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No dia em que o “Hino Nacional”, como conhecemos hoje, completa 98 anos, desde que foi oficializado, em 6 de setembro de 1922, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) entrega, de presente, um vídeo com a execução instrumental da marcha triunfal, gravada durante o isolamento social.

“A ideia é celebrar a Semana da Pátria e, ao mesmo tempo, ter esse material que vai servir constantemente em solenidades, ou celebrações, onde poderá ser usado como uma gravação oficial do “Hino Nacional”, independentemente de ter um grupo ao vivo, tocando presencialmente”, disse Claudio Cohen, regente da OSTNCS.

Foram mais de 20 dias e um esforço grande dos 72 músicos para que os vídeos, gravados em celulares, saíssem dentro do que era necessário para reunir todos os instrumentos, gravados de forma isolada e em ambientes diferentes, a partir de uma guia para orientação.

O maestro disse que, desde o início da pandemia e do isolamento social, os músicos têm realizado esse tipo de gravação, como uma forma de manter viva a conexão com o público “Nós percebemos que, durante esse período, precisaríamos aguçar a criatividade e buscar um público por meio dessas ferramentas, que nos permitem avançar nesse sentido”.

Desde o mês de março, as redes sociais da OSTNCS são atualizadas semanalmente com vídeos novos, ou resgatados de gravações realizadas em apresentações anteriores à pandemia. “São vídeos inéditos nesse ambiente virtual, já que só quem estava nos teatros pôde ver essas apresentações”, afirma.

A versão do “Hino Nacional” gravada pela orquestra de Brasília tem 2 minutos e 19 segundos de duração e é sem a letra, apenas a melodia executada sem a repetição usual da versão cantada.

História do Hino Nacional do Brasil

A marcha triunfal do “Hino Nacional” é muito anterior a letra que cantamos atualmente em cerimônias e honrarias a nossa bandeira. Ela foi concebida ainda no Império, em 1831, pelo maestro Francisco Manoel da Silva.

Já os versos foram compostos pelo poeta Joaquim Osório Duque-Estrada, em 1909, e são a terceira versão de letra que acompanha a marcha triunfal. A primeira letra contava a história da abdicação de dom Pedro I, e a segunda exaltava dom Pedro II.

Entre a segunda e a terceira versão, o hino passou quase cem anos sendo executado sem letra, após manifestações populares contrárias à adoção do novo hino escolhido para representar a, então, nova República, por meio de um concurso.

O presidente da República, à época, Deodoro da Fonseca, estabeleceu que seria mantida a música do hino anterior sem uma letra e que a composição com poema de Medeiros e Albuquerque e arranjo de Leopoldo Miguez, vencedora da disputa, passaria a ser o “Hino da Proclamação República” e não substituiria o Nacional.

A letra que permanece até hoje foi oficializada às vésperas do centenário da Independência, em 6 de setembro de 1922, por meio de uma lei criada pelo então presidente Epitácio Pessoa.

Para o professor de História da Música e História da Música Brasileira da Universidade Federal de Brasília (UnB), Adeilton Bairral, o passo mais importante para que a composição fosse preservada foi dado por uma comissão dirigida pelo maestro Heitor Villa-Lobos, na Era Vargas. O grupo de caráter técnico, determinou a adoção da versão para piano do maestro cearense Alberto Nepomuceno, como referência melódica para a unificação da versão oficial.

Na época, Villa-Lobos viu a necessidade da criação de um Conservatório Nacional de Canto Orfeônico para capacitar professores de música a ensinarem os hinos pátrios nas escolas de todo do país. Segundo Adeilton, também foram estabelecidas duas versões possíveis de serem tocadas: uma com canto em Fá e composta por duas estrofes, além de uma versão instrumental, em Si Bemol, apenas com uma estrofe.

“Com o tempo, a didática musical mudou muito e, hoje, o Hino Nacional já não é mais ensinado nas escolas. Então, percebe-se adaptações sutis na melodia para facilitar o canto”, conclui o professor.

Ações

Fundada em março de 1979, pelo maestro e compositor Claudio Santoro, a OSTNCS desempenha papel fundamental na educação musical e difusão da música clássica e erudita. Em mais de 40 anos de atuação, o corpo de músicos manteve apresentações regulares e gratuitas à disposição de quem vive ou visita Brasília.

Dentre as ações recentes destacadas pelo maestro Claudio Cohen, estão os Concertos Didáticos, para crianças; Concertos para Saúde, em hospitais, os Concertos Sociais, que já ocorreram em todas as Regiões Administrativas do Distrito Federal, além dos concertos internacionais, nas embaixadas.

Para saber mais, siga as redes sociais da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro: no Instagram, no Facebook e no YouTube.

(Fonte: Agência Brasil)

Falaremos, neste domingo, sobre...

Palavras homônimas e parônimas

“Homo” (do grego) significa “igual”. São palavras iguais. O nosso problema, na realidade, são as palavras homônimas homófonas (= som igual, escrita diferente e significados diferentes). É o caso de “conserto” e “concerto”. Quando falamos, não se percebe a diferença, pois a pronúncia é a mesma. A dúvida surge na hora de escrever: é com “s” ou “c”? Aí depende do sentido.

Todo “concerto” musical se escreve com “c”. E “conserto” do verbo “consertar” (= reparar, corrigir) é com “s”. É bom tomar cuidado.

Há uma história... Alguns dizem ser verdadeira... Não acredito, mas... Em todo caso, contaremos...
Certo empresário escreveu um cartaz e afixou na porta do seu restaurante:

“Aos meus empregados. A partir de hoje, quero as nossas portas serradas às 23h”.

Foi atendido. Ao voltar ao restaurante no dia seguinte, encontrou todas as portas pela metade.
Se a ficha não caiu, anote:

CERRAR significa “fechar”; SERRAR significa “cortar”.

E palavras parônimas?
São aquelas palavras parecidas na forma, mas bem diferentes quanto ao significado.

