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Mais de 2,6 milhões de estudantes enfrentaram, nesse domingo (12), 90 questões de ciências da natureza e de matemática no segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023. Para dois dos professores ouvidos pela Agência Brasil, a prova deste ano foi mais interpretativa e menos conteudista.  

O diretor de Ensino Médio e Avaliações do SAS Plataforma de Educação, Caê Lavor, avaliou que a prova foi mais fácil por ter cobrado menos assuntos técnicos.

“Caíram mais questões com contexto e que tem relação com o cotidiano dos alunos. Então, foi uma prova mais fácil do que nos anos anteriores, apesar de não tão mais fácil”. 

Para Caê, nos últimos três anos, o Enem estava se tornando uma prova mais conteudista e menos interpretativa. “O aluno era cobrado a memorizar muitas fórmulas, conhecer disciplinas e temas de forma mais profunda, saber as exceções de algumas regras bem específicas. A prova estava ficando mais conteudista e tradicionalista”, analisou.

Para ele, neste 2023, houve uma mudança em relação aos três últimos anos, retomando uma tradição do Enem, que é de ser uma prova mais interpretativa.  

“A principal consequência do tipo de prova é que ela vai selecionar perfis diferentes do estudante que vai ingressar no ensino superior. Uma prova mais interpretativa valoriza habilidades mais socioemocionais, o senso crítico, a capacidade analítica, a empatia. Já a prova mais técnica ou conteudista valoriza mais a resolução de problemas que precisam de uma base técnica mais ampla”. 

O professor de química do Colégio Mopi, Vinícius Carvalho de Paula, teve a mesma impressão: de que as questões priorizaram a interpretação em vez do conteúdo específico das disciplinas.  

“A minha impressão é de que a prova estava em um nível menos conteudista, um nível menos difícil e mais interpretativa. Quem teve calma e fez uma boa leitura conseguiu fazer uma boa prova. Bastava o estudante observar o enunciado da questão que ele podia ver a resposta dentro do enunciado. Poucas questões de cálculo. Apenas três questões envolvendo cálculo que eram mais desafiadoras”, afirmou.  

Divergência

Já o professor de matemática Lucas Borguezan do Curso Enem Gratuito avaliou que o Enem manteve a tendência que ele tem observado de se tornar, cada vez mais, uma prova no estilo conteudista, apesar de ter percebido a prova de matemática mais fácil neste ano.   

“As questões foram muito bem formuladas, o que ajuda na resolução. No primeiro dia, sim, foi mais interpretativa. Mas isso também tem relação com a própria natureza das disciplinas. No meu balanço de nove Enens na bagagem, estou percebendo que o exame está caminhando para ser cada vez mais conteudista, como uma tendência, e com melhor formulação das questões”.

(Fonte: Agência Brasil)

A ausência dos inscritos no segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ficou em 32%, ou seja, um em cada três inscritos não compareceu aos locais de prova nesse domingo (12). Ao todo, mais de 3,9 milhões de pessoas se inscreveram na edição deste ano do exame. A ausência nesse domingo foi a mesma do segundo dia da edição de 2022, quando 32% dos inscritos também faltaram.

A média histórica de abstenção no Enem gira em torno de um terço dos inscritos, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A exceção foi durante os dois primeiros anos da pandemia. Em 2021, a abstenção bateu o recorde de 55%. Antes, o recorde havia sido em 2009, quando 37% dos inscritos não compareceram à prova.

O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou que, para o próximo ano, as prioridades são: aumentar o número de inscrições e diminuir as abstenções.   

“Vamos fazer uma grande avaliação final desse Enem para que possamos, não só ampliar o número de participantes, mas diminuir esse percentual [de ausência], apesar de, historicamente, ter sido esse o percentual”. 

Eliminações

No segundo dia de provas, quando foram testados os conhecimentos de ciências da natureza e matemática, foram eliminados 2.217 participantes. Os motivos vão desde alunos que portavam equipamento eletrônico ou material impresso, até aqueles que não atenderam às orientações do fiscal ou saíram antes da hora permitida (15h30). Foram registrados, ainda, 859 problemas logísticos, como emergências médicas, interrupção temporária de energia elétrica ou problemas de abastecimento de água.  

Com isso, o presidente do Inep, Manuel Palácios, avaliou que o dia de prova transcorreu dentro da normalidade: “exceto poucos episódios com pequenos incidentes, a aplicação ocorreu com tranquilidade em todo o país”.  

Questão anulada

Uma questão que tratava da gripe causada pelo vírus H1N1 foi anulada por falta de ineditismo. Isso porque essa mesma questão já havia sido aplicada na edição do Enem para pessoas privadas de liberdade, em 2010. Segundo o Ministério da Educação, a anulação dessa questão não interfere no resultado do Enem.  

Além disso, o Ministério identificou, assim como no primeiro dia de provas, um vazamento de foto de um dos cadernos da prova às 17h, antes do horário permitido para sair com a prova impressa, que é às 18h. O ministro da Educação, Camilo Santana, informou que a Polícia Federal foi acionada para investigar o caso, mas que esse vazamento também não prejudicou a aplicação do Enem.  

