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Não posso negar: de todos os viventes que tiveram contato com meus livros, os cupins foram os que mais gostaram deles...

Gostaram tanto que os comeram.

Não queira ter uma experiência com esses bichinhos – você sempre sairá perdendo...

Não é sem razão que, quando foram dar a eles um nome, os índios tupis-guaranis buscaram uma palavra ou expressão de sua fala que lembrasse o resultado da ação daninha do inseto. Assim, esse serzinho foi chamado de “cupim”, pois o tupi-guarani “kupi’i” significa “aquilo que é roçado”. E, aqui, “roçar” tem nada a ver com dar uma esfregada de leve..., uma passada de mão boba..., uma fricçãozinha numa encoxada e coisa e tal.

Esse “roçado” tem a ver com o significado mais antigo do verbo “roçar”, que é “cortar”, “corroer”, “desgastar”, originado do sentido mais ancestral do termo: “limpar um campo de matos e ervas”, do latim vulgar “ruptiare”, com visível descendência do verbo (no passado) “ruptus”, por sua vez provindo do verbo “rumpere”, que significa “romper”.

Os latinos deram-lhe o nome de “térmitas” ou “térmites”, proveniente de “termes”, “termitis”, conexo com o grego “téredon” ou “téredonos” -- em todos os casos com o significado de “verme que rói a madeira”.

Só os termos e sentidos das palavras nos quatro idiomas (tupi-guarani, latim, grego e português) já provoca calafrios a quem tenha como vizinhos ou hóspedes esses mocinhos.

Como disse no início, tive uma devastadora experiência com essa turminha de insetos. Em uma das casas em que residi, depois que retornei de Brasília, havia – e só fui saber após desastre – as pequenas galerias ou microtúneis subterrâneos por onde transitavam e a partir de onde os cupins detectavam a presença de comida, na superfície. Ardilosos, astutos, manhosos, os cupins comem só até determinado ponto, deixando uma “parede” externa, que dá a ilusão (ao proprietário) de que está tudo bem... Na verdade, os cupins fazem isso por autopreservação: eles não resistem à luz solar.

Cupins podem passar anos e anos dentro da madeira de móveis e estruturas de imóveis. Eles me lembram os “sleepers”, pessoas que permanecem dentro de uma sociedade por anos para, no momento certo, atacarem.

Concorrentes das traças, cupins também gostam, e muito, de livros – na verdade, da celulose que neles há. Assim, onde tem celulose tem – ou pode vir a ter – chance de aparecer cupim.

Mas se engana quem acha que cupins só comem “coisas” de madeira e de celulose em geral. Praticamente omnívoros, eles roçam, capinam, fazem o pente-fino: madeira (assoalhos, esquadrias, forros, madeiramentos, móveis, parquetes e outros artefatos de madeira), gesso (que recebe reforço com fibras de celulose; gesso acartonado, “drywall”), livros e outros itens de celulose (papel, cartão, papelão...), os discos de vinil e o vinil de outros objetos, cereais (arroz, milho, feijão...) e até culturas agrícolas e florestas implantadas.

Os cupins fazem moradia, se precisar, em couro e em tecidos, concreto e alvenaria, fundações e “radier”, paredes e lajes, cabos de eletricidade e de telefone, alumínio, chumbo e plástico... E tudo isso, se não comerem, eles estragam, corroem, destroem... Passam o rodo em quase tudo.

Há registros de até ferro e aço serem pacientemente corroídos pelos cupins, se esses elementos estiverem interpondo-se entre aqueles insetos e a comida que eles detectaram.

São quase três mil espécies de cupins; no Brasil, estão perto de trezentas delas. Em uma colônia, são mais ou menos um milhão de cupins. São postos de dois mil a três mil ovos... por dia.

Indígenas da Amazônia comem cupins, assados ou cozidos e ainda os usam como condimento, pois teriam gosto de sal. Como os grupamentos humanos não índios não adotam esse saudável hábito, os bichinhos vão prosperando em nossas comunidades, urbanas, suburbanas e rurais. Além de fazerem o mal para nós, esses bichinhos ainda nos fazem inveja:

a) para começar, têm a propriedade da neotenia, isto é, ao se tornarem adultos, retêm suas características de jovens;

b) estão no topo da chamada eussocialidade, ou seja, o mais alto grau de organização social complexa dos animais, comparados às formigas e às abelhas; portanto, têm seu reino, são praticamente majestades...;

c) podem desenvolver a capacidade de voar (tanto que tem o termo “asa” em grego no nome científico: “isóptero”, do grego “iso-”, ‘igual, e “-ptero”, ‘asa’. Ou seja: que tem asas iguais);

d) e, só para finalizar, desde novinhos têm órgãos sexuais e reprodutores de adultos bem formados, prontos para “atuarem”...

Com algo de xenófobo, pelas redes sociais veem-se mensagens do tipo “C” de “coronavírus”, “C” de “covid”, “C” de “China”... Imagine se soubessem de onde vêm os cupins – da Ásia...

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Todo tempo é tempo de cupim. Se o os dias são de chuva ou se faz calor gostoso, ele diz: “Está pra mim”, pois todo tempo é tempo de cupim...

Nesta toada, se gostassem dos clássicos, os cupins adorariam Vivaldi e “As Quatro Estações”...

* EDMILSON SANCHES

A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou nesta segunda-feira (26), em seu portal, o projeto Novas Palavras, que oferece ao público curiosidades sobre palavras e termos da língua portuguesa, revelando seus significados, derivações e categorias gramaticais.

“O projeto consiste no aprofundamento do que vem sendo produzido pelo setor de lexicografia e lexicologia, o cuidado com as palavras, e na divulgação do trabalho”, disse à Agência Brasil o presidente da ABL, Marco Lucchesi. Segundo o professor, a academia tem um setor importante, dirigido pelo acadêmico Evanildo Bechara, que tem, entre suas atribuições, o arcabouço ortográfico da língua portuguesa, com base nas instruções de Bechara a um corpo seleto de filólogos.

