A cantora Doris Monteiro morreu na madrugada desta segunda-feira (24), aos 88 anos de idade, segundo informações publicadas por suas páginas oficiais nas redes sociais.
De acordo com o comunicado, Doris estava em casa, no Rio de Janeiro, e morreu de causas naturais. Ainda não foram divulgados detalhes sobre velório e sepultamento.
Doris nasceu no Rio de Janeiro em 21 de outubro de 1934, e estreou como cantora na Rádio Nacional, em 1947, no programa Papel carbono, de Rento Murce, segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Sua carreira profissional, porém, teve início em 1951, quando começou a trabalhar na Rádio Tupi.
Entre as composições que interpretou ao longo dos mais de 60 anos de carreira estão músicas de Sílvio César, Baden Powell, Vinicius de Moraes, Toquinho, Roberto e Erasmo Carlos, entre outros.
Além da extensa discografia, a cantora carioca também estrelou o programa Encontro com Dóris Monteiro!, na TV Tupi do Rio de Janeiro, e participou dos filmes Agulha no Palheiro (1953), Carnaval em Caxias (1954), De Vento em Popa (1957) e Copacabana Palace (1962).
Nesta segunda-feira (24), o Ministério da Educação (MEC) disponibiliza a segunda chamada para comprovação de documentação dos classificados no Programa Universidade Para Todos (Prouni), que oferta bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação nas instituições privadas de educação superior.
Os candidatos selecionados terão até o dia 3 de agosto para comprovação das informações fornecidas durante a inscrição. Este ano, para o segundo semestre, foram disponibilizadas 276.566 bolsas, sendo 215.530 integrais e 61.036 parciais, com 50% do valor da mensalidade para cursos de graduação, ou de formação específica.
Os pré-selecionados que concorrem às bolsas integrais devem comprovar renda familiar de até 1,5 salário mínimo, atualmente em R$1.980, por pessoa. Nos casos dos candidatos às bolsas parciais, a renda mensal a ser comprovada é de até três salários mínimos, por pessoa, atualmente em um limite de R$ 3.960.
Além desses critérios os candidatos devem cumprir as exigências relacionadas a formação do ensino médio, ou comprovação de deficiência, ou, ainda, comprovação de formação para o magistério da educação básica, conforme previsto no edital.
Apresentação dos documentos pode ser feita por meio eletrônico no Portal de Acesso Único do MEC, ou na própria instituição de ensino superior.
Os candidatos selecionados são os classificados de acordo com as opções de curso e instituição e as notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e que não conseguiram cumprir as exigências no período da primeira chamada, ocorrida no início do mês de julho.
Os inscritos que não conseguirem comprovar as documentações exigidas nessas duas chamadas perdem a bolsa e abrem nova oportunidade para os candidatos classificados na lista de espera. A divulgação da lista de espera e início dos prazos de comprovação de documentos está prevista para acontecer no dia 18 de agosto.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) abre neste domingo (23), em Curitiba, a 75ª Reunião Anual da entidade. O tema deste ano é “Ciência e democracia para um Brasil justo e desenvolvido”.
O evento vai até 29 de julho. Estão previstas mesas-redondas e conferências sobre mudanças climáticas, reconstrução do apoio à pesquisa científica, inteligência artificial, desenvolvimento nacional de vacinas, entre outros temas. O evento é gratuito.
No total, o congresso contará com mais de 200 atividades, entre debates presenciais e virtuais. As atividades serão realizadas no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no complexo da reitoria, no prédio histórico do campus e na Praça Santos Andrade.
A abertura será realizada hoje, às 18h, no Teatro Guaíra, na capital paranaense, e será transmitida pelas redes sociais.
A programação completa pode ser encontrada no site da SBPC.
A Biblioteca Nacional recebe, até a próxima sexta-feira (28), inscrições de autores para seu tradicional prêmio literário, realizado desde 1994. Neste ano, a novidade foi a inclusão da categoria que abrange cantos ancestrais e narrativas da oralidade, recolhidas no Brasil, entre povos originários, ribeirinhos e de matrizes culturais, o Prêmio Akuli.
A premiação para os textos de tradição oral homenageia Akuli, jovem sábio da tribo Arekuná. A Biblioteca Nacional resgata que ele foi um exímio narrador de histórias ancestrais, e que a literatura oral sobre Macunaíma, que Akuli transmitiu ao cientista alemão Theodor Koch-Grünber, foi determinante para a obra de Mário de Andrade.
O presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, explica que premiar a tradição oral em um prêmio literário agrega a perspectiva de um olhar delicado sobre a memória oral.
“A ideia é privilegiar a produção oral, quando ela passa a integrar a fixação, o livro, a memória que se recupera – porque a Biblioteca Nacional também é a casa da memória”, afirma.
Para se inscrever no prêmio, é preciso ter nacionalidade brasileira e ter obras inéditas (1ª edição) redigidas em língua portuguesa e publicadas por editoras nacionais, entre 1º de maio de 2022 e 30 de abril de 2023. Autores independentes também podem concorrer, desde que a obra esteja em Depósito Legal e traga impresso o número do ISBN (International Standard Book Number).
