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A Rainha Elizabeth II, monarca do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, morreu hoje (8), aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, na Escócia. A informação foi divulgada no perfil oficial da família real britânica no Twitter.

A mensagem publicada no Twitter diz que “a Rainha morreu tranquilamente em Balmoral nesta tarde. O Rei e a Rainha Consorte permanecerão em Balmoral nesta noite e retornarão a Londres amanhã”.

(Fonte: Agência Brasil)

Leopoldina

!“Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1822

Pedro,

O Brasil está um vulcão”.

Mais direta, impossível. Era mais do que uma correspondência de amor. O início da carta de Maria Leopoldina da Áustria, então com 25 anos de idade, para o marido, o imperador D. Pedro I, manifestava angústia e um chamado para uma transformação do Brasil. Na verdade, uma separação (de Portugal).

“Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças se partirmos agora para Lisboa. (...) O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com vosso apoio ou sem vosso apoio, ele fará sua separação”

Para ela, o fruto (a independência) estava maduro.

“O pomo está maduro, colheio-o já, senão apodrecerá. Já dissestes aqui o que ireis fazer em São Paulo. Fazei, pois”.

Para três biógrafos e pesquisadores da vida de Leopoldina, consultados pela Agência Brasil,  a princesa atuou de diferentes formas que foram primordiais para que ocorresse a Independência do Brasil.

Os historiadores Mary Del Priore, Clóvis Bulcão e Paulo Rezzutti entendem que ações de bastidores, com autoridade intelectual diferenciada, e sentimento de preservação do trono, resultaram para que o dia 7 de setembro tivesse entrado para a história.

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Para a professora Mary Del Priore, a princesa regente foi certamente uma das personagens "mais cativantes desse grande momento”, afirma a autora do livro A Carne e o Sangue: A Imperatriz D. Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a Marquesa de Santos.

Para o escritor Clóvis Bulcão, autor de Leopoldina: a Princesa do Brasil, o "Sete de Setembro" ocorre por conta das cartas que vêm do Rio de Janeiro, tanto encaminhadas por José Bonifácio como pela princesa. Davam sinal verde para o que parecia inimaginável naquele reino: uma independência.

Constrangimentos e sagacidade

A pesquisadora Mary Del Priore entende que há influência das relações pessoais e familiares de Leopoldina no contexto político. A esposa do imperador foi constrangida pela exposição frequente pública da amante, Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, em compromissos da família que governava o Brasil.

“A Leopoldina, que está no papel, representou uma criatura muito sofredora e extremamente vilipendiada e humilhada pelo marido. Mas teve uma atuação muito importante em todo o processo ”, afirma Mary Del Priore. 

A pesquisadora contextualiza que, até a  Revolução Francesa (1789), a sexualidade dos príncipes e dos reis era algo associado à virilidade de quem ocuparia o trono. “O rei seria considerado poderoso se ele tivesse muitas amantes e filhos  Depois, no fim do século XVIII, e no início do século XIX, com todos os ideais iluministas e republicanos, ter uma amante significaria que o homem era fraco”. 

O escritor Clóvis Bulcão entende que as relações extraconjugais do marido vão ser o caminho da “desgraça” dela.

Leopoldina

No Poder

O escritor e pesquisador Paulo Rezzuti explica que as cartas são as pistas que tornam possível decifrar os pensamentos da regente, tanto o seu olhar político como os sentimentos conflituosos para a família. Segundo o pesquisador, é possível verificar que Leopoldina encontra, nas cartas, uma forma de se abrir com pessoas que ela confiava. “Então, percebe-se uma mulher que estava acostumada a governar e a reinar. Ela foi criada pra isso”, esclarece o autor de D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a Independência do Brasil.​

Pedro, segundo os biógrafos, compreende que Leopoldina é uma aliada. “Se não entendesse que ela era uma aliada, jamais o imperador teria colocado ela como regente do Brasil enquanto ele fazia a viagem para São Paulo”, aponta o pesquisador. 

“No dia 13 de agosto, Pedro saiu do Rio de Janeiro e colocou ela como princesa no Brasil. Ele chegou em São Paulo no dia 25 de agosto e voltaria ao Rio de Janeiro um mês depois, no dia 14 de setembro”, explica Rezzutti. Quando o Brasil ficou Independente, a regente era a esposa. Tornava-se, então, a primeira mulher que ocupou o mais alto cargo no Brasil. E em um período de extrema tensão. Havia conflitos na Bahia desde fevereiro.

Um dos aspectos da força de Leopoldina estava ligado ao momento do Conselho dos Ministros, quando Dom Pedro estava em São Paulo, e foi ela, na situação de princesa regente, que estava reunida com José Bonifácio de Andrada e Silva (presidente da Junta Governativa de São Paulo e assessor de Dom Pedro) quando recebeu a correspondência do reino com uma série de imposições ao Brasil. Ela, então, ajudou a articular o desenrolar dos acontecimentos que culminaram com a Independência. 

