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 “LETRAS NÃO SÃO SOMENTE CANTO DE ACALANTO, MAS TOQUE DE DESPERTAR, SINAL DE ALERTA, SIRENE DE ALARME, AVISO DE MARCHA, HINO DE GUERRA, CANÇÃO DE VITÓRIA”

(Discurso de Edmilson Sanches, presidente da Academia Imperatrizense de Letras, na solenidade de instalação da Academia Açailandense de Letras e posse de seus membros fundadores. Açailândia, 5 de junho de 2004)

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– “Uma Academia de Letras também é, ou deve urgentemente ser, um clube de serviços, ou, melhor, menos clube, e mais serviço. Prestar serviços que prestam”.

– “Academia não é só um fardão: ela é também um fardo – o qual, cada um dos membros fundadores ajudarão a carregar”.

– “Academia não mais é reverência; quando muito, é referência. É, em igual tempo, museu e laboratório, conservação e criação, pensamento e ação”.

– “Em uma Academia, não basta assinar o ato de posse – temos de tomar posse dos nossos atos”.

– “Não basta tomar posse NA Academia; e indispensável tomar posse DA Academia”.

– “Uma Academia é um laboratório – e não um repositório – de consciências”.

– “Nós, os acadêmicos de Imperatriz, claro, não estamos EM Açailândia, mas sempre estaremos COM Açailândia. Ser açailandense não é apenas nascer ou construir residência em Açailândia – é RENASCER em Açailândia e construí-la, construir e carregar a cidade dentro de si. Não é ter emprego na cidade – é trabalhar por ela. Não basta apenas ser filho da cidade – é preciso criar e crescer a cidade dentro de si”.

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Senhoras e Senhores:

O local mais seguro para um navio é o porto onde ele está fundeado. Mas não é para portos que se constroem navios.

O lugar mais seguro para um automóvel é a garagem, onde ele fica guardado. Porém, não é para as garagens que se fabricam carros.

O melhor lugar para uma criança é o colo da mãe ou os braços do pai. Entretanto, não é para ficar vitaliciamente debaixo das vistas do pai ou sob as saias da mãe que se geram filhos.

Uma Academia igualmente é um local razoável para um intelectual, para um humanista. Mas, ouso dizer, não é somente para reunir gentes sábias que se formam academias.

Não, Senhores. Apesar de ali estarem seguros, não é para portos, mas sim para os mares, que navios são construídos. É para a probabilidade da tempestade, é para a possibilidade da bonança, é para a certeza da viagem que navios são feitos e são lançados à água e singram mares já ou nunca dantes navegados. Navios são feitos porque os mares, e não os portos, existem.

Também é para roer distâncias, encurtar tempos, transportar pessoas e coisas, que se fazem carros. Eles são para as ruas e estradas, pois das vielas e becos cuidam nossos pés. É porque existem espaços para transitar, e não garagens para estacionar, que se industrializam carros.

É para a vida, para o mundo, para a certeza das buscas e incerteza do encontro, que se geram filhos. Sobre eles, pais, no máximo, têm autoridade, não propriedade.

É principalmente para unirem-se em torno de um ideal, e não em frente uns dos outros, que pessoas se juntam em clubes de serviço. E uma Academia de Letras também é, ou deve urgentemente ser, um clube de serviços, ou, melhor, menos clube, e mais serviço. Prestar serviços que prestam.

Porque é urgente e preciso organizar as pessoas para que elas organizem, para melhor, o mundo. Abrir não o leque que espalhe um arzinho de conforto, mas um fole, que resfolegue, que crie, espalhe e trabalhe também o desconforto, donde poderão sobrevir respostas e realidades – assim como do desconforto, da irritação da ostra nasce a preciosidade da pérola. As Letras não são somente canto de acalanto, mas toque de despertar, sinal de alerta, sirene de alarme, aviso de marcha, hino de guerra, canção de vitória.

Senhores:

O que legaliza uma Instituição é seu registro, mas o que a legitima é a qualidade de sua ação. Os Cartórios e as Juntas Comerciais estão cheios de certidões de fantasmas, de escrituras de vivos-mortos. Nesse caso, não há muita diferença entre uma certidão de nascimento e um atestado de óbito.

Não tem jeito. O mundo exige, as cidades precisam, o ser reclama: pessoas e instituições têm de fazer diferença. Há muita inércia no mundo, muita energia estática.

Em uma Academia, não basta assinar o ato de posse – temos de tomar posse dos nossos atos. Pelo menos nós aqui, gente escolada na vida e no ofício, sabemos que o ato de posse não se exaure, ou não se deve exaurir, nesta noite de destaques e de discursos. Não basta tomar posse NA Academia; e indispensável tomar posse DA Academia... Que ninguém se sinta pleno aqui e agora. Academia não mais é reverência; quando muito, é referência. É, em igual tempo, museu e laboratório, conservação e criação, pensamento e ação.

Por mais inusual, pouco comum, que pareça, também cabe a uma Academia – como caberia a qualquer Instituição – auxiliar na desinstalação das pedagogias criminosas. Da pedagogia que não adiciona valor, embora subtraia rendas. Da pedagogia prendedora, e não empreendedora: a educação para a passividade, que disciplina para a dependência, não para a competência.

A dependência cria, no máximo, a revolta; a competência faz a revolução. A revolta muda as pessoas do poder. A revolução muda o poder das pessoas, mostra às pessoas que elas são ou têm o poder.

O revolucionário preexiste à revolução. Uma revolução inicia-se pelo nível da consciência. Uma revolta, pelo nível da emoção. O que se inicia pela consciência fortalece a emoção; o que começa pela emoção, fragiliza a consciência. O revolucionário tem consciência da necessidade. O revoltado tem necessidade da consciência.

Uma Academia é um laboratório – e não um repositório –  de consciências.

Senhoras e Senhores, meus Confrades da Academia Açailandense de Letras:

Muito do que aqui estou dizendo é repetição, senão pregação, do que venho falando ou escrevendo já há algumas décadas.

A Academia Imperatrizense de Letras tem orgulho de estar apadrinhando a criação e instalação desta Academia e a posse de seus membros fundadores.  Dá-se, com a Academia de Açailândia, o que já se deu com a própria cidade de Açailândia: uma é filha da cidade de Imperatriz, a outra, é filha da Academia de Imperatriz. Ambas tratam e retratam valores culturais.

Talvez isso, quem sabe, seja essa a verdadeira fórmula do desenvolvimento, um desenvolvimento onde aos haveres econômicos se aliem os valores culturais. Tudo tem de estar integrado. Onde a Engenharia erga prédios, a Estética espalhe sensibilidade.

Onde a Geografia imponha limites, a Cultura interponha pontes.

Onde a Economia fixe preços, a Arte destaque valores.

Enfim, onde o Homem faz corpo, Deus sopre alma. Porque, à maneira de Vieira, prédios sem pessoas viram ruínas senão escombros.

Países sem pontes viram isolamentos senão ditaduras.

Economia sem cidadania vira exploração senão barbárie.

Política sem Humanismo vira escravidão senão tirania.

E pessoas sem cultura nem alma viram máquinas senão monstros.

E por que assuntos como este, de Arte e Cultura, parece ser tão incompreensível, inadmissível, tão “demodè”, às vezes tão estranho, hoje?

O que foi que aconteceu?

Houve a banalização da fala?

A vulgarização da palavra?

A dessensibilização dos sentidos?

A dessacralização dos sentimentos?

É o mau uso da Língua, a incorreção da linguagem, a palavra de duplo sentido ou a vida sem nem um significado?

É a precariedade ética, a prevenção cética, o primarismo estético, o pragmatismo técnico?

É a miopia política, a ausência de crítica, a repetição cíclica, a deseducação típica?

É a inafeição cultural, a inaptidão intelectual, a indisposição literal, a desinformação atual, a decomposição moral e coisa e tal, o que é, Senhoras e Senhores? É a falta da virtude rara, da vergonha na cara?

Desculpem-me – peço-lhes – se, em vez de um fraseado bonito e soluções confortantes, trago-lhes eu aqui um leriado, um palavreado feio e dúvidas cortantes, constantes. Mas até nisto há de se entrever algum mérito, porque o homem também cresce quando duvida.

É preciso mais. É urgente dar mais vida à vida.

Nós, os acadêmicos de Imperatriz, claro, não estamos EM Açailândia, mas sempre estaremos COM Açailândia. Ser açailandense não é apenas nascer ou construir residência em Açailândia – é RENASCER em Açailândia e construí-la, construir e carregar a cidade dentro de si. Não é ter emprego na cidade – é trabalhar por ela. Não basta apenas ser filho da cidade – é preciso criar e crescer a cidade dentro de si.

Uma cidade e uma academia têm esse ponto em comum. Açailândia – e sua Academia – não são somente referência, reverência, abstração, memória, história, inspiração. Açailândia – e sua Academia – não são só um sentido, um sentimento. A cidade – e sua academia – também são matéria, chão, paredes, mobília, necessidades a serem supridas, reclamos a serem atendidos, participação a ser cobrada, direitos a serem exigidos, deveres a serem cumpridos, contas a serem pagas.

Senhores Acadêmicos, Senhoras e Senhores:

Em Açailândia, sua Academia de Letras não é um contraste – é do contexto. Não é um confronto – é um encontro. Nasce de espíritos interessados, não de mentes interesseiras. A lógica de sua criação baseia-se em argumentos, não em argúcias.

É demagógico o discurso de que uma academia não é necessária a uma cidade, de que a região tem outras prioridades. Claro, ninguém vai à “vernissage” nem à “avant-première”, ninguém vem a uma solenidade como esta com olhos e bucho de fome. Mas Terra e homem foram dotados de recursos suficientes para que, explorados de forma inteligente e íntegra, integral e integrada, a vida se faça plena, dispensando, pois, prioridades isolacionistas, hierarquias mecanicistas, vícios segregacionistas, demagogias separatistas. Visão de conjunto, percepção do todo: É perfeitamente possível transformar em complementar o que se diz concorrente. Tornar compatível o que se julga contraditório. Fazer amigo no que é adversário.

