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LITERATURA MARANHENSE: Meus caminhos 2*

Meus caminhos, agora, são outros.

Não mais os sonhos

nem mais as esperanças.

Distante de ontem,

permaneço-me neste hoje

que é meu amanhã.

Afastei de mim todas as ambições

para fixar-me

na moldura da minha infância:

menino descalço, correndo pelas ruas,

subindo nos muros dos quintais floridos

colhendo frutos

na sede de matar a fone...

A fome que ficou com outros meninos,

que morreram nas estradas,

sepultados nos caminhos.

Não. Ficar só, estar só.

Como o padre histórico

das lendas longínquas,

escrever poemas na areia,

rugas na face da terra umedecida

com a tinta d’água salgada,

molhada de lágrimas.

Ficar só. Olhar a história

que ouvia em criança,

olhando outros meninos,

enxergando outros homens.

Ficar. Parar aqui. Beber vinho

das minhas emoções,

e banhar-me com a luz das estrelas.

Ficar. Ficar na terra,

devolvido para ela,

e ficar no silêncio das coisas esquecidas.

Sim, meus caminhos, agora, são outros.

* Paulo de Tarso Moraes. “Retratos do meu Eu” (inédito).