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Academia Imperatrizense de Letras, 33 anos (27/4/1991-27/4/2024)

Nos registros de passagem do tempo, convencionou-se que 30 anos se chamam “bodas de pérola”. A Academia Imperatrizense  de Letras (AIL) fez seu 30º aniversário em 2021 e continua mesmo tendo algo a ver com a pérola – é uma joia.

Neste sábado (27/4/24), faz 33 anos, bodas de crisoprásio – pedra preciosa muito rara e muito valiosa, a ponto de os gregos, na Antiguidade, a colocarem em igual valia com o ouro. Os egípcios a usavam para proteção e cura (bem que as Letras e o Livro, a Leitura e a Cultura precisam dessa segurança e saúde...).

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Como se sabe, uma ostra tranquila, quieta em seu canto, não produz pérola. É preciso haver uma irritação, advinda de uma partícula qualquer (um grão de areia, por exemplo), que invada sua intimidade e ela, ostra, a partir daí, faz de sua irritação uma rica obra: envolve a partícula alienígena com uma substância nacarada, iridescente, até ao final resultar em bela e valiosa pérola.

Eu sei não apenas dos grãos, mas das carradas de areia; não das partículas, mas das “partes” que tentaram demover-me da criação da Academia imperatrizense de Letras. Quem acompanhou a Imprensa da época pôde – e qualquer um ainda hoje pode – ver/saber de alguns registros que assomaram e se tornaram visíveis, como ponta de “icebergs”.

Mas eu já aprendera: Onde há uma sinfonia de corvos, desafinado é o rouxinol. Onde há ajuntamentos de urubus, fedorenta é a rosa.

Resultado: todo ano, e trinta e três anos depois, entrega-se uma preciosa joia – cada vez mais valiosa – aos desmotivadores e detratores...

Depois que fundei a AIL, não me neguei a atender convites de diversas cidades e mesmo a sugerir a pessoas delas no sentido de criarem sua própria Academia de Letras. Assim, fui convidado a presidir a solenidade de instalação da Academia Açailandense de Letras e posse de seus membros.

Depois, reuni intelectuais de Santa Inês e lá criamos a Academia.

Participei da criação da Academia Caxiense de Letras e fui designado para fazer o discurso de posse dos membros, em concorrido evento para toda a sociedade local.

Aí se seguiram São João do Sóter, Aldeias Altas, João Lisboa, Buriticupu... e outras onde nossa experiência e boa vontade, mais que algum conhecimento, são demandadas. E já há, pelo menos, quatro cidades à espera.

Nada mais poderoso que uma faísca que sabe que é hora de se tornar incêndio...

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No instante em que a Academia Imperatrizense de Letras (AIL) prepara-se para comemorar hoje seu 33º aniversário, lanço, como sempre, um olhar para diante e, sorrindo meio sem jeito cá dentro de mim, fico pensando nessas três décadas e três anos de existência da AIL.

Recordo-me das buscas cartoriais, para saber se, formalmente existia ou não uma Academia de Letras em Imperatriz. Era eu no único cartório do município à época, o Cartório do 1º Ofício, na Rua Godofredo Viana, centro de Imperatriz, enchendo a paciência – e o dever de ofício – do Rosseny da Costa Marinho (“in memoriam”; o decano entre os tabeliães), do Antônio Carlos da Mota Bandeira, do Miguel da Mota Bandeira (“in memoriam”; meu velho amigo de jogo de palavras – a “impugna”, junto com o professor e farmacêutico-bioquímico Oscar Gavinho, lá no Bar do Riba, perto da antiga Universidade Estadual do Maranhão/Uema).

Recordo-me dos 13 que aceitaram vir comigo no ingente e despudorado mister e mistério de fazer cultura em uma cidade que – diziam – era a “terra da pistolagem” e onde “o dinheiro corria”, o que parecia querer dizer que Imperatriz seria refratária, não porosa, contraindicada a assuntos ligados à Cultura. Valores do espírito, na Imperatriz da época, só mesmo os das Igrejas – e olhe lá...

Mas, graças a Deus, isso não era verdade e, se parecia, foi desmentido pelo inicial esforço conjunto dos 14 “homens de Letras”, na verdade humanistas, sensíveis às causas e cousas que, elas sim, criam, fortalecem e ainda dão brilho ao que de mais visível e forte deve ter uma sociedade: sua Identidade.

Eis os nomes dos que, comigo, assinaram a ata de fundação da Academia Imperatrizense de Letras, em 27 de abril de 1991, há trinta e três anos:

ADALBERTO – Lembro-me do Adalberto Franklin Pereira de Castro ("in memoriam") recebendo meu convite, ele meio sem jeito, imbiocado (introvertido), mas sempre me apoiando – como, aliás, já acontecia no movimento de organização da Imprensa (criei a Airt – Associação de Imprensa da Região Tocantina e o Sindijori – Sindicato dos Jornalistas e Radialistas de Imperatriz). Adalberto, que nem o Jurivê, não pôde comparecer à reunião de fundação, mas ficou acertado que estaria com a decisão da maioria.