Lucchesi informou que, agora, a ABL teve a ideia de dar maior visibilidade a essas novas palavras por meio de seu “site”, que se tornou, com a pandemia do novo coronavírus, “uma grande janela de sociabilidade e de comunicação, enquanto não se encontram meios de conter e mitigar a pandemia”.

Antena sensível

Palavras como “covid”, que não faziam parte do vocabulário do brasileiro antes da pandemia, estarão explicadas no projeto. De acordo com Lucchesi, o que se pretende é manter uma espécie de antena sensível, que capte alguma relevância específica, porque são palavras novas que, não necessariamente, foram criadas do nada e estavam ou pertenciam a alguma família, situação ou franja semântica.

“A academia vai trazer à tona um pouco da história dessas palavras e dar um determinado contorno e precisão para os meios de comunicação, as escolas que se interessem, sobre a melhor forma de se pronunciar aquela palavra e significação de que a palavra é portadora”, afirmou Lucchesi.

Ele disse que isso se aplica também a palavras que ganharam um novo sentido e lembrou que a vida das palavras é marcada por um sentimento de tempo, que é a diacronia, e um sentimento de permanência, que é a sincronia. “Mas, na verdade, tudo tem o seu movimento. Às vezes, pequenas diferenças que estão em franjas semânticas ou neologismos, a academia colocará um pouco essa história no site.

A instituição já tem o serviço ABL Responde, que tira dúvidas sobre expressões e questões ortográficas, de modo geral. No momento, a Comissão de Lexicografia e Lexicologia está elaborando o Dicionário Machado de Assis, que deverá ficar pronto em um ano. “A academia está empenhada em cuidar do que os seus estatutos dizem, que é o cultivo da língua e da literatura nacionais”, concluiu Lucchesi.

Acesso

O projeto poderá ser acessado por meio de um “link” próprio, que será definido e alimentado toda semana. Os termos escolhidos são palavras ou expressões que passaram a ter uso corrente na língua portuguesa.

Segundo a assessoria de imprensa da ABL, na página, será possível encontrar informações sobre a categoria gramatical da palavra, as palavras derivadas, definição, abonações, informações complementares e referências bibliográficas. O interessado poderá ainda pesquisar sobre as palavras anteriores disponibilizadas no portal.

(Fonte: Agência Brasil)

Eclipse parcial da Lua

O Observatório Estratosférico de Astronomia Infravermelha (Sofia, na sigla em inglês) da Nasa, a agência aeroespacial norte-americana, anunciou, nesta segunda-feira (26), a descoberta de água na superfície iluminada da Lua.

Moléculas de H²O foram achadas na cratera Clavius, localizada no hemisfério sul lunar, uma das maiores crateras visíveis do satélite natural. Observações anteriores já haviam mostrado a presença de hidrogênio no local, mas essa é a primeira vez que água é detectada na Lua.

A quantidade de água observada é o equivalente a 354,9 mililitros, um pouco mais da metade de uma garrafinha de água mineral. O líquido está contido em um metro cúbico de solo espalhado pela superfície lunar.

“Tínhamos indicação de possibilidade da presença de H²O no lado iluminado pelo Sol da Lua”, afirmou Paul Hertz, diretor da Divisão de Astrofísica da Nasa, durante o evento de divulgação da descoberta. “Agora, sabemos onde está. Essa descoberta desafia nossa compreensão da superfície lunar e levanta questões intrigantes sobre recursos na exploração do espaço profundo”, concluiu.

Recurso escasso

Apesar da importância da descoberta, a quantidade de água achada em solo lunar serve para confirmar novamente uma afirmação antiga da ciência: a água é um recurso extremamente escasso e raro na natureza. Segundo dados da Nasa, em comparação, o Deserto do Saara tem 100 vezes a quantidade de água detectada em solo lunar.

“A água é um recurso precioso, tanto para propósitos científicos quanto para os nossos exploradores”, disse Jacob Bleacher, chefe de Exploração Científica da Nasa. “Se pudermos usar o recurso na Lua, podemos levar menor quantidade [de água] e mais equipamento para ajudar em novas descobertas científicas”, salientou.

(Fonte: Agência Brasil)

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Na efervescência daquele decênio de luz [lê-se 1960], apareceu o movimento literário Academia Maranhense dos Novos (Amano), composta por Carlos Cunha, Fernando Sá Vale, Américo Azevedo Neto, José Maria Nascimento, Marconi Caldas, Murilo Sarney, Edson Vidigal e Fernando Braga....

Discutíamos nossos projetos editoriais para o futuro, declamávamos poemas nossos e dos outros, a trocar ideias sobre os últimos livros lidos ou ainda em leitura. A exemplo do Cenáculo Graça Aranha fundado pela juventude maranhense de 30, pelo Grupo Ilha e pelo Centro Cultural Gonçalves Dias, já submetidos a um estudo socioliterário pelo nosso ensaísta Rossini Corrêa, em seu fantástico livro “O Modernismo no Maranhão”, São Luís, UFMA, 1982. 108 p.

Nesse meio tempo, acontecia, em São Luís, a “Exposição Eleuteriana”, nome em homenagem ao mecenas português Eleutério da Silva Valério, fundador do Teatro União, depois São Luís e hoje Artur Azevedo. Essa exposição foi uma criação imortal do professor, poeta, historiador e grande animador cultural Carlos Cunha, um movimento sem precedentes na História Literária do Maranhão.

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A seguir... Artigo de José Chagas – “Vá à Exposição”, “Jornal do Dia”, 15/7/67.

Quero hoje pedir aos meus leitores que façam uma visita ao “hall” do Teatro Artur Azevedo, onde foi, anteontem, inaugurada uma exposição de arte e que, sem dúvida nenhuma, constitui um dos fatos mais importantes para nossa vida cultural. Começa por ser algo diferente de tudo quanto já se fez aqui no Maranhão nestes últimos anos. Qualquer coisa que vale a pena ver, não apenas por curiosidade, mas para sentir de perto a verdade clara de que uma nova mentalidade congraça todos os intelectuais da terra, para um movimento digno de situar-se no plano de nossas melhores tradições.

