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O Ministério da Educação (MEC) está com a chamada aberta, até 23 horas e 59 minutos desta terça-feira (29), para os candidatos aprovados na lista de espera do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) contratarem o financiamento para o segundo semestre deste ano. A divulgação dos nomes incluídos na lista, atualizada diariamente, abre prazo de três dias para que o pré-selecionado faça a contratação do financiamento.

Os candidatos pré-selecionados nessa etapa são os que não foram classificados no número de vagas do curso de preferência na chamada única do Fies e passaram a integrar a lista de espera. Eles são chamados conforme a classificação, prevista no edital, quando uma vaga é aberta no sistema, e têm o nome divulgado no Portal Único de Acesso ao Ensino Superior. A consulta sobre as atualizações da lista de espera é de responsabilidade dos candidatos.

Após a divulgação do nome na lista, o candidato precisa complementar sua inscrição para contratação do financiamento no próprio sistema na internet. Se o prazo de três dias úteis não for cumprido, a inscrição do candidato vence e a vaga é disponibilizada ao próximo classificado na lista de espera.

O Fies concede financiamento aos estudantes inscritos em cursos pagos, de instituições de ensino superior que tenham aderido ao programa e sejam avaliadas positivamente pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

Para se candidatar, o estudante deve ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e obtido notas médias igual ou superior a 450 pontos, além de não ter zerado a redação.

Os juros e prazos aplicados obedecem a uma escala que varia de acordo com a renda familiar do estudante.

(Fonte: Agência Brasil)

Os estudantes classificados na lista de espera, para o segundo semestre de 2023, do Programa Universidade Para Todos (Prouni) têm até esta segunda-feira (28) para comprovar a documentação declarada durante a inscrição no processo de seleção para bolsas de estudo em cursos de graduação e sequenciais de formação específica. O resultado dos selecionados nesta etapa seáo disponibilizado a partir desta terça-feira (29), e o prazo para emissão do Termo de Concessão de Bolsa termina no dia 6 de setembro.

A documentação precisa ser entregue diretamente na instituição de ensino selecionada pelo candidato no processo, de acordo com o previsto no edital. São documentos referentes à formação do ensino médio, pessoa com deficiência e formação para o magistério da educação básica.

Para o segundo semestre de 2023, o Ministério da Educação (MEC) disponibilizou, por meio do programa, 276.566, das quais 215.530 são integrais e 61.036 são parciais e cobrem 50% do valor da mensalidade dos cursos. O Prouni oferece bolsas integrais ou parciais de estudo em cursos de graduação e sequenciais de formação específica de instituições privadas de educação superior.

(Fonte: Agência Brasil)

Uma nova exposição do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), no Rio de Janeiro, busca recontar a história do desenvolvimento científico e tecnológico do país a partir de objetos. A iniciativa foi viabilizada com o apoio de diversas instituições que cederam algumas peças, entre elas o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas a exposição conta também com artefatos que integram o acervo do próprio Mast. Estão reunidos cerca de 100 objetos que se destacaram na época em que foram produzidos ou ao longo das suas trajetórias.

Aberta ao público no dia 14 de agosto, a exposição ficará mais de um ano em cartaz e receberá visitas até setembro de 2024. A entrada é franca. Visitas mediadas podem ser agendadas por escolas. De acordo com o diretor do Mast, Márcio Rangel, a exposição havia sido idealizada no ano passado para celebrar o bicentenário da Independência do Brasil na perspectiva do desenvolvimento científico.

“Nós pensamos em demonstrar, para a sociedade, o papel da ciência brasileira no processo de formação e consolidação da nação. Mostrar seu papel na demarcação das fronteiras, na construção de linhas férreas, na construção de açudes, na estruturação das cidades e em um conjunto de outros processos que foram estratégicos para que nós chegássemos ao formato atual de Brasil, não só do ponto de vista territorial, mas também de outros pontos de vista”, explica.

Segundo Rangel, o título da exposição sintetiza a proposta: 200 anos de ciência e tecnologia no Brasil: um olhar a partir dos artefatos. No entanto, faltou apoio para tirar o projeto do papel em 2022. Os organizadores já haviam desistido de levá-lo adiante quando a situação mudou no início deste ano: houve um aceno positivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e as parcerias começaram a ser articuladas.

Entre os destaques da exposição, estão duas amostras que comprovam a existência de petróleo em solo brasileiro: são os óleos de Lobato, extraídos na cidade de Lobato (BA) em 1939. Também há uma luneta que foi utilizada na expedição científica que demarcou o Planalto Central ainda no século XIX, trabalho que posteriormente, na década de 1960, viabilizou a construção de Brasília.

Márcio Rangel destaca, ainda, um instrumento feito a pedido do imperador Dom Pedro II e que foi levado para a exposição Universal de Paris de 1889.

