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Um grupo internacional de astrônomos anunciou, nesta segunda-feira (14), a presença da fosfina na atmosfera venusiana. O estudo foi publicado na revista “Nature Astronomy” - periódico britânico científico especializado em artigos científicos.

De acordo com a pesquisa, na Terra, a fosfina – ou hidreto de fósforo (PH3) – só pode ser encontrada decorrente de dois processos: ou pela fabricação de forma industrial ou pela ação de micróbios que se desenvolvem em ambientes sem oxigênio – chamados anaeróbicos. Utilizando telescópios avançados, a equipe formada por astrônomos do Reino Unido, Estados Unidos e Japão pôde confirmar a presença da molécula em Vênus. A primeira detecção aconteceu pelo Telescópio James Clerk Maxwell (JCMT), operado pelo Observatório do Leste Asiático no Havaí.

“Quando descobrimos os primeiros indícios de fosfina no espectro de Vênus, ficamos em choque!”, declarou a líder da equipe internacional Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido. Para confirmação do achado, foram usadas 45 antenas do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (Alma) – instalação astronômica no Chile, do qual o Observatório Europeu do Sul (ESO) é parceiro.

O telescópio, considerado muito mais sensível, localizou pequenas concentrações da fosfina na atmosfera de Vênus, cerca de 20 moléculas em cada bilhão. Com base em cálculos, descartou-se que a quantidade observada seria decorrente de processos não biológicos naturais no planeta, como a luz solar, ou a ação de vulcões e relâmpagos, por exemplo. No caso dessas fontes, seriam criados, no máximo, dez milésimos da quantidade de fosfina identificada no planeta.

Já que, segundo a análise, não seriam esses processos responsáveis por criar a quantidade de fosfina liberada, os cientistas passaram a considerar, então, a possibilidade que um tipo de organismo possa ser fonte desse biomarcador. A equipe destaca que, na Terra, as bactérias expelem a fosfina ao retirar o fosfato de minerais ou de material biológico, acrescentando hidrogênio. Mas, qualquer organismo no planeta vizinho, ressalta o estudo, “provavelmente será muito diferente dos primos terrestres”.

Atmosfera ácida

Os astrônomos veem esta descoberta como bastante significativa, mas reconhecem muito trabalho pela frente para confirmar presença de “vida”. Isso porque a atmosfera de Vênus é extremamente ácida, com cerca de 90% de ácido sulfúrico, o que dificultaria a sobrevivência de micróbios, destaca o Observatório Europeu do Sul.

Essa incógnita é apontada como desafio pela integrante da equipe, Clara Sousa Silva, do Massachusetts Institute of Technology nos Estados Unidos, que investiga a liberação de fosfina como uma bioassinatura de gás de vida anaeróbica em planetas que orbitam outras estrelas.

“Encontrar fosfina em Vênus foi um bônus inesperado. A descoberta levanta muitas questões, tais como é que os organismos poderão sobreviver na atmosfera do planeta vizinho. Na Terra, alguns micróbios conseguem suportar até cerca de 5% de ácido no seu meio — mas as nuvens de Vênus são quase inteiramente feitas de ácido”, diz a pesquisadora.

Embora a descoberta aumente as expectativas quanto à existência de vida fora da Terra, o astrônomo do ESO e gerente de operações do Alma na Europa, Leonardo Testi, diz que a missão agora é investigar a origem química da fosfina. ''É essencial acompanhar este intrigante resultado com estudos teóricos e observacionais para excluir a possibilidade de que a fosfina em planetas rochosos possa ter também uma origem química diferente da Terra”, diz Testi.

(Fonte: Agência Brasil)

Recebi do meu querido amigo Joaquim Itapary, pelas festas de um Natal já longe, com fraternal dedicatória, o livro “Hitler no Maranhão e o monstro de Guimarães”, publicado pelas edições da Academia Maranhense de Letras.

Confesso que a prosa de Joaquim Itapary me encanta pela sua magia, o que me fez, de logo, afoitar-me para este seu texto e lê-lo de um trago como se diz, e a fazer essas reflexões: todos nós, nascidos e vivido a infância nesse cenário de guerra, ouvíamos de nossos pais, professores e dos mais velhos, as terríveis histórias dessa guerra [1939-45], bombardeios, tomadas de cidades, campos de concentração... Tudo isso ficou no nosso imaginário, bem como aqueles símbolos diabólicos, cruz de ferro, SS, suástica, etc., Dentro dessa paisagem de horror, críamos, com certeza, que tudo vindo de Hitler poderia ser possível acontecer... Até ficção!