Independência do Brasil,Maria Leopoldina

Leopoldina, então, sinalizou de forma enfática para a tomada de decisão do marido sobre a separação de Portugal.  A carta com a metáfora de que o “fruto (da Independência)” estaria “maduro” era a indicação de que Pedro precisaria. Mary Del Priore explica que o fato de a princesa ter se tornado regente era fato comum da época. Apesar das humilhações no cenário de foro íntimo, Leopoldina tinha a confiança do marido para as decisões políticas.

Poliglota

Os pesquisadores enfatizam que ela percebeu que os filhos iriam ficar sem trono. Por isso, pensou em resguardar o caminho para os herdeiros. “É espetacular o devotamento da Leopoldina ao Brasil e ao projeto dela de uma coroa (pensando no país) para os filhos”, afirma Mary Del Priore.

Como o imperador não era fluente em outros idiomas, Leopoldina incumbiu-se da tarefa de receber marinheiros mercenários  para compor as forças de resistência brasileiras. Segundo os estudiosos, ela falava inglês, francês, alemão e recebeu os militares. 

Leopoldina escreveu para as lideranças na Europa pedindo reconhecimento do Brasil e de Dom Pedro, como alguém aclamado pelo povo. “Ela foi uma presença muito proativa”, diz Del Priore. 

Um exemplo disso é que, mesmo depois da dor de perder o filho (no dia 2 de fevereiro de 1822), João Carlos (que ela esperava que seria o futuro imperador do Brasil,), essa mulher vence essa dor e todas as dificuldades. “Ela estava grávida novamente e foi de barrigão no Arsenal da Marinha falar com os militares”.

Não seria a primeira vez que Leopoldina usava a sagacidade para resolver dúvidas importantes para o país, em uma mistura de questões familiares e políticas. Em janeiro de 1822, por exemplo, quando ocorre o Dia do Fico (marco, em 9 de janeiro, também para a Independência do Brasil que ocorreria naquele ano), Leopoldina, grávida, usa como pretexto a gestação para não voltar a Portugal.


Os historiadores analisam que Leopoldina percebeu que a ausência do imperador poderia enfrentar revoltas que provocassem divisões do território. “Ainda não se tinha essa ideia de sentimento de nacionalidade. Isso vai ser o processo da independência que vai trazer essa ideia de unidade nacional”, afirma o escritor Paulo Rezzutti.

Segundo outro biógrafo de dona Leopoldina, o escritor Clóvis Bulcão, a princesa foi lentamente sendo envolvida por aquele ambiente de disputa, de radicalização entre brasileiros e portugueses. “Ela vai tomando claramente o lado do Brasil". “É importante lembrar que o pai dela, o imperador da Áustria, quando fez o casamento com a família Bragança deixa bem claro que não era pra se meter em aventura revolucionária”, contextualiza Bulcão.

Essa desobediência rompeu com a tradição do império austríaco. Bulcão avalia que, no fim, ela vai ter um papel importante naqueles últimos dias que antecedem o 7 de Setembro. O clima vai ficando cada vez mais tumultuado e tenso. Dom Pedro, quando foi pra São Paulo e proclamou a Independência, deixa Leopoldina como regente no Rio . “Então, na verdade, o Brasil, quando nasce em 7 de setembro, tem uma mulher como a governante”.

A aliada

“Após a Independência, ela também mostra o seu valor”, afirma Mary Del Priore. Em vez de ficar  no Palácio, recolhida e humilhada, para chorar o filho morto ou cuidar das filhas, ela assume esse lugar de negociadora diplomática entre Brasil e Áustria. As correspondências dela para o pai (o monarca Francisco Carlos) pedem que o Brasil seja reconhecido como Império”, afirma a pesquisadora.

Os pesquisadores explicam que as cartas deixadas por dona Leopoldina são fundamentais para entender aquele momento. “A maioria das cartas encontradas foram as que ela deixou para a irmã [Maria Luiza, esposa de Napoleão, ídolo de Dom Pedro]."

O comportamento de Dom Pedro, com várias amantes e filhos das relações extraconjugais, tem relevância política porque as histórias da família passam a se tornar públicas, e são julgadas pelos que leem os panfletos. “É na casa da Marquesa de Santos que Dom Pedro reúne também a corte brasileira”. Por outro lado, na casa de Leopoldina, também ocorriam encontros políticos. Nesse momento, folhetos passam a circular para criticar o autoritarismo de Dom Pedro e seu comportamento que atentaria contra a imagem das famílias brasileiras. 

“Esses folhetos vão ficando cada vez mais ácidos e isso desembocaria, depois, na decadência da figura política de Dom Pedro. Uma decadência que vai resultar em 1831 na volta dele pra Portugal onde ele está realmente muito desmoralizado”.

Admiração pelo Brasil

A viagem da comitiva de Leopoldina, da Europa até o Brasil, demorou 84 dias. Era o caminho para o casamento de conveniência, como era costumeiro na época. Em carta escrita em 1817, ela revelou-se encantada pela visão da Baía de Guanabara.

 A princesa austríaca teve sólida formação científica e estudou detalhes sobre o Brasil antes de se mudar. Depois da chegada, se apaixonou.  Ela tinha especial atenção por assuntos de botânica, de mineralogia e pelo meio ambiente brasileiro.