O vencedor de cada uma das 10 categorias recebe o prêmio de R$ 30 mil. Os resultados serão divulgados no Diário Oficial da União e no portal da Biblioteca Nacional, em 27 de outubro.
Serão analisados pelas comissões julgadoras os seguintes critérios: qualidade literária, originalidade, contribuição à cultura nacional, criatividade no uso dos recursos gráficos e excelência da tradução.
Conheça as 10 categorias do prêmio:
● Poesia (Prêmio Alphonsus de Guimaraens)
● Romance (Prêmio Machado de Assis)
● Conto (Prêmio Clarice Lispector)
● Tradução (Prêmio Paulo Rónai)
● Ensaio Social (Prêmio Sérgio Buarque de Holanda)
A Casa França Brasil, localizada na região central do Rio de Janeiro, abriu neste sábado (22), às 16h, a exposição O Real Transfigurado – Diálogos com a Arte Povera – Coleção Sattamini/MAC-Niterói. A mostra é gratuita e ficará aberta à visitação pública até o dia 17 de setembro, de terça-feira a domingo, das 10h às 17h. Às quartas-feiras, há atendimento exclusivo para pessoas com deficiência intelectual e mental, das 10h às 11h. A exposição chama a atenção para a influência da arte povera na produção artística brasileira.
A arte povera (arte pobre) é um movimento que nasceu na Itália, no fim da década de 1960, e que buscava uma relação mais vivencial com a arte, ao mesmo tempo que expunha a objetificação da obra de arte como uma coisa puramente comercial.
Da mesma forma que ocorreu com a arte pop, que surgiu na Europa e teve grande presença nos Estados Unidos, e o conceitualismo, iniciado na Europa na mesma época, a arte povera é um movimento italiano que vai também na direção de questionar a obra de arte como um produto meramente comercial, disse à Agência Brasilum dos curadores da exposição, Rafael Fortes Peixoto.
“Os artistas daquela época começaram a produzir obras que subvertiam a lógica estritamente comercial”, explicou Peixoto. Havia uma provocação por uma expressão artística mais pulsante, contra uma ideia de objeto artístico estático. Por isso, os artistas usavam materiais do cotidiano considerados não nobres, como matérias orgânicas, produtos perecíveis e animais vivos, caso da icônica obra Pappagallo, feita por Jannis Kounellis em 1967, e que apresentava um papagaio comendo ração no seu poleiro. Havia uma provocação tanto sobre o que era ser artista, como do papel da arte na sociedade de consumo.
No Brasil
Segundo Rafael Peixoto, no Brasil, o movimento provocou rupturas importantes no conceito da obra de arte tradicional que processaram transformações nas décadas seguintes, possibilitando, por exemplo, o desenvolvimento das performances, da videoarte, das instalações, e abrindo caminhos que continuam até na arte contemporânea.
No Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, o cenário era conturbado por causa da ditadura militar, e os artistas, ou se exilavam, ou permaneciam no país e enfrentavam um quadro de forte censura, repressão e violência. Peixoto destacou que as obras elaboradas naquela época no país traziam a marca da denúncia e exerciam o papel de resistência democrática, ao contrário das artes pop e conceitual cuja crítica, na Europa e Estados Unidos, visava a sociedade de consumo. A questão da povera foi assimilada pelos artistas de modo peculiar, abordando a questão política e social.
Um dos artistas influenciados pela arte povera no Brasil foi o português radicado no país Artur Barrio, que realizou trabalhos de grande impacto com materiais orgânicos como lixo, papel higiênico, detritos humanos e carne putrefata.
Um exemplo são as Trouxas Ensanguentadas, espalhadas pela cidade e que faziam alusão à época da ditadura. “Barrio é um dos artistas mais significativos e tem influência muito forte da arte povera”, afirmou Peixoto.
Ele lamentou que a arte povera não seja muito estudada ainda pela crítica no Brasil e ressaltou que a exposição busca “acender uma centelha” para que o tema volte à tona no país e seja conhecido pelo grande público e, também, no ambiente artístico.
Reflexão
A exposição, que tem patrocínio da Petrobras, apresenta ao público 36 obras de 33 artistas, feitas com diferentes técnicas, formatos e materiais. De acordo com o curador, a intenção é fazer o público refletir sobre o que é arte. Além de apresentar obras de artistas diretamente vinculados a esse movimento durante o período da ditadura militar, a exposição traz outros nomes, já dos anos de 1980 e 1990, mas que dialogam à distância, com essas questões.
As obras que compõem a mostra pertencem à Coleção João Sattamini, em comodato com o Museu de Arte Contemporânea (MAC-Niterói) desde 1991. Entre os 33 artistas selecionados para a exposição, estão Antônio Dias, Cildo Meireles, Anna Bella Geiger, Ernesto Neto, Frans Krajcberg, Artur Barrio, Tunga, Nelson Felix, Iole de Freitas, Antonio Manuel e Nazareth Pacheco.
Esta é a segunda de três exposições da série Paisagens Fluminenses programada para este ano. Contemplada na chamada do Programa Petrobras Cultural Múltiplas Expressões, a série conta com o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é revitalizar a Casa França Brasil como importante espaço de cultura e de valorização da produção artística brasileira.