A exposição que já agora tomou o nome de “eleuteriana”, o que, no caso, significa conciliação, harmonia, uma homenagem ao fundador do Teatro União, que hoje se chama Teatro Artur Azevedo. O português Eleutério da Silva Varela é o homenageado. Evocando a figura quase nunca lembrada desse luso empreendedor, e, ao mesmo tempo, o velho nome do teatro que ele fundou, os nossos artistas procuram, assim, buscar, no passado, inspiração e estimulo para as suas manifestações atuais. E por isso, pondo de parte escolas e pontos de vista diferentes, deixando de lado as divergências improdutivas, uniram-se agora, naquele mesmo teatro, velhos e novos, passadistas e modernistas, acadêmicos e não acadêmicos, todos sob o empenho de corporificar o espírito de nossa gente, dando forma definida ao conjunto de nossas atividades tão dispersas antes.

Que ninguém deixe de visitar a exposição onde poetas de todas as escolas, pintores de correntes diversas, escultores em madeira e em gesso, estão ao alcance do povo, que tem, agora, feliz oportunidade de contemplar, de uma só vez, os nossos principais artistas e ter uma ideia bem aproximada do que se está fazendo em São Luis, dentro do setor cultural.

Lá, você terá poesias de Assis Garrido, de Fernando Viana, de Paulo Nascimento Moraes, de Bernardo Coelho de Almeida, de Nascimento Moraes Filho, de Arlete Nogueira da Cruz, de Antônio Almeida, de Nauro Machado, de Jomar Moraes, de José Maria Nascimento, de Carlos Cunha, o idealizador da exposição, de Bandeira Tribuzi, de Jamerson Lemos, de Fernando Braga, de Américo Azevedo Neto e muitos outros entre os quais também estou.

Lá, você verá as esculturas em gesso do garoto Santos Neto, uma revelação, e as esculturas em madeira do nosso já conhecido Luís Carlos Santos, que, desta vez, se apresenta com esplêndidos trabalhos.

Lá, você verá a pintura de Garcês, surpreendentemente evoluída, numa prova de que o moço reafirma o seu talento já demonstrado numa exposição outra realizada neste ano, e também verá a pintura de Virgínia Eftimie, artista romena, que se acha em São Luís, há mais de seis anos, e só agora encontrou ambiente para chegar ao conhecimento de todos nós. Ela está prestigiando, com seu talento, a exposição e é uma descoberta de Maia Ramos, que, desta vez, expõe trabalhos em raízes, diante dos quais você terá ensejo de deleitar-se com verdadeiros achados, autênticas maravilhas de formas a que a sensibilidade do artista soube tão bem dar vida. E, coroando a exposição, você encontrará o talento maior de Antônio Almeida, apresentando, ali, alguns desenhos cuja expressividade artística e verdade estético-formal revelam, mais uma vez, a consciência absoluta do pintor mais seguro que São Luís tem atualmente. Os desenhos são esboço de um painel que Almeida está pintando em um dos nossos bancos.

Todos esses artistas estão à sua espera. Vá. Não custa nada. O teatro está aberto para você até quinta-feira.

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Nesses apontamentos, o poeta Bandeira Tribuzi, em sua Coluna “Assim é, se lhe Parece!”, no “Jornal do Dia”, de 16 de julho de 1967, fala sobre os jovens talentos do Maranhão que expunham seus trabalhos na chamada “Exposição Eleuteriana”. Leia...

Note-se: não estou aqui comentando os artistas consagrados. Note-se: não estou, com isso, querendo dizer que os artistas consagrados não estejam bem representados. Penso, porém, que, quem já está consagrado menos precisa de encômios. E mesmo que iria eu aqui acrescentar a um José Chagas, um Nauro Machado, um Antônio Almeida?

Falo dos “novos” assim entendendo os que, há menos tempo, estão participando da vida intelectual e artística. Maia Ramos, por exemplo, que já se constituíra excelente surpresa na recente mostra coletiva, revelando um mundo de alegre cor em mistura sutil de inocência e malícia, volta agora e sobretudo com suas raízes-esculturas e consegue coisa de grande beleza e vigor.

Os escultores Luís Carlos e Santos Neto expõem trabalhos que merecem observação demorada, sobretudo o primeiro que está aprimorando rapidamente sua capacidade e já chegou a algumas formas bem modernas e puras. São aristas de inquestionável vocação, jovens ainda e com um extraordinário futuro.

Dois poetas, igualmente jovens, comparecem com boa poesia a revelar não apenas sensibilidade aguçada, mas até mesmo bom domínio do artesanato poético: Fernando Braga e Azevedo Neto.

Mas é, sobretudo para o exuberante talento de Antônio Garcez que desejo chamar a atenção. Participou ele, recentemente, da mostra coletiva de pintura e ali misturara, ao lado de exercícios bastante acadêmicos, experiências novas e pessoais que indicavam a abertura para o pintor, de um novo caminho. Chegou a ele já como se vê agora: perspicácia no uso da cor, coragem na modelação das formas, dando a seus trabalhos marcante plasticidade. É, sem dúvida, extraordinária vocação.

Estou certo de que todos estes nomes darão muito que falar no futuro.

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Ainda sobre a “Exposição Eleuteriana”, Paulo Nascimento Moraes, no “Jornal do Dia”, de 23 de julho de 1967, voltava ao assunto. Leia...

Carlos Cunha leva, para o “hall” do Artur Azevedo (fato inédito na vida artística da cidade), uma admirável exposição de arte que honra e dignifica as nossas tradições de cultura e inteligência. O demolidor do histórico milagre teve como pretensão: demolir, por alguns instantes, as igrejinhas e unir os intelectuais e crucificá-los em painéis e paredes da nossa tradicionalíssima casa de espetáculos. E a exposição que já conquistou o nome de eleuteriana, pois ela significa uma homenagem ao fundador do Teatro União, hoje Artur Azevedo, o português Eleutério da Silva Varela, motivo e causa da realização da referida amostra de arte. A exposição marcou um acontecimento importante na vida artística e social da cidade.

