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(Apresentação ao livro de Arthur Almada Lima Filho)

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Explique-se logo: efêmero é uma coisa; efeméride, outra. Efêmero é o transitório; efeméride, o histórico. Efêmero pode até durar o dia todo. Efeméride, resiste todo dia. O que é efêmero passa em branca nuvem. O que é efeméride inscreve-se em alva celulose.

Todos e tudo têm suas efemérides: o universo, o planeta, países, Estados, municípios, profissões, academias...

Tem as “Efemérides Astronômicas” e as “Efemérides da Aeronáutica”. As “Efemérides Navais”, as “Efemérides Judiciárias” e “Efemérides Médicas”. As “Efemérides do Teatro Brasileiro”. Das Artes Plásticas.

Tem as “Efemérides Acadêmicas”, da Academia Brasileira de Letras. As “Efemérides da Academia Mineira de Letras”. E da Pernambucana de Letras também.

Tem as “Efemérides Universais”, de M. A. Silva Ferreira. Tem as “Efemérides Luso-brasileiras”, de Heitor Lyra. As “Ephemerides Nacionaes”, de 1881, de Teixeira de Mello. As “Efemérides Brasileiras”, do Barão do Rio Branco. As “Efemérides da Campanha do Paraguai” e as “Efemérides de La Historia del Paraguay”. As “Efemérides y Comentários”, de G. Maragñon. As “Efemérides e Sinopse da História de Portugal”, as “Efemérides Literárias Argentinas”, as de Macau...

Tem as “Efemérides Alagoanas”, de Moacir Medeiros. As “Efemérides Cariocas”, de Antenor Nascentes. As “Efemérides Mineiras”, de Xavier da Veiga. E, completando 90 anos em 2013, as “Efemérides Maranhenses”, de José Ribeiro do Amaral.

As “Efemérides de Brasília”, de Cáceres, do Cariri, de Diamantina, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, de Guarapuava, de Itaúna, de Juiz de Fora, de Júlio de Castilhos, de Porto Feliz, de Rio Claro, de São João del-Rei...

Portanto, seja no Universo infinito ou na limitada localidade coisas acontecem, fatos ocorrem. E há, entre essas acontecências e ocorrências, há as que duram, perduram... e que merecem ser registradas como efemérides, como legado de memória e história que se passou, a ser herdado e, no mínimo, respeitado pelos tempos que haverão de vir.

E entre tantas efemérides – de diferentes atividades, de diversas instituições, de distintos lugares (países, Estados, municípios)... – faltava a de Caxias, uma cidade cujo solo, segundo a geologia humana, se assenta fundamente sobre camadas e camadas de (form)ações políticas, sociais, econômicas e culturais.

Pois bem: não falta mais a Caxias seu livro de efemérides. E para costurar retalhos do passado, para colher e coser pedaços dos ontens, para cerzir nesgas d’antanho, para retrazer esses registros à memória das gerações viventes e vindouras, o desafio encontrou quem o arrostasse. Alguém com o conhecimento, a determinação, a vivência e, entre outras pré-condições, a paixão pela cidade onde nasceu – Arthur Almada Lima Filho, jurista, desembargador aposentado, professor, escritor, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.

Ante a historicidade do município, parece que as “Efemérides Caxienses” teriam demorado a chegar. Não importa. Chegaram.

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Quem pegar deste livro e suas páginas manusear, um favor por gentileza: faça-o com respeito; a obra é recente, mas o que ela contém é basicamente mais velho que nós – e devemos respeitar os mais velhos...

Cada entrada, vale dizer, cada data que aqui se perfila e enfileira, cada data deste que é o repositório cronológico pioneiro senão o mais extenso da bibliografia e historiografia caxiense, quiçá maranhense, cada entrada daria, pelo menos, um livro – e cada esforço para fazê-la, dois... tanto é o que há neste livro de trabalho, de talento, de tempo, de tino e de tesão pelo que se faz, tudo empregado em cada item cronográfico. Trabalho, porque é ação, fazimento. Talento, pois que é conhecimento, raciocínio, intuição. Tempo, posto que é chama e limitação, devendo ser aproveitado antes que o murrão encurte e a chama enfraqueça... e tudo escureça. Tino, vez que é “queda” para algo, para o alto, inclinação, tendência, propensão. E tesão por ser a energia intensa e impulsionadora para ritmados movimentos de (pro)criação.

Seus “Ensaios”, Montaigne já os apresentava como “um livro de boa fé” (“c’est icy un livre de bonne foy”). Mas, sabia o notável francês, um livro vai além, muito além da pureza de intenção, do agir com correção.

Livro é gestação e parição. Alegria e dor. Realidade e incerteza. Sou testemunha ocular e auricular do enorme esforço do autor, Arthur Almada Lima Filho, de seus exigentes cuidados, da busca, localização e posterior seleção de dados e eventos e o texto final para esta coleção de datas. Para encontrar algumas agulhas, vi Arthur Almada mover toneladas de palha e feno no armazém sem-fim da História: livros, jornais, revistas, documentos, mídias digitais e espaços virtuais – enfim, todo tipo de suporte crível, confiável, onde pousava e repousava a informação acerca de algum aspecto da caxiensidade, em especial filhos e fatos da terra.

Schopenhauer observou que “livros são escritos ora sobre esse, ora sobre aquele grande espírito do passado, e o público os lê, mas não as obras desses próprios; porque só quer ler o recém-impresso (...)”. Com o índice de venda de livros e o nível de leitura que temos em nosso país, Estado e município, bem que um autor se daria por satisfeito por, pelo menos, sua obra “recém-impressa” ser lida.

Mas tem razão o filósofo alemão, autor de “Sobre Leitura e Livros”: um livro, em especial um livro como o “Efemérides Caxienses”, é do tipo que deve(ria) suscitar o gosto, instigar o espírito, provocar a inteligência, estimular a curiosidade, ampliar o orgulho do leitor, em relevo o leitor caxiense e maranhense, para o conhecimento mais encorpado acerca dos homens e mulheres, dos fatos e feitos aqui expostos com comedimento, pois que em obra deste gênero não cabe desmedir.