Johann Baptist von Spix

“É um país magnífico e ameno, terra abençoada que tem habitantes honestos e bondosos; além disso louvasse toda a família, têm muito senso e nobres qualidades. Logo a Europa estará insuportável e daqui dois anos posso viver aqui novamente, mas esteja convicta de que meu maior empenho será corresponder à confiança que toda a família e meu futuro esposo em mim depositam, através de meu amor por ele e meu comportamento”, escreveu à irmã.

Mãe e morte

Em nove anos, Leopoldina teve nove gestações. Sete filhos sobreviveram, entre eles Pedro, que iria se tornar o herdeiro do trono. Mesmo com a vida de mãe e os trabalhos políticos, Leopoldina enfrentou depressão. Ela passou a engordar muito.

Um momento de tensão no país ocorreu com a morte dela, com apenas 29 anos de idade, em novembro de 1826. “A Marquesa de Santos teve que fugir pelos fundos da casa dela porque a  população a acusava de ter envenenado a imperatriz”, diz a professora. Os pesquisadores entendem que a fragilidade física dela causou obesidade mórbida. 

Mercenários estrangeiros também se revoltam com a morte de Leopoldina. Na Europa, há também perplexidade. Nos jornais, os relatos médicos nos jornais da época. “Ela pode ter tido uma febre resultante de uma infecção do último aborto. Ela estava já bastante enferma por causa dos partos”, afirma Mary Del Priore.  A pesquisadora explica que ela se despediu dos filhos e dos funcionários antes de morrer. A morte causou comoção nacional. 

Invisibilidade

O escritor Paulo Rezzutti entende que a personagem foi apagada da história de forma injusta e por machismo, já que ela age nos bastidores políticos, além do que se esperaria dela. Uma mudança de olhar da história ocorre só no século seguinte. Clóvis Bulcão considera uma ação de machismo em relação a historiadores que  diminuíram o papel de Leopoldina.

Para Mary Del Priore, até o fim do século XX, era incomum que as histórias de mulheres ganhassem maior repercussão. “A historiografia vem descobrindo protagonistas femininos. Está se fazendo justiça a uma mulher que trabalhou pela independência do Brasil com todas as forças e com muito amor”.

(Fonte: Agência Brasil)

Pesquisadores resgataram a localização do ponto exato onde Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822. Segundo o professor do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP) Jorge Pimentel Cintra, o local chegou a ser marcado fisicamente “com bastante precisão” no início do século XX, mas, ao longo das décadas, várias confusões e mal-entendidos fizeram com que a informação acabasse se perdendo.

Cintra conta que o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo determinou, em 1902, o lugar, dentro do perímetro de onde atualmente fica o Parque da Independência, na zona sul paulistana. “Nesse local, foram colocados um mastro e uma pedra, como se pode ver em fotos da época. E aí permaneceram até 1921 ou 1922 quando os jardins foram remodelados, com grandes escavações”, relata.

A partir da retirada desse marco, começaram a ser atribuídos outros pontos, como o local onde foi instalado o Monumento à Independência, de autoria do artista Ettore Ximenes, inaugurado em 1922, nas comemorações do centenário da Independência. Há, ainda, o famoso quadro de Pedro Américo, que ajudou a formar o imaginário sobre o momento, mesmo não sendo preciso do ponto de vista histórico.

Havia, também, uma pedra fundamental que foi colocada anteriormente, segundo o pesquisador, no lugar errado. “O local que prevaleceu situa-se no jardim acima da Rua dos Patriotas, junto à primeira fonte, para quem sobe”, diz sobre a primeira tentativa de demarcação que, equivocada, ajudou a aumentar a confusão sobre o tema.

De acordo com o pesquisador, não se sabe porque essa marcação foi colocada fora do lugar, uma vez que o ponto foi medido com precisão à época (1825), quando se pretendia erguer um monumento no local.

Mapas e GPs

Há três anos, Cintra vem pesquisando o assunto como parte de um estudo sobre o caminho de Dom Pedro no dia 7 de setembro. Para precisar o ponto exato do grito, o professor analisou relatos de quatro testemunhas que estavam presentes no momento do fato histórico. Além disso, ele recorreu à ata de setembro de 1825 da Câmara Municipal de São Paulo. “Ela dá uma informação precisa do local: 184 braças [104,8 metros] da cabeceira sul da ponte sobre o riacho do Ipiranga. Estiveram presentes nessa demarcação engenheiros, agrimensores e pessoas que presenciaram o fato e moravam na região”, detalha.

Apesar da precisão dessas indicações, Cintra diz que as mudanças do espaço ao longo do tempo dificultam a localização. “A dificuldade maior foi determinar a posição da cabeceira da ponte em 1822, pois o rio foi retificado e a ponte foi destruída. Para isso, recorri a mapas antigos em que figuravam o rio e a ponte antes da retificação”, conta.

