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Se a arte serve para extravasar a criatividade e provocar reflexões, ela também tem um papel muito importante como testemunha da história. E é pensando na arte não só como uma imagem, mas também como um documento para a memória de um país, que o Centro MariAntonia da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, inaugurou, na semana passada,  a exposição: Imagem Testemunho – Experiências Artísticas de Presos Políticos na Ditadura Civil-Militar. A mostra fica em cartaz até o dia 10 de dezembro.

A exposição apresenta 41 trabalhos que foram produzidos entre as décadas de 60 e 70 por presos políticos da ditadura militar brasileira. Esses trabalhos foram realizados em diferentes presídios do Estado de São Paulo, incluindo alguns dos lugares mais violentos desse período como o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Entre as obras, há desenhos, colagens, xilogravuras, bilhetes trocados entre os encarcerados, anotações e serigrafias que foram reunidas pelo jornalista e ex-preso político Alípio Freire e que, agora, integram o acervo do Memorial da Resistência.

“O Alípio ficou cinco anos preso. Ele foi preso em 1969. Já antes, o Alípio tinha uma atividade de artista plástico. No presídio, se juntaram outras pessoas também, como o Sérgio Ferro. Lá, eles passaram a discutir arte e a trabalhar com isso. Todas as tendências modernas, como a pop art, tudo isso era motivo de discussão dessas pessoas. E eles não ficavam em um núcleo fechado: eles ampliavam essa discussão para todos da cela. Eu digo até que a cela do Alípio era um ateliê”, contou Rita Maria de Miranda Sipahi, advogada, ex-presa política e integrante da Comissão da Anistia. Rita foi esposa de Alípio Freire (1945-2021), um dos artistas que são apresentados na mostra.

Acervo

Sabendo da importância da preservação daquela memória, Alípio começou a coletar todos esses trabalhos que eram produzidos dentro das celas da ditadura e montou um rico acervo do período com mais de 300 obras, que já foram exibidas em outras oportunidades. Uma delas, em 2013, no Memorial da Resistência, que foi chamada de Insurreições: expressões plásticas nos presídios políticos de São Paulo.

“Essa exposição é um recorte de uma coleção maior, que é uma coleção realizada pelo Alípio Freire ao longo da sua vida e que contém em torno de 300 obras, desde imagens até documentos, cartas e recortes de jornais”, disse Priscila Arantes, curadora da exposição. 

“Essa é uma exposição de arte atravessada pela questão política. É uma exposição testemunho de uma geração que viveu os anos duros da ditadura civil-militar. O que você encontra aqui são imagens produzidas por artistas ou por pessoas que só desenvolveram trabalhos artísticos ou criativos dentro do espaço carcerário. São pessoas que vêm de alas e partidos políticos diversos”, acrescentou ela.

Os trabalhos que foram produzidos nesse período retratam o cotidiano na prisão, as relações entre os presos, suas redes de apoio e a solidariedade criada dentro e fora das prisões. As obras mostram diversas técnicas e foram feitas por meio de materiais que eles conseguiam dentro do espaço prisional ou que lhes foram levadas por parentes e amigos.

Entre as obras, está uma  xilogravura que  Aldo Arantes, pai da curadora da exposição, fez enquanto esteve preso para presentear a mãe dela. “Alguns trabalhos são presentes [para parentes e amigos]. Você tem também trabalhos que eram trocados entre celas. Mas você tem também trabalhos que têm esse caráter político como, por exemplo, os trabalhos em xilogravura do Artur Scavone, em que a xilogravura servia como um dispositivo de panfletagem política, de denúncia dos maus-tratos na prisão, de divulgação da situação política no Brasil e da opressão na época da ditadura. Há, também, produções que serviam, por exemplo, para capitanear recursos financeiros para colegas e companheiros pagarem advogados. Essa não é uma exposição grande no sentido de ter excesso de trabalhos, mas potente nesse sentido de trazer essa pluralidade, essa singularidade de cada trabalho”, explicou a curadora.

Um dos destaques da exposição é uma série de trabalhos desenvolvidos por Alípio a partir de uma fotografia e que, ainda hoje, emocionam Rita Maria de Miranda Sipahi. “Nessa exposição, tem uma coisa linda e que representa o amor. Acho que hoje a amizade, o amor, esses valores todos que o Alípio preservava, estão nessa exposição também. Certa vez, o Alípio me fez um presente a partir de uma fotografia que mandei a ele. Ele pegou a fotografia e começou a trabalhar com ela, desdobrando a fotografia em vários trabalhos plásticos. Isso tem uma representação fortíssima para mim. Eu ainda não os vi colocados na exposição. Então, penso que isso ainda vai me deixar tomada por esse sentimento que ele tinha tamanho de amor”, disse em entrevista à Agência Brasil, pouco antes de visitar a mostra.

Para a advogada, essa arte produzida pelos presos políticos da ditadura dentro da celas foi também uma forma que eles encontraram para transformar aquele espaço, onde eles foram submetidos a intensas e traumáticas sessões de torturas e violências. “Essa questão é interessante porque foi uma forma de transformar aquilo que aprisiona – a prisão e o espaço da cela – em uma possibilidade de liberdade. A liberdade não era contida naquele espaço”.

Além dessas obras, a exposição também apresenta sete depoimentos em vídeos produzidos especialmente para a mostra. “Contamos aqui com sete vídeos inéditos que foram feitos para essa exposição e que foram muito importantes para esse espaço de escuta na pesquisa curatorial”, disse Priscila.

30 anos do Centro MAriAntonia

A mostra marca a celebração dos 30 anos do Centro MariAntonia, um espaço importante de luta contra a ditadura brasileira. “Essa exposição faz parte de um grupo de comemorações dos 30 anos de luta do centro MariAntonia, que é conhecido como espaço de luta contra a ditadura. Essa exposição vem para fazer parte desse coro de ações. Na verdade, ela integra uma série de programações e conta também com mesas-redondas e toda uma programação paralela, onde a discussão sobre a arte e a ditadura na América Latina serão discutidas”, detalhou Priscila Arantes.

“O MariAntonia foi um palco muito importante de resistência politica durante os anos da ditadura. Simboliza a resistência da universidade ao autoritarismo no país. É um monumento histórico, tombado justamente em função desses movimentos estudantis e que resistiram ao arbítrio instalado no país. Por outro lado, nesses 30 anos, o Centro MariAntonia se tornou um dos espaços de arte mais importantes da cidade de São Paulo. Um espaço de reflexão sobre a arte, de exposição e de educação sobre a arte. Nesse sentido, a exposição junta esses dois fios de uma maneira extremamente oportuna para comemorar esses 30 anos”, explicou José Lira, professor da USP e diretor do Centro MariAntonia.

Entre 1949 e 1968, o Centro MariAntonia abrigou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que, atualmente, fica no Campus do Butantã. Em outubro de 1968, a Rua Maria Antonia, onde o conjunto de edifícios está abrigado, foi palco de uma das mais importantes batalhas pela democracia na ditadura militar. Esse episódio ficou conhecido como a Batalha da Maria Antonia e envolveu estudantes de posições ideológicas opostas e a polícia.

“A batalha da Rua Maria Antonia foi o ponto culminante de uma insatisfação geral dos estudantes em relação à repressão e suas manifestações e passeatas no centro de São Paulo”, contou Lira.

