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– Enroladas ou desfraldadas, as bandeiras eleitoreiras, mais que mostrar candidatos, revelam a situação dos seres humanos que as carregam e o modo como permanecerão: ENROLADOS pelos políticos e DEFRAUDADOS pela ação deles.

– É o lenhador sendo forçado a fazer as pontas da estaca que o empalará.
É o afiador afiando o machado que o decapitará.
É o cordoeiro fazendo a corda que o enforcará.
São eleitores carentes contribuindo para eleger os que vão mantê-los no estado de carência.

– Um sanduíche de enganações é periodicamente servido aos eleitores.

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Uma história que se repete.

O sol na cidade está de rachar. Sob ele, pedestres caminham apressados e, como mariposas que buscam a luz, as pessoas procuram uma réstia de sombra próximo a paredes e muros de edificações e terrenos.

Estamos em época de campanha eleitoral. Eleições. No meio da paisagem humana, um grupo de mulheres – sobretudo mulheres – e homens mantém-se estático, parado, por força de um emprego sazonal, estacional, bianual, quadrienal, eleitoral: agitadores de bandeira de candidatos.

Mas aqueles homens e mulheres ali, expostos ao sol como carne seca, não são agitadores de bandeiras. No máximo, são portadores de bandeira. Porque a bandeira de material sintético muitas das vezes está sendo utilizada é para encobrir a cabeça. Ainda assim, o estandarte é instrumento sólido e incerto para substituir a ação de um protetor solar certo e líquido.

Quem tem olhos de ver e sentimentos de sentir poderá perceber o que há de triste, trágico e desolador naquelas pessoas expostas ao sol: mais do que uma bandeira, o que está sendo exposto explicitamente ou subliminarmente é uma realidade social, a carência econômica de uma farta porção da população.

A inclemência do clima não faz acordos com a malandragem desse espécime danoso à natureza humana: o político safado, malandro, egoísta e egocentrista, que, malbaratador de desculpas, equilibrista de justificativas, contorcionista de palavras, é desapossado de sensibilidade social verdadeira, profunda, carnal-mental – essa sensibilidade é só recheio retórico, para formar o sanduíche de enganações que periodicamente é servido a eleitores.

As bandeiras são desfraldadas por pessoas que foram defraudadas...

Um dos significados do substantivo "defraudação" é “tirar algo de alguém”. Outro significado: “subterfúgio para enganar”.

Quem tem olhos de enxergar e sentimentos de sentir estenderá a visão do pelotão de porta-bandeiras eleitorais para além das calçadas superensoladas das ruas e avenidas e praças e esquinas da grande cidade.

Com visão de raios-X, sem precisar ser super-herói de histórias em quadrinhos, o que se revela ali, após as camadas de superficialidades, são pessoas vitimizadas pela pouca ação, inação, omissão, enganação e esculhambação dos detentores de mandatos que os próprios portadores de bandeira ajudaram a visibilizar e eleger.

São eleitores carentes contribuindo para eleger os que vão mantê-los no estado de carência.

É o lenhador sendo forçado a fazer as pontas da estaca que o empalará.

É o afiador afiando o machado que o decapitará.

É o cordoeiro fazendo a corda que o enforcará.

Como certa vez, em minha residência, disse, à época, o juiz Márlon Reis, um dos responsáveis pela Lei da Ficha Limpa: candidato cujas bandeiras só são agitadas pelo pagamento de dinheiro e não pelo convencimento das propostas, esse deveria sair da política.

Mas, como se sabe, esses políticos malandros não são, nunca foram e jamais serão altruístas a ponto de fazerem esse benefício à humanidade, humanidade que seria melhor se pudesse ver-se livre deles no exercício do cargo público e na administração da coisa pública.

Como corvos humanos, assumem cores diversas e deixam sua cor original – preta – para a situação social que encontra, que os realimenta e que se negrita ainda mais com a eleição, manutenção, permanência desses malas,... desses malandros...

A miséria que pagam a essas pessoas, prevalecendo-se da falta de condições econômicas e, às vezes, de escolaridade e consciência crítica, é um ato de subjugação dos fracos pelos fortes.

Enroladas ou desfraldadas, as bandeiras eleitoreiras, mais que mostrarem candidatos, revelam a situação dos seres humanos que as carregam e o modo como permanecerão:...

... ENROLADOS pelos políticos...

... e DEFRAUDADOS pela ação deles.

* EDMILSON SANCHES

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Foto meramente ilustrativa (em Santa Catarina, 2018).

Uma mostra de cinema promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) vai exibir 44 filmes de terror brasileiros contemporâneos, a partir desta quarta-feira (28), pela “internet”. A mostra “MacaBRo – Horror Brasileiro Contemporâneo” apresentará ao público longas e curtas realizados por cineastas nacionais nos últimos cinco anos.

Devido à pandemia de covid-19, a mostra será feita de forma “on-line”, até o dia 23, e os filmes serão exibidos gratuitamente na plataforma Darkflix. Além dos filmes, serão realizadas palestras, debates e cursos também virtuais.

Os longas-metragens ficarão disponíveis por 24 horas, com um limite de visualizações (saindo do ar assim que atingir esse limite). Já os curtas ficarão no ar por uma semana.

