping Avenida... o Masp... o Memorial da América Latina...... lojas... empresas... bancos...

Fui dormir a noite dos insones e dos zumbis. Só pensava e só via o olhar de minha mãe. E se ela morresse justo naquela noite?

O que ela me queria dizer?

Que derradeiro recado queria dar?

Que último desejo gostaria de expressar?

Que recomendação final nos quereria transmitir?

Ah, meu Deus!...

Dentro de meu cérebro e em meu corpo, a alma e a mente se intranquilizavam...

Foi uma noite longa... Longa e horrível.

Mas, pela graça de Deus, minha mãe e eu superamos aquela noite. E outras. Até que, apesar de debilitada (a doença é incurável), deram-lhe alta e eu a trouxe de volta para casa. Os voos faziam muito mal para ela, mas não havia opção: por terra o desgaste seria maior. Então, dos males...

Em casa, parece que eu tinha esquecido o olhar de minha mãe. Mas, certo dia, conversando com minha mãe, voltou-me à memória aquela noite, aquele olhar, e faço a pergunta sobre o que tanto me inquietava:

“– Mamãe, naquele dia, eu percebi que a senhora queria me dizer alguma coisa. Fiquei muito preocupado, mãe. O que era? A senhora se lembra?”

A resposta foi uma graça – e, egoisticamente, um alívio: eu deixara de ser Atlas e descarreguei o peso do mundo de sobre os ombros. Mamãe respondeu:

“– Oh meu filho!... Claro que eu lembro! Sua mãe está é doente, e não doida. Meu filho, não era nada grave. Apenas você, na sua aflição, ao conversar comigo, estava sem saber apertando muito minha mão...”

Olhei mais uma vez as mãos de minha mãe, finas, magras da doença e as acariciei amorosamente.

Você nem imagina o tamanho do abraço que dei em minha mãe... Tão demorado e intenso que parecia uma enorme vontade de voltar para dentro dela...

... e, mais uma vez, ser abraçado e protegido pelo seu ventre...

* EDMILSON SANCHES.

FOTOS:

A mãe e o filho: olhares...

“QUE DEUS (ME) PERDOE”...

– E Ele haverá de perdoar, pois Ele pode tudo – até mesmo não reparar em um erro meu em um texto sobre o Filho d’Ele...

*

No texto “Minha Paixão”, que compartilhei aqui, nesta manhã, escrevi:

“29 de março de 2024. Sexta-feira da Paixão. Daqui a pouco, às 3 horas da tarde, Cristo dará seu último suspiro [...]”.

Era para eu ter escrito: “Daqui a pouco, às 3 horas da tarde [...]”– como estava em versão anterior do texto.

Quando percebi, já havia feito os compartilhamentos... Aí, deu uma moleza... [rs] refazer tudo e reenviar... Então, envio esta explicação.

Devo ter feito a troca dos tempos porque estava esticando o pensamento e lembrando de minhas memórias do Sábado de Aleluia, a brincadeira do Judas, os furtos de galinhas, as brigas e desforras entre crianças, as promessas de pisa da mãe se fizesse algum malfeito... Por tudo isso e muito mais, “não mais que de repente” a palavra “Amanhã [sábado]” saiu da mente para a tela... e ocupou o lugar do texto, que deve ser: “Daqui a pouco, às 3 horas da tarde [desta Sexta-Feira], Cristo dará seu último suspiro [...]"

Pois é, no processo de escrever, como se diz, o pensamento voa e as palavras vão a pé...

Os ingleses e os latinos (não necessariamente nesta ordem...) tentam nos desculpar, a nós os mortais que se metem a registrar tempos e sentimentos com letras – em vez de com prédios, pontes, pinturas, esculturas, fotografias...

Os ingleses chamam a isso de “phrozen photography”, que é a imagem da palavra ou do texto que se congelada no cérebro e que se impõe ao que deve estar no texto.

