Skip to content

Lembrando papai… AINDA O DESCALABRO*

O informativo do governo sobre as péssimas condições em que veio encontrar o mecanismo administrativo do Estado é de estarrecer. Sabíamos que havia muita coisa feia, mas não tão feia. Sabíamos que havia o desconcertante, mas não tão gritante, tão ostensivo. Sabíamos da “facilidade”, mas não tínhamos uma ideia da “qualidade” desta “facilidade”. Sabíamos que tudo estava exigindo reformas, arrumação, limpeza, mas não poderíamos supor que o realismo fosse tão chocante a ponto de provocar íntimas revoltas. E Sarney que, para alguns está assessorado, está dando um duro para pôr as coisas nos seus devidos lugares. Está forçando a recuperação para que possa melhor governar, administrar o Estado.

Tudo muito atrapalhado. Nada dentro do processo regulamentar da boa administração. Nada funcionando BEM com tanta gente de BEM no aproveitamento insólito. Verdade. Uma Fazenda ordinária sofrendo a ação danificadora. E dizer-se que havia um Jesus. Mas este para “esvaziar mais”. Este para causar mais “desencantos”. Este para permitir a “gordura” para os “magros”. E quanta gente “gorda” saiu do “trabalho forçado” da Fazenda. Quanta gente que para lá entrou paupérrima e, em pouco tempo, se tornaram milionárias. Quanta gente!

Mas esta gente se diz poderosa. E já se diz por aí que o tal inquérito não vai funcionar normalmente. Que o inquérito não passa de “palhaçada, demagogia barata do governo”. Que a declaração de bens é outra bobagem, é outra inovação e que ninguém vai fazer declaração alguma. Que tudo isto vai ficar no “banho-maria” das ameaças. Ameaças e só ameaças. Isto só. Que Sarney não vai conseguir a moralidade administrativa. Que vai haver dentro das repartições, principalmente na Fazenda, a chamada “operação tartaruga”. Será esta a reação contra a chamada “ação moralizadora do governo”.

Mas o fato é que tudo estava “entrando” na vida administrativa do Estado. Os prédios públicos danificados, caindo aos pedaços. Caindo. Prédios novos que custaram milhões de cruzeiros em estado precário. Tudo na desordem. Tudo no abandono.

E Sarney informando: débitos por toda a parte num total de 7 bilhões. Na Saúde, meu Deus(!), quanta desumanidade. “Um verdadeiro insulto não só ao Maranhão, como ao Brasil”. E, com referência aos funcionários, reafirmou o governador José Sarney: “não é possível saber sequer quantos funcionários tem o Estado, onde estão e à disposição de quem”. Era isto em potencial. Era isto afrontosamente. Era isto num desenvolvimento criminoso a tantos anos de governos pessedistas. E, quando os jornais de oposição registravam as denúncias, registravam a “imoralidade administrativa”, surgia logo e logo o desmentido, a contradição e aparecia os pronunciamentos mais encantadores e até “comoventes”! E esta vazante está presente em todo o Estado. No interior, tudo então muito e muito pior. Aí então o assombro. Aí então o impressionante!

E cá fora no “desfile” da boa-vida, os privilegiados no exibicionismo da vida farta, da vida tranquila. No exibicionismo do “poderio econômico”. Na extravagância. No esbanjamento. Figurinhas medíocres no “balancete” do enriquecimento fácil. Era isto todo este tempo de governo eleito por meio das fraudes, dos acordos desmoralizantes “patrocinados” por juízes indignos, juízes que negociavam “o pronunciamento da Justiça”. Mas, agora, há, com Sarney, a “batalha da recuperação”. Mas se diz por aí (a grita do desespero) que o governo “está mal assistido”, que o governo “está fazendo palhaçada”. Que está havendo a “barragem da perseguição”, do revide. Mas Sarney afirmou que a limpeza obedece a uma orientação séria, uma orientação independente, que não está havendo a desforra. Nada disto. Está havendo é o rigor duma ação punitiva. O rigor duma ação administrativa capaz de, em menos tempo, recuperar e assegurar o bom funcionamento da máquina administrativa do Estado.

E não poderia ser outra a conduta do governo. Não poderia ser outra a medida saneadora. E não poderá haver mesmo a tolerância. Não. A administração tem que se recuperar de toda. O que deve haver é um amplo trabalho de ajuda e de cooperação. E o povo está ainda na luta ajudando o líder popular a governar bem o Estado.

Mas a verdade é que tudo estava desgraçadamente mal. Estava.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 19 de fevereiro de 1966 (sábado).