Tenho certeza, pelas conversas e debates que (man)tivemos e pelo que nele “leio”, tenho certeza de que Arthur Almada Lima Filho se sentiria agradecido se este livro incitasse uma saudável “ressurreição” de parte(s) do passado histórico e glorioso de nossa cidade ou ampliasse o interesse de mais e mais caxienses pelas bases, pelas fundações, pelos alicerces do passado sobre os quais os anos posteriores e os dias atuais alevantaram paredes, assentaram pisos e construíram tetos. Alicerce de que não se cuida compromete a estrutura que por sobre ele se pôs ou que a partir dele se ergue.

Sabemos, nós caxienses, que não cuidamos de nosso passado como ele deveria ser cuidado... e não é por vergonha dele – muito pelo contrário! Nós nos descuidamos de nossa ancestralidade sobretudo porque a desconhecemos, ou somos apáticos, preguiçosos, somos esse coletivo de pessoas, essa ruma de gentes atarefadas com o “hic et nunc”, o aqui e agora de nossa vida presente, paradoxalmente passadiça – passadiça porque nela (nessa vida) somos passageiros, consumidores, quando dela (dessa vida) temos de ser motorneiros, condutores. (Afinal, é a vida que nos conduz ou nós é que devemos conduzi-la?)

Os ditos países e comunidades desenvolvidos são aqueles que têm e se sabem fortes em seus fundamentos históricos e em suas fundações de historicidade, que enriquecem sua Cultura e enrijecem sua Identidade, cada vez mais afirmadas e reafirmadas com o passar das eras. No mundo todo, paga-se muito dinheiro para (vi)ver cultura, para (re)viver história(s).

A Caxias de hoje parece (parece?!) fazer questão de eleger o fugidio, o fugaz, o presente que está em trânsito, daí tão transitório...

Caxias parece (parece?!) fazer questão de não querer conhecer-se a si mesma, não escutar seu grito primal, não analisar seu DNA mitocondrial, sua vida ancestral.

Como querer sermos reconhecidos, se de nós mesmos somos desconhecidos?

Como lembrar aos outros o que somos pelo que fomos se, no dizer de Pierre Chanou, somos amnésicos do que somos (“se nous sommes amnésiques de ce que nous sommes”)?

Quem sabe até cairia bem, em muitos aspectos, a máxima do espanhol George Santayana (1863-1952): “Os que são incapazes de recordar o passado, são condenados a repeti-lo”. Com certeza há tempos, pessoas, modos e feitos do passado caxiense que pegaria bem se pudessem ser reproduzidos, copiados, repetidos, adequadamente adotados no presente – descontados os pecados veniais e tais e mais que cada um possa ter, já que adiante não se verá uma lista hagiográfica, um rol de santos. De toda sorte, teríamos talentos à maneira de

ADERSON FERRO (“Glória da Odontologia Nacional”),

ADERSON GUIMARÃES (cônego, latinista, jornalista, professor),

ALDERICO SILVA (empresário pioneiro, jornalista, acadêmico),

ANICETO CRUZ (empresário pioneiro, jornalista),

ARTHUR ALMADA LIMA (desembargador, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, juiz de Direito, promotor público, professor concursado da Universidade Federal do Maranhão, orador, com obra inédita de discursos),

BENEDITO JOAQUIM DA SILVA (primeiro prefeito de Caxias pós-Revolução de 1930),

CÂNDIDO RIBEIRO (“O maior industrial do Maranhão dos séculos XIX e XX”),

CARLOS GOMES LEITÃO (magistrado, político, fundador do município de Marabá/PA),

CELSO MENEZES (pintor, professor, considerado um dos maiores escultores do Brasil),

CÉSAR FERREIRA OLIVEIRA (“revolucionário constitucionalista” em São Paulo e “Herói da Guerra de Canudos”),

CÉSAR MARQUES (médico e historiador),

CHRISTINO CRUZ (criador do Ministério da Agricultura; agrônomo, com estudos em outros países; presidente honorário da Sociedade Nacional de Agricultura),

CID ABREU (escritor, professor, latinista, acadêmico),

CLÓVIS VIDIGAL (monsenhor, educador),

COELHO NETTO (escritor, “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”),

DÉO SILVA (poeta, jornalista),

DIAS CARNEIRO (os dois: o industrial e jornalista e o magistrado e desembargador),

ELEAZAR SOARES CAMPOS (advogado, professor, magistrado, escritor, interventor federal do Maranhão),

ELPÍDIO PEREIRA (músico de renome internacional, autor do Hino de Caxias),

FLÁVIO TEIXEIRA DE ABREU (advogado, jornalista, escritor, poeta, professor),

GENTIL MENESES (administrador, jornalista, escritor),

GONÇALVES DIAS (poeta, etnógrafo, professor, fundador do Indianismo na literatura brasileira),

HERÁCLITO RAMOS (jornalista, escritor, poeta; irmão de Vespasiano Ramos),

JOÃO LOPES DE CARVALHO (pintor e desenhista, estudou sua arte em Portugal, onde, por seu grande talento, já aos 16 anos foi elogiado por diversos jornais de Lisboa),

JOÃO MENDES DE ALMEIDA (considerado o mais completo jornalista brasileiro; advogado, abolicionista, redator da Lei do Ventre Livre),

JOAQUIM ANTÔNIO CRUZ (médico, militar e político, participou da demarcação de fronteira do Brasil com a Argentina e votou pela lei que terminou por abolir os castigos corporais nas Forças Armadas),

LAURA ROSA (educadora, poeta, escritora, nascida em São Luís),

LIBÂNIO LOBO (escritor, acadêmico),

MÃE ANDRESA (Andresa Maria de Sousa Ramos, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta fon, comandou, durante 40 anos, a Casa de Mina em São Luís),

MARCELLO THADEU DE ASSUMPÇÃO (médico humanitário, professor, criador e mantenedor de escola gratuita, prefeito de Caxias),

NEREU BITTENCOURT (professor, escritor),

NILO CRUZ (magistrado, desembargador),

ODORICO ANTÔNIO DE MESQUITA (advogado, político, magistrado),

OSMAR RODRIGUES MARQUES (jornalista e escritor),

PAULO RAMOS (advogado, deputado federal, interventor e governador do Maranhão, criador, entre outras instituições, do Banco do Estado do Maranhão e da Rádio Timbira),

