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Pelos Correios chegou-me singelo documento – “Certificado de Reconhecimento” – emitido, assinado e enviado pelo representante do Unicef no Brasil, Sr. Youssouf Abdel-Jeijl. Ele está há quase 30 anos no Unicef e trabalhou  em países como Estados Unidos e, no Oriente Médio, Burundi, Gabão, Jordânia...

Mestre em Economia e Desenvolvimento pela Universidade de Cambridge (Reino Unido) e mestre em Administração Governamental pela Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos), Youssouf Ould Abdel-Jeijl nasceu na República da Mauritânia (África), país de um outro mauritano que conheci, o Idoumou Abderrahmane, filho do à época vice-presidente daquela República e que estava no Brasil desenvolvendo conhecimentos e habilidades militares na Marinha do Brasil. (Idoumou é hoje bem-sucedido executivo de empresa de turismo que ele fundou na Mauritânia. Fui apresentado a ele por nosso amigo comum Junio Lima Dantas, um brasileiro que há décadas é um destacado empreendedor e inovador na área de Informática e Tecnologia, criador e CEO de empresas como ITAG Paraguay, ICON Technologies e Zadock Technology, além de diretor da Câmara de Comércio Paraguai-Brasil e líder do Comitê de Atração de Investimentos e Relações Internacionais do Club de Executivos do Paraguai).

Fluente em árabe, inglês, francês e espanhol e já com algum domínio do português, o Sr. Youssouf precisou de uma cartinha de menos de meia dúzia de parágrafos e 23 linhas para expressar “uma demonstração do nosso reconhecimento ao seu apoio e generosa contribuição”. A correspondência convida para “celebrar esse marco juntos!” e, com “satisfação”, comunica “que você [eu] vem ajudando a mudar algumas realidades muito difíceis no Brasil e no mundo”. Refere-se às “ações e projetos que garantem educação, saúde e proteção para meninos e meninas, e que chegam aos locais mais distantes” – no caso do Brasil, até agora, uns 80% dos municípios da Amazônia e do Semiárido e em mais 15 capitais.

Como sabe você, Unicef é a sigla inglesa para Fundo das Nações Unidas para a Infância, a agência da ONU (Organização das Nações Unidas), sediada em Nova York (Estados Unidos), que é responsável pelo fornecimento de recursos humanitários e de desenvolvimento que há 78 anos ajudam crianças e adolescentes em 192 países, praticamente o mundo todo.

Mas não apenas crianças e adolescentes – até porque, antes das meninas e dos meninos abandonados, desassistidos, sofridos, houve ou há famílias vítimas de semelhante abandono, desassistência, sofrimento..

Assim, ou por isso, o Unicef, em diversas atividades, também cuida de mães doentes, desnutridas – afinal, são elas, mães, as principais responsáveis pela condução das crianças rumo a um futuro no mínimo não indigno. Portanto, mãe saudável, alimentada, é sinônimo de filho mais bem cuidado.

No 11 de dezembro deste 2024 o Unicef completou 78 anos. Fundado em 1946, a agência caminha para, daqui a dois anos, completar 80 anos fazendo a melhor diferença para pessoas e, por via de consequência, para o mundo em que todos habitamos – mundo que, ainda e lamentavelmente, aguarda por uma maior partilha de muitos para uma melhor alimentação e saúde de crianças e mães em todo o planeta.

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Essa inesperada distinção do Unicef trouxe-me à memória o que, também voluntariamente, eu vi no Ceará. Trabalhei e morei anos em Fortaleza. Eu autorizei que todo mês fosse descontada de meu pagamento uma contribuição para o Instituto de Prevenção à Desnutrição e Excepcionalidade (IPREDE), uma ONG cearense criada em 1986, na capital cearense.

Os recursos dos doadores do IPREDE eram utilizados para, à semelhança das atividades do Unicef, “a saúde e o desenvolvimento da criança e da mulher, bem como a assistência alimentar dentro e fora da nossa casa”.

Em meados da década de 1990, a modelo e apresentadora de TV Xuxa Meneghel esteve pelo menos duas ou três vezes em Fortaleza. Foram tiradas fotos dela com criança macérrima e, tempos depois, com essa mesma criança muito bem nutrida. Como afirma em poema Gonçalves Dias: “Meninos, eu vi!”

Uma das receitas ou um dos ingredientes milagrosos da época, que recuperou a saúde e deu corpo à anterior criança esquelética, teria sido o aproveitamento de cascas de ovos e de bananas, que integrariam um composto alimentício tido como “santo remédio”. Como o sabem os “mais velhos”, se cascas são camadas que envolvem e protegem vegetais e ovos e as sementes trazem grávidas em si a futura planta e seus frutos, disso deduz-se que cascas e sementes são fortes, resistentes, ricas nutricionalmente. Deste modo, por que não aproveitá-las e a essa sua força alimentar, utilizando-as nas devidas maneiras e com os devidos modos e cuidados que os especialistas recomendarem?

Da mesma forma, anos e anos depois, vi uma irmã missionária e médica italiana elaborar uma “mistura” dessas “coisas” que em geral jogamos fora, não aproveitamos na cozinha. Foi em Imperatriz, no Maranhão. Como a missionária e médica não teve, segundo contavam, revalidado seu diploma de Medicina, eu e alguns poucos nos cotizamos para mensalmente assumir o custo da mensalidade de curso superior de Farmácia e Bioquímica que a religiosa e médica italiana estava fazendo, para que, após formada, ela tivesse cobertura científica, técnica e, sobretudo, legal para continuar formulando os compostos alimentares e até assinar receitas, no limite da nova formação acadêmica.

A esse meu voluntarismo pessoal em diversos, mas, em especial, nesses três casos – Fortaleza, Imperatriz, Caxias –, somam-se meu inconformismo, minha perplexidade, a não aceitação dos gigantescos, obscenos, indesculpáveis números do desperdício de alimentos, no mundo e no Brasil.

Em nosso País, a ONU afirma que cada brasileiro joga fora, por ano, uma média de 41 kg de comida  – portanto, quando chega 31 de dezembro, o Brasil inteiro jogou no lixo injustificáveis 27 milhões de toneladas de alimentos, diz o portal G1, do Grupo Globo, em setembro deste 2024.