“Lembrando que não há nenhum prejuízo porque não houve confirmação de vazamento antes do início da prova. A prova já tinha iniciado às 13h30, todos os portões estavam fechados e, três horas e meia depois, houve essa circulação. A Polícia Federal colocará todo o rigor para apurar esse fato criminoso”. 

Nesse domingo, a Polícia Federal identificou oito suspeitos acusados de vazar a prova no primeiro dia do Enem, no domingo passado. À semelhança do ocorrido nesse segundo dia de prova não foram identificadas fotos antes do início do teste.  

Reaplicação

Os estudantes que se sentiram prejudicados por algum motivo podem solicitar a reaplicação da prova. O pedido deve ser feito por meio da Página do Participante, de 13 a 17 de novembro. A reaplicação ocorrerá nos dias 12 e 13 de dezembro.  

“Quem foi prejudicado por problemas logísticos ou acometido por doenças infectocontagiosas, como prevê o edital, pode pedir para fazer as provas nos dias 12 e 13 de dezembro. O mesmo vale para as pessoas que não compareceram porque foram alocadas a uma distância superior a 30 quilômetros da residência informada na inscrição”.

O segundo dia do Enem de 2023 testou os estudantes em 90 questões de ciências da natureza e matemática. As provas foram aplicadas em 1.750 municípios com mais de 132 mil salas para realização do exame.  

(Fonte: Agência Brasil)

Eram 4h da madrugada na várzea do rio que banha a Terra Indígena Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins (PA). O canto de pássaro surge de forma surpreendente para dois pesquisadores ornitólogos, no décimo dia da expedição da pesquisa em que buscavam a ave mutum-pinima, criticamente ameaçada de extinção. Eles quase não acreditavam no que ouviam. E depois no que enxergavam. Havia 40 anos que nenhum pesquisador via o bicho de perto. E aconteceu. 

“A gente observou e gravou o bicho por mais de dez minutos. Foi aquela felicidade”, diz o ornitólogo Gustavo Gonsioroski que atuou no estudo realizado no mês passado. Foram registrados seis indivíduos, entre eles casais, o que garante a esperança de manutenção da espécie. 

Gonsioroski e outros pesquisadores preparam-se para voltar à região no mês que vem, na tentativa de encontrar outras aves mutum-pinima como essa para política de manejo e proteção. Ele participa do Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Território Meio Norte (PAT Meio Norte). 

O plano é coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão (Sema) , com o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio). A iniciativa faz parte do projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção,  iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).

“Encontrar seis indivíduos é algo inédito. Foi muita adrenalina e emoção. Um momento bem exclusivo mesmo”, afirmou Gonsioroski.  Para encontrar os animais, os pesquisadores contaram com informações de indígenas da região, da etnia Gavião Parkatejê, e da tecnologia com instalação de dez gravadores de áudio e dez câmeras trap, para registro de vídeo.

Ameaças

O biólogo e ornitólogo Leonardo Victor, que também participou da expedição, relata que a identificação ocorreu quando se preparavam para desistir. “Nós tínhamos colocado as câmeras em locais que os indígenas tinham recomendado. Primeiro, tomamos um susto. Há 40 anos a espécie não aparecia”. 

Os pesquisadores explicam que se trata de ave restrita a uma pequena região da Amazônia, entre o leste do Rio Tocantins e a Amazônia maranhense. “O maior problema da espécie é que está restrita a uma área de mata de várzea  devastada da Amazônia, muito impactada pela destruição da floresta”, afirma Gustavo Gonsioroski.

Conscientização

Além da destruição do habitat, ele explica que a caça de aves na região é cultural. Estar presente nessa região, segundo os pesquisadores, indica que a terra indígena é ainda um local mais protegido. Segundo a pesquisadora Laís Morais Rêgo, superintendente de Biodiversidade e Áreas Protegidas da Sema e coordenadora do plano de ação, a descoberta deve ser acompanhada do fortalecimento da legislação para proteger o animal ameaçado.

“O plano tem como meta proteger 12 espécies ameaçadas e melhorar o estado de conservação delas. Estão criticamente ameaçadas de extinção”, explica. Estar criticamente ameaçada é o estágio anterior da extinção. Outra meta do projeto, ressalta a superintendente, é trabalhar na conscientização das comunidades da região para ajudar na proteção do animal. “Estamos agora nessa fase de construção de material educativo para também conseguir melhorar esse aspecto da divulgação”, afirma Laís.

“Os indígenas ficaram muito comovidos com a situação da ave e se colocaram à total disposição para ajudar a difundir a mensagem de que se evite a caça”, afirma o biólogo Leonardo Victor. De acordo com os pesquisadores, há uma estimativa de que exista, no máximo, 50 indivíduos vivos na natureza. “Nós encontramos seis bichos lá em dez dias”.