Imagine que um amigo seu tenha sido demitido por ter cometido vários erros. Você é designado para o lugar dele. No seu primeiro relatório, escreve: “Ratifico os erros do meu antigo companheiro”. Que vai acontecer? Você “vai pra rua” também. Ratificar erros é ignorância dupla. RATIFICAR é “confirmar”. Erros nós retificamos.

Se você não lembrava, anote:
RATIFICAR significa “confirmar”; RETIFICAR significa “corrigir”.

Resumindo:
HOMÔNIMAS HOMÓFONAS: palavras com a mesma pronúncia, com alguma diferença gráfica e com diferentes significados;

PARÔNIMAS: palavras parecidas na forma, com diferentes significados.

Dicas

1. ACENDER ou ASCENDER
Acender = pôr fogo, ligar:
Ele foi acender a vela.

Ascender = subir, elevar-se:
Ele quer ascender de posto.

2. ACENTO ou ASSENTO
Acento = intensidade, sinal gráfico:
Coloque o acento na sílaba tônica.

Assento = lugar onde se senta:
Saiu, e eu ocupei seu assento.

3. ACIDENTE ou INCIDENTE
Acidente = desastre, acontecimento com consequências mais graves:
Houve um acidente na Via Expressa.

Incidente = desentendimento, ocorrência com consequências menores:
Perdoe-me pelo incidente de ontem.

4. ACONDICIONAR ou CONDICIONAR
Acondicionar = preservar, guardar:
É necessário acondicionar melhor estes aparelhos.

Condicionar = regular, tornar dependente de condição:
Vai condicionar sua permanência ao seu esforço.

5. AFERIR ou AUFERIR
Aferir = conferir pesos, medidas…:
É preciso aferir os taxímetros.

Auferir = obter, colher:
Só vai auferir algum lucro no fim do ano.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo?
“__________ meio-dia e __________; no céu, __________ as trovoadas de verão”?
(a) era / meia / anunciava-se;
(b) eram / meio / anunciavam-se;
(c) era / meio / anunciava-se;
(d) era / meia / anunciavam-se;
(e) eram / meia / anunciavam-se.

Resposta do teste: letra (d)
O verbo SER fica no singular para concordar com “meio-dia”, que é singular: “ERA meio-dia e MEIA”, porque é “MEIA hora”. A palavra MEIO, quando significa “metade”, é numeral fracionário e deve concordar: “meio litro”, “meia garrafa”, “meio limão”, “meia laranja”. No caso da terceira lacuna, temos a partícula apassivadora “se”. O sujeito do verbo ANUNCIAR é “as trovoadas de verão”, que está no plural. Portanto, o correto é “anunciavam-se as trovoadas de verão”, ou seja, “as trovoadas de verão ERAM ANUNCIADAS”.

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E há um sol lá fora clareando tudo, iluminando. Um sol escaldante, um sol no deslumbramento dos reflexos, filtrando-se pela paisagem da Natureza em festa. Um sol que queima e que tem carícias para um sentido de posse absoluta. Um sol vitalizador. Um sol que é Vida, mas que também é Morte. Mas predominando todo um despertar de energias vivificadoras, estimulante de emoções fortes, exuberante de seivas reprodutoras doutras vidas e doutras emoções. Um sol que alimenta, que vitaliza, que tonifica as reações mais amedrontadoras. Um sol exuberante no milagre da fertilização da terra, da terra que ele aquece, que ele queima. Da terra que ele escalda, mas que ele beneficia com a doçura da sua condição de um galã sentimental e romântico! Um sol que, por vezes, tem o afrouxamento das sombras e das quietudes. Que tem momentos duma rebeldia desesperadora que se faz sentir profundamente, desgraçadamente, até na tormenta da seca. Da seca que diziam, que mata, que abre rachaduras no solo, que provoca o fenômeno social dos flagelados do Nordeste. Que tem ímpetos duma ferocidade tremenda abrindo ciladas no solo pedregoso, às vezes para a destruição duma rês que se distanciou da manada, que se afastou da pressão duma hostilidade natural para precipitar-se para os lugares menos quentes e menos secos. Que tem uma multiplicidade de obrigações para com a Vida, a Vida que tem nele uma fonte de nutrições apreciáveis, que tem nele as próprias reações doutros fatores de existência. Que existe por si. Que tem vida própria. Que ilumina a vibrante evolução dos planetas numa sequência admirável dos anos que se sucedem com a valorização dominadora do Tempo. Uma eternidade de sol, de luz na abundância, nos desperdícios. Espalha esta enormidade como boêmio extravagante e perdulário. Um esbanjador das impressões mais diversas. Confunde a Vida que lhe é eterna com a Morte que lhe é aparente. Uma ilusão de sombra num cair de tarde. Há rebentação de luz na fixação de sua grandeza perene, imorredoura. Ilusionista dum talento inigualável. Nascendo uma vez, impressiona num quadro doloroso de agonia. Nasce num DIA que é Manhã, numa paisagem de cores que deslumbra, que extasia e morre num Dia que é Tarde na representação trágica e fascinante que tem sombras de agonia. Um artista da tragédia e da comédia. Vem de caminhadas distantes... Surge sob a apoteose sugestiva de um milagre de aparição fantástica. Depois, agoniza numa suavidade de cores fascinantes e até parece que murmura numa sinfonia de sons noturnos um poema de preces e orações.

Adormece quando a Noite chega. Acorda quando a Noite desaparece. Mas ressurge sempre. Irrompe dos aguaceiros, filtrando-se por entre as nuvens ainda densas, pesadas. Rebrilha nos intervalos que o inverno lhe oferece. E, às vezes, tem a mesma intensidade de luz, de domínio, de força numa constante sucessividade, de fixidez impressionante. Galvaniza. Fascina. Eletriza os pensamentos. Iluminação da ideia. Da Vida que é a própria Vida que nele existe. Incessante. Inalterável. É uma síntese de tudo que é Vida, de tudo que é energia criadora. Mas também é uma expressão de vida na agonia de um sonho, num desfalecimento dessas mesmas energias.