Rafael Peixoto lembrou que a primeira exposição da série, Navegar é Preciso – Paisagens Fluminenses, ficou ambientada na Casa França-Brasil até o dia 9 de julho, e reuniu 3,6 mil pessoas apenas no dia de abertura. “Isso mostra que a arte está presente na vida das pessoas”, afirmou.
O Brasil é o segundo país, de um total de 37 analisados, com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham. O país fica atrás apenas da África do Sul. Na faixa etária considerada no relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 36% dos jovens brasileiros não estudam e estão sem trabalho. “Isso os deixa particularmente em risco de distanciamento de longo prazo do mercado de trabalho”, alerta o relatório Education at a Glance, de 2022, que avaliou a educação em 34 dos 28 países-membros da OCDE, além do Brasil, da África do Sul e da Argentina.
Carlos Alberto Santos, de 18 anos, se esforça para mudar esta situação. Ele terminou o ensino médio no ano passado e, mais recentemente, um curso técnico de administração. Está há dez meses sem trabalhar, concluiu outros cursos complementares e busca uma colocação no mercado de trabalho.
“Esse período é até preocupante porque ao completar meus 18 anos em março, ter saído do estágio, terminar os cursos, às vezes a gente naturalmente se sente meio inútil mesmo. Por um lado, perde a perspectiva, principalmente quando tem muito esforço, muita dedicação. Eu me inscrevi em várias vagas, eu já fui em muitas entrevistas em vários lugares, tanto em São Paulo quanto aqui próximo da minha cidade, e é realmente preocupante”, diz o jovem, que mora em Ferraz de Vasconcelos, cidade da Região Metropolitana de São Paulo.
De família de baixa renda, ele vive com a mãe e a irmã e guarda as lições do pai, já falecido.
“Meu pai dizia para estudar e, se a gente quisesse realizar os nossos desejos, era importante que a gente tivesse como prioridade o estudo e se esforçasse. E minha mãe diz a mesma coisa, não sinto pressão, pelo contrário, mas eu sei que é importante ter um trabalho, quero ter o meu espaço e vou me dedicar para isso”.
O jovem faz parte do Projeto Quixote, em São Paulo. Lá, ele fez os cursos Empreendendo o Futuro e o Vivendo o Futuro. Com a preparação, ele espera ainda conseguir um trabalho. “Tenho tantos sonhos, tantos desejos e eu acredito que só dessa forma, enfim, com um trabalho, vou poder realizar, porque qualificação eu tenho, eu me esforcei, estudei, tirei boas notas. Enfim, acho que é o melhor para mim”, diz Carlos Alberto, que pretende ainda estudar psicologia futuramente. “Gostaria de trabalhar em ONGs como o Quixote para ajudar jovens. Acredito que é importante, porque foi significativo para mim”.
Entre as formações do Projeto Quixote, Carlos Alberto participou da formação para o mundo do trabalho, que busca desenvolver competências básicas para o trabalho e estimular o protagonismo de adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
Causas
Os motivos e a quantidade de jovens que estavam sem estudar e sem trabalhar variam conforme a renda familiar, mas se encontram nessa condição principalmente os mais pobres. “A situação dos jovens que não estudam, não trabalham e nem procuram trabalho tem relação com a origem socioeconômica. É comum entre os jovens de famílias mais pobres. A maioria são jovens mulheres, que tiveram que deixar de estudar e não trabalhavam para poder exercer tarefas domésticas, criar filhos ou cuidar de idosos ou outros familiares, reforçando esse valioso trabalho, que não é reconhecido como deveria. Nas famílias mais ricas, nessa condição estão jovens de faixa etária mais baixa, geralmente no momento em que estão se preparando para a faculdade”, afirma a socióloga Camila Ikuta, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Diagnóstico feito pela Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego revelou que, dos 207 milhões de habitantes do Brasil, 17% são jovens de 14 a 24 anos, e desses, 5,2 milhões estão desempregados, o que corresponde a 55% das pessoas nessa situação no país, que, no total, chegam a 9,4 milhões.
Entre os jovens desocupados, 52% são mulheres e 66% são pretos e pardos. Aqueles que nem trabalham nem estudam – os chamados nem-nem – somam 7,1 milhões, sendo que 60% são mulheres, a maioria com filhos pequenos, e 68% são pretos e pardos.
A economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em infância e juventude, Enid Rocha, reafirma que o fator de desigualdade de renda influencia a condição dos jovens nem-nem.
“Tem o fator de renda, raça e gênero. São mulheres, são os negros – e os negros são mais pobres no Brasil”, destaca. Mas completa: “Há um conjunto de vulnerabilidades desses jovens, que não têm acesso a mais anos de estudos, não têm acesso à capacitação profissional e grande parte são mulheres, mais envolvidas nas tarefas domésticas e nos cuidados familiares. Com isso, elas liberam outra pessoa no domicílio para procurar trabalho e elas ficam responsáveis pelo trabalho não remunerado dentro do domicílio”.
A socióloga Camila Ikuta, técnica do Dieese, acrescenta que, para auxiliar as mulheres jovens a voltarem a estudar e/ou trabalhar, é preciso ainda cuidar das crianças que elas cuidam. “Para amenizar essa situação, o país precisa de mais políticas públicas focadas na juventude, como a ampliação de creches públicas e de equipamentos de saúde, políticas de permanência estudantil e melhoria dos sistemas de qualificação e intermediação profissional nesse momento de transição entre escola e trabalho”, defende.