Senhoras e Senhores:

Como veem, por tudo o que disse aqui, Academia não é só um fardão: ela é também um fardo – o qual, cada um dos membros fundadores ajudarão a carregar, com o concurso dos 33 cidadãos inteligentes, fortes e dispostos que formam a Academia Imperatrizense de Letras, os quais, por motivos involuntários, não puderam estar aqui nesta noite, embora muitos deles tenham estado em diversos eventos culturais realizados nesta cidade.

Senhoras e Senhores, colegas Acadêmicos:

Sejam cada vez mais açailandenses.

Sejam cada vez mais cidadãos.

Sejam cada vez mais solidários.

Sobretudo, sejam cada vez mais felizes.

Pela paciência e atenção, aceitem minha gratidão; e recebam, com afeto, o afeto que se encerra neste peito juvenil.

Muito obrigado. Palmas para Açailândia.

* EDMILSON SANCHES

Imagem:

Brasão da AAL.

DE ACADEMIA E POVO, DISTÂNCIAS E REALIDADES

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A forte chuva que se iniciou antes das 19h do sábado, 24/11/2018, e que se estendeu para próximo ou além da meia-noite, deve ter sido mesmo uma bênção dos céus para servir de desculpa a algumas autoridades de todos os gêneros e espécies que, convidadas, não deram o ar da graça na solenidade pública e festiva de posse dos primeiros 25 membros e da primeira diretoria (com oito integrantes) da Academia João-lisboense de Letras (AJL).

Entretanto, e ainda bem, o auditório do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de João Lisboa (Sintejol) estava lotado, e com mais gente nos corredores. E todas aquelas pessoas  -- mulheres, homens, jovens, moças, meninos e até bebês – representavam, elas sim, a verdadeira autoridade, fonte primeira do poder: o Povo, POVO grande, maiúsculo.

O povo de João Lisboa – município maranhense com 97 anos de início de sua História, com 59 anos de autonomia política, com território de 1.137 km2, com 24 mil habitantes e com economia de R$ 270,6 milhões (2021) –, o povo de João Lisboa, repita-se, avalizou, no dia 25/11/2018, todos os esforços anteriores e posteriores que tiveram como marco histórico o ato também público e solene realizado em 27 de abril de 2017, quando, na Câmara Municipal joão-lisboense (“casa do povo”), foi criada a Academia João-lisboense de Letras.

João Lisboa merecia sua Academia –  até mesmo a partir do seu nome, uma homenagem ao maranhense João Francisco Lisboa, que integra a Academia Brasileira de Letras (ABL) como patrono da Cadeira nº 18, por escolha de seu primeiro ocupante, o escritor, educador, jornalista e estudioso da literatura brasileira José Veríssimo, paraense de Óbidos, considerado o principal idealizador da criação da ABL.

 João Francisco Lisboa nasceu em Pirapemas (MA) em  22 de março de 1812 e faleceu na capital portuguesa, Lisboa, em 26 de abril de 1863. Foi escritor, jornalista e político combativo. É clássica sua obra “Jornal de Tímon” (Tímon – com acento agudo no “i” – era um filósofo cético grego dos séculos III e IV antes de Cristo). A cidade que lhe homenageia com o nome, João Lisboa, está a três anos de seu primeiro século de existência, a ser completado em 2025, considerada o ano de chegada – 1925 – do Sr. Joaquim Alves da Silva, o primeiro morador das terras do município, que deu ao lugar o nome de “Gameleira”, ante a existência de árvores de mesmo nome, com cuja madeira se fazem, entre outras, as vasilhas chamadas “gamelas”, de uso doméstico (banhos, por exemplo) e de trabalho (como dar de comer a porcos, muitas das vezes de pequenas criações domésticas).

Os primeiros 25 acadêmicos da AJL (do total de 40 Cadeiras) são, em ordem alfabética:

BRUNIDES QUEIROZ MOREIRA, Cadeira nº 14, patronato do escritor, jornalista e professor Josué Montello;

CLAUDYO JACKSON DAMASCENA SIMÃO, Cadeira nº 19, patronato do escritor, jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues;

EDMILSON SANCHES, Cadeira nº 22, patronato do professor, historiador e escritor João Renôr Ferreira de Carvalho;

EMERSON GEOVANE DO NASCIMENTO, Cadeira nº 4, patronato do militar e político Duque de Caxias;

FLÁVIA DE ALMEIDA, Cadeira nº 5, patronato da escritora e jornalista Clarice Lispector;

HERLI DE SOUSA CARVALHO, Cadeira nº 24, patronato da professora, historiadora e ativista dos direitos humanos Maria Beatriz do Nascimento;

HOLDEN FARHANY ARRUDA MARTINS, Cadeira nº 12, patronato do escritor, sociólogo e professor Antônio Cândido de Mello e Souza;

IOLÂNGELA BARRETO SILVA, Cadeira nº 10, patronato da escritora, poetisa e contista Cora Coralina;

IVAN LIMA DE AZEVEDO, Cadeira nº 2, patronado do jornalista, advogado e professor Jurivê de Macedo;

JAQUELINE BARBOSA FERRAZ DE ANDRADE, Cadeira nº 18, patronato da escritora, romancista e poeta Lucy Teixeira;

JOÃO BOSCO BRITO, Cadeira nº 27, patronato do pioneiro, empresário e empreendedor João Paraibano;

JOSÉ HUMBERTO SANTOS NASCIMENTO, Cadeira nº 28, patronato do escritor e líder religioso Estevam Ângelo de Sousa;

JOSÉ RIBEIRO DA SILVA JÚNIOR, Cadeira nº 1, patronato do historiador, jornalista e escritor João Francisco Lisboa;

JOSIANO CÉSAR DE SOUSA, Cadeira nº 13, patronato do escritor, advogado e poeta Gonçalves Dias;

LAIZA SOUZA DE LIMA CAMPELO, Cadeira nº 20, patronato do professor, pedagogo e filósofo Paulo Freire;

LUIZ CARLOS FERREIRA CEZAR, Cadeira nº 25, patronato do escritor, jornalista e memorialista Graciliano Ramos;

MARCELO BITAR LOBO JÚNIOR, Cadeira nº 8, patronato do escritor e cordelista Manu Rolim;

MARIA DA CONCEIÇÃO MEDEIROS RODRIGUES FORMIGA, Cadeira nº 21, patronato da escritora, historiadora e professora Edelvira Marques de Moraes Barros; 

MARIA LOZA DA ANUNCIAÇÃO SILVA, Cadeira nº 9, patronato do compositor, cantor e músico João do Vale;

MARIA NATIVIDADE SILVA RODRIGUES, Cadeira nº 36, patronato da escritora, romancista e professora Maria Firmina dos Reis;

MARICÉLIA RIBEIRO DE MENEZES ROCHA, Cadeira nº 39, patronato do escritor, jornalista e dramaturgo Machado de Assis;

MÔNICA MONTEIRO, Cadeira nº 6, patronato do escritor, jornalista e cineasta Fernando Sabino;

NERY BARRETO SILVA, Cadeira nº 7; patronato do escritor, advogado e diplomata Ruy Barbosa;

RAIMUNDO NONATO CABELUDO VIEIRA, Cadeira nº 31, patronato do empresário e político João Menezes Santana;

REGIVALDO ALVES, Cadeira nº 34, patronato da professora e servidora pública Darcy Fontenele Cruz de Queiroz;

SÁLVIO DINO JESUS DE CASTRO E COSTA (“in memoriam”), Cadeira nº 32, patronato do professor, jornalista e empreendedor João Parsondas de Carvalho;

SÔNIA MARIA NOGUEIRA, Cadeira nº 17, patronato do escritor, jornalista e poeta Francisco Sotero dos Reis;

VALDIZAR FERREIRA LIMA, Cadeira nº 3, patronado do jornalista, escritor e editor Adalberto Franklin; e

 ZENEIDE MARIA PEREIRA, Cadeira nº 15, patronato do escritor, dramaturgo e professor Ariano Suassuna.

A primeira Diretoria eleita tem oito membros: JOSÉ RIBEIRO DA SILVA JÚNIOR, presidente; IVAN LIMA DE AZEVEDO, vice-presidente; VALDIZAR FERREIRA LIMA, diretor-geral; EMERSON GEOVANE DO NASCIMENTO, vice-diretor-geral; JOSIANO CÉSAR DE SOUSA, diretor financeiro; MARIA DA CONCEIÇÃO MEDEIROS RODRIGUES FORMIGA, vice-diretora financeira; João Bosco Brito, diretor de Comunicação; HOLDEN FARHANY ARRUDA MARTINS, vice-diretor de Comunicação.

Por decisão dos acadêmicos da AJL, fui escolhido para presidir tanto os atos de criação da Academia, em 27/4/2017, quanto os atos de posse solene dos acadêmicos e da primeira Diretoria em 24/11/2018.

Nesses dois momentos da história inicial da AJL, além da parte protocolar, formal, oficial, ousei concitar e incitar a todos, em especial convidados e demais pessoas presentes, para um novo olhar sobre as funções e a importância latente, potencial, de entidades do gênero das Academias de letras e culturais em geral.

Com efeito, Academias de Letras não mais devem ser vistas como apenas um ambiente intelectual, mas, também, como espaço social, fórum político (sociopolítico) e agente econômico.

Recordo-me de que, quando criei a Academia Imperatrizense de Letras (AIL) neste mesmo dia e mês, há 33 anos (27 de abril de 1991), fui “atacado”, questionado. Argumentavam, as forças contrárias, anônimas, que “Imperatriz não precisava de Academia”, que “o povo precisava era de comida e dinheiro”. Entre outras coisas, respondi, em contundente artigo, que “pessoas não são só bucho e bolso”. Na minha segunda gestão como presidente da AIL (2003/2005), criei a Semana Imperatrizense do Livro (SIL), anual, que mais tarde seria redenominada Salão do Livro de Imperatriz (Salimp), que, há anos, consta do calendário do governo federal para eventos do gênero e que é, com certeza, um fator econômico ante o movimento financeiro de alto vulto proporcionado pelo consumo das dezenas de milhares de pessoas físicas e jurídicas que dão tamanho e grandiosidade ao evento e que se abastecem com a compra de milhares e milhares de livros e outros suportes de informação, conhecimento e cultura, além de alimentos, lazer, “shows” musicais etc.