E há um sol lá fora clareando tudo, iluminando, Um sol que se desfaz em sol, que esmaece numa representação trágica de sombras em ocaso.

E aí está mais uma página arrancada do baú velho das nossas recordações. Uma folha pregada, agora, numa das páginas deste álbum que se chama Vida. Sim, lá fora há um sol na iluminação do dia e de outros sóis na iluminação da noite.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inétido) – “Jornal do Dia”, 23 de junho de 1963 (domingo)

Daqui, longe o vejo: um expectante leitor,
que, sim, espera mais uma poesia, consciente
de que, tendo presente essoutra cria do autor,
dispense a presença do poeta, sempre ausente...

Posso ao leitor, acho, dar-lhe mais um poema
que sirva p’ra seu deleite e, quem sabe, amor.
... Mas a meu leitor não posso dizer, que pena!,
que, daquilo que lê, a matéria-prima é ... a dor.

* EDMILSON SANCHES

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Poema de amor a São Luís

Vejo agora vejo e não estou sonhando
que Dom João, o Rei 4º, e bem-andante,
não terá o encoberto de Dom Fernando
que tem ferro e ferrão sem ser infante.
Não é aqui definitivamente o Quinto Império
da prédica do Bandarra, sapateiro profeta e profano,

nem tampouco é aqui a Corte de Queluz
que submergiu nos encantos...
porque a amplidão dos Lençóis
é maior que os campos de Alcácer-Quibir.

Não há mais na Ilha vinho para os vivos
e flores para os mortos,
e nem canoas para as travessias.
Somente o Sol liberta-se de seu claustro
a cair vermelho por detrás da tarde,
ante meus olhos desarmados
e atracados nos cais de minh'alma.
O promontório não cresce mais no verão
e apodrece num montão de pedras a beijar
entulhos e mirantes,
e telhados verdes de chuvas.

Homens e paralelepípedos despencam
dos becos e vielas
por cumeeiras sem escápulas, territórios de artistas
e pensadores que secam as vísceras ao sol do meio-dia.

Todos são poetas até prova em contrário, e nada mais existe
escrito a carvão, ou a caco de telhas,
nos muros e nos planos das calçadas.

As janelas desconjuntaram-se e as rótulas vazias
ficaram nos peitoris sem olhos e cotovelos.

As bilhas secaram como os peitos das mães de África,
e os quintais despomatizaram-se,
mas as marrecas continuam em seus baixos voos...

As portas e as janelas, sem mais postigos,
foram literalmente fechadas
e presa para sempre, lá no fundo do corredor,
por um aleijão na argamassa,
uma réstia de luz vinda do poste da praça,
antes de tudo ser, como realmente o foi, e para sempre...

Em antigas casas, de gestos portugueses,
plantaram-se às portas e às janelas,
não alecrins, e jarros com flores,
mas bugigangas do charco, e chinesices,
que nada dizem à memória dos ilustres mortos;
nas igrejas não têm mais missas
e réquiens cantados,
nem mais as homilias de Padre Mohana
nas manhãs de domingo,
e nem os cânticos de Te Deum,
e nem mais rezas à noite, e ladainhas...

Os velhos sobrados, depois de tombados,
de tantos desamores e maus-tratos,
começaram literalmente a cair,
por não poder esperar a briga dos herdeiros pelo inventário;
são esses mesmos sobrados, esburacados e enfeados,
cujos motivos lusônios,
foram todos furtados,
a trocarem os adereços de endereços,
além de serem invadidos por devassas trepadeiras,
que se acoitam pelas paredes e sacadas de ferro.

Que belíssimos jardins de inverno!
Os palacetes da média burguesia,
com jardins, e terraços, e gradis bordados,
viraram espaços de defuntos, e dores,
e, ao invés dos rasos risos do passado,
vivem hoje dos choros das carpideiras,
e do tremeluzir dos círios acesos,
e do cheiro adocicado
de cravos e de coroas de flores.
A Ilha que um dia foi rebelde,
de alma pura e corpo sujo,
hoje mais se parece uma fotografia
esquecida numa mesa de redação,
como se fosse um grande abrigo
com pátio e poço a desmanchar-se em caliça,
onde vivem indigentes,
e mais os jubilados da sorte,
e vencidos e degenerados,
personagens de histórias de ficção
e de tratados de sociologia
que resolveram sair das páginas em que viviam,
para expulsar seus autores
e levá-los ao exílio e à morte,
e se aboletarem na podre carcaça da Ilha,
como almas calcinadas;
pobres personagens sem pessoas,
aos poucos defluem como resíduos
para os muitos portos, ao redor da Ilha,
para serem diluídos no sal
e expostos ao Sol e ao céu!...

Não há mais pregões nas ruas,
nem cofos, e paus-de-carga,
nem mais comícios políticos
no velho Largo do Carmo,
e algaravias de estudantes.
Nunca mais aquelas brigas
panfletárias de morfologia e sintaxe,
e nem aqueles filólogos a discutirem
se o nome da Cidade,
provindo da variação latina de Ludovico,
seria mesmo com s, ou z.

Nunca mais bondes, vitrinas, saraus e retretas...
e pronomes bem-colocados,
e verbos conjugados certos,
no tempo da carne e no modo do vinho.
Mas sempre na Ilha há de existir
a crueza da língua viperina,
em punir com sentenças extramuros,
inocentes, principalmente,
com injúrias, calúnias, infâmias e difamações,
como se o abecedário predicado por Vieira
continuasse a explodir no tempo,
dando ênfase à letra "M".

Diz o hino libertário que “... caiu do invasor a audácia
estranha, e surgiu do direito a luz dourada...”

E a Ilha ficou sem mais ser!
E a história se fez escrita, e ficou na cidade,
na cidade que tem nome de santo,
e de rei, e de menino.