Com os traços dessas linhas, sinceramente, esse livro de Joaquim Itapary nos coloca em dúvida, se é realmente uma ficção, devido ao que acabei de dizer e se é apenas produto do seu grande talento criativo... Sabe-se que Hitler, de um simples aprendiz de pintor, numa Áustria culta e artística, envolta nos misteriosos bosques de Viena, chegou a Ministro do III Reich, para depois ser castigado dolorosamente pela sua própria insânia, vendo transformar-se em cinzas seu projeto “Mein Kampf” [Minha Luta], para depois ser fulminado pela lástima, a cometer ambicídio com Eva, com a ingestão de “cianureto de potássio”, nos subterrâneos da Chancelaria... Diante de tudo isso, nada mais se sabe o que pode ser real ou ficção!

Sobre esse assunto, diz o jornalista crítico de arte Salomão Rovedo, em “A Beira do Abismo”, belíssima apresentação do livro, “Hitler no Maranhão e o monstro de Guimarães”, de que “tudo é invenção e tudo também é verdade”.

E foi aqui, pelo que se sabe, numa noite de luar de agosto que, de repente, e não mais que de repente, entrou pela Baía de Cumã uma enorme cobra submersa que deixava às vistas, nas lâminas d’água, dos que juram que viram, fortes escamas como se de um lombo de uma enorme serpente... Nascia aí para os pescadores, o monstro de Guimarães, e para a História, o mistério, comprovado por fotografias de hidroavião.

Essa enorme serpente vista, nada mais era do que um submarino alemão, o famoso U-99 que partira do porto de Cuxhaven, a 100 quilômetros a Oeste de Hamburgo, sob o comando do Capitão Hans Kurt Öyster, um militar discreto e de alta confiança, encarregado de manter o Führer e sua mulher, Eva Brow, isolados em lugar seguro e desconhecido, num daqueles arrepios da guerra, como enredo de uma história fantástica, vez que estavam fugindo de um atentado em Berlim, deslindado pelo notável historiador Heine Krügger, decano da “Leipzig Universität” que num artigo na revista alemã “Der Spiegel” informa que, “ em 20 de julho de 1944, um grupo denominado ‘Círculo de Kreisan’, liderado pelo conde Von Moltke, contrário ao nazismo, perpetra um atentado à vida de Adolf Hitler. Houve o atentado e o almirante Karl-Jesco Von Puttkamer foi gravemente ferido, sendo o ditador advertido pelo ‘Sichereitsdienst’ [Serviço de Segurança], que havia fortes possibilidades de que novos atentados ocorreriam. Foi assim e por isso que Adolf Hitler e Eva Brow chegaram ao Maranhão, quem suspeitaria?”

Soube-se depois também que o U-99 passou pela Linha do Equador, adentrando o Hemisfério Sul às 22 horas do dia 3 de agosto de 1944, estacionando no dia seguinte ao meio-dia a 2° 07’ 57 de Lat. S e 44° 36’ 04 de Long. W – Coordenadas geográficas de Guimarães, no Maranhão, Brasil, segundo dados do diário de bordo, manuseado pelo venerando historiador Heine Krügger, de Leipzig, tendo o submarino ficado parado um tempão no lugar chamado ‘Guarita’, defronte da ‘Boca do Rio Pericumã’, registros estes comprovados pelas cartas náuticas da Capitania dos Portos de São Luís.

Pois bem, à noite de 4 de agosto daquele ano da graça de 1944, o casal de psicopatas [Adolf e Eva], longe dos olhos do mundo [?] e da tripulação foi visto a tomar banhos de mar, talvez comparando a beleza e as temperaturas das águas de Cumã com as do Báltico... E os dois brincavam como crianças inocentes, enquanto o sargento da Armada Klauss Shöenner, que falava um pouquinho de português, negociava com o pescador José Inácio Coutinho e com um outro conhecido por João Pontes que, com seu barco ‘Nazaré’, levavam mantimentos de boca para a tripulação alemã, alimentos como camarões e peixe seco, ovos, açúcar, mel, feijão, enfim, acepipes, e mais doces e frutas da terra, como cajus e cocos, e mais água potável, para variar com o que estava estocado no submarino ali escondido do mundo; da velha Europa, dos Estados Unidos e do Japão que pegava fogo...