Assim, uma academia novel como a de João Lisboa tem de ter, em seu início, apenas essa primeira preocupação: existir. Existir legalmente. Existir enquanto determinada quantidade inicial de pessoas unidades sob mesmos propósitos. A partir de sua existência oficial, com os devidos registros legais (cartório, Receita Federal...), dão-se os primeiros passos rumo aos projetos. Como um ser recém-nascido, vai-se crescendo e vai-se fortalecendo com o decurso dos dias. Desprezam-se, olímpica e majestosamente, bílis e azedumes, invejas e ressentimentos. A energia intelectual, emocional e operativa deve ser dirigida ao SABER FAZER (realizar) acompanhado do FAZER SABER (comunicar, divulgar).

As Academias de Letras, pelas obras (sem trocadilho) e serviços tornam-se parte dos agentes da chamada Economia Criativa, segmento econômico que tem, como matéria-prima e mãe, o talento, a inteligência, a criatividade e outros recursos que, trabalhando sobre recursos outros, produzem desde literatura, música, pintura, programas de computador (“softwares”), artesanato e um sem-número de produtos e serviços cuja classificação ainda depende do estudioso ou da instituição que a faz. Por exemplo, as Nações Unidas (ONU), por meio da sua Conferência para o Comércio Internacional e o Desenvolvimento (UNCTAD) classifica a Economia Criativa em quatro grandes grupos: Herança ou Patrimônio (artesanatos, festivais e celebrações; sítios arqueológicos e culturais, como museus, bibliotecas, exposições etc.); Artes Visuais (pintura, escultura, fotografia e antiguidades) e Artes Performáticas (música ao vivo, teatro, dança, ópera, circo, marionetes etc.); Mídia e Produção Editorial (imprensa, livros e outras publicações) e Produção Audiovisual (cinema, televisão, rádio etc.); Criação Funcional: atividades como “design” (de interior, gráfico, moda, joias, brinquedos); a “nova mídia” (“software”, “videogames” e conteúdo criativo digitalizado); e outros serviços de criação intelectual (Arquitetura, Publicidade, Recreação, Pesquisa & Desenvolvimento etc.).

De modo oficial, o Brasil tem no seu Ministério da Cultura uma Secretaria de Economia Criativa e, também oficialmente, com o Decreto 7.743, de 1º de junho de 2012, listou, pelo menos, vinte segmentos: animação, arquitetura, artesanato, artes cênicas, artes visuais, audiovisual, cultura popular, “design”, entretenimento, eventos, “games”, gastronomia, literatura e mercado editorial, moda, música, publicidade, rádio, “software”, televisão, e turismo cultural.

É nessa realidade institucional e até oficial, advinda de uma realidade antecedente – o poder criativo das pessoas – onde uma Academia de Letras deve-se inserir, se manter e transformar e ampliar (para melhor). Evidentemente, nem de longe se está aqui preconizando a ascendência do econômico sobre o criativo. Obrigatoriedade não combina com liberdade. Não se trata de um CONTRA o outro, mas de um COM o outro. A criação com liberdade e, por que não, também com lucro, com resultados culturais, identitários, e também econômico-sociais ou socioeconômicos.

A compreensão do novo “modus vivendi” e “modus faciendi” de uma Casa de Letras tem a ver com o assumir papeis sociais cujas ações – de pensar, de expressar o pensamento, de realizar eventos e produzir “coisas” – contribuam para reduzir os graus das diversas carências para cuja debelação as autoridades tradicionais se mostraram/se mostram ainda poucas e incapazes, sobretudo ante as práticas de corrupção, que consomem ou para as quais se desviam enorme quantidade de esforço, de tempo, de talento, de dinheiro e de outros recursos, tão essenciais, tão fundamentais, tão vitais ao suprimento de obras e serviços para o povo.

A Academia João-lisboense de Letras é lugar de pessoas ocupadas. Todos os seus membros trabalham, têm suas atividades, além da prática e/ou do gosto pelas coisas e causas da Cultura, da Arte, da Literatura. São professores, comunicadores, gestores, empresários e empreendedores, servidores públicos, entre outros afazeres. Pessoas ocupadas são as mais indicadas para realizar “novas” tarefas... pois, as outras, não têm tempo – o “otium sine dignitate” consome talento e horas...

Portanto, integrada por trabalhadores, a AJL nasce com uma boa característica: responsabilidade, que deve gerar planejamento, que deve gerar foco, resultados, realidades – novas realidades.

A palavra grega “academia” é formada pelos antigos elementos de composição “aká-” e “-demos” e significa “lugar distante do povo”, pois a Academia original – criada pelo filósofo Platão por volta de 387 antes de Cristo – localizava-se nos arredores de Atenas (Grécia), em lugar afastado dos locais de acesso mais comum da população.

De certo modo, por modos incertos, à origem da palavra agregou-se um viés sociológico de elitismo, de distanciamento do comum da população. As Academias, todas elas, têm de remarcar-se, posicionar-se, espacial, intelectual e operacionalmente para ocupar o lugar de proximidade que seu nome e os novos tempos impõem.

Pois, na palavra “academia”, a maior parte (“-demia”) é povo.

Sem o povo, não é – não há – Academia.

Viva a Academia João-lisboense! Viva ao povo de João Lisboa!

E vamos ao trabalho, pois, como lembra o também grego Hipócrates, pai da Medicina: “Ars longa, vita brevis”.

A arte é longa, a vida é breve.

* EDMILSON SANCHES

Ilustração:

Logomarca da Academia João-lisboense de Letras.

Festival O Corpo Negro, promovido pelo Sesc RJ. Gbín. Foto: Maurício Maia/Divulgação

O início do festival de dança O Corpo Negro, um dos maiores do gênero no país, será marcado por uma performance na Praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, neste domingo (28), às 16h, em alusão ao Dia Mundial da Dança, comemorado em 29 de abril. Na ocasião, os dançarinos do grupo DeBonde ocuparão o calçadão da praia, na altura da Rua Figueiredo Magalhães, com o espetáculo Debandada, uma intervenção que atravessa e é atravessada pela rua.

“A gente queria destacar e celebrar essa data junto com a cidade do Rio de Janeiro e a sociedade, antes da nossa abertura oficial, e apresentar uma pílula da nossa programação que vai acontecer ao longo do mês de maio”, disse à Agência Brasil o analista técnico de Artes Cênicas do Serviço Social do Comércio do Estado (Sesc RJ), André Gracindo.

O festival chega à sua quarta edição este ano e é realizado pelo Sesc, englobando espetáculos criados e executados por artistas negros, selecionados por um edital. A programação gratuita se estenderá até 31 de maio nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Barra Mansa, Volta Redonda, Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis.

Abertura oficial

Os espetáculos serão apresentados em unidades do Sesc RJ, escolas e universidades e espaços públicos, totalizando obras de 32 companhias e grupos de dança, oriundos dos Estados do Rio de Janeiro, da Bahia, do Ceará, do Espírito Santo, de Goiás, do Maranhão e de São Paulo. A abertura oficial do projeto está marcada para terça-feira (30), às 20h, no Sesc Tijuca. O evento contará com a presença dos artistas da programação, dos curadores convidados Diego Dantas, Gal Martins e Jaílson Lima, e do público em geral.

Na oportunidade, será feita homenagem a Mestre Manoel Dionísio, criador da Escola de Mestres-Salas, Porta-Bandeiras e Porta-Estandartes, em atividade no Rio de Janeiro, que forma novos bailarinos e preserva os repertórios da dança e do Carnaval há cerca de 33 anos. André Gracindo salientou que Mestre Dionísio é um dos baluartes de um dos saberes da dança no Brasil, que são os movimentos relacionados ao samba e, mais especificamente, ao Carnaval. Durante o encontro, será lançado o curta-metragem Dionísio, um Mestre, realizado pela coreógrafa, diretora de teatro e realizadora audiovisual Carmen Luz.

Serão mais de 60 atrações gratuitas e 200 atividades, englobando espetáculos de dança, shows, mostra audiovisual, oficinas e debates, que ocorrerão ao longo de um mês. “A gente tem dois espetáculos de samba, um que fala mais especificamente do samba gafieira. Ao mesmo tempo, a gente tem espetáculos de hip-hop, espetáculos de dança afro, de dança contemporânea, performances. É uma variedade bastante grande de oferta que o público vai poder conhecer um pouquinho do que esses artistas estão produzindo na contemporaneidade e experimentar esses sabores, percebendo, ao mesmo tempo, essa variedade da cultura brasileira, de criações e estética”, destacou Gracindo.

Protagonismo

André Gracindo salientou que, nesta quarta edição, o Sesc continua com o objetivo de reforçar a importância e o papel dos artistas negros na cultura brasileira, especialmente na dança, a partir do princípio de que o artista pode criar o que quiser, seja na dança contemporânea, no samba, no hip-hop, no funk etc. “Não existe um lugar próprio. A ideia do projeto é desconstruir também esse estereótipo de que boa parte da sociedade tem quando fala da cultura negra, de um lugar já construído. A gente quer justamente bagunçar isso e dizer ‘a pessoa está trabalhando, produzindo, criando e cada um tem a sua trajetória, inclusive a trajetória que vem de culturas de África’”.

O festival vai oferecer ao público dez espetáculos inéditos, selecionados por meio de edital lançado, no ano passado, pelo Sesc RJ para a programação do evento. Entre as estreias nacionais, está O Som do Morro, no qual o coreógrafo carioca Patrick Carvalho narra a própria história. Entre os becos e vielas, o premiado bailarino apresenta seu jeito genuíno de coreografar. Outra estreia é a da performance Vogue Funk, que mistura baile funk com os elementos da cultura ballroom, trazendo a periferia negra e LGBTQ+ para o centro do palco. A história de personalidades da dança brasileira também está representada em Isaura, espetáculo idealizado e perIformado por Aline Valentim. O trabalho conta a história da bailarina, professora e coreógrafa Isaura de Assis, uma das grandes referências das danças negras no Estado.

Crianças

Pela primeira vez, o festival terá uma programação dedicada ao público infantil, concentrada no Sesc Tijuca. A ideia é conversar sobre questões da estrutura do racismo na sociedade brasileira. “A gente acredita que ter representatividade dentro do palco, contando histórias sobre personagens negros, com corpos negros dançando, alguns vocabulários oriundos da África, é muito importante. Quanto mais cedo a gente conversa sobre isso, menos oportunidade se dá para que o racismo continue estabelecido no seio da sociedade”, disse Gracindo.

