Os estudantes de cursos de licenciatura na modalidade presencial, que cumprem os requisitos para serem beneficiados pelo Pé-de-Meia Licenciaturas, devem concluir a inscrição no programa até 30 de março na Plataforma Freire, com o cadastro do currículo e dados pessoais.
A etapa é condição obrigatória para receber a primeira parcela do benefício. As bolsas mensais de R$ 1.050 começarão a ser pagas em 1º de maio.
A confirmação será efetivada só após a publicação do resultado final, prevista para 14 de abril, conforme determina o edital.
Mesmo após 30 de março, o cadastro na plataforma continuará disponível. Mas, nesse caso, o bolsista só receberá a primeira parcela da bolsa posteriormente. O beneficiário terá direito ao recebimento dos valores de forma retroativa, correspondente ao período decorrido desde o início do curso.
O Ministério da Educação (MEC), responsável pelo Pé-de-Meia Licenciaturas, confirma que disponibilizou 12 mil bolsas aos estudantes de licenciatura que se destacaram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024.
Como fazer o cadastro
A plataforma da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) exige o login com Cadastro de Pessoa Física (CPF) e senha do portal Gov.br.
Ao acessar a plataforma Freire, o candidato deve cadastrar os dados pessoais, e-mail, telefone e endereço, para prosseguir com o preenchimento do currículo.
O candidato à bolsa também deve assinalar o Termo de Ciência e Concordância. Após esse passo, o estudante deve informar a matrícula na instituição de ensino superior em que foi aprovado.
É possível acompanhar o processo seletivo diretamente na plataforma Freire.
Requisitos
Para acessar o benefício do Pé-de-Meia Licenciaturas, o estudante deve ter ingressado em curso de licenciatura presencial via Sistema de Seleção Unificada (Sisu), Programa Universidade para Todos (Prouni) ou pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) Social, com a nota igual ou superior a 650 pontos no Enem; e estar regularmente matriculado.
Para manutenção da bolsa, o estudante deve cursar a quantidade de créditos obrigatórios de cada período e ser aprovado nas matérias em que está matriculado.
Depósitos
As bolsas com valor mensal de R$ 1.050 serão pagas pelo MEC, por meio da Capes, do início ao fim do curso. Os valores serão destinados diretamente aos estudantes. Do total mensal depositado, o estudante poderá sacar R$ 700 da bolsa mensal, durante o período regular do curso. Os outros R$ 350, equivalentes ao incentivo docência mensal, ficam depositados como poupança.
O valor acumulado durante o período regular do curso, limitado a 48 parcelas, poderá ser sacado após o professor recém-formado ingressar em uma rede pública de ensino, no prazo de até 5 anos após a conclusão do curso.
Pé-de-Meia Licenciaturas
O Pé-de-Meia Licenciaturas, como é chamada a Bolsa de Atratividade e Formação para a Docência, é um dos eixos do programa Mais Professores para o Brasil, que integra ações para valorizar e qualificar o magistério da educação básica e dar incentivo à docência no país.
O suporte financeiro do Pé-de-Meia Licenciaturas tem a finalidade de permitir aos beneficiados que se dediquem integralmente às atividades acadêmicas e de estágio supervisionado obrigatório do curso.
Adicionalmente, o pagamento do incentivo tem os objetivos de atrair estudantes com alto desempenho para as licenciaturas e para a carreira docente; reduzir a evasão nos cursos de licenciatura e incentivar o ingresso de concluintes das licenciaturas nas redes públicas de ensino.
O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) alertou, nesta quarta-feira (19), que sites falsos – criados por golpistas – estão sendo divulgados na internet como canais de inscrição para a segunda edição do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), prevista para agosto de 2025. Porém, as inscrições ainda não estão abertas.
Os endereços que simulam a inscrição são enganosos e oferecem risco de roubo de dados pessoais, além de pagamentos indevidos por inscrições que não existem.
O Ministério da Gestão afirmou que está tomando medidas para derrubar os sites falsos, com o apoio do Centro Integrado de Segurança Cibernética do Governo Digital (Cisc GOV.BR).
Esta é a segunda vez que a pasta avisa sobre a tentativa de golpe envolvendo o maior certame já realizado no país. O alerta está fixado na rede social do ministério.
Futuro concurso
Em fevereiro, a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, já havia confirmado a realização de novo concurso unificado. No entanto, o futuro edital deve ser publicado nas próximas semanas.
O edital é o documento oficial que serve para divulgar e regulamentar um processo seletivo para o preenchimento de vagas em órgãos públicos. Sem ele, não é possível haver inscrição para qualquer certame.
Sites falsos têm oferecido inscrições para o concurso, mesmo antes da publicação do edital oficial.
Proteção
De acordo com o ministério, as informações sobre nova edição do CNU serão divulgadas oportunamente, no site oficial do concurso.
Portanto, as pessoas interessadas em participar da disputa devem aguardar a publicação do edital e sempre verificar a autenticidade das informações.
Os cidadãos devem confiar apenas em informações divulgadas pelo MGI nos canais oficiais (site e redes sociais).
“A segurança começa com a informação correta!”, afirmou o ministério.
Como denunciar
O governo federal tem a Plataforma Integrada de Ouvidoria e Acesso à Informação, o Fala.BR, para encaminhamento de denúncias sobre tentativa de golpes. O informante deve clicar no ícone de denúncia e preencher on-line os dados.