Entre os longas que serão exibidos na mostra, estão “Morto Não Fala”, de Dennison Ramalho, “O Animal Cordial”, de Gabriela Amaral Almeida, “Sem Seu Sangue”, de Alice Furtado (que estreou no Festival de Cannes), “Quando Eu Era Vivo”, de Marco Dutra, “Terminal Praia Grande”, de Mavi Simão, “O Clube dos Canibais”, de Guto Parente, “Condado Macabro”, de André de Campos Mello e Marcos DeBrito, e “Mal Nosso”, de Samuel Galli.

Os dois últimos longas de Rodrigo Aragão, “O Cemitério das Almas Perdidas” e “A Mata Negra”, também estão na programação da mostra, que ainda contará com debates com o diretor.

“Percebi que as pessoas não conhecem mesmo, quase sempre nunca ouviram falar que existia horror sendo feito no cinema brasileiro contemporâneo. Eles até estão disponíveis em plataformas digitais, em canais a cabo, mas você tem que procurar um a um, assinar esses serviços ou ter o canal disponível na sua TV a cabo. Com essa mostra, disponibilizando ‘on-line’, gratuitamente, a gente acredita que muita gente vai preencher essa lacuna de não poder conhecer o cinema de horror brasileiro”, disse Carlos Primati, que faz a curadoria da mostra com Breno Lira Gomes.

A mostra também homenageará José Mojica Marins, considerado o pai do cinema nacional de horror e criador do personagem Zé do Caixão, que faleceu no início deste ano. Serão exibidos os curtas “Saci”, dirigido por ele, e “Lasanha Assassina”, animação que tem a dublagem de Zé do Caixão.

Veja a programação:
Quarta-feira (28)
18h – “O Hóspede” (curta-metragem)
19h – “Live” com os diretores Ramon Porto Mota e Ian Abé da produtora homenageada Vermelho Profundo
20h – “A Noite Amarela” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)

29 de outubro, quinta-feira
16h – “Cova Aberta” (curta-metragem)
18h – “O Nó do Diabo” – Episódio 1
20h – “Canto dos Ossos”

Sexta-feira (30)
18h – “O Nó do Diabo” – Episódio 2
19h – “Live” com Mariah Benaglia e Jhésus Tribuzi da produtora Vermelho Profundo
20h – “Os Mortos” (curta-metragem)

Sábado (31)
15h – “O Nó do Diabo” – Episódio 3
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 1
18h – “O Desejo do Morto” (curta-metragem)
19h – Debate: “O Terror e o Cinema Brasileiro”, com a cineasta Gabriela Amaral Almeida, o cineasta Rodrigo Aragão, a crítica de cinema Flávia Guerra. Mediação do curador Carlos Primati.
20h – “A Mata Negra”

Domingo (1º/11)
16h – “O Nó do Diabo” – Episódio 4
18h – “Mais Denso que o Sangue” (curta-metragem)
20h – “Não tão Longe” (curta-metragem)

Segunda-feira (2/11)
16h – “O Nó do Diabo” – Episódio 5
18h – “Sem seu Sangue” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)
19h – “Live” com o curador Carlos Primati e a diretora de “Sem seu Sangue” Alice Furtado
20h – “As Núpcias de Drácula”

Terça-feira (3/11)
18h – “A Noite Amarela” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)
20h – “Os Jovens Baumann” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)

Quarta-feira (4/11)
18h – “Christabel”
19h – “Live” com a pesquisadora Laura Loguercio Cánepa e a diretora homenageada Gabriela Amaral Almeida
20h – “O Animal Cordial”

Quinta-feira (5/11)
18h – “Uma Primavera” (curta-metragem)
20h – “#ninfabebê”

Sexta-feira (6/11)
18h – “Estátua!” (curta-metragem)
19h – “Live” com o curador Breno Lira Gomes e o ator de “Quando eu era vivo” Antônio Fagundes
20h – “Quando eu era Vivo”

Sábado (7/11)
14h – “O Segredo dos Diamantes”
15h – “A Mão que Afaga” (curta-metragem)
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 2
18h – “O Caseiro”
19h – Palestra com a cineasta Gabriela Amaral Almeida com o tema “Escrevendo histórias de terror para o cinema”
20h – “A sombra do pai”

Domingo (8/11)
16h – “O Animal Cordial”
18h – “O Clube dos Canibais”
20h – “Condado macabro”

Segunda-feira (9/11)
18h – “Quando eu era vivo”
19h – “Live” com o curador Carlos Primati e o diretor de “Quando eu era vivo” e montador dos curtas da homenageada, Marco Dutra
20h – “Terminal Praia Grande”

Terça-feira (10/11)
18h – “A sombra do pai”
20h – “Terra e luz”

Quarta-feira (11/11)
18h – “A capital dos mortos 2: Mundo morto”
20h – “Nocturnu” (curta-metragem)
21h30 – “Live” com o crítico Marcelo Miranda e o cineasta homenageado Dennison Ramalho

Quinta-feira (12/11)
16h – “Canto dos ossos”
18h – “Amor só de mãe” (curta-metragem)
20h – “Quando o galo cantar pela terceira vez renegarás tua mãe”

Sexta-feira (13/11)
18h – “O diabo mora aqui”
19h – “Live” com o curador Breno Lira Gomes e a atriz de “Morto não fala” Bianca Comparato
20h – “Morto não fala”

Sábado (14/11)
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 3
18h – “As núpcias de Drácula”
19h – Debate: “A atuação no cinema de terror”, com a atriz Luciana Paes, a crítica de cinema Cecília Barroso. Mediação do curador Breno Lira Gomes
20h – “Christabel”