E o passado se fez de rima na poesia encardida
nos azulejos, e na saudade de tudo quanto a vista alcança,
e na lembrança do que ainda se desdobra,
e na inteligência de crânios polidos
que rolam à-toa ao rés do chão.

Morreram todos, dizem os cadeados nas cancelas!

* Fernando Braga, “Poemas do tempo comum”, São Luís, 2009.

O Museu do Amanhã, na Praça Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, reabriu, neste sábado (5), ao público, após ficar quase seis meses fechado. As atividades foram suspensas no dia 16 de março, por causa das medidas de isolamento social para evitar a propagação da covid-19.

Como medidas sanitárias de prevenção, recomendadas pelo Conselho Internacional de Museus, a instituição está medindo a temperatura dos visitantes e exigindo o uso de máscaras. O museu também aumentou a frequência da higienização dos equipamentos interativos, disponibilizou totens de álcool em gel e tapetes sanitizantes e mudou o percurso da exposição, sem a possibilidade de retorno para evitar aglomerações nos corredores.

O número de visitantes simultâneos, que chegou a 1,2 mil, está restrito a 300 por hora. A venda dos ingressos está sendo feita apenas pela “internet” e a compra validada em totens automáticos. Por enquanto, o funcionamento será de quinta-feira a domingo, das 10h às 17h. O ingresso custa R$ 26, asseguradas as gratuidades e a meia-entrada previstas em lei.

Segundo o diretor-presidente do IDG, instituto que faz a gestão do museu, Ricardo Piquet, as perdas durante o período em que a instituição ficou fechada somam cerca de R$ 6 milhões.

“Por causa da pandemia, o Museu do Amanhã deixou de arrecadar cerca de R$ 6 milhões em 2020, com as perdas de bilheteria, aluguel para eventos e aluguel de loja, restaurante e café. Ainda assim, mantivemos as operações de segurança, limpeza e manutenção, além de criar uma programação ‘on-line’ para manter a conexão com o nosso público e atualizar a exposição de longa duração”.

Novidades

A exposição de longa duração do Museu do Amanhã foi atualizada. O vídeo inicial “Cosmos”, exibido em uma projeção 360 graus em um domo, inclui, agora, novas sensações pautadas pela vivência da pandemia.

Na área da Terra também foram incluídas fotos de satélite de cidades durante a quarentena, com as ruas vazias. A área do Antropoceno, que mostra a evolução do movimento ambiental e as marcas que a humanidade vai deixar no planeta, ia até o Acordo de Paris, de 2016, e, agora, avançou para a época do “Conoraceno”.

A atração interativa Cidades Conectadas mostra como a pandemia se espalhou pelo mundo. Um vídeo da médica Jurema Werneck, atual diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, aborda os impactos sociais e econômicos da pandemia e outro com a bióloga da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcia Chame fala dos fatores biológicos que influenciam no surgimento das epidemias.

Durante o período em que permaneceu com as portas fechadas, o Museu do Amanhã atuou de forma “on-line”, com atividades como debates semanais, encontros mensais sobre sustentabilidade e visita virtual à exposição temporária Pratodomundo - Comida para 10 bilhões.

Outros museus

O Museu de Arte do Rio (MAR), também na Praça Mauá, permanece fechado e ainda não anunciou o retorno às atividades presenciais, assim como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro, e a Caixa Cultural, no Largo da Carioca. O Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, está com a reabertura prevista para o próximo sábado (12).

O Museu Histórico Nacional, na Praça 15, no centro, segue as determinações do ofício do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), voltadas a instituições federais, e permanece fechado até o dia 15 de outubro. Mesma situação do Museu Nacional de Belas Artes, na Cinelândia.

(Fonte: Agência Brasil)

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O Ministério do Turismo (MTur) iniciou, nessa sexta-feira (4), os repasses para Estados e municípios dos recursos previstos na Lei Aldir Blanc. Sancionada no fim de junho, a lei foi regulamentada em agosto e vem para socorrer o setor cultural e de eventos durante a pandemia do novo coronavírus.

O MTur encaminhou as ordens de pagamentos para 100 municípios e cinco Estados, num total de R$ 194,2 milhões. O Estado do Amapá e o município gaúcho de Nonoai foram os primeiros a concluir todas as etapas previstas no processo. A Lei, batizada de Aldir Blanc em homenagem ao escritor e compositor que morreu de covid-19, prevê o repasse de R$ 3 bilhões, sendo metade destinada aos Estados e ao Distrito Federal, e a outra metade, aos municípios e ao Distrito Federal.

O recurso poderá ser usado para pagamento de renda emergencial mensal aos trabalhadores da cultura – R$ 600 pelo período de três meses –, subsídio mensal para manutenção de espaços artísticos e culturais – entre R$ 3 mil e R$ 10 mil – e iniciativas de fomento cultural. Dentre essas iniciativas, estão aquisição de bens e serviços vinculados ao setor cultural e outros instrumentos destinados à manutenção de agentes, de espaços, de produções, entre outros.

O pagamento será dividido em quatro lotes. O primeiro com pagamento até 11 de setembro, o segundo com pagamento até 26 de setembro, o terceiro com pagamento até 11 de outubro e o último com pagamento até 26 de outubro.

O MTur e a Secretaria Especial de Cultura oferecem canais de atendimento para tirar dúvidas sobre a aplicação da legislação, pelo “site” portalsnc.cultura.gov.br/auxiliocultura e o “e-mail” [email protected].

(Fonte: Agência Brasil)

“ESTOU MORRENDO DE UMA DOENÇA CONTAGIOSA. PEÇO-LHE PARA NÃO INVESTIGAR AS CONDIÇÕES DE MINHA MORTE. VOU COMETER SUICÍDIO”

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Você é jovem. Tem 27 anos e já é um cientista, com doutorado e tudo, com estudos e trabalhos feitos em diversas partes do mundo e é considerado um dos mais promissores talentos em sua área.