O serviço virtual está disponível 24 horas, todos os dias da semana e pode ser acessado com o Cadastro de Pessoa Física (CPF) e senha do portal Gov.br.
Penas
A prática de fraudes eletrônicas está sujeita a pena de reclusão (de 4 a 8 anos) e multa, se a fraude é cometida com o uso de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos, envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio de tentar enganar as pessoas com informações falsas.
A pena pode ser aumentada em um terço se é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso.
Enem dos Concursos
A primeira edição do Concurso Público Nacional Unificado, realizado em 2024, teve 2,1 milhões de inscrições confirmadas. Deste total, quase 1 milhão de candidatos compareceram em 18 de agosto, aos dois turnos de provas, aplicadas em 228 cidades de todas as unidades da federação.
Os candidatos disputaram 6.640 vagas do concurso, de 21 órgãos e entidades. O certame ainda tem cerca de 13,2 mil aprovados em banco de candidatos em lista de espera.
A nova edição do concurso, sem data de realização, ainda não tem confirmação dos órgãos que desejam participar.
Sentado na primeira fileira do cinema, Milton Nascimento assiste aos depoimentos na tela com um sorriso e um olhar emocionado. Mesmo aos 82 anos, com uma história longa de sucesso, é difícil ficar impassível ao ouvir tantos artistas nacionais e internacionais falando dele com admiração e respeito.
O documentário Milton Bituca Nascimento estreia dia 20 nos cinemas brasileiros, mas eventos de pré-estreia já ocorreram em Belo Horizonte e São Paulo. Na noite de segunda (17), foi a vez do Rio de Janeiro. Em quase duas horas de duração, o filme registra os bastidores da turnê de despedida do músico em 2022 e o reencontro com fãs de diferentes partes do mundo.
“Meu sentimento em relação ao filme é de muita felicidade, principalmente quando penso nos tantos amigos preciosos que a vida me deu e que estão ali presentes. Sou grato por todo o carinho e amor que recebo de tanta gente. Durante toda a minha trajetória, fui guiado pelas amizades e pela música e isso é o que realmente importa na minha vida”, disse Milton Nascimento.
Mais de 40 personalidades, nacionais e internacionais, deram depoimentos sobre Milton. Entre os artistas mais experientes, falam no longa Gilberto Gil, Djavan, Chico Buarque, João Bosco e Ivan Lins. Mas nomes de gerações recentes também marcaram presença, como Maria Gadu e Tim Bernardes. O que ajuda a medir a influência atemporal de Milton.
Para além das fronteiras brasileiras, a voz e o talento do artista conquistaram nomes tradicionais do jazz norte-americano, como Wayne Shorter, Stanley Clarke e Herbie Hancock, e do folk rock, como Paul Simon. Ainda pelos EUA, o cineasta Spike Lee fala da intimidade e do encanto pelo cantor e compositor brasileiro. Assim como Fito Páez, nome importante do rock argentino.
Narrado pela atriz Fernanda Montenegro, de 95 anos, o documentário também traz reflexões sobre como as questões raciais permearam a vida de Milton. Desde os episódios de racismo na infância, em Minas Gerais, até o respeito que artistas e intelectuais negros nutrem pelo cantor. As falas da filósofa Djamila Ribeiro, e dos cantores Mano Brown, Criolo e Djonga vão nesse sentido.
Outro aspecto abordado rapidamente no filme é o estado de saúde mais frágil de Milton. Ele tem diabetes e, na semana passada, o filho Augusto Nascimento revelou que ele tem Parkinson, o que traz ainda mais fragilidades.
Segundo a diretora Flavia Moraes, foram dois anos de gravação para o documentário, que conta com distribuição da Gullane+, o apoio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativa do Estado de São Paulo e do Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo, e apoio institucional da Ancine.
“Eu tive muita preocupação em não fazer um documentário chapa branca, em que todo mundo falasse bem. Mas que ele tenha muitos elogios, é inevitável. Obviamente existem muitas homenagens, porque ele está se despedindo dos palcos. E é um recorte, não uma biografia de forma cronológica. Até porque um documentário de duas horas não conseguiria dar conta da grandiosidade do Bituca”, disse a diretora Flavia Moraes.
O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) publicou nesta terça-feira (18), no Diário Oficial da União, 13 editais de retificação com a inclusão de mais 27 candidatos sub judice nos resultados do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU). Os candidatos sub judice são aqueles que recorreram do resultado na Justiça e conseguiram uma decisão liminar para continuar no concurso.
As novas publicações incluem candidatos sub judice do certame tanto nas listas de aprovados (vagas imediatas e de cadastro reserva) quanto nas listas de convocados para matrículas em cursos de formação e para o banco de candidatos em lista de espera em cargos de nível superior.
Os editais trazem os nomes dos candidatos com liminar na seguinte ordem: órgão, cargo/especialidade, nome em ordem alfabética, número de inscrição, nota final, classificação na ampla concorrência (AC), classificação entre as pessoas com deficiência (PCD), classificação entre candidatos negros (negra) e classificação entre os candidatos indígenas (indígena), se for o caso.
Os candidatos sub judice convocados para cursos de formação inicial devem fazer matrícula nos cursos já programados e sob coordenação da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) ou pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe),
Além da publicação do Diário Oficial da União, as duas instituições estão contatando diretamente os novos candidatos sub judice.