“Ele queria demonstrar que o Brasil não era um país somente agrário. Ele queria demonstrar que o Brasil era um país que também produzia ciência e esse objeto foi premiado. Hoje, ele faz parte da coleção geológica do Mast”.

A exposição está dividida em duas. Começa abordando o primeiro centenário da Independência do Brasil, entre 1822 e 1922. Na segunda parte, em que os objetos são referentes ao segundo centenário (entre 1922 e 2022), ganha destaque o trabalho das universidades, que são, atualmente, as maiores responsáveis pelos pedidos de depósito de patentes no país.

“Nós desenvolvemos, aqui, um projeto chamado Valorização do Patrimônio Científico e Tecnológico Brasileiro. Fizemos parcerias com várias universidades brasileiras para fazer um levantamento daquilo que nós poderíamos identificar como patrimônio”, conta Rangel. Segundo ele, um dos espaços da exposição foi formatado levando em conta os resultados desse projeto.

“Temos um conjunto de objetos muito interessantes do Parque Tecnológico da Universidade Federal de Juiz de Fora. Nós temos, ali, uma produção totalmente nacional que vendeu vários instrumentos e equipamentos para laboratórios brasileiros. E temos, também, objetos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O que a gente mostra na exposição é o papel que as universidades desempenham no Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, onde, hoje, parte significativa da pesquisa no Brasil está depositada”, acrescenta o diretor do Mast.

Ainda nessa segunda parte da exposição, há uma sala intitulada Biblioteca dos Objetos. Nesse espaço, chama a atenção o papel dos institutos de pesquisa do próprio MCTI, que desenvolvem ações específicas e estratégicas para a política pública de ciência e tecnologia no Brasil. “São pouco conhecidos da sociedade brasileira. Nós selecionamos dez objetos que ficam nessa biblioteca. Ela fica em penumbra e, aí, cada objeto narra a sua experiência em um projeto, em uma pesquisa no instituto ao qual esteja vinculado”.

O percurso do visitante se encerra em uma sala que oferece uma reflexão sobre a influência do conhecimento tradicional na ciência brasileira. A exposição ressalta que o conhecimento científico produzido no país dialogou com saberes de origem indígena e africana.

(Fonte: Agência Brasil)

Nas cidades mais populosas do Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, as bibliotecas comunitárias são espaços com histórias tão singulares que poderiam ser contadas em obras como aqueles livros que estão enfileirados nas estantes. A busca por diversidade e pela formação de novos leitores vai também além dos livros. Esses espaços são pontos de vida, de páginas viradas e de transformações que surgem a partir de sonhos individuais e comunitários.  

Em São Paulo, a Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino fica na convergência de ruas em que a numeração das casas se embaralha, uma esquina do Bairro Jardim Olinda, na zona sul de São Paulo. Djeanne identificava-se como mulher negra de pele clara, mas não sentia acolhimento no convívio com outras pessoas, nem negras, nem brancas. Ela tirou a própria vida em julho de 2014. Apesar de não ter sentido pertencimento de um modo geral, na biblioteca que frequentava, ela encontrou aceitação e carinho das crianças que adorava.

Saraus

Até assumir a forma que tem hoje, a Biblioteca Djeanne Firmino passou por várias transformações. Tudo começou por iniciativa do poeta Robinson Padial, mais conhecido como Binho, que já teve um bar e organizou, com o apoio da família, saraus e a bicicloteca, um projeto em que leva livros em uma bicicleta para emprestar, doar ou receber. Dos saraus, surgiu a biblioteca, em 2009, primeiramente na favela da Chapena, na zona sul paulistana.

Depois, o mesmo espaço virou Brechoteca, uma mistura de biblioteca com brechó. Com a venda de itens diversos, inclusive eletrodomésticos, as estantes eram alimentadas com mais livros. Quem estava à frente da biblioteca popular era a coletiva “Achadouras de Histórias”, que decidiu honrar a memória de Djeanne, frequentadora do local, emprestando seu nome ao espaço. 

Recentemente, a equipe conseguiu fazer a catalogação dos livros por cores, para facilitar o sistema para “quem ainda não é leitor”. O acervo vai preenchendo os cômodos da casa, vindos de vários lugares: por doações de vizinhos e editoras; pela Rede LiteraSampa, que abrange 18 bibliotecas comunitárias de São Paulo, Guarulhos, Mauá e Santo André; e por meio de editais, além da parceria com o Consulado da Alemanha. 

Os exemplares que chegam em mau estado também são aproveitados. Eles são levados para a reciclagem e produzem recursos para a compra de outros livros.

Espaço de trocas

Um grupo que frequenta, regularmente, a Biblioteca Djeanne Firmino é a “família K”, como são carinhosamente conhecidos os irmãos que têm nomes com a inicial K. “Eles sempre ficaram brincando na rua até tarde da noite. Abre a biblioteca, e eles já vêm para cá. Teve grande importância a biblioteca na vida deles, que estavam sempre na rua, procurando coisas para fazer. Teve um período em que estavam todos os dias aqui, saíam às oito da noite”, conta a pedagoga Vânia Duarte, medidora de leitura do espaço.

