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Voltar não é preciso*

Lá fora o mundo me esperava,
com suas mandíbulas pesadas,
abertas e retesadas, querendo mastigar-me;

a guerra era santa e as lanças afiadas,
os dias eram longos, e as noites eram tardas;

o céu imenso, o frio intenso;
e a Universidade era invadida por botas e cavalos;

havia gênios de lâmpadas e dragões alados;

Kafka era encontrado a perambular
pela esplanada,
e teorias e conceitos varavam as madrugadas,
e poemas renasciam em noites enluaradas,
auroras e crepúsculos, planaltos e alvoradas;

voltar não é preciso, navegar é preciso,
por mares nunca dantes navegados.

* Fernando Braga, in “Poemas do tempo comum”, São Luís, 2009.