De fato “há mistérios no universo, incógnitas tão grandes e desafiadoras que nosso imaginário leva ao desconhecimento e não logra sondá-los ou conhecê-los”, diz Itapary, talvez em dúvida do que estivesse escrito, se era mentira ou verdade, o que também se pergunta Salomão Rovedo... Se era ficção ou realidade, ambas foram geniais, ou no mundo real, ou no mundo de polichinelo...

Eu, ao ler o livro e a rascunhar estes apontamentos, confesso também a minha enorme dúvida, sem saber se estou a escrever sobre um fato real ou se um sonho em cores. Só sei dizer que a história é cheia de aventuras e de romantismos, e as provas de sua veridicidade são incontestáveis... E agora?

Fica aqui, portanto, a “certeza da dúvida” com o jornalista e escritor Benedito Buzar ao confessar depois ao autor: “Melhor do que você fez, só dinheiro achado!”

Sintonizado com o ditado de que “matos têm olhos e paredes têm ouvidos”, o escritor Joaquim Itapary, autor do livro, aproveitando os dias de folga de um período de Carnaval, foi à cidade de Alcântara, onde vivia [ou vive] o médico Airton Viegas, seu ex-colega de colégio, e ex-prefeito da cidade, já sendo esperado em casa deste, pelo mateiro Benedito Leodônio Leite, alcunhado por “Zé Pato”, para levá-lo até a Vila de “Urubuoca”, uma ilhota a três léguas de Alcântara, onde residia a professora aposentada Afonsina Goulart Coutinho, filha do pescador Inácio Coutinho, aquele que era intermediado pelo sargento da armada, o marujo que falava um pouquinho de português... Joaquim Itapary, nas muitas conversas [todas gravadas] que teve com Afonsina, nesse retiro do Carnaval, tomou conhecimento dos presentes que foram dados ao pescador, como uma pistola “Luger”, um fuzil “Mauser”, um par de binóculos, caixas de biscoitos, várias fotografias, pulseiras com símbolos nazistas e bilhetes de agradecimentos de Eva Brown que falava em nome de Hitler e de toda a tripulação, traduzidos ali, para Afonsina, por ele, Itapary, graças ao tanto de alemão que aprendera com o professor Germano, o misterioso mestre do tabocal... E a professora aposentada Afonsina Coutinho, depois de toda essa conversa investigativa que ambos encetaram durante sua temporada ali, despediu-se do escritor Joaquim Itapary, dizendo: “Doutor Itapary pode ficar certo da verdade que lhe contei, e escrever sem susto, que o casal Adolf Hitler e Eva Brown tomava banho à noite nas águas mornas da praia da Baía de Cumã...”

Pelo que vimos, o exposto vem a dar azo, naturalmente, de que tudo pode acontecer numa fresca madrugada.

* Fernando Braga, in “Conversas Vadias” [Toda prosa], antologia de textos do autor.

Ilustração:
Capa do livro comentado e foto de Joaquim Itapary.

Neste domingo, continuaremos falando sobre...

Palavras homônimas e parônimas

...
6. ALISAR ou ALIZAR
Alisar = tornar liso:
Ela pretende alisar o cabelo.

Alizar = guarnição de portas e janelas:
Devemos pintar os alizares das portas.

7. AMORAL ou IMORAL
Amoral = indiferente à moral:
A ciência é amoral.

Imoral = contrário à moral:
A pornografia é imoral.

8. APRENDER ou APREENDER
Aprender = instruir-se, adquirir conhecimento:
Ele aprendeu tudo que ensinaram.

Apreender = tomar, prender, assimilar:
O policial apreendeu as peças encontradas.

9. ÁREA ou ÁRIA
Área = espaço:
A área estava repleta de pessoas.

Ária = peça musical:
Ouvimos uma bela ária no Teatro Municipal.