Por isso, o analista técnico de Artes Cênicas do Sesc RJ acredita que olhar para o segmento infantil é fundamental para que haja uma aproximação desse assunto como uma experiência estética, de dança, para que a criança possa conhecer outros corpos com os quais não está acostumada e outras histórias sendo contadas. Entre os destaques, a estreia do espetáculo A Menina Dança, que apresenta a menina Maria Felipe, com ritmos e danças africanas e cantigas, em uma coreografia que aborda o enfrentamento à colonização do país. Outra estreia é o espetáculo Gbin, da Cia Xirê (RJ), que aborda matrizes afrodescendentes na cena da dança contemporânea.

Programação paralela

Apesar de o destaque ser a dança, o festival O Corpo Negro terá programação paralela com música, filmes e outras atividades integradas. Haverá shows de música com Jonathan Ferr, um dos nomes mais celebrados da nova geração do jazz brasileiro, na abertura, além do dançante Baile Black Bom, e rodas de samba em várias unidades.

Já a mostra audiovisual vai oferecer ao público mais de 65 sessões de filmes. Entre eles, o documentário Othelo, O Grande, que aborda a vida e obra do comediante e ator Grande Otelo, que rompeu barreiras para um ator negro na primeira metade do século XX, trabalhando com nomes do cinema mundial. Também será exibido Diálogos com Ruth de Souza, que apresenta rico material da vida de uma das grandes damas da dramaturgia nacional, a primeira artista brasileira indicada ao prêmio de melhor atriz em um festival internacional de cinema.

Embora a programação audiovisual se estenda até 31 de maio, o evento de encerramento do festival ocorrerá no dia 26, a partir das 14h, no Viaduto de Madureira, zona norte do Rio, região conhecida como disseminadora da cultura negra pelo tradicional Baile Charme.

(Fonte: Agência Brasil)

Nos registros de passagem do tempo, convencionou-se que 30 anos se chamam “bodas de pérola”. A Academia Imperatrizense  de Letras (AIL) fez seu 30º aniversário em 2021 e continua mesmo tendo algo a ver com a pérola – é uma joia.

Neste sábado (27/4/24), faz 33 anos, bodas de crisoprásio – pedra preciosa muito rara e muito valiosa, a ponto de os gregos, na Antiguidade, a colocarem em igual valia com o ouro. Os egípcios a usavam para proteção e cura (bem que as Letras e o Livro, a Leitura e a Cultura precisam dessa segurança e saúde...).

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Como se sabe, uma ostra tranquila, quieta em seu canto, não produz pérola. É preciso haver uma irritação, advinda de uma partícula qualquer (um grão de areia, por exemplo), que invada sua intimidade e ela, ostra, a partir daí, faz de sua irritação uma rica obra: envolve a partícula alienígena com uma substância nacarada, iridescente, até ao final resultar em bela e valiosa pérola.

Eu sei não apenas dos grãos, mas das carradas de areia; não das partículas, mas das “partes” que tentaram demover-me da criação da Academia imperatrizense de Letras. Quem acompanhou a Imprensa da época pôde – e qualquer um ainda hoje pode – ver/saber de alguns registros que assomaram e se tornaram visíveis, como ponta de “icebergs”.

Mas eu já aprendera: Onde há uma sinfonia de corvos, desafinado é o rouxinol. Onde há ajuntamentos de urubus, fedorenta é a rosa.

Resultado: todo ano, e trinta e três anos depois, entrega-se uma preciosa joia – cada vez mais valiosa – aos desmotivadores e detratores...

Depois que fundei a AIL, não me neguei a atender convites de diversas cidades e mesmo a sugerir a pessoas delas no sentido de criarem sua própria Academia de Letras. Assim, fui convidado a presidir a solenidade de instalação da Academia Açailandense de Letras e posse de seus membros.

Depois, reuni intelectuais de Santa Inês e lá criamos a Academia.

Participei da criação da Academia Caxiense de Letras e fui designado para fazer o discurso de posse dos membros, em concorrido evento para toda a sociedade local.

Aí se seguiram São João do Sóter, Aldeias Altas, João Lisboa, Buriticupu... e outras onde nossa experiência e boa vontade, mais que algum conhecimento, são demandadas. E já há, pelo menos, quatro cidades à espera.

Nada mais poderoso que uma faísca que sabe que é hora de se tornar incêndio...

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No instante em que a Academia Imperatrizense de Letras (AIL) prepara-se para comemorar hoje seu 33º aniversário, lanço, como sempre, um olhar para diante e, sorrindo meio sem jeito cá dentro de mim, fico pensando nessas três décadas e três anos de existência da AIL.

Recordo-me das buscas cartoriais, para saber se, formalmente existia ou não uma Academia de Letras em Imperatriz. Era eu no único cartório do município à época, o Cartório do 1º Ofício, na Rua Godofredo Viana, centro de Imperatriz, enchendo a paciência – e o dever de ofício – do Rosseny da Costa Marinho (“in memoriam”; o decano entre os tabeliães), do Antônio Carlos da Mota Bandeira, do Miguel da Mota Bandeira (“in memoriam”; meu velho amigo de jogo de palavras – a “impugna”, junto com o professor e farmacêutico-bioquímico Oscar Gavinho, lá no Bar do Riba, perto da antiga Universidade Estadual do Maranhão/Uema).

Recordo-me dos 13 que aceitaram vir comigo no ingente e despudorado mister e mistério de fazer cultura em uma cidade que – diziam – era a “terra da pistolagem” e onde “o dinheiro corria”, o que parecia querer dizer que Imperatriz seria refratária, não porosa, contraindicada a assuntos ligados à Cultura. Valores do espírito, na Imperatriz da época, só mesmo os das Igrejas – e olhe lá...

Mas, graças a Deus, isso não era verdade e, se parecia, foi desmentido pelo inicial esforço conjunto dos 14 “homens de Letras”, na verdade humanistas, sensíveis às causas e cousas que, elas sim, criam, fortalecem e ainda dão brilho ao que de mais visível e forte deve ter uma sociedade: sua Identidade.

Eis os nomes dos que, comigo, assinaram a ata de fundação da Academia Imperatrizense de Letras, em 27 de abril de 1991, há trinta e três anos:

ADALBERTO – Lembro-me do Adalberto Franklin Pereira de Castro ("in memoriam") recebendo meu convite, ele meio sem jeito, imbiocado (introvertido), mas sempre me apoiando – como, aliás, já acontecia no movimento de organização da Imprensa (criei a Airt – Associação de Imprensa da Região Tocantina e o Sindijori – Sindicato dos Jornalistas e Radialistas de Imperatriz). Adalberto, que nem o Jurivê, não pôde comparecer à reunião de fundação, mas ficou acertado que estaria com a decisão da maioria.

DOM AFFONSO – Dom Affonso Felippe Gregory (“in memoriam”) tinha aquela bonomia dos bons pastores espirituais. Sempre conversávamos – inclusive bebericando... –  e ele apoiou de pronto a ideia de criação da AIL. Anos depois, coincidiu ter sido em uma gestão minha frente à Academia a decisão dele, explicada por carta, de se autoexcluir da Entidade, por questões de saúde e sobrecarga de serviços. (Para se ter uma ideia, Dom Affonso, além de bispo de uma grande Diocese, também era presidente da Caritas Internacional, espécie de confederação de quase duzentas organizações humanitárias da Igreja Católica, com atuação em mais de duzentos países. A Caritas, fundada em 1897 na Alemanha, tem sede no Vaticano. Bastava este compromisso e havia tantos outros, para dar-se razão ao bom Dom Affonso, o 1º bispo de Imperatriz, ele que tinha de viajar regularmente para diversos países.)

EUCÁRIO – O sempre bem-humorado Eucário Rodrigues (“in memoriam”). Ele era colega de lides bancárias, funcionário do Banco do Brasil em Imperatriz. Psicanalista de formação e atuação, tinha fundado em São Paulo uma entidade da classe.

ZÉ BREVES – O José de Sousa Breves Filho era meu conhecido da Universidade (Uema). Carioca de nascimento, foi o primeiro professor imperatrizense a concluir um doutorado. Anos depois pediu para sair da AIL e mudou-se para Fortaleza, onde se aposentou por instituição de ensino do governo federal.

GERALDO - Também me lembro do José Geraldo da Costa, a quem “intimei” em sua casa para juntar-se a mim neste projeto – e ele, prontamente, aceitou. Geraldo e eu mantínhamos muitas e longas e boas conversas e vivíamos nos esbarrando nas universidades UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e Uema e em diversos, incontáveis eventos sociocomunitários e culturais naqueles idos dos anos 1980 e 1990.

JURIVÊ - Relembro do meu colega jornalista Jurivê de Macedo, o Juredo, de supersaudosa memória. Embora nos primeiros instantes tenha se mostrado relutante, e até com negativa escrita em sua coluna no "O Estado do Maranhão", terminou por não resistir ao meu “leriado” e igualmente somou-se ao projeto  –  vindo a adicionar muito mais, muito mesmo, como membro assíduo, produtivo e aconselhador no dia a dia da Academia. Jurivê não esteve na reunião de fundação, mas antecipou que concordaria com o que fosse decidido.

JUCELINO – O Jucelino Pereira da Silva era colega de Jornalismo e aqui e acolá me chamava de “príncipe do Jornalismo”. O futuro advogado e excepcional redator Jucelino trabalhava em “O Progresso” e escrevia uma das colunas assinadas como “da Redação”, onde registrou alguns dos “ataques” de outrem a mim por causa da ideia de criação da Academia. Houve até quem escrevesse ao jornal dizendo que “Imperatriz não precisa de Academia; precisa é de comida e dinheiro”. Claro que respondi em um histórico texto: “De Bucho e Bolso”.

LOURENÇO – O Lourenço Pereira de Sousa foi um dos 14 que comigo iniciaram a Academia. Na época, e sempre, foi considerado um dos mais talentosos sacerdotes de Imperatriz e região. Ele e eu vivíamos escrevendo em jornais da Imperatriz daquelas décadas de 1980 e 1990. Lourenço saiu da Academia e também da Igreja. Casou-se. Sempre discreto, destacou-se e se destaca como professor universitário.