Na visão da economista do Ipea Enid Rocha, o preocupante é quando o jovem desengaja. “Ou seja, ele não faz parte da força de trabalho, não procura mais emprego e se desinteressou. É até um jovem difícil de encontrá-lo, porque não está inscrito em cadastros escolares e no Sistema Nacional de Emprego [Sine]”.
Impactos
A pandemia agravou a situação desses indivíduos, que tiveram que interromper a educação e a formação profissional. “Eles ficaram dois anos nessa situação. E estudos mostram que, quando os jovens ficam, no mínimo, dois anos fora do mercado de trabalho, sem adquirir experiência profissional e sem estudar, ele carrega essa ‘cicatriz’ profissional”. A economista explica o termo:
“Ele volta ao mercado de trabalho com esta marca de não aquisição de capital humano durante o tempo que ficou parado. E quando ele acessa um trabalho, entra em piores condições, com salários mais baixos, com inserção precária, ou seja, sem formalização. Isso traz uma ‘cicatriz’ ao longo da sua trajetória laboral. As empresas, ao compararem a trajetória de um jovem que ficou dois anos sem trabalhar e sem estudar com o outro, ele é sempre preterido ou recebe salários menores”, explica Enid.
Para a economista do Ipea, é preciso fazer uma busca ativa desses jovens que estão desengajados. “Saber onde eles estão e oferecer o que está faltando, oferecer uma segunda chance de escolarização. E o mercado de trabalho também deveria procurar esses jovens, dar uma oportunidade por meio, por exemplo, do programa de aprendizagem das empresas, que existem, mas, na verdade, dão preferência para aquele jovem com maior escolaridade. É um programa para incentivar as empresas a contratarem esses jovens, para adquirirem experiência profissional, mas não é o que acontece. A política ativa do mercado de trabalho deve fomentar a oferta de trabalho para esses jovens”.
O jovem Carlos Alberto sente essa falta de oportunidades. “Além da qualificação, é preciso realmente dar oportunidade de uma vaga de fato. A pessoa pode ser qualificada durante o período que está no trabalho, os jovens podem estar sendo ajudados, sendo qualificados, mas ao mesmo tempo recebendo alguma renda para ajudar os familiares e se ajudar de alguma forma. Não é só focar na qualificação, só cursos não são suficientes. Acho muito pouco e ao mesmo tempo vago”, defende o rapaz.
A economista do Ipea defende, também, a capacitação socioemocional e a mentoria individual.
“Outro item da maior importância é capacitar esse jovem com habilidades socioemocionais. Esses jovens não têm experiência para participar de uma entrevista de emprego, elaborar o seu currículo. Há programas de juventude na Itália, por exemplo, em serviços parecidos com o Sine no Brasil, em que o jovem faz o seu currículo com apoio, tem psicólogos e pessoas que o capacitam para entrevista profissional. Precisamos de uma gama de políticas, de programas que apoiem esse jovem que já está desengajado”.
A porta-voz do Levante Popular da Juventude, Daiane Araújo, defende políticas de permanência e assistência estudantil. “O jovem está vivendo em um Brasil que voltou para o mapa da fome, com uma taxa de desemprego tão forte. Ele entra na universidade, mas é fruto das famílias que hoje estão na linha da fome, que estão desempregadas e que, muitas vezes, têm que fazer das tripas coração para ter, no mínimo, uma refeição por dia. É preciso pensar políticas de permanência estudantil, para que os jovens possam entrar nas escolas, nas universidades e conseguir permanecer”.
O Levante Popular da Juventude é uma organização de jovens militantes voltada para a luta de massas em busca da transformação estrutural da sociedade brasileira.
Outra medida, reforça Daiane, são as políticas voltadas para o primeiro emprego. “Esses jovens só encontram trabalhos mais ‘uberizados’ ou mais precarizados. É necessário refletir sobre uma política voltada para o primeiro emprego tanto dos jovens que estão saindo do ensino médio, mas, também do jovem que está saindo hoje do ensino superior com formação acadêmica e o mercado de trabalho não tem absorvido”, analisa Daiane Araújo, de 26 anos, estudante de arquitetura e urbanismo e também diretora da União Nacional de Estudantes (UNE).
O Ministério da Educação (MEC), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), está com mais de 6 mil vagas abertas no processo seletivo do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). As inscrições podem ser feitas até o dia 18 de agosto.
O PEC-G é um instrumento de cooperação educacional, que oferece a estrangeiros com idade mínima de 18 anos, com ensino médio completo e proficiência em língua portuguesa, a oportunidade de realizarem a graduação completa, de forma gratuita, em instituições brasileiras de educação superior. Trata-se de um dos programas de mobilidade acadêmica mais antigo do Brasil, em vigor desde 1965, e também um dos mais abrangentes internacionalmente.
Para esta edição, as vagas serão distribuídas em 342 cursos de graduação, em 102 instituições de educação superior de todas as regiões do país. Os estudantes serão selecionados para iniciar os cursos em 2024.