10. ARREAR ou ARRIAR
Arrear = pôr arreios:
Vou arrear o seu cavalo.

Arriar = baixar, fazer descer:
Faça o favor de arriar a cortina.

11. ASSOAR ou ASSUAR
Assoar = limpar o nariz:
Ele assoava o nariz seguidamente.

Assuar = vaiar, apupar:
A torcida assuava o juiz durante o jogo.

12. ATUAR ou AUTUAR
Atuar = agir, exercer influência:
Ele atuou condignamente neste caso.

Autuar = processar, reunir em processo:
O réu foi autuado em casa.

13. BOCAL OU BUCAL
Bocal = abertura, embocadura:
Colocou a lâmpada no bocal.

Bucal = relativo à boca:
Ele está com problemas bucais.

14. BROCHA ou BROXA
Brocha = prego:
Fixou a moldura com pequenas brochas.

Broxa = pincel:
Pintou a parede com uma broxa nova.

15. BUCHO ou BUXO
Bucho = estômago de animais:
Bom é mocotó feito com bucho.

Buxo = arbusto ornamental:
Vou podar os buxos do jardim.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo:
“__________, em reunião de Diretoria, os aumentos a __________ aos operários, __________ as elevações do custo de vida?”

(a) ficou decidido / serem concedidos / dado;
(b) foram decididos / ser concedido / dadas;
(c) foi decidido / ser concedido / dado;
(d) ficaram decididos / serem concedidos / dadas;
(e) decidiu-se / ser concedidos / dado.

Resposta do teste: letra (d).
O que ficou decidido foram os aumentos. Portanto o verbo deve concordar no plural com o seu sujeito: os aumentos foram decididos ou ficaram decididos. Quanto à flexão do verbo SER, temos um caso facultativo: “aumentos a ser concedidos ou a serem concedidos”. E DADAS deve concordar com “as elevações”.

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No baú velho das coisas esquecidas, encontramos esta página que abaixo transcrevemos. Não alteramos nada. Apenas não identificamos a personagem que a escreveu. E até parece que cometemos um erro em publicá-la. Mas pareceu-nos que ela merece um endereço certo. E o endereço escolhido, por nós, aí está – os nossos leitores... Mas... Bem, vamos ler a página.

“Estou lhe escrevendo, Carlos Alberto. E custou-me esta resolução. Acredite. Mas a presença de Marilda, nossa filha, impôs-me este sacrifício. Mas, para lhe falar de Marilda é preciso registrar lembranças. E estas, hoje, têm o amargor de todos os constrangimentos. Mas é preciso. E Marilda surgiu no momento exato em que nós caminhávamos juntos pela vida. Um sonho vivendo dentro de nós. Uma felicidade que não parecia fugir. Encontramo-nos em plena mocidade. Da aproximação festiva, irradiação do espírito, para as impressões que nos empurraram para o DESCONHECIDO, foi um nada. As impressões evoluíram. A amizade envolveu-nos. Tornei-me presa fácil. Lembra-se, Carlos Alberto? E de você vinha toda uma atenção profundamente humana. Dominadora. Eu acreditava em você, Carlos Alberto. Acreditava no seu amor. Talvez o nosso erro, Carlos. Mas... Não me foi possível fugir nem de mim e nem de você. A nossa vida entrelaçou-se. Sentíamos, assim eu pensava, que não poderia haver mais dúvida, que, com você, eu estava amparada, realizada. Eu tinha você, Carlos Alberto. Era uma certeza encantadora. Você se lembra, Carlos? Senti exigências nos seus olhos. Uma mensagem de súplica... Quis fugir, evitá-lo. Não pude. Já havia uma resolução em mim. Cedi... Não, Carlos, entreguei-me... Tinha consciência do que estava fazendo. No entregar-se, havia, para mim, o sentido mais profundo de espontaneidade. Havia sim, Carlos. Entreguei-me com a suavidade dos meus sonhos, com a força sentimental dos meus desejos. Lembra-se, Carlos? Um Instante de nós, de nossas vidas em nós. E quando vi você naquela noite, só eu sabia que deixara com você, no seu leito de solteiro, a minha condição de menina-moça. Eu voltava menina¬-mulher. Eu sabia, você sabia que eu acordara mulher nos seus braços. O que nós não sabíamos é que, ao me afastar de você, eu era mais que mulher. Era mãe, Carlos. Mãe de Marilda. De Marilda sua filha, minha filha. Nossa filha. E quando a certeza surgiu diante de mim já você se tinha ido. Ido para não mais voltar. Você fugia, Carlos. Você corria da sua responsabilidade, da nossa responsabilidade. Lembra-se, Carlos? Depois da POSSE de mim, você desapareceu, e eu ficava. Mas ficara comigo esta Marilda que se parece com você, que tem seus olhos, que lembra você em tantas coisas... Mas, para que continuar relembrando...

