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São Paulo (SP), 10/11/2024 - Estudantes  no segundo dia de provas do ENEM na UNIP Vergueiro em São Paulo. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O Ministério da Educação (MEC) prorrogou, para o dia 2 de maio, o prazo para que os interessados solicitem a isenção da taxa de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025. O período se encerraria nesta sexta-feira (25). 

Estudantes do Pé-de-Meia e do 3º ano de escolas públicas estão entre o público apto a pedir a isenção da taxa. 

O procedimento deve ser realizado exclusivamente na página do participante do exame, com o login no portal único de serviços digitais do governo federal, o Gov.br. 

A mudança de data também valerá para as justificativas de ausência no Enem 2024. Quem não compareceu aos dois dias de Enem em 2024 precisa justificar as faltas, caso queira participar da edição de 2025 gratuitamente.  

- Saiba como pedir isenção de taxa de inscrição

Os períodos previstos para recursos e resultados referentes à isenção e às justificativas estão mantidos. O resultado da solicitação de isenção será divulgado no dia 12 de maio e o período de recursos para quem tiver o pedido negado será entre 12 e 16 de maio. O resultado final dos recursos sairá em 22 de maio.

A aprovação do pedido de isenção não garante a participação no exame. O Inep destaca que mesmo com a gratuidade da taxa, os interessados deverão realizar a inscrição no Enem 2025 posteriormente, em data a ser definida em futuro edital a ser publicado pelo MEC.

(Fonte: Agência Brasil)

Rio de Janeiro (RJ), 25/04/2025 - Obra da Mostra CULTrua. Foto: Mostra CULTrua/Divulgação

Depois de ficar por anos abandonada, a Galeria Prestes Maia, no centro de São Paulo, vai retomar sua vocação de abrigar mostras e exposições. A partir desta sexta-feira (25), a galeria subterrânea, que faz ligação entre a Praça do Patriarca e o Vale do Anhangabaú, abrigará a primeira edição da Mostra CULTrua.

Na exposição, chamada de Movimento CULTrua, serão apresentadas mais de 70 obras de 46 artistas que tiveram como inspiração as ruas da cidade.

“O centro de São Paulo é um museu a céu aberto que comprova como o clássico e o contemporâneo convivem em harmonia e têm em comum expressar, por meio da arte, as transformações históricas, sociais, estéticas e políticas. A Mostra CULTrua é mais do que uma exposição, é uma ação cultural de ocupação urbana”, destacou o artista plástico Marcelo Gemmal, um dos curadores do evento e que também terá suas obras mostradas na exposição.

Além dele, a mostra conta com obras de artistas como Carolina Itzá, Gil Motta, Marcelo Theodoro, Nadia Starikoff e Simone Siss, entre outros.

O evento é realizado pelo Núcleo de Ação e Cultura da Associação MoveCentroSP, em parceria com o Novo Anhangabaú e Positive Foundation.

Rio de Janeiro (RJ), 25/04/2025 - Obra da Mostra CULTrua. Foto: Mostra CULTrua/Divulgação

“Alguns artistas convidados fazem homenagem clara à cidade, facilmente perceptível em suas obras. Outros trazem as ruas na inspiração como um impulso, e é interessante acompanhar como um mesmo ponto de partida leva à criatividade por diferentes caminhos e interpretações”, diz Isabella Sanches, da MoveCentroSP, em nota.

A galeria

Inaugurada em 1940, a galeria surgiu com a dupla função de ser um espaço cultural e servir como ligação subterrânea entre a Praça do Patriarca e o Vale do Anhangabaú, com saída abaixo do Viaduto do Chá. Depois da degradação sofrida ao longo da década de 1970, o local passou a abrigar postos administrativos de órgãos públicos e, no início dos anos 2000, chegou a fazer parte do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Desde 2021, a galeria está sob administração da concessionária que assumiu a gestão do Vale do Anhangabaú

A galeria é dividida em três partes: um subsolo, com acesso ao Vale do Anhangabaú; um mezanino, onde está o espaço expositivo Salão Almeida Júnior; e o térreo, com acesso à Praça do Patriarca. Em 1955, ela ficou conhecida por ser o primeiro lugar público de São Paulo a receber escadas rolantes.

Até hoje o local abriga importantes esculturas de Victor Brecheret e uma réplica do artista Michelangelo, produzida pelo Liceu de Artes e Ofícios.

A exposição fica em cartaz até o dia 29 de maio e tem entrada gratuita, funcionando das 10h às 22h.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF), 24/10/2024 - Alunos do colégio Galois em sala de aula na preparação dos últimos dias antes da prova do Enem 2024.  Foto: José Cruz/Agência Brasil

O prazo para solicitar a isenção da taxa de inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025 termina às 23h59 (horário de Brasília) desta sexta-feira (25), quando também termina o prazo para justificar ausência nas provas da edição de 2024.

As solicitações devem ser feitas pela página do participante do exame, com o login no portal único de serviços digitais do governo federal, o Gov.br.

O Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) preveem gratuidade para pessoas que se enquadram nos seguintes perfis:

  • matriculados na 3ª série do ensino médio na rede pública de ensino;
  • quem fez todo o ensino médio em escola pública ou como bolsista integral em escola privada;
  • pessoas integrantes de família de baixa renda com registro no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico); e
  • participantes do programa Pé-de-Meia.

O valor da taxa de inscrição ainda não foi divulgado, mas na edição de 2024 a taxa foi de R$ 85. Dos 4,3 milhões de inscritos confirmados na edição passada, 63,6% foram isentos do pagamento da taxa de inscrição.

Justificativa de ausência

O participante que ficou isento de pagar a inscrição em 2024, mas não compareceu nos dois dias de provas do Enem, aplicadas em novembro passado, deverá justificar a ausência para solicitar nova isenção da taxa em 2025.

A justificativa deve conter documentos que comprovem o motivo da ausência nos dias 3 ou 10 de novembro de 2024 – ou 10 e 11 de dezembro para os participantes da reaplicação das provas.

Entre as situações previstas estão assalto, furto, acidente de trânsito, casamento/união estável, morte na família, maternidade, paternidade, mudança de domicílio para acompanhamento de familiar, privação de liberdade, emergência/internação/repouso médico ou odontológico.

Os documentos aceitos para justificar a falta estão no Anexo I do edital do Inep.

Resultado

 O resultado da solicitação de isenção será divulgado no dia 12 de maio. O período de recursos para quem tiver o pedido negado será entre 12 e 16 de maio. O resultado final dos recursos sairá em 22 de maio.

A aprovação do pedido de isenção não garante a participação no exame. O Inep destaca que mesmo com a gratuidade da taxa, os interessados deverão realizar a inscrição no Enem 2025 posteriormente. O edital com todas as datas referentes à edição de 2025 do Enem ainda não foi publicado pelo MEC.

Já o candidato que teve o pedido do recurso de isenção negado deverá pagar a taxa para se inscrever no exame.