No caso dos cursos de formação inicial da Enap, o prazo para matrícula termina nesta terça (18).
As inscrições para operação de novas rádios comunitárias prosseguem até a próxima sexta-feira, dia 21 de março. O prazo para as fundações e associações interessadas foi prorrogado por uma semana pelo Ministério das Comunicações, porque o sistema de inscrição apresentou problemas técnicos e instabilidade.
O edital prevê a instalação de rádios comunitárias em 795 municípios de 21 estados. Só em Minas Gerais são mais de 200 novas emissoras.
A medida faz parte do Plano Nacional de Outorgas, publicado no início de dezembro de 2023.
O Ministério das Comunicações autorizou nos últimos dois anos o funcionamento de 206 rádios comunitárias em todo o Brasil.
Só no ano passado, foram 121 novas autorizações. É o maior número nos últimos 13 anos.
O Ministério da Educação (MEC) apoiará 108 cursinhos pré-vestibulares populares e comunitários sem fins lucrativos em 2025. A iniciativa faz Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP), regulamentada pelo governo federal e que terá investimento inicial de R$ 24,8 milhões para o ciclo 2025-2026. Os cursinhos serão selecionados por edital a ser publicado..
Neste programa, serão concedidas bolsas de R$ 200 por mês a estudantes da rede pública para ajudar a permanecer nos estudos. Os recursos serão transferidos diretamente pelas instituições de ensino. O limite de tempo que o beneficiário poderá receber a bolsa é de nove meses.
Para os cursinhos populares, a rede fornecerá apoio financeiro de até R$ 230 mil por turma (inclui o auxílio de R$ 200 mensais para os estudantes), materiais didáticos gratuitos para a preparação dos alunos, formação e capacitação de professores e gestores.
Lançada em 10 de março, junto com o programa Partiu IF, a nova rede faz parte do Programa Diversidade na Universidade, com o objetivo de aumentar o ingresso de grupos de estudantes do ensino médio historicamente excluídos da educação profissional e do ensino superior, especialmente por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Público-alvo
A estimativa do MEC é que sejam beneficiados 4.320 estudantes do Brasil até 2026. A seleção dos participantes será feita pelos cursinhos populares contemplados no programa, com base nos critérios estabelecidos em futuro edital.
De acordo com o MEC, a iniciativa tem como público alvo os jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social. As vagas são destinadas a estudantes de escolas públicas, com renda familiar per capita de até um salário mínimo (R$ 1.518, em 2025) e, também, indígenas, pessoas com deficiência (PCD), negros ou quilombolas.
Além do auxílio financeiro de R$ 200 por mês, os participantes terão acesso a material didático gratuito de preparação para o Enem e outros vestibulares que selecionam candidatos ao ensino superior.
As bolsas serão pagas logo que os cursinhos populares forem contemplados no edital e os cursos começarem.
CPOP
A Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP) apoiará, até 2027, 324 cursinhos populares no Brasil. Neste período, o investimento global na rede CPOP está estimado em R$ 74,5 milhões para garantir suporte técnico e financeiro para a preparação de estudantes da rede pública que querem entrar em uma universidade.
Além de tentar ampliar o acesso ao ensino superior, a CPOP tem os objetivos de fortalecer cursinhos pré-vestibulares populares; retomar o interesse do jovem brasileiro pelo Enem; contribuir para a ocupação de vagas em cursos de graduação de instituições federais e elaborar orientações focadas no Enem para implementar ações nos cursinhos da rede.
O ator Osmar Prado incluiu mais um sucesso entre tantos na carreira que começou em 1958, ainda criança. Aos 77 anos, tem viajado o país, desde janeiro do ano passado, com a peça O Veneno do Teatro.
Em uma retrospectiva dos mais de 65 anos de carreira, Osmar se identificou como um acidente, porque foi cedo a sua manifestação “por uma coisa que nem sabia o que era”, quando, em torno dos 7 anos de idade, perguntou pela primeira vez à mãe como se fazia para ser artista.
“Mamãe, como se faz para ser artista? Embora não tivesse ideia do que era ser artista. Essa pergunta saiu da minha boca enquanto ela pilotava um fogão à lenha. Ela respondeu e me matou. Disse: meu filho, para ser artista, tem que ser bonito, alto. A referência dela era Rodolfo Valentino, símbolo sexual do período da década de 1930 ou 1940. Eu jamais me enquadraria nesse modelo. Então, ela me matou no nascedouro.”, relatou à Agência Brasil.
Isso, no entanto, não encerrou sua trajetória. A salvação veio com a tia Trindade Augusta Prado, que era operária e irmã da mãe do ator. “Ela foi me levando, até eu chegar a um teste na casa do diretor chamado Líbero Miguel, que queria iniciar a teledramaturgia na TV Paulista, já que existiam três televisões em São Paulo: a TV tupi, a TV Record e a TV Paulista”, contou.
Ao saber que o diretor precisava de meninos para fazer a primeira novela que seria adaptada para a televisão no canal 5, que era David Copperfield, de Charles Dickens, Osmar foi levado pela tia à casa de Líbero Miguel, que o pediu para decorar uma cena de meia página.