E é preciso agora que o povo e que a sociedade prestigie a Exposição com suas presenças, visitando-a, tonando conhecimento da presença dos intelectuais e dos artistas maranhenses que lá estão com seus quadros e com suas produções poéticas. Sim. Isto é preciso. Que o povo vá ao Teatro Artur Azevedo e, lá, encontrará as poesias de José Nascimento Moraes Filho, de Arlete Nogueira da Cruz, de Nauro Machado, de José Maria Nascimento, de Lauro Leite Filho, de Carlos Cunha, de Fernando Braga e de tantos outros. Lá, encontrarão os artistas do pincel, trabalhos admiráveis, todos numa exaltação do que há em nossa terra, da grandeza intelectual, como Antônio Almeida, Ambrósio Amorim, Newton Pavão e tantos... Um grupo de valores mentais no cultivo da inteligência. E, diante de todos, estão ainda Garcês, com uma nova técnica, com uma nova expressão de arte. E, depois, entrará em contato com este fabuloso Maia Ramos, o poeta dos Noturnos, das cores, apresentando outro aspecto de sua capacidade artística, de criar, de produzir belezas. Com Maia Ramos, agora, os seus trabalhos em raízes. Aí, fica mais a descoberto a sensibilidade do artista português. (...) E a exposição foi uma consagração da vida artística de nossa terra.

* Fernando Braga, in “Travessia” [“Memórias de um aprendiz de poeta e outras mentiras”], livro em construção.

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– Enroladas ou desfraldadas, as bandeiras eleitoreiras, mais que mostrar candidatos, revelam a situação dos seres humanos que as carregam e o modo como permanecerão: ENROLADOS pelos políticos e DEFRAUDADOS pela ação deles.

– É o lenhador sendo forçado a fazer as pontas da estaca que o empalará.
É o afiador afiando o machado que o decapitará.
É o cordoeiro fazendo a corda que o enforcará.
São eleitores carentes contribuindo para eleger os que vão mantê-los no estado de carência.

– Um sanduíche de enganações é periodicamente servido aos eleitores.

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Uma história que se repete.

O sol na cidade está de rachar. Sob ele, pedestres caminham apressados e, como mariposas que buscam a luz, as pessoas procuram uma réstia de sombra próximo a paredes e muros de edificações e terrenos.

Estamos em época de campanha eleitoral. Eleições. No meio da paisagem humana, um grupo de mulheres – sobretudo mulheres – e homens mantém-se estático, parado, por força de um emprego sazonal, estacional, bianual, quadrienal, eleitoral: agitadores de bandeira de candidatos.

Mas aqueles homens e mulheres ali, expostos ao sol como carne seca, não são agitadores de bandeiras. No máximo, são portadores de bandeira. Porque a bandeira de material sintético muitas das vezes está sendo utilizada é para encobrir a cabeça. Ainda assim, o estandarte é instrumento sólido e incerto para substituir a ação de um protetor solar certo e líquido.

Quem tem olhos de ver e sentimentos de sentir poderá perceber o que há de triste, trágico e desolador naquelas pessoas expostas ao sol: mais do que uma bandeira, o que está sendo exposto explicitamente ou subliminarmente é uma realidade social, a carência econômica de uma farta porção da população.

A inclemência do clima não faz acordos com a malandragem desse espécime danoso à natureza humana: o político safado, malandro, egoísta e egocentrista, que, malbaratador de desculpas, equilibrista de justificativas, contorcionista de palavras, é desapossado de sensibilidade social verdadeira, profunda, carnal-mental – essa sensibilidade é só recheio retórico, para formar o sanduíche de enganações que periodicamente é servido a eleitores.

As bandeiras são desfraldadas por pessoas que foram defraudadas...

Um dos significados do substantivo "defraudação" é “tirar algo de alguém”. Outro significado: “subterfúgio para enganar”.

Quem tem olhos de enxergar e sentimentos de sentir estenderá a visão do pelotão de porta-bandeiras eleitorais para além das calçadas superensoladas das ruas e avenidas e praças e esquinas da grande cidade.

Com visão de raios-X, sem precisar ser super-herói de histórias em quadrinhos, o que se revela ali, após as camadas de superficialidades, são pessoas vitimizadas pela pouca ação, inação, omissão, enganação e esculhambação dos detentores de mandatos que os próprios portadores de bandeira ajudaram a visibilizar e eleger.

São eleitores carentes contribuindo para eleger os que vão mantê-los no estado de carência.

É o lenhador sendo forçado a fazer as pontas da estaca que o empalará.

É o afiador afiando o machado que o decapitará.

É o cordoeiro fazendo a corda que o enforcará.

Como certa vez, em minha residência, disse, à época, o juiz Márlon Reis, um dos responsáveis pela Lei da Ficha Limpa: candidato cujas bandeiras só são agitadas pelo pagamento de dinheiro e não pelo convencimento das propostas, esse deveria sair da política.

Mas, como se sabe, esses políticos malandros não são, nunca foram e jamais serão altruístas a ponto de fazerem esse benefício à humanidade, humanidade que seria melhor se pudesse ver-se livre deles no exercício do cargo público e na administração da coisa pública.

Como corvos humanos, assumem cores diversas e deixam sua cor original – preta – para a situação social que encontra, que os realimenta e que se negrita ainda mais com a eleição, manutenção, permanência desses malas,... desses malandros...

A miséria que pagam a essas pessoas, prevalecendo-se da falta de condições econômicas e, às vezes, de escolaridade e consciência crítica, é um ato de subjugação dos fracos pelos fortes.

Enroladas ou desfraldadas, as bandeiras eleitoreiras, mais que mostrarem candidatos, revelam a situação dos seres humanos que as carregam e o modo como permanecerão:...

... ENROLADOS pelos políticos...

... e DEFRAUDADOS pela ação deles.

* EDMILSON SANCHES

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Foto meramente ilustrativa (em Santa Catarina, 2018).