Enem

O Exame Nacional do Ensino Médio é considerado a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio de programas federais como Sistema de Seleção Unificada (Sisu), Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Há mais de duas décadas, o Enem avalia o desempenho escolar dos estudantes no fim da educação básica.

A partir da nota obtida pelo participante, as instituições de ensino públicas e privadas da educação selecionam os estudantes que ingressarão nesta etapa de ensino. Cada instituição define as próprias regras e os pesos para uso das notas.

As notas do Enem também são aceitas para concorrer a vagas de instituições em Portugal. Os convênios destas unidades de ensino com o MEC não envolvem transferência de recursos e não preveem financiamento estudantil pelo governo brasileiro.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF), 31/08/2023 - Movimentação no prédio sede da Polícia Federal, que ouve Bolsonaro e mais sete envolvidos no caso da venda de joias. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou nesta sexta-feira (25), em publicação no Diário Oficial da União, que o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) será a banca organizadora do próximo concurso público da Polícia Federal (PF).

O contrato com banca organizadora foi assinado na quinta-feira (24).

O processo seletivo servirá para preenchimento de 192 vagas de cargos administrativos nos quadros da instituição. Os cargos de nível médio e superior autorizados em portaria do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), em dezembro passado, são:

· Agente-administrativo: 100 vagas de nível médio;

· Assistente social: 13 vagas de nível superior;

· Contador: 9 vagas de nível superior;

· Enfermeiro: 3 vagas de nível superior;

· Médico: 35 vagas de nível superior;

· Psicólogo: 6 vagas de nível superior;

· Farmacêutico: 2 vagas de nível superior;

· Nutricionista: 1 vagas de nível superior;

· Estatístico: 4 vagas de nível superior;

· Administrador: 6 vagas de nível superior;

· Técnico em comunicação social: 3 vagas de nível superior;

· Técnico em assuntos educacionais: 10 vagas de nível superior;

O MGI estabelece o prazo de seis meses a contar da publicação da portaria, ou seja, até 6 de junho, para a divulgação do edital de abertura de inscrições para o certame.

Entre a publicação do futuro edital e a realização da primeira prova do certame, o prazo deverá ser de dois meses.

Carreiras policiais

Além das 192 vagas administrativas, em fevereiro, a Polícia Federal anunciou a realização de novo concurso público para recrutamento e seleção de mil novos policiais federais, com vagas distribuídas da seguinte forma: 120 para delegados, 69 para peritos criminais, 630 para agentes, 160 para escrivães e 21 para papiloscopistas.

No caso dos cargos das carreiras policiais, a portaria que autoriza a realização do concurso estabelece prazo até 13 de agosto para a publicação do edital de abertura de inscrições para o certame.

O último concurso da PF foi realizado em 2021, com a oferta de 1,5 mil vagas para quatro cargos policiais (delegado, agente, escrivão, papiloscopista), com remuneração de até R$ 23,6 mil.

Inscrições

Pelas redes sociais, a Polícia Federal explica que o edital do próximo concurso ainda não foi publicado e que as inscrições não estão abertas. A data de publicação dos editais ainda não foi definida pela instituição.

A Polícia Federal recomenda cuidado com sites falsos. 

“Quando for divulgado, todo o processo de inscrição deverá ser feito exclusivamente no site oficial da banca organizadora”, diz a publicação.

(Fonte: Agência Brasil)

– Decisão foi tomada por unanimidade durante a Reunião Ordinária da Academia; reconhecimento ao seu papel fundamental na fundação da instituição

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 RAIMUNDO PRIMEIRO ([email protected])

 (de Imperatriz/MA, 23/abril/2025)

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A Academia Imperatrizense de Letras (AIL), que completa 34 anos em 27 de abril, homenageou o administrador, jornalista, escritor e pesquisador Edmilson Sanches, atribuindo seu nome à biblioteca da instituição. Essa homenagem foi decidida por unanimidade há dois anos, durante a Reunião Ordinária da Academia em 1º de junho de 2023, reconhecendo os "inestimáveis serviços" prestados por Sanches ao longo dos 34 anos de existência da AIL.

No ofício comunicando a distinção, a AIL parabenizou Edmilson Sanches, desejando vida longa e saúde para que ele continue contribuindo com a Academia e outras instituições socioculturais em Imperatriz.

PRESIDENTE DA AIL COMENTA – Raimundo Trajano Neto, presidente da AIL, às vésperas de concluir seu quarto mandato à frente da entidade e passar o comando para nova diretoria, comenta: “Guardiã de excelente acervo literário, a bela biblioteca da Academia Imperatrizense de Letras tem como patrono o nosso confrade Edmilson Sanches, um dos mais representativos intelectuais do Estado do Maranhão, líder do projeto que concebeu e fundou o Sodalício das Letras, liderando um grupo de escritores que o elegeram primeiro presidente. Sanches é merecedor dessa homenagem. Oportunamente, com a presença do homenageado, Edmilson Sanches, a Academia realizará a cerimônia dessa justa homenagem ao nosso confrade Sanches".

PALAVRAS DE EDMILSON SANCHES – "Criei e ajudei a organizar diversas Entidades em Imperatriz e a região sob sua influência – entidades comunitárias, profissionais, sindicais, culturais, envolvendo moradores de bairros, jornalistas, contabilistas, quebradeiras de coco, miniprodutores rurais, torcedores, atletas, operários, bancários, catadores de material reciclável, escritores... A Academia Imperatrizense de Letras (AIL) e seu Salão do Livro (SALIMP), criado na nossa segunda gestão (2003/2005), foram duas ideias nossas, que materializamos, e ambas fazem muito bem para a cidade e sua região”.

"A homenagem da AIL, de denominar sua Biblioteca com nosso nome, é em igual tempo, para mim, reconhecimento e responsabilidade, pois sei da importância do livro, da leitura e da Cultura no silencioso processo de fortalecimento e empoderamento de pessoas, na construção e ampliação de seus conhecimentos, no desenvolvimento de suas habilidades, na preparação e melhoria de sua vida. Uma Biblioteca é um imenso tesouro, e ter seu nome nela é, para mim, algo também muito valioso". 

A BIBLIOTECA PARTICULAR DE EDMILSON SANCHES – Edmilson Sanches tem contribuído com doações de livros e outros itens (DVDs, jornais, revistas, mapas) para acervos de bibliotecas (entre as quais a da AIL, do Instituto Federal – IFMA, Universidade Estadual do Maranhão, hoje UEMASUL, em Imperatriz), universidades, sindicatos e pessoas físicas de Imperatriz, Caxias, São Luís e de outros Estados. Sua atividade na área, como doador, leitor, cuidador e autor de livros foi reconhecida pela Associação Brasileira de Bibliófilos, que o homenageou com a “Medalha do Mérito Cultural José Mindlin” e o convidou para membro efetivo da Instituição, onde Sanches, que mantém e amplia grande acervo pessoal, tomou posse em 2024, em Fortaleza (CE).