Os latinos, bem mais antigos, denominaram “lapsus calami” ao "erro acidental ao escrever", como, curto cirúrgico, diz o dicionário escrito com bisturi. (O latim “calamus”, com origem no grego “kálamis”, é uma espécie de instrumento, uma haste feita de cana ou junco que, após embebida em tinta, era utilizada para se escrever no papel de antigamente – os papiros e pergaminhos. Simbolicamente, "cálamo" (a grafia em Português) designa a pena com que os escribas e escritores escreviam. Assim, a tradução de “lapsus calami” também pode ser “erro [lapso] ao correr da pena”, isto é, durante o escrever. Há, ainda, a expressão “currente calamo”, locução adverbial que significa “de maneira espontânea, despreocupada; sem parar para pensar” [Houaiss, 2009].

Pois bem: Se o Bom Deus não puder perdoar meus pecados capitais, mortais, que Deus perdoe esse pecado venial, superficial...

E Ele, creio, haverá de perdoar, pois Ele pode tudo...

– até mesmo não reparar em um pequeno erro meu em um texto sobre o Grande Filho d’Ele...

* EDMILSON SANCHES.

FOTO:

Às vezes, sob o peso da “cruz” de escrever, comportamo-nos como a bela criança da imagem: estamos carregados de boa vontade, de sentimentos, de compaixão, de esforço – mas nos faltam, a nós adultos, a graça, a leveza, a beleza da inocência...

Sexta-feira Santa.

MINHA PAIXÃO

– Como era a Semana Santa de sua infância?

– Desta vez, quem será levado à cruz... Desta vez, quem receberá a sentença, quem será açoitado, quem terá pés e pulsos varados por imensos cravos... Desta vez, quem morrerá à míngua de água e amor... Desta vez, não será o Cristo... O Cristo seremos nós.

* * *

29 de março de 2024. Sexta-feira da Paixão. Amanhã, às 3 horas da tarde, Cristo dará seu último suspiro no Gólgota (ou Calvário, a colina fora de Jerusalém parecida com a forma de uma caveira – daí seu nome aramaico “Gulgulta”, crânio).

 Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João registraram, para a fé da História e para a história da Fé, o lugar onde se ergueu, em cruz, o corpo ferido, debilitado, sanguinolento, lanhado a couro e ferro, pau e espinhos, além dos apupos da turba ignorante, que não sabia o que falava ou fazia.

Entre tantas “paixões de Cristo” que se inscreveram nas memórias de minha vida e na vida de minhas memórias, as da minha infância são as que se sublinham e resistem em minha mente pluridecenária – o tempo e uma pouca convincente luta pela sobrevivência aos poucos vão destintando as cores outrora fortes de fé e fraternidade que cumpria ter ou obedecer e que marcavam cada período da chamada “Semana Santa” no interior onde eu morava e no interior que morava em mim.

Minha “Paixão” da infância se lembra de que, na Quarta-Feira Santa, Dona Carlinda Orlanda Sanches (saudades, mãe; permaneça aí com Deus!) já saía perguntando aos filhos e outros familiares quem iria “fazer jejum”, isto é, não tomaria café, nem teria almoço ou jantar na quinta ou sexta-feira – só água e uma ou outra fruta e olhe lá... Seguindo o exemplo e força dos “mais velhos”, recordo-me de que jejuei diversas vezes.

Quando alguns de nós silenciávamos ou demorávamos na resposta, minha mãe já sabia: preferíamos comida, e esta então era feita com antecedência, ainda na quarta-feira, de modo que, na quinta ou sexta, apenas teria de ser esquentada, por nós garotos, nos fogareiros a carvão feitos de barro e flandre das latas de querosene “Jacaré” (acumulava uma cinza daquelas, que cuidávamos de retirar).

 Ir à mesa para o almoço, só todo vestido – e, antes, oração, contrição. Eram dias, aquelas quintas e sextas, em que não se pegava em dinheiro, não se faziam negócios, rádios só tocavam músicas sacras, corais, coros, instrumentais, histórias bíblicas.