Uma mostra de cinema promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) vai exibir 44 filmes de terror brasileiros contemporâneos, a partir desta quarta-feira (28), pela “internet”. A mostra “MacaBRo – Horror Brasileiro Contemporâneo” apresentará ao público longas e curtas realizados por cineastas nacionais nos últimos cinco anos.

Devido à pandemia de covid-19, a mostra será feita de forma “on-line”, até o dia 23, e os filmes serão exibidos gratuitamente na plataforma Darkflix. Além dos filmes, serão realizadas palestras, debates e cursos também virtuais.

Os longas-metragens ficarão disponíveis por 24 horas, com um limite de visualizações (saindo do ar assim que atingir esse limite). Já os curtas ficarão no ar por uma semana.

Entre os longas que serão exibidos na mostra, estão “Morto Não Fala”, de Dennison Ramalho, “O Animal Cordial”, de Gabriela Amaral Almeida, “Sem Seu Sangue”, de Alice Furtado (que estreou no Festival de Cannes), “Quando Eu Era Vivo”, de Marco Dutra, “Terminal Praia Grande”, de Mavi Simão, “O Clube dos Canibais”, de Guto Parente, “Condado Macabro”, de André de Campos Mello e Marcos DeBrito, e “Mal Nosso”, de Samuel Galli.

Os dois últimos longas de Rodrigo Aragão, “O Cemitério das Almas Perdidas” e “A Mata Negra”, também estão na programação da mostra, que ainda contará com debates com o diretor.

“Percebi que as pessoas não conhecem mesmo, quase sempre nunca ouviram falar que existia horror sendo feito no cinema brasileiro contemporâneo. Eles até estão disponíveis em plataformas digitais, em canais a cabo, mas você tem que procurar um a um, assinar esses serviços ou ter o canal disponível na sua TV a cabo. Com essa mostra, disponibilizando ‘on-line’, gratuitamente, a gente acredita que muita gente vai preencher essa lacuna de não poder conhecer o cinema de horror brasileiro”, disse Carlos Primati, que faz a curadoria da mostra com Breno Lira Gomes.

A mostra também homenageará José Mojica Marins, considerado o pai do cinema nacional de horror e criador do personagem Zé do Caixão, que faleceu no início deste ano. Serão exibidos os curtas “Saci”, dirigido por ele, e “Lasanha Assassina”, animação que tem a dublagem de Zé do Caixão.

Veja a programação:
Quarta-feira (28)
18h – “O Hóspede” (curta-metragem)
19h – “Live” com os diretores Ramon Porto Mota e Ian Abé da produtora homenageada Vermelho Profundo
20h – “A Noite Amarela” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)

29 de outubro, quinta-feira
16h – “Cova Aberta” (curta-metragem)
18h – “O Nó do Diabo” – Episódio 1
20h – “Canto dos Ossos”

Sexta-feira (30)
18h – “O Nó do Diabo” – Episódio 2
19h – “Live” com Mariah Benaglia e Jhésus Tribuzi da produtora Vermelho Profundo
20h – “Os Mortos” (curta-metragem)

Sábado (31)
15h – “O Nó do Diabo” – Episódio 3
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 1
18h – “O Desejo do Morto” (curta-metragem)
19h – Debate: “O Terror e o Cinema Brasileiro”, com a cineasta Gabriela Amaral Almeida, o cineasta Rodrigo Aragão, a crítica de cinema Flávia Guerra. Mediação do curador Carlos Primati.
20h – “A Mata Negra”

Domingo (1º/11)
16h – “O Nó do Diabo” – Episódio 4
18h – “Mais Denso que o Sangue” (curta-metragem)
20h – “Não tão Longe” (curta-metragem)

Segunda-feira (2/11)
16h – “O Nó do Diabo” – Episódio 5
18h – “Sem seu Sangue” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)
19h – “Live” com o curador Carlos Primati e a diretora de “Sem seu Sangue” Alice Furtado
20h – “As Núpcias de Drácula”

Terça-feira (3/11)
18h – “A Noite Amarela” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)
20h – “Os Jovens Baumann” (Acessível: Legenda descritiva e interpretação em Libras)

Quarta-feira (4/11)
18h – “Christabel”
19h – “Live” com a pesquisadora Laura Loguercio Cánepa e a diretora homenageada Gabriela Amaral Almeida
20h – “O Animal Cordial”

Quinta-feira (5/11)
18h – “Uma Primavera” (curta-metragem)
20h – “#ninfabebê”

Sexta-feira (6/11)
18h – “Estátua!” (curta-metragem)
19h – “Live” com o curador Breno Lira Gomes e o ator de “Quando eu era vivo” Antônio Fagundes
20h – “Quando eu era Vivo”

Sábado (7/11)
14h – “O Segredo dos Diamantes”
15h – “A Mão que Afaga” (curta-metragem)
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 2
18h – “O Caseiro”
19h – Palestra com a cineasta Gabriela Amaral Almeida com o tema “Escrevendo histórias de terror para o cinema”
20h – “A sombra do pai”

Domingo (8/11)
16h – “O Animal Cordial”
18h – “O Clube dos Canibais”
20h – “Condado macabro”

Segunda-feira (9/11)
18h – “Quando eu era vivo”
19h – “Live” com o curador Carlos Primati e o diretor de “Quando eu era vivo” e montador dos curtas da homenageada, Marco Dutra
20h – “Terminal Praia Grande”

Terça-feira (10/11)
18h – “A sombra do pai”
20h – “Terra e luz”

Quarta-feira (11/11)
18h – “A capital dos mortos 2: Mundo morto”
20h – “Nocturnu” (curta-metragem)
21h30 – “Live” com o crítico Marcelo Miranda e o cineasta homenageado Dennison Ramalho

Quinta-feira (12/11)
16h – “Canto dos ossos”
18h – “Amor só de mãe” (curta-metragem)
20h – “Quando o galo cantar pela terceira vez renegarás tua mãe”

Sexta-feira (13/11)
18h – “O diabo mora aqui”
19h – “Live” com o curador Breno Lira Gomes e a atriz de “Morto não fala” Bianca Comparato
20h – “Morto não fala”