A biblioteca particular de Edmilson Sanches consta de mais de cinquenta mil livros, a maior coleção de jornais, revistas e livros e outras publicações de Imperatriz e região. São livros raríssimos, de 1787 (século 18), inclusive a 1ª edição de "A Carolina", de Cândido Mendes de Almeida, ano de 1852 (mesmo ano de fundação de Imperatriz), com mapas desdobráveis, que trata de assuntos ligados ao território onde iria se estabelecer o futuro município de Imperatriz. (RAIMUNDO PRIMEIRO)

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FOTOS (arquivo pessoal):

Sede da Academia Imperatrizense de Letras: 34 anos. Edmilson Sanches apresentando livro em palestra no Salão do Livro de Imperatriz (Salimp); em uma parte de sua biblioteca (foto: Franck Pereira); doando livros para o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (MA) e em palestra na Assembleia Legislativa do estado do Espírito Santo, em Vitória, exibindo livro de autor maranhense.

Sala de leitura da Escola Classe 305 Sul (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Os estudantes com menor nível socioeconômico (NSE) têm pior desempenho em leitura, e quase metade deles tem nível de aprendizado considerado "abaixo do básico". No Brasil, enquanto 83,9% dos alunos do 4º ano do ensino fundamental com renda mais alta têm acesso a um aprendizado adequado em leitura, apenas um a cada quatro (26,1%) estudantes mais pobres alcança esse aprendizado.

A conclusão é da análise dos microdados do Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), feita pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede). A diferença entre os dois grupos no Brasil é de 58 pontos percentuais, e é a maior entre os países participantes da avaliação com esses dados disponíveis.

 O PIRLS foi realizado no Brasil pela primeira vez em 2021, e teve resultados gerais publicados em 2023, junto a outros 65 países e regiões do mundo. Agora, os pesquisadores se debruçam sobre os dados para entender como as desigualdades do país afastam os estudantes de um desempenho adequado em leitura.Os dados do estudo evidenciam, de acordo com o Iede, a grande desigualdade educacional do Brasil e comprovam como a aprendizagem é afetada pela condição socioeconômica dos estudantes.

No Brasil, apenas 5% dos estudantes têm nível socioeconômico alto, e são eles os estudantes com melhor desempenho. De forma simplificada, isso significa que eles são de famílias com renda igual ou superior a R$ 15 mil por mês.

Já a maioria (64%) vive em condições socioeconômicas menos favorecidas, ou seja, de famílias com renda abaixo de R$ 4 mil por mês. Entre eles, estão os piores desempenhos em leitura. Outros 31% têm NSE médio.

De acordo com o Iede, a diferença entre os dois grupos no Brasil é a maior entre os países participantes que têm dados disponíveis para esta questão. Atrás do Brasil, em segundo lugar, estão os Emirados Árabes Unidos, com uma diferença de 52 pontos percentuais, seguidos por Hungria e a região francesa da Bélgica, com 51 pontos percentuais.

O exame é aplicado a cada cinco anos pela Associação Internacional para Avaliação do Desempenho Educacional (IEA), e o Brasil participou pela primeira vez do estudo no ciclo de 2021, com uma amostra de escolas que abrangeu todo o território nacional.

O Inep operacionalizou a avaliação em uma amostra de 187 escolas (públicas e privadas), distribuídas por todas as regiões do Brasil. Mais de 4.900 alunos do 4º ano do ensino fundamental foram avaliados. Considerando todas as nações participantes do estudo, foram avaliados cerca de 400 mil estudantes, em mais de 13 mil escolas de 57 países.

Nível adequado de aprendizagem

A análise considera como o nível adequado de aprendizado ao menos o nível intermediário, pois entende que é a partir dele que haverá habilidades suficientes para que os estudantes desenvolvam aprendizagens futuras e se desenvolvam.  

Esse nível, no entanto, está distante dos estudantes mais pobres. Entre os alunos de menor nível socioeconômico, quase metade (49%) está no patamar de aprendizado abaixo do básico. Já entre os alunos de NSE médio e alto, esse percentual cai para 16%. Para o diretor-fundador do Iede Ernesto Martins Faria os resultados acendem um alerta: 

“Não é que não exista um cenário de boa aprendizagem no Brasil, existe, só que é para poucos. Isso tem que incomodar muito a gente. Por que tem um grupo pequeno que consegue chegar a um nível de aprendizagem competitivo em nível internacional, e por que, quando a gente olha para os [estudantes] de baixa renda, a situação de aprendizagem é tão complicada, inclusive com muitos alunos não chegando ao nível básico da avaliação?”

Importância da leitura

Os resultados gerais da última edição do estudo foram divulgados em 2023 e mostraram, em média, que quase 40% dos estudantes brasileiros do 4º ano não dominam habilidades básicas de leitura, ou seja, apresentam dificuldades em recuperar e reproduzir parte da informação declarada no texto. Segundo Faria, a habilidade em leitura é a que vai gerar autonomia para os estudantes em diversas disciplinas.

“Quando a gente está falando de leitura, a gente não tá falando de uma disciplina específica. A gente tá falando de uma competência que é basilar, que é semelhante à matemática, à resolução de problemas. Então, a partir da leitura, você vai poder desenvolver várias competências. Isso vale para a língua portuguesa, mas vale para as ciências sociais, vale para as ciências naturais, vale para a criança poder viver bem em sociedade, se desenvolver”, diz.

O diretor-fundador do Iede diz que o objetivo de analisar detalhadamente os microdados é “dar visibilidade às desigualdades que existem, tanto no Brasil como em outros países. A gente não pode ter um olhar geral só para a média, que é a situação do país, mas [é preciso olhar] para como estão os vulneráveis, como estão os alunos desfavorecidos”.

São Paulo (SP), 11/09/2024 - 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Anhembi. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Outras desigualdades

A análise do Iede mostra ainda que há diferença de proficiência em leitura entre os gêneros. As maiores diferenças estão entre os alunos com desempenho abaixo do básico. O percentual de alunos brasileiros do sexo masculino com desempenho abaixo do básico em leitura (44,1%) é superior ao das meninas (33,3%).

Entre os alunos com alto desempenho, a diferença é menor, mas ainda se mantém. Entre os meninos, 9,7% estão nesse grupo, já entre as meninas, 12,7% alcançam o nível de alto desempenho.

Os dados mostram também diferenças entre aqueles que tiveram contato com a leitura antes do ensino fundamental e aqueles que não tiveram esse contato. Segundo a análise, entre os que tiveram contato frequente com a leitura antes desta etapa, 49,7% alcançaram o patamar de aprendizado adequado. Já aqueles que disseram que tinham esse contato “às vezes”, a porcentagem cai para 36%.

Os pais e responsáveis terem o hábito de ler também influencia a habilidade de leitura das crianças. Entre aqueles cujos pais responderam “não gostar de ler”, o percentual de aprendizado adequado em leitura foi de 32,6%. Já os filhos de pais que dizem “gostar muito de ler”, 47,6% tiveram um aprendizado adequado em leitura.

Segundo Faria, os dados mostram a necessidade de o país ter mais políticas voltadas para a redução de desigualdades que visem, por exemplo, levar mais recursos para regiões mais vulneráveis e estimular que essas regiões tenham bons professores.