Plantadores de açaí

Salvar uma espécie tem significados imensuráveis para o meio ambiente. Não obstante, os pesquisadores lembram que, para sensibilizar pessoas leigas, é necessário ratificar que uma espécie como o mutum-pinima colabora de forma fundamental para a vida humana. “Tento passar uma mensagem que a ave é um prestador de serviço natural”, diz Leonardo Victor. 

“Não adianta só falar que a legislação trata de patrimônio natural. É preciso lembrar que a ave colabora para a plantação do açaí na região. Esse animal ameaçado leva as sementes que plantam floresta de açaí na Amazônia, um bicho que dissemina o sustento de comunidades”, acrescenta Gonsioroski.

A coordenadora da pesquisa ratifica que a importância das aves, próximas aos rios, para a plantação do açaí torna didática essa cadeia natural entre fauna e flora, por exemplo. “É uma engrenagem. Quando uma espécie deixa de existir, outras também vão começar a faltar”.

Em dezembro, os pesquisadores voltam à região para recolher os gravadores e câmeras e continuar buscando a ave em locais em que ainda não passaram. Eles vão procurar novamente o bicho de canto grave, difícil de captar até com um gravador, já que é tímido e arisco, que surge de manhã e “some”. Depois, retorna no crepúsculo. Os pesquisadores querem iluminar essa história, conhecer mais da ave para saber como preservá-la.

(Fonte: Agência Brasil)

Milhões de estudantes em todo o país fazem, neste domingo (12), a segunda prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao todo, deverão ser resolvidas – em cinco horas – 90 questões de matemática e ciências da natureza. A abertura dos portões será às 12h e o fechamento às 13h, pelo horário de Brasília. A prova começa às 13h30 e termina às 18h30.  Mais de 3,9 milhões de candidatos estão inscritos, e cerca de 2,8 milhões compareceram ao primeiro dia de prova.

Para fazer as provas, é obrigatório levar caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente, e documento de identificação válido, físico ou digital. Também é aconselhável levar o cartão de confirmação de inscrição, onde figura o local de prova do participante. 

Quem precisa justificar a presença no exame deve imprimir a declaração de comparecimento, que está disponível na Página do Participante. Ela deve ser assinada pelo aplicador no local de prova.  

É recomendado que os candidatos levem lanches e água, uma vez que se trata de uma prova longa.  

Documentos válidos

Entre os documentos de identificação válidos estão cédulas de identidade, identidade expedida pelo Ministério da Justiça para estrangeiros, Carteira de Registro Nacional Migratório, documento provisório de Registro Nacional Migratório, identificação fornecida por ordens ou conselhos de classes que, por lei, tenham validade como documento de identidade, passaporte, Carteira Nacional de Habilitação e Carteira de Trabalho e Previdência Social emitida após 27 de janeiro de 1997. 

Também são aceitos os documentos digitais e-Título, Carteira Nacional de Habilitação Digital e Registro Geral (RG) Digital, desde que apresentados nos respectivos aplicativos oficiais. Capturas de telas não serão aceitas. 

Eliminação

Para não ser eliminado do exame é preciso considerar  algumas regras. Celulares são proibidos nas salas de aplicação, por exemplo. Eles devem ser desligados e colocados dentro do envelope porta-objetos, que será entregue na sala. O envelope será lacrado.  

Além dos celulares e outros objetos eletrônicos - que deverão também estar desligados - todos os pertences como óculos escuros, chapéu, caneta de material não transparente, lápis, lapiseira, borrachas, réguas, corretivos, livros e chaves devem ser colocados no envelope.   

Quem não seguir essa regra também pode ser eliminado da prova. Se o aparelho eletrônico, ainda que dentro do envelope porta-objetos, emitir qualquer tipo de som, como toque ou alarme, o participante será eliminado. 

Os candidatos serão submetidos à revista eletrônica e os objetos e lanches também serão vistoriados. A recusa sem justificativa dessas vistorias pode ser motivo de eliminação.  

Será eliminado do Enem o participante que se comunicar de qualquer forma com qualquer pessoa que não seja o aplicador da prova ou utilizar livros, notas, papéis ou impressos durante a aplicação do exame. Também não pode registrar ou divulgar, por imagem ou som, a realização da prova ou qualquer material utilizado no exame. 

Enem 2023

O Enem começou a ser aplicado no último domingo (5), quando os estudantes fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação. Os exames seguem neste domingo (12) em mais de 1,7 mil municípios de todo o país.

As notas do Enem podem ser usadas para concorrer a vagas em universidades públicas pelo Sistema Seleção Unificada (Sisu), a bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e para obter financiamento estudantil pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Podem ser usadas também para acessar o ensino superior em universidades estrangeiras.

(Fonte: Agência Brasil)

Crianças, jovens, adultos, idosos, lésbicas, gays, héteros, drag queens, pessoas com deficiência, entre tantos outros grupos compartilham mesas para jogar jogos analógicos, como os de tabuleiro ou de cartas. Esse é o SeJoga, um dos mais importantes eventos de jogos do Rio de Janeiro que, pela primeira vez, realiza edições nas periferias, nas zonas norte e oeste da cidade. Nesse sábado (11), o SeJoga ocorreu na Penha, na zona norte.  