SEREJO - Lembro-me da abordagem ao juiz de Direito Lourival Serejo, também escritor, que era meu cliente no Banco do Nordeste, e de sua pronta, imediata adesão ao projeto (ficou como meu secretário informal nos trabalhos iniciais). O notável e premiado escritor, contista e cronista Serejo é hoje desembargador em São Luís, presidiu o Tribunal Regional Eleitoral e o Tribunal de Justiça do Maranhão e, atualmente, preside a Academia Maranhense de Letras.

DONA NENECA – A entusiasmada, radiante, sempre alegre escritora e radialista Neneca Motta Mello (Sebastiana Vicentina da Motta Mello; “in memoriam”) era desses espíritos eternamente dispostos, apesar das muitas tarefas. Vivíamos nos esbarrando em páginas de jornais e em salas de locução de rádios. Assim como já fizera no Sudeste do País, onde nascera, Neneca também desenvolvia grande e discreto serviço sociocomunitário em Imperatriz.

SÁLVIO DINO – O Sálvio de Jesus de Castro e Costa (Sálvio Dino; "in memoriam") era o pesquisador e escritor de destaque e político atuante na região. Encontrávamo-nos em meu local de trabalho, em eventos políticos, culturais e sociocomunitários em Imperatriz, João Lisboa etc. Sempre disposto a colaborar, abriu as portas da sede de uma entidade municipalista que ele presidia para que, nela, a Academia realizasse reuniões enquanto não se localizasse de modo definitivo.

TASSO – O Paulo de Tasso Oliveira Assunção, raro e caro amigo, é uma das testemunhas oculares e auriculares de nosso trabalho. Esteve comigo no “Jornal de Imperatriz”, o primeiro diário da cidade impresso em “off-set”, criado pela dupla José Maria Quariguasi (industrial gráfico; “in memoriam”) e Edmilson Sanches, com Jurivê de Macedo como primeiro diretor de redação. Tasso Assunção prosseguiu comigo no “Jornal de Negócios” (que Jurivê de Macedo, do alto de sua autoridade técnica, dizia ser “o jornal mais bem feito do Maranhão”) e no “Jornal de Açailândia”, os quais fundei, e em “O Imparcial”, cuja sucursal dirigi em Imperatriz e região, em substituição ao decano do jornalismo Sebastião Negreiros (“in memoriam”). Tasso também esteve comigo na fundação e administração da Associação de Imprensa da Região Tocantina (igualmente, o Adalberto Franklin, o meu vice-presidente Conor Farias, o Manoel Cecílio, o Zé Geraldo...).

VITO – O Vito Milesi fui “buscá-lo” na casa dele. Igual ao Adalberto, no começo ficou assim como sem jeito com o convite, mas o tirei do saudável casulo onde ele, ex-padre, bem se havia, como professor no Ensino Médio e em Universidade (foi meu professor no curso de Direito na Universidade Federal do Maranhão). Terminou não resistindo ao meu convite e conversa e tornou-se a maior referência de dedicação, seriedade sem sisudez, compromisso e verdadeira entrega à Academia, da qual foi por diversas vezes presidente. Mantinha religiosamente, sem trocadilho, correspondência (escrita a mão) e contatos comigo, quando, “ex officio”, fui obrigado a mudar-me para Fortaleza (CE). A partir de uma ação em uma das gestões dele frente à AIL, uma feira de livros na Praça de Fátima (segundo ele me relatava), tive a ideia de criar e institucionalizar uma “Feira de Livros”, como está em documento escrito em  uma tarde de 27‎ de ‎março‎ de ‎2003, uma ‏‎quinta-feira, ‎como parte das ações para meu segundo mandato frente à Academia. O documento foi distribuído em reunião de um mês depois, 27/4/2003, no 12º aniversário da Instituição, e a “Feira de Livros” transformou-se, inicialmente, em “Semana Imperatrizense do Livro – SIL” e, depois, duradouramente, em “Salão do Livro de Imperatriz – Salimp”.

PRIMEIRA REUNIÃO – Relembro a pregação que fiz às 10 horas e 30 minutos da manhã de 27 de abril de 1991, um sábado, na sala de projeção de uma pioneira videolocadora na Rua Simplício Moreira, nº 1467, próximo à praça de Fátima, cujo proprietário era simpático à causa. Essa foi a primeira reunião formal, de fundação, aprovação do Estatuto e eleição da primeira Diretoria e coisa e tal.

SEGUNDA REUNIÃO – A segunda reunião já foi sob as bênçãos do bispo Dom Affonso Felippe Gregory, que nos cedeu sua residência episcopal e também se integrou ao projeto.

PRIMEIRO ANO – O primeiro ano da AIL, completado em 1992, foi comemorado em evento no auditório do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), com Sálvio Dino conferenciando sobre “o perfil histórico do rio Tocantins”.

LIVALDO – De 27 de abril de 1991 para cá, muita tinta rolou sobre o papel – desde há 32 anos, incluindo-se os olhares enviesados e ataques enraivecidos, todos contra mim, tudo contra a criação e existência da Academia. Certa vez, em bilhete de 17 linhas, o escritor Livaldo Fregona me escreveu:

– “(...) Meu velho, orgulho-me não de ser seu amigo, mas, apenas, por tê-lo conhecido. Não tenha pressa nem estranhe os invejosos; o mundo reconhecerá seu valor”.

OVÍDIO – O templo nublara, mas eu não estava só – citando o escritor romano Publius Ovidius Naso, o conhecido Ovídio, que viveu 40 anos antes e quase 20 depois de Cristo e que dizia: “(...) se os tempos estiverem nublados, estarás só”.

FÉ COM OBRAS – A certeza enfática dos adversários do projeto apequenou-se e foi engolida pelo desfilar dos dias e, nestes, a persistência, o amor, o trabalho, a fé com obras (não apenas literárias...) dos membros e colaboradores da AIL.

COUSAS E CAUSAS – “Tempus edax rerum” – “o tempo, (esse) devorador das coisas”. É Ovídio novamente, que nos alerta para (também) o que o tempo pode fazer esquecer... e, paradoxalmente, o que não se deve esquecer de fazer.

Por exemplo, fazer boas coisas, defender boas causas.

Matéria-prima, aliás, de que é feita a Academia – e da qual, aliás, são feitas as coisas que ela faz e as causas que ela defende.

Viva a Academia Imperatrizense de Letras em seus 33 anos de existência.

Verdadeiramente, uma joia.

* EDMILSON SANCHES

ILUSTRAÇÃO:

Brasão da Academia Imperatrizense de Letras.

TEXTO E CONTEXTO: POR UMA PRÉ-HISTÓRIA DA ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS

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Como era o “mundo cultural” de Imperatriz nas décadas de 1970/1980?

INTRODUÇÃO

Década de 1980. Um marco na ebulição cultural e na movimentação sociocomunitária de Imperatriz. Como era Imperatriz na década 1980/1989?

Na área social e econômica, viam-se ações e movimentações de entidades reivindicando mais linhas aéreas (1988). Empresas e entidades juntando-se para fazerem um bolo de 135 metros de extensão, pelos 135 anos da cidade (1987). Criação da Associação de Defesa Ecológica da Região Tocantina (ADERT), à frente José Geraldo da Costa (1989). Prefeitura anuncia que lançará “Guia Turístico de Imperatriz” (julho de 1987). Os carroceiros (condutores de veículos à tração animal) criam seu sindicato (1987). Vigilantes particulares fundam sua associação e, também, os médicos-veterinários (1987).

Na área da Imprensa, fundação de novos veículos de comunicação e muito bate-boca entre colegas jornalistas e radialistas e, se não bastasse, diversas ameaças e agressões verbais a comunicadores e jornais.

Foi criada a Fundação Cultural Ernesto Geisel, responsável pela TV Educativa (canal 4, presidida por Marcelo Rodrigues; 1987). O jornal “O Estado do Maranhão”, em editorial, proclama “Imperatriz, já” e instala sua sucursal no município (18 de dezembro de 1984). A TV Karajás (SBT) e a TV Tropical (Band) produzem programas jornalísticos locais (“Noticentro” e “Canal Livre”, respectivamente; 1984). A Diocese de Carolina, em Imperatriz, reestrutura o setor de jornalismo (1985). Inauguram-se as rádios Terra FM e Karajás AM e prevê-se a inauguração da TV local da Rede Manchete e retorno da revista “Os Fatos”, do jornalista Nílson Santos. O jornalista Wilton Alves Ferreira (o Coquinho), que fundara a “Gazeta de Imperatriz” e a “Tribuna de Imperatriz”, interrompe, temporariamente, a circulação desta última, à qual se dedicava (1988). De 1984 a 1988, jornais, jornalistas e políticos imperatrizenses alimentam brigas, faladas e impressas.

Na área artístico-cultural mais específica, o jornal “O Progresso” anuncia, em 7/4/1989, um ”time de escritores que farão uma nova coluna diária” (a escalação era, literalmente: “José Geraldo da Costa, Tasso Assunção, Lourenço Pereira de Sousa, Edmilson Sanches, Jucelino Pereira e Ulysses Braga”.

Em 15/4/1987, “O Estado do Maranhão” noticia que “desinteresse dos artistas frustra a classe”, sobre movimento organizado pelo músico Henrique Guimarães.

Em 23/4/1986 o diretor do “departamento científico-literário” da Secretaria Municipal de Cultura, Jucelino Pereira da Silva, anuncia a promoção de um “grande concurso de redação sob [sic] o tema ‘Imperatriz’”.

Membros e apoiadores da Associação Artística de Imperatriz (Assarti) realizam o show-manifesto “Da Política à Arte da Embromação”, onde reivindicam a continuidade da construção do Teatro Ferreira Gullar (agosto de 1988).

Em 19/7/1987, “O Progresso” registra: “Ribamar Silva revoltado com população” – população, que, segundo o escritor e professor, à época presidente da Assarti, “não sabe cultivar os valores espirituais”. Ribamar Silva, apesar disso, é responsável pela página “Janela Literária” e, com Gilberto Freire de Sant’Anna, a “In Mural”, além da “Página de Cultura”, do Grupo Literário de Imperatriz/Gruli (1987), todas em “O Progresso”.