Você tem uma irmã. É bem nascido: o pai é médico, pioneiro no uso da novocaína em anestesia e fundador do maior hospital da região; a mãe também é médica, dedica-se a crianças e é ativista na luta contra a tuberculose.

Então, em fluente inglês escreve uma carta, onde, de início e diretamente, expõe o próprio drama e anuncia a tragédia particular:

“I am dying of a contagious disease. I request you to not investigate the conditions of my death. I am going to commit suicide”. (“ESTOU MORRENDO DE UMA DOENÇA CONTAGIOSA. PEÇO-LHE PARA NÃO INVESTIGAR AS CONDIÇÕES DE MINHA MORTE. VOU COMETER SUICÍDIO”).

E o ato final: as mãos empunham uma faca e, incompreensão das incompreensões, desespero dos desesperos, pesadelo dos pesadelos, horror dos horrores, em diversos e sucessivos golpes, a lâmina metálica fria agride, desfere e fere, lacera e dilacera, talha e retalha, parte e reparte partes do próprio corpo.

Mas o fim próximo, se estava anunciado, não estava completo: aos golpes de faca afiada sucedem o martírio derradeiro, a sevícia última, a violência autoinfligida fatal: o corpo esfaqueado, esburacado, sangrento e sangrando, encaminha-se rumo... à forca.

Na presença de duas testemunhas pasmas e impotentes, em um cenário de matas e morros, pendurado a um nó de corda, um homem se mata e morre.

Foi em Carolina, Maranhão, há exatamente 80 anos, no dia 2 de agosto de 1939.

Com apenas 27 anos, o antropólogo e Ph. D. norte-americano Buell Halvor Quain, nascido em Bismarck, cidade de 144 anos, 80 quilômetros quadrados, 61 mil habitantes e capital do Estado de Dakota do Norte, Estados Unidos, comete suicídio. Deixou sete cartas para amigos brasileiros e para familiares e colegas nos Estados Unidos. Lúcido, pode-se dizer, isentou as duas testemunhas – dois índios – de qualquer responsabilidade em relação à sua morte.

Embora tenha merecido registros e elogios de antropólogos e etnólogos como o francês Claude Lévi-Strauss – considerado uma das grandes inteligências do século XX, falecido em 2009, um mês antes de completar 101 anos –, Buell Quain e seus quatro livros (três deles “post mortem”) parecem ter ficado esquecidos.

Sua vida e sua morte, ou melhor, o mistério que as circunda e envolve, foi objeto do livro “Nove Noites” (2002), do escritor brasileiro Bernardo Carvalho. A obra é assumidamente parte ficção e parte não ficção, nesse criativo “fiat” frankensteiniano que escritores estão divinamente autorizados a pronunciar, cometer, realizar.

Em um “site” norte-americano sobre doenças ou distúrbios psíquicos (www.bipolaraid.org) há um espaço intitulado “Famous People with Mood Disorders”. Nele listam-se, em ordem alfabética, pessoas do presente e do passado, mortas e vivas, que são/seriam portadoras desses distúrbios da complicada alma humana. Do “A” ao “Z”, a lista “pega” um mundo de gente. Quem sabia que o ultrainteligente teólogo e escritor espanhol São Tomás de Aquino sofria de depressão?

E o poeta mexicano Manoel Acuña, também depressivo, que se matou tomando cianeto de potássio, um dos mais violentos venenos que a Química já elaborou?

E Pushkin, notável escritor russo? Era bipolar. E Antero de Quental, notável filósofo e escritor português? Também bipolar. Matou-se à bala.

E Boris Yeltsin, o primeiro presidente da democracia russa? Tinha depressão, mas não cometeu suicídio: morreu do coração em 2007 e era uma “figura”, com seu estilo e suas gafes movidas a “nonsense” e vodka – muuuuuuuuuita vodka... Foi a preocupação de diplomatas do seu e de outros países e, também, fez as delícias (e malícias...) de jornalistas e cronistas do mundo político.

E, encerrando a lista, na última letra está a competente e, com a licença de Michael Douglas, bela cantora e atriz britânica Catherine Zeta-Jones, provavelmente o mais perfeito dos espécimens bipolares vivos...

Não esqueçamos do Stefan Zweig, o jornalista e escritor austríaco que veio viver e morrer em terras tropicais e aqui escreveu seu famoso livro conhecido mais como frase do que como título: “Brasil, País do Futuro”. Em 1942, em Petrópolis (RJ), após uma tocante e superbem escrita carta de agradecimento, desilusão e adeus, o depressivo Stefan e a esposa, Lotte, tomaram ácido (barbitúrico, em dose mortal). No escrever do escritor, “em boa hora e conduta ereta” ele achou melhor “concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra”. No encerramento da breve carta, Stefan saudou todos os seus amigos, desejando-lhes “que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite”. Como ponto final, anunciou: “Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes”.

Sem trocadilho, a lista de antropônimos de portadores de distúrbios psíquicos vai de um polo ao outro e, nela, está o (quase) esquecido Buell Quain, após cujo nome registra-se: “depression, American ethnologist, suicide” (portador de depressão, etnólogo americano, suicida).

A misteriosa, controvertida, complexa e triste morte de Buell Quain talvez não devesse terminar em um dia 2 de agosto, no interior do Maranhão, nem, muito menos, em uma relação não tão famosa de “famosos” psiquicamente perturbados.

Além dos estudos linguísticos, antropológicos, sobre nossos irmãos índios (os trumais, no Mato Grosso; os craôs/krahôs, no Maranhão/Tocantins), o Brasil, os Estados Unidos e a Ciência estão devendo um esforço que não apenas esclareça e reconte os mistérios da morte mas, sobretudo, resgate e enalteça o talento, os trabalhos e – ele os devia ter – os sonhos de vida de Buell Quain, jovem, 27 anos, doutor, agente e destinatário da própria e trágica morte – morte testemunhada por dois pares de olhos e ouvidos índios e pelo silêncio ancestral de árvores e bichos habitantes de um pedaço de floresta no município maranhense de Carolina, há exatamente 79 anos, 2 de agosto de 1939.