“Por volta de maio [de 1968], esses estudantes foram alvo de ataques violentos da polícia. Um estudante secundarista foi morto e, a partir desse episódio, eles decidiram ocupar o prédio da Faculdade de Filosofia. Para tal, montou-se um grande mutirão de estudantes, de várias faculdades da universidade de São Paulo, não só de Filosofia, Ciências e Letras, que passaram a residir e organizar manifestações a partir daqui junto com os estudantes de Arquitetura, Direito, Medicina e da Politécnica. Em outubro de 68, em função da repressão a um pedágio que eles faziam para arrecadar fundos, iniciou-se uma grande batalha entre os estudantes da USP e alguns estudantes da Universidade Mackenzie, que fica do outro lado da rua. Esse episódio terminou após dois dias de batalhas campais, com quebradeira generalizada no prédio. O prédio foi parcialmente incendiado e logo em seguida, tomado da universidade pelo governo do Estado. Durante mais de 20 anos, esse prédio foi alienado da universidade. Só em 1993, portanto há 30 anos, é que a USP finalmente ganhou de volta o prédio e decidiu criar esse espaço dedicado à memória,  à arte e à criação livre, ao pensamento livre”, explicou o diretor do centro.

Para ele, celebrar os 30 anos do espaço com essa exposição é importante não só para a construção de uma memória sobre aquele período, mas também para provocar reflexões na sociedade atual. “Ela [exposição] traz também a força, uma memória da força da mobilização social contra o arbítrio, contra o autoritarismo e contra a ditadura. No momento em que os ataques aos direitos humanos são praticados cotidianamente, em suas múltiplas formas – não mais daquelas formas típicas da ditadura mas de formas igualmente atrozes – uma exposição como essa sugere inúmeras possibilidades de reflexão para o cidadão em geral”, disse.

Mais informações sobre a exposição, que é gratuita, podem ser obtidas no site do centro

(Fonte: Agência Brasil)

Um palácio construído com a fortuna de um traficante de pessoas, que negocia vantagens para cedê-lo a uma corte colonial, que, por sua vez, dá lugar a um império que descende dela e começa a reunir objetos deslocados de diferentes culturas, entre elas, as que eram traficadas e exterminadas pela colonização. Os esqueletos no armário do Palácio de São Cristóvão não ficam de fora do musical Museu Nacional [Todas as vozes do fogo], que fará seu último fim de semana de apresentação no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro.

O palácio era tudo isso, mas também lugar de produção de pensamento sobre um novo país, de nomes como Bertha Lutz; de formação de uma multidão de pesquisadores e de apresentação da ciência a milhares de estudantes que enchiam seus corredores em excursões escolares. O musical conta a história de um palácio que era tudo isso e foi consumido pelo fogo com seu acervo de 20 milhões de itens, e do país que o ergueu com toda essa complexidade e o deixou queimar.

Quem recebe o público para essa visita guiada é Luzia, o crânio humano mais antigo do Brasil e sobrevivente do fogo que destruiu o palácio em 2 de setembro de 2018. A “primeira brasileira” é interpretada por Ana Carbatti, indicada ao Prêmio Shell de melhor atriz deste ano por Ninguém Sabe Meu Nome, em que uma mãe preta reflete sobre como deve criar seu filho em uma sociedade racista.

Ana conta, em entrevista à Agência Brasil, que em Museu Nacional sua personagem é uma ancestral, mais no sentido humano no que no sentido solene desta palavra. “A princípio, eu tinha uma preocupação de que ela tinha que ser séria, em respeito a essa ancestralidade, em respeito a esse crânio sobrevivente. Mas, depois, a gente foi entendendo que não. Que a ideia era humanizar essa ancestralidade. Então, isso fez o trabalho ficar muito divertido pra mim. E, hoje, fazer a Luzia é uma alegria, me divirto muito”.

A Luzia que conduz a narrativa da peça lança mão do humor e da perspicácia para acessar o público em lugares diferentes da comoção com a tragédia. Museu Nacional não trata apenas disso, avisa Ana Carbatti, mas também de esperança e até de utopia.

“Se a gente perder a esperança, não precisa nem subir no palco. Subir no palco só pra falar das nossas mazelas, não precisa. Não é só pra isso. Acho que o teatro tem muitas funções, não pode ser só essa. A cultura é uma esperança, em si”.

Museu Nacional [Todas as vozes do fogo] é escrito e dirigido por Vinicius Calderoni, com direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos, com 20 músicas originais. A diretora de produção e idealizadora do espetáculo, Andréa Alves, é da Sarau Cultura Brasileira, que completa 30 anos. O elenco conta com Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca Barros, todos da Companhia Barca dos Corações Partidos, e convida os atores e atrizes Adassa Martins, Aline Gonçalves, Felipe Frazão, Júlia Tizumba, Lucas dos Prazeres e Rosa Peixoto, além de Ana Carbatti, que concedeu entrevista exclusiva à Agência Brasil.

O musical passou por São Paulo no ano passado e encerra, nesta semana, as apresentações no Rio de Janeiro. Há expectativa de novas montagens em outros Estados, ainda sem datas e locais definidos.

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com Ana Carbatti:

Agência Brasil:

Acredito que nós, jornalistas, na época, não conseguimos traduzir para o público a dimensão do que significou essa tragédia, a perda que tivemos como sociedade e civilização com tudo que se perdeu no incêndio no Museu Nacional. Você acha que o teatro consegue dar conta de dimensionar isso?

Ana Carbatti:

Não. Eu acho que o teatro não consegue dar conta. Eu acho que o máximo que o teatro pode fazer é abrir possibilidades, abrir um horizonte, abrir discussões. Eu acho que esse nem é o papel do teatro. Eu acho que a gente tem um papel parecido com o de vocês, de reportar e reunir diferentes depoimentos e diferentes sentimentos, para que a gente possa enxergar as coisas de diferentes pontos de vista. E eu acho que, nesse sentido, o espetáculo cumpre com esse papel, de apresentar que não é só o museu, não são só objetos, não são só essas pessoas que estão ali. É uma história que foi escrita por diferentes mãos e de diferentes formas. E o que a gente faz com isso daqui pra frente, o que tá nas nossas mãos para encaminhar um futuro possível.

Agência Brasil:

Aqui, no Rio, vocês tiveram um público que viveu o Museu Nacional, que passeou nele e o conheceu. A reação desse público foi diferente?

Ana Carbatti

A gente teve vários pesquisadores que vieram assistir ao espetáculo, estudantes, pessoas que fizeram mestrado e doutorado no museu. Essas pessoas vêm com uma energia muito diferente do geral. Elas vêm com uma energia mais difícil de explicar, porque é uma coisa muito de corpo, daquela vibração do momento, mas eu sinto, sim, que aqui a relação com o objeto que esse espetáculo trata é uma relação mais delicada, mais profunda. E tem a ver com a questão da ficha demorar para cair. E não só num lugar de “que pena que pegou fogo, que tristeza”. É mais do que isso. Aqui no Rio de Janeiro, a relação das pessoas com esse espetáculo é mais delicada, sim. É mais profunda. Mas, mesmo em São Paulo, a gente sente que, além da apreciação estética, que é a função do teatro, o espetáculo não fala só do museu, ele fala da história do Brasil, o museu é a história do Brasil. Eu acho que essa é a grande sacada nesse espetáculo. Não é só sobre o museu, é sobre como a gente constrói o nosso patrimônio, sobre como o Brasil constrói seu patrimônio. Então, eu acho que isso fala a todos os brasileiros, em qualquer lugar do país. E, quiçá, se a gente tiver um futuro internacional, eu acho que vai falar a todas as pessoas do mundo, em qualquer lugar do mundo.