Para ela, foi uma descoberta e tanto perceber que as bibliotecas poderiam ser um local de intercâmbios de conhecimento e percepções sobre questões sociais, e não um em que se deve manter silêncio, rigorosamente. 

No lar onde Vânia cresceu, não havia o hábito da leitura. O pai conseguiu a proeza de concluir o ensino superior aos 72 anos. Ela iniciou o curso de Relações Internacionais e não terminou por causa de uma gravidez. Foi apenas em 2020 que ela se formou em Pedagogia, graduação feita com a ajuda do Programa Universidade para Todos (Prouni).

Hoje, a correria da rotina dita o ritmo e impede Vânia de achar brechas para sustentar assiduidade na leitura. Quando tem um tempo, contudo, gosta de poesia, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes e Clarice Lispector. 

“Eu tenho uma lembrança muito legal do ensino fundamental: a professora de português. Ela pegou um livro, um romance, e lia toda semana. A gente já ficava na expectativa de saber qual era o final daquele livro. Era a professora Edna, uma japonesa. Isso me marcou bastante”, revela a mediadora, evidenciando que, para cativar cada leitor em potencial, é necessário um chamariz diferente.

Justiça social

“Aqui, nosso carro-chefe é a justiça social”, destaca a geógrafa Alessandra Leite, coordenadora de projetos da biblioteca. Ela aponta que o espaço dá muita ênfase à literatura infantil e às obras de grupos racializados, como negros, indígenas e amarelos. 

“A gente nunca chega com a literatura crua. Nunca”, destaca a coordenadora, sentada diante de um quadro com palavras como desigualdade e raça. Ela defende que, ao se apresentar uma obra, deve-se fazer a conexão com contextos sociais.

Alessandra é de família baiana e de baixa escolaridade e diz que foi uma de suas avós quem mostrou a ela a importância da leitura, ainda que atrelada a uma ideia de livros mais técnicos e ao estudo formal. “Ela dizia: ‘Estuda para ser alguém’. Dava um valor [à leitura] que ela não conhecia no corpo, mas sabia que, perante a sociedade, tinha um valor. Então, ela sempre me estimulou muito a estudar, mesmo sem saber o que isso significava. Deu muito apoio”, conta.

“Quando eu saí da Bahia, aos 5 anos de idade, uma tia que me trouxe disse: ‘Olha, a sua avó está te levando para São Paulo para você estudar’. Eu brinco que escrevi isso na pedra. Essa foi minha missão de vida aqui. A leitura sempre ficou nesse lugar”.

Identificação

Ainda em São Paulo, mas na zona leste da capital, a equipe de reportagem da Agência Brasil confirmou que estava em frente à Biblioteca Comunitária Assata Shakur, na Vila Formosa, pela fileira de personalidades negras na fachada da garagem da casa.

À frente do espaço, um casal de jovens, Tatiane Ribeiro, de 27 anos, e Kairu Kijani, de 26 anos. A iniciativa de abrir a biblioteca, em 2019, como um braço do movimento negro, deu certo. O projeto teve sucesso e se expandiu, a ponto de abrirem turmas de balé infantil em outro local, no Bairro Cidade Tiradentes, na Rua Faustino Lopes.

Biblioteca Comunitária Assata Shakur

Os dois já se conheciam por terem se engajado nas lutas da população negra. Até que, certo dia, organizaram um encontro do grupo que participavam, mas o local escolhido cancelou de última hora, deixando todos na mão. Eles conseguiram manter a agenda em outro espaço, mas foi aí que eles perceberam que precisavam de um endereço próprio, que iria assimilar muito do que sabiam sobre modelos de educação popular.

O caminho que os livros percorrem até as prateleiras da Biblioteca Comunitária Assata Shakur difere do feito pelas obras da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino. Na zona leste, embora grande parte seja de doações, outras origens importantes são a Festa do Livro da Universidade de São Paulo (USP), que ocorre anualmente com generosos descontos, e o garimpo em sebos físicos e virtuais.

Entre as doações, destaca Tatiane, está uma que ocupa posição especial no acervo: um caderno do militante negro Henrique Cunha. A jovem conta que ela e o companheiro visitaram a casa onde Cunha vivia, a convite da família dele, que, depois, deixou, sob a guarda da biblioteca, o caderno. “Se eles estão doando, é porque estão confiando na gente”, afirma Tatiane.

Não é somente a doação dos escritos de Henrique Cunha que simboliza a confiança que muitos do movimento negro têm depositado na biblioteca. Segundo Tatiane, diversas pessoas aparecem, volta e meia, buscando algum livro específico, acreditando que lá irão encontrá-lo.