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Talvez caibam ao viver e desviver de Buell Quain os versos de Antonio Domenico Bonaventura Trapassi, ou Pietro Metastasio, respeitado e influente escritor romano do século XVIII:

“Não é verdade que seja a morte
O pior de todos os males;
É um alívio dos mortais
Que estão cansados de sofrer”.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
Buell Quain, crianças craôs/krahôs e adultos trumais,grupos indígenas que estudava).

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Este solo é para ser pisado com respeito. Respeito, porque é mais velho que nós; e devoção, porque sobre ele se assentam oito mil anos de História, Cultura e Arte – “coisas” que nos tornam o que teimamos negar: humanos.

Do papiro à pintura, da múmia ao moderno, em pedra e pau, papel e tecido, cerâmica e vidro, ouro e chumbo, pele e osso, são cerca de 400.000 peças, das quais menos de 10% estão expostas, espalhadas em 160 mil metros quadrados de área de um palácio que, neste 2013, completa 220 anos de construção.

Estou no pátio central (“Cour Napoleon”) do Museu do Louvre e caminho para a entrada localizada sob a polêmica pirâmide de vidro inaugurada em 1989. (Um exemplo dessa má digestão de alguns franceses acerca da pirâmide de vidro está em uma cena em frente a ela, no filme “O Código da Vinci”: a pirâmide é definida como “Uma cicatriz nas feições de Paris” – em inglês: “A scar on the face of Paris”, frase dita pelo capitão francês Bezu Fache, interpretado por Jean Reno, dirigindo-se a Robert Langdon, o simbologista interpretado por Tom Hanks. No "link" abaixo, emocione-se com a música de Hans Zimmer com que o filme se encerra, em cena tocante – com trocadilho – de Tom Hanks ajoelhado sobre os vidros da pirâmide do Louvre).

Sou um dos 10 milhões de visitantes anuais e em um número de oito algarismos a unidade não faz diferença ao Louvre. A diferença está no olhar, no observar e no absorver.

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A fama é a forma. A fama do Louvre é a forma do olhar de quem o visita.

A fama não está na “Mona Lisa” de Da Vinci, ou na “Vênus de Milo”, na “Vitória de Samotrácia”. A fama é feita de forma. O conceito (positivo ou negativo) é o jeito com que se olha e divulga o olhar. A reputação (boa ou má) depende de modos e maneiras.

A fama é orgânica. Está no ser humano, que a repassa ou imprime, como um carimbo, sobre os papéis sociais que exerce.

Uma pintura, uma escultura, um objeto desperta ou não sensações, sentidos, sentimentos – que podem ser espontâneos ou podem estar submetidos à mediação do cardápio (ou “menu” – afinal, é Paris) de conteúdos do observador, contemplador, apreciador.

Eis o Museu do Louvre. Entrar nele depende de 9 euros. Mas ele entrar em você... isso não tem preço.

Acompanhe-me.

* EDMILSON SANCHES

(Texto inicial do livro "Reflexões Parisienses", inédito)

Fotos:
No Museu do Louvre, em seu pátio central, na pirâmide de vidro e próximo à Mona Lisa ("La Gioconda").

Engenho Central, em Pindaré

– Município completou no mês de junho exatamente 180 anos de existência histórica e é um caso exemplar de fundação de um lugar que tem preservada toda a documentação histórica inicial.

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Pindaré-Mirim comemora, como data de aniversário, o dia 28 de julho. A Lei nº 429, de 9 de abril de 1986 [veja a reprodução], institui três feriados municipais: 29 de junho, dia do padroeiro de Pindaré-Mirim, São Pedro; Sexta-Feira da Paixão; e 28 de julho, “data da elevação de Pindaré à condição de município”, de acordo com a Lei, assinada pelo prefeito José Bonifácio Silva, que administrou o município de 1982 a 1986, sucedendo a José Antônio Haickel.

Embora haja imprecisões em relação ao dia 28 de julho, como se verá mais adiante, o que está confirmado é que, pelos registros oficiais, documentados, Pindaré-Mirim, considerado berço cultural e histórico do Vale do Pindaré, completou em 2020 exatamente 180 anos de existência, desde seu começo como Colônia de São Pedro de Alcântara, conforme estabelecido pela Lei nº 80, de 16 de junho de 1840. Portanto, já há 43 dias que Pindaré-Mirim deveria ter anunciado sua maior data, o início de sua História.

Índio guajajara

Nos documentos históricos consultados, não se encontra nenhum registro do dia 28 de julho de 1923 como sendo a data de elevação de Pindaré-Mirim à condição de município.

A monumental “Enciclopédia dos Municípios”, publicada, em 31 de janeiro de 1959, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz textualmente: “A Lei provincial nº 800, de 22 de março de 1918, elevou a comuna à categoria de vila, e a [Lei] de nº 1.052, de 10 de abril de 1923, criou o município de São Pedro” (Volume XV, página 271).

Essa mesma Lei nº 1.052 e sua data (10 de abril de 1923) é o que também consta do “site” do IBGE (https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/pindare-mirim/historico), como “elevado à condição de cidade, com a denominação de São Pedro”.

Em sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais, de 2008, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a acadêmica Maria Zenaide Costa igualmente registra: “Em sua história para criação do município foi feito um desmembramento do município de Monção, seu vizinho, através da Lei nº 1.052, de 10 de abril de 1923, em que recebeu o nome de São Pedro [...]”.

Carlota Cristina Veloso Câmara, em sua monografia de bacharel em Turismo, na Universidade Federal do Maranhão, em 2010, também consigna: “O município de Pindaré-Mirim foi desmembrado do município de Monção e criado pela Lei nº 1.052, de 10 d abril de 1923, com o nome Colônia de São Pedro [...]”.