Agência Brasil:

E, como carioca, você frequentou o museu e teve uma relação com o museu? O que você tinha de lembrança com esse museu que você reencontrou com a peça?

Ana Carbatti

A Quinta da Boa Vista foi, na minha infância, o lugar da reunião, de fazer piquenique com a família, e depois visitar o museu e o zoológico. E a minha família é muito grande, tanto a materna quanto a paterna, e a gente se reunia muito. Então, eu visitei muitas vezes esse museu. Também com a escola, várias vezes. Com pai, mãe, a família. Meu irmão é antropólogo e fez mestrado e doutorado lá. Tenho uma história íntima com esse espaço físico. E eu fui educada no período da ditadura. Não tive nenhum contato com as informações sobre a história da Quinta da Boa Vista que a gente traz no espetáculo. Só fui ter acesso muito mais tarde, porque na escola a gente não falava disso. Falava que era residência imperial e isso que era importante.

Agência Brasil:

E não que era um palácio construído por um traficante de gente.

Ana Carbatti

Absolutamente. Na minha época, isso não era assunto de escola. Eu fui educada no período da ditadura. Hoje, pensar nesse espaço com essa outra perspectiva é uma coisa bem marcante. 

Agência Brasil:

Como conceber a personalidade e a personagem Luzia a partir de um texto e de um fóssil? 

Ana Carbatti:

Não foi fácil. Foi, primeiro, um grande mistério, porque, como você dá corpo pra um esqueleto de uma forma que não seja óbvia, caricata. E o Vinícius é um diretor muito generoso e muito aberto, tem uma escuta incrível para qualquer movimentação dos atores. O texto foi criado em sala de ensaio, tudo foi criado nesses quatro meses de trabalho. Então, isso foi deixando de ser um mistério ao longo do processo. Como era uma construção coletiva, com o Vinícius com a função de amarrar essas ideias e passar para o público de uma maneira que comunicasse de uma forma mais efetiva, foi facilitando o processo, foi tirando o mistério. Pra mim, a palavra-chave é anfitriã. A mulher mais antiga. Essa ancestralidade que é uma coisa com a qual tenho intimidade, por causa da minha história pessoal, foi um mote pra mim. Ela é a primeira e a anfitriã que recebe e conduz as pessoas. A princípio, eu tinha uma preocupação de que ela tinha que ser séria, em respeito a essa ancestralidade, em respeito a esse crânio sobrevivente. Mas, depois, a gente foi entendendo que não. Que a ideia era humanizar essa ancestralidade. Então, isso fez o trabalho ficar muito divertido pra mim. E, hoje, fazer a Luzia é uma alegria, me divirto muito. Deixo o corpo ir falando, e o texto do Vinícius é um texto muito vivo. A história dessa peça não é uma história que se repete. Todo dia faço uma Luzia nova. É como se ela entrasse em cena para dizer que o museu é um ato.

Agência Brasil:

Você também fez a Clementina de Jesus no teatro. Queria saber como essas duas mulheres conversam e como conversam com você. 

Ana Carbatti:

São dois presentes na minha vida. Quando fiz Clementina, há 10 anos atrás, eu nem era fã, eu conhecia, mas eu não tinha todos os álbuns e ouvia diariamente em casa. Esse contato profundo com ela e com a história dela mexeu muito comigo. A Luzia e a Clementina falam muito entre si por essa questão óbvia da ancestralidade. O fato de a Clementina ter ganhado notoriedade já como uma senhora, uma anciã, foi o que deu e vai dar a ela no futuro esse caráter de que a gente pensa nela como um ser, não é só mais uma cantora que apareceu. Os ensinamentos e transformações que ela trouxe para a música brasileira, a representatividade que ela trouxe, nos mais profundos sentidos dessa palavra, para o cancioneiro brasileiro é gigantesca. Ela chega em um momento em que ela transforma a música brasileira e a pesquisa musical brasileira. E a Luzia, enfim, 12 mil anos, né? Eu acho que Luzia e Clementina falam entre si a história desse país e desse continente, sobre em que base a gente constrói as nossas vigas e os nossos pilares. E, comigo, elas são um presente. É um presente muito grande para uma atriz madura ter esses personagens que vão muito além do meu corpo físico e do meu pensamento como indivíduo. É muito engrandecedor e muito especial.

Agência Brasil:

A Luzia fala que está cansada de resistir e sobreviver. Eu acho que essa fala ecoa para os brasileiros de uma forma muito forte. Como você vê esse eco em todos nós brasileiros, e principalmente nas mulheres negras?

Ana Carbatti:

É muito profundo isso. É uma luta muito antiga. E é uma luta que tem suas transformações, mas parece que não tem fim. Acho que o cansaço é um pouco esse. Eu escuto muitas jovens negras dizendo que estão cansadas de explicar. Meninas de 20 e poucos anos, ativistas, que falam que não querem mais explicar, que esse não é o seu papel, e é muito louco se você pensar que é uma menina que acabou de começar a vida e está cansada. É uma luta ancestral e é cansativa, é muito cansativa para o povo brasileiro, para qualquer pessoa que entende o mundo para além do próprio umbigo, se você é uma pessoa que nasceu nesse país e que constrói nesse país. A gente tem esse problema, porque, além de todas as divisões no país, de raça, classe e gênero, a gente ainda tem essa divisão da produção, de que pouca gente fala. A gente tem um grupo imenso que produz nesse país e realmente gera as divisas desse país. E a gente tem um grupo que desfruta dessas divisas e não precisa produzir. Que nasceu em berço de ouro. E é uma gente que cansa muito, porque essa gente determina muito o pensamento de uma parcela da população, o modus operandi da população, e é cansativo pra caramba. Para qualquer brasileiro que produz nesse país, e que tá ocupado com o que acontece ao nosso redor, essa frase ecoa, em qualquer dessas pessoas, porque é uma luta diária. É um leão por dia para todo brasileiro. Mas é um leão e meio ou dois leões para algumas outras pessoas que ainda precisam lutar contra preconceitos.

Agência Brasil:

Você começou pensando a Luzia como uma pessoa séria e depois o humor veio chegando. O humor está presente na peça até em momentos que falam de assuntos pesados. Ele é uma forma de ajudar a processar essa crítica social e todas as camadas dessa tragédia?