Uma garantia naqueles dois dias, quinta e sexta-feira “da Paixão”: menino sapeca não apanhava, não levava surra.

Uma certeza, no sábado ou no domingo, após aqueles dias: taca! (É claro, se houvesse feito algum malfeito. Bem feito!)

Pois o “sábado de Aleluia” parecia se prestar a isso, tinha esse “clima”: garotos traquinas procuravam confusão, “tomavam satisfação”, “enticavam-se” mutuamente e até invadiam quintais para furtar ou auxiliar adultos a furtarem galinhas... e nós todos com a maior cara de santo aparecermos nas diversas malhações do Judas.

Era um tempo em que se respeitavam os mais velhos, em que menino tinha “criação” (uma saudável mistura de educação, bom comportamento, temor a Deus, respeito aos pais, dedicação aos estudos e disciplina em casa, ajudando nos afazeres e até na formação da renda do dia a dia).

Os que se “comportavam” tinham um programa que se repetia anualmente: ir assistir ao filme “Paixão de Cristo”... que também se repetia anualmente no Cine Rex ou no Cine São Luís, em Caxias.

Assim, vestia-se a melhor roupa, aquela calça de tecido “bagaço de coco”, a camisa alinhadinha, os sapatos tinindo de graxa e brilho... (Consegui uma cópia daquele antigo filme “Paixão de Cristo”, da década de 1950 ou 1960, sem efeitos especiais – exceto o de deixar sofrida a alma dos assistentes, que se indignavam com as cenas da escolha de Barrabás em vez de Cristo, frente a Pilatos – “Livra Barrabás!”; que pareciam sentir cada chibatada, cada empurrão, cada tropeço, cada queda, até o ferimento final pela lança de Longinus).

De dois mil anos para cá, Cristo vem sendo morto e ressuscitado pelos que sucederam àqueles que, em seu tempo, foram os primeiros a saberem da remissão dos pecados, da possibilidade do Paraíso, da fruição da vida eterna.

Ao cristicídio cotidiano Ele responde com amor. Com o pedido de perdão ao Pai, pedindo desculpas pelos que “sabem o que fazem”. Com o líquido final, sangue e água, que jorrou sobre os olhos do centurião que o ferira de morte e foi curado de grave doença ocular – com o que Longinus, o soldado, alvo desse milagre “post-mortem”, abandona o exército romano, converte-se, vira monge, percorre terras em pregação cristã e, por isso, é preso, torturado, tem sua língua cortada e seus dentes arrancados, virando santo cultuado na Europa e América – é o São Longuinho dos três pulinhos da tradição cristã.

Dois mil anos depois, ainda submetemos Cristo ao “espetáculo” de nossas paixões terrenas, onde interesses e desculpas amontoam-se para “justificarem” os erros e desacertos humanos.

Por antecipação, deveríamos saber: anuncia-se uma segunda vinda de Cristo, mas não haverá uma segunda vida e morte d’Ele.

Desta vez, quem irá para o patíbulo...,

... quem será empurrado ao cadafalso...,

... quem será arrastado à cruz...,

... quem se secará ao sol clamando gotas de água e amor...

 .. .desta vez, quem receberá a sentença...

 .. .quem se submeterá à vergonha...

 .. .quem padecerá sob o açoite, o flagelo e a tortura...

 .. .quem será trespassado pelos cravos nos pulsos...

... quem terá os imensos pregos cravados nos pés...

 ... quem tentará inspirar, respirar e, pelo peso do corpo, não terá ar nos pulmões e se asfixiará...

 .. .desta vez, quem receberá a espetada impiedosa da imensa lança que varará pele, romperá carne, afastará ossos, triturará órgãos e esburacará o peito...

.. .desta vez não será o Cristo...

... O Cristo seremos nós.

* EDMILSON SANCHES.

Médicos chegam ao local de prova para a segunda etapa do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida) 2020, em Brasília.

O Ministério da Educação (MEC) notificou, nessa quinta-feira (28), seis instituições de educação superior que anunciaram novos cursos de medicina sem ter a devida autorização do MEC. A pasta alega que as instituições em situação irregular realizaram vestibular para o curso de medicina, a partir de decisão judicial provisória.