O menino respondeu que levaria para casa para decorar, mas o diretor disse que fizesse ali mesmo, e que ele contracenaria com a mulher do diretor. Osmar acabou ganhando a chance de participar da produção por causa de um improviso.
Líbero explicou como deveria desempenhar o papel. Ele teria que bater à porta, entrar e começar a conversar com a mulher que contracenava com ele.
“Bati à porta. Ela disse 'entre, sente-se aqui'. Fui indo e esbarrei acidentalmente no cinzeiro na mesa de centro, que caiu no chão. Peguei instintivamente, sentei no lugar que ela falou e comecei a conversar. Duas, três falas depois, ele parou e me disse 'não preciso mais'. Você vai trabalhar comigo”, contou em detalhes a situação.
Aos 12 anos, Osmar Prado representou o personagem Oliver Twist, também do escritor Charles Dickens, já como protagonista. “E assim minha vida foi seguindo, fui indo aos trancos e barrancos. Não fiz curso, nem faculdade de teatro. Todo o meu aprendizado foi na prática e nos contatos de pessoas maravilhosas do meio que me auxiliaram, me deram conselhos, me indicaram livros. Tive o privilégio de trabalhar com [o ator] Sérgio Cardoso”, contou, acrescentando que também Othon Bastos e Gianfrancesco Guarnieri foram grandes influências.
“Fui sendo levado”
Osmar lembrra que a origem da sua família era pobre. O pai, funcionário público ex-motorista de praça. A tia, responsável pela sua carreira, era operária e o seu nascimento foi em casa.
“Vim não da miséria, mas da pobreza. O parto, quando eu nasci, foi feito pela minha bisavó, em casa. Nasci em um quarto de um casebre de alvenaria, mas era um casebre com banheiro do lado de fora, tinha um quarto e uma sala. Meu pai e meu avô fizeram um puxado de madeira para fazer uma cozinha com fogão a lenha, em São Paulo na Vila Clementino. Hoje, tem um prédio enorme naquele lugar. Foi ali que comecei a minha vida".
"Fui sendo levado. Parece que era o destino inexoravelmente marcado ser o que sou, e não perdi o entusiasmo até hoje. Graças aos deuses, porque o Deus mesmo não tem nada com isso, coitado, tem tanta demanda porque ele olharia para mim, um menino qualquer? Deus tem demandas mais sérias, agora, os deuses do teatro sorriram para mim”.
Uma crítica assinada por Miroel Silveira, em 1959, já apontava para o potencial de atuação do ainda menino Osmar Prado. Foi na peça Nu, com Violino, em que atuava com o ator Sérgio Cardoso, já visto como artista de destaque.
“Era tão insignificante a minha participação que ele poderia ter me ignorado. Além de não me ignorar, ele disse o seguinte: ‘o menino Osmar Prado, apesar de ter quase perdido a voz na estreia, representou a sua cena até o final com imensa bravura e excepcional personalidade’. Ele disse isso de mim. Um misto de pena pelo meu desespero, mas, ao mesmo tempo, entendia que ali havia uma potencialidade. Ele previu: ‘uma agradável revelação aos 12 anos’”, afirmou.
Manifestações artísticas
Ao longo da carreira, o ator alternou momentos no teatro, na televisão e no cinema. Quando foi convidado para atuar em O Veneno do Teatro, fazia dez anos que não participava de uma montagem teatral. Nesse intervalo, integrou o elenco da novela Pantanal, na Rede Globo, interpretando o personagem Velho do Rio, com o qual recebeu o conceituado prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na categoria de melhor ator.
“Encerrei com chave de ouro a minha participação [na televisão] e não voltei mais”, disse. “Toda vez que eu saí da televisão ou a televisão me ignorou, o teatro me acolheu e sempre me acolherá, se eu fizer por merecer. Por isso, estou fazendo O Veneno do Teatro há mais de um ano e não pretendo sair”.
O período em que esteve afastado do teatro é considerado por Osmar como um “hiato acidental”, uma vez que só realizaria um trabalho, quando estivesse realmente interessado. A última atuação tinha sido na comédia musical Barbaridade, inspirada em argumento dos escritores Luis Fernando Verissimo, Ziraldo e Zuenir Ventura. Embora fosse bem tratado, o ator não se sentia à vontade.
“Eu entendi, a partir da estreia da peça, que eu não estava confortável, mas fui até o fim da temporada no Rio e ainda fiz a temporada em São Paulo. Depois, não fiz mais e disse para mim mesmo: ‘Não volto para o teatro sem que eu acredite na proposta e diga a mim mesmo, é isso que quero dizer quando abrir o pano", contou.
E foi este chamado que o fez considerar um presente poder atuar em O Veneno do Teatro. O perfil do ator foi decisivo para o diretor Eduardo Figueiredo pensar em Osmar para o papel.
“Eu tenho mais de 30 anos de carreira e costumo dizer que o ator tem que ser criador, porque tem que promover a essência dele e as potencialidades como artista no projeto em que está. O Osmar é essa potência, o tempo inteiro ele contribuiu no processo de criação, não só da personagem, mas como um todo. Apesar da idade, ele tem um trabalho físico muito forte, tem uma potência corporal, uma flexibilidade. Então, a gente tem uma agilidade cênica no espetáculo que também é fruto da disponibilidade dele".
O diretor também elogia a capacidade de Osmar Prado decorar o texto da peça, que considera longo. Segundo Figueiredo, o ator nunca errou, nem nos ensaios.