Citando dados do IBGE (Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística, órgão do Governo Federal), o “site” Food Safety revelava, em julho de 2023, que o Brasil desperdiçava 46 milhões de toneladas de alimentos, o correspondente à terça parte (30%) de tudo o que se produzia no País. Em valor da época, esse desperdício somava todo ano estratosféricos R$ 61 bilhões e 300 milhões e nos colocava entre os dez países que mais joga comida fora. O “site” do Senado Federal, em setembro de 2024, também confirma esses números e valor.

Com essa criminosa imoralidade de os políticos bandidos e os bandidos políticos e Poderes instituídos estarem comendo o País por um lado, mais o desperdício arrombando as pessoas pelo outro, o que, ao final, vai sobrar?

Se as crianças são o futuro do País, quem vai alimentar – adequadamente – esse futuro?

Alguém aí está preocupado com o leite das crianças?

* EDMILSON SANCHES

– Boas Festas. Bom 2025

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É bom completar um ano, uma missão.

Estar em Paz e com Saúde.

É bom estar e sentir-se bem.

BBB – Ser BOM. Fazer o BEM. Contemplar o BELO.

Dever a bancos, mas não dever à consciência.

Ser movido a desafio, e não a dinheiro.

Estar na sede do poder, mas não ter sede dele.

Não prejudicar, se não puder ajudar.

Não roubar. Não chantagear. Não iludir.

Abraçar, não apunhalar.

Estender as mãos para auxiliar, não para extorquir.

Elevar, ao invés de fazer cair.

Não buscar fora, no mundo, o que só se acha dentro do próprio ser.

Sobreviver após a vida e, ao ser lembrado, sê-lo com a lágrima, não com o cuspe. Com reconhecimento, não com desmerecimento.

Ser lembrado com saudade. Uma saudade que até possa ser brindada com um sorriso que imortaliza, não com o só riso que ironiza. Uma saudade que diga que valeu a pena a nossa existência.

Assumir, doce e espontaneamente, a ingenuidade. E não se conformar com a esperteza, a malícia, a corrupção, a violência, o desrespeito, que só escavam para si côvados de cova.

Que bom enfrentar as dificuldades – e que ótimo não criá-las para os outros.

Ser bom. Se possível, ser com.

Ser humilde, mas não humilhado. Ousado, não usado.

Incomodar-se, mas não se acomodar.

Ser um ser de esperança; portanto, um ser de inquietudes e angústias sadias.

Ser fúria e ser forte ante a violência menor; mas ser manso e criança ante o Mistério Maior.

Silenciar, quando recomendável; mas gritar, bramir, bradar, rugir, quando indispensável.

Reconhecer-se feito à imagem e à semelhança de Quem o fez, embora sem a perfeição do Bem/Feitor.

Ter consciência de que é filho de Deus, não o próprio Deus.

Lembra-te, ó, ser humano: Tu não te tornarás pó  --  tu ÉS pó.

És barro, és berro, tens birra, és borra – mas não burro...

És pá

És pé.

És pó.

A terra que violentas é tua mãe. O solo que pisas é teu irmão. Tu és homem. Tu és húmus.

Entretanto, o essencial de ti não veio com o barro. Veio com o toque cálido dos lábios soprando o sopro úmido e vívido de Deus.

Tu és a tua alma. E ela é só o que tu tens – para, espera-se, devolvê-la, ao final de tudo, a Deus.

Adeus.

* EDMILSON SANCHES

Ipojuca (PE), 26/10/2023 - A bióloga Janaína Bumbeer, doutora em Ecologia e Conservação Marinha, visita recifes de corais em jangada na praia de Porto de Galinhas. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Portaria do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) publicada nesta segunda-feira (30) no Diário Oficial da União define o cronograma de feriados nacionais e de pontos facultativos do ano de 2025.

Em nota, a pasta informou que as datas deverão ser cumpridas nos órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, sem comprometimento de atividades públicas consideradas serviços essenciais à população.

A portaria estabelece ainda que feriados em comemoração à data magna de Estados, fixadas em lei estadual, e os dias de início e término de ano de centenário de fundação de municípios, declarados em lei municipal, serão observados por repartições da administração pública federal direta, autárquica e fundacional nas respectivas localidades.

“Dias de guarda dos credos e religiões não relacionados na portaria poderão ser compensados desde que previamente autorizados pelo responsável pela unidade administrativa de exercício do servidor”, destacou o ministério no comunicado.

“Não será permitido aos órgãos e entidades integrantes do Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal antecipar ponto facultativo em discordância com o que dispõe a portaria. Também está vedado adotar ponto facultativo estabelecido pela legislação estadual, municipal ou distrital, ressalvados os feriados em comemoração à data magna do estado.”

Veja a lista com os 18 feriados nacionais e pontos facultativos de 2025:

- 1º de janeiro (quarta-feira) -  Confraternização Universal (feriado nacional);

- 3 de março (segunda-feira) - Carnaval (ponto facultativo);

- 4 de março (terça-feira) - Carnaval (ponto facultativo);

- 5 de março - Quarta-Feira de Cinzas (ponto facultativo até as 14h);

- 18 de abril (sexta-feira) - Paixão de Cristo (feriado nacional);

- 21 de abril (segunda-feira) - Tiradentes (feriado nacional);

- 1º de maio (quinta-feira) - Dia Mundial do Trabalho (feriado nacional);

- 19 de junho (quinta-feira) - Corpus Christi (ponto facultativo);

- 20 de junho (sexta-feira) - ponto facultativo;

- 7 de setembro (domingo) - Independência do Brasil (feriado nacional);

- 12 de outubro (domingo) - Nossa Senhora Aparecida (feriado nacional);

- 28 de outubro (terça-feira) - Dia do Servidor Público Federal (ponto facultativo), a ser comemorado dia 27;

- 2 de novembro (domingo) - Finados (feriado nacional);

- 15 de novembro (sábado) - Proclamação da República (feriado nacional);

- 20 de novembro (quinta-feira) - Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (feriado nacional);

- 24 de dezembro (quarta-feira), - véspera de Natal (ponto facultativo após as 13h);

- 25 de dezembro (quinta-feira) - Natal (feriado nacional);

- 31 de dezembro (quarta-feira) - Véspera de ano novo (ponto facultativo após as 13h).