A inscrição é gratuita e deverá ser realizada em uma representação diplomática ou consular brasileira de um dos países participantes do programa, conforme listado no Edital nº 5/2023. Ao todo, são 69 países conveniados com o programa, sendo a maior parte da África (29) e da América Latina e Caribe (25). Estrangeiros de alguns países da Europa, da Ásia e da Oceania também podem se inscrever. O resultado preliminar da seleção deve ser divulgado a partir do dia 30 de outubro.
Uma comissão de seleção instituída pelo MEC, composta por servidores e docentes de instituições federais e de ensino, será responsável pela análise do histórico escolar e demais documentos exigidos para a candidatura.
O programa A Voz do Brasil completa 88 anos de existência neste sábado (22). É o programa de rádio mais antigo do Hemisfério Sul ainda no ar, segundo o livro dos recordes Guiness Book. Criado, em 1935, pelo então presidente Getúlio Vargas, tornou-se de transmissão obrigatória para todas as emissoras em 1938, durante o regime do Estado Novo. Em 2015, o horário foi flexibilizado, e A Voz do Brasil passou a poder ser transmitida entre as 19h e as 23h.
Nas primeiras décadas de existência, quando o rádio era o principal meio de comunicação do país, o programa, então chamado de Hora do Brasil, era a principal fonte de informações sobre o governo para boa parte da população, que era, em sua maioria, moradora de áreas rurais. Em 1962, o Poder Legislativo passou a ocupar parte do horário destinado à Voz, que hoje concentra notícias também do Poder Judiciário e do Tribunal de Contas da União (TCU).
Mesmo com o avanço da televisão e da internet, A Voz do Brasil segue com público fiel, como o aposentado Raimundo Nonato de Oliveira, de 77 anos. Ele conta que se informou sobre a Guerra do Vietnã, a 2ª Guerra Mundial e a ida do primeiro homem à lua pelo programa.
“A gente sabe de educação, saúde, transporte. É um panorama geral do país. Nos seringais, nas regiões mais distantes, é A Voz do Brasil que coloca o caboclo das florestas atualizado”, diz o morador do município de Manoel Urbano, no interior do Acre.
Oprograma também informa as gerações mais novas. “A Voz do Brasil faz parte da minha vida”, revelou a jornalista e quilombola Janaína Neri, de 29 anos, moradora do município de Santa Terezinha (BA), no centro-norte baiano.
Ela conta que a energia elétrica só chegou à sua comunidade quando ela completou 18 anos e, por isso, A Voz sempre foi uma das principais fontes de informação do quilombo.
“Na minha juventude, teve muita coisa que tive acesso pela Voz do Brasil, como edital de divulgação do Enem. Antes, a gente não tinha acesso à internet, pois sempre morei em zona rural”, conta.
A última pesquisa feita sobre a audiência do programa, publicada em 2015, registrou que 32% dos brasileiros escutavam A Voz do Brasil ao menos uma vez por semana. A empresa Ibope Inteligência fez o levantamento a pedido da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Cidadania
O professor de comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Paulino Oliveira destaca que A Voz do Brasil cumpre papel de promoção da cidadania no país, em especial por levar informação para as áreas mais remotas, aproximando a capital federal das demais regiões.
“O programa foi e continua sendo essencial para prestação de contas das atividades internas dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo e, mesmo com as alterações tecnológicas, ele segue vivo porque ele possibilita com que a população saiba como os nossos governantes, que são as pessoas que produzem efeitos na vida em sociedade, têm desenvolvido as suas ações”, observa.
Transparência
A Voz do Brasil é necessária porque cumpre um papel de transparência em relação aos atos do governo, do Legislativo e do Judiciário, argumenta o diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Hélio Doyle, para quem A Voz é um “patrimônio do rádio brasileiro”. A EBCé a responsável pelos 20 minutos destinados ao Executivo dentro de A Voz do Brasil.
“É um dos instrumentos que o governo tem para fazer um contato direto com a população. Durante algum tempo, isso era meio atacado, né? Como se o governante, seja lá quem for, não pudesse se dirigir diretamente as pessoas, tivesse que usar os intermediários”, destaca. O presidente da EBC acrescenta que o governo precisa ter uma comunicação direta com o cidadão, dando a ele "a possibilidade de ter acesso direto à informação [governamental]”.
Na avaliação da superintendente de Serviços de Comunicação da EBC, Flávia Filipini, A Voz do Brasil leva informações sobre as políticas públicas de interesse da sociedade.
"A Voz do Brasil faz parte da trajetória e do imaginário da nossa gente. Das grandes cidades até os lugares mais recônditos. Há 88 anos, a população de todo o território fica sabendo dos principais acontecimentos da nossa história diretamente dos estúdios de A Voz. Nossa missão é mantê-la viva, a serviço da sociedade e também cada vez mais ouvinte da população", conclui.
Edição comemorativa
Para marcar os 88 anos do programa, A Voz do Brasil apresentou, nessa sexta-feira (21), uma edição comemorativa. Os primeiros dez minutos do especial foram dedicados à efeméride.
O especial trouxe depoimentos de ouvintes que têm acesso à informação por meio do programa. Como parte das festividades, um dos ex-apresentadores do jornalístico, André Luiz, foi convidado a ir ao estúdio apresentar um trecho do início da atração.