"É normal no processo de ensaio o ator esquecer alguma coisa, porque é muito texto. Ele nunca teve esse problema. Sempre vinha muito preparado para o ensaio com as cenas decoradas daquele dia. Ele não tem esse problema de esquecer o texto, mesmo sendo um texto tão grande e denso”.
Parceria
O ator Maurício Machado, que divide a cena com Prado em O Veneno do Teatro, confessa que o colega sempre foi um ídolo e uma referência para ele ao longo da sua trajetória, de 37 anos.
“No início da carreira, era uma coisa absolutamente inatingível poder contracenar com ele. Até que, em 1999, quase fizemos uma peça juntos. Acabou não rolando. Agora, com O Veneno [do Teatro], o diretor pensou no Osmar, e eu achei que não poderia ter um ator mais adequado, porque, além do gigantismo do talento do Osmar, o personagem requer um ator com toda essa bagagem e com um leque variado de cores, de emoções que esse personagem tem".
“O Osmar além do grande ator e gênio que ele é para mim, dos maiores e mais importantes atores de toda a história que o Brasil já teve, é um grande parceiro. A gente construiu uma relação muito incrível já desde o primeiro momento de leitura, em que tivemos certeza que os personagens nos escolheram e que teríamos ali uma parceria muito bonita, de muita confiança e muito respeito. É uma alegria poder contracenar com ele, que é o maior ator vivo brasileiro. Osmar sempre foi um artista cidadão. Ele tem 77 anos e fala sobre todas as questões contemporâneas”, elogia Mauricio Machado.
Para o diretor, Eduardo Figueiredo, a essência da peça também combina com Osmar Prado, por se tratar de um espetáculo que discute civilidade e poder. "A gente está o tempo inteiro discutindo a postura do ser humano, até onde vai a capacidade de o ser humano de cometer atrocidades. Onde está a civilidade na sociedade contemporânea, onde a gente tem guerras, onde os direitos humanos são desrespeitados o tempo inteiro”, resumiu.
Preocupado com as questões globais, Osmar critica o predomínio de nações no cenário mundial. “Estamos caminhando para um desfecho que, no meu entender, será o desfecho que a humanidade necessita: a multipolaridade das nações. Todos terão que sentar à mesa para discutir o mundo sem a predominância de quem quer que seja, mas no sentido de colaborar. Isso acaba com os impérios de um modo geral. Temos que acabar com os impérios, abaixo os imperadores. Que venha a democracia plena”, torce o ator.
Professores de matemática do ensino médio em todo o país podem participar da segunda edição da Olimpíada de Professores de Matemática (OPMBr). A competição avalia práticas docentes e conhecimento da matéria e da didática, e selecionará dez mestres na categoria ouro, premiação máxima e que repetirá o “troféu” da primeira edição: uma viagem para Xangai, para formação e intercâmbio cultural em escolas locais. As inscrições estão abertas desde o dia 1º de março.
A OPMBr surgiu de uma conversa de uma turma de veteranos de engenharia do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA). A turma 89 discutia maneiras de melhorar os níveis de conhecimento básico em matemática no país, que participa da elite mundial na disciplina (Grupo 5 da Internacional Mathematical Union – IMU) mas tem resultados ruins em exames que se destinam à maior parte da população.
Atualmente, o Brasil ocupa a 65ª posição no ranking de 81 países que participaram do último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), divulgado no final ano passado, levando em conta os resultados da área de matemática.
Os professores inscritos para esta edição farão a avaliação online em junho. Os classificados vão mandar um vídeo que demonstre o trabalho desenvolvido em sala de aula, abordando metodologias, experiências e resultados. O trabalho será avaliado em agosto. Já a terceira fase, de entrevistas realizadas pelo Conselho Acadêmico da competição, será em setembro. Os classificados serão conhecidos em novembro e iniciam o intercâmbio em abril de 2026.
A professora Jaqueline Mesquita, do Conselho Acadêmico da Olimpíada e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, disse à Agência Brasil que a competição é importante na medida que permite identificar não apenas os conteúdos que estão sendo trabalhados, mas como ele é transmitido.
“O professor sabe como abordar esse conteúdo em sala de aula, ele traz o que a gente chama de ‘conhecimento pedagógico de conteúdo’, que é a forma de linkar o conteúdo matemático com a forma de ensinar este conteúdo em sala de aula, e este foi o grande diferencial dos vencedores da última edição”.
Algo que lhe chamou a atenção foi a presença de muitos medalhistas de ouro que vieram de cidades do interior, e não de grandes centros ou capitais. “Os dados das Olimpíadas podem ser importantes para mapearmos as assimetrias regionais no ensino da matemática, compreendendo as competências necessárias a serem desenvolvidas por esses professores em cada localidade”, explicou.
Mesquita ressaltou que esses dados vão “servir como métrica para propor políticas públicas mais eficientes visando melhorar o ensino da matemática”. Para a professora, esse mapeamento, assim como a discussão da importância do papel do professor e de sua formação continuada fazem parte dos legados que o evento busca.
