
No livro “Efemérides Caxienses”, a “opus magna” do desembargador Arthur Almada Lima Filho, pesquisador e escritor, fundador e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, estão faltando, pelo menos, três datas: 1929 – 17 de outubro; 2021 – 27 de outubro; e 2025 – 20 de dezembro.
O autor da obra, é claro, não tinha como registrar essas datas – uma delas, não o faria por desvaidade; as outras duas, por impossibilidade.
Tratam-se, essas datas, do nascimento de Arthur Almada Lima Filho (17/10/1929), de seu falecimento (27/10/2021), e da inauguração de seu busto, neste 20/12/2025, na conhecida Praça do Panteon (oficialmente, Praça Dias Carneiro), onde a imagem de diversos caxienses encimam pedestais e ensinam silenciosamente pelo exemplo que a História e a Cultura fizeram de cada um daqueles filhos, cujas vidas muito representaram e representam para sua terra Caxias, sua terra Maranhão, sua terra Brasil.
Com certeza, essas terras, no mínimo, devem algum preito de gratidão a essas boas, férteis sementes humanas que nelas vicejaram e nelas, para elas ou por elas dedicaram tanto tempo, talento, trabalho, esforço e outros recursos, em favor de coisas e de causas que fizeram do País, do estado e deste município uma referência de valor, uma reverência de respeito, uma imagem de positividade.
Arthur Almada Lima Filho volta à praça que por vezes frequentou e por onde tanto passou. Uma dessas vezes foi na manhã de 20 de fevereiro de 2014.
No ano de 2014 completavam-se 80 anos de morte do monumental caxiense Henrique Maximiano Coelho Netto (1864-1934), o escritor mais lido de seu tempo – nem Machado de Assis (1839-1908), que foi seu contemporâneo, o superava na preferência dos leitores.
Mas, em 2014, exatamente aquele dia 20 de fevereiro, era a véspera dos 150 anos, o sesquicentenário de nascimento de Coelho Netto, um caxiense absolutamente grandioso, que, além de talentoso e profícuo escritor, era também cineasta, tendo sido o introdutor do cinema seriado no Brasil; grande capoeirista, foi o responsável pela dignificação da capoeira no Brasil, esporte, arte, técnica ou dança que, antes de Coelho Netto, tinha seus praticantes caçados pela polícia da época, por não ser atividade bem vista pela sociedade ou pelas forças de Segurança de então. Coelho Netto fez e foi ainda muitas “coisas”, inclusive ser indicado ao Prêmio Nobel. (Quando é que outro caxiense, maranhense, será indicado à mais conhecida e respeitada premiação de reconhecimento de todo o mundo?)
Pois, pasme você que me lê, um ser humano da excepcionalidade, da dimensão de Coelho Netto, exatamente no dia anterior ao dos seus 150 anos de nascimento, sua cidade natal (sim, Caxias, a do Maranhão) não tinha, da parte de quem deveria ter responsabilidade pública, um único evento, mesmo uma sessãozinha de algum Poder Público municipal em homenagem àquele que, em 1928, fora eleito o "Príncipe dos Prosadores Brasileiros" no Rio de Janeiro!
E como o respeito dos ditos “homens públicos” pelas tidas “coisas públicas” de Caxias é o menor, o mais tacanho, rasteiro e apenas retórico, na véspera dos 150 anos de Coelho Netto, a se completarem em 21 de fevereiro de 2014, era e-xa-ta-men-te o busto, a cabeça de Coelho Netto que faltava no seu próprio pedestal!... Os demais plintos ou pedestais ou bases de concreto estavam, cada um, com seu devido busto. Mas, faltando menos de 15 horas para o dia 21 de fevereiro de 2014, data dos 150 anos coelho-nettianos, a cabeça, o busto seu havia sido... o quê? Quebrado? Roubado? Retirado para reparos? Havia sumido, seja lá o que de mais específico tenha acontecido.