RAIMUNDO FONSECA FREITAS NETO (poeta; ex-funcionário do Banco da Amazônia),

SINÉSIO SANTOS (fotógrafo),

SINVAL ODORICO DE MOURA (bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, ainda hoje um raro caso de alguém que governou quatro Estados – Amazonas, Ceará, Paraíba e Piauí),

TEIXEIRA MENDES (escritor, filósofo, autor da Bandeira Brasileira),

TEÓFILO DIAS (advogado, jornalista e escritor, sobrinho de Gonçalves Dias, introdutor do Parnasianismo e colocado por Sílvio Romero entre os “quatro dos maiores poetas do Brasil”),

TIA FILOZINHA (Filomena Machado Teixeira, professora),

UBIRAJARA FIDALGO DA SILVA (primeiro dramaturgo negro brasileiro, ator, diretor, produtor, bailarino, apresentador de TV e criador do Teatro Profissional do Negro),

VESPASIANO RAMOS (poeta),

VÍTOR GONÇALVES NETO (jornalista, escritor),

WALFREDO DE LOYOLA MACHADO (jornalista, bacharel em Direito, escritor),

WILSON EGÍDIO DOS SANTOS (professor universitário, escritor, odontólogo)...

Em todos os campos – Administração (Empresarial e Pública), Artes, Cultura, Direito e Justiça, Literatura, Política, Ciências etc. –, são inúmeros os nomes, muitos deles desconhecidos, poucos deles reconhecidos, no sentido de que (não) são lembrados, cultivados, publicados e republicados, biografados, estudados, pesquisados (eles e seus trabalhos, suas atividades, sua obra). E a listagem acima (não intencional, aleatória) é só uma impressão digital, marca pequena no grande “locus” e “corpus” cultural, artístico, político, histórico e social do município caxiense. É patente que o céu histórico-cultural de Caxias tem mais estrelas. Muito mais.

Claro, temos orgulho de nossos atuais professores, historiadores, cientistas, pesquisadores, escritores, poetas, músicos, artistas, intelectuais... Para citar três caxienses, três mulheres, que saltaram obstáculos, quebraram barreiras e transpuseram limites (inclusive geográficos), temos orgulho de gente que nem Aline de Lima, que cantou e encantou na França e em mais uma dezena de países; de Tita do Rêgo Silva, que faz artes (plásticas) na Alemanha; de Bruna Gaglianone, bailarina, premiada pelo Bolshoi Brasil e integrante do corpo de dançarinos do Teatro Bolshoi de Moscou...

... Mas o de que se trata aqui não é a transposição pura e simples de um passado que tem seu tempo. Trata-se de um presente que não tem memória – pelo menos não com a desejada consistência, não com o necessário zelo e a sadia revivificação ou reviçamento.

Que os caxienses procurem saber mais acerca do passado de Caxias, e reforcem em si o sadio orgulho do porque ele é sinônimo, em igual tempo, de reverência e referência.

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“Efemérides Caxienses” quer lembrar isso para nós. Dia a dia. De janeiro a dezembro. E mais: do ponto de vista editorial e didático, o livro traz um aporte de, digamos, instrumentos para facilitar a vida do leitor ou corresponder às expectativas do pesquisador. Assim, veem-se aqui índices onomástico e cronológico, com os quais, no primeiro caso, o interessado encontrará rapidamente as páginas onde determinado nome próprio é citado; e, no outro caso, a listagem em ordem crescente dos anos, cobrindo séculos de história caxiense.

Claro que um livro de poucas centenas de páginas não poderia cobrir, abarcar todos os fatos, todas as pessoas, toda a quadrissecular e multivariada História de Caxias. Testemunhei a vontade imensa do autor à cata de mais dados e percebi as imensamente maiores limitações materiais e de tempo que se impunham, imperiais, em desfavor do escritor. Até que ele se convenceu da verdade borgeana: um livro não se termina – se abandona.

Foi para chegar a esta obra – repita-se: sem a inútil pretensão de ser completa – que Arthur Almada Lima Filho dedicou muito do seu tempo, muito de sua saúde física e de sua energia intelectual, além de outros recursos, a serviço da materialização desse seu desejo pessoal e dessa nossa necessidade coletiva: ter um livro de referência histórico-cronológica das acontecências mais pretéritas de nossa Caxias, mas sem esquecer alguns registros da recentidade. Um livro que estudantes e professores, jornalistas e historiadores, curiosos e pesquisadores, aquele escritor em especial e todo o povo em geral pudessem diariamente folhear e consultar: o que aconteceu? quem nasceu? quem morreu? o que houve em determinado dia de determinado mês de determinado ano em minha cidade? Este livro traz as respostas, e a partir dele podem ser iniciados ou referenciados trabalhos escolares, pesquisas universitárias, matérias jornalísticas, pronunciamentos políticos, festas comemorativas, reuniões familiares... ou simplesmente enriquecer uma conversa, um discurso, o orgulho e amor pela terra natal.

Ao lado de fazeres cotidianos e afazeres especiais, o autor, desembargador aposentado, deveria ter saído do ofício para o ócio... mas Arthur Almada não larga dos ossos de uma ocupação útil (coletivamente falando) e quase sempre dá expediente com fidelidade bancária, de manhã e à tarde (às vezes entrando pela noite), no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias que ele, há dez anos, fundou e dirige com amor, gosto e dedicação de recém-casados. No escritório ou na residência, tal qual o pintor Apeles, “nulla dies sine linea” – ao menos uma linha todo dia. O autor-arqueólogo, à maneira do que escreveu Shakespeare, vai retirando dos escombros da História as “ruínas amorfas” e o “pó do olvido”, que recobrem tanto “o que passou” quanto “o que está por vir”. E, assim, foi-se formando e formatando este livro.

Arthur Almada é um homem de Hoje que sabe cuidar do Ontem. Que seu exemplo comunique aos de Amanhã para cuidarem eles do Agora – a que os pósteros chamarão Passado. Pois, no dizer do poeta brasileiro-nordestino-universal Manuel Bandeira, “só o passado verdadeiramente nos pertence. O presente... O presente não existe (...)”.