Os mapas antigos foram sobrepostos com um programa de cartografia digital. Com essas informações, foi possível fazer a marcação no parque usando sistema de localização por satélite (GPS). O ponto correto fica em um bosque, na parte esquerda do parque, se o observador estiver de frente para o Museu Paulista. O trabalho foi detalhado em artigo assinado com o pesquisador Alexandre Cintra.

Para o pesquisador, ter o ponto exato, apesar de não mudar a essência do entendimento do fato histórico, permite examinar detalhes da situação, como a movimentação dos mensageiros e da guarda de honra do então príncipe regente.

(Fonte: Agência Brasil)

E se a frase mais famosa que você teria dito, não tivesse sequer sido proferida? É o que pode ter acontecido com Dom Pedro I. Ou, talvez, o famoso brado “independência ou morte” tenha sido parte de uma frase bem maior.

O que se falou exatamente em 7 de setembro de 1822, só quem estava lá sabe.

Ao receber várias cartas no caminho entre Santos e São Paulo, Dom Pedro decidiu tomar a decisão de romper os laços do Brasil com Portugal. “O pomo está maduro, colhe-o já”, escreveu a Princesa Leopoldina.

Padre Belchior de Oliveira, conselheiro de Dom Pedro, estava lá em 1822 e no seu depoimento escrito, em momento algum, lembra-se do famoso “independência ou morte!”. Para o padre, Dom Pedro teria dito algo assim, “Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil para sempre, separado de Portugal”.

Já o alferes Canto e Melo, irmão de Domitila, futura Marquesa de Santos, escreveu posteriormente que Dom Pedro falou em alto e bom som, “Independência ou morte! Estamos separados de Portugal!”.

A comitiva de Dom Pedro era pequena. No máximo, 14 pessoas e outra testemunha dos fatos, o Coronel Manuel Marcondes lembrou-se de que o grito que ficou marcado para sempre, foi, na verdade, tirado de uma frase bem maior proferida pelo príncipe-regente.

“Brasileiros! A nossa divisa de hoje em diante será Independência ou Morte! E as nossas cores, verde e amarelo, em substituição às das cortes”.

Seja como for, foi forte o suficiente para romper os vínculos da colônia com a antiga metrópole e significou um novo capítulo na história da terra imensa, chamada Brasil.

(Fonte: Agência Brasil)

Cena da primeira radionovela do Brasil. "Em busca da felicidade"

O vaqueiro Soropita ama Doralda. Ama de um jeito que é capaz de montar a cavalo, sair de uma comunidade chamada Ão, em um grotão mineiro em que vive, para ouvir capítulos de radionovela no distrito de Andrequicé, na cidade de Três Marias (MG), onde conseguia captar a transmissão. Ão é uma comunidade fictícia criada pela genialidade de João Guimarães Rosa, no conto Dão-lalalão, do livro Noites do Sertão, publicado pela primeira vez no ano de 1956.

Aquela década de 1950, aliás, fazia parte da Era de Ouro do Rádio. Na história, o vaqueiro descobre-se, também, encantado por radionovelas. Ao recordar os capítulos para a amada e para a comunidade ansiosa por ouvi-lo, pensa na própria vida.

O pesquisador José Osvaldo dos Santos, de 70 anos, que criou um Ponto de Memória na cidade de Cordisburgo (MG), cidade natal de Rosa, entende que a história revela a importância que as radionovelas exerceram naquele período também para o interior brasileiro.

“O conto termina com todas as pessoas do lugarejo indo ouvir os capítulos da novela e ansiosos para que Soropita voltasse no outro dia para contar mais. As novelas no rádio nos deixaram muitas saudades. Era uma hora solene onde todas as pessoas adultas se reuniam na casa para se deliciarem com os acontecimentos do cotidiano do mundo”, afirma o pesquisador, cujo Ponto de Memória tem o nome de Aqui já é Sertão.

Ele recorda radionovelas como Jerônimo, o Herói do Sertão O Direito de Nascer,  Marcelino Pão e Vinho. “Além de muitas outras que nos maravilhavam. O rádio até hoje é de uma importância grandiosa”.

O próprio pesquisador é um confesso apaixonado pelos aparelhos de rádio e pelos sons que saem daquelas caixas mágicas. Na casa em que guarda relíquias, muitas para lembrar de Guimarães Rosa, ele expõe mais de 100 aparelhos antigos de rádio, que ele comprou ou recebeu como doação.  “Muitos ainda funcionam”.

O primeiro capítulo

Fotos dos roteiros da primeira radionovela produzida no Brasil

Na ficção e na vida real, aparelhos fizeram e fazem as pessoas sonharem. Foi assim desde o começo, conforme explica a professora de comunicação Rose Esquenazi, especialista em história do rádio. A primeira radionovela foi na Rádio Nacional, Em Busca da Felicidade, que era patrocinada por uma marca de creme dental.

Cena da primeira radionovela do Brasil. "Em busca da felicidade"

“Antes de estrear, as pessoas que mandassem para a Rádio Nacional uma embalagem dessa pasta de dente ganhava um livrinho simples com os radioatores e a trama da história. Ninguém esperava que 48 mil cartas chegassem à emissora", lembra Rose Esquenazi.