O SeJoga foi criado, em 2017, por Elson Bemfeito, que, na época, trabalhava como produtor de moda e por Dan Paskin, arquiteto. Em 2016, eles eram um casal e começaram juntos a frequentar eventos de jogos no Rio e em Niterói. Eles se encantaram pelo mundo dos jogos de tabuleiro, mas perceberam que os eventos, de acordo com eles, majoritariamente heteronormativos e brancos, não eram acolhedores para pessoas LGBTQIA+.  

“A gente só conhecia dois outros gays no meio, e eles eram enrustidos, a família não sabia. Tem um relato de um garoto que jogava há dez anos com os mesmos amigos de infância e, quando descobriram que ele era gay, pararam de chamar ele para jogar. Coisas absurdas assim”, diz Paskin.  

Paskin conta que eles buscaram criar um evento que fosse inclusivo e onde todas as pessoas pudessem partilhar o mesmo espaço e se sentir acolhidas. “A gente começou com um evento itinerante. Vamos mostrar que a gente não quer fazer um gueto, um espaço exclusivo para LGBTs se isolarem e jogarem em segurança, a gente quer mostrar justamente para os outros que é possível ter o que a gente tem, que é mostrar que todos os espaços são para você. Seja LGBT, seja quem for, você tem o direito de ocupar todos os espaços, todos os espaços deveriam ser seguros para nós”, diz.  

O SeJoga começa sendo realizado junto a outros eventos de jogos, até que, em 2018, começa a ter um evento próprio, no Bar Doninha, na Tijuca, na zona norte do Rio. “A gente tinha a expectativa de levar 60, 80 pessoas. Achou que ia ter no máximo, 40. Mas, 175 pessoas apareceram. A gente ocupava a calçada, porque o restaurante não cabia, pedia mesa emprestada dos bares vizinhos”, conta Bemfeito.  

Agora, o projeto conta com o incentivo do Programa de Fomento à Cultura Carioca (Foca) da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (PCRJ) e da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e chega também às periferias da cidade.

No evento, as pessoas têm à disposição dezenas de jogos e podem jogá-los à vontade. Monitores presentes no local ajudam com explicações sobre como jogar e indicam jogos de acordo com o perfil dos participantes. O ambiente é decorado e conta com música.

Inclusão

A psicóloga Andreia Lima, 42 anos, levou os filhos Arthur, 10 anos, e os amigos para jogarem.

“É muito importante trazer eles para jogar, ainda mais porque eles moram em apartamento e não têm local onde podem brincar. Ficar o dia inteiro de olho no computador e videogame não é tão saudável. Acho importante esse momento até para socializar com outras crianças”.

Arthur, que estava vencendo a partida, estava empolgado: “Eu estou achando incrível o evento. Estou amando esse jogo, que recomendaram pra gente que, aliás, estou na frente”.

A algumas mesas de distância, estavam duas veteranas, que acompanham o SeJoga desde o início. Ana Montenegro, aposentada, 65 anos, e a filha, Flávia Montenegro, 37 anos professora. A filha convidou a mãe para jogar e nunca mais deixaram de comparecer aos eventos.  

“Não é só pelo divertimento, não é só por me sentir acolhida e querida entre eles todos, mas poque isso faz muito bem para minha cabeça, ativa as coisas. Já estou com 65 anos, sabe?”, diz a mãe, que acrescenta: “Tem muito preconceito com idoso e aqui eu sempre me senti respeitada e querida. Sabe quando você percebe que as pessoas te aceitam?” 

“Fora as amizades que a gente faz. No primeiro SeJoga que levei ela, a gente começou a jogar, estava terminando de montar o jogo, quando um dos monitores colocou duas pessoas na nossa mesa. É um casal que até hoje é amigo nosso, de passar o Natal junto”, acrescenta a filha.  

Um sonho realizado

Para a mãe de Bemfeito, Katia Regina Garcia, é emocionante ver o sonho do filho realizado. Ela, que é fonoaudióloga e psicopedagoga, faz parte da equipe do projeto, oferecendo uma espécie de mentoria para as crianças, adaptando jogos para aqueles que têm alguma necessidade especial. “Eles dizem que eu sou a mãe do SeJoga, eu acolho todos eles. Eu olho as pessoas, é o que eu vejo, independente de qualquer coisa, de orientação sexual, isso não é nada. São pessoas que estão junto comigo”.  

Trabalhar no SeJoga também mudou a vida de Aruã Chavarry, que é professor e um dos monitores do projeto. Ele tem fobia social e sempre achou muito difícil se comunicar. Foi no projeto que encontrou espaço para ser quem é. “Se fosse anos atrás, eu não estaria aqui e não estaria falando com ninguém. Eu ainda tenho dificuldade, mas já está bem melhor”, diz. 

Chavarry já foi aos eventos de salto alto e mesmo fantasiado de bruxa. “Já fiz várias coisas que eu acho que não poderia fazer em outro evento qualquer por causa de medo. Aqui eu posso fazer o que quiser que sei que vou estar bem protegido”.  