Parabéns, Arthur! Esta obra do Passado tem tudo para estar presente. Tem tudo para ter futuro. Tem tudo para permanecer no Tempo. Confirma-o o poeta brasileiro Dante Milano:

“O Tempo é um velho leitor, eterno leitor, atento e incansável. Nem um instante larga o livro”.

E finaliza:

“Parece que da vida só existe para o Tempo aquilo que ficou escrito. O resto desaparece, o Tempo não o lê”.

Pois é, Arthur. Está escrito.

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Caxias, a partir deste instante, tem sua cronologia de fatos notáveis, seu calendário de eventos históricos.

Passado caxiense, doravante, é igual a Efemérides.

Pois efêmero, agora, só o presente...

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
O autor aniversariante e seu livro “Efemérides Caxienses”; e no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, com membros do IHGC – as professoras universitárias Erlinda Bittencourt e Deuzimar Serra e o jornalista Edmilson Sanches.

A população de Itinga do Maranhão está em festa. E o motivo para comemoração é o início da reforma do Estádio Municipal Pedro Mourão, localizado no Povoado Cajuapara. Considerada como uma das principais praças esportivas da cidade, o estádio será completamente reformado e ampliado para atender toda a comunidade itinguense. A obra é patrocinada pelo governo do Estado e pelo Armazém Paraíba, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, e conta com o apoio da Prefeitura de Itinga do Maranhão.

De acordo com o projeto da obra, a revitalização do Estádio Municipal Pedro Mourão custará R$ 491.702,13 e será executada em quatro meses. Nesse período, todas as estruturas já existentes na praça esportiva serão devidamente renovadas para dar mais conforto e segurança às pessoas que frequentarem o local, sejam elas atletas ou o público em geral.

O projeto de reforma inclui, além da renovação das estruturas existentes, a construção de uma área de lanchonete, dos banheiros para os torcedores, arquibancadas, vestiários para os atletas, banco de reservas, mureta/alambrado para separar os limites do campo. O Estádio Municipal Pedro Mourão contará, ainda, com uma nova iluminação de LED para poder sediar jogos no período noturno.

Apaixonado por esporte, o prefeito Lúcio Flávio foi um dos principais defensores da necessidade em reformar o Estádio Municipal Pedro Mourão, local que, além de receber, periodicamente, partidas do Campeonato Amador da Zona Rural, é utilizado para o lazer de pessoas de todas as idades do Povoado Cajuapara e regiões adjacentes. Com o início das obras, o gestor agradeceu o patrocínio do governo do Estado e do Armazém Paraíba, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, e disse que a reforma do estádio valorizará as práticas esportivas, além de propiciar um espaço de lazer de qualidade à comunidade.

“O projeto de revitalização do Estádio Pedro Mourão é muito importante para a comunidade itinguense, principalmente para aquele distrito, que possui um campo que precisava ser revitalizado há muito tempo. Agora, com essa reforma, toda, a juventude do Cajuapara e os desportistas em geral vão ganhar, assim como as crianças, os times femininos, os masculinos, os atletas veteranos. Acredito que acertamos muito, buscando apoio no governo Flávio Dino, na Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (Sedel) com o secretário Rogério Cafeteira, que muito tem sido atuante com essa Lei de Incentivo. É preciso também agradecer o apoio do Armazém Paraíba que concede esse patrocínio. Parabéns a todos, principalmente do Cajuapara”, afirmou o prefeito Lúcio Flávio.

Com o novo Estádio Municipal, o fomento do esporte na cidade de Itinga do Maranhão está garantido. “Queremos tornar esse local mais bem estruturado. Dessa forma, o objetivo deste projeto é servir de forte estímulo ao esporte entre as comunidades que ali residem, criando condições propícias para o desenvolvimento do convívio esportivo, social, da educação e da saúde. O esporte é um mecanismo de eficácia comprovada, como fator de crescimento humano, comportando vários benefícios, tanto para individualidade como para a coletividade”, explicou o secretário de Esporte e Lazer, Rogério Cafeteira.

(Fonte: Assessoria de comunicação)

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A Estação Ferroviária em Caxias estava abandonada, ruindo. Um caxiense, Arthur Almada Lima Filho, resolveu “comprar briga”. Investiu tempo, talento, paciência, capacidade de luta e de gestão etc. e recuperou o prédio e o transformou na portentosa e orgulhosa sede do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, que Arthur fundou e dirige.

O passado só ainda está presente e somente terá algum futuro se dele tiverem cuidadores como Arthur Almada Lima Filho.

Aos 91 anos, que se completaram exatamente no último 17 de outubro de 2020, esse renovado Arthur senta-se à sua távola quadrada e pequena no remoçado prédio da Estação Ferroviária (neste momento em grande reforma, após convênio com o Iphan), cuida de aspectos da gestão do Instituto e aplica-se a ler, estudar, pesquisar, escrever, quase sempre sobre fatos históricos de Caxias.

Anatole France, escritor francês (1844-1924), disse que “(...) o passado é o nosso único passeio e o único lugar onde possamos escapar a nossos aborrecimentos diários”, pois “o presente é árido e turvo, o futuro, oculto”. É o caso de Arthur Almada de Lima Filho, que gosta de passear no passado de Caxias, e o faz sem aborrecimento, pois o passado caxiense é, para ele, desafio e combustível, é mister e mistério de arqueólogo, que se vai descobrindo camada a camada, limpando as contaminações, rearrumando em ordem lógica, até a leitura e documentação final.

O paulista Eduardo Paulo da Silva Prado, que nem o Arthur, era homem do Direito e escritor; também acadêmico, foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Viveu só 41 anos, tempo bastante para, entre seus amigos, contarem-se, entre outros, portentos literários e intelectuais como Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Eduardo Prado escreveu: “Certamente o homem deve viver no seu tempo, mas a tendência para a contemplação do passado é um dom nobilíssimo da sua alma”.

Mais do que contemplar, Arthur Almada Filho, no caso do passado de Caxias, contribui para organizá-lo, trazê-lo ao presente para garantir-lhe algum futuro. Como constatou o filósofo e poeta francês Paul Valéry, 149 anos de nascimento em 30 de outubro de 2017: “O passado (...) age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente”.