Também em 1987, os músicos têm sua delegacia regional sindical.

Entre os apressados documentos que coletei, dois chamam especial atenção: o título do artigo do jornalista e político Neiva Moreira, no jornal “O País” (Rio de Janeiro, 15/5/1986): “Imperatriz, a Chicago do Tocantins”. O outro, uma charge de Cabral, publicada no “O Estado do Maranhão”: a figura da morte vestida de preto, como um pistoleiro, revólver à vista e o cabo de sua foice (na verdade, uma segadeira) como letra inicial do nome “Imperatriz”. Para arrematar, o “T” é uma cruz, projetando ao chão uma sombra também em cruz...

Como jornalista, eu noticiava as coisas ruins da cidade, mas, ao mesmo tempo, como jornalista e cidadão, eu brigava por coisas e causas melhores.

Também por isso iniciei o movimento que resultou na Academia Imperatrizense de Letras.

Tenho certeza de que, também por isso, a cidade está, ao menos um pouco, melhor do que antes.

I I

No futuro, os pesquisadores e outros estudiosos confirmarão: a década de 1980 (1980/1989) foi provavelmente a mais fértil da história de Imperatriz até antes do final de século e milênio, em 2000.

Naqueles oitentas (1980), havia uma busca ou afirmação de identidade do município. Claro, isso não era planejado, sistêmico e sistemático, orgânico ou organizado. Era uma necessidade, mal explicada, porém sentida em pessoas, nos mais diversos estratos e com os mais diversificados interesses.

Imperatriz entrava os anos 1980 herdando os mais de duzentos mil habitantes atingidos em 1979. (Depois, com a independência de Açailândia, a população reduziu-se para a casa dos 160 mil e 170 mil, recuperando em meados da década, 1985, com 235 mil e, no final, 1989, com 272 mil. Em 2021, 259.980 habitantes.).

Para Imperatriz acorreram gentes tantas, de tantos lugares, com formações e aspirações as mais díspares. Um documento – “Mapa Demonstrativo da Influência Migratória no Município de Imperatriz” – registrava a vinda, para cá, de pessoas de, pelo menos, 24 Estados e, também, de outros países. Pessoalmente, como funcionário e investigador do Banco do Nordeste do Brasil e sujeito metido em quase tudo quanto era movimento e movimentação nos anos 1970, 80 e 90, pude constatar e cadastrar homens e mulheres procedentes dos diversos continentes do mundo – alemães, árabes, argentinos, bolivianos, chilenos, chineses, espanhóis, gregos, italianos, japoneses, libaneses, mauritano, moçambicanos, norte-americanos, portugueses, sírios, turcos...

Do “A” do Afeganistão ao “Z” do Zimbábue, quase todo o alfabeto da geografia política mundial passou ou provou ou ficou em Imperatriz. Eram (são) registrados sobrenomes como Altrochi, Canicoba Rodríguez, Chao Kuang, Flecha (argentino), Freitas e Rodrigues (portugueses), Ghader, Holthouser (norte-americano), Karalis (grego), Milesi (italiano), Sabbag, Stein (alemão), Vedova (italiano), Wada e Yamamoto (japoneses), Yusuf...

Em quantidade e diversidade demográfica, Imperatriz era, nos idos dos anos 1970 e 1980, mais brasileira e cosmopolita que hoje. A sociedade era ainda flutuante. Muita gente amanhecia e não anoitecia. Éramos o “melting pot”, o cadinho ou caldeirão étnico e cultural da pré-Amazônia.

Foi nesse ambiente, nos anos 1970, que me fixei definitivamente em Imperatriz. Os anos 1980 logo chegaram e, com ele, as mais férteis atividades sociais e culturais de Imperatriz antes do 3º Milênio.

Mesmo podendo transferir-me para Teresina (perto de Caxias, minha cidade-natal), preferi ficar em Imperatriz, que – diziam – era violenta. Eu vinha com as sadias inquietudes caxienses, onde, a partir dos 13 anos de idade, como menor estagiário do Banco do Brasil, assumira a diretoria cultural da AABB (o clube dos funcionários daquele banco), presidira, por anos, o Grêmio estudantil, criara e dirigira jornais (Colégio São José, Sesc, empresas), assumira a condução de três programas de rádios na Rádio Mearim de Caxias; escrevera em jornais locais e do Rio de Janeiro; ganhara concursos locais e estaduais.

Como não encontrava essa atmosfera cultural em Imperatriz, fui criando uma. Não demorei muito e já fui publicando um jornal cultural – “Safra – Jornal de Literatura”, que reunia diversos escritores imperatrizenses. Depois, no curso de Letras, organizei e lancei a “Antologia Literária dos Universitários de Imperatriz”, criei a Uniarti – Mostra Universitária de Arte de Imperatriz, trouxe para cá, pela primeira vez, o Congresso Universitário, que se realizava apenas em São Luís; passei a escrever em jornais (em “O Progresso”, desde o início da década de 80; também na “Tribuna de Imperatriz” e em outros mais).

Promovi concursos de redação para estudantes, fazia palestras.

Participei das tentativas de criação de um “Clube de Imprensa” (com Sérgio Macedo [Sérgio Antonio Mesquita Macedo], Sebastião Negreiros, Marcelo Rodrigues, Osvaldo Nascimento, Nilson Santos, Wilton Alves Ferreira, José Rodrigues, Jurivê Macedo e Hélio de Alfeu) e de uma “Associação dos Profissionais de Comunicação Social”, com Jurivê Macedo, Antônio Costa, Aldeman Costa, Marcelo Rodrigues e Roberto Chaves (1985).

Criei e participei da criação de entidades, movimentos e eventos. Em junho de 1983, apoio a criação da Associação dos Gráficos de Imperatriz. Em agosto de 1987 acontece momento cultural multimídia, no Poseidon Hotel, com lançamentos conjuntos de Henrique Guimarães (música), Livaldo Fregona (literatura) e Nilson Takashi Hamada (caricaturas, incluindo-se uma com meu rosto). Fundei, com Sérgio Antônio Nahuz Godinho à frente, Wilton Alves Ferreira e outros, a Associação dos Jornais do Interior do Maranhão (Adjori).

Minhas participações se estendem por todos os cantos e encantos, aspectos e espectros da cidade: concursos literários do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), do Banco do Nordeste, de empresas locais, do Festival de Música sacra (Femusdi), Expoart (Teatro Ferreira Gullar), programas culturais e profissionais da Associação de Imprensa da Região Tocantina (Airt), Comitê Comunitário das Telecomunicações do Maranhão (Telma), diretoria do Juçara Clube e do Balneário Estância do Recreio, diretoria no Diretório Acadêmico da Uema, Associação de Corredores de Rua de Imperatriz, exposição de “art nouveau” de minha irmã, Cláudia Sanches, criação do Instituto Histórico de Imperatriz (não formalizada), ações e realizações da Assarti, doações várias de milhares de livros para a biblioteca pública municipal e outras entidades; inauguração da Rádio Cultura de Imperatriz e do Centro Cultural Luiz Ponchet Meireles (no curso de idiomas Yázigi, da profª Maria de Fátima Meireles [Maria Nunes]); direção de jornalismo da Rádio Terra FM e apresentação do programa de entrevistas “Radioatividade”; criação de jornais universitários; prefácio a diversos livros de autores da terra etc. etc. etc.

O que é mais importante: o texto ou o contexto? Como o contexto será sempre maior e verdadeiramente irreproduzível – “in totum” – pelo texto, paremos por aqui.

O certo é que, a partir dos contatos com os produtores culturais e outros humanistas de Imperatriz, fui conversando e convencendo-os a integrarem-se à ideia de criação de uma academia de letras. Como mostram uns raros registros em jornal, pelo menos duas tentativas já haviam sido feitas, mas, segundo um dos antigos participantes (hoje membro da AIL), foram “abandonadas por desinteresse, comodismo, ocupações”.

Houve resistências e agressões à minha defesa de uma Academia mais “acadêmica” e menos “política”. Como eu era o “cabeça” da “oposição”, as pancadas foram dirigidas a mim. Coisa pesada. Tanto que, no jornal “O Estado do Maranhão”, em 2/4/1989, dois anos e 25 dias antes de eu fundar a Academia Imperatrizense de Letras, jornalista Jurivê Macedo escrevia, sob o título “ACADEMIA”:

“ACADEMIA – A verdade é que uma falada academia de letras imperatrizenses tá provocando pruridos de vaidade em muita gente. // Até nomes já são citados para o elenco da casa de letras. // De mim, pobre escriba rabiscador de mal traçadas linhas, ela já se pode considerar livre, até porque só eu sei até onde vai o meu braço; mas em compensação o que tem de mortal querendo se imortalizar por aqui, num tá no gibi, alguns até que podem chegar à imortalidade pela matança das letras. E que vão acabar chegando lá, o que é ainda mais mortalizante” (Jurivê Macedo).

Três dias depois, em 5/4/1989, com o título “ELE SÓ”, o mesmo Jurivê escreve no mesmo jornal:

“ELE SÓ – Tô lendo duas notas de Edmilson Sanches. Uma sobre o bla-bla-blá que já se criou na terra em torno da falada Academia de Letras. A outra sobre a retirada do ar do programa radiofônico “Radioatividade”, da Terra FM. // Para efeito externo, nunca Edmilson Sanches foi tão ele próprio do que nessas duas notas onde botou pra fora tudo aquilo a que tem direito. (...)” (Jurivê Macedo)

Pois bem: “Y así pasáran los años...”

De 1989 chegamos a 1991. Como eu já havia criado diversas outras entidades, fiz o que é mais pragmático fazer: primeiro, fui ao Cartório do 1º Ofício, onde o Rosseny Marinho, o Miguel Bandeira (estes dois já falecidos) ou o Antônio Carlos da Mota Bandeira me informavam da existência ou não de algum registro de entidade nos moldes que eu mencionava; depois, elaborei o estatuto e, por último, reuni os que foram “convencidos” (isto é, vencidos pela conversa) e formalizava o ato de fundação.

Foi assim que a Academia de Letras de Imperatriz foi fundada, às 10h30 da manhã de 27 de abril de 1991.