Kairu Kijani, que se formou em Pedagogia, relata que virou motivo de orgulho para sua professora da disciplina de Sociologia, que visitou a biblioteca. Perguntados, Kijani e Tatiane, sobre o porquê de escolherem batizar o local com o nome de uma das pioneiras do feminismo negro, que se exilou em Cuba, eles argumetam: “Primeiro, porque ela está viva”.

“A Assata tem um discurso em que ela fala que Os Panteras [Negras] estavam lendo o livro vermelho, várias teorias, mas sabiam pouca coisa sobre a África. Aí, ela cita autores negros e pensei: ‘Poxa, é uma realidade que a gente tem aqui também’. No coletivo de rap, a gente lia, primeiro, [Karl] Marx, e tinha poucos autores negros. A gente pode até falar em epistemicídio, porque tem esse apagamento de referências negras. E ela era uma militante, tinha a questão da educação. Começou a militância muito jovem, o que tem muito a ver com a gente”, adiciona Tatiane.

Sobre quem os influenciou a levar adiante o costume de ler, Tatiane e Kijani compartilham outra matriz em comum: o movimento hip hop. Para ambos, foram as letras de rap que abriram as capas dos livros. No caso de Tatiane, a atenção sempre se voltou a grupos de MCs com integrantes mulheres, como o RZO e Atitude Feminina, e ao protagonismo feminino em carreira solo, como Stefanie MC. 

O que ficou, para ela, foi o gosto por autores como a sergipana Beatriz Nascimento, a carioca Thereza Santos e a estadunidense Angela Davis. Kijani prefere outra linha, como a do Quilombo Urbano, grupo do Maranhão, e a d'O Levante.

No Rio de Janeiro, acessibilidade

Na capital fluminense, funciona a Biblioteca Comunitária Arlindo Pinho, mantida e administrada por um grupo de oito voluntários ligados ao Centro de Educação Popular e Pesquisas Econômicas e Sociais (Ceppes). Criada em 1985, a biblioteca conta atualmente com um acervo de, aproximadamente, cinco mil obras.

Um dos administradores, o professor de história Antônio Cícero Sousa explica que a biblioteca nasceu com um acervo voltado para ciências sociais, mas, ao longo dos anos, foi ampliando o leque de assuntos e, hoje, conta, inclusive, com livros infantis, além de publicações em braile e audiolivros, para atender frequentadores cegos ou com baixa visão. 

Antônio Cícero avalia que a biblioteca comunitária funciona como um complemento às instituições públicas, principalmente em regiões sem a presença de outros meios de oferecer de graça à população o acesso a livros. Segundo ele, estudantes são a maior parte dos frequentadores da Arlindo Pinho, que fica no Bairro da Praça da Bandeira, zona norte do Rio. 

“O interesse é grande. Eles conseguem ter acesso a livros que, às vezes, na escola, na biblioteca da universidade, eles não têm. Então, eles vêm aqui. Essa região tem muitas escolas, universidades e é bastante frequentada por estudantes. Por exemplo, eles vêm pesquisar o material de um autor que estão usando no trabalho de conclusão de curso”, contou à Agência Brasil, acrescentando que também organiza rodas de leituras em escolas e faculdades. 

A estudante de pedagogia Daiana dos Santos é uma das mais assíduas. Ela considera que o equipamento cultural é uma forma popular de acesso aos livros e de criação e incentivo do hábito da leitura.  

“Melhora o vocabulário, abre caminhos. A pessoa pode decidir o que quer ser no futuro por meio de uma leitura”, pontua. “Eu tenho esse hábito, de buscar novos caminhos, novas visões. Só vai enriquecer a minha bagagem pedagógica”, acrescenta. 

Daiana conta que, além de agregar conhecimento para si, passa adiante o valor dos livros, incentivando o filho: “Pela leitura, ele pode conhecer outras coisas e sentir prazer em estar lendo, não somente quando precisa estudar”. 

O professor Antônio Cícero explica que a biblioteca comunitária – que não faz nenhuma cobrança financeira aos frequentadores – depende do trabalho de voluntários que usam brechas de tempo livre, inclusive em fins de semana, noites e feriados, para manter o acervo. Além disso, contam com o apoio de projetos de financiamento para renovar o acervo e os equipamentos. 

“A gente fica pesquisando, consultando sites para descobrir editais de apoio voltados para bibliotecas comunitárias”, relata. Ele conta que é difícil renovar os equipamentos. “Comprar um computador novo, uma internet de melhor qualidade, porque, hoje, a gente tem que estar trabalhando nessas duas dimensões, o livro impresso e o digital”, conclui. 

Justamente pela dificuldade em obter mais itens para o acervo, os administradores da biblioteca disponibilizam um e-mail para contato e intermediação de doações: [email protected] 

A meninada na Ceilândia

Em Brasília, a Biblioteca Roedores de Livros atrai a criançada para rodas de leitura no Shopping Popular da Ceilândia (a maior região administrativa do Distrito Federal e com maior número de crianças e adolescentes). 