Ana Carbatti:

Sem sombra de dúvida. O teatro é entretenimento, e a gente nunca pode perder de vista essa função, e também de educar, porque também é educação. O teatro é uma das ferramentas mais importantes da cultura mundial. Em vários países, é tratado como uma atividade nobre. Aqui, não. Mas é entretenimento, que vai fazer você pensar, sentir. Então, a gente nunca deve abrir mão dessa possibilidade. Eu acho que ajuda a processar, sim, mas não é só esse o papel do humor, não é só aliviar o clima para entender melhor. É para que a gente consiga abrir todos os canais possíveis de comunicação. Eu preciso, como atriz, quando estou no palco, que você, espectador, esteja com todos os canais abertos. Você precisa estar desprovido de barreiras, de ideias preconcebidas. Você precisa estar com a mente aberta para receber aquilo e responder pra mim. Se eu estou, ali, fazendo um monte de coisas com uma pessoa parada, que não ri, não chora, não tosse, não se mexe, o teatro não está acontecendo. O humor é um dos canais de acesso ao espectador para que ele possa ficar totalmente aberto, com todos os sentidos abertos. A gente sobe no palco e começa a ir escavando até chegar em você, e a gente tem que usar todas as ferramentas, e o humor é uma delas. 

Agência Brasil

Vocês se prepararam e estrearam em São Paulo em um momento em que o rumo das eleições ainda estava incerto. E agora se apresentaram no Rio, em um momento totalmente distinto. Como foi apresentar a peça nesses dois momentos?

Ana Carbatti:

No primeiro momento, em São Paulo, antes das eleições, as pessoas, todos nós, estávamos à flor da pele. Tinha um perigo iminente. Tinha um meteorito pendurado em cima da gente que podia cair a qualquer momento, e foi um período muito assustador. A primeira vez que entramos no palco e apresentamos esse espetáculo, eu fiquei muito assustada, porque é nesse momento que você reconhece que está todo mundo andando no precipício mesmo, que não sou só eu me sentindo assim, que a gente está comungando desse sentimento aqui. Era uma coisa que arrepiava a gente, e o espetáculo terminava com essa sensação de esperança, de que as coisas iam mudar, e de que a gente ia sair da beira do precipício. Já aqui no Rio de Janeiro, eu falei muito em casa, pro meu marido, que as pessoas iam questionar que importância tinha isso agora, que isso que eu estava falando já não falava com as pessoas, porque o Brasil já estava se transformando em um outro país. E eu estava completamente errada, porque esse sentimento de esperança ainda está pulsando dentro da gente. A gente está em um caminho que é diferente, mas a gente ainda não tem garantia de nada. E eu acho que ter vivido esse perigo deixou a nossa população mais atenta, então, eu sinto que a plateia desse teatro é uma plateia mais atenta e mais crítica, que sabe que ainda estamos pisando em ovos, que as coisas não mudaram ainda. 

Agência Brasil:

No meio de toda a tragédia que é apontada na peça, desde a colonização até o incêndio, vocês ainda encontram espaço para contar uma utopia. A esperança é um tom da peça de forma geral, impulsionar os brasileiros a construir a partir de escombros, como diz o texto?

Ana Carbatti:

Se a gente perder a esperança, não precisa nem subir no palco. Subir no palco só pra falar das nossas mazelas, não precisa. Não é só pra isso. Acho que o teatro tem muitas funções, e não pode ser só essa. A cultura é uma esperança, em si. E eu acho que a gente tem que fazer esse nosso papel de dizer, mesmo quando as coisas terminam em tragédia, que estamos aqui, que o presente é agora. E é muito bom essa ideia de ter um entendimento do passado para que possa viver o presente e construir o futuro. Sempre. Essa deve ser uma perspectiva de todos os indivíduos. Vamos entender o passado para que a gente possa viver o presente, olhando de verdade para o futuro. O problema da humanidade hoje é que precisa olhar para o futuro com um pouco mais de proatividade, porque ele está começando a ficar comprometido.

Agência Brasil:

A peça é muito contundente na crítica antirracista, e vocês se apresentaram em casas em que talvez a maioria da plateia fosse branca. Como essa crítica está ecoando na plateia? Ela é acolhida, ela causa contrariedade?

Ana Carbatti:

Graças a Dionísio, tudo isso. A gente tem, na plateia, as pessoas que entendem. Uma das canções que está mais relacionada a isso é sempre ovacionada. A plateia do teatro é majoritariamente não negra, apesar de que hoje, eu, que estou nessa carreira há 30 anos, vejo muito mais pessoas negras na plateia do que eu via quando eu comecei. Mas [a branca] ainda é a população que domina a cidade financeiramente, então ainda é a população que mais vai ao teatro. E eu fico muito feliz que a gente tem todas as reações. Acho que a contrariedade faz parte desse pacote. Ouvir e não gostar. Teve um dia, em uma plateia no Rio, que tinha um senhor sentado muito na frente. Quando eu falei “a cultura branquitude desapareceu”, ele fez “aaahhh”. E eu tive vontade de rir. E, quando terminou, e ele aplaudiu o espetáculo, ele era uma pessoa que estava muito feliz de ter visto. E eu associei aquele “ah” àquela pessoa que estava aplaudindo efusivamente no teatro. O “ah” dele foi de, por que estão me tirando dessa história? Eu não quero ser tirado, eu quero fazer parte. Mas tem gente que não quer fazer parte disso. E essas pessoas vão receber essa crítica da forma objetiva que ela vem: “sinto muito, mas não vai ter futuro”. Se você pensa que vai existir nesse mundo sem nós, eu lamento te informar, mas o caminho aponta o contrário. Então, abre teu olho. Acho que chega em todo mundo. Não tem como não chegar. Só se a pessoa não usa a internet, não lê jornal, não vê televisão, não é possível. Tem que estar chegando de alguma forma. É um assunto, esse [antirracismo] e todo o assunto relacionado à inclusão no seu sentido mais amplo, que faz parte do nosso cotidiano hoje. Vai ter que conviver com isso amigues, não vai ter outro jeito.

(Fonte: Agência Brasil)

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, lançou nessa sexta-feira (28), na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, edital para seleção de dez propostas de longas-metragens dirigidos por mulheres estreantes no audiovisual. Chamado de Ruth de Souza, o edital terá R$ 20 milhões em recursos, sendo R$ 2 milhões para cada filme selecionado.

De acordo com a ministra, além de ser uma homenagem à atriz Ruth de Souza, primeira artista negra a conquistar projeção na dramaturgia brasileira e primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema, o edital pretende promover, ampliar e estimular a participação de mulheres na direção de filmes brasileiros. A atriz Ruth de Souza morreu em julho de 2019, aos 98 anos.

Segundo Débora Ivanov, que foi diretora da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e, agora, está à frente do projeto +Mulheres Lideranças no Audiovisual Brasileiro, um estudo feito pela instituição demonstrou que a participação de mulheres em projetos de direção e de roteiro no cinema nacional é muito baixa.

Entre mais de 2 mil obras analisadas no estudo, mulheres foram responsáveis por apenas 20% do total produzido. “É preciso usar o poder do audiovisual para a mudança. E, para mudar a realidade nas telas, é preciso começar mudando a realidade por trás das telas. Em uma sociedade cada vez mais perpassada por imagens e sons, precisamos, com urgência, de uma produção mais diversa, que venha espelhar a realidade do mundo em que vivemos e quebrar esse ciclo vicioso que perpetua estereótipos e preconceitos. E o lançamento do Edital Ruth de Souza marca a retomada dessa pauta tão cara para nós”, disse Débora durante o evento.