Em geral, Caxias pouco sabe dos esforços e da história, das lutas, lides e lidas desse Arthur Filho, filho caxiense que, à maneira de Bilac, “ama com fé e orgulho” a terra em que nasceu. Juiz de Direito, desembargador, vice-presidente e presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, presidente da nascente universidade estadual maranhense, é citado no prestigioso e internacional “Who’s Who”, seus votos como jurista são transcritos em obras de Direito, tem seu nome na testada de prédios públicos, seja em fórum seja em escola Maranhão adentro, tais os méritos que a sociedade maranhense quis reconhecer e homenagear. Ex-reitor da Uema, autor de livros, pesquisador infatigável, magistrado intimorato, tem honrado o nome e o ofício do pai e o conceito da família – família que, no passado e no presente (e, pelo visto, para o futuro também), legou tanta gente inteligente para Caxias, o Maranhão e o Brasil.

Pelos feitos que fez, certamente não lhe cabe a observação do educador e abolicionista norte-americano Horace Mann (século XIX): “Tenha vergonha de morrer até ter obtido alguma vitória para a Humanidade”.

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Arthur e eu somos conterrâneos, confrades e amigos, pertencemos às sadias – e lutadoras -- hostes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), da Academia Caxiense de Letras (ACL) e da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama). E não estamos apenas para estar ou ser, mas para fazer.

É preciso conviver um pouco com o Arthur para ver-lhe os esforços em nome de coisas e causas coletivas. É preciso estar perto para sentir-lhe o entusiasmo e satisfação quando da descoberta de um novo nome de caxiense de talento, ou nova informação sobre Caxias, dados que zanzavam por aí, escondidos sob a poeira da História ou encobertos pelo pó do desinteresse humano.

No fim do ano 2013, Caxias e o Maranhão receberam de presente uma obra (“Efemérides Caxienses”) em que Arthur Almada organizou, sistematizou e sintetizou eventos passados, com nomes e datas da História caxiense, mas com pontos de contato com a História maranhense e brasileira. Como diz o Arthur, ausente todo laivo de ufanismo: “Sem a História de Caxias não há História do Brasil”. E, com ardor e energias moças, já organiza e escreve novas obras de fôlego, como um livro de perfis biográficos e um avançado “Dicionário Biobibliográfico de Autores Caxienses”. Entre outros... (Por exemplo, seu livro “Perfis”, que ele escreveu, mandou imprimir e, na data prevista para lançamento, em 2019, sem dizer nada, não lançou a obra... para permitir que um colega escritor, convidado de outra cidade, pudesse lançar sua obra no auditório do IHGC. Gestos assim são cada vez mais raros, pois nada impedia – a não ser a bonomia arthuriana – que os dois livros fossem lançados na mesma noite.

É esse conterrâneo, caxiense com muito orgulho, que aniversariou no dia 17 de outubro de 2020: nada menos do que 91 anos fazendo valer a pena o dom da Vida recebido e da dedicação com que se entregou à Justiça, ao Direito, à Educação, à Imprensa, à História e à Cultura.

Esse caxiense de boa cepa sabe, já há muito tempo mas sobretudo a esta altura da vida, que, como ele, muitos de nós, neste jogo da existência, temos mais passado que futuro. E disto nem ele nem nós temos receio. Pois, para nós, para gente do naipe de Arthur Almada Lima Filho, o passado nos fortalece.

Como no dizer do poeta e dramaturgo francês Henry Bataille (1872—1922):

“O passado é um segundo coração que bate em nós”.

Parabéns e feliz aniversário, Arthur!

Saúde e paz, Conterrâneo (de Caxias),

Colega (de pesquisas e escritas),

Parceiro (de ideias e ideais),

Companheiro (de Rotary),

Confrade (de Academias)

e Amigo – de sempre.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
Arthur Almada Lima Filho e seus livros; e com Edmilson Sanches, no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (São Luís) e, em Caxias, no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e no Bar do Cantareli (com Cantareli e Antônio, motorista e colega ex-jogador de futebol em times caxienses).

– 16 de outubro: Dia da Alimentação e Dia do Engenheiro de Alimentos

O CARDÁPIO DA FOME

– Devido à extrema pobreza, até hoje há famílias brasileiras pedindo a Deus o pão que o diabo amassou.

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“Eu vi a cara da fome
na seca de vinte e um.
Oi, bicha da cara feia,
só mata a gente em jejum!”
(Um cantador de Bacabal/MA)

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Neste 2020, completaram-se 45 anos.

Em agosto de 1975, após exato um ano de iniciado, foi encerrado o Estudo Nacional de Despesa Familiar (Endef), a maior pesquisa já realizada no Brasil sobre o que consomem as famílias brasileiras. O Endef teve o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Coordenados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1.100 pesquisadores caíram em campo e se tornaram testemunhas oculares da luta desigual pela sobrevivência, desenvolvida por nada menos de 55 mil famílias pesquisadas em todo o Brasil.

O que esses pesquisadores presenciaram não está em gibi nenhum. Por isso, a pesquisa foi guardada a sete chaves por diversos anos. Tanto o IBGE quanto os pesquisadores do Endef mantiveram-se num silêncio compreensivelmente covarde: a ditadura, a censura, a repressão, a desconsideração às pesquisas do gênero, a banalização da miséria e da fome em todo o país serviram de lacre na boca de quantos, “in loco”, sofreram com a situação de penúria de milhares de brasileiros.

Em fins de 1985, dez anos depois, alguns pesquisadores daquela época retornaram aos mesmos locais de moradia de seus entrevistados. E a situação não havia mudado; isto é, estava pior que antes. É de perguntar-se como aqueles brasileiros ainda sobreviviam, pois o que eles comem – quando têm o que comer – está, como registrava a Imprensa na época, “abaixo do que a Organização Mundial de Saúde julga possível para que um ser humano continue vivo”.

Eu sei, leitor: Depois de um razoável café da manhã e, depois, um bom almoço, nós talvez não estejamos mais preocupados com isso. A própria efemeridade do jornal (que no dia seguinte será substituído por outro), a reciclagem das notícias (que amanhã também serão substituídas por diversos meios de comunicação) contribuem para que nos preocupemos menos constantemente com tão indigesto/indigente assunto. Também se pode dizer que: “Não sou culpado nem sou eu quem resolverá esses problemas”. Pelo menos por enquanto, essa negação e transferência de responsabilidade fica servindo para nosso particular descargo de consciência.