Um dia, escrevo os detalhes, as dúvidas, as reações, o não-querer-querendo de uns, a boa vontade de outros, ânsias e ignorâncias no debate e na trajetória até a realidade da Academia. Por serem fatos antecedentes, e não correlatos ou consequentes, tem pouco texto sobre a Academia e mais contexto sobre o ambiente pregresso em que ela foi gerada, gestada e gerida.

Por enquanto, sem mais minudências (“a página não é de borracha”), essa é mais ou menos a “pré-história” da Academia Imperatrizense de Letras.

A partir daí, no bom sentido, é história.

Parabéns à AIL, pelos seus 33 anos.

E o abraço espiritual deste que, mais que ninguém, lhe conhece os verdadeiros incômodos, os enjoos e as verdadeiras dores de seu parto...

* EDMILSON SANCHES

FOTO:

Edmilson Sanches, em 2014, ministrando palestra no 12º Salão do Livro de Imperatriz, evento anual da Academia Imperatrizense de Letras.

O Ministério Público do Maranhão premiará, no dia 6 de maio, os vencedores do Prêmio MP-MA de Jornalismo 2023. A entrega da premiação ocorrerá em um Café da Manhã para a imprensa, que será realizado no Hotel Luzeiros, com a participação especial da jornalista Cristina Serra.

Com o tema “O Ministério Público na indução das políticas públicas”, a premiação é destinada a profissionais e estudantes de Comunicação em várias categorias. Este ano, os inscritos concorreram nas categorias Jornalismo Impresso, Telejornalismo, Radiojornalismo e Webjornalismo, além da categoria Estudantes.

Os participantes puderam abordar a atuação do MP-MA na defesa dos interesses da sociedade nas seguintes áreas: meio ambiente; combate às organizações criminosas; infância, juventude e educação; patrimônio público; cidadania; consumidor; criminal; controle externo da atividade policial; saúde; pessoa com deficiência; idosos; conflitos agrários; habitação e urbanismo; direitos humanos; violência doméstica.

Na categoria profissional, o MP-MA concederá certificado e prêmio em dinheiro ao melhor trabalho de cada categoria no valor de R$ 5 mil. O melhor trabalho dentre os quatro premiados receberá premiação extra no valor de R$ 4 mil. A premiação extra não é válida para estudantes.

Na categoria estudantil, o autor do melhor trabalho nas categorias Jornalismo Impresso e Webjornalismo receberá o certificado e será premiado em R$ 1.000.

“Como guardiães da Constituição e defensores do Estado Democrático, sabemos da importância fundamental da imprensa e, por isso, o Prêmio de Jornalismo é uma forma de incentivar ainda mais o trabalho aguerrido desses profissionais”, destacou o procurador-geral de Justiça, Eduardo Nicolau.

Participação

A entrega do Prêmio MP-MA de Jornalismo será um momento de confraternização com a imprensa, que terá a presença da jornalista Cristina Serra. Formada na Universidade Federal Fluminense, a jornalista e escritora é paraense e trabalhou em vários veículos de comunicação em Belém, Rio de Janeiro e Brasília, entre eles: Jornal Resistência, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, Revista Veja, Rede Globo e Folha de São Paulo.

Foi correspondente da Rede Globo em Nova York e comentarista de política do quadro “Meninas do Jô”, no Programa do Jô. É analista de política no ICL Notícias. Tem quatro livros publicados, entre eles: “Tragédia em Mariana – a história do maior desastre ambiental do Brasil” (2018) e “Nós, sobreviventes do ódio” (2023).

(Fonte: MP-NA)

Brasília - Estudantes fazem provas no segundo dia da seleção do Programa de Avaliação Seriada (PAS), que permite o acesso a uma vaga na Universidade de Brasília

O Ministério da Educação (MEC) prorrogou, até 17 de maio, o prazo final para as convocações da lista de espera do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) do primeiro semestre de 2024. Essa etapa do processo seletivo terminaria na próxima terça-feira (30). A ampliação do prazo foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (26). 

No primeiro semestre, o Fies oferece 67.301 vagas aos estudantes. De 28 de março até o momento, o MEC já fez cinco chamadas de candidatos em listas de espera do Fundo.

As vagas que não forem ocupadas nesta edição do primeiro semestre serão ofertadas, novamente, no processo seletivo do segundo semestre deste ano. A estimativa é que ao todo, em 2024, o Fies oferecerá 112.168 vagas nos dois processos seletivos.

Para concluir o processo e obter o financiamento, o estudante deve ir até a faculdade escolhida, procurar a comissão permanente que trata do Fies naquela instituição e apresentar a documentação exigida. Somente depois, deverá ir ao banco que vai conceder o empréstimo.

Fies

O Fies concede financiamento a estudantes de cursos de graduação em instituições de educação superior privadas que aderiram ao programa.

Para solicitar o financiamento, o candidato que está na lista de espera, deve ter participado de qualquer edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir de 2010 e ter conquistado a média de pontuação igual ou maior do que 450 pontos, e nota maior ou igual a 400 na redação. Outro critério é o da renda familiar mensal, de, no máximo, três salários mínimos por pessoa (R$ 4.236).

Por meio do programa, o beneficiado pelo financiamento público consegue estudar em uma faculdade e pagar o valor somente após a graduação. O início da quitação da dívida se dá logo após a formatura.

Se a renda da família for de até 1,5 salário mínimo (R$ 2.118) por pessoa, não é necessário apresentar fiador. A taxa de juros será zero para todos os estudantes.

(Fonte: Agência Brasil)

Cantor do Grupo Molejo, Anderson Leonardo, morre aos 51 anos. Foto: Instagram/cantorandersonleonardo

O cantor Anderson Leonardo, do Grupo Molejo, morreu nesta sexta-feira (26), no Rio de Janeiro. A confirmação foi feita por meio de uma publicação nas redes sociais do grupo de pagode. Anderson enfrentava um câncer. Ele tinha 51 anos e estava internado no Hospital da Unimed-Rio.

“Nosso guerreiro Anderson Leonardo lutou bravamente, mas infelizmente foi vencido pelo câncer, mas será sempre lembrado por toda família, amigos e sua imensa legião de fãs, por sua genialidade, força e pelo amor aos palcos e ao Molejo”, escreveu o grupo.

“Sua presença e a alegria eram uma luz que iluminava a vida de todos ao seu redor, e sua falta será profundamente sentida e jamais esquecida, nós te amamos”, completa a publicação.

(Fonte: Agência Brasil)

Referência na natação paralímpica brasileira, Davi Hermes integrou a equipe Maranhão Master na disputa do 71º Campeonato Brasileiro Masters de Natação, que foi organizado  pela Associação Brasileira de Masters de Natação (ABMN) e realizado entre os dias 18 e 21 de abril, no Parque Aquático da Universidade do Estado do Pará, em Belém. Davi, que é atleta da Viva Água e conta com os patrocínios do governo do Estado e da Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, competiu em classe única, já que o evento não tem classe para paratletas, e conquistou resultados expressivos em quatro provas, com destaque para o vice-campeonato nacional da categoria pré-master nos 200m borboleta.

Além de levar a medalha de prata em uma de suas melhores provas, Davi Hermes também figurou em posições de destaque nas demais disputas pelo Brasileiro Masters de Natação, garantindo o Top 5 nos 100m borboleta e nos 400m livre, além de faturar a sexta colocação nos 50m borboleta, resultados que ajudaram o Maranhão Master a ficar com o terceiro lugar na classificação geral por equipes.

“Estou muito feliz por representar o Maranhão no Brasileiro Masters, sigo sempre grato a Deus por tudo. Agradeço à minha família, aos meus técnicos, a toda a equipe de musculação e de fisioterapia, além dos meus amigos de treinamento por todo o apoio. Também fica o agradecimento ao patrocínio da Potiguar e do governo do Maranhão, que é fundamental para que eu possa representar o Maranhão e minha classe de natação paradesportiva da melhor maneira possível”, destaca Davi Hermes.

Antes de participar do Brasileiro Masters, Davi Hermes teve um desepmenho de superação no Troféu Viva Água - Anibal Dias, evento que foi realizado no dia 13 de abril e válido como primeira etapa do Circuito Maranhense Master de Natação 2024. Mesmo em recuperação de uma virose, Davi mostrou sua força ao vencer a prova dos 50m borboleta.

Outros resultados

Também neste início de temporada, Davi Hermes representou o Brasil no Trisome Games 2024, que ocorreu em março, em Antalya, na Turquia. O atleta da Viva Água foi um dos grandes nomes da delegação da Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Intelectuais (CBDI), após garantir o Top 10 mundial da categoria Sênior (17 a 24 anos) nos 50m borboleta e 100m borboleta, além de melhorar a sua marca pessoal em algumas provas realizadas no evento internacional.

As brilhantes campanhas nos primeiros eventos do ano aumentam a confiança e a expectativa de Davi Hermes para a sequência de competições que terá pela frente. Nos próximos meses, Davi vai disputar o Campeonato Brasileiro de Natação CBDI, a Copa Brasil de Natação Paradesportiva, o Meeting Brasileiro de Natação CBDI e os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), além dos torneios locais da Federação Maranhense de Desportos Aquáticos (FMDA) e da Associação Maranhense Master de Natação (AMMN).

(Fonte: Assessoria de imprensa)

UM GÊNIO QUE CONHECI (1)

*

Você já deve ter ouvido essa música ou estes versos:

“De noite eu rondo a cidade

a lhe procurar, sem encontrar

(...)

E nesse dia então

vai dar na primeira edição:

‘Cenas de sangue num bar da avenida São João’”. (*)

Ou pode ter ouvido estes:

“Reconhece a queda e não desanima

Levanta, sacode a poeira

E dá a volta por cima”.

Os primeiros são versos da música “Ronda” e, os demais, da música “Volta por Cima”. Ambos são de Paulo Emílio Vanzolini, um dos maiores cientistas brasileiros, de reconhecimento internacional.

Vanzolini formou-se em Medicina e fez doutorado nos Estados Unidos em Zoologia, especializando-se em Herpetologia, o estudo dos répteis. Também foi cantor e escritor (poesia, crônicas, textos científicos). E foi boêmio, muuuuuito boêmio... Sobre Paulo Vanzolini há livros, artigos, filmes (documentários).