Escritor João Lisboa

Fundação

Nos séculos XVII e XVIII, os jesuítas foram expulsos três vezes do Maranhão, incluindo-se, claro, a região do Pindaré. A última vez foi em 1759. Ficando “órfãos”, os índios tornaram-se rebeldes, violentos e tornaram-se uma ameaça, na visão de fazendeiros e do Estado, que pretendiam explorar e colonizar a região.

Assim, em 2 de julho de 1839, pela Lei nº 85, a Assembleia Legislativa da província do Maranhão autoriza o governador Manoel Felizardo de Sousa e Mello a criar três Missões para, conforme Jerônimo de Viveiros, “civilizar” os índios. Essa Lei não é cumprida e, no ano seguinte (1840), já sob a administração de Luís Alves de Lima e Silva, que viria a se tornar o Duque de Caxias, a Lei nº 80, de 16/6/1840, autoriza criar “a primeira missão do Rio Pindaré, com o nome de Colônia de São Pedro de Alcântara”, a futura Pindaré-Mirim. Para estabelecer a missão, foram compradas terras que pertenciam a um cirurgião, Manoel Lopes de Magalhães.

Para ficar à frente desse processo, por ordem do coronel Luís Alves de Lima e Silva, que administrava o Estado e, também, comandava as tropas que combatiam a Balaiada, foi designado o engenheiro militar Fernando Luís Ferreira, que era tenente-coronel do Imperial Corpo de Engenheiros. A missão, fundada na margem direita do Rio Pindaré, tinha o objetivo de reconectar-se com os índios Guajajaras, facilitar o processo exploratório e civilizatório da região, como o compreendiam os interessados (governo, colonizadores, exploradores), e, muito importante também, desestimular uma adesão deles, índios, aos rebelados da Balaiada, cujos membros estavam fazendo incursões por diversos lugares, arregimentando pessoas insatisfeitas com as ações e os representantes dos Poderes Públicos. A Balaiada, ocorrida no Maranhão, tornou-se uma das maiores insurreições de origem popular havidas na época do Brasil imperial. Teve início em 13 de dezembro de 1838 e prolongou-se até 1841, com a derrota, prisão e morte de muitos revoltosos.

Desembargador Fernando Luís Vieira Ferreira

Documentos

Pindaré-Mirim é um raro caso de cidade cuja origem está bem documentada pelos agentes envolvidos na fundação, desde o Poder Legislativo estadual da época até os registros e relatos manuscritos do “principal” fundador, no caso o tenente-coronel Fernando Luís Ferreira. O fundador deixou um documento manuscrito onde expõe sobre o “plano civilizatório” que resultou no nascimento da Colônia de São Pedro. Esse documento, escrito de próprio punho pelo tenente-coronel, encontra-se guardado em instituição do Estado do Rio de Janeiro. Há registros também em publicações periódicas do século XIX, constantes do acervo de instituições de pesquisa e documentação histórica do Sudeste do país.

A Lei nº 80, de 16 de junho de 1840, é o mais histórico e o legítimo “registro de nascimento” de Pindaré-Mirim. É necessário ir em busca do seu original e dele fazer cópia de alta qualidade, pois trata-se de documento que é o marco legal e histórico do início da existência de Pindaré-Mirim, desde há 180 anos. Prefeitura e Câmara Municipal, entidades e empresas e filhos e amigos do município de Pindaré-Mirim poderiam associar-se para financiar essa empreitada, de resgate da história pindareense, a partir de um plano de localização dos documentos originais, produção de cópias e aquisição de publicações históricas para exibição, reprodução, estudo e divulgação entre alunos, professores, jornalistas e pesquisadores, políticos e investidores e demais interessados.

Em 21 de abril de 1918, Pindaré-Mirim passa de São Pedro de Alcântara, distrito de Monção, para a condição de vila, com o nome São Pedro, denominação que permanece quando da elevação à categoria de cidade em 1923. Somente mais de cem anos depois de sua criação como colônia é que o município teve seu nome alterado para Pindaré-Mirim, por disposição do Decreto-Lei nº 820, de 30 de dezembro de 1943.

A história de Pindaré-Mirim teve algumas idas e vindas, inclusive extinção e recriação do município em 1931, absorção e desmembramento do município de Monção (de onde se originou territorialmente), elevação e queda da produção econômica etc. Apesar disso, ao final, o espírito das pessoas e a potencialidade da região foram mais fortes e continuaram o sonho dos pioneiros da missão e da Colônia: conviver, trabalhar e desenvolver. E, é claro, o máximo possível, ser feliz.

Fundador

Registros biográficos colocam Fernando Luís Ferreira como “fundador de Pindaré-Mirim”, pois do plano que lhe foi confiado resultou a criação da Colônia de São Pedro, primeiro nome do futuro município de Pindaré-Mirim. O médico, professor, pesquisador, historiador e escritor caxiense César Augusto Marques, em sua monumental obra “Diccionario Historico-Geographico da Provincia do Maranhão”, de 1870, página 196, primeira coluna, escreveu: “Em 1840, [Fernando Luís Ferreira] foi encarregado de fundar a colônia indígena de São Pedro do Pindaré”.

Fernando Luís Ferreira era filho do tenente-coronel Miguel Ignacio e de dona Catharina de Senna Ferreira de Mendonça. Nasceu em São Luís (MA), em 1º de agosto de 1803, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1879. Bacharel em Matemática e Ciências Físicas pela academia militar. Escreveu livros. Foi jornalista, tendo sido fundador e redator de várias publicações. Foi sócio de diversas entidades culturais. Também se dedicou à agricultura, tendo introduzido novos sistemas de cultivo, inclusive o arado – inovação esta pela qual foi censurado.