Segundo o diretor de administração do projeto, Adriano José Afonso, de 51 anos, a iniciativa teve início, há 17 anos, pela ideia e sentimentos da professora Ana Paula Bernardes e um grupo de amigos que formaram um coletivo de projeto de leitura voltado para crianças. 

Nada de silêncio

A proposta surgiu da dificuldade que ela ouvia de colegas professores de fazer com que as crianças tivessem prazer com a leitura. “Uma das principais atividades da biblioteca comunitária é a de mediação de leitura, que é o ato de ler junto com as crianças e com os adolescentes”.

Até as crianças que ainda estão em período de alfabetização já participam das atividades. A biblioteca tem um acervo de mais de 5 mil livros de literatura infantil e juvenil. “Nós premiamos os leitores que se destacam como os mais assíduos nas participações das atividades, seja em mediação de leitura ou mesmo oficinas de arte”, conta Afonso. A criançada pinta e desenha a partir do que a leitura proporciona. 

E os temas são escolhidos a dedo: direitos humanos, diversidade, cultura antirracista, afro-brasileira, indígena. “Não é uma biblioteca que se pede silêncio às crianças”.

Tapete na grama

A biblioteca chegou a não ter uma sala para desenvolver os projetos e acondicionar os livros, que antes ficavam em uma creche na Ceilândia. “A alternativa foi estender um tapete na grama debaixo de um pinheiro para evitar o incômodo de se sentar diretamente no chão”, relembra o diretor do projeto. 

Essa tradição de estender o tapete se mantém na sede da biblioteca no shopping popular da Ceilândia. “Todos ficam descalços no tapete com almofadas”. A simbologia virou livro infantil assinado por Tino Freitas e Ana Paula Bernardes, intitulado O Tapete Vermelho. O tapete continua estendido para a criançada viajar por muitos mundos a cada vez que um livro se abre.

(Fonte: Agência Brasil)

Mais de um milhão de participantes iniciaram, às 9h deste domingo (27), a realização das provas do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) 2023. Os portões de acesso aos locais de exame foram fechados às 8h45. Os participantes buscam certificação para ensino fundamental ou ensino médio, no período da manhã e da tarde.

Ao todo, 1.104.146 participantes estão inscritos no exame, dos quais 193.572 buscam a certificação para o ensino fundamental e 910.574, para o ensino médio. As mulheres são maioria, com 613.097 participantes. Já o público masculino conta com 491.049 inscritos. 

No período da manhã, os participantes terão quatro horas para realizarem as provas objetivas, cada uma com 30 questões de múltipla escolha. Aqueles que buscam a certificação no ensino fundamental serão avaliados em ciências naturais e matemática. Para o ensino médio, serão verificados os conhecimentos em ciências da natureza e suas tecnologias, além de matemática e suas tecnologias.

No período da tarde, a prova terá cinco horas de duração. Para os participantes que buscam a certificação no ensino fundamental, serão aplicadas as provas de língua portuguesa, língua estrangeira moderna, artes, educação física, redação, história e geografia. Já para a certificação no ensino médio, serão aplicadas as provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, além de redação, e ciências humanas e suas tecnologias.

Encceja

O Encceja foi realizado pela primeira vez em 2002, para aferir competências, habilidades e saberes de jovens e adultos que não concluíram o ensino fundamental ou médio na idade adequada. O exame é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em colaboração com as secretarias estaduais e municipais de Educação. Já a emissão do certificado e da declaração de proficiência é responsabilidade das secretarias de Educação e dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia que firmam Termo de Adesão ao Encceja.

(Fonte: Agência Brasil)

Museu da Língua Portuguesa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa, neste domingo (27), da 14ª Conferência dos chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mas, afinal, o que é e qual a função dessa organização?  

A CPLP reúne os países que têm o português como língua oficial. Além de Portugal, fazem parte desse grupo nações que, ao longo de sua história, foram colonizados pelo antigo Império Português. Além do Brasil, fazem parte do grupo os países africanos Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e o asiático Timor Leste.  

De acordo com levantamento da Ethnologue, o português é a oitava língua mais falada do mundo, com mais de 263 milhões de pessoas dominando o idioma. A CPLP nasceu para tentar integrar esses povos

Entre os objetivos previstos no estatuto da CPLP, está a promoção do entendimento político “e a cooperação nos domínios social, cultural e econômico”. Outro objetivo central é o entendimento para atuação, conjunta, nos foros internacionais.

Para isso, a comunidade promove atividades entre instituições públicas e privadas dos estados-membros em áreas como agricultura, segurança alimentar, saúde, educação, meio ambiente e comércio.   

A criação da CPLP começou a ser costurada na década de 1980, e o primeiro encontro de chefes de Estado ou de governo dos países de língua portuguesa foi em 1989, na cidade de São Luís, no Maranhão. Na ocasião, foi criado o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), responsável por promover o idioma comum.  

