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Lembrando papai… A POSIÇÃO QUE DEFINE*


E tudo ficará em nada. É a impressão que se tem. Não haverá por parte do governador Newton Belo nenhum interesse para apurar os fatos, para esclarecer a “trama sinistra” que, arquitetada à sombra duma irresponsabilidade dos que estavam interessados para afastar o fiscal de Renda José Nascimento Moraes Filho da fiscalização, determinada pelo secretário de Finanças e que contou com a aprovação do próprio governador do Estado, culminou com a brutal agressão e objetivava matar, liquidar o referido funcionário no exercício do cargo de inspetor regional, com sede em Pedreiras.

Tudo ficará, assim parece, no esvaziamento das “providências canceladas”. Apenas ficará no registro desta brutalidade que estamos vendo, em letras de forma, no corpo da vítima, as consequências da agressão covarde, vil, sofrida pelo fiscal José Nascimento Moraes Filho. Isto apenas.

E contra nós, nós que estamos escrevendo sobre a ocorrência que quase afasta de nós, do nosso convívio, um irmão, que quase deixa uma esposa viúva e, junto dela, cinco filhos menores, contra nós que não poderíamos ficar calados, dóceis, acovardados, vem, em redemoinho de advertências, ameaças que poderemos também ser vítimas, que se preparam tocais, assaltos, emboscadas, que tramam agressões, que “devemos nos acautelar porque algo poderá acontecer, como represália à atitude por nós tomada.

É sempre assim. Para os interessados, para os que procuram acobertar mandantes e garantir a impunidade para os surradores, para estes (assim dizem) devíamos ESPERAR, AGUARDAR que tudo se processasse dentro de um clima todo íntimo, de um clima de conciliação, de tolerância, sem que houvesse o que eles chamam de ESCÂNDALOS, envolvendo o nome do governador do Estado, arrastando o chefe do Executivo para o “pelourinho das acusações”. É isto.

E dentro de nos explode esta exclamação: “É engraçada esta gente!”. Então, assistimos chegar em casa um irmão, esbordoado como foi José Nascimento Moraes Filho, um funcionário do Estado, vítima por ter cumprido com o seu dever, vítima por estar executando, no interior do Estado, um plano de fiscalização apoiado que foi pelo secretário de Finanças, pelo próprio governador do Estado, assistimos à posição “cômoda” tomada pelo governador Newton Belo, assistimos à movimentação de um “inquérito farsa”, assistimos à articulação de um plano para “defender”, encobrir a identificação dos mandantes, para garantir a impunidade para os surradores e, diante de toda esta infâmia, teríamos que ficar calados, rabinhos entre as pernas, esperando que tudo se faça sob medida, que tudo se proceda comodamente, sem que se diga nada, mas que se aceite tudo!

É o caso de perguntar para esta gente que está ameaçando, que quer agredir, que quer “quebrar”, que quer ser servil. É caso de perguntar para esta gente qual a atitude que tomariam se o que aconteceu com o fiscal José Nascimento Moraes Filho acontecesse com um filho, com um irmão de um desses interessados a que nós silenciássemos e ficássemos “pacíficos”, AGUARDANDO as providências que, até agora, não vieram?

Aceitariam eles a passividade do governo, aceitariam a atitude confusa do atual chefe de Polícia, aceitariam a farsa do inquérito Nepomuceno?

E muitos desses que se acham “agravados” pela nossa atitude tomariam outra reação, iriam, olhos fechados, para o crime, para a desforra pessoal, para a cilada, para a preparação, também, de uma tocaia. Nós, não. Estamos reagindo com a pena, com a argumentação, com a inteligência, com a palavra, com a dignidade, com os exemplos de honra a nos deixados pelos exemplos de luta e de combatividade do nosso PAI.

Estamos na reação que é edificante. Que é honrosa. E no íntimo, olhando para dentro de si mesmo, refletindo, fora das injunções exteriores dos que se mostram amigos sem o ser, afeiçoados sem o ser, o próprio governador Newton Belo, dirá: “ELES TÊM RAZÃO”.

E ninguém de bom senso poderá pensar ao contrário. Mas, aqui, estamos. Estaremos aqui sempre. De nós, a palavra, a adjetivação incandescente, acusando os irresponsáveis e apontando as irresponsabilidades. Não sairemos desta posição. E se contra nós vierem a fúria dos cães hidrófobos, dos assassinos, saberemos cair com dignidade e jamais com a exemplificação dos covardes ou dos tímidos. Não poderemos ter outra atitude. O povo, os maranhenses, os homens dignos saberão nos julgar.

É só, por hoje.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 1º de fevereiro de 1964 (sábado).