Então, passemos a bola para os políticos com mandato. Não são eles os legítimos representantes do povo? E por que, então, os políticos nada fazem? Por que continuam a encher o pobre só com discursos?

Quem tem fome alimenta-se de substância, não de sentido.

Governantes e políticos, o que lhes falta para mudarem para melhor essa situação? Falta-lhes sentimento no coração (como quer um romântico) ou, em verdade, falta-lhes vergonha na cara (como queria Capistrano de Abreu em sua “constituição” de dois artigos)?

Novos tempos, Nova República, novos governos... Velha fome, antiga miséria. Foi Marat, revolucionário francês, quem disse: “De que adianta a liberdade política para quem não tem o que comer? Ela só tem valor para teóricos e políticos ambiciosos”.

Mas o que fazer para que os políticos mudem sua própria mentalidade? Como fazê-los entender que eles, políticos que são, devem comportar-se como servidores e não como patrões do povo?

À maneira de James Clarke, pode-se dizer que, infelizmente para nós, nossos políticos, cheios de interesses individuais e particulares, só pensam na eleição seguinte... enquanto os verdadeiros políticos, os que carregam interesses públicos e coletivos, pensam na geração seguinte.

Não, este texto não é um libelo contra os políticos, mas dá vontade de repetir: “Basta de políticos! O mundo precisa é de pessoas honestas”.

Não serão os eleitores a dar respostas ao problema da fome. Afinal, é para encontrar soluções que existem políticos, governantes e cabeças pensantes, todos regiamente remunerados pelo assalto aos salários – chamado, eufemisticamente, de impostos.

Seria interessante ver esses políticos e governantes embarcarem no trem da tristeza rumo ao Brasil que não consta dos programas, folhetos e guias coloridos das agências de turismo. Ver a miséria em preto e branco.

“COMIDAS TÍPICAS” – Seria interessante vê-los provar das “comidas típicas” postas na mesa daqueles brasileiros iguais a eles. Em Alvorada, no Rio Grande do Sul, partilhariam as cascas de batata com que se alimentam certas famílias.

Na favela de Pirambu, em Fortaleza (Ceará), dividiriam água com sal e miúdos siris.

Em Porto Feliz (São Paulo), repartiriam ratos no almoço. (Frisar bem, conforme registrado no relatório do IBGE, que “são ratos, e não preás”.)

Em Mossâmedes, Goiás, deglutiriam telhas.

Também no Ceará, poderiam mastigar “barro, carvão, sabão e outras coisas”.

Em Volta Redonda (Rio de Janeiro), algo mais suculento: lavagem de porco. Ainda no Estado do Rio, um complemento à comida provada em Alvorada: às cascas de batata juntar-se-iam... folhas de batata.

Em Santa Catarina, miolo de xaxim.

No Paraná, consoante com a região, folhas de café (que, segundo as anotações dos pesquisadores, “têm gosto de torresmo”).

Em terras mineiras, mais comida “natural”: talos e folhas de abóboras e chuchus.

Em Tucunduva, Caucaia, no Ceará, “uma farinhazinha, um açuquinha na boca” e só.

Em outras regiões do país (inclusive em Brasília), seriam provados pratos típicos de... lixo e calangos.

E degustariam até mesmo (oh vergonha das vergonhas!)... fezes humanas.

Por aí vão os diversos tipos de “comida” devidamente anotados pelo IBGE e que são o prato de resistência de milhares de famílias brasileiras no Brasil inteiro. Que vergonha!

Certamente menos gordos, os políticos e governantes que voltassem vivos desse itinerário da fome teriam elementos de sobra e justificados motivos para repensarem uma séria política de alimentação e justiça social neste país.

Urge a paralisação dos discursos meramente partidários, laudatórios, louvaminheiros.

Urge, pois, uma ação – antes que ruja uma reação.

De qualquer forma, vergonha não é se alimentar (!) de telhas, ratos, folhas e fezes. Vergonhosa, imoral, obscena é a incapacidade política, a indecência administrativa, para transformar o panorama da fome do Brasil.

Este país não pode mudar enquanto grande parte de seu povo continuar na mesma.

O cruel quadro da fome, de cores fortes e reais, exposto pela pesquisa do IBGE há 45 anos, ainda perdura para muitos brasileiros Brasil adentro, e permite-nos dizer, num infeliz trocadilho, que, devido à extrema pobreza, até hoje há famílias pedindo a Deus o pão que o diabo amassou.

E que seja (satis)feita a sua vontade.

Amém.

* EDMILSON SANCHES

(escrito e publicado originalmente na década de 1980).

Pesquisa com professores que lecionam em 26 Esados e no Distrito Federal, em 118 cidades brasileiras, mostra que 82,4% deles se sentem extremamente ou muito confiantes com relação ao seu preparo técnico para o ensino “on-line”, enquanto, no início da pandemia do novo coronavírus, 52,9% se sentiam totalmente despreparados, ou muito pouco preparados tecnicamente, quando as aulas virtuais se iniciaram em março, como forma de evitar a disseminação do vírus.

Com relação ao tempo de preparo das aulas, 96,6% dos professores relataram impacto, o que certamente contribuiu para o desgaste físico e emocional, enquanto 3,4% disseram que não tiveram prejuízos. Já com relação à duração de tempo de aula, 76,6% afirmaram que o tempo de preparação sofreu impacto, e 23,1% responderam não ter tido influência na duração de tempo de aula.

A pesquisa foi realizada pela International School e contou com o apoio do EDC Collab – Educational Development Centre, plataforma colaborativa cocriada, em 2019, por professores de todo o país.

Aos mais de 300 professores indagados na pesquisa, 49,5% têm atuação direta na educação infantil, 63,40% no fundamental e 11,70% no ensino médio. Dados colhidos na pesquisa mostraram o tipo de dispositivos utilizados pelo professor nas aulas “on-line”, sendo 19,7% “desktop” com “internet”, 83,7% “laptop” com “internet”, 45,5% celular com “internet”, e 7% “tablet” com “internet”. Cerca de 66,8% disseram não compartilhar esses mesmos dispositivos com algum integrante da família, e 33,2% afirmaram o contrário. A pesquisa foi realizada em agosto deste ano, e contou com 325 participantes.