DOM AFFONSO – Dom Affonso Felippe Gregory (“in memoriam”) tinha aquela bonomia dos bons pastores espirituais. Sempre conversávamos – inclusive bebericando... –  e ele apoiou de pronto a ideia de criação da AIL. Anos depois, coincidiu ter sido em uma gestão minha frente à Academia a decisão dele, explicada por carta, de se autoexcluir da Entidade, por questões de saúde e sobrecarga de serviços. (Para se ter uma ideia, Dom Affonso, além de bispo de uma grande Diocese, também era presidente da Caritas Internacional, espécie de confederação de quase duzentas organizações humanitárias da Igreja Católica, com atuação em mais de duzentos países. A Caritas, fundada em 1897 na Alemanha, tem sede no Vaticano. Bastava este compromisso e havia tantos outros, para dar-se razão ao bom Dom Affonso, o 1º bispo de Imperatriz, ele que tinha de viajar regularmente para diversos países.)

EUCÁRIO – O sempre bem-humorado Eucário Rodrigues (“in memoriam”). Ele era colega de lides bancárias, funcionário do Banco do Brasil em Imperatriz. Psicanalista de formação e atuação, tinha fundado em São Paulo uma entidade da classe.

ZÉ BREVES – O José de Sousa Breves Filho era meu conhecido da Universidade (Uema). Carioca de nascimento, foi o primeiro professor imperatrizense a concluir um doutorado. Anos depois pediu para sair da AIL e mudou-se para Fortaleza, onde se aposentou por instituição de ensino do governo federal.

GERALDO - Também me lembro do José Geraldo da Costa, a quem “intimei” em sua casa para juntar-se a mim neste projeto – e ele, prontamente, aceitou. Geraldo e eu mantínhamos muitas e longas e boas conversas e vivíamos nos esbarrando nas universidades UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e Uema e em diversos, incontáveis eventos sociocomunitários e culturais naqueles idos dos anos 1980 e 1990.

JURIVÊ - Relembro do meu colega jornalista Jurivê de Macedo, o Juredo, de supersaudosa memória. Embora nos primeiros instantes tenha se mostrado relutante, e até com negativa escrita em sua coluna no "O Estado do Maranhão", terminou por não resistir ao meu “leriado” e igualmente somou-se ao projeto  –  vindo a adicionar muito mais, muito mesmo, como membro assíduo, produtivo e aconselhador no dia a dia da Academia. Jurivê não esteve na reunião de fundação, mas antecipou que concordaria com o que fosse decidido.

JUCELINO – O Jucelino Pereira da Silva era colega de Jornalismo e aqui e acolá me chamava de “príncipe do Jornalismo”. O futuro advogado e excepcional redator Jucelino trabalhava em “O Progresso” e escrevia uma das colunas assinadas como “da Redação”, onde registrou alguns dos “ataques” de outrem a mim por causa da ideia de criação da Academia. Houve até quem escrevesse ao jornal dizendo que “Imperatriz não precisa de Academia; precisa é de comida e dinheiro”. Claro que respondi em um histórico texto: “De Bucho e Bolso”.

LOURENÇO – O Lourenço Pereira de Sousa foi um dos 14 que comigo iniciaram a Academia. Na época, e sempre, foi considerado um dos mais talentosos sacerdotes de Imperatriz e região. Ele e eu vivíamos escrevendo em jornais da Imperatriz daquelas décadas de 1980 e 1990. Lourenço saiu da Academia e também da Igreja. Casou-se. Sempre discreto, destacou-se e se destaca como professor universitário.

SEREJO - Lembro-me da abordagem ao juiz de Direito Lourival Serejo, também escritor, que era meu cliente no Banco do Nordeste, e de sua pronta, imediata adesão ao projeto (ficou como meu secretário informal nos trabalhos iniciais). O notável e premiado escritor, contista e cronista Serejo é hoje desembargador em São Luís, presidiu o Tribunal Regional Eleitoral e o Tribunal de Justiça do Maranhão e, atualmente, preside a Academia Maranhense de Letras.

DONA NENECA – A entusiasmada, radiante, sempre alegre escritora e radialista Neneca Motta Mello (Sebastiana Vicentina da Motta Mello; “in memoriam”) era desses espíritos eternamente dispostos, apesar das muitas tarefas. Vivíamos nos esbarrando em páginas de jornais e em salas de locução de rádios. Assim como já fizera no Sudeste do País, onde nascera, Neneca também desenvolvia grande e discreto serviço sociocomunitário em Imperatriz.

SÁLVIO DINO – O Sálvio de Jesus de Castro e Costa (Sálvio Dino; "in memoriam") era o pesquisador e escritor de destaque e político atuante na região. Encontrávamo-nos em meu local de trabalho, em eventos políticos, culturais e sociocomunitários em Imperatriz, João Lisboa etc. Sempre disposto a colaborar, abriu as portas da sede de uma entidade municipalista que ele presidia para que, nela, a Academia realizasse reuniões enquanto não se localizasse de modo definitivo.