(Fonte: Agência Brasil)

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O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) autorizou, na última quinta-feira (26), a nomeação de 160 novos servidores aprovados em concurso realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Os 82 pesquisadores e 78 tecnologistas serão distribuídos entre diferentes unidades de pesquisa do ministério. A autorização foi publicada no Diário Oficial da União da última sexta-feira (27), por meio da Portaria nº 9.727.

Em nota, a pasta explicou que as contratações estão condicionadas à existência de vagas na data da nomeação e à declaração de adequação orçamentária e financeira por parte do ordenador de despesas. Caberá ao MCTI verificar as condições e publicar as normas necessárias para a nomeação.

(Fonte: Agência Brasil)

– A Imperatriz Teresa Cristina morreu no dia 28/12, em 1889

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Há muito venho resistindo a considerar a alternativa de origem do nome da capital do estado do Piauí como sendo um “cruzamento” das cinco primeiras letras de “Teresa” e as três últimas de “Cristina” – uma homenagem a Teresa Cristina de Bourbon, esposa de Dom Pedro 2º e terceira imperatriz do Brasil, que morreu em 28 de dezembro de 1889, em Porto, Portugal.

Mas Teresa Cristina havia nascido, a 14 de março de 1822, em Nápoles, hoje a terceira maior cidade italiana. Naquela terceira década dos anos 1800, Nápoles integrava o Reino das Duas Sicílias, que durou até março de 1861, quando fez parte da unificação dos vários reinos em um só, o Reino da Itália. O nome completo da inteligente, humana e dedicada imperatriz, chamada “Mãe dos Brasileiros”, é: Teresa Cristina Maria Josefa Gaspar Baltasar Melchior Januária Rosalía Lúcia Francisca de Assis Isabel Francisca de Pádua Donata Bonosa Andréia de Avelino Rita Liutgarda Gertrude Venância Tadea Spiridione Roca Matilde de Bourbon-Duas Sicílias. Não estranhe; nomes nobiliárquicos eram/são assim, desse jeitinho, para “mostrar” que os nobres eram “especiais” e para incluir nomes das famílias/casas reais de que provinham e, pela proximidade dos nobres com a Igreja Católica, para destacar nomes de santos e anjos.

Quanto ao nome “Teresina” ser uma composição de sílabas, hoje talvez construções assim não se estranhassem. Vejam-se assemelhados exemplos (deles nem sempre exemplares...) como os nomes de Paragominas (de “Pará”, “Goiás” e “Minas Gerais”), Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), Piocerá (Piauí e Ceará) e Piocerão (Piauí, Ceará e Maranhão).

Na Internet, encontram-se diversos “sites” que registram, epidermicamente, a etimologia de “Teresina” ora como a junção de “Teresa” + “Cristina”, ora considerando apenas o primeiro prenome da imperatriz, “Teresa”, em sua forma diminutiva em italiano, a língua natal da nobre senhora.

À falta, por enquanto, de informação mais aprofundada, fiz a opção que afirma ser o politônimo “Teresina” uma forma diminutiva do primeiro nome de Sua Majestade Teresa Cristina, que, ao que se registra aqui e acolá, teria intercedido junto a seu marido o Imperador para que, como teria ocorrido com o município de Imperatriz, também a capital do Piauí tivesse “sacramentada” sua criação ou instalação. Lembre-se que tanto Imperatriz, no Maranhão, quanto a piauiense Teresina foram oficialmente fundadas quase ao mesmo tempo – Imperatriz em julho e Teresina em agosto de 1852.

Assim, e não é o caso, está patente que os nomes de Imperatriz (MA) e Teresina (PI)  vêm, o primeiro, do título majestático de Teresa Cristina, e, o segundo, do primeiro prenome (antropônimo) “Teresa”.

E por que, salvo melhor juízo e até prova em contrário, opto por acreditar (e, como não tenho compromisso com o erro, estou pronto a admitir a alternativa, desde que fundamentada, convincente), repito, por que opto por acreditar que o nome da capital piauiense, “Teresina”, é o diminutivo italiano de Teresa e não a construção com elementos silábicos e semissilábicos dos prenomes “Teresa” e “Cristina”?

Ocorre que, para a época, o “nível” era outro; o “pessoal” (da elite) era mais clássico, senão “classudo”, mais conservador, mais refinado, essas coisas imperiais (e imperiosas)...

Não dá para se imaginar – embora imaginação possa tudo – o à época jovem Conselheiro Saraiva (27 anos), como presidente da Província do Piauí, elaborando um nome assim. Advogado, futuro primeiro-ministro, vejo-o, com possível futuro assentimento da Imperatriz, lembrando-se (ou se informando sobre isso) de que, na língua italiana, o sufixo feminino “-ina” traz, entre outros usos, o carinhoso artifício de, posposto a um antropônimo, este novo termo  passar a significar “filho/filha de”.

Ora, é uma adequada / conveniente forma de agradecer e homenagear uma autoridade pela decisiva “participação” na criação e existência de uma cidade, logo uma capital – como ocorreria depois com Teresópolis (que é “cidade de Teresa” pelos dois elementos gregos do nome) e com a catarinense “Santo Amaro da Imperatriz”, onde a preposição “de”, como elemento de ligação entre dois substantivos (o hierônimo “Santo Amaro” e o título nobiliárquico “Imperatriz”), confere sentido de posse ou participação.

Originado do latim “-inus”, o sufixo feminino “-ina”, como explica Ciro Mioranza (in “Dicionário de Nomes Latinos” (vol. 1, 1997), é usado para formação de adjetivo (“divino”, “caprino”), designativo de habitante (“florentino”, “feltrino”), profissão (“postino” / carteiro; “arrotino” / amolador, afiador). Também, para comunicar que é pai/mãe de uma criança, o genitor ou a genitora dá à criança seu nome, acrescido do sufixo que demarca a ascendência ou descendência, por exemplo: “Paulino” ou “Paulina” é filho de Paulo ou Paula.