Domingo (15/11)
16h – “Ninjas” (curta-metragem)
18h – “Condado macabro”
20h – “Mal nosso”

Segunda-feira (16/11)
16h – “A casa de Cecília”
18h – “O caseiro”
19h – “Live” com o curador Breno Lira Gomes e a atriz e produtora de “Através da sombra” Virginia Cavendish
20h – “Através da sombra”

Terça-feira (17/11)
16h – “Morto não fala”
18h – “Terra e luz”
20h – “A capital dos mortos 2: Mundo morto”

Quarta-feira (18/11)
18h – “O clube dos canibais”
20h – “O saci” (curta-metragem)

Quinta-feira (19/11)
16h – “A lasanha assassina” (curta-metragem)
18h – “#ninfabebê”
20h – “Mal nosso”

Sexta-feira (20/11)
18h – “O segredo de Davi” (Acessível: Legenda descritiva)
20h – “Tirarei as medidas do seu caixão” (curta-metragem)

Sábado (21/11)
14h – “O segredo dos diamantes”
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 4
18h – “Os jovens Baumann”
19h – Palestra com a pesquisadora e crítica de cinema Beatriz Saldanha com o tema “Diretoras e o terror”
20h – “A casa de Cecília”

Domingo (22/11)
16h – “Através da sombra”
18h – “Coração das trevas” (“Coffin Joe’s Heart of Darkness” – curta-metragem)
20h – “Quando o galo cantar pela terceira vez renegarás tua mãe”

Segunda-feira (23/11)
18h – “O cemitério das almas perdidas”
19h – “Live” com o curador Carlos Primati e o diretor de “O cemitério das almas perdidas” e “A mata negra”, Rodrigo Aragão
20h – “A mata negra”

(Fonte: Agência Brasil)

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Está o Maranhão submetido a um novo tipo de governo. Governo evoluído. Governo progressista. Governo democrático. Governo povo. Governo independente. Governo político como afirmou José Sarney. E explicou: “e que terá a função de executar uma grande e alta política para mostrar ao Maranhão que a política não é arte de servir a pequenos interesses pessoais ou de grupos, mas a grande arte de promover realizações que, na realidade, o Povo e até mesmo a destinação histórica estão a exigir”.

Muito bem, governador Sarney. Política construtiva. Política de saneamento. Política positiva. Política restauradora. Política de amplitude. Política “destinada a ser um meio de coordenação de forças sociais”. Noutras palavras: política de reformas totais. E o povo não espera outra coisa. O momento não comporta outra orientação. É preciso haver mesmo mudanças profundas. E outro não foi o pensamento do povo na campanha eleitoral. E outro não foi o objetivo da luta do povo: sair do amadorismo, sair da estagnação, sair do aprisionamento duma política de conveniências perniciosas. Com Sarney, está, agora, a execução de um programa de governo altamente evoluído e desenvolvimentista.

E fazendo a proclamação do seu secretariado o governador José Sarney falou: “a nossa função será a de limpar o Maranhão daqueles vinte anos de primarismo político e do atraso, dando ao Povo, a todos, indistintamente, os mesmos direitos e os mesmos deveres para que possamos todos pensar em progresso definitivo e duradouro”. E mais adiante: “Todos os secretários que irão formar a nossa equipe de governo sabem que a nossa função é aquela de limpar o Maranhão daqueles vinte anos de primarismo político e de atraso, dando ao Povo maranhense, a todos, indistintamente, os mesmos deveres para que nós possamos realmente pensar em progresso definitivo e duradouro”. Aí está a reafirmação. Aí está o pensamento firme. A atitude inflexível. Aí está o pensamento duma orientação política administrativa que assegura, para o povo, a execução de um governo austero, um governo equilibrado, um governo sério, um governo “ordem e progresso”.

E veio a identificação do secretariado. Elementos novos na composição político-administrativa do governo oposicionista. Uma “galeria” de títulos e honrarias impressionantes. Gente capacitada. Gente inteligente. Gente sem a marca do protecionismo da política partidária. Gente independente. Gente limpa. Gente que poderá realizar, nos seus setores de trabalho, uma grande administração. Com José Murad, há o exemplo edificante. Com Pedro Neiva, a segurança duma administração séria, a força dum pensamento evoluído. Com Cícero Neiva, há a prudência, há a compreensão, há a atitude independente. Com os demais, há uma sequência de informativos positivos. Há referências destacadas. Há, com cada um, uma documentação fortíssima de capacidade intelectual. E a impressão geral é que Sarney soube escolher os seus auxiliares. E agora é esperar os resultados. É esperar, “corrente cálamo”, o funcionamento da máquina administrativa do novo governo, o governo do povo, o governo saído da luta popular, da luta de libertação da terra privilegiada.

No momento, há a expectativa. No momento, todos na cooperação. Todos com a disposição de ajudar Sarney. De ajudar a recuperação total do Maranhão. Deve mesmo haver, de verdade, a limpeza. Mas tudo feito dentro da ordem sem que haja a rebentação dos revides perigosos. O Maranhão precisa de trabalhos, de realizações. Precisa recuperar, quanto antes, o tempo perdido. E é esta agora a esperança do povo.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 1º de fevereiro de 1966, terça-feira.

O que está aí é uma prática porca. Uma porcaria
– Por que são chamados de “ladrões” os que estão no Poder?