O conteúdo temático ainda levou ao ar a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a importância de A Voz do Brasil. Os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) e Jader Filho (Cidades) também gravaram relatos sobre a relevância do programa.
“Provavelmente, a inação, a omissão e a má ação das administrações públicas causaram muito mais mortes do que o disparo de armas de fogo nesta cidade”.
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“[...] já está completa a maior parte da quota de erros, medos, apropriações e omissões a que as administrações tinham direito”.
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“[...] em Imperatriz, cerca de 2.500 pessoas chegam todo ano à idade de trabalho. E a pergunta é: Quais são as políticas públicas e quais os esforços da iniciativa privada para absorver tal contingente de mão de obra? Não se sabe. Pior: não existem”.
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“[...] mais que administrar uma cidade, é necessário fundar e fundamentar as bases de uma nova sociedade – inteligente, ágil, participativa e de resultados”.
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“Governantes devem deixar esse jeito desfibrado, invertebrado e desossado de fazer administração pública e partir para atitudes com mais cálcio... e fosfato. Ao lado de ações emergenciais (tipo estancar a sangria desatada), deverá haver procedimentos clínicos mais detalhados, com exames laboratoriais acurados, radiografias, ultrassonografias e tomografias localizadas, a fim de que seja elaborado o melhor diagnóstico possível das condições vitais desta paciente Imperatriz”.
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Imperatriz tem 171 anos de desenvolvimento de sua história, mas menos de 70 anos de história de seu desenvolvimento. Sua fundação ocorreu em 16 de julho de 1852, mas seu crescimento começou, verdadeiramente, a partir de 1960, com a inauguração da Rodovia Bernardo Sayão (o nome oficial da BR-Belém/Brasília).
DESCOMPROMISSO
Há anos, o desenvolvimento de Imperatriz vem sendo eclipsado por forças políticas absolutamente descomprometidas com a visão de futuro, a linguagem político-social contemporânea, a formação técnica e a prática de Administração Pública que norteassem e conduzissem o município (e, por força de arrasto, a região) rumo a melhores condições de progresso econômico e social.
Se os administradores públicos tivessem tido um pouco mais de boa vontade, esforço, sabedoria e competência, Imperatriz estaria gozando de melhor saúde urbana, econômica e cultural, base para um cenário de futuro mais estável para o município.
A adoção de ferramentas do planejamento estratégico deveria ser preocupação contínua e ação permanente por qualquer governante, sobretudo de municípios do porte econômico e localização estratégica como é o de Imperatriz.
ATRASO
Interesses menores, na maioria das vezes mesquinhos, engessaram as pernas que poderiam ter dado o salto maior de progresso econômico e de qualidade de vida.
Há muito tempo, Imperatriz poderia estar ostentando o título de um dos melhores lugares do Brasil para se viver, em termos não apenas de crescimento econômico mas de percepção de felicidade humana.
Entretanto, o município exibe um atroz descompasso em ser um dos maiores do país em população e estar com elevado percentual de pessoas em estado de pobreza, segundo o IBGE (Índice de Gini).
A falta de ação planejada e contínua de quem tem poder, a miopia dos que têm dinheiro e influência nesta cidade,...
... a ausência de compromisso sério, de formação de uma agenda permanente de desenvolvimento, com estabelecimento de prazos e resultados (como foi e está sendo feito em diversas cidades brasileiras de mesmo porte),...
... o quase menosprezo, senão desdém, aos trabalhadores e produtos do conhecimento arremessaram Imperatriz para o atraso institucional e ampliaram o espaço para a degradação e “exportação” de seu nome, associado falsamente, durante algum tempo, a uma imagem de cidade bandoleira e violenta e, agora, de cidade “feia”, sem infraestrutura urbana, sem parques, sem arborização...
Provavelmente, a inação, a omissão e a má ação das administrações públicas causaram muito mais mortes do que o disparo de armas de fogo nesta cidade.
MOINHO
Não há como recuperar o tempo perdido. O moinho do tempo continua a girar, e as águas do passado no máximo servem para irrigar nossa memória e lembrar-nos de que já está completa a maior parte da quota de erros, medos, apropriações e omissões a que as administrações tinham direito.
POTENCIAL
Imperatriz é, hoje, uma das maiores cidades do país (a de número 102) em população, aí incluídas as 27 capitais, entre os 5.570 municípios brasileiros.
Essa classificação coloca Imperatriz natural e automaticamente sob os olhos dos planejadores públicos, desperta os interesses de investidores privados, atrai a atenção de pessoas e instituições as mais diversas.
Só que os governos de Imperatriz nunca souberam ou quiseram capitalizar esse potencial por meio de um programa sistêmico e sistemático, orgânico e organizado, com participação popular, para definição e atração de empreendimentos e captação de recursos.
TÍTULOS
Surpreende a pouca vontade, o distanciamento, a frieza, o ceticismo de administradores públicos e assessores explicitamente sem alma, sem paixão e até sem razão na condução dos interesses (credo!) de sua pasta.
Se fosse outro o município que tivesse o privilégio de ser conhecido como “Capital Brasileira da Energia” ou “Metrópole da Integração Nacional” ou “Portal da Amazônia”, tenho certeza, esses títulos há muito estariam sendo competentemente capitalizados por uma maciça campanha publicitária para atração de investimentos.