Ela, ontem, me disse: ‘Quero ir para onde papai’... Carlos, ela já diz coisas que comovem. Tem seis anos, Carlos. Fala tudo. Come tudo. Não esquece o pai que não a viu nascer. O pai que ela sabe existir porque a ensinei a lhe querer muito. Digo para ela que você está distante. Trabalhando para ela e que, um dia, você voltará para nós!... Mas, Carlos, eu estou doente... Tudo perdi... Só tenho Marilda. E para ter Marilda, para tê-la comigo, para garantir a sua subsistência, prostituí-me, Carlos Alberto. Fiz tudo para poder ficar com você distante, esquecida embora, e com Marilda. Lutei multo. Resisti muito. Mas eu estava só, Alberto. Eu e Marilda. Eu e a virtude deste erro. Você se fora. Tudo de pior aconteceu. E tive de ceder. Tão diferente do entregar-me a você. Com este CEDER, havia humilhação. Havia a vergonha ofendida, o pudor massacrado. Custei-me a acostumar-me... A gente costuma-se com tudo, Carlos. A necessidade é uma má companheira. Necessidade que é miséria... que é fome... E todo um tempo nesta vida de humilhações... Marilda tem seis anos... Está crescida. E agora que mais precisa de mim, eu me sinto morrer. Ela não sabe de nada. Mas o mal se prolonga. A vida foge todos os dias. Uma questão de tempo. Talvez um ano mais e já não mais exista. E diante disto, de Marilda quase que no abandono de mim, resolvi lhe escrever. Não sei se você lerá esta missiva. E se a ler, não sei, não faço uma ideia sobre as suas reações. Mas era preciso que lhe escrevesse, que lhe dissesse tudo isto. Junto a esta vai o meu endereço. O endereço de Marilda. E, se você não vier, quero que saiba que lhe perdoei. Sempre é bom perdoar aos que nos fazem mal. E, se você se resolver, venha para esta que diz para mim: ‘– Quero ir para onde papai’”.

Aí está a página que ficou perdida na rua. Nós a encontramos há muito tempo... Tem as folhas amarelecidas... E voltaram para o baú velho das coisas que se escondem desta realidade terrível que aí está como uma página do tempo...

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 16 de junho de 1963 (domingo)

Bíblia, Mateus 7, 1

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Há pessoas que não andam com a gente e acham que conhecem nossos passos...

Há pessoas que não dormem com a gente (graças a Deus...) e creem que sabem de nossos sonhos -- e pesadelos...

Há pessoas que não são nossos sapatos e imaginam saber onde o calo nos aperta.

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Julgar por aparências,...

... valorizar pela capa,...

... comprar pela embalagem...

– eis o exercício que muitos praticam... prazerosa, errada e, quase sempre, doentiamente.

* EDMILSON SANCHES

A noite esgoela-se endoidecida
como um velho cavalo selvagem,
a correr pelo tempo na noite veloz.

Na varanda existe só a varanda,
e mulheres a dançarem rítmicas,
a cada volta do moinho vermelho.

Tudo que da calçada se contempla,
à vista de quem está de fora,
lá dentro, fechado, não mais há...

Na varanda existe apenas a varanda,
e uma colombina trinta anos depois,
a cirandar como um cata-vento...

*Fernando Braga. In “O Sétimo dia”, São Luís, 1997.

A São Paulo Companhia de Dança (SPCD) fará a exibição de sua Temporada 2020 neste mês de setembro. As próximas exibições serão nos dias 17 e 24 de setembro, às 20h. São apresentações em formato digital com transmissão “on-line” ao vivo do Teatro Sérgio Cardoso. A estreia foi no dia 10.