Saúde mental dos professores

De acordo com a pesquisa, 91,7% confessaram ter procurado ajuda psicológica durante esse período, e 8,3% não buscaram plataformas de aconselhamento de saúde mental. Quando perguntados o quão se sentem preparados emocionalmente desde o início da pandemia até os dias atuais, o cenário é positivo. Entre os entrevistados, 64,6% relataram que, no início das aulas remotas, se sentiam totalmente ou muito inseguros emocionalmente, ao passo que, hoje, a percepção é outra: 58,5% se sentem muito ou totalmente confiantes, um dado que surpreendeu positivamente.

“A área da educação foi uma das mais afetadas nesse contexto, e, para os professores, o peso é ainda maior: as expectativas depositadas foram enormes, pois esperava-se que eles resolvessem todas as questões educacionais, ajudando alunos a continuar aprendendo como antes – em um contexto totalmente diferente – e sem terem tido, na maioria dos casos, a oportunidade de receber formação adequada prévia para iniciar as aulas remotamente”, comentou a gerente do Educational Development Centre da International School, Catarina Pontes.

Diante dos obstáculos da profissão, esse sentimento tem mudado e sido positivo, opina Catarina. “Esses números nos mostram que, apesar de a situação estar longe de ser ideal, nossos camaleões estão superando as dificuldades outra vez e, também, ilustram a importância da formação dos docentes”.

Com relação às escolas oferecerem alguma formação extra neste período, 46,2% dos respondentes disseram que não receberam, e 53,8% – confirmaram que foi oferecida. Já com relação a se haviam feito algum outro curso fora do colégio de atuação, 31,1% afirmaram que não buscaram, e 68,9% responderam que aderiram a outros estudos de aperfeiçoamento neste período. Já no quesito desenvolvimento profissional, 17,2% não se aprimoraram durante esse tempo, enquanto 82,8% sentiram necessidade de recorrer a essas ferramentas.

(Fonte: Agência Brasil)

Em tempos de pandemia, a foto do formando com o diploma na mão é tirada na sala de casa. Se a cena parece “comum” nos dias de hoje, o retrato tirado pelo estudante Iury Moraes, este semestre, mostra o contrário.

Primeiro estudante surdocego a se formar na Universidade de Brasília (UnB), Iury ultrapassou inúmeros desafios para exibir, orgulhoso, o “canudo” na mão.

O jovem de 26 anos nasceu com catarata e surdez profunda congênita e ingressou no curso de Letras, em 2016. Ele também foi o primeiro estudante surdocego a entrar na instituição.

Com ajuda da mãe, Elemregina Moraes, Iury conta que sempre estudou em escolas públicas em Brasília, com colegas com e sem deficiência, surdos e cegos ouvintes.

Para ele, ter pessoas com deficiência estudando em escolas regulares força as instituições a promoverem políticas de acessibilidade e inclusão.

A diretora do Instituto de Letras da UnB, Rosana Rigota, relata que os desafios foram muitos – para ele e para a universidade.

Iury se formou em licenciatura em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e português como segunda língua. Cerca de 30 surdos, três deles surdocegos, estudam atualmente no Instituto de Letras da UnB.

Segundo a presidente do Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial, Cláudia Sofia Pereira, há, pelo menos, 7 mil estudantes com essa deficiência no Brasil.

Iury não pretende parar. Dar aulas, fazer mestrado e doutorado estão nos planos do jovem. Perguntado se, diante das dificuldades, pensou alguma vez em desistir, ele foi categórico: "nunca".

(Fonte: Agência Brasil)

A menina-moça saiu de casa, do lar, da vigilância de seus pais. Era um domingo de sol. Sol radiante. Vivificador. Sol Vida. Um céu límpido. Uma paisagem de luz com os borrões das nuvens alvas, paradas umas e em movimento outras. E havia, em tudo, a presença encantadora desta coisa que Bilac chamou de “alegria da vida, alegria da vida”. E a menina-moça, iluminada de sonhos, banhada de inocência, tudo nela amor pureza, amor virgindade do corpo e da alma, saiu para o domingo banhado de sol ardente, “vida e calor”.

Tinha um endereço certo: o Casino Maranhense. No Casino, a fascinação dos divertimentos. No Casino, a fascinação da piscina. A água na (...)1 da luz. Porção d’água parada, porção d’água em oscilações mínimas. Um poema de emoção em tudo. Uma paisagem num deslumbramento da Natureza em festa, Natureza acordada, profundamente sentida. Em tudo a vida, em tudo a alegria contagiante. Em tudo o encantamento dos sonhos mais lindos, ilusões que se perdiam, que iam e vinham. Pensamentos no mundo tranquilo das divagações. Pensamento no alvoroço das idades. Pensamentos num balaio de improvisações as mais diversas. Tudo calmo. Tudo quieto. Tudo num convite de paz, num convite íntimo para as diversões mais extravagantes.

Muitas crianças no Casino. No banho da piscina. Muitas crianças correndo. Outras paradas, olhando apenas, fora do cenário das travessuras, dos brinquedos, das correrias. E outras à borda da piscina, olhando aquela porção de “mar” trançado naquele recinto de dimensões pequenas. Outras meninas e outros meninos no banho de mar, no banho de sol. E, no meio das crianças, lá estava Maria de Lourdes. Lá estava a aluna inteligente, a aluna do Colégio Santa Tereza. Com ela, a sua inocência. Junto dela a expressão melhor dos seus 13 anos e mais dois anos a teríamos na festa social das debutantes. Tudo nela alegria, tudo nela Vida. E Maria de Lourdes sem saber, sem pressentir que estava vivendo o seu último domingo. Despedia-se da Vida, da Vida amor, da vida estudo, da vida trabalho e deveres. No lar, seus pais. Com a mãe, talvez, quem sabe, os maus presságios. Uma desconfiança que não se fez angústia. O coração das mães tem os seus mistérios: prevê o Bem e o Mal. Sente a aproximação das borrascas e pressente os dias das bonanças. “Coração de Mãe não engana!” Talvez no lar, com a progenitora, a presença duma desconfiança, um pensamento mais forte a lhe segredar cuidados, a lhe apontar sombras agoureiras. Talvez.