Para o pesquisador Thiago Guimarães, do acervo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a Era de Ouro do Rádio coincide com o momento áureo das radionovelas. “Elas alcançaram o status de principal produto produzido pelas emissoras na época”, afirma.

As radionovelas eram inicialmente transmitidas à tarde e deixavam as ouvintes emocionadas. O sucesso era tanto que a história passou a ser transmitida três vezes por semana. “A chegada desse formato fez tanto sucesso que logo a Rádio Nacional abriu diferentes horários. Então, a programação da Rádio Nacional chegou a ter 16 novelas no ar”, diz a professora Rose Esquinazi. Com personagens fixos, como o vilão, o traidor e a heroína.

“A Rádio Nacional, então, separou um andar inteiro do prédio do jornal A Noite, na Praça Mauá, exclusivamente para as radionovelas. A emissora formou uma equipe de radioatores, diretores, autores, maestro e músicos. A Rádio Nacional transmitia ao vivo essas novelas”, diz a pesquisadora.

A professora explica que, em meados dos anos 1950, auge da Rádio Nacional, tinham contrato 670 funcionários, sendo 10 maestros e arranjadores, 124 músicos, 96 cantores e cantoras, No palco oval, ficava a orquestra. O diretor, no centro. Os atores permaneciam sentados e iam pro microfone conforme os papéis deles começavam a aparecer. Atrás, uma instalação era reservada para quem fazia a sonoplastia. “Como não tinha computador, todos os efeitos especiais eram feitos com pequenos aparelhos. A campainha, o chão de assoalho, a areia, o trovão...tudo era feito com pequenos aparelhos".

As novelas eram melodramas que, depoi,s foram até adaptadas para a TV, como ocorreu com O Direito de Nascer, sucesso em 1951 na rádio. “A Rádio Nacional tornou-se a principal emissora do Brasil. Outra emissora que passou a ganhar destaque com o gênero foi a Rádio São Paulo”. A professora aponta que a Rpadio Nacional chegava longe por causa da capacidade das suas antenas.

Segundo o pesquisador Thiago Guimarães, as radionovelas cubanas eram referência na América Latina, e elas já eram uma adaptação do modelo norte-americano, conhecido como soap opera. “A primeira radionovela transmitida no Brasil, Em busca da Felicidade, foi adaptada de um original cubano. O Amaral Gurgel, que chegou a atuar na novela, ressaltou que a adaptação que Gilberto Martins fez do texto original de Leandro Blanco foi importante para o sucesso da novela”. 

Ele explica que as produções em São Paulo e no Rio de Janeiro criaram uma sensação de pertencimento de um Brasil moderno da metade do século XX. “A radionovela passa a perder força quando a televisão se consolida no Brasil, provocando o deslocamento dos anunciantes do rádio para a TV. Com isso, os profissionais – atores, diretores, escritores, técnicos – acabam sendo atraídos para a televisão, fazendo com que a produção de radionovelas declinasse (muito embora não tenha desaparecido completamente)”. 

Na Amazônia

Para o pesquisador Claudio Paixão, que estudou as influências das radionovelas a partir das produções da Rádio Nacional da Amazônia (confira aqui a pesquisa), instalada em 1977, as produções na Região Norte tiveram outros momentos de auge. Havia um repertório especial e apelo: novelas com um colorido regional e com comprometimento socioambiental. Mesmo que fossem gravadas a partir do Rio de Janeiro. Antes das novelas, esquetes de radioteatro eram encenadas com o foco na saúde. “Na década de 1970, rádio ainda era novidade para o interior da Amazônia. As primeiras produções na rádio foram Poronga, Terçado e Coragem Heróis Anônimos.

Claudio Paixão contextualiza que contar histórias brasileiras também significou uma ação estratégica para a região, uma vez que emissoras estrangeiras faziam o papel de comunicação no interior. A primeira radionovela produzida especificamente pelos profissionais da Rádio Nacional da Amazônia foi  A História do Dito Gaioleiro (escrita em 1979 e levada ao ar em 1980). “Embora seja uma produção infantil, o que a gente percebe nessa radionovela é o interesse dela em passar lições sobre o cuidado com o meio ambiente e de não deixar os pássaros presos em gaiolas, com discussões sobre ética e cidadania”.

Depois, vieram as radionovelas para adultos, como Dois Corações, que foi produzida a partir da sugestão de  um ouvinte. O pesquisador cita que tiveram ainda novelas que retratam como trabalhadores foram atraídos para o garimpo, deixando a família pra trás. Histórias que eram exclusivas para a Amazônia.  “Se a gente pensar no Brasil mais profundo, entendemos como o rádio desempenha um papel muito importante. As radionovelas são frutos da relação que a emissora construiu com os ouvintes”.

(Fonte: Agência Brasil)

No maior arrastão de sua história e em um grande comício, no último sábado (3), a população de Vitorino Freire reforçou que está fechada com as candidaturas de Juscelino Filho, que busca o terceiro mandato de deputado federal, e de Weverton ao governo do Maranhão. Também contam com o apoio da prefeita Luanna Bringel e dos vitorinenses a deputada estadual Andreia Rezende e o senador Roberto Rocha, que concorrem à reeleição. Weverton e Roberto participaram da programação em Vitorino.