A comunidade, porém, só foi oficializada em 1996, em Lisboa. De lá pra cá, foram realizadas 13 conferências de chefes de Estado e de governo, sendo a última em 2021. A edição deste ano vai transmitir a presidência da CPLP de Angola para São Tomé e Príncipe, que assume a Comunidade no biênio 2023-2025 com o tema Juventude e Sustentabilidade.  

Integração econômica

Presente em São Tomé e Príncipe, o secretário de África e Oriente Médio do Ministério de Relações Exteriores (MRE), embaixador Carlos Sérgio Sobral Duarte, destacou à Agência Brasil que, desde a presidência de Angola, a CPLP tem intensificado a cooperação no âmbito econômico e empresarial.  

“A África em geral, e os países de língua portuguesa africana, em particular, estão em uma trajetória de crescimento econômico que abre muitas possibilidades ao Brasil”, destacou.

Porém, Duarte acrescentou que as relações comerciais entre os países do grupo ainda estão “muito abaixo de suas potencialidades”.  

Para o secretário do MRE, o Brasil tem muito a oferecer aos países de língua portuguesa em termos de conhecimento em agricultura e segurança alimentar, por exemplo. A mobilidade entre os cidadãos dos países-membros da CPLP é outro tema que tem ganhado relevância dentro da organização, segundo o embaixador brasileiro.  

(Fonte: Agência Brasil)

O cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de São Salvador, morreu na manhã deste sábado (26) aos 89 anos. De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ele morreu em Londrina (PR), onde vivia desde 2014. A saúde do religioso se agravou em dezembro do ano passado, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Dom Geraldo estava em internamento domiciliar e apresentou uma piora do quadro nos últimos dias. Ainda não há informações sobre o velório e as exéquias.

Em nota de pesar e condolências, a CNBB prestou homenagem a dom Geraldo e estendeu seus sentimentos ao atual arcebispo de São Salvador, cardeal Sergio da Rocha, aos parentes e aos fiéis. “Sua vida foi marcada por um grande amor à Igreja e uma contínua dedicação às coisas da Igreja, a serviço da fé e ao testemunho da vida cristã. Dom Geraldo mostrou sempre grande zelo pela Liturgia, pela boa formação dos sacerdotes e do povo católico e pela irrestrita fidelidade ao papa e à Igreja.”

O vice-presidente Geraldo Alckmin, no exercício da Presidência da República, publicou na rede social X nota de pesar pela morte do arcebispo.

Biografia

Filho de Antônio Agnelo e Sylvia Agnelo, dom Geraldo Majella Agnelo nasceu no dia 19 de outubro de 1933, em Juiz de Fora (MG).  Aos 12 anos ingressou no Seminário Menor Diocesano Santo Antônio, onde ficou até completar 14 anos. A ordenação sacerdotal ocorreu no dia 29 de junho de 1957, na Catedral de São Paulo. No dia 13 de janeiro de 1999, foi nomeado pelo papa João Paulo II como arcebispo metropolitano de São Salvador da Bahia. Em 2011, dom Geraldo teve o pedido de renúncia aceito pelo papa Bento XVI, tornando-se arcebispo emérito da Arquidiocese de Salvador.

No Vaticano, foi integrante do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes e da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. Participou de dois conclaves, um deles em 2005, quando foi eleito o papa Bento XVI, e o outro, em 2013, no qual foi escolhido o papa Francisco.

Dom Geraldo foi um dos três presidentes da Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, realizada em Aparecida (SP), em maio de 2007, e presidiu a CNBB de 2003 a 2007.

(Fonte: Agência Brasil)

Mais antigo festival de fotografia em atividade no Brasil, o FotoRio - Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro completa 20 anos de criação com seis exposições no Centro Cultural Justiça Federal, na capital fluminense. Das seis mostras, quatro são de artistas estrangeiros e duas das brasileiras Aline Motta e da dupla Masina Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli, artistas trans não-binárias que transitam por foto-escultura, cinema, educação e música.

As mostras internacionais têm trabalhos do cineasta e fotógrafo iraniano Morteza Niknaha, da documentarista colombiano Federico Rios Escobar, da artista francesa Camille Gharbi e da fotógrafa africana baseada em Viena, na Áustria, Belinda Kazeem-Kaminski.

O FotoRio será inaugurado neste sábado, às 15h. As exposições ficarão abertas ao público até o dia 15 de outubro, de terça-feira a domingo, das 11h às 19h. O festival tem coordenação de Erika Tambke, Ioana Mello, Marina Alves, Milton Guran, Paulo Marcos de Mendonça Lima e Thomas Valentin e conta com patrocínio do Itaú, com apoio do Consulado Geral de França e do ‘Institut Français’.

“Em 2023, chegamos à marca de 1.200 exposições, projeções e palestras em mais de 100 locais diferentes, como museus, centros culturais e locais alternativos do Rio de Janeiro”, disse à Agência Brasil o fundador do festival e um dos curadores do evento deste ano, Milton Guran.