No Instagram do SeJoga, é possível acompanhar a programação dos próximos encontros.   

(Fonte: Agência Brasil)

Da transição da arte marginal para um concorrido espaço no mercado criativo. A cultura hip-hop cresce e se consolida como um importante setor cultural no país. No ano que se comemora 40 anos do movimento no Brasil, unindo os elementos do breake (a dança), DJ (a música), MC (rima e poesia) e o grafite (a arte visual), o hip-hop busca espaço no mercado e nas políticas públicas.

Durante o 3º Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBR), evento que ocorre até este domingo em Belém, no Pará, o hip-hop conquistou um espaço relevante, sendo incluído como setor criativo específico, com outros 15 segmentos, como teatro, dança, música, audiovisual e o circo, por exemplo.

O DJ Raffa Santoro, pioneiro do hip-hop no Distrito Federal, produz artistas em diversos Estados do país. No MICBR, ele busca vender seus serviços de produção musical e, também, promover artistas do seu selo musical. Para ele, o movimento ainda está engatinhando no mercado.

“Infelizmente, (o hip-hop) ainda é marginalizado, ainda tem muita marginalização em cima do tipo de arte que a gente faz. Mas todas essas coisas que estão acontecendo aqui (MICBR), por exemplo, de você estar nessas reuniões de negócios, só mostra que o hip-hop está começando a estar em outro patamar, sendo valorizado de uma outra maneira, com as empresas apostando, vários festivais. Estamos começando a engatinhar e melhorar essa situação de deixar de ser marginalizados, mas o caminho ainda é uma longa estrada”, relata DJ Raffa.

A consultora de negócios do MICBR, Udi Santos, de Salvador, afirma que a cultura hip-hop tem uma identidade própria, uma multilinguagem, que permite uma valorização do segmento.

“Estamos começando a virar a chave, entendendo como se funciona dentro da indústria criativa. Porque a gente já faz isso muito bem de forma separada. Você vê o grafite dentro das artes visuais, nós temos, por exemplo, hoje, o break nas olimpíadas, a gente vê os rappers fazendo maiores sucessos, os DJs também. Todos esses elementos, que o público vê de forma separada, eles fazem parte dessa cultura. Então, a gente consegue estar dentro dessa economia criativa e vender mesmo a nossa arte quanto produto”, propõe Udi.   

O produtor cultural e MC Subversivo esteve no evento buscando parcerias para o projeto Crianças do Gueto, voltado a formação na cultura hip-hop na periferia de Manaus (AM). Para ele, o mercado é bastante focado na região sudeste, o que acaba dando pouca divulgação para artistas do Norte do país.

"Mas também falta o incentivo à cultura, do próprio governo do meu Estado, temos algumas movimentações culturais para pleitear editais e fomento para que a gente possa ter captação de recursos para o movimentando. Tanto de quem está começando agora quanto os mais experientes têm uma certa dificuldade. Temos uma certa dificuldade de ser MC Norte e tentar expandir o trabalho, mas seguimos aí nessa caminhada”, afirma Subversivo.

Intercâmbio

Presente no MICBR, esteve também o produtor John Rodrigues, que organiza o maior festival latino-americano dessa cultura, o Hip-Hop al Park da Colômbia. Ele destaca importância do movimento que, além de ser uma ferramenta de transformação social pela paz no país, hoje tem uma grande aceitação no país. Rodrigues defende um intercâmbio entre artistas brasileiros para o crescimento do mercado.

“Estamos estabelecendo relações para poder gerar intercâmbios entre o hip-hop do Brasil e o hip-hop da Colômbia. Nosso festival é o mais importante da América Latina. É um festival para 150 mil pessoas, onde temos convidados dos Estados Unidos México, Chile, Venezuela, mas temos tido muito pouca participação de Brasil. Então, queremos mostrar a importância deste público, mostrar que o hip-hop é global”, afirma.

O argentino Pablo Vergara, produtor musical da Milo Records, diz que o hip-hop também passa por um momento de crescimento no seu país, com grande fomento também por políticas públicas. Apesar da barreira da linguagem, ele também busca realizar encontro entre artistas para superar essas barreiras.

“Vim buscar fazer a conexão com artistas daqui para poder misturar a cultura da Argentina com a cultura do Brasil. Estou ouvindo a música (hip-hop) feita aqui, com raízes do Brasil, para poder, então, fazer essa relação, trazer artistas da Argentina para cá e brasileiros para lá”, diz Pablo.

Edital

O Ministério da Cultura lançou, em outubro, um edital específico para premiar 325 iniciativas da cultura hip-hop. O Prêmio Cultura Viva - Construção Nacional do Hip-Hop vai apoiar pessoas físicas, grupos ou coletivos e instituições sem fins lucrativos em um total de 6 milhões de reais. As inscrições são até 11 de dezembro.

(Fonte: Agência Brasil)

A Fundação Nacional de Arte (Funarte) lançou nessa sexta-feira (10), durante o Mercado das Indústrias Culturais do Brasil (MICBR), em Belém (PA), cinco editais para o programa Funarte Rede das Artes 2023 – Programa de Difusão Nacional.