– A política que aqui se faz não é a política que deve ser feita. Faz-se a política estética, não a política ética. A estética oferta (na verdade, empurra) imagem, máscara, encenação, disfarce. Sua cidade é cenográfica. É vazia de substância e sentido. Seus fazedores sabem que são enganadores. São virtuais, mas não virtuosos. Viverão pouco, mas iludem-se achando que são eternos. Não sobreviverão para a História, exceto como um bom exemplo... a não ser seguido.

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Estive anos atrás na Universidade Estadual do Maranhão. A convite, fui falar sobre “Ética e Desenvolvimento” para alunos e professores. Convidados especiais, inclusive empresários, também presentes. Este é um texto que escrevi à época.

A palestra teve excepcional receptividade. O que era para ser 60 minutos estendeu-se por mais de duas horas. Das 20h às 22h30 alunos, professores e convidados mantiveram-se firmes e, com isso, pagaram o salário invisível de quem fala: a atenção de quem escuta.

Diversos estudantes pediram-me para transformar em texto o que verbalmente lhes fora repassado. Assim, puxei da memória um pouco do que falei, que vai escrito a seguir.

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Falar de ética é, também, falar de esperança. Esperança em algo melhor. Todo ser de esperança é um portador de intranquilidades.

O ser humano ético-esperançoso é alguém que tem muitas ansiedades e algumas angústias. Para esse ser, esperança não é comodismo ou covardia disfarçados de virtude.

Longe das teses acadêmicas (relevantes, embora extenuantes), entende-se ética, aqui, como um conjunto de hábitos, atitudes e outros comportamentos tidos como positivos, justos, adequados.

Ética é o BBB – o Bem, o Bom, o Belo.

Pode-se afirmar sem medo de erro: É a falta de ética que está destruindo o ser humano e a natureza; é ela a raiz da pobreza, da miséria, das desigualdades. Simples assim. Por dispensarem os conceitos e ações éticas e por ambicionarem o dinheiro, o patrimônio, a fortuna, o poder a qualquer custo, certas pessoas incertas – como políticos, governantes e outras autoridades, além de gente da iniciativa privada – estão arrasando a humanidade.

Tem algo de muito errado em um mundo que gira cerca de 120 trilhões de dólares... ao lado de miseráveis, pedintes, esmoleres, esfomeados, doentes.

Tem algo de muito errado em um país (o Brasil) que não sofre terremotos, maremotos, furacões; um país que tem unidade territorial, linguística e religiosa; que tem subsolo rico, solo fértil, diversidade natural exuberante, extensão territorial continental... e ainda é um dos cinco piores países do mundo, com seus obscenos índices de desigualdade.

Tem algo de muito errado em um país onde, pelos dados e declarações oficiais, 85% (escreva-se: oitenta e cinco por cento) das prefeituras são corruptas ou cometem algum tipo de desvio; onde 75% (setenta e cinco por cento) do dinheiro da educação não chega ao professor, ao aluno, à escola, por desvios entre os órgãos federais até os municipais; onde quase R$ 700 bilhões já foram desviados, segundo processos na Justiça; onde 20% de todo o orçamento do governo é destinado à corrupção. Isso tudo está nos jornais e está na Justiça.

Tem algo de errado num Estado (o Maranhão) com uma das melhores qualidades de terra e de reservas hídricas (água), com localização estratégica... e ainda padecer humilhantes classificações em seus índices sociais e econômicos.

Tem algo de errado em um município (Imperatriz) que, embora seja um dos cem maiores em quantidade de gente, é um dos piores em qualidade de vida dessa gente (posições 2.313 e 2.583 em exclusão social e desenvolvimento humano). Onde as maiores ações é a adequada elaboração de promessas, compromissos, retórica e justificativas. “Media event”.

Esse “algo de errado” é, insista-se, a falta de ética, que leva à insensibilidade social, à apropriação de espaços e recursos públicos para a manutenção e ampliação de poder e patrimônio.

Não é sem fundamento que, quando aplicam a pecha de “ladrões” em incertos políticos, autoridades e governantes, o povo, talvez sem saber, está acertando em cheio. A palavra “ladrões” vem do latim “lateronis”, nome dos soldados que ficavam ao lado, isto é, nas laterais, dos reis e imperadores. Por estarem tão próximos ao poder, os “lateronis” davam-se ao luxo de roubar descaradamente coisas dos cidadãos comuns. Quem iria denunciar ou brigar com aqueles soldados altos, fortes, armados, gente do poder, amigos do rei?

Assim, começou-se a chamar “lateronis” a todos aqueles, soldados ou não, que tiravam, roubavam, furtavam. E no processo de evolução das palavras, “lateronis” virou “latronis”, que, em português, transformou-se em “ladrões”. Simples assim.

Portanto, ladrões são, desde a origem, certo tipo de gente que está no Poder. Reveja, leitor, os números nos diversos parágrafos acima e reconfirme o que a História e a Etimologia demonstram.

Ética não é frescura. Ética não é santidade ou santificação. Ética é para pessoas normais.

Ética é uma opção. Ou o mundo opta por uma existência ética... ou não existirá.

Ou governantes, políticos e autoridades reconsideram a via ética ou, então, abdiquem explicitamente da hipocrisia, do falso moralismo, da máscara, e entreguem-se ao Diabo, admitindo: o Mal venceu. E esbaldemo-nos todos, locupletemo-nos juntos.