“Os milhares de pessoas que seguiram o arrastão ou acompanharam das calçadas e casas são o reflexo do reconhecimento de tudo que temos feito em prol de Vitorino”, afirmou Juscelino. Ele completou: “A cidade abraçou o 4410, pois sabe conquistamos muito na saúde, na educação, na assistência social, na infraestrutura, entre outras áreas. E ainda temos muito a avançar nesses dois anos de gestão da Luanna. Por isso, quero continuar representando os vitorinenses e todos os maranhenses lá em Brasília”, afirmou Juscelino.

O candidato a governador Weverton também fez questão de destacar a parceria com a gestão municipal. “Eu não preciso falar de Luanna e de Juscelino Filho. Vocês sabem muito bem tudo que eles têm feito nos últimos anos, e eu tenho muito orgulho de contribuir com isso. Estou aqui para pedir o apoio de vocês, para que possamos construir, juntos, um Maranhão de mais oportunidades, mais empregos e com uma vida melhor para todos. É essa mudança que os maranhenses querem e é o que senti em cada olhar e em cada abraço aqui”, disse.

Ao discursar, a prefeita Luanna destacou a importância da eleição de representantes que querem o bem de Vitorino Freire. “Esse aqui é o time da Luanna. Peço o voto de vocês para o nosso próximo governador Weverton, para o deputado federal Juscelino Filho, para a deputada estadual Andréia Rezende e para o senador Roberto Rocha. É assim, com parceiros de verdade, que vamos fazer de Vitorino um lugar ainda melhor para viver”, afirmou.

Além do deputado federal Juscelino Filho, do senadores Weverton e Roberto Rocha e da prefeita Luanna Bringel, participaram do arrastão e do comício ex-prefeitos, vereadores e lideranças não apenas de Vitorino Freire, mas de diversos municípios da região. Nesse domingo, sob a liderança de Juscelino e Luanna, ocorreu mais uma edição da Cavalgada da Independência, que também lotou as ruas da cidade.  

(Fonte: Assessoria de imprensa)

A primeira edição da Taça das Comunidades de Futebol 7, competição patrocinada pelo governo do Estado e pelo Armazém Paraíba por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, foi lançada oficialmente na noite da última sexta-feira (2), na Arena Olynto, no Bairro Olho d'Água, em São Luís. A competição começa a ser disputada em setembro e contará com atletas da categoria adulto de associações esportivas ou clubes amadores que representarão comunidades e bairros da Grande Ilha de São Luís.

Durante o evento de lançamento da Taça das Comunidades, foi realizado um congresso técnico, que contou com a divulgação do regulamento, o sorteio dos grupos e a definição dos primeiros confrontos. Além disso, todas as equipes participantes da competição receberam kits com uniforme completo (camisa, calção e meião) e bolsas esportivas, para utilização durante os jogos.

A Taça das Comunidades contará com a participação de 24 times, que poderão inscrever até 15 atletas cada um, totalizando 360 jogadores na disputa. O torneio terá seis grupos com quatro equipes, que se enfrentarão dentro dessas chaves em turno único. Os líderes de cada grupo e os dois melhores vice-líderes avançam às quartas de final, que serão disputadas em jogo único, assim como as semifinais, a disputa do terceiro lugar e a final.

Após a decisão da Taça das Comunidades, será realizado o evento de premiação com troféus e medalhas para o campeão, o vice-campeão e o terceiro colocado. Durante a solenidade de encerramento, haverá, também, a entrega dos prêmios individuais para o melhor jogador, o artilheiro, o goleiro menos vazado e o melhor treinador da competição.

“Estamos muito felizes com o lançamento da primeira edição da Taça das Comunidades, que tem o objetivo de incentivar a prática do futebol 7 na Grande Ilha de São Luís, além de valorizar o trabalho dos clubes amadores e associações esportivas, que têm um papel muito importante na sociedade. Esperamos uma grande competição, com muitos jogos emocionantes e de alto nível técnico. Agradecemos ao Armazém Paraíba e ao governo do Estado por todo o apoio para a realização desse projeto", diz Waldemir Rosa, diretor-técnico da competição.

Todas as informações sobre a Taça das Comunidades de Futebol 7 estarão disponíveis nas redes sociais oficiais do projeto (@tacadascomunidadesfut7).

(Fonte: Assessoria de imprensa)

Na Bahia, o movimento pela independência começou em fevereiro de 1822. Sete meses antes da proclamação por Dom Pedro, mas os portugueses se recusaram a sair da província e houve uma guerra que durou até a expulsão deles, no dia 2 de julho de 1823.

Uma das heroínas foi Maria Quitéria que fingiu ser homem, usando o nome do cunhado dela, soldado Medeiros, e se alistou como voluntária na guerra. Ela se destacou por sua bravura, foi descoberta, mas continuou lutando e chegou a receber uma condecoração de Dom Pedro I.