Isso é Caxias: autoridades públicas, aqui, além de muitas das vezes não terem a cabeça no lugar, ainda põe a perder a cabeça dos outros – sobretudo a daqueles que não podem mais se defender – a não ser ante a força da representatividade na História e na Cultura nacional (mas quem disse que esse magote de mandatários se quedam de respeito pela grandeza histórica e cultural caxienses!... Onde há número$$$, que importam as Letras!...).

Naquele dia 20 de fevereiro de 2014, fui ao Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC) e lá “intiquei”, incitei, os conterrâneos, amigos e confrades Arthur Almada Lima Filho e Jacques Inandy Medeiros, ambos escritores, pesquisadores, ex-reitores da Universidade Estadual do Maranhão, para me acompanharem até à Praça do Panteon e presencialmente testemunharem mais um ato do miserável desinteresse, do incontido despudor e da ausente falta de iniciativa e de vergonha em relação aos Valores maiúsculos de nossa tão sofrida Caxias, que tantos filhos ilustres, pelo talento e trabalho, deu para o Brasil. (Acabei de descobrir que um médico caxiense, que estudou na Suíça, País de Gales, Inglaterra (Oxford), Rio de Janeiro, Viena (Áustria), Berlim, Londres, foi o fundador da Escola Paulista de Oftalmologia, da Universidade de São Paulo, onde foi professor titular da Faculdade de Medicina, além de primeiro presidente da Sociedade de Oftalmologia de São Paulo e Patrono da Cadeira 27 da Academia de Medicina de São Paulo. Caxias é absolutamente surpreendente!...).
Foi assim que foi feita a foto que ilustra este texto, com Arthur Almada Lima Filho e Jacques Inandy Medeiros ladeando o pedestal sem o busto de Coelho Netto, no dia anterior ao sesquicentenário do grande escritor. Eu a fiz, eu tirei a foto, com um celular. Ela ilustrou a matéria principal do jornal “Folha do IHGC”, edição dedicada a Coelho Netto e seus 150 anos. A manchete, uma frase de um advogado, diplomata, jornalista, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, João Neves da Fontoura, resumia o gigantismo de Coelho Netto: “NÃO HOUVE MELHOR BRASILEIRO DO QUE COELHO NETTO”.
Claro que, se há verdade na frase, há, muito mais, carinho, respeito, gratidão, reverência. Seu autor não poderia conhecer nem ter conhecido todos os brasileiros, e há muitos bons, ótimos, excelentes brasileiros Brasil adentro e afora. A frase utiliza um recurso – positivo – de Oratória e Retórica, bem diferente das falas falsas e fáceis de senhorzinhos das apequenadas politiquices da hinterlândia brasileira e maranhense.
É para esta Praça do Panteon que agora trazem Arthur Almada Lima Filho, agora transformado em pedra, “vítima” de uma bondosa Medusa que, ao invés de feios ofídios, tem seus cabelos feitos de amigos e instituições, que olham para a Eternidade e lá veem, merecedor, o Arthur Almada Lima Filho que já era imortal em Academias e perpétuo na mente e coração de muita gente.
Bom seria se, ao invés de ser visto, pudesse Arthur Almada Lima Filho ser lido. Ter suas obras conhecidas. Lidas. Discutidas. Reeditadas. Analisadas por acadêmicos. Utilizadas por jornalistas em suas pautas diárias. Relembradas por escritores em artigos.
Quem sabe o busto na praça estimule algum curioso a aprofundar-se no que há disponível sobre a vida e obra arthuriana.
De qualquer modo aí está.
Arthur Almada Lima está ali.
Arthur está na Praça.
Para todos.
Para sempre.
* EDMILSON SANCHES
Foto:
Os caxienses Arthur Almada Lima Filho (à esquerda) e Jacques Inandy Medeiros, falecidos, ladeiam o pedestal sem o busto do escritor, cineasta e desportista Coelho Netto, na Praça do Panteon, centro de Caxias (MA), em 20 de fevereiro de 2014, véspera do aniversário de 150 anos de Coelho Netto, nascido em 21 de fevereiro de 1864, em Caxias.