Quantos seres humanos de hoje resistiriam àquela oferta do Capeta a Cristo, registrada por Lucas (capítulo 4, na Bíblia)? Reinos, poder e glória – tanto e tudo, apenas por uma adoraçãozinha? Que gentes de hoje diriam: “Vade retro, Satanas!” (Afasta-te de mim, Satanás!)

Por muito menos que reinos homens têm feito a opção pelo mal.

Por muito menos, governantes tornam-se genocidas, por roubarem o que deveria ser aplicado em favor da maioria miserável.

Por muito menos, profissionais empertigados, mascarados, se colocam à disposição de poderosos antiéticos e seguem sustentando o que eticamente é insustentável, em um jogo perverso de dissimulação e faz de conta, incensando o que e quem não presta com ações, escamoteações e, especialmente, com omissões. “A omissão é o pecado que se comete não cometendo”.

Tenho afirmado, recorrentemente: não há desenvolvimento sem conhecimento – conhecimento ético, inclusive.

Sócrates ensinava que a ética estava no conhecimento: ser virtuoso é ter saber – eis a máxima socrática.

Platão foi adiante e agregou o componente social: mais que boa pessoa, deve ser bom cidadão, e é na vida em sociedade que isso se justifica ou materializa.

Aristóteles fala-nos de felicidade como bem humano supremo.

Os estoicos, como Zenão, fala-nos de dever e de responsabilidade.

Epicuro junta o prazer – mas o prazer “light”, “soft”, comedido.

Plotino leva-nos à divindade como destino final do ser.

Aqui, saltam-se muitos anos na História e muitas teses nos estudos e chegamos a Nietzsche e sua “ética dos valores”. Valores são atemporais e inespaciais. Também não se quantificam. Valores não são. Valores valem. O ser humano pode não os adotar, mas eles, aprioristicamente, estão, existem. Valores não são apreendidos pela pessoa: esta é que é presa por eles.

No princípio era o Verbo. O verbo se fez carne, fez-se ser, gente. E esse ser (humano) carrega dentro de si a essência do que ele é: o verbo. “Somos as palavras que moram dentro de nós” (Rubem Alves).

Se políticos, autoridades, governantes têm em si, em sua mente, como ideia fixa, subjacente, subliminar, ainda que disfarçadamente, palavras como “poder”, “dinheiro”, “riqueza”, “ter”, “comprar”, “eu”, “eu primeiro”, se é isso que perpassa nos ocultos submundos mentais dessas pessoas com cargos e mandatos, é isso que elas são, é isso que elas, mesmo minoria, vão sempre querer... e é isso – poder, dinheiro, riqueza... – o que faltará à maioria.

A política que aqui se faz não é a política que deve ser feita. Faz-se a política estética, não a política ética. A estética oferta (na verdade, empurra) imagem, máscara, encenação, disfarce. Sua cidade é cenográfica. É vazia de substância e sentido. Seus fazedores sabem que são enganadores. São virtuais, embora não virtuosos. Viverão pouco, mas iludem-se achando que são eternos. Não sobreviverão para a História, exceto como um bom exemplo... a não ser seguido.

A política necessária ainda não existe. Ela é uma promessa, uma esperança – e o que está aí é uma prática, uma prática porca.

Uma porcaria...

* EDMILSON SANCHES

(escrito e publicado em outubro de 2014)

3

Esta é minha palavra,
o meu conjunto confuso
e inextricável de elementos...
É o poema que me busca
e me traz para a superfície,
para que eu possa dizer-me
e ouvir-me tantas vezes,
e expor-me a pensamentos
onde sou sujeito e objeto...
Este é o magma do meu
logos racional,
do meu dever-ser
mais que perfeito e natural
poético, Crístico e complexo...

* Fernando Braga, in “Magma”, Goiânia, 2014.

Continuamos, neste domingo, falando sobre...

Palavras homônimas e parônimas

...

66. PEÃO ou PIÃO
Peão = indivíduo que anda a pé, trabalhador:
Nesta fazenda, há muitos peões.

Pião = brinquedo:
Teu filho ganhou um pião.

67. PEQUENEZ ou PEQUINÊS
Pequenez = qualidade do que é pequeno:
Sua pequenez levou-o à derrota.

Pequinês = raça de cachorro (originário de Pequim):
Cuidava do pequinês com carinho.

68. PERCEBER ou APERCEBER-SE
Perceber = notar:
Ele não percebeu os detalhes.

Aperceber-se = prover-se de, ficar ciente:
Ele não se apercebeu do necessário.

69. PRAGA ou PLAGA
Praga = maldição, desgraça:
Era uma praga de gafanhotos.

Plaga = região, terra:
Levar a glória a plagas distantes.

70. PRECEDENTE ou PROCEDENTE
Precedente = antecedente:
É um criminoso sem precedentes.

Procedente = proveniente, legítimo:
Ele é procedente do sul.
Era um argumento procedente.

71. PRESCRIÇÃO ou PROSCRIÇÃO
Prescrição = ordem, receita ou prazo vencido:
Estes medicamentos só podem ser vendidos com prescrição médica.
O prazo já prescreveu.

Proscrição = expulsão, eliminação:
O soldado foi proscrito.

72. PREVIDÊNCIA ou PROVIDÊNCIA
Previdência = que prevê:
Sua previdência evitou o desastre.

Providência = medida a ser tomada:
Não tomou nenhuma providência contra o abuso dos lojistas.