TASSO – O Paulo de Tasso Oliveira Assunção, raro e caro amigo, é uma das testemunhas oculares e auriculares de nosso trabalho. Esteve comigo no “Jornal de Imperatriz”, o primeiro diário da cidade impresso em “off-set”, criado pela dupla José Maria Quariguasi (industrial gráfico; “in memoriam”) e Edmilson Sanches, com Jurivê de Macedo como primeiro diretor de redação. Tasso Assunção prosseguiu comigo no “Jornal de Negócios” (que Jurivê de Macedo, do alto de sua autoridade técnica, dizia ser “o jornal mais bem feito do Maranhão”) e no “Jornal de Açailândia”, os quais fundei, e em “O Imparcial”, cuja sucursal dirigi em Imperatriz e região, em substituição ao decano do jornalismo Sebastião Negreiros (“in memoriam”). Tasso também esteve comigo na fundação e administração da Associação de Imprensa da Região Tocantina (igualmente, o Adalberto Franklin, o meu vice-presidente Conor Farias, o Manoel Cecílio, o Zé Geraldo...).

VITO – O Vito Milesi fui “buscá-lo” na casa dele. Igual ao Adalberto, no começo ficou assim como sem jeito com o convite, mas o tirei do saudável casulo onde ele, ex-padre, bem se havia, como professor no Ensino Médio e em Universidade (foi meu professor no curso de Direito na Universidade Federal do Maranhão). Terminou não resistindo ao meu convite e conversa e tornou-se a maior referência de dedicação, seriedade sem sisudez, compromisso e verdadeira entrega à Academia, da qual foi por diversas vezes presidente. Mantinha religiosamente, sem trocadilho, correspondência (escrita a mão) e contatos comigo, quando, “ex officio”, fui obrigado a mudar-me para Fortaleza (CE). A partir de uma ação em uma das gestões dele frente à AIL, uma feira de livros na Praça de Fátima (segundo ele me relatava), tive a ideia de criar e institucionalizar uma “Feira de Livros”, como está em documento escrito em  uma tarde de 27‎ de ‎março‎ de ‎2003, uma ‏‎quinta-feira, ‎como parte das ações para meu segundo mandato frente à Academia. O documento foi distribuído em reunião de um mês depois, 27/4/2003, no 12º aniversário da Instituição, e a “Feira de Livros” transformou-se, inicialmente, em “Semana Imperatrizense do Livro – SIL” e, depois, duradouramente, em “Salão do Livro de Imperatriz – Salimp”.

PRIMEIRA REUNIÃO – Relembro a pregação que fiz às 10 horas e 30 minutos da manhã de 27 de abril de 1991, um sábado, na sala de projeção de uma pioneira videolocadora na Rua Simplício Moreira, nº 1467, próximo à praça de Fátima, cujo proprietário era simpático à causa. Essa foi a primeira reunião formal, de fundação, aprovação do Estatuto e eleição da primeira Diretoria e coisa e tal.

SEGUNDA REUNIÃO – A segunda reunião já foi sob as bênçãos do bispo Dom Affonso Felippe Gregory, que nos cedeu sua residência episcopal e também se integrou ao projeto.

PRIMEIRO ANO – O primeiro ano da AIL, completado em 1992, foi comemorado em evento no auditório do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), com Sálvio Dino conferenciando sobre “o perfil histórico do rio Tocantins”.

LIVALDO – De 27 de abril de 1991 para cá, muita tinta rolou sobre o papel – desde há 32 anos, incluindo-se os olhares enviesados e ataques enraivecidos, todos contra mim, tudo contra a criação e existência da Academia. Certa vez, em bilhete de 17 linhas, o escritor Livaldo Fregona me escreveu:

– “(...) Meu velho, orgulho-me não de ser seu amigo, mas, apenas, por tê-lo conhecido. Não tenha pressa nem estranhe os invejosos; o mundo reconhecerá seu valor”.

OVÍDIO – O templo nublara, mas eu não estava só – citando o escritor romano Publius Ovidius Naso, o conhecido Ovídio, que viveu 40 anos antes e quase 20 depois de Cristo e que dizia: “(...) se os tempos estiverem nublados, estarás só”.

FÉ COM OBRAS – A certeza enfática dos adversários do projeto apequenou-se e foi engolida pelo desfilar dos dias e, nestes, a persistência, o amor, o trabalho, a fé com obras (não apenas literárias...) dos membros e colaboradores da AIL.

COUSAS E CAUSAS – “Tempus edax rerum” – “o tempo, (esse) devorador das coisas”. É Ovídio novamente, que nos alerta para (também) o que o tempo pode fazer esquecer... e, paradoxalmente, o que não se deve esquecer de fazer.

Por exemplo, fazer boas coisas, defender boas causas.

Matéria-prima, aliás, de que é feita a Academia – e da qual, aliás, são feitas as coisas que ela faz e as causas que ela defende.

Viva a Academia Imperatrizense de Letras em seus 33 anos de existência.

Verdadeiramente, uma joia.

* EDMILSON SANCHES

ILUSTRAÇÃO:

Brasão da Academia Imperatrizense de Letras.

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