O piauiense Rubens Lopes Netto foi um dos vencedores da última edição. A história dele com a matemática começou dentro de casa, ainda criança. Com muita facilidade para os cálculos, a matemática sempre esteve presente no seu dia a dia e nas memórias de infância com o seu pai que, desde pequeno, apoiava e estimulava o aprendizado da matemática no cotidiano. De forma despretensiosa, Rubens iniciou sua jornada como professor no magistério, antes de prestar vestibular para matemática.
Rubens recorda que o seu magistério começou em escolas rurais, com poucos alunos e sem recursos básicos, mas que evoluía no contato direto e interativo com os alunos. “A prática da gente vai evoluindo com o tempo, com os alunos. Depende também de como eles respondem, e, às vezes, vamos melhorando de uma aula para a outra”.
O professor lembra ainda que, desde o início do seu magistério, manteve “contato com todos os níveis e modalidades de ensino com variados perfis de estudantes, e isso vai ajudando a gente. Minha primeira escola era no campo, em um povoado. Lá fazia, por exemplo, uso de materiais concretos e outras estratégias”, disse.
Após se formar, Rubens passou a dar aulas para alunos do ensino médio, e hoje está a caminho da conclusão de um doutorado na área. Também deixou as salas de aulas do ensino básico, pois está atuando na formação de professores para o governo do Maranhão.
OPMBr
Rubens revela que sua escolha, como um dos premiados da OPMBr, veio após o resultado na formação de estudantes nas redes de Mata Roma (MA, municipal) e Anapurus (MA, estadual). “Nas provas do Saeb e do Seama conseguimos a melhor colocação de todas as escolas do nosso município, o que nos rendeu premiação, pela média de proficiência do nono ano. O que mais chamou a atenção foi isto, conquistar resultados em uma cidade tão pequena”, explica.
O professor disse que visitou quatro escolas na China, viagem que ele definiu como “incrível, algo que eu não ousaria sonhar nem em meus melhores sonhos”. Para o professor, a viagem lhe permitiu analisar as diferenças do ensino da matemática entre os dois países. “Eles trabalham muito a questão de aprendizagem por pares e formação continuada, então um professor se capacita com outro, de sua área. Os estudantes entendem que estudar é importante, e que saber matemática e ciências pode lhes fazer conhecer o mundo”, afirma.
Essa formação adquirida, por meio da OPMBr, levou a trabalhar em seminários de multiplicação para outros professores, promovidos governo do Maranhão, nos quais aplica parte do que aprendeu. “O que podemos aplicar e pretendemos fazer são workshops para mudança de pensamento e atitude do professor. Agora, muita coisa que a gente viu lá [na China] como estrutura e cultura, a gente viu que só vai surtir algum efeito a longo prazo”, disse.
O jovem Pedro Dutra é morador do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. A cerca de 8 quilômetros dali, em Cordovil, Complexo de Israel, reside o estudante Breno Alencar, de 15 anos.
Em comum, os dois são estudantes de escolas públicas e cursam robótica na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) do Maracanã. O aprendizado prático e teórico levou ambos a Brasília para disputar uma vaga em equipe na final do 7º Festival Sesi de Educação, a maior competição de robótica do Brasil, que, neste ano, tem como tema os oceanos.
Estudantes Breno Alencar e Pedro Nova
O torneio de robótica é o passaporte para o mundial em Houston, nos Estados Unidos, que reúne, anualmente, cerca de 15 mil estudantes de todo o planeta.
Pedro sonha em conquistar uma das vagas na etapa classificatória para o mundial de robótica, após ter vencido as fases regionais no Estado. O estudante diz que a tecnologia tem transformado a vida.
"A robótica tem facilitado os estudos, porque a programação envolve muita matemática e nosso raciocínio lógico para pensar mais rápido. Além de muita física para o desenvolvimento de robôs", conta o estudante.
O colega de equipe, Breno, viajou pela primeira vez de avião para a seletiva da capital federal e já sonha em se tornar um profissional de Tecnologia da Informação (TI), voltado para desenvolvimento de softwares.
"Nunca tive contato com a robótica, nem programação, nada. Entrei firme no curso e a gente foi montando robôs. Passamos. Estou realizado. Só de eu estar aqui, já é um sonho".
Competição nacional
O festival de robótica reuniu, nesse sábado (15), 2,5 mil estudantes divididos entre 270 equipes das cinco regiões do país. Além das escolas do Sesi, 23 escolas públicas competiram nesta sétima edição.
A disputa em Brasília marcou o encerramento da temporada nacional e classificou dez equipes para a competição internacional, em abril, em três categorias da First [sigla em inglês para For Inspiration and Recognition of Science and Technology] de diferentes faixas etárias:
três equipes da First Lego League Challenge (FLLC);
três da First Tech Challenge (FTC); e
quatro da First Robotics Competition (FRC).
As três modalidades de robótica envolvem robôs de diversos portes, desde as pequenas máquinas feitas de blocos plásticos de montar até robôs de 1,2m de altura, que pesam 56kg, programados para cumprir desafios com grandes bolas.
Legado
Gerente do Sesi
Desde 2012, mais de 45 mil estudantes participaram dos torneios First no Brasil. O país acumula mais de 110 prêmios internacionais apenas na modalidade iniciante (FLLC).
A gerente do Centro Serviço Social da Indústria (Sesi) de Formação e Educação, Kátia Marangon, avalia que a robótica educacional extrapola as arenas do evento, porque os estudantes têm a iniciação científica, contato com a inteligência artificial (I.A.) e também trabalham em equipe.