"O Brasil tem que dar cada vez mais intencionalidade para políticas que olham para a equidade", defende. "Não só recursos, mas como a gente consegue que bons professores vão para áreas socioeconômicas mais vulneráveis e como garantir melhor infraestrutura em escolas que atendem alunos de baixo nível socioeconômico? [Precisamos] ter políticas educacionais que direcionem recursos visando a equidade".

(Fonte: Agência Brasil)

Destaque Concurso Unificado. Foto: Arte/EBC

A Defensoria Pública da União (DPU) ingressou com uma Ação Civil Pública contra a União, o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap), vinculada ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), para assegurar alternativas aos candidatos em situação de vulnerabilidade nos cursos de formação inicial do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU). O Cebraspe e a Enap são os responsáveis pelos cursos de formação. Essa etapa do certame tem caráter eliminatório e classificatório. 

A ação tem como foco gestantes, puérperas (mulheres que passam pelo período pós-parto), lactantes, mães de crianças com deficiência, e pessoas com doenças graves, com deficiência, com necessidade de cuidados intensivos, com mobilidade reduzida ou em estado de imunossupressão (baixa imunidade).

De acordo com a DPU, a medida pretende garantir a esses candidatos alternativas à frequência nos cursos de formação inicial, sem que sejam expostos a riscos à saúde física ou emocional, nem privados do convívio com seus filhos, no caso da fase de aleitamento materno.

A DPU argumenta que a ausência de medidas inclusivas coloca em risco não só a permanência no concurso, mas também a saúde física e emocional dos candidatos.

“O edital do CPNU impõe regras rígidas que desconsideram essas condições e resultam na exclusão injusta de candidatos vulneráveis, mesmo após aprovação em todas as etapas do concurso”, diz a DPU.

A ação tramita na 1ª Vara Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, e foi assinada pelos defensores regionais de Direitos Humanos Eraldo Silva Junior, de MS, e Eduardo Nunes de Queiroz, do Distrito Federal.

O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos informou à Agência Brasil que a resposta da Ação Civil Pública da DPU deve ser dada pelo Cebraspe e pela Enap. 

Alternativas

Na ação, a DPU solicita a imediata medidas de inclusão, como a oferta de participação remota no curso - por meio de aulas ao vivo simultâneas, gravadas e materiais complementares; a possibilidade de realização do curso em data futura; a aplicação de provas dos cursos de formação em datas alternativas, abono de faltas justificadas por motivos de saúde ou maternidade, ainda que ultrapassem o limite de faltas (25%) previsto no regulamento.

O edital do processo seletivo exige frequência mínima de 75% nas atividades presenciais, em Brasília, sem prever flexibilizações para casos excepcionais.

Violação de direitos

Na ação, a DPU afirma que a postura da administração pública ignora pedidos de adaptação e responde com justificativas genéricas, mesmo diante de casos clínicos graves, que caracteriza assédio institucional.

Para a DPU, a ausência de alternativas inclusivas representa uma violação direta a princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana, a proteção à maternidade e à infância, o direito à saúde e a isonomia, que exige tratamento diferenciado a quem se encontra em condição desigual.

“A ausência de alternativas adaptativas impõe um ônus desproporcional e injusto, caracterizando clara violação aos direitos fundamentais de igualdade, dignidade da pessoa humana e proteção à saúde, o que demanda imediata intervenção judicial para a correção das omissões normativas e garantia do pleno direito desses candidatos”, argumenta a DPU.

Cursos de formação

Foram chamados para os cursos de formação inicial 2.305 candidatos aprovados nas provas objetivas e discursiva, distribuídos entre os seguintes cargos:

  • especialista em políticas públicas e gestão governamental (EPPGG): curso com 580 horas de duração, com aulas presenciais de segunda a sexta-feira e possibilidade de atividades aos sábados, domingos, feriados e em horário noturno. Responsáveis: MGI e Enap;
  • analista de comércio exterior (ACE): curso com 380 horas. Responsáveis: MGI e Enap;
  • analista técnico de políticas sociais (ATPS): curso com 440 horas. Responsáveis: MGI e Enap;
  • analista de infraestrutura (AIE) e analista em tecnologia da informação (ATI): cursos com 440 horas. Responsáveis: MGI e Enap;
  • auditor-fiscal do trabalho (AFT): curso com 208 horas, em regime híbrido, com até 8 horas-aula diárias, inclusive aos sábados. Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Cebraspe;
  • especialista em regulação da saúde suplementar (ANS), em serviços públicos de energia (Aneel) e em transportes aquaviários (Antaq): cursos com 140 horas, com 8 horas-aula diárias de segunda a sexta-feira. Responsáveis: respectivas agências reguladoras e Cebraspe

Por meio de nota, a Enap informou que providenciou, desde a elaboração do edital, os meios para garantir as possibilidades de ausências justificadas, além da previsão de 25% de faltas às aulas dos cursos de formação inicial. A escola listou as alternativas apresentadas aos candidatos. “Acesso à gravação das aulas e reposição de provas, conforme comunicado emitido ainda no período de matrículas”.

Sobre a ação civil pública, a Enap afirmou que as exigências apontadas pela DPU foram previstas no edital da formação inicial das cinco carreiras pelas quais a escola está responsável. O documento foi publicado em 3 de fevereiro – um dia antes da primeira convocação dos selecionados. “As questões levantadas já foram respondidas oficialmente pela Escola”, informou, em nota.

A Agência Brasil também procurou o Cebraspe e está aberta às manifestações.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF), 05/02/2025 - A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, dá entrevista ao programa Bom dia, Ministra. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O próximo Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) deve ter cerca de três mil vagas, e a abertura das inscrições está prevista para o mês de junho. As informações foram divulgadas, nessa quarta-feira (23), pela ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.

Segundo a ministra, o termo de referência para a chamada das empresas candidatas a compor a banca do concurso já está pronto. Esther Dweck disse que essas informações, a serem publicadas no próximo edital, podem ser divulgadas de forma oficial nesta semana ou na próxima.

Duas novas carreiras

O próximo CNU deve ter, entre as novidades, duas novas carreiras ─ uma delas é ligada à área de defesa e segurança pública, e a outra é relacionada ao campo do desenvolvimento socioeconômico.

“São duas carreiras muito importantes, que complementam as carreiras de política social, de analista de infraestrutura e de analista de tecnologia da informação”, disse a ministra em entrevista à CNN Brasil. 

Os salários iniciais devem ser acima de R$ 9 mil, podendo chegar a R$ 21 mil, disse a ministra. Outras carreiras, segundo Esther Dweck, já tiveram autorizações nas áreas de saúde e de administração.

Cargos ocupados

A ministra informou também que, nesta quinta-feira (24), deve haver mais um passo para a contratação das pessoas que passaram no último concurso em cargos que não requeriam curso de formação.

“São cerca de 4,3 mil pessoas que a gente vai publicar a autorização de provimento para que elas possam ingressar no serviço público brasileiro nas próximas semanas, de preferência”, afirmou.