Além de valorizar as cineastas, o projeto busca ampliar a participação de mulheres negras e indígenas no audiovisual. É por isso que o edital prevê que, pelo menos, três projetos escolhidos sejam de filmes dirigidos por negras e, pelo menos, dois, por mulheres indígenas.

“O Edital Ruth de Souza vai apoiar a produção de dez filmes, com aporte de R$ 2 milhões para cada filme, dois de cada região do Brasil. Estamos fazendo também um recorte de mulheres negras e mulheres indígenas porque há pouca oportunidade para que elas dirijam um longa-metragem. Esta é uma ação que visa potencializar a produção das mulheres cineastas do Brasil”, disse Margareth Menezes.

As inscrições são gratuitas e poderão ser feitas de 15 de maio a 14 de julho, no portal Mapa da Cultura.

Cinemateca

Cinemateca Brasileira

Durante o evento de ontem, a ministra da Cultura anunciou, também, o repasse de R$ 24 milhões para a Cinemateca Brasileira. De acordo com a secretária de Audiovisual, Joelma Gonzaga, o aporte é 30% maior do que era garantido anteriormente à instituição.

A Cinemateca Brasileira guarda o maior acervo de filmes da América do Sul e é um importante instrumento para a preservação da memória do cinema e do audiovisual brasileiros.

Nos últimos anos, a Cinemateca Brasileira sofreu com enchentes, incêndios e um grande desmonte de sua estrutura. Isso se agravou a partir de 2020, quando a instituição ficou fechada por um período de 16 meses, o que colocou em severo risco a preservação de seu acervo. “Um acervo precioso ficou sem acompanhamento técnico por 16 meses. Tudo foi trancado, sem que ninguém pudesse entrar. Um total de 45 mil títulos ficou sem nenhuma assistência nesse período”, reclamou a diretora-geral da Cinemateca, Maria Dora Mourão, que participou do evento dessa sexta-feira com a ministra da Cultura.

Segundo Maria Dora, o trabalho de conservação está sendo retomado, mas a Cinemateca ainda não conta com a mesma estrutura que tinha antes da crise. “Hoje, temos 80 colaboradores. Até o final deste ano, devemos chegar a 100. Antes da crise, tínhamos 150 técnicos e colaboradores”.

“Precisamos superar as dores da inundação e do incêndio que atingiram nossa memória do audiovisual em tempos recentes, com muito trabalho, programas, projetos e participação institucional e social. Por isso, celebramos a assinatura do novo contrato de gestão da Cinemateca Brasileira com a Sociedade Amigos da Cinemateca [que gere a instituição], que foi aditivado em valores 30% maiores do que seu valor original”, disse Joelma.

A ministra Margareth Menezes enfatizou que seu grande objetivo à frente da pasta é retomar a importância da cultura brasileira. “Queremos fortalecer a cultura do Brasil. Queremos que a cultura se torne uma política de Estado no país”, afirmou.

(Fonte: Agência Brasil)

Os institutos federais (IFs) de todo o país promoveram, na manhã desta sexta-feira (28), um abraço pela paz simultâneo. O ato simbólico marca o Dia Mundial da Educação, celebrado em 28 de abril, e contou com a participação de estudantes, professores e demais servidores dos institutos federais e da comunidade em geral.  

A iniciativa foi organizada pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), que engloba 41 instituições com mais de 600 campi, em todo o país. O objetivo é promover a cultura de paz nas instituições de ensino e na sociedade. Os estudantes foram convidados a fazer publicações nas redes sociais com as hashtags  #BrasilUnidoPelaPaz e #EscolaSegura, para  juntar os conteúdos publicados.

No Distrito Federal, o Instituto Federal de Brasília (IFB) realizou a atividade nos oito campi para marcar posição no enfrentamento à violência no ambiente escolar.  

A reitora do IFB, Luciana Massukado, que preparou a mobilização na área externa do Campus Brasília, acredita que a harmonia começa pelo respeito às diferenças.

“É preciso trabalhar uma cultura de paz que venha dentro de cada um de nós, para melhorar nossas relações humanas, com a comunicação não violenta, com empatia, com respeito às diversidades. Eu vejo a educação como um lugar que você pode transformar vidas por meio de uma educação ‘com e para’ a diversidade”.

Abraço coletivo

A diretora do IFB Campus Brasília, Patrícia Albuquerque de Lima, entende que o ato contribui para devolver o ambiente escolar para seu real propósito: educar.

“A instituição de ensino faz parte desse processo de cultivar o respeito à diversidade. A gente não tem que ficar preocupado só com as questões de segurança. Precisamos voltar a investir, cada vez mais, o nosso tempo para devolver à sociedade tudo que a gente recebe dela.”  

A professora de física Christine Loureço aposta que o Abraço pela Paz deixa um legado positivo. “Deste ato simbólico, fica a mensagem [de paz] para a nossa comunidade. Às vezes, você não pensa a respeito disso. Mas, quando a sua atenção é chamada para aquele momento, você passa a reconsiderar e olhar de maneira diferente”.

A professora de licenciatura em dança Juliana Passos trouxe vários alunos do curso para participar da dinâmica coletiva: “tirei os alunos da sala porque nós, da dança, os artistas, temos que apoiar esses movimentos pela paz”.

A estudante Nicole Cristina saiu da sala de aula, no Campus Brasília, para se unir aos colegas: “acho importante a gente falar sobre isso, ter essas atitudes para resgatar a paz e se conectar com os outros”.

“O abraço de hoje serve para relembrarmos que o amor é importante. Precisamos nos preocupar, não somente com o caos, mas com o respeito aos outros”, disse o estudante Jhone Soares Costa,

Efeito multiplicador

O diretor-geral do Instituto Federal de Sergipe (IFS), Campus Aracaju, Francisco Gumes, destacou o efeito multiplicador na sociedade para manter o ambiente seguro. “Esse evento sensibiliza o aluno, o traz à responsabilidade também. Não é só para o aluno, mas para o servidor administrativo, o docente, o colaborador terceirizado, enfim, para toda a gestão como um elemento a mais em um processo de segurança e de manutenção dessa cultura de paz”.

“Todo mundo tem um pouco de responsabilidade para a manutenção da paz na escola. A gente entende esse abraço simbólico como um momento de necessidade de resgatar valores”, defendeu Gumes.

Para o professor de Sociologia do Campus Aracaju Alysson Rocha coloca este ato consciente se contrapõe à violência vivida recentemente dentro do ambiente escolar no país.

“Os atos terroristas que aconteceram nas escolas do Brasil têm o intuito de dispersar, fazer a gente ter medo, não confiar no outro. Então, o abraço de hoje é mais do que um símbolo. Ajuda a gente a se sentir mais próximo pelo toque, pelo olhar e, também, para a gente se sentir pertencente à comunidade escolar. Essa é maneira que a gente tem para combater a violência que vinha se construindo”.  

Cartilha

Na semana passada, o Ministério da Educação publicou a cartilha on-line Recomendações para Proteção e Segurança no Ambiente Escolar, em formato digital. A publicação é parte do trabalho do grupo interministerial coordenado pelo MEC para tratar da violência nas escolas. 

(Fonte: Agência Brasil)

A violência surgiu de onde ela menos esperava. Em pleno Dia das Mulheres, há quase dois meses, a professora Edmar Sônia Vieira Valéria, de 50 anos, em uma escola da região administrativa de Ceilândia (DF), recebeu de “surpresa” de um aluno uma palha de aço. A ação, considerada de caráter racista e machista, abalou a docente, mas não alterou as convicções de que é necessário e possível uma educação antirracista.