Assim, acho que esse quase latinório aí de riba parece ser a justificativa mais adequada e até mais convincente para o arguto, destemido e reconhecido administrador José Antônio Saraiva (baiano nascido em Santo Amaro, em 1º de maio de 1823, e falecido em Salvador, em 21 de julho de 1895). Seria mais conveniente dizer à Sua Majestade a Imperatriz que, com toda humildade ante a grandeza imperial, Teresina era a mais nova filha da Imperatriz...

Vale lembrar que a Imperatriz Teresa Cristina, sobretudo em seus diários, escrevia mais em italiano. Em seu livro “Teresa Cristina de Bourbon: Uma imperatriz Napolitana nos Trópicos – 1843/1889” (Rio de Janeiro, 2014), Aniello Angelo Avella escreve: “Do ponto de vista linguístico, o uso do italiano nos diários permanece dominante até os últimos anos de sua vida [da Imperatriz Teresa Cristina], ainda que alternando com o francês e o português [...]” (p. 94). Adiante, Avella sublinha: “[...] Teresa Cristina deixou na cultura de sua nova pátria [Brasil] um inconfundível e decisivo marco de italianidade” (p. 102).

Essas citações, embora “en passant”, levam circunstancialmente a acreditar em uma “solução” mais “italiana”, mais linguística que artificial, em relação à origem do nome “Teresina”. “Petrópolis” e “Teresópolis” são cidades com o nome do casal – mas Teresina, a valer a formação linguística e toponímica, é filha de Teresa. E ser filha, é outro papo... Uma honra, até mesmo para uma Majestade...

* * *

Em relação à cidade de Teresina, comete-se o equívoco de definir que o epíteto "Cidade Verde", que para ela atribuiu o escritor caxiense Coelho Netto, seria motivado pela arborização da capital. Não. Nessa expressão o adjetivo "verde" faz referência ao tempo de existência da cidade: Teresina era uma cidade ainda jovem à época em que o grande polígrafo maranhense assim a chamou.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:

Teresina à noite (ponte sobre o Rio Poty, por onde a cidade começou) e a Imperatriz Teresa Cristina.

O Caminho de Santiago como nunca antes visto e escrito. A partir da França, aos pés dos Pireneus, a rota mais desafiadora, os encontros mais improváveis.

Um homem e suas dúvidas. As aflições. Os momentos em que realidade e sobrenatural se confundem. Reflexões e lições. Amor, dor e esperança no diálogo com outros peregrinos. No fim da terra, o fim das angústias e o melhor encontro: consigo mesmo.

* * *

Este livro vai revelar a você dois caminhos: um que leva a Santiago de Compostela; o outro, que conduz ao coração de um homem.

Todo ser humano que sai à procura de alguma coisa já a carrega dentro de si. Por isso que uma busca não é uma busca -- é uma revelação. Como aconteceu a Cristo, que muito pregou – mas só após a cruz fez a ascensão. Ou com Buda, que tanto caminhou – mas sentado é que chegou à iluminação.

A imagem da busca é a de alguém que segue um caminho. A realidade da busca é a de um caminho que prossegue em alguém.

Mas os caminhos – de chão, de pedra..., existentes ou a se criarem – são necessários. Pois o que eles são, feitos em terra, e como eles estão, delineados em nossa mente, contribuem fortemente para sensibilizar, energizar e motivar o ser para a jornada.

Os bons caminhos raramente são fáceis. No percurso deles há sempre obstáculos – geralmente muitos, frequentemente grandes. O das Índias, tinha o Atlântico. O de Ícaro, o Sol. O de Drummond, a pedra.

O caminho de Vieira – o Luiz, professor, não o Antônio, padre – tinha tudo isso e muito mais. Para Luiz Vieira, autor deste “O Caminho das Estrelas”, o problema não era o oceano (que ele venceu de avião), nem o sol (que chapéu e protetor anteparavam) ou a multidão de pedras (de que se desviava). O problema eram os “outros” problemas: o desconhecido, a inexperiência, o(s) idioma(s), os costumes e até o antinatural, quando não o sobrenatural... Sem falar nas ansiedades, nas angústias, nas inquietações, no autoquestionamento (tipo “O que é que eu estou fazendo aqui?”). E o que dizer dos sonhos e pesadelos e das estranhas situações ou sensações de irrealidades e pararrealidades, quando não se sabe se se está desperto ou se se delira, quando não se sabe se pessoas e animais, ambientes e cenários são coisas reais dentro de um sonho ou se são fantasias e fantasmas dentro de uma realidade...

“Nenhum homem é feliz sem um delírio de algum tipo. Os delírios são tão necessários para a nossa felicidade quanto a realidade”, reconhecia Christian Nestell Bovee, escritor americano. Não creio que Luiz Vieira delirava quando, após ler um livro sobre o Caminho de Santiago, prometeu-se a si mesmo percorrê-lo – e, agora, muda da condição de leitor para a de autor de uma obra compostelana.

Vieira – ele mesmo escreve – queria aventura. Outros fazem o Caminho pela História, pela Cultura, pela Mística, razões bem mais humanistas do que as humanas esperanças e o pagamento de promessas ligadas a dinheiro e poder, saúde e prazer; e bem mais pias que as caridosas – e caras – indulgências com que, desde o século III “et multa saecula”, pecadores ganhavam oportunidade de reparar os males advindos de seus pecados para, lá adiante, limpar a própria alma e ganhar um terrenozinho no bem loteado Céu daqueles idos...

Se era aventura o que inicialmente desejava Luiz Vieira, ele recebeu muito mais. Parte desses ganhos ele guarda consigo; outra parte, e não é pouco, ele a divide aqui com os leitores. Divide sua ansiedade inicial, feliz, e os iniciais “tropeços” de primeira viagem, porém firme no propósito, empedernido igual a “burro xucro”.