São apresentações feitas em exibição única nas redes sociais da Companhia e na plataforma #CulturaEmCasa. A ideia de transmitir os espetáculos “on-line” ocorre devido às mudanças sociais provocadas pelo enfrentamento à covid-19, com as obras originalmente previstas sendo adaptadas à necessidade de distanciamento social.

“O que prevaleceu foi a criatividade latente tanto dos artistas da casa quanto dos convidados, expostos ao desafio de explorar novos modos de se fazer dança, fazendo jus ao nome da Temporada 2020, batizada ainda no fim do ano passado como Permanência e Inovação”, dizem os organizadores.

A temporada começou com a exibição do americano Stephen Shropshire, que assinou para a SPCD o “work in progress Rococo Variations”, com a concepção e construção da obra (coreografia, figurinos, iluminação) feita de modo remoto, em contato virtual entre o criador e os artistas da Companhia, já que ele não pôde vir ao Brasil.

Outra exibição da estreia foi “Só Tinha de Ser com Você", grande sucesso de Henrique Rodovalho criado em 2005 para sua companhia, a “Quasar Cia de Dança”. Na versão especial assinada pelo coreógrafo goiano para a SPCD, as distâncias entre os bailarinos foram ampliadas e as relações entre eles se constroem a partir de gestos e olhares, sem contatos físicos.

Também na estreia, “Aparições”, de Ana Catarina Vieira, reuniu, em seu elenco, bailarinos que já convivem entre si além da sala de ensaio, inspirada nas obras de Candido Portinari (1903-1962), César Guerra-Peixe (1914-1993) e nas danças populares do nordeste do Brasil.

Mais cinco obras inéditas que integram a Temporada 2020 partem do questionamento de como criar arte mesmo diante do desafio imposto pelo novo arranjo social atual e, a partir daí, foram criados solos para conjuntos com número reduzido de intérpretes, todos concebidos à distância por bailarinos e ensaiadores da SPCD, além de coreógrafos e artistas convidados.

As próximas exibições trazem espetáculos que revisitam trechos das obras “Giselle”, “Grand Pas de Quatre” e “La Esmeralda”, com os especialmente criados para a Temporada 2020: “Grand Pas de Deux de Giselle” – 2º ato, assinado por Lars Van Cauwenbergh, inspirado livremente na obra de 1841 de Jules Perrot (1810-1892) e Jean Coralli (1779-1854); “Esmeralda”, criado por Duda Braz e inspirado na obra de Marius Petipa (1818-1910) a partir do original de Jules Perrot (1810-1892); e “Grand Pas de Quatre de Pugni”, criado pelo bailarino Diego de Paula.

O “streaming” também traz o duo “Dualidade” e o solo “Objeto do Meu Próprio Desejo”, assinados pela dupla brasileira Mônica Proença e Jonathan dos Santos e o argentino Esdras Hernández.

Há, ainda, obras já presentes no repertório da companhia, como “Grand Pas de Deux” de “Carnaval em Veneza”, de Duda Braz; “Instante”, de Lucas Lima; “A Morte do Cisne”, de Lars Van Cauwenbergh; “Grand Pas de Deux”, de “Dom Quixote”, em remontagem pela SPCD; e trechos de “Gnawa” e “La Sylphide”, obras originais de Nacho Duato e Mario Galizzi.

(Fonte: Agência Brasil)

Após quase seis meses de portas fechadas, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), no Aterro do Flamengo, reabriu hoje (12) para o público em novo horário de funcionamento de quinta a domingo. O museu teve as atividades suspensas por causa das medidas de isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus (covid-19).

Esta reabertura traz algumas novidades como um cuidadoso protocolo de segurança para os visitantes, com a aferição de temperatura na entrada, uso obrigatório de máscara, tapetes sanitizantes, distanciamento orientado e totens de álcool 70%, entre outras medidas.

Neste retorno, o museu vai funcionar em novos horários – quinta e sexta, das 13h às 18h e sábado e domingo, das 10h às 18h – e com uma nova forma de entrada: sem cobrança obrigatória de ingresso, a partir do modelo de contribuição sugerida.