 “O nosso trabalho deve ser com amor. Devemos levar em conta que as características dos alunos de hoje são muito diferentes das de 20 anos atrás”, afirmou a professora em entrevista à Agência Brasil. As agressividades, segundo ela, são voltadas para serem filmadas e espalhadas pelas redes.

O celular, segundo testemunha, virou protagonista no dia a dia educacional. “Tudo acontece por meio do telefone dentro de uma escola. É por ali que eles combinam qualquer ato, qualquer ação. É o que eles usam para se agredirem, por onde se ameaçam. Ou quando desejam filmar um professor recebendo um pacote de palha de aço, como aconteceu comigo”. 

Ela defende maior participação das famílias na escola e uma revisão geral do processo de ensino-aprendizagem para efetivação de uma escola antirracista.

“Nós precisamos de ações efetivas. Além das leis, precisamos de modelos de educação mais atuantes, uma escola mais atraente. O caminho é a educação séria e não o castigo”. Para ela, as escolas precisam contar histórias de pessoas negras a fim de que os alunos se vejam representados.

A professora explica que o aluno que a ofendeu pediu desculpas em diferentes ocasiões desde então e crê que ele aprendeu com o erro.

“Ele nunca foi um aluno agressivo. Chegava sempre com muita alegria. Sentava próximo à minha mesa. Ele se arrependeu e entendeu”. A conscientização passou pelo caminho da repercussão e da solidariedade à professora, que se seguiram à violência, e pelas constantes conversas em sala.

Sem tabu

O caminho para uma educação antirracista, no entender do cientista social Vidal Mota Junior, obriga que o tema deixe de ser tratado como tabu e seja reconhecido como um problema a ser discutido e enfrentado em sala de aula. 

“A gente vê como um longo caminho de conscientização. Mais de 56% da população são negros e menos representados em posições de liderança ou dentro de uma sala de aula”, afirma o especialista, que coordena a organização não governamental (ONG) Dacor, com sede em São Paulo, que promove políticas e campanhas de conscientização sobre a questão racial no Brasil. 

Para o pesquisador, é preciso que essa violência do racismo não seja naturalizada, e todos os crimes gerem intervenções sérias. “A escola tem que chamar os alunos que cometem a violência para reensiná-los. E mostrar para toda a comunidade escolar que o preconceito racial não terá vez naquele espaço”.

Protagonismos e prioridades

Além disso, segundo os professores, a escola deve apresentar sinais nítidos de democracia racial, com inclusão e protagonismos de histórias de heróis negros e não os clássicos personagens brancos de origem europeia. 

Em 2023, ano em que a Lei Antirracista nas escolas completou 20 anos, a legislação tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira. O desafio dos sistemas educacionais, de todos os âmbitos, é que, além da lei, efetivamente se promova empatia e estrutura para que os estudantes entendam as próprias raízes, e de uma forma atraente.

Essa necessidade é reconhecida pela advogada brasiliense Karina Berardo, mãe de dois filhos negros adolescentes. “Na escola deles, a lei não saiu do papel. Não tem professores ou diretores negros. Para enfrentar isso, eles vão ter que cortar na própria carne. Claro que não precisa ser negro para falar sobre democracia racial”.

Outra preocupação de Karina é o que chega pelos celulares, como alertaram os pesquisadores. Ela procura acompanhar, por exemplo, os grupos de mensagens dos filhos. “Não raras vezes, eu encontro a utilização de termos utilizados para agredir e diminuir as pessoas. Os meninos têm hábito de um chamar o outro de gay, de retardado, de preto. Quer dizer: utilizam termos de forma completamente equivocada. Eu conversei isso na escola: é preciso trazer pessoas deficientes, pessoas gays, pessoas negras para conversarem com os alunos. As escolas precisam abraçar a causa de verdade”.

(Fonte: Agência Brasil)

Com promessa de belas jogadas, muitos gols e duelos emocionantes, a segunda edição da Copa Golzinho de Praia, competição de futebol de travinha patrocinada pelo governo do Estado, pelo El Camiño Supermercados e pela Potiguar, terá continuidade na manhã deste domingo (30), quando será realizada a abertura do torneio Adulto Feminino. Os confrontos das oitavas de final serão realizados a partir das 8h15, na Praia do Calhau, em São Luís.

Os duelos das oitavas de final são os seguintes: R13 x Vasco, Cruzeiro x Tutela, Brutus x Atlético Cohab, Espias x Roma, Fut Girls x Boa Esperança, IJC x AFA, Fênix x RB Sports e Jeito Moleque x Trivela. As equipes que vencerem avançam à próxima fase.

O torneio Adulto Feminino da Copa Golzinho de Praia contará com a participação de 16 equipes, que receberam coletes e bolsas esportivas personalizados para serem utilizados durante toda a competição. 

Entre as equipes confirmadas no segundo torneio Adulto Feminino da Copa Golzinho de Praia, destaque para o atual campeão Espias e o vice-campeão Atlético Cohab. A competição também contará com a participação dos seguintes times: R13, Vasco, Cruzeiro, Tutela, Brutus, Roma, Fut Girls, Boa Esperança, IJC, AFA, Fênix, RB Sports, Jeito Moleque e Trivela.

Sub-17

A Copa Golzinho de Praia começou no dia 2 de abril, com as oitavas de final da categoria Sub-17. O destaque da rodada foi o Audaz, que garantiu classificação com uma goleada de 10 a 1 sobre o Corinthians.

Também pelas oitavas do torneio Sub-17, o América venceu o Flamengo por 4 a 3, o Geração Jovem derrotou o Afasca por 3 a 2, o Athletico bateu por 2 a 1 o Craque na Escola, o Revelação ganhou por 4 a 2 do Inovar, e o Comercial goleou o GM Sports por 4 a 1.

Outras duas partidas terminaram sem vencedor no tempo normal e só foram decididas no shootout. Após um emocionante empate por 4 a 4 no tempo normal, o Raf 07 bateu o 15 de Novembro por 1 a 0 no desempate. O Palmeirão, por sua vez, empatou por 1 a 1 com o Lyon e venceu por 1 a 0 nas cobranças de shootout.

Quer saber mais sobre a Copa Golzinho de Praia? Nas redes sociais oficiais do torneio no Instagram e no Facebook (@copagolzinhodepraia) estão disponíveis todos os detalhes da competição.

TABELA DE JOGOS

Domingo (30/4) / Praia do Calhau (Campo 1)

8h15 - R13 x Vasco

9h - Cruzeiro x Tutela

9h40 - Brutus x Atlético Cohab

10h20 - Espias x Roma

Domingo (30/4) / Praia do Calhau (Campo 2)

8h15 - Fut Girls x Boa Esperança

9h - IJC x AFA

9h40 - Fênix x RB Sports

10h20 - Jeito Moleque x Trivela

(Fonte: Assessoria de imprensa)

Começam nesta quinta-feira (27), às 15h, as inscrições para o Prêmio Rádio MEC 100 anos. A iniciativa pretende revelar e divulgar gravações de obras musicais inéditas e valorizar a produção de artistas de todo o Brasil. Os interessados em concorrer devem preencher um formulário na página do concurso, até o dia 12 de junho.