O livro conduz o leitor a vivenciar o Caminho a partir do frio de zero grau nas montanhas franco-espanholas; a caminhar toda Zubire, uma cidade de só duas ruas; a ver/ouvir o burburinho da trimilenária Pamplona.

Mais adiante, ficamos sabendo da pessoa do autor e da pessoa de outras pessoas. Do autor, seus sonhos e sofrimentos; de outros, saberemos de “Seu” Franco e sua sabedoria franca, seu sorriso franco. Saberemos de “Seu” Paulo, fadiga e fome, pão e palavras.

À medida que caminha, Luiz Vieira nos encaminha, empresta-nos seus olhos, entreabre a mente, apresenta-nos de mais de perto quem ele viu, conheceu, conversou pelo Caminho: por exemplo, nos deixa saber, em Torres del Rio, de uma bruxa no quarto; da dor e redenção nas histórias de Maria, 80 anos; de uma neoamiga neozelandesa.

Em Azofra, apresenta-nos melancolia, desânimo... e Papai Noel. Mostra-nos os pés muito feridos e relata uma cura inesperada. O encontro com um espanhol bom de prosa. A catedral de Burgos, onde Luiz concorda com a beleza da igreja mas, cabreiro, discorda do “pay to pray” (pagar para rezar).

À medida que caminha, o autor mais no encaminha. Quando seus olhos perscrutam o Caminho, eles nos dizem de natureza e vastidão, beleza e solidão. Quando passa por lugares e se assenta em restaurantes e bares, quando faz pouso em beliche coletivo ou repouso em cama individual, quando se abanca em bancos de praças e ruas... de tudo isso dá conta o olhar vieirano.

Mas o radar humano do autor gosta mesmo é de emitir ondas emocionais, permeáveis às cargas de energia e sensibilidade emanadas de gente. É como se Luiz Vieira fizesse coro com Públio Terêncio Afro, poeta e dramaturgo da Roma de 22 séculos atrás: “Sou humano, e nada do que é humano me é estranho...”

E é nas histórias humanas que o autor vai (se) desentranhando e “desestranhando”. Luiz Vieira se junta a outro ser para com ele sentir e para dele saber. E para nos contar colorida e doloridamente da história de Lorenzo, em León, onde o autor vivenciou a mendicância e por horas, entre uma esmola e outra, ouviu relatos de uma vítima de crises econômicas além-Atlântico, crises que teimam em tornar coletivas as dores que são vividas individualmente, cotidianamente.

Outros relatos levam a experiências com personagens misteriosos (que nem a enigmática Ana, com seus exercícios e lições) e até o que não é “persona”, como o estranho cão no caminho de Palas de Rei.

Particularmente sensível à beleza, Luiz Vieira se deixa levar e enlevar pelo que lhe entra pelas vistas como imagens e lhe sai pelos dedos em palavras: a simplicidade do quarto e catre onde ele dormiu e onde o santo de Assis pode ter estado; o castelo de Gaudí, de 120 anos; a tradição do ritual da queimada; e o alumbramento com a “imponência” da catedral de Santiago de Compostela, onde abraços se deram e lágrimas se derramaram ao som de hinos e cheiro de incenso.

*

Este livro nos leva, literalmente, ao fim do mundo – como o acreditavam os viventes do século XV, tanto que deram o nome de Finisterra (“fim da terra”) a um lugar para além de Compostela. O autor foi até lá, e nos levou a esse fim – que ele não é de deixar nada pelo meio do caminho...

Há muito se sabe que nem todo caminho leva a Roma. Diversos levam a Jerusalém e alguns poucos verdadeiramente levam à maior das distâncias e ao mais desconhecido dos destinos: o interior de si mesmo.

A partir de um caminho exterior, Luiz Vieira fez sua jornada mais íntima. E chegou à Galícia, a Compostela, por uma das rotas mais desafiadoras, oitocentos quilômetros a pé, começando na França, nas faldas da cordilheira dos gelados Pireneus.

Não são muitos os caminhos que levam a Santiago de Compostela.

O mais novo deles é este livro.

Mais novo – e melhor.

Deixe-se levar...

* EDMILSON SANCHES

(*) Prefácio de Edmilson Sanches ao livro “O CAMINHO DAS ESTRELAS - Mistérios, Aventuras e Aprendizados no Caminho de Santiago de Compostela”, de Luiz Vieira, professor de Filosofia, ex-secretário de Educação de Parauapebas - PA, também autor de “O Escorpião e a Borboleta”. O livro “O Caminho das Estrelas” foi publicado pela Editora Viseu, do estado do Paraná.

Foto:

O autor, Luiz Vieira, e sua obra

A LISTA

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Sim, “A Lista”.

É título de filme; aliás, de mais de um.

É título de livro; aliás, de mais de um.

Mas, neste caso, é nome de uma peça teatral, para a qual uma música de mesmo nome foi feita: "A Lista".

Em 2024 a música "A Lista", do cantor e compositor carioca Oswaldo Montenegro, completou 25 anos. "A Lista" é de 1999, era parte de uma peça de teatro e só dois anos depois, em 2001, Montenegro a lançou em disco – que também recebeu o nome de "A Lista".

A letra de "A Lista" sugere que se faça uma relação de amigos de ontem e de hoje;

... de sonhos, amores, "coisas" e situações em que nos reconhecemos (ou não mais);

... de mistérios que se queriam expostos e segredos que se desejavam ocultos;

... de mentiras alheias e próprias;

...  de defeitos pessoais que talvez fossem virtudes;

... de canções antes dispensadas e hoje delas dependentes...

A essa lista se poderiam acrescentar tantos itens:

os encantos que você não se permitiu ter – e os desencantos que não se permitiu chorar;

... as palavras que você ousou calar – e as impropriedades que decidiu falar;

... os barulhos vazios que você fez – e os silêncios repletos que você abafou;

... o olhar sem olhos que você não deu – e a cegueira arregalada que você manifestou;

... o que havia de farto em seus excessos (que você queria ter) – e o que havia de falto no outro (que você não queria ver);

... o coração que você não abriu, permitindo a ele apenas pulsar – e os ouvidos que você fechou ao choro da mulher dolorida, do homem sofrido, da criança faminta, das vidas destintas;

... o ser que você podia ter sido, que queria ser – e que agora, mais uma vez, promete, ou espera, que será;

... o elogio, o reconhecimento, que você poderia ter dito e feito – e não a adulação, incenso, bajulação que você faz de qualquer jeito;

... as palavras amigas, verdadeiras, pronunciadas em público e em particular – e não a falsa oração de despedida, frente a um caixão e um silêncio tumular...