Convocações em maio

Os candidatos aprovados na primeira edição do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) devem começar a ser convocados em maio, segundo previsão anunciada, no último dia 15 de abril, pelo MGI, após a sanção da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A expectativa inclui os cargos que não exigem cursos de formação dos oito blocos temáticos, de nível superior e médio. São essas as nomeações que serão autorizadas pelo MGI por meio de uma portaria unificada prevista para sair ainda nesta semana.

A partir dessa autorização, o passo seguinte será dado pelos 16 órgãos e entidades federais participantes do certame, que deverão publicar os próprios atos de nomeação para dar posse aos aprovados. Os órgãos que farão as convocações são:

  • Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI);
  • Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic);
  • Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa);
  • Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet);
  • Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra);
  • Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI);
  • Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep);
  • Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI);
  • Ministério da Saúde (MS);
  • Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP);
  • Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc);
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
  • Advocacia-Geral da União (AGU);
  • Ministério dos Povos Indígenas (MPI);
  • Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO);
  • Ministério da Cultura (MinC).

(Fonte: Agência Brasil)

O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor tem origem na Espanha. A data 23 de abril é a do falecimento, em 1616, de Miguel de Cervantes Saavedra, o notável espanhol autor de “Dom Quixote”, magistral obra em dois volumes (o primeiro lançado em 1605; o outro, 1615).

Mas há registros dando conta de que, desde 1923, e também no mês de abril, Cervantes já era homenageado em sua terra natal, com a criação de uma Feira de Livros em sua homenagem (homenagem consolidada – até pela realeza espanhola – nos anos seguintes, com registros em 1926 e 1930).

Em 1995, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) oficializou a data, e acrescentou-se que, naquele mesmo dia 23 de abril de 1616, além de Cervantes, outro gigante da Literatura universal também havia falecido: William Shakespeare, autor sobretudo de grandes textos teatrais que há séculos são levados ao palco e reinterpretados no Cinema.

Também foram citados outros autores com nascimento ou morte registrados em 23 de abril. (Não se dirá, aqui, da diferença de dias que aparece quando se converte o calendário juliano, vigente na Inglaterra shakesperiana, para o calendário gregoriano, vigente na maior parte do mundo, ocidental sobretudo).

Com uma obra numerosa e variada, e também sendo muito lido, citado e estudado, ainda assim Shakespeare não superou seu contemporâneo de morte: Cervantes teve uma de suas obras, o “Dom Quixote”, eleita como o melhor livro de todos os tempos, segundo escritores de qualidade inconteste e de fama mundial que se reuniram na Noruega, em maio de 2002, e escolheram a obra do sofrido autor espanhol  --  que penou como escravo, tinha problemas financeiros graves, convivia com brigas domésticas com filha e mulher (que o deixou), sofreu o descaso de desejados protetores na nobreza da Espanha, manteve interações homossexuais (algumas delas, imagina-se, forçadas).

Além disso, Cervantes sofreu “ataque” de um até hoje insabido autor, que escreveu a continuação de seu “Dom Quixote”, beneficiando-se do sucesso da obra naquelas duas primeiras décadas dos anos 1600, pouco mais de quatrocentos anos atrás. (Ocorre que, em texto introdutório a outra obra sua, Cervantes antecipou que “Dom Quixote”, lançado em 1605, teria continuação, uma segunda e última parte. Alguém até hoje não descoberto, que não gostava de Cervantes e que também tinha gosto pelas Letras e pela escrita, antecipou-se a ele e escreveu uma obra pseudônima, dizendo ser a continuação. Isso obrigou Cervantes a apressar a segunda parte, final, de seu romance, que foi lançada em 1615, um ano antes de sua morte, em 1616).

O “Dom Quixote” de Cervantes é um dos orgulhos da nação espanhola. Com certeza, como livro e a partir da obra, a Espanha apresenta-se maior que seus 500 mil quilômetros quadrados (área dez por cento menor que a da Bahia, por exemplo). Essa é a força da Literatura e da nação que preza a Cultura.

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Cervantes e o 23 de Abril como Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor têm diversos pontos de contato com o Maranhão e autores maranhenses. Como antecipei, quando da oficialização da data pela UNESCO, em Paris, em 1995, foi registrado que o 23 de abril lembrava a morte de Cervantes e de Shakespeare em 1616, e, entre outros registros, marcava também o nascimento do romancista russo Vladimir Nabokov, em 1899, e o romancista francês Maurice Druon, em 1918. Nabokov é autor, entre outras, da obra “Lolita”, de 1955, clássico da literatura mundial, filmado e refilmado, onde um professor universitário vive sua obcecação pela menina Dolores, apelidada Lolita, de 12 anos.

E onde o Maranhão “arranha” nessa história?

O outro escritor nascido em 23 de abril de 1918, Maurice Druon, falecido em 14 de abril de 2009, nove dias antes de completar 91 anos, era bisneto do escritor maranhense Odorico Mendes, que nascera em São Luís, em 1799, e morrera em Londres, em 1864. Maurice Druon pertencia à mais referendada de todas as academias do mundo ocidental, a Academia Francesa, da qual era decano e secretário perpétuo. Druon foi também ministro da Cultura em seu país, a França, pela qual havia lutado, inclusive na Resistência, em terras francesas e em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Das dezenas de livros que Druon escreveu, um deles e sua única obra de ficção infanto-juvenil, chamada “O Menino do Dedo Verde”, de 1957, é uma das obras do gênero mais conhecida no mundo.

Druon esteve algumas vezes no Maranhão, terra de familiares e antepassados – a partir de Manuel Odorico Mendes, jornalista, político, tradutor, poeta e humanista, considerado o precursor da moderna tradução criativa, com suas traduções, pioneiras e integrais, das obras de Virgílio (em latim) e Homero (em grego) para o português. Odorico Mendes também traduziu obras do francês Voltaire. Em 1999, nos eventos de 200 anos de nascimento de Odorico Mendes, em São Luís, lá estava Maurice Druon, prestigiando a memória do talentoso bisavô.

Portanto, há sangue e história maranhense – pela descendência de Odorico Mendes – nas homenagens que a UNESCO fez quando, ao instituir o Dia Mundial do Livro, lembrou grandes nomes que nasceram ou morreram em 23 de abril...

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Relembrando o nome de Cervantes, autores maranhenses tinham-no em sua predileção, a ele dedicando estudos e até livros. É o caso, por exemplo, de Josué Montello (1917-2006). O notável romancista, ensaísta, jornalista, professor e teatrólogo são-luisense é autor de pelo menos duas obras sobre Cervantes: “Cervantes e o Moinho de Vento”, lançado em 1950 (Gráfica Tupy, Rio de Janeiro – RJ), e, três anos depois, “Viagem ao Mundo de Dom Quixote” (Universidade Federal do Ceará, Fortaleza – CE, 1953). Sobre o ensaio montelliano de 1950, o ótimo escritor, historiador e crítico literário paulista Brito Broca (1903-1961), em setembro de 1952, anotou, já ao final de sua alentada e excepcional introdução a uma edição de “Dom Quixote de La Mancha”:  “[...] muito erudito e penetrante, no qual o autor procura ver no romance em questão uma sátira ao leitor crédulo”. E ainda: “Não será demais que patrícios nossos, como Josué Montello, venham a descobrir sentidos novos em tal livro”.