Sábado (14/11)
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 3
18h – “As núpcias de Drácula”
19h – Debate: “A atuação no cinema de terror”, com a atriz Luciana Paes, a crítica de cinema Cecília Barroso. Mediação do curador Breno Lira Gomes
20h – “Christabel”

Domingo (15/11)
16h – “Ninjas” (curta-metragem)
18h – “Condado macabro”
20h – “Mal nosso”

Segunda-feira (16/11)
16h – “A casa de Cecília”
18h – “O caseiro”
19h – “Live” com o curador Breno Lira Gomes e a atriz e produtora de “Através da sombra” Virginia Cavendish
20h – “Através da sombra”

Terça-feira (17/11)
16h – “Morto não fala”
18h – “Terra e luz”
20h – “A capital dos mortos 2: Mundo morto”

Quarta-feira (18/11)
18h – “O clube dos canibais”
20h – “O saci” (curta-metragem)

Quinta-feira (19/11)
16h – “A lasanha assassina” (curta-metragem)
18h – “#ninfabebê”
20h – “Mal nosso”

Sexta-feira (20/11)
18h – “O segredo de Davi” (Acessível: Legenda descritiva)
20h – “Tirarei as medidas do seu caixão” (curta-metragem)

Sábado (21/11)
14h – “O segredo dos diamantes”
16h – Curso com o curador Carlos Primati – Módulo 4
18h – “Os jovens Baumann”
19h – Palestra com a pesquisadora e crítica de cinema Beatriz Saldanha com o tema “Diretoras e o terror”
20h – “A casa de Cecília”

Domingo (22/11)
16h – “Através da sombra”
18h – “Coração das trevas” (“Coffin Joe’s Heart of Darkness” – curta-metragem)
20h – “Quando o galo cantar pela terceira vez renegarás tua mãe”

Segunda-feira (23/11)
18h – “O cemitério das almas perdidas”
19h – “Live” com o curador Carlos Primati e o diretor de “O cemitério das almas perdidas” e “A mata negra”, Rodrigo Aragão
20h – “A mata negra”

(Fonte: Agência Brasil)

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Está o Maranhão submetido a um novo tipo de governo. Governo evoluído. Governo progressista. Governo democrático. Governo povo. Governo independente. Governo político como afirmou José Sarney. E explicou: “e que terá a função de executar uma grande e alta política para mostrar ao Maranhão que a política não é arte de servir a pequenos interesses pessoais ou de grupos, mas a grande arte de promover realizações que, na realidade, o Povo e até mesmo a destinação histórica estão a exigir”.

Muito bem, governador Sarney. Política construtiva. Política de saneamento. Política positiva. Política restauradora. Política de amplitude. Política “destinada a ser um meio de coordenação de forças sociais”. Noutras palavras: política de reformas totais. E o povo não espera outra coisa. O momento não comporta outra orientação. É preciso haver mesmo mudanças profundas. E outro não foi o pensamento do povo na campanha eleitoral. E outro não foi o objetivo da luta do povo: sair do amadorismo, sair da estagnação, sair do aprisionamento duma política de conveniências perniciosas. Com Sarney, está, agora, a execução de um programa de governo altamente evoluído e desenvolvimentista.

E fazendo a proclamação do seu secretariado o governador José Sarney falou: “a nossa função será a de limpar o Maranhão daqueles vinte anos de primarismo político e do atraso, dando ao Povo, a todos, indistintamente, os mesmos direitos e os mesmos deveres para que possamos todos pensar em progresso definitivo e duradouro”. E mais adiante: “Todos os secretários que irão formar a nossa equipe de governo sabem que a nossa função é aquela de limpar o Maranhão daqueles vinte anos de primarismo político e de atraso, dando ao Povo maranhense, a todos, indistintamente, os mesmos deveres para que nós possamos realmente pensar em progresso definitivo e duradouro”. Aí está a reafirmação. Aí está o pensamento firme. A atitude inflexível. Aí está o pensamento duma orientação política administrativa que assegura, para o povo, a execução de um governo austero, um governo equilibrado, um governo sério, um governo “ordem e progresso”.

E veio a identificação do secretariado. Elementos novos na composição político-administrativa do governo oposicionista. Uma “galeria” de títulos e honrarias impressionantes. Gente capacitada. Gente inteligente. Gente sem a marca do protecionismo da política partidária. Gente independente. Gente limpa. Gente que poderá realizar, nos seus setores de trabalho, uma grande administração. Com José Murad, há o exemplo edificante. Com Pedro Neiva, a segurança duma administração séria, a força dum pensamento evoluído. Com Cícero Neiva, há a prudência, há a compreensão, há a atitude independente. Com os demais, há uma sequência de informativos positivos. Há referências destacadas. Há, com cada um, uma documentação fortíssima de capacidade intelectual. E a impressão geral é que Sarney soube escolher os seus auxiliares. E agora é esperar os resultados. É esperar, “corrente cálamo”, o funcionamento da máquina administrativa do novo governo, o governo do povo, o governo saído da luta popular, da luta de libertação da terra privilegiada.

No momento, há a expectativa. No momento, todos na cooperação. Todos com a disposição de ajudar Sarney. De ajudar a recuperação total do Maranhão. Deve mesmo haver, de verdade, a limpeza. Mas tudo feito dentro da ordem sem que haja a rebentação dos revides perigosos. O Maranhão precisa de trabalhos, de realizações. Precisa recuperar, quanto antes, o tempo perdido. E é esta agora a esperança do povo.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 1º de fevereiro de 1966, terça-feira.

O que está aí é uma prática porca. Uma porcaria
– Por que são chamados de “ladrões” os que estão no Poder?

– A política que aqui se faz não é a política que deve ser feita. Faz-se a política estética, não a política ética. A estética oferta (na verdade, empurra) imagem, máscara, encenação, disfarce. Sua cidade é cenográfica. É vazia de substância e sentido. Seus fazedores sabem que são enganadores. São virtuais, mas não virtuosos. Viverão pouco, mas iludem-se achando que são eternos. Não sobreviverão para a História, exceto como um bom exemplo... a não ser seguido.