Respeito é atitude para com todos. Amigo é palavra de muitos. Amizade é sentimento de alguns.

Ouça "A Lista", de Oswaldo Montenegro, com participação da cantora, compositora e apresentadora carioca Luiza Possi.

Uma música.

Duas interpretações.

Nenhum defeito.

Somente emoções.

*

Bom 2025.

*EDMILSON SANCHES

*

A LISTA (Oswaldo Montenegro)

Faça uma lista de grandes amigos

Quem você mais via há dez anos atrás

Quantos você ainda vê todo dia?

Quantos você já não encontra mais?

Faça uma lista dos sonhos que tinha

Quantos você desistiu de sonhar?

Quantos amores jurados pra sempre

Quantos você conseguiu preservar?

Onde você ainda se reconhece

Na foto passada ou no espelho de agora?

Hoje é do jeito que achou que seria?

Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava

Quantos você conseguiu entender?

Quantos segredos que você guardava

Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?

Quantas você teve que cometer?

Quantos defeitos sanados com o tempo

Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava

Hoje assovia pra sobreviver?

Quantas pessoas que você amava

Hoje acredita que amam você?

Rio de Janeiro (RJ), 19/12/2024 - O diretor artístico e maestro titular da Orquestra Petrobras Sinfônica, Isaac Karabtchevsky, durante sessão fotográfica para a Agência Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A Orquestra Petrobras Sinfônica tem, nesta sexta-feira (27), às 19h, uma apresentação especial. Vai celebrar na Cinelândia, em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no centro da cidade, os 90 anos do seu diretor artístico e maestro titular Isaac Karabtchevsky. No concerto organizado em parceria pela Petrobras Sinfônica (Opes), o Serviço Social do Comércio (Sesc RJ) e o Theatro Municipal, uma das características mais marcantes da trajetória do maestro estará de volta: a popularização da música clássica.

Durante décadas, era comum vê-lo à frente de orquestras em concertos que reuniam em espaços públicos, como praças e parques, grande quantidade de pessoas que mostravam interação com a música clássica. “Isso é algo totalmente inexplicável. É do ser humano ao se entusiasmar, se agitar. Esse é um conceito básico. A música tem esse poder mágico. Ela exerce sobre o ser humano uma função quase que emanente à sua formação sensorial. Por meio do nosso sistema nervoso, as notas se multiplicam e nos tomam por completo. É uma associação que se deve fazer quando se ouve música. Não conscientemente, é do ser humano ouvir música e se deixar emocionar por ela”, disse Isaac Karabtchevsky em entrevista à Agência Brasil.

A vontade de fazer a popularização da música, segundo o maestro, nasceu na época em que ia a teatros, via o público empolgado com música e pensava que esses espaços só tinham cerca de 2 mil lugares. “Eu pensava: tão pouca gente para arte tão grandiosa e ainda jovem, quase criança, já estava na adolescência, me ocorreu um impulso de que precisávamos fazer alguma coisa para que maior quantidade de público pudesse desfrutar de momentos tão lindos”, afirmou.

Um exemplo de apresentação com grande público ocorreu em 1986, no Projeto Aquarius, criado em 1972 pelo maestro, pelo jornalista Roberto Marinho e pelo gerente de promoções do Jornal O Globo, Péricles de Barros. A intenção era levar a música clássica ao maior número possível de pessoas. A encenação da ópera Aída, de Verdi, levou cerca de 200 mil pessoas à Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio. O elenco tinha 470 artistas e o concerto teve mais de duas horas de duração. Lá o público se acomodou no gramado e ocupou as águas do lago local.

Turnê Orquestra Petrobras Sinfônica - 5 cidades

Para o maestro, a reação positiva da plateia que, em muitos casos, assistia pela primeira vez um concerto é quase um ritual religioso onde as pessoas se movem, agradecem e se entusiasmam pelo canto. “Eles estão intimamente ligados. A origem do ser humano foi sempre por meio de grupos que, em tempos passados, se reuniam como congregações ou irmandades que cantavam em volta do fogo. Acho que a música impregnou a vida das civilizações passadas de uma maneira tão forte quanto hoje”, disse.

Iniciação

O interesse pela música surgiu cedo na vida do maestro, reconhecido como um dos mais relevantes da atualidade. “Eu verifiquei que o primeiro impulso já estava ali há muito tempo, desde que a minha mãe me amamentou e eu já a ouvia cantar. Então, era uma coisa instintiva, natural, orgânica. Ela veio com o primeiro amor, o primeiro carinho da minha mãe, que cantava em russo as canções de ninar. O elo de comunicação entre a matéria espiritual que é a música surgiu, certamente, com a minha mãe e de lá foi um crescendo contínuo”, contou.

Ainda criança, por orientação da mãe que tinha sido cantora mezzo soprano em Kiev, na Ucrânia, começou com aulas de canto com o professor australiano dela e, na sequência, vieram os instrumentos. “A minha mãe foi fundamental nesse processo, porque ela viu um talento natural, que o meu gesto era sempre sintomático com o conteúdo musical. Ela intuiu isso e me pôs imediatamente em contato com o professor de canto dela aqui no Brasil, em São Paulo, que se chamava Fan Krause, um austríaco que imigrou para o Brasil e dava aulas de canto e continuava ensaiando com ela. Eu assistia todos os ensaios e ele começou a me preparar para a futura carreira. Eu fazia exercícios, cantava muito, foi a minha primeira vocação, o meu primeiro ingresso no universo musical percorreu o canto. Devo muito, em primeiro lugar à minha mãe e, em segundo, ao professor que me introduziu nos segredos da música” relatou.