Afinal, palavras como “Energia”, “Integração” e “Amazônia” são referências de fino trato, presentes em qualquer agenda ou diálogo da contemporaneidade. O atraso ou a preguiça são nossos, que mandamos “tocar” o enterro e morremos de fome só porque não queremos ou não sabemos cozinhar o arroz.
DIAGNÓSTICO
Para desenvolver Imperatriz e, por consequência, induzir o desenvolvimento da região, urge redefinir modelos e práticas administrativas e atualizar o foco de desenvolvimento do município.
Governantes devem deixar esse jeito desfibrado, invertebrado e desossado de fazer administração pública e partir para atitudes com mais cálcio... e fosfato.
Ao lado de ações emergenciais (tipo estancar a sangria desatada), deverá haver procedimentos clínicos mais detalhados, com exames laboratoriais acurados, radiografias, ultrassonografias e tomografias localizadas, a fim de que seja elaborado o melhor diagnóstico possível das condições vitais desta paciente Imperatriz.
HISTÓRIA
Todo governante administra para a História – admita ele ou não. Quem administra apenas de olho no seu próprio período (ou, no máximo, em mais um ou outro) pode até constar no caderno de atas, mas não aparecerá no livro de honra.
Portanto, mais que administrar uma cidade, é necessário fundar e fundamentar as bases de uma nova sociedade – inteligente, ágil, participativa e de resultados.
IRRESPONSABILIDADE
No ano de 1985, um completo diagnóstico para o desenvolvimento de Imperatriz, válido por dez anos, foi entregue às autoridades da época.
Tratava-se do relatório técnico da “área-programa de Imperatriz” do Programa de Desenvolvimento Integrado da Bacia do Araguaia–Tocantins, desenvolvido nada mais nada menos do que por trezentos técnicos os mais diversos, financiados pela Organização dos Estados Americanos e Ministério do Interior.
Em um verdadeiro crime de lesa-futuro, de lesa-informação, de lesa-pátria, nenhum gestor público (afora quem recebeu o documento), nenhuma liderança empresarial, nenhum líder comunitário ou classista tomou conhecimento de tão amplo diagnóstico.
Não se tem conhecimento, na história deste município, de qualquer estudo mais amplo e completo do que aquele, que continha inúmeros mapas desdobráveis, séries históricas, levantamentos e análises, projeções e estimativas.
A irresponsabilidade fechou no cofre da ignorância parte do futuro de Imperatriz. Anos depois, por falta de ar, parte desse futuro estava irremediavelmente morta.
POPULAÇÃO
Na primeira década dos anos 2000, Imperatriz registrou uma elevada densidade populacional. No período de apenas duas gerações, Imperatriz saiu de quatro habitantes por quilômetro quadrado (1963) para 185 (em 2016). É como se, numa casa onde só coubessem quatro pessoas (pai, mãe e dois filhos), de repente tivesse de conviver um total de gente 46 vezes maior.
O que ocorre numa situação dessas? Problemas, muitos problemas. Do imprensado nos quartos aos desconfortos no banheiro, da falta de água gelada na geladeira à falta de comida nas panelas, a situação vai correndo para uma situação de vexames e atritos.
DESEMPREGADOS
Mais: em Imperatriz, mais de 2.500 pessoas chegam todo ano à idade de trabalho. E a pergunta é: Quais são as políticas públicas e quais os esforços da iniciativa privada para absorver tal contingente de mão de obra?
Não se sabe. Pior: não existem. Esses mais de 2.500 jovens vão se juntar aos mais de 2.500 jovens do ano anterior e de outros anos passados, juntam-se aos igualmente angustiados e enraivecidos jovens que ainda vão completar a idade. A todos estes juntam-se os desempregados, os subempregados e precarizados, os biscateiros, os sem-teto, os com-cola (de cheirar), as crianças e adolescentes que não entram nas estatísticas mas entram na realidade da vida (deles e nossa).
Como miséria pouca é bobagem, a essa legião de quase desesperados e desesperançados vão-se juntar os futuros desempregados, aqueles que não têm qualificação (pois o mercado e a tecnologia não regridem para absorvê-los), aqueles que perderam o emprego público (pela falta de capacidade de investimento do governo).
E contem-se, também, os loucos, os presos, os velhos, os doentes e os deficientes desempregados, enfim, todos aqueles que têm o direito de ser sustentados pela matriz pública e pela sociedade em geral.
FOGO
Assim caminha Imperatriz. Apesar da aparente normalidade (será?), uma espécie de fogo social, como fogo de monturo, está queimando as bases da vida em comunidade.
Políticas públicas tão urgentes quanto competentes têm de ser implementadas, inicialmente por torniquete, se for o caso, e, depois, após radiografia completa do “corpus” (a população) e do “locus” (o território) de Imperatriz.
Basta de rascunho!
Chega de esboço!
Imperatriz merece um futuro mais bem escrito... e construído...
... coletivamente construído, se o "espírito público" de seus administradores chegar a tanto...
Aguardam-se os a(u)tores dessa nova história.
* EDMILSON SANCHES
Ilustração – Imperatriz: É preciso caminhar um novo caminho...