“Um estudante que passou pela robótica tem um diferencial quando chega ao mundo do trabalho. A gente fala muito dessa educação para o século XXI, com as muitas habilidades que esses jovens estão desenvolvendo aqui: muita tecnologia, pensamento computacional e de inteligência artificial, além de próprias competências sócio-emocionais. Isso tudo são as habilidades requeridas pelo mundo do trabalho agora”.
“O maior legado da robótica é a gente poder mostrar que é possível aprender de uma forma mais prazerosa, de uma forma real, resolvendo na prática problemas ali de uma comunidade”, disse a gerente do Sesi, Katia Marangon.
João Silva é árbitro do torneio de robótica. Ele já esteve do outro lado, entre os competidores, quando ainda era criança no Guarujá (SP). Para ele, trabalhar como voluntário é uma forma de retribuir os ensinamentos levando ciência e tecnologia para essa criançada.
“O profissional que eu sou na empresa onde trabalho é graças à robótica e ao poder transformador dele e destes torneios, que impactam mais e mais jovens e adolescentes para se tornarem adultos bons em matemática, ciência, tecnologia e I.A.”
Competidores
Os competidores do festival nacional têm entre 9 e 19 anos e são estudantes dos ensinos fundamental e médio de escolas públicas e privadas.
Estudante Flávio Expedito
Um deles é Flávio Expedito Medeiros, de 13 anos, integrante da equipe Cyber Hacks. Mesmo com a pouca idade, esta é a segunda participação do morador de Curitiba no torneio nacional na categoria First Lego League Challenge (FLLC). O menino classifica as provas como bem desafiadoras porque é preciso percorrer um trajeto com robôs feitos de Lego.
"É inspirador para mim. Nunca pensei na minha vida inteira que eu iria fazer algo tão desafiante assim. Aqui, trabalho muito a minha criatividade”.
Paralelo às três categorias, ocorreu o torneio Sesi F1 in Schools, que desafia estudantes a desenvolverem escuderias de Fórmula 1. A estudante Manoela Luzini Gonçalves, de 16 anos, está entre os seis pilotos da equipe de Goiânia e precisa aliar reflexos rápidos e concentração, na maior velocidade possível das miniaturas de carrinhos de corrida.
“Estou feliz só de estar aqui. Já sou uma vencedora mesmo que a gente não ganhe nenhuma competição”.
Manoela explicou que quatro pilares são desenvolvidos durante o projeto: engenharia, para a construção e montagem do veículo; gestão de projetos, para organização da equipe; comunicação entre as áreas; e promoção da marca e dos patrocinadores.
“É um grande desafio, porque são muitas áreas que a gente tem que interconectar”.
Projetos
Além das competições, divididas em dois andares dos locais, o público pôde conferir os experimentos campeões com robôs das etapas estaduais que classificaram as equipes para competir em Brasília.
Uma destas invenções é a prancha guiada por um controle remoto, criada pela equipe de Araguaína (TO), para resgatar pessoas em situação de afogamento até que o salva-vidas as alcance. Os integrantes do grupo chamaram a atenção dos visitantes por estarem fantasiados de personagens da turma do mexicano Chaves. Sem acanhamento, eles apresentaram o protótipo de baixo custo, mais acessível, sobretudo, para comunidades do interior do país.
“Nosso objetivo é levar essa solução a todos e espalhar ainda mais o nosso projeto, para mostrarmos que a robótica não é feita por máquinas gigantes e projetos extravagantes, mas também está nos pequenos projetos”, explicou o líder da equipe tocantinense, Liz Ester Rodrigues, de 15 anos.
Público
Além dos participantes, o público também pôde visitar de graça as arenas de competições da robótica. A organização do evento calculou que cerca de 15 mil pessoas passaram pelo local.
Os visitantes ainda puderam participar de oficinas educativas: de insetos elétricos e broche de luz, que ajudam a entender o funcionamento e a criação de circuitos elétricos; carrinho a motor, que convidou o público a montar um carrinho com palitos de sorvete; um motor e rodinhas de papelão. Foram 40 vagas por oficina e a inscrição foi feita na hora.
Neste mês de março, o Maranhão receberá um grande espetáculo – aclamado pela crítica e pelo público, além de ser vencedor do Prêmio Shell. “Azira’i – um Musical de Memórias”, escrito por Zahy Tentehar e Duda Rios e interpretado por Zahy, chega a São Luís para duas sessões especiais, no palco do Teatro Sesc Napoleão Ewerton, no Jardim Renascença, em São Luís, nos dias 21 e 22 desre mês.
Um solo autobiográfico, a peça conta a comovente história da relação entre Zahy e sua mãe Azira’i Tentehar, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, que ocupou a categoria dos Pajés Supremos dos povos Tentehar, destinado apenas a pessoas com sabedorias medicinais e espirituais extremamente desenvolvidas.
Ao longo do espetáculo, o público é convidado a mergulhar em uma história de força, amor e ancestralidade ambientado em uma comunidade indígena maranhense. A relação entre mãe e filha se dá num contexto necessariamente conflituoso, em um interior nordestino extremamente patriarcal e em uma cultura tensionada entre a preservação de seus valores ancestrais e a absorção de dinâmicas e mazelas de um sistema de civilização globalizado.