O estudo de canto era sempre com músicas clássicas, em geral Tchaikovsky, e trechos de óperas. “Isso durou mais ou menos até 12 anos de idade, quando ela me fez estudar música mais seriamente. Aí eu tinha professor de teoria e solfejo, nada em relação a regência ainda, mas essa a primeira fase foi a que cristalizou e solidificou minha carreira musical. Foram os primeiros passos, que são sempre tortuosos, até chegar a um ponto em que eu pudesse andar livremente.

O primeiro instrumento foi o piano e depois desenvolveu-se em outros. “O oboé foi uma decorrência natural disso. Por que um instrumento de sopro? Porque era um instrumento que cantava, então escolhi um instrumento de sopro, o oboé, que tinha uma sonoridade pastoril, íntima, linda. Até hoje quando me lembro das frases emitidas pelo oboé, é uma sensação de plenitude”, descreveu.

Karabtchevsky sentiu que poderia ser maestro ao se dar conta, no seu desenvolvimento, de que a música tem relação com o gesto. “As mãos representam um plano sensorial na dimensão de espaço que a música propõe. A música é uma arte que se reparte no tempo, mas o conceito dos gestos é totalmente espacial. Ele procura representar a música, as tonalidades, as inflexões que têm um fraseado musical. Quando você fala, por exemplo, eu estou falando com você e estou fazendo gestos inconscientes, porque o gesto denota similaridade com o fraseado musical e a regência. Como eu gesticulava muito ao cantar, foi daí que surgiram os primeiros esboços do que seria o futuro regente”, revelou.

A carreira brilhante tem destaques dentro e fora do país. Foi maestro titular de orquestras em Viena, em Veneza, onde começou a sua incursão no terreno da ópera. “Como estava fazendo ópera pela primeira vez, porque nunca tinha tido essa oportunidade aqui no Brasil, realmente foi uma descoberta. Estava lá à frente da orquestra fazendo as minhas primeiras óperas que tanto amo de Mozart, Verdi, Puccini, aqueles compositores que sempre me cercavam mas nunca eu os dominava”. Em 2009, Karabtchevsky foi incluído entre os ícones vivos do Brasil pelo jornal britânico The Guardian.

O maestro não distingue um concerto marcante, mas destacou que todo início de temporada tem uma energia diferente. “Certamente, sempre os inícios de temporadas são como comportas. Algumas águas represadas, no momento em que são abertas, descem com uma violência enorme em uma represa. Assim, vejo os concertos de inauguração da temporada. A potência dessas águas se reflete no decorrer da temporada. É uma coisa legal isso. Todos os primeiros concertos são os mais formidáveis sob esse aspecto lírico. Represas que foram abertas. Tem esse sentido”.

“As plateias reagem sempre em função dos melhores conceitos. Não que saibam disso. É uma coisa emanente, mas o público carioca, especialmente aqui no Rio de Janeiro, tem dado provas que aferem a disposição do músico em dar o seu melhor. É uma coisa inconsciente. Quando o músico projeta para a plateia o seu ideal de precisão, afinação e de musicalidade, as pessoas se dão conta disso.

Opes

Para o maestro, é um privilégio estar à frente da Orquestra Petrobras Sinfônica aos 90 anos completados nesta sexta-feira. “É o meu esteio e a forma que tenho de me comunicar com humanos, por meio de um instrumento perfeito. É um grupo de músicos que ultrapassa a dimensão de uma simples orquestra. Ela é uma família. Considero a Orquestra Petrobras Sinfônica parte da minha família. Eles se inserem nesse contexto humano de dar e receber. É permanente isso, é diário”, mencionou.

Rio de Janeiro (RJ), 03/10/2023 – Orquestra Petrobras Sinfônica durante evento de comemoração dos 70 anos da empresa, na Ilha do Fundão, no capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Na visão dele, o ensaio é sempre uma dádiva. “É uma forma superior de comunicação. Eu me regozijo por isso”.

O diretor-presidente da Orquestra Petrobras Sinfônica, Carlos Mendes, disse que o maestro é um grande ícone da cultura brasileira e da música de concerto, que sempre desenvolveu um trabalho lindo de popularização. “A nossa orquestra vem de uns dez, 12 anos para cá, com um viés muito voltado para isso. A gente realmente decidiu trazer esse público que não frequenta sala de concerto para perto de nós, com todos os nossos projetos, não só na música popular, mas também na música de concerto mais voltada para quem não está muito acostumado a frequentar as salas”, disse à Agência Brasil.

“A nossa relação com o maestro é sempre de muita troca, sempre muito intensa. O maestro é uma pessoa incrível, agradável, de uma cultura ímpar. A gente tem sempre a agradecer”, comemorou.

Os organizadores informaram que se no horário marcado para a apresentação estiver chovendo, o concerto será transferido para o dia seguinte (28), no mesmo horário. O repertório da noite começará com a Marcha Radetzky de Johann Strauss, seguida de Bolero, de Maurice Ravel. Estão incluídas na lista também A Dança Húngara nº 5, de Johannes Brahms; Danúbio Azul, de Johann Strauss Jr. Toccata - Trenzinho do Caipira, da obra Bachianas Brasileiras nº 2 do maior compositor brasileiro, Heitor Villa-Lobos. O encerramento será com a Valsa das Flores, de O Quebra-Nozes, e a Abertura 1812, ambas de Tchaikovsky.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília - 10/07/2023 - Página do Sisu 2023 na internet. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

As inscrições para a edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 começarão no dia 17 de janeiro e poderão ser feitas, exclusivamente, pela internet, no endereço  https://acessounico.mec.gov.br/sisu até as 23 horas e 59 minutos do dia 21 de janeiro.

De acordo com o edital publicado pelo Ministério da Educação, o processo seletivo será constituído de uma única etapa. Os candidatos poderão se inscrever em até duas opções de vagas. O resultado da chamada regular será divulgado dia 26 de janeiro, no Portal Único de Acesso.