As mostras contam com um QRCode, por meio do qual os visitantes podem conferir comentários e textos sobre o trabalho exposto, além de audiodescrição da obra. No dia da abertura, as artistas Belinda Kazeem-Kaminski, Camille Gharbi, Masina Pinheiro, Gal Cipreste Marinelli e as curadoras Erika Tambke, Ioana Mello e Marina S. Alves farão uma visita comentada, com tradução em português e em Libras.

Temas sociais

As exposições têm em comum abordagens de temas sociais relevantes, entre os quais o racismo, a escravidão, a decolonialidade e os feminicídios. No vídeo Exumação em conversa, por exemplo, a artista Belinda Kazeem-Kaminski pensa a negritude quando o colonialismo raramente é discutido e a história negra é mantida fora dos livros escolares, prendendo os negros em estado simultaneamente de extrema visibilidade e extrema invisibilidade.

Na exposição Nenhum poder de pedra que estanque o jorro das gotas sedentas por ver o sol, Masina Pinheiro e Gal Cipreste, em parceria com o estilista Guto Carvalhoneto, trazem 15 imagens de diferentes formatos, que mostram a infância sofrida por motivos ligados ao gênero e à transformação do corpo diante de uma família religiosa.

A partir de suas experiências pessoais, elas brasileiras usam diferentes linguagens para refletir sobre a existência de pessoas LGBTQIA+ que navegam entre gêneros. A série foi vencedora do 11º Prix Photo Aliança Francesa 2022.

Em Mato adentro, Federico Rios Escobar apresenta 30 fotografias de diferentes formatos, documentando a vida na selva, a relação das pessoas com o tráfico no interior da Colômbia a partir de recorrentes incursões que fez a diferentes regiões do país. Suas viagens o levaram a observar também a dificuldade de conexão e transporte fora dos grandes centros urbanos, a questão do meio ambiente, relações de gênero nos espaços em disputa.

O iraniano Morteza Niknahad traz, em Peixe Grande, o trabalho autobiográfico sobre a vida marcada por 20 anos de depressão de sua mãe. Os retratos posados, escuros, da família são ainda mais distorcidos pela presença eminente de um peixe. Por meio de sua história íntima, Morteza destaca problemas contemporâneos em relação a doenças mentais, patriarcado e invisibilidade da mulher.

Aline Motta estabelece, em Pontes sobre Abismos, palavras e imagens na busca por entendimento. São pontes sobre o Atlântico, que vão ao encontro de gerações passadas e raízes africanas. A obra De frente, da artista francesa Camille Gharbi, expõe violência doméstica, feminicídio conjuga, brutalidade e injustiça do mundo contemporâneo. Ela opta por se distanciar de imagens espetaculares e exibe objetos do dia a dia, pessoas comuns e lugares ordinários.

Memória

Milton Guran lembrou que, a princípio, o FotoRio foi bianual. A partir de 2014, tornou-se anual e, em 2018, quase deixou de existir por falta de patrocínio. Os fotógrafos iniciaram então o movimento FotoRio Resiste!. “Foi uma ação de resistência. Aí, a gente ganhou fôlego, atravessamos a pandemia, fizemos uma ação interessante, que foi a Fotos Pró-Rio”, disse o curador.

A campanha reuniu mais de 470 artistas e curadores em ação solidária, com o propósito de vender fotos para ajudar profissionais da fotografia que estavam em dificuldade financeira durante a pandemia da covid-19.

Os criadores do FotoRio idealizaram, ainda, a Semana da Inclusão Visual, encontro de projetos que usam a fotografia como instrumento de inclusão social. “Fazemos isso desde 2015 e mudamos o nome para Semana da Ocupação Visual “porque, com o celular na mão, todo mundo foi visualmente incluído.”

Neste ano, como o festival está completando 20 anos, as comemorações se estendem por todo o ano. O calendário abriu com a exposição Cosmopolíticas, em associação com o Festival Foto em Pauta, de Minas Gerais. “Agora, nós estamos fazendo o filé mignon da história, que reúne seis exposições no Centro Cultural Justiça Federal”, disse o curador. O evento reflete a inserção internacional do FotoRio.

Qualidade

Guran lembrou que, atualmente, a imagem é produzida por todo mundo que também consome imagem. “Hoje, mais do que nunca, é importante e útil a apresentação de imagem diferenciada e de qualidade. Porque nós vivemos com um bilhão de imagens vernaculares, tipo 'vovô viu a uva'. Esse tipo de trabalho que a gente apresenta é uma alimentação importante para o espírito e a informação das pessoas e, também, para o cabedal estético de cada um”.

Segundo o curador, a exposição que tem como lema a fotografia como bem cultural de primeira necessidade, traz os temas em discussão nessa mostra e a maneira de fazer fotografia.