Cada um deles no valor de R$ 5 milhões para fomentar circuitos artísticos em cada eixo de atuação da fundação: artes visuais, circo, dança, música e teatro. Serão escolhidos 150 projetos para receberem bolsas culturais.

A presidenta da Funarte, Maria Marighella, destaca a importância do investimento em circuitos que possam atingir o público em cada território do país.

“Esses editais são, na verdade, o embrião, digamos assim, mais importante, porque é o fomento, é o investimento, daquilo que nós estamos chamando Programa Nacional de Difusão das Artes", disse. "Eles darão foco na difusão nacional, mecanismos de fomento para a ativação de redes para a circulação. Então, a ideia é integrar a produção artística brasileira de cada linguagem com curadores, programadores, espaços culturais, criando circuitos para escoar a produção artística brasileira”, afirma.

Os editais homenageiam personalidades reconhecidas por suas trajetórias: Carequinha, no circo; Klauss Vianna, na dança; Marcantonio Vilaça, nas artes visuais; Myriam Muniz, no teatro; e Pixinguinha, na música.

Na seleção, serão bonificados projetos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, além de recursos reservados para proponentes negros, indígenas e de pessoas com deficiência.

O programa busca integrar artistas, realizadores, espaços e circuitos culturais para o público. Poderão participar como proponentes pessoas jurídicas de direito privado, de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, e com experiência no campo da cultura e das artes.  

O secretário adjunto de Cultura de Mato Grosso, Jan Moura, vice-presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, reforçou que os editais projetam a diversidade da cultura brasileira.

“A gente que cresce estudando a história das artes no Brasil, em que uma história das artes é construída apenas por aqueles que fazem no Rio e em São Paulo, não é uma história verdadeira. E a academia, a faculdade, tem criado uma outra narrativa. Por isso, é tão importante os editais da Funarte, porque eles trazem para o país, um país que muitos ainda não veem. Nós vemos porque estamos aqui e a gente sabe muito bem a potência que é a Amazônia, a potência que esse lado de cá do Brasil. Mas a gente precisa fazer com que o mundo se conecte com a Amazônia, se conecte com a arte que é feita nesses Estados”, ressalta.

As inscrições começam em 13 de novembro para os editais de artes visuais e de música. Para os editais de teatro, circo e dança, o prazo terá início no dia 4 de dezembro. Mais informações no site .

(Fonte: Ag}encia Brasil)

Vem aí a segunda edição da Copinha Show de Bola 5x5, evento esportivo idealizado para fomentar a prática do futebol em São Luís. Na próxima segunda-feira (13), haverá o lançamento oficial do torneio a partir das 19h30, na Arena Olynto, no Olho d’Água, com a presença dos representantes das 16 equipes que irão participar do campeonato. 

Como forma de incentivar e difundir o esporte, a Copinha Show de Bola 5x5 vai distribuir conjuntos de uniformes para todas os times participantes. A entrega do material ocorrerá durante a solenidade de lançamento da competição. 

Nesta edição, a Copinha conta com os patrocínios do governo do Estado e das empresas Friobom, Noroeste, Aço Bom Preço e Potiguar. O torneio será disputado em duas categorias: Sub-14 e Adulto Feminino. 

“Vai ser um evento bem legal, bem dinâmico e muito divertido. O torneio é uma grande novidade aqui em São Luís devido ao seu formato de disputa. É sempre positivo eventos que fomentem a prática do futebol e é, por isso, que agradecemos aos patrocínios do governo do Estado e das empresas Friobom, Noroeste, Aço Bom Preço e Potiguar, por acreditarem, cada vez mais, no esporte”, afirmou Waldemir Rosa, diretor-técnico do evento. 

Regras

Vale destacar o formato da competição, que terá os mesmos moldes e regras do famoso torneio de futebol 5x5 Neymar Jr’s Five, desenvolvido pelo craque Neymar Júnior. Assim, cada time conta com cinco jogadores (e até dois reservas). Inspirado no futebol de rua, o conceito é simples. Os times entram em campo com cinco jogadores e, a cada gol, o oponente perde um jogador. Vence a equipe que fizer cinco gols primeiro ou aquela que tiver melhor resultado após dez minutos. As dimensões do campo são menores e não se pode pisar na área delimitada próxima ao gol. 

Em cada uma das categorias da Copinha Show de Bola 5x5, será formado dois grupos com quatro times em cada um. Na primeira fase, os times jogam entre si dentro de suas respectivas chaves. Na fase seguinte, as quatro equipes classificadas disputam as semifinais, e os vencedores, decidem o título e recebem medalhas e troféus. 

Todos os detalhes da Copinha Show de Bola 5x5 estão disponíveis no Instagram oficial da competição (@copinhashowdebola5x5). O projeto conta com os patrocínios do governo do Estado e das empresas Friobom, Noroeste, Aço Bom Preço e Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte. 