Paulo Emílio Vanzolini nasceu em 25 de abril de 1924, em São Paulo (SP). Faleceu em razão de pneumonia, na capital paulista, em 2013, três dias após completar 89 anos (aliás, foi internado exatamente no dia de seu aniversário).

Vanzolini, jeitão bonachão, simples, esteve em Imperatriz, no Maranhão, pelo menos uma vez –  e eu estive com ele. Tenho várias de suas obras, literárias e científicas, e também videodocumentários.

Zoólogo, Paulo Vanzolini foi a Imperatriz estudar impactos de uma obra de Engenharia Civil na vida animal da região. Queria conversar com alguém que tivesse uma boa conversa. Aí me convidaram.

E conversamos por horas e horas – Paulo Vanzolini, eu e Magdalena Klos, uma estudante de pós-graduação que acompanhava Vanzolini e realizava estudos para sua tese de doutorado.

Mais ouvi e perguntei do que respondi e falei. E perguntei muito. E ali, na Cantina Don Vito, na Rua Coronel Manoel Bandeira, na segunda maior cidade do Maranhão, Paulo Vanzolini, sem notas musicais, compôs para eu ouvir a melhor de suas músicas: a canção de sua própria vida. Uma história que o Brasil deixou de ouvir de seu próprio autor há onze anos.

Paulo Vanzolini contou-me – lembro-me bem – que, menino ainda, gostava de ir ver cobras e outros répteis em área própria da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Tempos depois, decidido a estudar os animais, ouviu de um amigo: “– Quer conhecer melhor os animais? Estude o homem. Forme-se primeiro em Medicina”.

Em outro texto relembrarei e direi mais de Paulo Vanzolini.

Neste 25 de abril, a música brasileira deveria entoar um hino de saudades e cantar um réquiem pela memória de Paulo Vanzolini, cientista, médico, doutor de animais e poeta, cantor e compositor de (e)ternas obras musicais.

No “link” abaixo e em outros do YouTube/Internet, ouça um pouco de “Ronda”, que completa 73 anos neste 2024. Aqui, Paulo Vanzolini está no ambiente que adorava: o bar, a bebida, os amigos, a música – a sua música, “Ronda”, cantada (voz & violão) pelo igualmente paulista e paulistano Carlinhos Vergueiro, 72 anos em março deste 2024.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=BmdB2W6ZLJ4

E aqui – no “link” https://www.youtube.com/watch?v=KX4s_IufYK4  – você escuta o próprio Vanzolini interpretando treze de suas músicas, que compõem o álbum “Paulo Vanzolini por Ele Mesmo”, lançado em 1981, o único disco em que o compositor interpreta suas próprias canções. Curiosidade: Paulo Vanzolini cantou “a cappella”, isto é, sem nenhum instrumento ou acompanhamento; somente a voz foi gravada. Depois foi gravado o acompanhamento instrumental (violão, percussão etc.).  Entre outras, preste-se atenção na perícia de Vanzolini na letra de seu “Samba Erudito”, onde cita, pelo menos, seis nomes da História brasileira e mundial e, de quebra, rimou “Bilac” com “Cadillac”. Também vejamos e ouçamos as formidáveis aliterações e assonâncias do samba “O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma”, em que versos são escritos com palavras iniciadas pelas letras “r”, “s”, “t” e “v”, além da preponderância de sons (fonemas) em “-ato”, “-orro”, “-into” e “-ent-“. Um mestre!

(*) A propósito de manchete ou notícia de jornal, como está na letra de “Ronda”, Paulo Vanzolini valeu-se de semelhante recurso em outra composição sua. Foi no “Samba do Suicídio”, onde os versos 50 e 51 trazem: “[...] / Vejam a notícia no jornal: / Pavoroso descarrilhamento na Central / [...]”.

*

UM GÊNIO QUE CONHECI (2)

No dia 1º de novembro de 1989, o jornal "O Estado do Maranhão", de São Luís, registrou, na coluna de Maria Leônia:

"Quem passou por Imperatriz na semana passada foi o famoso compositor e zoólogo Paulo Vanzolini, autor de ‘Ronda’, música interpretada por Maria Bethânia e muito tocada nas noites de fossa. Este encontrava-se realizando estudo e pesquisa sobre ecologia, como autoridade de Zoologia na USP [Universidade de São Paulo]. Aqui, ele contou com o apoio de Edmilson Sanches (jornalista), que também é um estudioso do assunto."

*

Em um início de noite de um dia qualquer da última semana de outubro de 1989 entrei mais uma vez na Cantina Don Vito. A Cantina era um local em que eu tinha ponto cativo, mesa reservada pelo proprietário, o empresário e “gentleman” Aruanã Cortez de Lucena (“in memoriam”), que, depois de exitosa atividade como gestor de grandes empresas em São Paulo, voltara para sua região (ele era filho de Carolina/MA) e criava empreendimentos de bom gosto e sofisticação, como a Cantina Don Vito e a Som Bom, esta uma pioneira empresa de equipamentos de som customizados, em um tempo em que a palavra “customizado” nem existia como sinônimo de “personalizado”, “ao gosto do freguês”.

Minha mesa na Cantina Don Vito ficava próximo ao caixa, no “design” da época. Logo que eu chegava, o Aruanã já vinha com a edição do dia da “Folha de S. Paulo” e, entre cubas-libres e doses de “Cointreau”, assuntos e amigos se juntavam, até o repasto noturno.

Nesse dia de outubro nem deu tempo de olhar para a mesa. Logo à esquerda, quase na entrada, vi Paulo Vanzolini e uma mulher loura, alta. Já fui direto até ele, chamando-o pelo nome e, como se fôssemos velhos amigos, fui falando alguns traços biográficos vanzolinianos pouco comuns a que eu tivera acesso, numa época em que não existia “internet” (que só chegou ao Brasil para o grande público a partir de 1995). Ali estava Paulo Emílio Vanzolini, médico, zoólogo, compositor, cantor, escritor..

Após ouvir sobre si mesmo em minha entrada triunfal, Paulo Vanzolini riu, com aquele jeito de bom amigo, sem “stress”, boêmio (ele não gostava de ser chamado assim).

Numa “homenagem” à minha curiosidade, pelos dados biográficos com que, no momento certo, eu ilustrava as minhas perguntas sobre ele, Paulo Vanzolini começou a contar sua vida: era taurino como eu (ele, nascido dia 25 de abril); o pai, engenheiro, que lhe deu a bicicleta, sobre a qual, criança ainda (dez anos), foi ao zoológico e ficou impressionado (positivamente) com os répteis, cobras especialmente. Falou de um amigo, o cientista, médico, biólogo e geneticista pioneiro gaúcho André Dreyfuss (1897-1952), que lhe disse que, se quisesse ser um grande zoólogo, deveria começar estudando Medicina.

Foi o que Vanzolini fez: formou-se em Medicina e foi para a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, fazer pós-graduação em Zoologia. Ressaltando que essa informação era de conhecimento de poucos – pelo menos na época –, Vanzolini disse-me que foi um dos que recebeu o título de doutor em menos tempo na respeitada universidade norte-americana, por causa exatamente de sua formação acadêmica médica.

Claro que Vanzolini, Magdalena Klos e eu falamos sobre Imperatriz e sobre a região (dias antes dessa conversa, um engenheiro e gestor da empresa construtora que contratara a consultoria “faunística” de Vanzolini falara comigo para promover um encontro entre mim e o renomado cientista e músico). Mas a história, a música, a cultura, a vida, em termos amplos, gerais, foram os itens principais no cardápio de conversas que (man)tivemos.

Mostrando seu à-vontade no ambiente, o grande cientista e compositor, ao me apresentar Magdalena Klos, fez questão de dizer que o sobrenome “Klos” significava “alce” e que a doutoranda estudava zoologia dos invertebrados, especialidade dele também. (Pesquisei em vários idiomas a palavra “klos”, mas ainda não localizei a língua que dê como tradução o nome do maior dos animais cervídeos, parente das renas e dos veados).

Mas o que mais importa é que a noite foi pouca para tanto estar bem, com boas conversas, bom humor, curiosidades musicais e científicas, coisas e loisas da vida. As músicas “Ronda” e “Volta por Cima” foram cantadas e tamboriladas em parte, discretamente (não se queria dar “show”...). Em 2021, “Ronda” completou 70 anos de composição: ela é de 1951 e sua primeira gravação foi em 1953. “Volta Por Cima” é de 1962 – completou 60 anos em 2022.

Com a morte de Paulo Vanzolini naquele domingo, há onze anos, 28/4/2013, três dias depois de completar 89 anos, a Música e a Ciência brasileiras perdem um raro caso de talento em ambas as atividades.

Parece que o jeito bonachão de Vanzolini não era só o da foto: em vida doou sua biblioteca de 25 mil livros e outros itens para a universidade. Também utilizava na ampliação do número de espécimes animais o dinheiro que ganhava com a música, inclusive um valor pago por um político paulista que teria usado, em época de campanha, diversos compassos de uma música de Vanzolini.

Paulo Emílio Vanzolini ganhou prêmios científicos e reconhecimento de governos. Escreveu livros – de poesia, inclusive. Foi alvo de documentários sobre sua vida, obra e atividade, inclusive “No Rio das Amazonas”, filme que tenho. Seu sobrenome dá nome a, pelo menos, 15 répteis, insetos e outros invertebrados.

À parte o material biobiblioiconográfico que tenho, o que mais dura em mim são as lembranças das agradáveis, alegres e ricas horas de bate-papo. Aquele foi um encontro de, trocadilho à parte, um “cobra” paulista da Ciência e da Música com um “cabra” da peste nordestino em Imperatriz, cidade líder da região que marca outro grande encontro, o do Nordeste com o Norte, a Pré-Amazônia maranhense.

Brindemos em homenagem ao grande gênio brasileiro. Tim-tim.

Paulo Vanzolini agora faz ronda nos céus...

*

Escutemos de Paulo Vanzolini outro grande sucesso seu: “Volta por cima”, com o cantor, compositor e violonista mineiro Mário de Souza Marques Filho, mais conhecido como Noite Ilustrada, primeiro a gravar essa música, em 1963.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=5xW370kc6-g&list=RDBmdB2W6ZLJ4&index=13

* EDMILSON SANCHES