Brito Broca também registra, antecedentemente às anotações sobre o ensaio de Montello, que o maranhense, de Caxias, Coelho Netto, respondendo a João do Rio sobre “quais os autores que lhe haviam contribuído para a formação literária”, teria colocado “Dom Quixote”, precedido de, primeiro, “As Mil e Uma Noites” e “toda a obra de Shakespeare”.  Eis a íntegra do trecho:

“No inquérito realizado via ‘Gazeta de Notícias’, por volta de 1907, e reunido em volume, sob o título ‘O Momento Literário’, uma das perguntas dirigidas por João do Rio aos escritores era: quais os autores que lhe haviam contribuído para a formação literária. Coelho Neto coloca em primeiro lugar ‘As Mil e Uma Noites’; em segundo, toda a obra de Shakespeare; em terceiro o ‘Dom Quixote’. Mas a influência deste último decerto se filtrou de tal maneira na numerosa obra do romancista maranhense, a ponto de não nos permitir identificar qualquer manifestação concreta ou precisa.”

O parágrafo acima é o texto com a leitura de Brito Broca do que escreveu ou transcreveu João do Rio após a entrevista deste com Coelho Neto, texto publicado no livro “O Momento Literário”, onde Broca reúne 36 autores – outros oito não responderam ao “inquérito” (a lista de perguntas), entre eles os maranhenses Graça Aranha, que alegou que se deve “escrever pouco”; Aluísio Azevedo, que estava abarrotado de trabalho (“diante de mim uma torre de papeis”, teria escrito) no consulado em Cardiff, no País de Gales (Reino Unido); e Artur Azevedo, que, segundo Broca, “não disse nada”.

Afora Coelho Netto, de maranhense entre os 36 escritores entrevistados em "O Momento Literário" só vejo Raimundo Correia, o último do livro, onde ocupou só três páginas. Também vejo Rodrigo Otávio, que casou com uma das filhas de Ricardo Leão Sabino, são-luisense e, residente em Caxias, professor de Gonçalves Dias, lá na Rua do Cisco, onde morei, região central da cidade "Princesa do Sertão Maranhense" minha terra natal.

Vejo também, entre os 36 autores do livro “O Momento Literário”, Medeiros e Albuquerque, pernambucano, que deu a ideia desse livro para João do Rio, que por sua vez lhe dedicou a obra. Medeiros de Albuquerque (1867-1934) foi da Academia Brasileira de Letras e era filho do maranhense, de Caxias, Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque, de quem herdou talento e o nome (com a inversão dos prenomes iniciais – José Joaquim).

A leitura direta do texto de João do Rio sobre Coelho Netto diz mais, e diferentemente, do que resumiu Brito Broca em sua magistral introdução a uma das edições brasileiras de “Dom Quixote”. Na transcrição de Brito Broca, Coelho Netto diz logo, com sua “rude franqueza meridional” (como anotou o autor paulista) que, para a formação literária dele, “não contribuíram autores, contribuíram pessoas”. Continua o caxiense: “Até hoje sofro a influência do primeiro período da minha vida no sertão. Foram as histórias, as lendas, os contos ouvidos em criança, histórias de negros cheias de pavores, lendas de caboclos palpitando encantamentos, contos de homens brancos, a fantasia do sol, o perfume das florestas, o sonho dos civilizados... Nunca mais essa mistura de ideais e de raças deixou de predominar, e até hoje se faz sentir no meu ecletismo. A minha fantasia é resultado da alma dos negros, dos caboclos e dos brancos. É do choque permanente entre esse fundo completo e a cultura literária que decorre toda a minha obra [...]”.

Só quando João do Rio insiste (“– Há, entretanto, uma parte da sua obra...”) é que Coelho Neto, nem deixando o jornalista carioca completar a frase, diz:

“– Sim, a parte fescenina. É aí, no ‘Fruto Proibido’, que começo a ter a responsabilidade do meu trabalho. O amor pelas lendas, pelo fantástico ficou porém. O livro que mais me impressionou foi ‘As Mil e Uma Noites’. Depois toda a obra de Shakespeare, o ‘Dom Quixote’, os poetas gregos, Plutarco, que releio constantemente...”

João do Rio procura saber dos autores modernos de predileção de Coelho Netto, que lista:

“– Flaubert, o admirável Maupassant, Taine, que é a base da minha visão crítica, e os ingleses contemporâneos, com especialidade os dramaturgos.”

Coelho Netto menciona autores portugueses e outros mais. A parte que lhe coube em “O Momento Literário” de João do Rio tem sete páginas. Faço questão de antecipar, no parênteses abaixo, um pouco das informações que estarão em texto que preparo sobre o caxiense Aderson Ferro, escritor e odontólogo pioneiro no Brasil.

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(Parênteses: Quando Coelho Netto, acima, menciona, até qualificando de "admirável", o escritor francês Guy de Maupassant (1850-1893), lembrei-me de que tive acesso a uma ata de uma sociedade de geografia comercial da França onde se registrava que, em um dia dos anos 1870, o caxiense Aderson Ferro e o grande escritor francês Guy de Maupassant, amigo de Gustave Flaubert, estavam os dois, Aderson e Maupassant, tomando posse na dita sociedade. Aderson Ferro tinha saído de Caxias em setembro de 1877 para estudar “Arte Dentária” (Odontologia) em Paris e lá tornara-se membro da Sociedade Nacional de Geografia da França, e nesta condição estava na reunião com Maupassant e como este sendo admitido em uma sociedade mais específica da área, neste caso, Geografia Comercial. Também sobre Aderson Ferro descobri que, sim, e distintamente do que se registra em textos  -- poucos --  biográficos, ele voltou para o Maranhão após retornar da França, tendo montado consultório na Rua da Paz, em São Luís, como comprovam anúncios de sua atividade profissional publicados em jornais da capital maranhense naquela segunda metade do século 19 (anos 1880). Só depois, por motivos ainda insabidos, é que Aderson Ferro mudou-se para o Ceará, onde clinicou em Fortaleza e, depois, em diversas cidades do interior cearense, onde faleceu e permanece enterrado, em Baturité).

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Portanto, tornando a Brito Broca: ele ampliou para “formação literária” o que o próprio Coelho Netto assumiu como livros que mais o “impressionaram”, além do que, de cara, o maranhense-caxiense ter dito que não “autores”, mas “pessoas” (negros, caboclos, brancos) é quem contribuiu para a formação do autor, desde logo “em criança” – “Até hoje sofro a influência do primeiro período da minha vida no sertão”. (Veja-se a obra “O Momento Literário”, de João do Rio – pseudônimo do jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo carioca João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto[1881-1921] –, publicada pela Criar Edições – Curitiba, 2006).