(Fonte: Assessoria de imprensa)

Realizada com alunos da rede pública de ensino do Rio de Janeiro, a Olimpíada Brasileira de Cartografia (Obrac) – promovida pela Universidade Federal Fluminense (UFF) – apresenta, em sua quinta edição, o tema Amazônia no Mapa, trabalhando com o mapeamento participativo e colaborativo do território amazônico.

A iniciativa ocorre a cada dois anos e envolve a participação de professores e alunos do nono ano do ensino fundamental até o último ano do ensino médio, além de professores de diversas universidades do Brasil como avaliadores. Este ano, foi convidado o Instituto Federal do Pará (IFPA), em razão do tema escolhido. A competição científica conta com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

As provas teóricas e práticas das etapas da Obrac 2023 foram realizadas entre julho e outubro deste ano. No momento, a olimpíada promove o desenvolvimento de atividades presenciais, no Rio, que terminam nesta sexta-feira (10), incluindo visitas técnicas, minicursos, prova de corrida de orientação, premiação e encerramento. Nessa quinta-feira (9), em São José dos Campos, as equipes visitaram o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), dentro da programação presencial. No Rio de Janeiro, serão selecionadas as três primeiras equipes da Obrac 2023.

Os mapas confeccionados pelas equipes participantes nas primeiras fases abrangem aspectos relacionados às potencialidades e aos desafios encontrados na região da Amazônia Legal brasileira e fazem parte da exposição hospedada no portal IVIDES.org.

Este ano, os alunos abordaram temas como biodiversidade, potências e desafios da região, entre os quais questões relacionadas à cultura indígena, riquezas da floresta e problemas com mineração. “Foram temas diversos, de interesse na área, que são discutidos nas escolas”, disse a professora Angélica Di Maio, diretora do Instituto de Geociências da UFF. Como a Olimpíada é on-line em boa parte, cada escola participa com uma equipe. Este ano, a competição envolve quatro mil alunos de escolas de todo o Brasil, divididos em equipes de quatro alunos e um professor.

Metas

Na edição anterior, de 2021, o tema foi Cartografia, Ciência e Arte. Na edição de 2019, as equipes trabalharam o tema da Cartografia inclusiva, quando foram criados mapas para cegos e mapas com as histórias de refugiados. Já em 2017, foram elaborados mapas que mostram as palmeiras no Brasil, algumas em risco de extinção.

Angélica Di Maio destacou que a intenção “é colocar os alunos bem conscientes das coisas que acontecem no mundo, na sociedade, no país, no seu Estado, no seu município e, a partir desse entendimento, que eles tenham posições e possam interferir de forma positiva”. Há uma grande possibilidade de aprendizado ao longo do processo, com desdobramentos positivos.

Ela sustentou que se trata de um conjunto de fatores fazendo com que a olimpíada seja especial, no sentido de conseguir objetivos diversos e positivos na qualidade do ensino e na educação na escola. “A gente acredita que o mapa retrata muito a realidade do nosso país e do mundo. E esse entendimento é fundamental para os alunos exercerem a sua cidadania”, acentuou.

A diretora do Instituto de Geociências da UFF afirmou, também, que o trabalho desenvolvido pelos alunos tem significado relevante para o futuro. “Já no ensino médio, eles têm acesso a ferramentas de geotecnologia, alguns softwares  (programas de computador), uso de GPS, uso de sistemas de informações geográficas, uso de ferramentas que alguns alunos que optam por determinadas carreiras só vão ter na universidade. Então, desde cedo, eles começam a ter contato”, destacou. Essa é uma forma também de trabalhar a educação continuada do professor, que aprende as novidades da tecnologia que fornecem a ampliação do trabalho na escola.

Amazônia Legal

A Amazônia Legal é uma área que corresponde a mais da metade do território brasileiro e engloba oito Estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Maranhão. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nessa região, residem mais de 50% da população indígena brasileira.

(Fonte: Agência Brasil)

“Fiz tudo o que pude em matéria de sacrifícios para te salvar, expondo tudo o que de mais nobre possuía, enfim a minha própria vida! Fi-lo sensibilizada pelo teu falso amor, pois bem sabias que eu não te amava!”. Trechos de uma carta que poderia ter como autor e destinatário diversas pessoas, tendo em vista que o sentimento exposto nas linhas é universal.

O escrito, porém, envolve duas figuras célebres, que se casaram, aliás, de modo inusitado, em um cemitério, no dia 5 de janeiro de 1930, na capital paulista: o poeta e dramaturgo Oswald de Andrade e a também poeta, jornalista, desenhista, escritora e militante Patrícia Rehder Galvão, mais conhecida como Pagu. A carta em questão é um dos manuscritos inéditos que se encontra ao folhear o livro Os Cadernos de Pagu, da editora Nocelli, que será lançado neste sábado (11), na Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos. 

A autora da obra sobre a poeta é a criadora e diretora do Centro de Estudos Pagu Unisanta, em Santos, Lúcia Teixeira. Fundado em 2005, o centro conta com cerca de 3 mil arquivos originais e digitalizados. 