73. PREVIDENTE ou PROVIDENTE
Previdente = prudente:
Vive bem hoje, porque foi um jovem previdente.

Providente = que se abastece de:
O estoque estava em dia, porque foi providente.

74. PROVER ou PROVIR
Prover = abastecer, fornecer:
Ele deve prover o seu armazém.

Provir = vir de, originar-se:
Isto pode provir do espaço sideral.

75. PROSTRAR-SE ou POSTAR-SE
Prostrar-se = curvar-se:
Ele se prostrou diante da imagem sagrada.

Postar-se = colocar-se:
Ele se postou diante da porta até ser atendido.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo?
“Espero que não __________ obstáculos __________ realização das provas, daqui __________ uma semana”.
(a) haverão / à / a;
(b) hajam / a / à;
(c) haja / à / a;
(d) tenham havido / à / há;
(e) haja / à / há.

Resposta do teste: Letra (c)
O verbo HAVER, no sentido de “existir”, é impessoal (= sem sujeito), por isso só pode ser usado no singular (= haja). Se há obstáculos, é sempre “a” alguma coisa, ou seja, o substantivo OBSTÁCULOS pede a preposição “a”, que se junta ao artigo “a”, que define “a realização”, por isso ocorre a crase (= … haja obstáculos à realização…). A última lacuna deve ser preenchida unicamente com a preposição “a”, pois se trata de “tempo futuro” (= … daqui a uma semana). É bom lembrar que a forma verbal “há” só se refere a tempo decorrido (= faz): “Não nos vemos há uma semana” (= faz uma semana).

Um fóssil localizado em uma região próxima do município de Coração de Jesus (MG) pode auxiliar na compreensão sobre dinossauros que viveram no planeta no período de 65 a 145 milhões de anos atrás. Encontrado por pesquisadores vinculados ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e ao Museo Paleontológico Egidio Feruglio, da Argentina, a espécie foi batizada de “Spectrovenator ragei” (caçador fantasma, em tradução livre) e pertence à família de terópodes “Abelisauridae”, que viveu no período Cretáceo, o último da Era Mesozoica.

Conforme detalha a equipe de cientistas em artigo publicado no periódico “Comptes Rendus Palevol”, disponível em inglês, a família dos abelissaurídeos desempenhou papel central entre predadores durante a reta final do período Cretáceo. Os pesquisadores ressaltam que o espécime achado tem enorme valor por ser raro. Segundo eles, embora seja mais fácil resgatar materiais bem preservados da etapa final desse período, restam poucos intactos que permitam um estudo sobre os ciclos anteriores. Desse modo, o entendimento sobre como a linhagem de abelissaurídeos se desenvolveu ao longo do tempo fica limitado, já que parcela das referências sobre as fases iniciais acaba se perdendo.

O esqueleto recuperado no interior de Minas Gerais estava praticamente completo, de modo que os pesquisadores puderam coletá-lo como um bloco único. Parte do esqueleto, descrevem no artigo, foi parcialmente preparado ainda durante o trabalho de campo, enquanto o resto da matriz rochosa foi posteriormente removido no Laboratório de Paleontologia do Museu de Zoologia da USP.

Uma das características mais marcantes dos abelissaurídeos é o par de membros anteriores bastante reduzidos. Outro aspecto que os distinguia era o fato de possuírem uma das estruturas cranianas mais especializadas entre os dinossauros carnívoros, com um crânio largo, região occipital alta e articulação intramandibular altamente cinética.

(Fonte: Agência Brasil)

O juiz titular da Vara da Infância e da Juventude (VIJ-DF) Renato Scussel deu um prazo de cinco dias para que o Governo do Distrito Federal (GDF) apresente um plano de retorno às aulas presenciais nas creches e escolas de ensino infantil, fundamental e médio da rede pública de ensino.

Na decisão anunciada nessa sexta-feira (24) em resposta à Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios em desfavor do Distrito Federal, Scussel informa que “o processo de retorno deverá ser completamente concluído em até 20 dias”.

Segundo o magistrado, dispositivos da Constituição Federal determinam ser dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito fundamental de acesso à educação. “Sob este enfoque, o direito visa que seja garantida a retomada das aulas presenciais para todas as crianças e adolescentes da rede pública de ensino do Distrito Federal, assegurando-lhes o direito precípuo de educação”, disse por meio de nota divulgada pela VIJ-DF.

Scussel acrescenta que o Estado caminha para a normalização das atividades essenciais ou não, com a abertura de diversos setores da sociedade, e que os órgãos de saúde já vêm apresentando recomendações suficientes para o funcionamento das atividades escolares. “Afigura-se público e notório que as escolas particulares já foram reabertas e retornaram às suas atividades bem como o comércio, os locais de cultos religiosos e há autorização para a realização de espetáculos públicos, não sendo justo e nem tampouco lícito que, num país carente de educação, as crianças e adolescentes que utilizam o sistema público de ensino sejam tolhidos no seu direito precípuo de educação”, complementou o juiz.

(Fonte: Agência Brasil)

– Quanto existe de dinheiro brasileiro, em cédulas e moedas?
– Como fazer quando falta troco?

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O jornalista Raimundo Primeiro pede-me “algumas palavras”, informações, opinião, acerca de crônica falta de troco que sua pesquisa jornalística teria verificado nas últimas semanas em Imperatriz (e, por extensão, creio-o eu, em muitos pontos do país).