Ao mesmo tempo em que Zahy é a filha escolhida por sua mãe para herdar os dons de pajelança e de comunicação com os Mairas, é também nela que Azira’I descarrega as frustrações de existir num ambiente colonial e opressor. No palco, a atriz alterna cenas em português e, também, em Ze’eng eté, trazendo para o centro da cena o debate sobre os processos de aculturamento aos quais foi submetida.
Com direção de Denise Stutz e Duda Rios, o espetáculo tem direção de produção e produção artística assinadas por Andréa Alves e Leila Maria Moreno, além das projeções do multiartista Batman Zavareze (direção de arte e design gráfico), a cenografia de Mariana Villas-Bôas, os figurinos de Carol Lobato, a iluminação de Ana Luzia Molinari de Simoni e a direção musical de Elísio Freitas.
Em São Luís, a temporada de “Azira’i – um Musical de Memórias”, que conta com classificação indicativa de 12 anos, terá acessibilidade em Libras e audiodescrição, e ocorrerá nos dias 21 de março (sexta-feira), às 20h, e no dia 22 de março (sábado), às 19h.
O musical conta com produção conjunta da Alvoroço Criação e Produção Cultural e Sarau Cultura Brasileira. Os ingressos custam entre R$ 40 (Público geral) e R$ 20 (meia estudantes/Trabalhadores do comércio e funcionários Fecomércio/ Sesc/ Senac), e já estão disponíveis na plataforma Sympla, no endereço: https://www.sympla.com.br/eventos?s=teatro%20sesc%20napole%C3%A3o%20ewerton&tab=eventos.
Azira’i
O espetáculo narra a história de Azira’I, uma mulher muito forte, sábia e herdeira de saberes ancestrais, que tinha um conhecimento profundo sobre a terra e a medicina da floresta e realizava tratamentos com plantas e ervas e também promovia a cura por meio de seu canto. A sua voz e a de Zahy são, inclusive, muito parecidas, como todos que as conheceram observam. As semelhanças, o legado e os conflitos dessas duas mulheres estão na origem de todo este trabalho.
Em cena, Zahy Tentehar, filha de Azira’I, canta tanto canções originais compostas por ela e por parceiros como Marcelo Caldi, assim como entoa alguns cânticos improvisados, um dom que também herdou de sua mãe. Azira’I faleceu em 2021, ao longo do processo de criação da montagem, que começa em 2019, quando Zahy e Duda Rios se conhecem no elenco da montagem de ‘Macunaíma’, dirigida por Bia Lessa e encenada pela companhia Barca dos Corações Partidos.
Nas conversas de camarim, Eduardo se surpreendia com o que Zahy contava – ela mesmo se define como uma contadora de histórias – e surgiu ali mesmo a semente da criação de um espetáculo a partir daquela vivência em um contexto tão próximo, mas também tão distante.
“Azira’I” nasce ainda do desejo que Zahy tinha de contar as suas próprias histórias, sem necessariamente ter que virar porta-voz de uma causa, além de poder mostrar uma visão absolutamente não romantizada dos povos indígenas. “É muito libertador não precisar ter que representar uma pauta o tempo todo. Quero poder contar a minha história, de uma pessoa que saiu de sua reserva, foi para a cidade, aprendeu uma outra língua e teve uma relação complexa com a mãe”, reflete Zahy.
Zahy Tentehar
Zahy Tentehar é uma artivista, indígena, do povo Tentehara Guajajara, natural da Aldeia Colônia, localizada na reserva indígena Cana Brava, no Maranhão. Filha da pajé Azira e mãe de Kwarahy, é atriz e já vivenciou experiências como fotógrafa, cantora e performer.
Aos nove anos, passou a dividir sua vida entre a aldeia Colônia e o município de Barra do Corda, devido aos estudos. Aos 19, se mudou para a cidade do Rio de Janeiro, onde viveu na Aldeia Maracanã e iniciou a sua carreira artística. Viveu o papel de Domingas na minissérie “Dois Irmãos” (2017), exibida na Rede Globo, com direção de Luiz Fernando Carvalho.
Ganhou destaque nas séries “IndependênciaS” (TV Cultura/2022) e Cidade Invisível (Netflix/2021), e em 2024, participou de duas importantes produções na Rede Globo: integrou o elenco da novela “No Rancho Fundo”, com a personagem Paula Alexandre; e participou do especial “Falas da Terra”, exibido em abril.
Criou, roteirizou e atuou na videoperformance “Aiku’è” (R-existo), em parceria com Mariana Villas-Boas, selecionado para o Kannibal Fest, em Berlim e para o Festival de Curtas do Rio. Realizou a exposição fotográfica “Olhar Meu”, no Parque Lage, em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas.
Entre seus outros trabalhos, estão os filmes: “Não Devore Meu Coração”, de Felipe Bragança; “Semente Exterminadora”, de Pedro Neves Marques; “Zahy – Uma Fábula Sobre a Aldeia Maracanã”, de Felipe Bragança; e “Estranhos Rumores do Jardim Fantástico”, de Fábio Baldo.
Serviço
O quê: o espetáculo “Azira’i - Um Musical de Memórias”, interpretado por Zahy Tentehar;
Quando: nos dias 21 (às 20h) e 22 (às 19h) de março;
Onde: no Teatro Sesc Napoleão Ewerton, no Jardim Renascença, em São Luís;