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Estive anos atrás na Universidade Estadual do Maranhão. A convite, fui falar sobre “Ética e Desenvolvimento” para alunos e professores. Convidados especiais, inclusive empresários, também presentes. Este é um texto que escrevi à época.

A palestra teve excepcional receptividade. O que era para ser 60 minutos estendeu-se por mais de duas horas. Das 20h às 22h30 alunos, professores e convidados mantiveram-se firmes e, com isso, pagaram o salário invisível de quem fala: a atenção de quem escuta.

Diversos estudantes pediram-me para transformar em texto o que verbalmente lhes fora repassado. Assim, puxei da memória um pouco do que falei, que vai escrito a seguir.

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Falar de ética é, também, falar de esperança. Esperança em algo melhor. Todo ser de esperança é um portador de intranquilidades.

O ser humano ético-esperançoso é alguém que tem muitas ansiedades e algumas angústias. Para esse ser, esperança não é comodismo ou covardia disfarçados de virtude.

Longe das teses acadêmicas (relevantes, embora extenuantes), entende-se ética, aqui, como um conjunto de hábitos, atitudes e outros comportamentos tidos como positivos, justos, adequados.

Ética é o BBB – o Bem, o Bom, o Belo.

Pode-se afirmar sem medo de erro: É a falta de ética que está destruindo o ser humano e a natureza; é ela a raiz da pobreza, da miséria, das desigualdades. Simples assim. Por dispensarem os conceitos e ações éticas e por ambicionarem o dinheiro, o patrimônio, a fortuna, o poder a qualquer custo, certas pessoas incertas – como políticos, governantes e outras autoridades, além de gente da iniciativa privada – estão arrasando a humanidade.

Tem algo de muito errado em um mundo que gira cerca de 120 trilhões de dólares... ao lado de miseráveis, pedintes, esmoleres, esfomeados, doentes.

Tem algo de muito errado em um país (o Brasil) que não sofre terremotos, maremotos, furacões; um país que tem unidade territorial, linguística e religiosa; que tem subsolo rico, solo fértil, diversidade natural exuberante, extensão territorial continental... e ainda é um dos cinco piores países do mundo, com seus obscenos índices de desigualdade.

Tem algo de muito errado em um país onde, pelos dados e declarações oficiais, 85% (escreva-se: oitenta e cinco por cento) das prefeituras são corruptas ou cometem algum tipo de desvio; onde 75% (setenta e cinco por cento) do dinheiro da educação não chega ao professor, ao aluno, à escola, por desvios entre os órgãos federais até os municipais; onde quase R$ 700 bilhões já foram desviados, segundo processos na Justiça; onde 20% de todo o orçamento do governo é destinado à corrupção. Isso tudo está nos jornais e está na Justiça.

Tem algo de errado num Estado (o Maranhão) com uma das melhores qualidades de terra e de reservas hídricas (água), com localização estratégica... e ainda padecer humilhantes classificações em seus índices sociais e econômicos.

Tem algo de errado em um município (Imperatriz) que, embora seja um dos cem maiores em quantidade de gente, é um dos piores em qualidade de vida dessa gente (posições 2.313 e 2.583 em exclusão social e desenvolvimento humano). Onde as maiores ações é a adequada elaboração de promessas, compromissos, retórica e justificativas. “Media event”.

Esse “algo de errado” é, insista-se, a falta de ética, que leva à insensibilidade social, à apropriação de espaços e recursos públicos para a manutenção e ampliação de poder e patrimônio.

Não é sem fundamento que, quando aplicam a pecha de “ladrões” em incertos políticos, autoridades e governantes, o povo, talvez sem saber, está acertando em cheio. A palavra “ladrões” vem do latim “lateronis”, nome dos soldados que ficavam ao lado, isto é, nas laterais, dos reis e imperadores. Por estarem tão próximos ao poder, os “lateronis” davam-se ao luxo de roubar descaradamente coisas dos cidadãos comuns. Quem iria denunciar ou brigar com aqueles soldados altos, fortes, armados, gente do poder, amigos do rei?

Assim, começou-se a chamar “lateronis” a todos aqueles, soldados ou não, que tiravam, roubavam, furtavam. E no processo de evolução das palavras, “lateronis” virou “latronis”, que, em português, transformou-se em “ladrões”. Simples assim.

Portanto, ladrões são, desde a origem, certo tipo de gente que está no Poder. Reveja, leitor, os números nos diversos parágrafos acima e reconfirme o que a História e a Etimologia demonstram.

Ética não é frescura. Ética não é santidade ou santificação. Ética é para pessoas normais.

Ética é uma opção. Ou o mundo opta por uma existência ética... ou não existirá.

Ou governantes, políticos e autoridades reconsideram a via ética ou, então, abdiquem explicitamente da hipocrisia, do falso moralismo, da máscara, e entreguem-se ao Diabo, admitindo: o Mal venceu. E esbaldemo-nos todos, locupletemo-nos juntos.

Quantos seres humanos de hoje resistiriam àquela oferta do Capeta a Cristo, registrada por Lucas (capítulo 4, na Bíblia)? Reinos, poder e glória – tanto e tudo, apenas por uma adoraçãozinha? Que gentes de hoje diriam: “Vade retro, Satanas!” (Afasta-te de mim, Satanás!)

Por muito menos que reinos homens têm feito a opção pelo mal.

Por muito menos, governantes tornam-se genocidas, por roubarem o que deveria ser aplicado em favor da maioria miserável.

Por muito menos, profissionais empertigados, mascarados, se colocam à disposição de poderosos antiéticos e seguem sustentando o que eticamente é insustentável, em um jogo perverso de dissimulação e faz de conta, incensando o que e quem não presta com ações, escamoteações e, especialmente, com omissões. “A omissão é o pecado que se comete não cometendo”.

Tenho afirmado, recorrentemente: não há desenvolvimento sem conhecimento – conhecimento ético, inclusive.