Trabalhei por mais de duas décadas em bancos federais e por anos fui assessor da presidência de um deles em Brasília (DF). Em tese, penso que, com a ampliação dos meios de pagamento digitais, como os cartões de crédito e débito, o uso de aplicativos em ‘smartphones’ e, daqui a menos de um mês, com o PIX, do Banco Central, a falta de troco é algo a ser reduzido ou eliminado.

Vejo, pelo menos, três razões para a falta de moeda que a pesquisa jornalística verificou:

– as perdas, como queima em incêndios, o derretimento, a imprestabilidade por danos físicos irreversíveis, o esquecimento sem volta em diversos ambientes, o escapamento sem retorno em águas e terra, o uso decorativo, a destruição, desfazimento ou dispensação conscientes etc.;

– o incremento (aumento) da quantidade de compras em dinheiro, alavancadas pelos auxílios emergenciais em razão da pandemia; e

– o motivo clássico: o entesouramento, que é o ato de guardar moedas e até cédulas de menor valor para formar poupança (são os casos simbólicos dos cofrinhos de barro ou cerâmica e outros cofrinhos. Neste caso, recomendo que, de tempo em tempo e até mais amiudemente, esses pequenos poupadores devem trocar no comércio ou depositar em conta na rede bancária o valor acumulado, com isso reduzindo a desvalorização do capital acumulado, oportunizando a circulação das moedas e cédulas menores e facilitando o troco.

O Banco Central do Brasil, até o dia 13/10/2020, já somava, em dinheiro circulante, 357 bilhões 491 milhões 532 mil 605 reais e 88 centavos. Esse é o “meio circulante”, ou seja, o tanto de dinheiro brasileiro que existe, que foi impresso e cunhado e que, em regra, estaria espalhado por aí – ou circulando ou guardado ou perdido ou destruído.

Desse total, 352 bilhões 245 milhões 623 mil 876 reais são dinheiro em cédulas, em um total de quase 8,5 bilhões de cotas (exatamente 8.444.596.637 notas).

Quanto às moedas, o valor total em circulação são 7 bilhões 242 milhões 358 mil 255 reais e 88 centavos, correspondendo a 27,6 bilhões de unidades metálicas (ou exatamente 27.606.209.644 moedas). Há, ainda, R$ 3 milhões 550 mil 474 relativos a 967.363 moedas comemorativas com valor de face que varia de dois a vinte reais. São 81 tipos diferentes de moedas comemorativas, cunhadas, por exemplo, em homenagem a personalidades e eventos esportivos e aniversários de cidades – entre estas, a capital maranhense, São Luís. Ressalvo que, embora legalmente tenham valor de compra, essas moedas, como já se percebe pela pequena quantidade, são feitas em tiragem limitada, de duas mil a vinte mil unidades cada uma, e será muito difícil ver qualquer uma delas em circulação, pois tornam-se objeto de colecionadores e negociantes/revendedores de itens colecionáveis, neste caso, para numismatas (estudiosos e colecionadores de dinheiro – em grego, “nómisma” e “nómismatos”).

Lembro que o Banco do Brasil é a instituição custodiante (guardadora) do dinheiro produzido pelo Banco Central e mantém 134 agências espalhadas em todos os Estados brasileiros, inclusive Brasília, responsáveis pelo fornecimento de moedas e notas de 2 e 5 reais para pessoas físicas, no horário de expediente bancário do respectivo município, sem necessidade de agendamento prévio. Serão fornecidas até 100 unidades de cada moeda ou cédula solicitada.

Para aquele comerciante ou outro empreendedor que sente falta de dinheiro para troco e não o consegue na rede bancária, o Banco Central sugere os seguintes procedimentos, a serem adotados, gradativamente, pelos comerciantes em dificuldade para obter troco nos bancos comerciais:

a) registrar pedido na gerência da agência do banco onde mantém conta;

b) contatar o Serviço de Atendimento aos Clientes do banco de relacionamento, caso não tenha sido atendido; e

c) comunicar-se com a associação de classe – em Imperatriz, a Associação Comercial e Industrial, ou a Câmara de Dirigentes Lojistas, ou a Associação de Bares e Restaurantes (Asbares), ou outra – da qual o empresário participa.

Com as reclamações em mão, cada associação comunicará ao Banco Central as dificuldades enfrentadas. O Banco Central estimula os bancos e as empresas a solicitarem aos clientes a recirculação das moedas, com o que será evitado mais gasto público com a produção de novas moedas e cédulas.

E nesse assunto de produção de dinheiro, vale detalhar que quatro das sete moedas metálicas – as de um, dois, vinte e cinco e cinquenta centavos e de um real – foram produzidas em quantidade acima de três bilhões de unidades, cada uma. Já as moedas de cinco e dez centavos, foram produzidas em quantidade acima de 7 bilhões de unidades, cada uma. Também existem cerca de 2,3 bilhões de cédulas de pequeno valor (um, dois e cinco reais).

Tenho para mim que a tendência que se verifica é a gradual e quase completa substituição do meio circulante – moedas e cédulas – pelo chamado ‘dinheiro eletrônico’ ou “moeda digital”, que não terão valor de face, mas corresponderão ao valor de produtos ou serviços pagos. Nesse momento, o telefone, com seu mundo de aplicativos, terá mais uma entre tantas funções: será também carteira de dinheiro.

E aí acabará – pelo menos nas relações de compra e venda – a hora de dar o troco...