"Estamos comprometidos em servir a comunidade, abrindo nossas portas para a visitação de todos. Por isso, o ingresso ao museu passa a ser gratuito com contribuição sugerida", disse, em nota, o diretor-executivo do MAM Rio, Fabio Szwarcwald, "Os visitantes podem optar por pagar o valor sugerido, contribuir com outra quantia ou entrar de graça".

A arquitetura do MAM Rio possibilita aos visitantes um espaço amplo de circulação tanto nas áreas expositivas, quanto nas áreas externas. Com isso, o museu vai controlar o fluxo de visitantes, à capacidade máxima de 200 visitantes/hora, e gerenciar as medidas de distanciamento mínimo de 1,5 metro.

“Um grupo de trabalho multidisciplinar, envolvendo a produção, educação, ‘design’ e museologia, foi montado para desenvolver os protocolos do MAM, incorporando recomendações do Conselho Internacional de Museus e também outras medidas desenvolvidas em redes no Rio com a participação do MAM, tanto para assegurar a volta dos públicos, quanto dos funcionários”, afirmou a diretora-adjunta institucional, Lucimara Letelier.

O museu reabriu com as exposições “Irmãos Campana – 35 Revoluções, Wanda Pimentel” e a nova “Campos Interpostos”, as duas últimas com a curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

No último dia 5, foi o Museu do Amanhã, na Praça Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, que reabriu ao público.

(Fonte: Agência Brasil)

11/9/2001 – 19 anos depois...

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Em 1970, a Jordânia – um país situado no sudoeste da Ásia, na margem do rio Jordão, território três vezes menor do que o Maranhão e população quase a mesma do nosso Estado – massacrou inúmeros militantes palestinos e expulsou outros.

Eram militantes que formavam uma espécie de poder paralelo no país jordaniano. O rei Hussein não tolerou. E o massacre ficou conhecido mundialmente como “Setembro Negro”.

Trinta e um anos depois, a expressão foi relembrada nos jornais, para denominar ou resumir o que o terror pode fazer a uma nação.

Os Estados Unidos sofreram, em 11 de setembro de 2001, há 19 anos, o ataque mais impensado, jamais imaginado, que a insanidade humana poderia desferir contra pessoas – sobretudo pessoas –, contra coisas e contra o orgulho de um país.

Não um país qualquer, mas o mais rico, o mais influente, o mais tecnológico, o mais militarizado, o mais poderoso país da Terra.

Os americanos nunca esqueceram Pearl Harbor.

Nunca deixaram de chorar John Kennedy.

Nunca se curaram do Vietnã, o país que na guerra trucidou milhares de jovens soldados do país tido como “xerife do mundo”.

Os americanos nunca tiraram o engasgo provocado por seu ex-soldado e veterano da Guerra do Golfo Timothy McVeigh, que, com uma bomba de 2.300kg, explodiu 19 crianças na creche do prédio, no segundo andar e outros 149 conterrâneos seus, além de ferir mais 684 em Oklahoma City, manhã do dia 19 de abril de 1995. Metade do edifício federal Alfred P. Murrah foi ao chão e virou pó. Pó, poeira e cinzas.

11 de setembro de 2001. Também em uma manhã de céu límpido em Nova York, o café nem bem havia sido servido ou sorvido quando um estrondo fenomenal anunciou, mais de cem andares acima: um avião se chocava com uma das duas torres do complexo comercial mais famoso do mundo.

Poucos minutos depois, as lentes das televisões que transmitiam ao vivo o cenário de fogo, fumaça e desespero captaram, impotentes, uma segunda tragédia; outro avião se espatifou atirando-se contra a segunda torre. E não terminava aí.

Em Washington, o aparentemente superprotegido edifício de cinco lados, e por isso mesmo chamado Pentágono, sede da inteligência militar americana, recebeu em suas entranhas mais um avião, que explodiu junto com passageiros, tripulantes.

Na Pensilvânia, um quarto avião se destroça no chão, sem tirar vidas em terra, mas nela sepultando os corpos carbonizados pelo fogo e liberando os espíritos congelados pelo que deve ter sido o horror dos passageiros e tripulantes dentro dos aviões que se despedaçaram.