Outra Maria, mas de origem muito mais humilde também se destacou: Maria Felipa. Ela liderou um grupo de 40 mulheres que seduziram os portugueses que ancoraram na ilha de Itaparica. Quando eles baixaram a guarda, elas deram uma surra de cansanção, uma planta de urtiga e conseguiram expulsar os inimigos.

Já Joana Angélica foi a única das três que acabou morrendo durante os conflitos. Ao tentar defender o convento dos portugueses, que tinham instrução de ocupar até mesmo lugares religiosos, ela foi morta a golpes de baioneta, virou uma mártir desse período de guerra na Bahia e, hoje, é considerada uma das heroínas baianas, ao lado de Maria Quitéria e Maria Felipa. 

(Fonte: Agência Brasil)

O Festival Internacional de Piano do Rio de Janeiro será realizado a partir de hoje (5), estendendo-se até o dia 11 e homenageando o pianista brasileiro Nelson Freire (1944-2021). Será a segunda edição do festival, depois de um período de cinco anos. O evento recebeu 35 inscrições de 14 países.

A equipe formada pela diretora artística e coordenadora-geral Lilian Barretto, por Vera Astrachan e Olga Kopylova selecionou oito pianistas, de seis países, para as provas semifinais, que ocorrerão nos dias 5 e 6 de setembro, na Sala Cecília Meireles, às 14h, concorrendo a premiações no valor total de R$ 165 mil. No dia 6, serão conhecidos os três pianistas que disputarão os primeiros lugares do concurso. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do local, a preços populares: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).

Os oito pianistas pré-classificados são Antonina Suhanova (Letônia), Hyerim Lee (Coreia do Sul), Jordan Alexander (Brasil), Noah Zhou (Reino Unido), Rafael Ruiz (Brasil), Robert Bily (República Tcheca), Xiaohui Yang (China) e Yeontaek Oh (Coreia do Sul).

O Festival Internacional de Piano do Rio de Janeiro dá continuidade ao Concurso Internacional BNDES de Piano, que descobriu e promoveu inúmeros talentos do Brasil e do exterior, no período de 2009 a 2016.

Agora, com o apoio do Instituto Cultural Vale, Lilian Barretto decidiu fazer um evento híbrido, conforme informou (4) à Agência Brasil. “Não só um concurso e não só um festival. Este segundo festival tem características muito interessantes porque abrange toda a parte de provas e prêmios de um concurso, mas também tem itinerância de concertos e masterclasses, que seriam de um festival. Por isso, ele é muito mais abrangente do que a gente fez de 2009 até agora”.

Provas

No dia 10 de setembro, às 19h, também na Sala Cecília Meireles, os três pianistas finalistas farão as provas decisivas, com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), sob a regência do maestro Roberto Tibiriçá. Em seguida, haverá a cerimônia de premiação.

Para encerrar a edição, no dia 11, às 17h, no mesmo local, será realizado o Concerto do Vencedor do Festival, com a Orquestra Sinfônica Brasileira, regida por Roberto Tibiriçá, apresentando obras de Camargo Guarnieri, Gluck e um Concerto para Piano e Orquestra. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria.

O festival terá, também, quatro masterclasses para jovens pianistas brasileiros, ministradas por alguns dos jurados do evento, nos dias 8 e 11 de setembro, no Espaço Guiomar Novaes, da Sala Cecília Meireles, e no Auditório Villa-Lobos, da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, e de 8 a 13 de novembro, em parceria com o Projeto Vale Música, na Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), em Vitória.

A coordenadora lembrou que um festival com premiação “abre oportunidades para jovens pianistas serem conhecidos no cenário musical nacional e internacional, traz conexões com professores de renomadas escolas de música, além de representar um imenso estímulo ao aprimoramento do estudo em níveis mais elevados. É um investimento importante na vida profissional de qualquer músico”, assegurou.

Prêmios

O polonês Piotr Paleczny, vencedor de cinco competições internacionais de piano, será o presidente do júri nesta edição. Ele é jurado de alguns dos mais famosos concursos internacionais como os de Varsóvia, Leeds, Montreal, Moscou, Paris, Genebra e Tóquio, entre outros. Completam o corpo de jurados a japonesa Akemi Alink, o português Álvaro Teixeira Lopes, os brasileiros Eduardo Monteiro, Linda Bustani e Roberto Tibiriçá, e os franceses Marian Rybicki e Pierre Réach.

O pianista classificado em primeiro lugar receberá prêmio em dinheiro no valor de R$ 85 mil, seguindo R$ 45 mil para o segundo e R$ 20 mil para o terceiro. Serão conferidos, ainda, o Prêmio Nelson Freire ao melhor pianista brasileiro, no valor de R$ 10 mil, e o Prêmio do Público, com valor de R$ 5 mil.

O vencedor do Prêmio OSB participará de concerto na temporada da Orquestra Sinfônica Brasileira em 2023. O ganhador do Prêmio Animato participará de concerto dos finalistas do Festival na Salle Cortot, em Paris, na temporada 2022/2023.