Fernando Luís Ferreira era primo do escritor João Francisco Lisboa, em cujo sepultamento pronunciou discurso fúnebre. Era avô de Fernando Luís Vieira Ferreira, que lhe herdou o nome (com o “Vieira” a mais) e a inteligência, tendo sido desembargador e intelectual no Rio de Janeiro. A propósito, em texto publicado no jornal "Agora Santa Inês", no aniversário de Pindaré-Mirim em 2013, a foto do neto, desembargador, foi equivocadamente identificada como sendo o avô, engenheiro. Como se trata de texto presente em ambientes digitais, é grande a possibilidade de replicação dessa inconsistência, pelo que, como autor do texto, peço desculpa e informo que, por enquanto, ainda não localizei fotografia ou outra imagem de Fernando Luís Ferreira.

Engenho

Um dos símbolos históricos de Pindaré-Mirim é o Engenho Central, uma construção no centro da cidade, recuperada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O Engenho pertencia à Companhia Progresso Agrícola, instalada em 1876 e que foi responsável por grandes transformações socioeconômicas em Pindaré-Mirim e em toda a região até 1915, quando a Companhia entrou em declínio, sobretudo por causa dos altos juros bancários, falta de matéria-prima e de mão de obra especializada.

Lei Municipal de 1986

Atualmente

Hoje, Pindaré-Mirim tem 32.941 habitantes, segundo o IBGE, no ano de 2019; pelo Censo de 2010, 31.152 pessoas, o que o coloca entre os cinquenta maiores municípios do Maranhão e o de nº 1.012 em todo o Brasil, considerados as 5.570 cidades do país.

Pindaré-Mirim tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,633, o que significa ser de médio desenvolvimento, colocando a cidade como uma das melhores do Estado.

A economia do município é a 46ª maior entre os 217 municípios maranhenses e ocupa exatamente a posição nº 2.000 entre os 5.570 municípios do Brasil. O total da economia pindareense é de R$ 283 milhões 308 mil, em 2017 – mas já chegou a R$ 372 milhões 213 mil em 2015.

A maior participação na economia do município tem origem nos Serviços Públicos (administração, defesa, saúde e seguridade social), com R$ 124 milhões 420 mil, ou 43,91% do total. O Setor de Serviços (que inclui o segmento de Comércio) é responsável por R$ 77 milhões 901 mil, o que corresponde a 27,49%. A Indústria participa com R$ 45 milhões 398 mil, ou 16,02% do total, e a Agropecuária, com R$ 18 milhões 893 mil, correspondentes a 6,66%. Os Impostos, na ordem de R$ 16 milhões 694 mil, ou 5,89%, contribuem com o restante do Produto Interno Bruto (PIB) de Pindaré-Mirim.

Em 2018, o movimento bancário em Pindaré-Mirim revelava que os clientes tinham em depósito R$ 22 milhões 395 mil, a maior parte em poupança (R$ 17 milhões 717 mil). Por outro lado, os clientes (pessoas e empresas), na mesma data, já haviam recebido, em operações de crédito (empréstimos, financiamentos etc.) quase R$ 50 milhões (exatamente R$ 48 milhões 995 mil).

Território

O território de Pindaré-Mirim foi retirado do município de Monção, que cedeu quase a metade de sua área. Em 1959, Pindaré-Mirim tinha 14.975 quilômetros quadrados (km2) e era o quinto maior município em área do Estado do Maranhão. Atualmente, Pindaré-Mirim tem 268 quilômetros e 285 metros quadrados, o que corresponde a MENOS DE DOIS POR CENTO do seu antigo território, ou exatamente 1,79%. Pindaré-Mirim tornou-se município-pai ou cidade-mãe de diversos municípios e cidades, a exemplo de Santa Inês.

Sugestão

Pindaré-Mirim tem de, com urgência, assenhorear-se de sua orgulhosa condição de matriz histórico-cultural da região do Vale do Pindaré. Para isso, antiguidade é posto. Assim, em vez de comemorar uma data de mudança de “status” político-administrativo, por que não comemorar a data de quando tudo começa... e que tem documento oficial comprovando? Esse é o caso do início da história de Pindaré-Mirim, com a lei estadual que autorizou a fundação da Colônia São Pedro, em 1840. São 180 anos de História, quase o dobro do que hoje se lembra. Afinal, uma cidade é uma união de pessoas, e pessoas comemoram a data de nascimento, não a data de seu registro em cartório, não a data de sua maioridade civil nem muito menos a entrada na velhice... Desse modo, Pindaré-Mirim deveria estabelecer oficialmente como data magna, como o grande dia de festa da municipalidade o dia 16 de junho, quando, em 1840, há 180 anos, dava-se início à saga dessa pequena grande cidade.

O que se deve celebrar é a vida, ou, no caso de uma cidade, o início de sua existência. E Pindaré-Mirim tem história (e existem registros dessa história) para estar comemorando seus 180 anos em 2020. Um plebiscito ou uma lei devidamente discutida com a sociedade poderia estabelecer o seguinte:

“Para preservar os registros legais e históricos existentes em fontes confiáveis e marcar a importância e anterioridade do município de Pindaré-Mirim na formação da história e desenvolvimento do Vale do Pindaré e do Oeste maranhense, fica decidido, com a aprovação do povo pindareense, que, a partir de 2021, o ano oficial de fundação do município é 1840, e o dia de comemoração, 16 de junho, correspondente à data da Lei nº 80/1840, da Assembleia Legislativa Provincial do Maranhão, que determinou a criação da Colônia de São Pedro de Alcântara, reunindo o ancestral povo guajajara e os novos habitantes em um só ideal de convivência, trabalho, e desenvolvimento e felicidade”.

Essa solução faria justiça a Pindaré-Mirim e só influenciaria positivamente na alteração dos hábitos cívicos do povo pindareense, pois a data proposta (16 de junho) ocorre em período de plena atividade educacional, com a possibilidade de integrar estudantes a esse momento de simbolismo histórico.

* EDMILSON SANCHES

(Jornal "Agora Santa Inês", edição de 29/7/2020).