Como parte da programação de aniversário da Rádio MEC que completou, no dia 20 de abril, 100 anos, o prêmio dará visibilidade a cantores, compositores e instrumentistas. As músicas selecionadas entrarão na programação da emissora.

“Esta edição, além de comemorar os 100 anos da Rádio MEC, dará continuidade à história desse prêmio, conhecido por abrir espaço para o artista novo e independente. Então, vamos celebrar o centenário da emissora, mantendo a dinâmica de fazer uma rádio para a sociedade e para os artistas”, destaca Thiago Regotto, gerente-executo de Rádios da EBC.

Os inscritos poderão concorrer com até duas composições em cada uma das quatro categorias do festival: Música Clássica, Instrumental, Infantil e Canção. A regra (acesse aqui) exige composições inéditas e em português.

Ao todo, serão 12 prêmios: Melhor Música Clássica, Melhor Intérprete Música Clássica, Melhor Música Instrumental, Melhor Intérprete Música Instrumental, Melhor Música Infantil, Melhor Intérprete Música Infantil, Melhor Canção, Melhor Intérprete Vocal, Melhor Música Clássica - Voto Popular, Melhor Música Instrumental - Voto Popular, Melhor Música Infantil - Voto Popular e Melhor Canção - Voto Popular.

A Comissão Julgadora será composta por personalidades de notório saber ou em atividade na área musical, e por profissionais da EBC. Os vencedores serão conhecidos no dia 25 de setembro no site do Prêmio e durante programação especial.  

Confira o cronograma do Prêmio:

27/4 – Abertura das Inscrições

27/4 a 12/06 – Período de inscrição

11/7 – Divulgação das músicas classificadas

11/7 a 17/8 – Período de veiculação nas emissoras

11/7 a 17/8 – Votação Popular (Internet)

18/8 – Divulgação das músicas semifinalistas

18/8 a 14/9 – Período de veiculação nas emissoras

18/8 a 14/9 – Votação Popular (Internet)

15/9 – Divulgação das músicas finalistas

15/9 a 25/9 – Período de veiculação nas emissoras

25/9 – Divulgação dos vencedores

(Fonte: Agência Brasil)

A escritora e militante negra Alzira Rufino morreu na noite dessa quarta-feira (26), em São Paulo. Ela tinha 73 anos de idade e será cremada sem velório hoje, no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos. Ela deixa a companheira Urivany Carvalho.

Graduada em enfermagem, fundou, em 1990, a Casa de Cultura Mulher Negra em Santos, no litoral paulista. O espaço oferecia acolhimento, com apoio psicológico e jurídico, às vítimas de preconceito racial e violência doméstica. A organização foi responsável também pela revista Eparrei!, que tinha Alzira como editora.

Como poeta e contista, Alzira participou de algumas edições dos Cadernos Negros, organizados pela editora Quilombhoje. Em 1988, lançou o livro de poemas Eu, mulher negra, resisto.

Foi autora de diversos ensaios, como Mulher negra, uma perspectiva histórica (1987) e O poder muda de mãos, não de cor (1996).

Em 2014, recebeu a medalha Ruth Cardoso, conferida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

(Fonte: Agência Brasil)

Pela sexta vez em sua história, o Balsas Futsal será o Maranhão na Copa do Brasil, uma das mais tradicionais competições de futsal do país. Dono de dez títulos estaduais, o Balsas – que conta com os patrocínios do governo do Estado, do Grupo Mateus e da HotBel Distribuidora por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte – chega a esta edição do torneio nacional com moral elevado graças à conquista do Campeonato Maranhense de 2022, que consolidou o time como o maior do Estado. E, nesta sexta-feira (28), a equipe maranhense inicia sua caminhada na Copa do Brasil diante da AABB/Mesa 14 (PI). O duelo de ida será às 20h, no Ginásio Vale do Gavião, em Teresina (PI). 

Para este desafio válido pela primeira fase da Copa do Brasil, o Balsas Futsal manteve a base vitoriosa da temporada passada. O time está focado em conseguir um bom resultado fora de casa para ter vantagem no jogo de volta, que ocorrerá no dia 6 de maio, no Ginásio do IFMA, em Imperatriz (MA). Quem avançar deste duelo vai encarar o vencedor do confronto entre Campo Largo (PI) e São João Jaguaribe (CE) na próxima fase. 

“Sabemos que o duelo contra a AABB/Mesa 14 será muito complicado, mas estamos confiantes em passar de fase na Copa do Brasil. Para alcançarmos o nosso objetivo, precisamos fazer um bom jogo fora de casa, o que dará mais confiança para a partida diante da nossa torcida em Imperatriz. Vamos dar o nosso melhor dentro de quadra. O Balsas Futsal é o Maranhão na Copa do Brasil e isso nos empolga e nos motiva ainda mais”, afirmou Hallyson Dias, técnico do time maranhense. 

Em suas últimas participações na Copa do Brasil, o Balsas Futsal sempre avançou da primeira fase. Em 2020, o time do Maranhão terminou na terceira colocação, em sua melhor participação no torneio nacional. “Claro que almejamos chegar à final e sermos campeões, mas a competição é muito difícil. Temos de pensar jogo a jogo. Temos um elenco competitivo graças aos patrocínios do governo do Estado, do Grupo Mateus e da HotBel Distribuidora que, por meio da Lei de Incentivo, que têm sempre nos ajudado nas competições locais e nacionais”, explicou Hallyson.

Calendário cheio

A temporada 2023 do time adulto do Balsas Futsal está apenas no início. Por ser o atual campeão maranhense, o principal time de futsal do Estado está garantido nas seguintes competições: Copa do Brasil, onde enfrentará a AABB/Mesa 14 na primeira fase; Taça Brasil de Clubes, que ocorrerá em agosto, no Amazonas; e na Copa do Nordeste, em outubro, em Sergipe. Além disso, o time vai em busca do 11º título estadual para ampliar sua hegemonia dentro do Maranhão. 

O Balsas Futsal também tem força nas categorias de base. Inclusive, o time disputará a Taça Brasil de Clubes em três categorias: Sub-8 (em agosto, na cidade de Campo Grande/MS); Sub-11 (em julho, na cidade de João Pessoa/PB); e Sub-15 (em agosto, na cidade de Campo Grande/MS). 

Para esses compromissos com seus times de base, o Balsas Futsal conta com um belo trabalho desenvolvido por suas escolinhas. Ao todo, são cinco polos de treinamento para a garotada: em Balsas, Imperatriz, Raposa, São Luís e Arari. Em cada escolinha, 80 crianças são beneficiadas com aulas gratuitas de futsal.   

“As escolinhas são uma espécie de contrapartida aos investimentos feitos pelo governo do Estado, pelo Grupo Mateus e pela HotBel Distribuidora, que nos patrocinam via Lei de Incentivo. Acreditamos que o esporte pode mudar a vida dessas crianças e ficamos felizes em poder proporcionar isso. Investir na base é muito importante. Só temos a agradecer ao governador Carlos Brandão e ao secretário de Esportes Naldir Lopes por acreditarem no nosso projeto e no futsal do Maranhão”, concluiu Hallyson Dias.