Há anos, Lúcia garimpa itens sobre a poeta paulista, nascida em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista, e que, aos 15 anos, já contribuía com o Brás Jornal, sob o pseudônimo Patsy. Nessa idade, Pagu teve o caminho cruzado pelo fotógrafo e poeta Mário de Andrade, um dos fundadores do Modernismo no Brasil.

“Esse livro é um complemento para pesquisadores, porque é o corpo dela que está ali”, afirma Lúcia. 

Aos 18, Pagu já aumenta o círculo de amigos, referências e amores, quando começa a frequentar encontros de Oswald e da pintora Tarsila do Amaral, então um casal, até que Pagu e o poeta se apaixonam um pelo outro. É também em 1928 que o poeta modernista Raul Bopp sugere o uso do apelido Pagu, por achar que o sobrenome de Patrícia fosse Goulart. Um ano depois, já se torna uma das colaboradoras da Revista da Antropofagia, que publicou um desenho seu e começa a alimentar um diário, com Oswald de Andrade, que recebe o título de Romance da Época Anarquista ou Livro das Horas de Pagu que São Minhas

Tudo na vida de Pagu parecia acontecer de modo acelerado, cedo. Conforme retrata a obra de Lúcia Teixeira, no ano em que completa 21 anos, ela passa a integrar o Partido Comunista Brasileiro, que, mais tarde, vai pressioná-la a demonstrar seu comprometimento com a militância exigindo que ela se transforme também em uma trabalhadora do chão de fábrica e se ocupe em funções como a de tecelã. O partido também a criticava constantemente pela origem dela e a de Oswald, considerando-os parte da burguesia e, por conseguinte, parte do problema que o partido combate. Por isso, Pagu também chega a viver em uma vila operária no Rio de Janeiro.

Feminismo

Conforme ressalta Lúcia Teixeira, é simples entender por que Pagu virou uma referência feminista. Ela pode ser considerada uma mulher revolucionária pelo engajamento que sustentou, o que implicou também a contestação das restrições colocadas pelo partido do qual fazia parte. “O partido não permitia atividade intelectual”, diz a biógrafa.

“Ela entrou na teatralidade [do processo de Oswald, de transformá-la em musa]. Aí, nos cadernos, mostra essa busca de uma produção intelectual. No primeiro, de 1929, em que deixava uns recados para o Oswald e Rudá [filho dos dois], esse diálogo do cotidiano aparece, mas também a força da escrita”, complementa.

Ainda em 1931, Pagu publica a seção A Mulher do Povo no jornal O Homem do Povo, que editou com o então companheiro, de quem depois se separa, por causa da desilusão amorosa que tem, diante das sucessivas traições conjugais. Conforme lembra Lúcia Teixeira, no livro, a polícia chegou a proibir o jornal de circular, e Pagu também cria, no jornal censurado, uma história em quadrinhos. 

Lúcia relata que, certa vez, Pagu foi a um congresso de poesia e se autoentrevistou. “Além dessa busca da cultura, há a jornalista, que busca documentar, de alguma forma, aquele momento, talvez sem nem saber a dimensão que poderia tomar, mas sempre buscando pessoas e documentos inovadores”, pondera.

A partir de agosto de 1931, Pagu começa a virar, com dor, o calendário de dias. Ela é presa, no dia 23, em Santos, durante um comício organizado em homenagem ao sapateiro Ferdinando Nicola Sacco e ao vendedor ambulante Bartolomeo Vanzetti, anarquistas italianos presos e condenados à morte injustamente, após serem apontados como assaltantes de uma fábrica de sapatos de Massachusetts, nos Estados Unidos, onde viviam. Um episódio que marcou definitivamente  a poeta foi a morte de um trabalhador negro em seus braços.

Lúcia Teixeira nos permite reparar nas mudanças nas fases da vida de Pagu e também em outros detalhes, como o formato das letras nos manuscritos. Depois de ser presa, ela inicia a escrita do romance proletário Parque Industrial, publicado em 1933, quando passa a viajar por países como Japão, Rússia e China, enquanto repórter, e assinando com o pseudônimo Mara Lobo. Pagu também fez uma peça teatral baseada em seu próprio livro.

O interesse de Pagu pelo teatro era voltado em específico para o Teatro do Absurdo. O encantamento com a vertente fez com que Pagu traduzisse peças de expoentes como Fernando Arrabal, de quem empresta uma obra para dirigi-la, em 1958.

“Ela faz rascunhos da peça Parque Industrial, inclusive desenhando o cenário, alguns figurinos. Aí, a gente vê a mudança na escrita, com uns riscos, dessa fase agitada”, salienta Lúcia, observando, ainda, que há um texto em que Pagu faz uma autocrítica. 

“Ela nunca deixou de aprender, de ser mais do que talvez fosse permitido para uma mulher, do que era tido como normal para as mulheres, mesmo aquelas que estudavam”, finaliza a autora. 

Serviço

Lançamento do livro Os cadernos de Pagu, de Lúcia Teixeira

Sábado, 11 de novembro, das 17h às 20h

Pinacoteca Benedicto Calixto | Av. Bartholomeu de Gusmão, 15 – Santos (SP)

(Fonte: Agência Brasil)