* EDMILSON SANCHES

O Censo da Educação Superior de 2019, divulgado nessa sexta-feira (23) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que quatro a cada dez calouros no ensino superior optaram por se matricular em cursos de graduação a distância. O levantamento mostra que a educação a distância (EaD) tem ganhado cada vez mais espaço na educação superior, enquanto o ensino presencial tem reduzido as matrículas ano a ano.

Em 2009, as matrículas dos calouros em EaD representavam 16,1% do total. Em 2018, elas representavam 39,8% do total de estudantes que ingressaram nas instituições de ensino superior. No ano passado, eram 43,8%, o que equivale a cerca de 1,6 milhão do total de 3,6 milhões de novos estudantes.

Considerando apenas a rede privada, onde estão matriculados 76% do total de estudantes do ensino superior, a opção pela EaD foi ainda maior entre os calouros, chegando a pouco mais da metade dos alunos, 50,8%.

Já o ensino presencial teve redução. Passou de 60,1% das matrículas dos calouros em 2018 para 56,2%, em 2019. Em 2020, com a pandemia do novo coronavírus (covid-19), o número de ingressantes em EaD deve aumentar ainda mais, de acordo com o presidente do Inep, Alexandre Lopes.

Os dados de 2020 serão divulgados apenas no ano que vem.

“Eu acho que a pandemia vai acelerar essa tendência de migração para o ensino a distância ou ensino híbrido [com aulas presenciais e remotas]. Isso serve também como um ponto de alerta, como um ponto de observação, para o Ministério da Educação como um órgão regulador”, disse.

Diferenças

Os resultados das avaliações do ensino superior divulgados na última terça-feira (20) mostram que os estudantes que se formam em cursos a distância têm desempenho inferior aos estudantes dos cursos presenciais. Mostram também que o perfil desses estudantes é diferente. A maioria dos estudantes de EaD, por exemplo, trabalha, enquanto os de cursos presenciais, não.

“Os resultados têm sido próximos. Não dá para dizer que o curso é melhor ou pior. Também tem que explorar um pouco mais os resultados porque são realidades diferentes”, disse Lopes. “Em relação à qualidade, não dá para afirmar que o curso EaD seja de menor qualidade”, acrescenta.

Matrículas

Segundo o censo, o número total de estudantes matriculados no ensino superior no Brasil continua aumentando. Ao todo, 8,6 milhões de estudantes estão matriculados no ensino superior no Brasil. Em 2018, eram 8,4 milhões. A maior parte, 6,5 milhões, o equivalente a 76%, está matriculada em instituições privadas.

Considerando todas as matrículas, não apenas os calouros, a EaD, com 2,4 milhões de estudantes, representa 28,4% do ensino superior no Brasil. Já a educação presencial, 71,6%, com 6,2 milhões.

Formação de professores

O censo aponta que um a cada cinco estudantes matriculados no ensino superior está em curso de licenciatura, o que possibilita que atue posteriormente como professor. A maior parte desses futuros profissionais, 53,3%, está sendo formada a distância, em cursos EaD. As instituições particulares concentram a maior parte das matrículas desses alunos, 64%. Nessas instituições, a maioria, 73,5%, faz cursos EaD.

Pedagogia lidera a porcentagem de matrículas, com 48,3% dos futuros professores. Em seguida, estão educação física, com 9,1%; matemática, com 5,7%, e história, com 5,3%.

“Os resultados ressaltam a responsabilidade da educação superior em formar os docentes que atuarão na educação básica [etapa que vai do ensino infantil ao ensino médio]”, disse o ministro da Educação, Milton Ribeiro.

“Essa conexão entre as duas etapas de ensino se dá por meio do professor capacitado pela educação superior para ser o elemento central do desenvolvimento da educação básica. O professor é o grande protagonista da educação no Brasil”, ressalta o ministro.

Desistências

O Censo da Educação Superior mostrou que mais da metade dos estudantes, 59%, que ingressaram no ensino superior em 2010 desistiram antes de terminar os estudos. Essa taxa foi um pouco maior, 63%, quando considerados apenas os cursos a distância.

Entre os futuros professores, as desistências daqueles que ingressaram em 2010 também são altas. Chegam a 75% dos estudantes que se formariam para lecionar física, por exemplo.

De acordo com o secretário de Educação Superior do MEC, Wagner Vilas Boas, a pasta está, em parceria com instituições de ensino, desenvolvendo formas de prever as evasões e evitar que elas aconteçam. O projeto será inicialmente implementado em instituições federais, mas será disponibilizado também às particulares.

A pasta aposta ainda na implementação do novo ensino médio, que vai permitir aos estudantes escolher trajetórias para aprofundar a formação. Isso fará com que conheçam melhor as áreas de estudo antes de optarem por um curso superior.

Metas

De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil precisa, até 2024, ampliar as matrículas, fazendo com que mais pessoas tenham acesso ao ensino superior no país. De acordo com o PNE, até 2024, a taxa bruta de matrícula na educação superior deve ser 50% e a taxa líquida, 33%, da população de 18 a 24 anos de idade. Atualmente, essas taxas são, respectivamente, 37,4% e 25,5%.

“Na minha visão, o PNE é um sonho, um objetivo, que colocamos lá em cima, nas estrelas, mas temos um foco para buscar os parâmetros do PNE, e o Ministério da Educação está envolvido de corpo e alma nessa busca”, disse o ministro Milton Ribeiro.

“Com mais escolaridade, faremos essa transformação econômica e social tão cara ao nosso país”.

(Fonte: Agência Brasil)