TABELA COPA DO BRASIL DE FUTSAL (1ª FASE)

28/4 (SEXTA-FEIRA) / Ginásio Vale do Gavião (Teresina/PI)

20h – AABB/Mesa 14 x Balsas Futsal

6/5 (SÁBADO) / Ginásio do IFMA (Imperatriz/MA)

19h – Balsas Futsal x AABB/Mesa 14 

(Fonte: Assessoria de imprensa)

A representação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil lançou, nesta quarta-feira (26), a publicação Liderança escolar: diretores como fatores-chave para a transformação da educação no Brasil.

A publicação mostra que a liderança dos diretores escolares é o segundo fator que mais influencia a melhoria da educação, atrás, apenas, da atuação direta dos professores dentro das salas de aula.

O lançamento da publicação, pela internet, faz parte da comemoração do Dia da Educação, comemorado em 28 de abril, e contou com a presença de dez acadêmicos brasileiros e estrangeiros ligados ao desenvolvimento da educação.

A diretora da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, disse que o estudo pretende contribuir para assegurar uma “educação inclusiva, equitativa e de qualidade”, como previsto no quarto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata da Educação de Qualidade.

“Reconhecemos o papel da boa liderança escolar como uma poderosa força capaz de transformar a qualidade de educação e de influenciar de maneira positiva o trabalho coletivo que se realiza diariamente na educação básica. Mais do que nunca, que precisamos de mentes críticas para tempos que também são críticos”, disse a diretora da Unesco.

Publicação

A pesquisa Liderança escolar foi realizada por 15 especialistas de nove países - Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Estados Unidos, Israel, México, Nova Zelândia e Inglaterra - e está organizada em 12 capítulos, com experiências acadêmicas e pesquisas em temas como padrões de liderança, processos de recrutamento de diretores, oferta dos programas de aprendizagem e desenvolvimento de liderança.

Uma das 15 autoras da pesquisa, professora brasileira do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Lara Simielli disse que os diretores são apenas 6% dos focos dos 700 artigos de várias partes do mundo sobre gestão escolar, desde 1989. A pesquisa analisa que é necessário realizar novos estudos.

Especificamente sobre o Brasil, a pesquisadora destacou como ponto positivo o fato de o país ter muitos levantamentos nacionais sobre gestão participativa nas escolas. “É um amplo repertório de pesquisas que embasam o desenho de leis projetos ou práticas que são voltados à garantia de uma escola mais democrática no país”.

Contudo, Lara Simielli destacou que o Brasil tem poucos artigos publicados em revistas internacionais de pesquisas, mesmo entre estudiosos latino-americanos. São apenas cinco publicações em mais de seis anos, lamentou Simielli.

Diretores

Durante a apresentação da pesquisa, a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Katia Schweickardt, mencionou, como convidada da Unesco, que 43% dos diretores escolares não são escolhidos pelas habilidades técnicas. “São indicações políticas”, disse.

Ao discorrer sobre a seleção e recrutamento dos melhores candidatos para a posição, a secretária relembrou o período em que foi gestora municipal de Educação de Manaus, no Amazonas, com mais de 500 diretores subordinados. Kátia revelou a criação de uma fórmula para ter sucesso com os novos gestores. “Equilibrar as indicações políticas com a formação técnica e seleção de pessoas, que, depois, passariam por uma validação da comunidade”.

O ex-ministro da Educação e professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV José Henrique Paim, priorizou o empoderamento dos gestores, além das questões administrativas. “Muitas vezes, subestimamos a responsabilidade deles de fazer o acompanhamento da aprendizagem e de criar uma cultura de acompanhamento dentro da escola. E a gente sabe que essas são características fundamentais para que a gente possa mudar a educação do país”.

De forma geral, Henrique Paim acredita que a educação foi valorizada no contexto da pandemia da covid-19, após a reabertura das instituições de ensino. “A escola é importante para convivência, socialização do conhecimento, não só para questão cognitiva, de aprendizagem. Mas para a gente se preocupar cada vez mais com a questão dos direitos humanos, da democracia e valores importantes para nossa sociedade”.

Experiências

Durante o lançamento da pesquisa, a autora Lara Simielli convidou duas secretarias de Educação para relatar as experiências locais sobre o tema. A secretária de Educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, considerou o estudo da Unesco válido para auxiliar na formação dos diretores. A secretária estadual ofereceu para futuros estudos acadêmicos, a atual ação de formação com gestores escolares gaúchos.

Segundo Raquel Teixeira, no Estado, um curso de formação individualizada de gestores, com 375 horas, já foi oferecido a mais de 6,2 mil gestores escolares, com pagamento de bolsa-formação de R$ 800 aos diretores e R$ 500, aos vices. Os diretores tiveram desenvolvidas competências e habilidades em pedagogia, administração financeira, política institucional e relacionamento pessoal.

Já a secretaria municipal de Educação de Vitória, no Espírito Santo, Juliana Rohsner, responsável por 103 escolas e 42 mil estudantes, defendeu a valorização do gestor escolar para garantir o direito ao aprendizado e ao saber. “O gestor escolar tem impacto na aprendizagem das nossas crianças, impacto no espaço acolhedor que não naturalize a violência, o racismo, não permita o bullying, a homofobia e nenhum tipo de violência ou fala que cause sofrimento a alguém. O gestor escolar, amparado de forma técnica, vai conseguir ajustar esses conflitos”.

Desafios

Em entrevista à Agência Brasil, o gerente de Políticas Educacionais da organização civil Todos Pela Educação, Ivan Gontijo, confirmou a responsabilidade da liderança escolar no aprendizado e rendimento dos estudantes e na gestão da infraestrutura das unidades.

“Os gestores escolares vão cuidar tanto da parte pedagógica, como definir a alocação de professores, ajudar nos processos formativos, mas também vão olhar para as questões administrativas, burocráticas e financeiras da escola. Então, é um profissional que cumpre um papel fundamental na educação brasileira”, disse.

Ivan Gontijo enfatizou que os processos de seleção para a gestão escolar devem avaliar as competências técnicas dos candidatos, no lugar de indicações políticas. “Os processos seletivos qualificados olham para as competências técnicas dos diretores, por meio de provas, entrevistas, dinâmicas de grupo e, também, para capacidade dos diretores em liderar pedagogicamente as escolas”, defendeu.

Após a indicação do novo diretor, outro desafio é a formação para gestão escolar, apontou o gerente do Todos Pela Educação. “Normalmente, um professor passa para a gestão escolar. Mas, não necessariamente, um bom professor vai ser um bom diretor. As vezes, você não ganha um bom diretor e, ainda, perde um ótimo professor, porque são competências muito diferentes”.

Ivan Gontijo aconselha os líderes escolares a se apropriarem de toda a gestão, em suas múltiplas dimensões. “O diretor não é um síndico. A escola tem a cara dele. Então, precisa ter esse papel de liderança pedagógica, ser o principal líder dos processos pedagógicos da escola. Será ele quem vai engajar os professores, fazer a gestão dos funcionários, vai lidar com as famílias, vai ser o elo com a secretaria [de Educação]. Então, não pode achar que o diretor, nesta função superdimensional e complexa, deve ser só o síndico”. 

(Fonte: Agência Brasil)