(Fonte: Agência Brasil)

O cantor e compositor Márcio André Nepomuceno Garcia, o MC Marcinho, morreu na manhã deste sábado (26), segundo o Hospital Copa D'Or, onde estava internado. A morte do artista de 45 anos aconteceu às 9h10 da manhã, em decorrência de falência múltipla dos órgãos, diz nota à imprensa assinada pelo diretor médico do hospital, Marcelo London.

O estado de saúde do cantor tinha se deteriorado nos últimos dias, e sua família e equipe haviam feito uma campanha de doação de sangue para ele, nesta semana, e pedido orações aos fãs e admiradores. Ele estava internado desde 27 de junho, no Copa D'Or, e aguardava um transplante de coração.

Por causa da gravidade de sua cardiopatia, MC Marcinho foi submetido a um implante de coração artificial em 13 de julho e, também, já respirava com ajuda de aparelhos há, pelo menos, um mês. 

Conhecido como príncipe do funk, o cantor é uma figura emblemática do ritmo no Brasil. MC Marcinho nasceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e era considerado um dos principais nomes do funk melody.

Entre seus grandes hits, estão Glamourosa e Rap do Solitário. Somente neste mês, o cantor teve mais de 1 milhão de ouvintes na plataforma de streaming de músicas e áudios Spotify.

(Fonte: Agência Brasil)

O escritor e pesquisador Jeferson Tenório, que se consagrou com o premiado O Avesso da Pele, obra de ficção de teor antirracista, defende uma literatura capaz de garantir espaço para contar as histórias das vítimas. “Como a realidade é muito difícil, a gente precisa, através da ficção, inventar uma outra realidade”, afirmou o autor em entrevista à Agência Brasil. 

Professor de literatura, o escritor estará no Festival Literário de Paracatu-MG (Fliparacatu), para uma palestra sobre literatura como direito humano, a partir das 15h30 deste sábado (26). No evento, estará acompanhado pela escritora e jurista Lívia Sant’Anna Vaz. O escritor defende que a literatura é um direito  humano.

“Todos nós temos o direito de ter acesso aos livros, à ficção à imaginação. A maior resistência que se possa encontrar na periferia seria o direito à invenção, o direito a ter futuro”.

Imaginação como ato de resistência

Ele argumenta que a violência contra a população negra é recorrente e a ideia de imaginar o futuro quase não existe. “A literatura traz justamente a possibilidade de conseguir sair dessa realidade tão dura e poder imaginar. E, para mim, imaginação é um ato de resistência”. 

No próprio caso do professor, ele entende que a literatura foi “salvadora”.

“A literatura me salvou justamente por ter me dado essa possibilidade de olhar para realidade de outro jeito. Não com apenas um jeito de viver, mas para demonstrar que eu poderia sair da ideia de “sobrevivência” para poder existir de fato”. 

O contato com a literatura o modificou. “O ato mais transgressor que eu fiz na minha vida foi me tornar leitor”. Em busca de novos leitores, ele vibra com a estreia do Fliparacatu. “Eu vejo com muita alegria. Acho que é um espaço para mostrar o quanto a população negra e quilombola precisa também desses espaços, que também são políticos”. Para ele, a literatura pode contribuir também para dar visibilidade para as causas das populações tradicionais. 

Jeferson Tenório explica que, nos últimos anos, tem lido mais autores negros e negras, como Eliane Alves Cruz, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Paulo Lins e Cidinha da Silva. “Há também uma série de autores que estão surgindo, como a Calila das Mercês. Tem muita gente interessante para ler”. 

Aniquilação

Tenório celebra que as mensagens do livro sobre as violências racistas têm encontrado ecos com reflexões sobre um país que se repete em violências há séculos. “O Brasil foi fundado a partir da violência e do sequestro de corpos negros, da aniquilação dos povos originários. Os efeitos da escravidão têm sido sentidos até hoje”. O assassinato de Bernadete Pacífico de 72 anos, a Mãe Bernadete, na semana passada, em comunidade quilombola, na cidade de Simões Filho (BA), traduz a realidade dessa tentativa de aniquilação.

Para o autor, a recorrência da violência é fruto das políticas do Estado Brasileiro, com a indiferença em relação às desigualdades, que provocam violência.

“Essas pessoas que acabam sofrendo com a violência são trazidas para o meu trabalho. A literatura não denuncia (como o jornalismo), mas é capaz de causar uma reflexão talvez mais profunda do que a própria notícia”. Isso porque o texto literário, no entender dele, traz uma profundidade capaz de tensionar as certezas.

São essas pessoas mais sofridas que inspiram os pensamentos e as mãos do escritor Jeferson Tenório.  “Eu sempre tenho que prestar atenção nas coisas que têm acontecido no Brasil de modo geral. Para a gente contar uma boa história, é preciso olhar ao nosso redor. Para ser universal, você tem que falar dos que estão perto”.

(Fonte: Agência Brasil)