Mas Maria de Lourdes estava no esbanjamento das suas alegrias. Envolvida pelos seus pensamentos de menina-moça, tudo nela um poema de encantamento. Magia na moldura dos seus 13 anos. E Maria de Lourdes brincava. Sorria. Ria. Iluminação de sol nos seus cabelos, no seu rosto, nos seus olhos vivos. Olho olhando a Vida. Coração na pulsação da Vida. E a piscina lá estava. Atração dos sentidos. Reflexões de luz, brilho de sol na superfície líquida. E Maria de Lourdes olhava a piscina, a água no convite do banho. Insistente. Dominando até. E Maria de Lourdes, acreditamos, foi para a piscina. Aproximou-se. Olhou a água e jogou-se para o mergulho. Mas, com ela, mergulhava a Vida, sua Vida. Mergulhava seu corpo de menina-moça. Um mergulho só.

À tona não mais veio Maria de Lourdes. Não mais. Ficara lá embaixo, no fundo da piscina. A Morte a esperava lá embaixo ou fora com Maria de Lourdes. Presa nela. Cá em cima, a angústia. Cá em cima, o sofrimento em muitos corações. No alto, o mesmo céu azul, as mesmas nuvens na ronda silenciosa do firmamento em festa, a festa do sol na paisagem geográfica da Ilha, da cidade, a terra-berço de Maria de Lourdes.

Hora de aflição. Instantes de inquietações. E, depois, a realidade terrível. Maria de Lourdes morta. Maria de Lourdes sem vida. Seu coração deixara de bater.

E, em casa, uma Dor chorando no coração de seus pais.

E Maria de Lourdes foi se encontrar com o Filho do Carpinteiro: “deixar vir a mim as criancinhas”.

E nos lembramos mais do poeta: “Mas a criança no-lo ensina: se viu morrer Jesus quando homem feito, nunca teve uma filha pequenina”. Nunca teve.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 10 de julho de 1965 (domingo).

Nota:
1 No material (original), não foi possível identificar a palavra escrita pelo autor.

Neste domingo, ainda falando sobre...

Palavras homônimas e parônimas

...

56. INFLAÇÃO ou INFRAÇÃO
Inflação = ato de inflar:
A nossa inflação está muito alta.

Infração = ato de infringir:
Cometeu uma infração de trânsito.

57. IMANAR ou EMANAR
Imanar = magnetizar:
Os dois estão imanados.

Emanar = sair de, exalar:
Cheirava mal devido à emanação de gases.

58. IMINENTE ou EMINENTE
Iminente = está prestes a ocorrer:
A chuva é iminente.

Eminente = ilustre, célebre:
É um eminente advogado.

59. INCERTO ou INSERTO
Incerto = duvidoso, incorreto:
Ela tem um futuro incerto.

Inserto = inserido:
Seu nome está inserto na lista.

60. INCIPIENTE ou INSIPIENTE
Incipiente = principiante, novato:
Era um projeto muito incipiente.

Insipiente = que não é sapiente, ignorante:
Seus argumentos eram insipientes.

61. INFLIGIR ou INFRINGIR
Infligir = aplicar, impor pena:
O guarda infligiu a multa.

Infringir = transgredir, violar:
O motorista infringiu a lei.

62. LOCADOR ou LOCATÁRIO
Locador = proprietário do imóvel, quem aluga;
O locador queria aumentar o valor do aluguel.

Locatário = quem toma por aluguel:
O locatário foi despejado.

63. LISTA ou LISTRA
Lista = relação ou risco, linha:
Seu nome não estava na lista.
Sua camisa tinha listas verticais.

Listra = só risco, linha:
Estava com uma camisa listrada.

64. LUSTRO ou LUSTRE
Lustro = polimento ou período de cinco anos:
Vou esperar um lustro para gozar outra licença-prêmio.

Lustre = candelabro:
O lustre da sala estava quebrado.

65. PAÇO ou PASSO
Paço = palácio:
Vivia no paço real.

Passo = ato de andar:
Deu dois passos e caiu.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo?
“__________, com calor, os rumos que __________ imprimir ao movimento”.
(a) Discutiu-se / se pretende;
(b) Discutiram-se / pretendem-se;
(c) Foi discutido / pretendem-se;
(d) Foram discutidos / pretendem-se;
(e) Discutiram-se / se pretende.

Resposta do teste: Letra (e)
O sujeito do verbo DISCUTIR é “os rumos”. Se o sujeito está no plural, o verbo deve concordar no plural: “Discutiram-se” ou “Foram discutidos”. E o sujeito do verbo PRETENDER é “imprimir ao movimento”. Quando o sujeito é formado por uma oração, o verbo deve concordar no singular. Além disso o pronome relativo “que” exige que o pronome átono “se” fique antes do verbo (= próclise).

Palavras são pessoas feitas de letras, caracteres;
têm elas até parentesco – chamam cognação:
humildade e humanidade, sim, entre outros misteres,
trazem mesma origem, elemento de formação.

No princípio das duas visível semelhança: “hum-”.
“Hum-”, prefixo que fixa a similar identidade
e traz e junta ao conjunto das pessoas em comum
algo único, virtude de quase santo: humildade.

Mas, já se disse, essas duas palavras são como irmãs,
e assim como irmãs discutem, brigam, se desentendem
– uma delas se volta para coisas térreas, chãs.

Assim, quão mais aumenta de humanos a quantidade,
mais os traços se desvanecem, os laços se (o)fendem
... e a Humanidade se esquece de sua irmã Humildade...

* EDMILSON SANCHES

O tempo passa veloz
a levar-me consigo
atroz, enquanto escrevo...

Sou pretérito de mim mesmo!

Procuro-me e não me acho,
tampouco me reconheço,
sou um simples anônimo
que por mim repasso...

No espelho apenas
um rosto gasto,
de um homônimo
talvez, raso e vasto.

Sou apenas de mim
uma voz que ressoa,
heterônimo de vez,
de um Fernando, talvez,
ou de uma outra Pessoa!

* Fernando Braga, “O Puro Longe”, Caldas Novas, 2012.