Tornando à obra de Cervantes. Além de Josué Montello e Coelho Netto, o maranhense-ludovicense  Aluísio de Azevedo foi tocado pelo talento cervantino: na mesma introdução a “Dom Quixote”, Brito Broca consigna que, em busca de uma “revivescência indígena do herói de Cervantes”, uma espécie de Dom Quixote brasileiro  -- como à época já existiam Quixotes nas literaturas alemã, russa, francesa e italiana –, Aluísio de Azevedo “teve ideia semelhante, por volta de 1909, de fazer um Dom Quixote da fé, inspirado na figura de Antônio Conselheiro [...]”. A ideia aluisiana não se materializou...

*

A influência e/ou a presença de autores maranhenses nos diversos estratos da Literatura – universal, brasileira, regional – é matéria a ser consolidada e ampliada, tais e muitas são as menções, citações, dissertações, teses e outros trabalhos acadêmicos, além de livros, textos em jornais etc. produzidos por ou sobre nossos conterrâneos, Brasil adentro e mundão afora.

Um dia haverá uma decisão, farto apoio e a efetivação de um trabalho de pesquisa, coleta, documentação e disseminação de informações e trabalhos relacionados aos – ou de autoria de – talentosos maranhenses que contribuíram, e muito, para que nosso País se houvesse melhor, seja enquanto realidade para nós, seja como referência para outrem.

* EDMILSON SANCHES

Brasília (DF), 22/04/2025 - Henrique Cazes, músico e professor. Foto: Henrique Cazes/Arquivo Pessoal

Esta quarta-feira (23) é Dia de São Jorge, feriado no estado do Rio de Janeiro. Mas o santo celebrado por cariocas e fluminenses passou a dividir seu dia com os chorões. Desde o ano 2000, o 23 de abril também é Dia Nacional do Choro, um gênero musical brasileiro, nascido no Rio.

A data, estabelecida na Lei 10.000/2000, assinada pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, foi escolhida para homenagear o nascimento de outro "santo": o pagão “São Pixinguinha”, como dizem nas rodas de choro. O detalhe é que, na verdade, Pixinguinha nasceu em 4 de maio de 1897 ─ como pesquisadores da música brasileira posteriormente desvendaram.

Para saber mais sobre os mistérios do choro, uma música de matriz popular e acadêmica, a Agência Brasil entrevistou o cavaquinista Henrique Cazes, professor do Programa de Pós-Graduação Profissional em Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de quase uma dezena de livros sobre o choro e seus personagens.

Leia, a seguir principais trechos da entrevista,

Agência Brasil: 

O 23 de abril é Dia Nacional do Choro em referência à data presumida de nascimento do Pixinguinha. O choro tem mais de uma definição, seja como gênero musical ou como uma maneira de tocar uma música. Há também mais de uma explicação por que foi batizado com nome choro. Que outros mistérios tem essa música que identificamos como genuinamente brasileira e com mais de 150 anos?

Henrique Cazes: 

Mistério não falta no choro. A gente pode assinalar um padrão de composição que foi estabelecido pelos pioneiros, desde Henrique Alves de Mesquita, Chiquinha Gonzaga, Joaquim Callado, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros. Esses compositores de grande talento estabeleceram um padrão de acabamento, de elaboração nas composições, e isso tudo fez com que o choro, já no início, fosse uma música que era difícil de se fazer. No entanto, 150 anos depois, não para de aparecer gente fazendo choro e continuando a perseguir esse padrão de qualidade composicional.

Eu acho que isso é um mistério, porque se essa música fez tão pouco o sucesso comercial, por que haveria paixão de gerações a gerações? É algo, realmente, que é um mistério. A gente pode ter uma explicação bem técnica e racional, mas, do ponto de vista da paixão, é algo que que me admira até os dias de hoje, quando eu chego numa roda de choro e encontro músicos muito jovens tocando de uma forma que não envolve só a técnica, conhecimento, mas envolve também esse amor por essa música. Isso é algo incrível.

Outra coisa que eu também acho misteriosa é como, ao longo desses 150 anos, o repertório foi crescendo do ponto de vista acumulativo. Quero dizer que aquilo que é lá de trás não é descartado. E, à medida que vão surgindo novos compositores, vão surgindo novos clássicos, e os antigos não deixam de ser tocados. No choro, às vezes, a grande novidade que aparece numa roda é uma polca do Século 19 que foi tirada do baú de algum lugar, de alguma pesquisa. É fascinante isso. Não se deixa nada pelo caminho, vai se acumulando.

Agência Brasil: 

As rodas de choros teriam alguma responsabilidade pela longevidade da música?

Henrique Cazes: 

Eu escrevi um livro chamado O choro reinventa a roda, e seu título completo seria O choro reinventa a roda e a roda reinventa o choro. É realmente muito importante, ao longo desse tempo todo, a experiência compartilhada de interpretação em que há uma convivência harmoniosa entre a memorização de repertório e o improviso. Isso é uma coisa muito importante para que o choro esteja em constante renovação, numa dinâmica muito viva.

Brasília (DF), 22/04/2025 - Henrique Cazes, músico e professor. Foto: Henrique Cazes/Arquivo Pessoal

Agência Brasil: 

Não havia disco nem rádio no início do choro. Foi pelas rodas que a música se perpetuou até haver um meio de comunicação que a levasse a um público maior?

Henrique Cazes: 

Foi pelas rodas de choro e também pelas partituras. Uma parte do contingente dos chorões, desde o início, era de leitores de música que faziam as anotações. Um músico copiava do caderno do outro, e esses cadernos se multiplicaram e foram importantes na fixação do repertório do Século 19. Depois de um certo ponto, em torno do ano de 1900, começam a imprimir partituras em quantidade maior.

Já na era do rádio, os conjuntos tocavam choro [no ar, ao vivo]. Os grandes solistas que lideravam esses conjuntos, chamados regionais, foram figuras importantes. Eram solistas tão conhecidos quanto os cantores mais famosos. O conjunto do Jacob do Bandolim, o conjunto do Benedito Lacerda, o conjunto do Altamiro Carrilho. Eles eram atrações também na programação do rádio.

A era do rádio foi uma coisa muito importante, mas eu acho que as rodas de choro selecionaram o acervo musical. Uma parcela do repertório foi mudando de acordo com o núcleo de chorões [que tocavam nas rodas de choro] e reafirmava pertencimento em razão do amor pela música. As rodas também são uma maneira dos amadores encontrarem os profissionais.

Agência Brasil:

No livro O choro reinventa a roda, você chama de Fase Defensiva do Choro um período que vai de 1932 a 1980. Nesses quase 50 anos iniciados com a era do rádio, tivemos nomes como Pixinguinha, Garoto, Jacob do Bandolim, Benedito Lacerda, Altamiro Carrilho, Abel Ferreira, Zé Menezes, Valdir Azevedo, Zé da Velha e outros tantos citados. Com elenco desses, o melhor nome que a gente poderia chamar é de fase defensiva?