A cidade do Rio de Janeiro ganhou, nessa quinta-feira (20), um novo espaço cultural, resultado de projeto da escritora Conceição Evaristo. Ao longo dos últimos anos, a escritora vinha se preparando para um dia ter um lugar onde pudesse dispor do seu acervo bibliográfico e artístico. Assim surgiu a Casa Escrevivência, no Beco João Inácio, 4, Largo da Prainha, no Bairro da Saúde, região portuária da capital. Uma sessão de autógrafos da escritora marcou a inauguração.
“É um projeto que eu vinha pensando a tempos. Nasce na medida em que eu vou construindo um acervo de livros e de cartazes, de folders, de moções honrosas, de prêmios. Isso foi tomando um espaço na minha lembrança e na minha memória e em um espaço físico também”, revelou em entrevista à Agência Brasil. A escritora conta que o acervo de livros foi o que mais a impulsionou.
Conceição Evaristo confessa que sentia um incômodo em ver todos aqueles livros na estante sem circular em outros locais.
“Livro na estante não significa nada. Ser um acervo para barata e cupim comer”.
Inicialmente, conforme relata, pensou em fazer uma biblioteca comunitária, mas o pensamento evoluiu. “O sonho foi amadurecendo e pensei nessa Casa Escrevivência. A parte principal seria mesmo essa biblioteca com o acervo de livros, que seria o pilar da Casa e mais um lugar onde guardasse uma série de outras publicações, teses de sensações, revistas de pesquisadores. Seria, então, essa biblioteca e esse centro de documentação, onde a pessoa que quisesse acessar ou fazer um estudo crítico da minha obra, tudo estaria nesta Casa Escrevivência”.
A escolha do local onde funcionará a Casa Escrevivência não foi à toa. A região é chamada de Pequena África, porque tem vários pontos simbólicos para a população preta. Bem perto está o Cais do Valongo, principal local de desembarque e comércio de pessoas negras escravizadas nas Américas. As estimativas indicam que um milhão de africanos tenha entrado no Brasil por meio do Valongo.
“É muito simbólico. A gente quis muito. Desde o projeto da Casa nós pensamos nesta geografia afetiva que tem a ver com a história negra. Essa região chamada Pequena África estar ali é celebrar a nossa lembrança de dor que a gente transforma em uma lembrança de resistência”, apontou.
Mais espaço
O futuro do projeto ainda pode ser maior. A escritora reconhece que o lugar atual ainda é pequeno, mas é o começo que vai permitir a divulgação do espaço cultural, e a ideia é que um dia possa estar sediado em uma casa maior, onde possam ocorrer também exposições e lançamentos de livros.
“O espaço que temos no momento é um espaço que não cabem 15 pessoas dentro. Na verdade, é uma loja bem pequena", explica. “Hoje, é o espaço que nos permite jogar essa ideia na rua” conta. “Essa visitação e trabalho com o público, escolas, professores, pesquisadores que imaginamos, só vai poder acontecer quando tivermos um espaço físico que caiba essa movimentação”, afirmou, lembrando que o primeiro evento no local é a sessão de autógrafos dos seus livros na noite de ontem.
Para dinamizar a casa, mesmo sem ter ainda o espaço maior, a escritora disse que a equipe que trabalha voluntariamente na Casa Escrevivência vai começar a visitar escolas, realizar determinados eventos em outros espaços como o que ocorreu na última quarta-feira (19), na Casa Rui Barbosa, em Botafogo, zona sul do Rio. “A nossa ideia é essa. Como a gente ainda não tem uma sede própria, é fazer parcerias com outras instituições e realizar as nossas atividades em outros espaços”.
A manutenção do projeto tem sido feita, de acordo com a escritora, com seus próprios recursos financeiros com apoio do Instituto Ibirapitanga, organização dedicada à defesa de liberdades e ao aprofundamento da democracia no Brasil. A intenção é também no futuro comprar um imóvel para servir de sede definitiva da Casa Escrevivência, que atualmente foi instalada em um local alugado.
“Agora implantando a Casa e o nome da Casa estando na rua, que é uma maneira também de chamar a atenção de instituições, que queiram nos ajudar, nós vamos começar a colocar um projeto na rua para conseguir fundos para comprar um imóvel”, revelou.
De acordo com a escritora, esse imóvel será uma casa e o motivo da opção é que quando houver a sede, o espaço cultural vai receber pesquisadores residentes e trabalhar com bolsistas de criação e de pesquisa. “Então, a gente precisa de uma casa moradia. Uma casa que ofereça essa possibilidade do projeto de acolher pessoas, que com bolsas fiquem estudando na Casa. O próximo passo vai ser isso, pôr o projeto na rua para angariar fundos. Nessa região a gente encontra casas para vender; são imóveis velhos, mas a gente faz uma reforma pensando também em acessibilidade”, explicou.
O encontro na Casa Rui Barbosa, citado pela escritora, foi um bate papo com o tema As escrevivências que nos aproximam. Além da escritora estavam presentes Jurema Werneck, presidente da Anistia Internacional, Erica Malunguinho, idealizadora do espaço Aparelha Luzia e ex-deputada estadual de São Paulo, com mediação da Doutora e professora universitária Fernanda Felisberto.