O mundo continua perplexo. Embora a corrupção (que mata o já miserável, tirando-lhe o alimento), embora o político bandido (que mata com suas políticas), embora o bandido político (que mata em nome de suas coisas e causas), embora a banalização dessas infelicidades, embora a vulgarização do que não presta, o ser humano parece que não deixa de ter motivos para continuar se surpreendendo com o que pode de ruim fazer outro ser humano.

O homem continua sendo o lobo do homem.

* EDMILSON SANCHES.

“MINHA AMADA IMORTAL” – ... E UMA ODE À ALEGRIA...

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Uma das partes mais tocantes (permitam o trocadilho) do filme “Minha Amada Imortal” mostra a estreia da “Nona Sinfonia”, do grande músico alemão Ludwig van Beethoven.

Era 1824. Beethoven estava com 53 anos, 27 dos quais com surdez (morreria três anos depois, aos 56).

No filme, ao subir para ficar em frente à orquestra, o grande compositor lembra uma marcante e repetida passagem de sua infância de pobreza e sofrimento: o pai, consumido pelo álcool, chegando em casa tarde da noite, raivoso, descontrolado, caçando Beethoven para surrá-lo sem razão.

Os irmãos de Beethoven se abraçam, contraídos de medo.

Beethoven foge pela janela e pelos telhados.

Beethoven corre por vielas, ruelas, por caminhos tantas outras vezes caminhados, (per)corridos como rota de fuga da violência, da dor e humilhação.

Beethoven chega ao lago que reflete luar e calma.

O lago e o luar abraçam o menino – e, nessas cenas magistrais que diretores de filme e diretores de fotografia tanto se matam para construir, lago, luar e céu, menino e estrelas se fundem e não sabemos mais o que é o quê. Simplesmente espetacularl!

E, diferentemente do comum em filmes, onde a música é a trilha sonora da imagem, nesse filme sobre Beethoven as imagens é que são a trilha da música: o som dos violinos parece percutir, repercutir (melhor, reproduzir) a celeridade da corrida do menino rumo ao lago – onde finalmente a calma se instala, inclusive no volume de som e na sonoridade geral da orquestra.

A vida de Beethoven, seus traumas de infância, sua surdez na idade adulta – inimaginável para um músico! –, se o levaram à reclusão não lhe tiraram o gênio, a criação, o espírito de liberdade.

Sim, porque Beethoven foi um libertário, um sadio transgressor de regras. Fazia música que, primeiro, agradasse a seu exigente paladar musical... e às favas com as regras, a burocracia a que se deveria submeter as composições na época.

Assim Beethoven foi reconhecido gênio. Livre em seu fazer musical. Sua “Nona Sinfonia” é considerada um dos maiores feitos do homem, ao lado do “Hamlet” e do “Rei Lear”, peças teatrais de Shakespeare.

Foi Beethoven que, pela primeira vez na história da música, inseriu voz, um coral, em uma sinfonia, exatamente na parte que ficou conhecida como “Ode à Alegria”.

Ainda bem que aos políticos cheios de mesmice, incompetência e corrupção a Humanidade contrapõe gênios sensíveis, criativos, inovadores como Beethoven.

Em “Minha Amada Imortal”, Beethoven é representado pelo genial ator londrino Gary Oldman, filho de pai soldador e mãe empregada doméstica. (Pois é – o reino dos céus é dos humildes...).

Ouvir e, mais que isso, escutar a “Nona Sinfonia” e sua ode “À Alegria” é deixar-se tocar na alma e senti-la escorrer líquida e feliz pelos olhos.

É mesmo de chorar de alegria ante tanta beleza e evocações.

Um brinde à Sinfonia e à oportunidade de nos unirmos a ela, pois, que nem ela, somos sobreviventes – e testemunhas – de dois milênios...

Ouça. Veja. Responda:

Não vale a pena estar vivo?!...

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Bom fim de semana para você.

* EDMILSON SANCHES

(P.S. – Na tela inicial desse vídeo grafou-se “Immoral Beloved”. Está evidente que nem de longe aquele que escreveu isso queria escrever isso. É “Immortal Beloved” [Amada Imortal]).

https://www.youtube.com/watch?v=7fQG4CcoRuM&fbclid=IwAR3srilun-L3uPWyAaJZJOGAGQOek2WMuKACP6DgU3VxnJD7FzliQgd7QHU