Henrique Cazes:

Na verdade, o que aconteceu, coincidentemente com a era do rádio, foi um distanciamento dos profissionais do ambiente da roda. Ou seja, um distanciamento entre profissionais e amadores. E isso fez com que os amadores fechassem o ambiente do choro. Daí é esse nome de “fase defensiva”, porque a roda de choro ganha um caráter meio iniciático, uma coisa quase maçônica. É um momento difícil, em que, praticamente, a transmissão se dá por meio dos discos, dos quais os músicos amadores conseguiam tirar o repertório. As rodas eram muito fechadas. Dois musicólogos norte-americanos, Tamara Livington-Isenhour e Thomas Garcia, nomearam essa fase como “defensiva”, e eu aproveitei ao constatar na descrição de vários chorões o temor que havia de que as rodas se abrissem e se desvirtuasse. Uma visão muito conservadora.

Agência Brasil:

Nesses tempos fechados, as rodas de choro se esconderam nos quintais do subúrbio do Rio de Janeiro? O que a cidade tem a ver com esse momento do choro?

Henrique Cazes: 

Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, Jacob do Bandolim disse que as rodas de choro estavam rareando porque não se admitia uma roda sem um quintal, sem uma varanda. E havia uma transformação urbana, com o desaparecimento do modo de viver da casa, com espaço, dando lugar a prédios de apartamento, ainda nos anos 1950 e 60. Em um apartamento é muito complicado fazer alguma coisa desse tipo.

Agência Brasil: 

Os baianos, como os cariocas, reivindicam a paternidade do samba. Mas sobre o choro não há querela, é uma música genuinamente carioca. Por que o choro nasceu no Rio?

Henrique Cazes: 

A experiência que levou ao aparecimento do choro só poderia ter acontecido em uma cidade que, no Século 19, em 1808, recebe a corte portuguesa. Uma cidade que tinha população negra muito grande, não só pessoas escravizadas, e onde houve encontro com a cultura de origem europeia. O mundo acadêmico não era longe desse mundo da música popular. Tudo isso fez com que o choro tivesse características tão peculiares. A certidão de nascimento carioca é inquestionável porque, naquele momento, a única cidade que tinha essa mistura específica [era o Rio], inclusive com a quantidade de músicos e professores de música trazidos pela corte.

O professor belga Métier André Hacker foi professor do Joaquim Callado. Eles se tornam grandes amigos e acabaram compondo dentro das formas do choro: do lundu e da polca abrasileirada. Havia uma interação de fato com os olhos na Europa e os pés no chão dos terreiros.

Agência Brasil: 

Nesse chão dos terreiros, também vai ter samba... Você percebe dinâmicas diferentes entre as rodas de choro e as rodas de samba?

Henrique Cazes:

A principal diferença é o elemento corpo. A roda de choro é um ritual construído por sons e olhares. Na roda de samba, o corpo é o dono do samba, e o samba é o dono do corpo. Aliás o [sociólogo e jornalista] Muniz Sodré já escreveu um livro com esse título. Essa parte que envolve sensualidade, tão marcante da roda de samba, é ausente na roda de choro.

É algo muito sutil e é justamente o mistério da roda de choro, com características que parecem tão pouco atrativas principalmente às pessoas mais jovens, conseguir existir há 150 anos. E está aí firme e forte, toda hora aparece uma roda de choro nova. Isso é fascinante, né?

Agência Brasil: 

Choro e samba não têm em comum os conjuntos chamados de “regionais”?

Henrique Cazes: 

Não, [o regional] é do samba. A profissionalização do rádio se deu ao mesmo tempo em que houve a consagração do chamado samba batucado. Quer dizer, o samba maxixado dá lugar ao samba batucado. O [maestro e compositor] Benedito Lacerda é o primeiro a aperfeiçoar um conjunto que era ideal para o acompanhamento do samba batucado. Tanto é que na discografia da Carmen Miranda dos anos 1930, os sambas são acompanhados pelo regional do Benedito Lacerda, e as marchas, acompanhadas pela banda do Pixinguinha. A Carmen sabia escolher o melhor acompanhamento para ela. Isso faz com que esse conjunto ─ com dois violões ou três, pandeiro, cavaquinho, um instrumento solista; o chamado regional ─ acabe sendo muito útil nas estações de rádio, porque ele podia acompanhar justamente aquela onda do samba que estava se consagrando como música nacional.

Mas o choro começa a ser tocado de outra maneira. O choro era muito mais perto da polca e do maxixe até o surgimento do conjunto regional do Benedito Lacerda, que é o modelo que todos copiam. O conjunto regional é o acompanhamento ideal do samba batucado que se consagra e muda a maneira de tocar o choro. Até a era do rádio, o choro era tocado por orquestra, tocado por pequenos conjuntos. Tinha piano com flauta, piano com trompete. Havia variedade de instrumentação. A partir da era do rádio, há um afunilamento para o conjunto regional e acaba passando a ideia para as gerações seguintes, que choro era tocado só daquela maneira, só com aquela formação, quando na verdade era uma coisa muito mais diversificada.

Agência Brasil: 

Morreu recentemente Cristina Buarque, com quem você gravou disco e teve projeto de espetáculos.

Henrique Cazes: 

No início dos anos 1990, eu e Cristina tínhamos um ponto de encontro que era um bar chamado Bip Bip, em Copacabana, muito perto da casa da mãe dela. [Lá] foi surgindo a ideia de fazer um trabalho sobre Noel Rosa. E homenageando, então, a situação em que todos nos encontrávamos naquele momento, a gente escolheu o título de Sem tostão... a crise não é boato para um show que estreou em março de 1992. Depois de 7 anos com esse show, a gente fez A crise continua e gravamos dois discos.

Nesse espetáculo, éramos só eu e ela. Eu tocando, cantando e contando histórias, e ela cantando. A gente se divertia muito fazendo show. Ela tinha um humor muito peculiar. É uma perda incrível. Cristina foi um exemplo de interesse por repertórios que estavam esquecidos. Há uma geração toda que veio cantando nos espaços da Lapa ─ como Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Alfredo Del-Penho, Teresa Cristina e outros mais ─ que pegaram o gosto da pesquisa por causa da Cristina. Ela era uma pesquisadora prática. Perguntava: “você conhece aquela música?” Eu respondia; “não conheço, não.” E ela: “vou te mandar”. Outro dia, encontrei na minha casa uma seleção que ela fez de coisas esquecidas do Cartola. Ela queria era que mais pessoas partilhassem daquela paixão dela pelo samba de repertório pouco rodado, né?

Sua morte é uma perda muito grande. Era uma pessoa que, toda vez que a gente sentava para conversar, eram horas de conversa, muita risada, falávamos muita bobagem. Tinha um humor muito ácido, muito crítico. Sua perda para mim foi uma pancada firme. É duro para o samba, é duro para o ambiente das rodas de samba. E o que a gente pode fazer? A gente só pode cantar o repertório dela.

(Fonte: Agência Brasil)