Além da notificação, as universidades não devem oferecer as vagas para o curso e, se este procedimento já tiver sido iniciado, a oferta de vagas aos estudantes deve ser suspensa imediatamente.

A notificação ainda determina a divulgação de uma nota pública no próprio site da instituição de ensino, nas redes sociais, além de locais onde foram feitas as ofertas com o devido esclarecimento sobre o referido curso de medicina ainda não possuir autorização obrigatória do MEC para funcionar. O comunicado ainda deve trazer a informação de que o processo seletivo para as vagas de medicina foi realizado apenas com autorização judicial em decisão liminar, ou seja, provisória.

As instituições têm o prazo de cinco dias corridos, desde a data do recebimento da notificação, para prestar esclarecimentos à Diretoria de Supervisão da Educação Superior da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) do MEC. No prazo de 15 dias, essas instituições deverão apresentar comprovação do cumprimento das medidas cautelares contados a partir da notificação, e terão 30 dias para apresentação de recurso.

O não cumprimento da orientação do MEC poderá resultar em irregularidade administrativa, conforme previsto em lei, passível de aplicação de penalidades, como desativação de cursos e habilitações; intervenção federal na universidade; e descredenciamento.

O MEC justifica a medida como necessária para o estabelecimento de um padrão para decidir sobre os pedidos instaurados por força de decisão judicial e a inclusão de modificações pontuais mais coerente com o Programa Mais Médicos, que tem o objetivo é suprir a carência destes profissionais de saúde nos municípios do interior do país e nas periferias das grandes cidades.

O MEC também revogou a Portaria nº 397/2023, que trata do processamento de pedidos de autorização de novos cursos de Medicina e de aumento de vagas em cursos de Medicina já existente 

Instituições

Entre as instituições apontadas pelo MEC, estão o Centro Universitário Facens (Unifacens), de Sorocaba (SP), e o Centro Universitário Mauá de Brasília (Unimauá), com sede em Taguatinga Sul (DF). As duas instituições de educação superior ainda mantêm nas páginas iniciais de seus respectivos sites a oferta do curso de medicina.

No site do Centro Universitário Facens, um alerta abaixo da publicação sobre a segunda chamada do vestibular de medicina comunica ao internauta que “o processo seletivo foi autorizado judicialmente em decisão proferida pela 5ª Turma do TRF-1 [Tribunal Regional Federal] no processo judicial nº 1066986-35.2020.4.01.3400.”

Procurada pela reportagem da Agência Brasil, a Unimauá confirmou estar ciente da determinação do MEC e lamentou a decisão. A entidade disse que as aulas da primeira turma de medicina iniciaram-se em fevereiro deste ano e se defendeu e respondeu que seu curso de medicina cumpriu todos os requisitos de qualidade impostos pela legislação vigente, obtendo notas máximas em todas as avaliações promovidas pelo próprio MEC, afirmou.

Em nota, a entidade alegou ainda que, desde 12 de setembro de 2023, o Ministério da Educação se recusa a publicar a portaria de autorização do curso, após cumprimento das exigências legais. A Unimauá classifica essa negativa da pasta como ilegal e, ao se entender como vítima de arbitrariedade, confirma que buscou o Centro Universitário entrou na Justiça.

“A Justiça ordenou ao MEC, não uma, mas diversas vezes, que publicasse o ato de autorização, mas foi ignorada. Finalmente, no dia 18 de dezembro de 2023, para garantir sua própria decisão, o Poder Judiciário autorizou a realização do vestibular para o ano de 2024. O curso de medicina do UniMauá foi oferecido aos alunos e suas famílias sob essa tutela judicial, que foi informada no edital do certame”, afirma a nota do Centro Universitário Mauá de Brasília.

O MEC ainda não divulgou os nomes das outras quatro universidades notificadas pelo mesmo motivo.

(Fonte: Agência Brasil)