Sócrates ensinava que a ética estava no conhecimento: ser virtuoso é ter saber – eis a máxima socrática.

Platão foi adiante e agregou o componente social: mais que boa pessoa, deve ser bom cidadão, e é na vida em sociedade que isso se justifica ou materializa.

Aristóteles fala-nos de felicidade como bem humano supremo.

Os estoicos, como Zenão, fala-nos de dever e de responsabilidade.

Epicuro junta o prazer – mas o prazer “light”, “soft”, comedido.

Plotino leva-nos à divindade como destino final do ser.

Aqui, saltam-se muitos anos na História e muitas teses nos estudos e chegamos a Nietzsche e sua “ética dos valores”. Valores são atemporais e inespaciais. Também não se quantificam. Valores não são. Valores valem. O ser humano pode não os adotar, mas eles, aprioristicamente, estão, existem. Valores não são apreendidos pela pessoa: esta é que é presa por eles.

No princípio era o Verbo. O verbo se fez carne, fez-se ser, gente. E esse ser (humano) carrega dentro de si a essência do que ele é: o verbo. “Somos as palavras que moram dentro de nós” (Rubem Alves).

Se políticos, autoridades, governantes têm em si, em sua mente, como ideia fixa, subjacente, subliminar, ainda que disfarçadamente, palavras como “poder”, “dinheiro”, “riqueza”, “ter”, “comprar”, “eu”, “eu primeiro”, se é isso que perpassa nos ocultos submundos mentais dessas pessoas com cargos e mandatos, é isso que elas são, é isso que elas, mesmo minoria, vão sempre querer... e é isso – poder, dinheiro, riqueza... – o que faltará à maioria.

A política que aqui se faz não é a política que deve ser feita. Faz-se a política estética, não a política ética. A estética oferta (na verdade, empurra) imagem, máscara, encenação, disfarce. Sua cidade é cenográfica. É vazia de substância e sentido. Seus fazedores sabem que são enganadores. São virtuais, embora não virtuosos. Viverão pouco, mas iludem-se achando que são eternos. Não sobreviverão para a História, exceto como um bom exemplo... a não ser seguido.

A política necessária ainda não existe. Ela é uma promessa, uma esperança – e o que está aí é uma prática, uma prática porca.

Uma porcaria...

* EDMILSON SANCHES

(escrito e publicado em outubro de 2014)

3

Esta é minha palavra,
o meu conjunto confuso
e inextricável de elementos...
É o poema que me busca
e me traz para a superfície,
para que eu possa dizer-me
e ouvir-me tantas vezes,
e expor-me a pensamentos
onde sou sujeito e objeto...
Este é o magma do meu
logos racional,
do meu dever-ser
mais que perfeito e natural
poético, Crístico e complexo...

* Fernando Braga, in “Magma”, Goiânia, 2014.

Continuamos, neste domingo, falando sobre...

Palavras homônimas e parônimas

...

66. PEÃO ou PIÃO
Peão = indivíduo que anda a pé, trabalhador:
Nesta fazenda, há muitos peões.

Pião = brinquedo:
Teu filho ganhou um pião.

67. PEQUENEZ ou PEQUINÊS
Pequenez = qualidade do que é pequeno:
Sua pequenez levou-o à derrota.

Pequinês = raça de cachorro (originário de Pequim):
Cuidava do pequinês com carinho.

68. PERCEBER ou APERCEBER-SE
Perceber = notar:
Ele não percebeu os detalhes.

Aperceber-se = prover-se de, ficar ciente:
Ele não se apercebeu do necessário.

69. PRAGA ou PLAGA
Praga = maldição, desgraça:
Era uma praga de gafanhotos.

Plaga = região, terra:
Levar a glória a plagas distantes.

70. PRECEDENTE ou PROCEDENTE
Precedente = antecedente:
É um criminoso sem precedentes.

Procedente = proveniente, legítimo:
Ele é procedente do sul.
Era um argumento procedente.

71. PRESCRIÇÃO ou PROSCRIÇÃO
Prescrição = ordem, receita ou prazo vencido:
Estes medicamentos só podem ser vendidos com prescrição médica.
O prazo já prescreveu.

Proscrição = expulsão, eliminação:
O soldado foi proscrito.

72. PREVIDÊNCIA ou PROVIDÊNCIA
Previdência = que prevê:
Sua previdência evitou o desastre.

Providência = medida a ser tomada:
Não tomou nenhuma providência contra o abuso dos lojistas.

73. PREVIDENTE ou PROVIDENTE
Previdente = prudente:
Vive bem hoje, porque foi um jovem previdente.

Providente = que se abastece de:
O estoque estava em dia, porque foi providente.

74. PROVER ou PROVIR
Prover = abastecer, fornecer:
Ele deve prover o seu armazém.

Provir = vir de, originar-se:
Isto pode provir do espaço sideral.

75. PROSTRAR-SE ou POSTAR-SE
Prostrar-se = curvar-se:
Ele se prostrou diante da imagem sagrada.

Postar-se = colocar-se:
Ele se postou diante da porta até ser atendido.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo?
“Espero que não __________ obstáculos __________ realização das provas, daqui __________ uma semana”.
(a) haverão / à / a;
(b) hajam / a / à;
(c) haja / à / a;
(d) tenham havido / à / há;
(e) haja / à / há.

Resposta do teste: Letra (c)
O verbo HAVER, no sentido de “existir”, é impessoal (= sem sujeito), por isso só pode ser usado no singular (= haja). Se há obstáculos, é sempre “a” alguma coisa, ou seja, o substantivo OBSTÁCULOS pede a preposição “a”, que se junta ao artigo “a”, que define “a realização”, por isso ocorre a crase (= … haja obstáculos à realização…). A última lacuna deve ser preenchida unicamente com a preposição “a”, pois se trata de “tempo futuro” (= … daqui a uma semana). É bom lembrar que a forma verbal “há” só se refere a tempo decorrido (= faz): “Não nos vemos há uma semana” (= faz uma semana).