Itinerância

A itinerância foi iniciada no dia 16 de abril, quando o Festival Internacional de Piano, em parceria com a Fundação Amazônica de Música, apresentou o premiado pianista russo Dmitry Shishkin no Teatro da Paz em Belém. Ele executou o Concerto nº 1 de Chopin com a Orquestra Vale Música, sob a regência do maestro Roberto Tibiriçá, seguindo-se apresentação em 26 de abril, no mesmo local.

Neste mês, o pianista ucraniano Illia Ovcharenko se apresentará na Sala Cecília Meireles, no Rio, no dia 25, e no Auditório Villa-Lobos,da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na USP, em São Paulo, no dia 28. Em outubro, o pianista da nova geração brasileira Leonardo Hillsdorf se apresentará em Belém (dia 18) e em Vitória (dia 20).

Encerrando a itinerância, o pianista brasileiro Cristian Budu, filho de romenos, se apresentará no dia 2 de dezembro na Sala Cecilia Meireles, no Rio de Janeiro, enquanto o Duo Cristian Budu - Gustavo Carvalho, formado por dois pianos, tocará no dia 7 de dezembro, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

(Fonte: Agência Brasil)

“Me dá um pedaço de pão, moço” – e a menina, por algum tempo, ficou olhando o homem a quem se dirigira com aquela solicitação amarga, molhada de timidez. Instantes que pareceram séculos!

O homem não se percebeu da pequenina, daquele farrapinho de gente que, diante dele, esperava o atendimento. Não. O homem continuava indiferente. Alheio ao quadro humano que se prostrara diante dele, continuava com os olhos pregados adiante, nas suas reflexões.

E a menina insistiu:

“Me dá um pedaço de pão, moço”. O homem não se mexeu ainda. Estava absorto. Seus pensamentos perdidos, distanciados dali, donde estava. Um boteco sórdido, sujo. Infecto. Ele há muito que chegara e, como de hábito, sentara-se no seu banco costumeiro, próximo da porta de saída.

Ali, estava sempre, todos os dias. Entrava e começava a bebericar uma pinga ordinária. Ninguém lhe sabia o nome de batismo, o nome de família. Chamavam-lhe de “Zé Cachaça”. Não se aborrecia com a alcunha. Sorria e continuava ali, ali naquele banco grudado a uma mesa tosca de caixão de querosene. E era sempre isto.

Mas, diante dele, agora, pela primeira vez, aquela menina, uma pequena sem identificação, vestida de pobreza. Uma garota no abandono, filha do desamparo, na renda da mendicância. Viu o homem na mesa e dele se aproximou. Fez o pedido mais uma vez:

“Me dá um pedaço de pão, moço”.

“Zé Cachaça” mantinha o silêncio. Tudo nele uma expressão de sofrimentos íntimos. Tudo nele a denúncia de todos os desesperos. Aqueles olhos pregados para diante, espichados, fixando coisas distantes, exigiam dos outros, os que o observaram, uma porção de reflexões.

Parece que para ele, nestes momentos, o boteco não existia. Ele só no pequeno botequim, naquelas dimensões mínimas entre um balcão improvisado, um espaço estreito de chão e a porta. Ele, sentado no seu banco, ia ficando e ia bebendo a sua “branquinha”. Na sua, ia jogando as pontas de cigarro. Não era outro o movimento que fazia. Uma ou duas vezes, sem olhar para o dono do boteco, pedia a renovação da bebida. Mas a menina repetiu:

“Me dá um pedaço de pão, moço”. E ficava esperando. A cena durou mais alguns instantes.

Com o homem, o seu silêncio. Já a menina esperava. Depois, resolveu sair, deixar o botequim, a espelunca. Ninguém mais a interessava ali, nem o dono, nem os poucos fregueses que saíam e entravam. Toda a sua atenção estava no “Zé Cachaça”, naquele homem que não lhe prestara nenhum interesse, nenhuma atenção. E saiu. À porta, ainda olhou para ver o homem no isolamento de si mesmo. Espiou-o lá da porta e desapareceu. Foi embora a menina.

O homem bebeu mais um pouco. Com a manga da camisa, enxugou a boca. Acendeu mais um cigarro. Levantou-se e foi até a porta. Ficou lá alguns momentos e voltou para o seu lugar. Agora, falava, dirigindo-se ao dono do boteco:

– “Conhece a menina?  Não. Não conhece... e eu é que não devia conhecê-la... Mora ali no bairro... Tem a idade duma filha que eu tenho. O mesmo tamanho. Não tive coragem de lhe dá a esmola... Está compreendendo? Parecia a minha filha... a Luizinha... Fiquei com vergonha... E se fosse a Luizinha?

– Olha, me dá mais uma cachaça aí”.

Levantou-se e saiu. Na rua, tantas crianças correndo para casa. Um sol lá no alto alumiando a terra. Na lembrança de nós, aquela menina. Aquele homem e a sua mensagem de desespero. “E se ela fosse a Luizinha...”

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Joral do Dia”, 29 de janeiro de 1967 (domingo).