Estão aptos a participar da seleção os estudantes que tenham completado o ensino médio, participado da edição de 2024 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não tenham zerado a prova de redação. Aqueles selecionados dentro do número de vagas disponíveis, na chamada regular ou por meio da lista de espera, deverão realizar a matrícula na universidade no período indicado no edital.
As vagas serão preenchidas pelas instituições segundo a ordem de classificação dos candidatos, de acordo com as notas obtidas no Enem. Não será permitido ao estudante selecionado optar pelo ingresso no primeiro ou no segundo semestre.

Cotas

Segundo informações do MEC, a classificação dos estudantes se dará, primeiramente, na modalidade ampla concorrência. A reserva de vagas ofertadas pela Lei de Cotas ocorrerá na sequência, com o "objetivo de beneficiar, sem distorções, os candidatos realmente demandantes de política compensatória para acesso ao ensino superior".

Confira o cronograma 

Inscrições17 a 21 de janeiro
Chamada regular26 de janeiro
Matricula ou registro acadêmico junto à instituição27 a 31 de janeiro
Manifestação de interesse na lista de espera26 a 31 de janeiro

 (Fonte: Agência Brasil)

DO EFÊMERO AO ETERNO

SERÁ UM MILAGRE O FINITO DE NÓS RESISTIR AO INFINITO DO TEMPO

– Uma coisa é você ter história; outra, é a História ter você

– Você sobreviverá ao túmulo? E o que o livro tem a ver com isso?

(Reflexões sobre vida, livro e pós-vida)

*

Como o sabem os médicos e biólogos – mas não apenas eles –, os seres humanos são finitos: nascem, vivem, morrem.

Somos os mais perfeitos (?) e complexos elementos da (ou na) Natureza,...

... somos os únicos com percepção de si mesmos (sencientes),...

... somos os únicos organismos vivos que conferem sentido aos demais organismos vivos e às coisas materiais e imateriais que (n)os rodeiam...

... e, entanto, somos seres de existência curta,...

... de escassa longevidade,...

... de pouco tempo de vida.

Enquanto isso, outros representantes do reino animal estão nadando de braçadas à frente dos humanos no oceano da vida. Há peixes – carpas, por exemplo – que vivem fácil mais de 220 anos.

Tubarões e lagostas sesquicentenários.

Tartarugas e baleias bicentenárias (e estas são mamíferos que nem nós...).

Ostras e moluscos de quatro séculos.

E nem se fale de certas águas-vivas (medusas), que, simplesmente, são imortais, voltam ciclicamente a ficar jovens após um tempo na maturidade, e assim vão vivendo... para sempre.

No reino vegetal, árvores de quatro milênios, como pínus, ciprestes e teixos.

E é de admirar a resistência, a duração dos pequenos, dos muuuuuuuuuuuuuuuito pequenos, os micróbios, que dominam no mínimo 80% da biomassa da Terra (os seres vivos, plantas incluídas) e vivem muito, e bote muuuuuuuito nisso.

Os micro-organismos são a prova de que tamanho não é documento.

Há bactérias que são quase eternas, podendo viver dezenas (há registros de centenas) de milhões de anos.

... Mas ninguém quer ser uma bactéria ultralongeva,...

... ou um fungo semieterno,...

... muito menos um vírus (i)mortal...

De qualquer maneira, fartos ou minguados em anos, os organismos vivos (ou pelo menos 99,9% deles) têm algo em comum:

... vão deixar de existir,

... vão sumir,

... de-sa-pa-re-cer.

E cada infinitesimal molécula deles/nossa procurará ou formará outra estrutura, vivente ou não.

A Ciência afirma: apenas 0,1% dos organismos terá a sorte de virar fóssil, e assim existir/resistir no tempo, embora nada assegure que o fóssil de um ser vivo ou de parte dele (animal, vegetal ou coisa e tal) seja encontrado.

Será um milagre o finito de nós resistir ao infinito do tempo. Sem fósseis, sem registros, é impossível a algo ou a alguém existir na História – pois História é a existência contada, conhecida, no mínimo intuída.

*

O livro é o novo fóssil. Um fóssil de papel. Um fóssil que se dá a conhecer.

Livros são pequenas pirâmides de celulose e tinta que conservam o principal dos tesouros humanos: conhecimentos, emoções, informações sobre a vida de algo ou alguém, registros sobre o que nos rodeia e que existe de nossa pele para fora ou que, em nosso corpo e mente, existe, ou criamos, de nossa pele para dentro.

É neles, livros, que deixamos marcas, caracteres, figuras. Formas, fôrmas, fórmulas.

Nos livros (nos) imprimimos, isto é, assumimos e revelamos a beleza e o desespero,...

... a alegria e a angústia,...

... o sentido, a sensação e o sentimento de sermos o que somos (gente) no desfrute de termos o que temos (vida).

Assim, cada livro vai-se mantendo como um seguro a mais contra o esquecimento,...

... a perda,...

... o sumiço,...

... a extinção.

Rascunho de eternidade, um livro nos livra do pó. Faz-nos sobreviver ao túmulo.

Algumas pessoas permitem-se pequenos exercícios de posteridade. Seres comuns e iguais – animais – ante a Ciência, mas únicos e especiais -- sujeitos – ante a História.

Seres singulares em sua pluralidade e plurais em sua singularidade.

Apesar disto, não importaria para a História o trabalho de cada um, a vida de cada um, se isto não fosse comunicado.

Pois uma coisa é você ter história; outra, é a História ter você.

No mundo laico, secular, só há eternidade na História.

Entre outras coisas, um livro documenta histórias vividas e histórias de vidas ainda vívidas.

Evidentemente, um livro não documenta toda a história de cada ser – não existem livros assim.

Um livro com uma história de alguém é um resumo pessoal, lacônico, icônico, que apenas anuncia a pessoa, informa (o) que ela é, diz que está, comunica que chegou. Conta que existe. Conta um pouco de sua existência.

Não importa quanto tempo viva um ser: ele só será ser se se souber que ele é, ou foi. E um livro serve – também – para isso.

De alguma forma, ficção ou realidade, romântico ou técnico, todo livro é um livro de História.

Da pequena História de cada um na imensidão do Tempo que é de todos – e do Tudo...

* EDMILSON SANCHES