A diversidade do patrimônio cultural do Brasil estará presente na série de atividades à disposição do público, desta segunda-feira (11) à próxima sexta (15), no prédio da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Rio de Janeiro, na Avenida Rio Branco, 46, no centro da cidade.
As atividades gratuitas, como apresentações musicais, oficinas e rodas de conversa, estão incluídas em ações definidas pelo Iphan com o tema Mês do Patrimônio - Participação Social, Territórios e Sustentabilidade. A proposta é uma agenda descentralizada e colaborativa, a ser praticada nas suas superintendências regionais, em parceria com a sociedade civil organizada em todo o país.
“Os territórios e comunidades são a temática do Mês do Patrimônio do Iphan. A gente tentou juntar esses dois conceitos, que são a mola mestra do patrimônio cultural em atividades que envolverem as duas coisas e nada melhor do que escola, patrimônio e música”, disse a superintendente do instituto no Rio, Patricia Wanzeller, em entrevista à Agência Brasil.
A programação prevê um debate sobre a cultura afro-brasileira e a escolha do Bembé do Mercado como enredo da Beija-Flor de Nilópolis. A escola de Samba vai apresentar na avenida, no carnaval de 2026, a história desse que é o maior candomblé de rua do mundo, reconhecido, desde 2019, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. A conversa, na quarta-feira (13), terá a participação do carnavalesco Mílton Cunha e de representantes da azul e branco da Baixada Fluminense. No mesmo dia, uma apresentação da bateria da Beija-Flor de Nilópolis vai animar o público.
O samba não será o único gênero musical no encontro. As atividades têm ainda o Choro no debate Entre cordas e sopros: o Choro como Patrimônio Cultural do Brasil e um show do grupo Caras & Coroas. A presença feminina no Forró e na Literatura de Cordel terá destaque com uma apresentação, na quinta-feira (14), do Projeto Mulher Forrozeira, além da presença do Jongo, importante manifestação cultural afro-brasileira característica da Região Sudeste. “Este ano, a gente terá como foco não só o forró. Vamos falar da mulher no forró, um papel que ainda precisa ganhar visibilidade”, afirmou.
Oito anos após o reconhecimento como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), os participantes vão receber informações sobre a importância do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo, na região portuária da capital. O debate terá a participação do historiador, escritor e mestre em bens culturais Thiago Gomide, da jornalista Mônica Sanches, de Alexandre Nadai, do Instituto Pretos Novos, de Gracy Moreira, da Casa da Tia Ciata, e de e Célio Oliveira, do grupo Afoxé Filhos de Gandhi. A mediação será do representante regional no Rio de Janeiro da Fundação Cultural Palmares, Eliel Moura.
Alunos
A programação inclui ainda uma mesa de debates com o tema Jogos para uma Educação Patrimonial. De acordo com a superintendente, o objetivo é utilizar os jogos “para levar às crianças o conhecimento do que é um patrimônio cultural”. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio, será oferecida a oficina de educação patrimonial com Experimente Cultura, Maloca Games e Mestre Griô e a oficina do Afoxé Filhos de Gandhi, as duas destinadas a alunos da rede municipal de ensino.
“Temos um acordo de cooperação com a Secretaria Municipal de Educação e todos os dias haverá turmas de escolas que ficam perto aqui do Iphan, que vão participar de oficinas e de apresentações”, disse.
O público poderá acompanhar também oficinas, exibição do filme Choro, participar de visitas guiadas ao prédio da superintendência e assistir a apresentações de manifestações culturais reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil. Além disso foi montada nas instalações do Iphan a Feira Circuito Carioca, em que os expositores levarão seus produtos como Literatura de Cordel e Matrizes Tradicionais de Forró.
Dia do Patrimônio
Comemorado em 17 de agosto, o Dia do Patrimônio foi escolhida para homenagear o advogado e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade, que fundou o órgão em 1937. De acordo com o Iphan, a intenção de ter uma data específica é “celebrar e promover a preservação do patrimônio cultural brasileiro, tanto material quanto imaterial”.
O último dia do encontro terá também a Exposição das Bonecas de Artesãs do Quilombo São José da Serra, do município de Valença, no Vale do Café, no estado do Rio. A oficina de Jongo será com grupo do Quilombo São José da Serra em mais uma atividade exclusiva para alunos da rede municipal de ensino.
No encerramento haverá uma homenagem aos Amigos do Patrimônio do Rio de Janeiro e uma apresentação da Roda de Jongo do Quilombo São José da Serra. “A gente passeou pelas comunidades que habitam o cenário da sociedade carioca e as territorialidades dentro das expressões culturais que elas representam”, completou Patrícia Wanzeller.
“Vai ser a primeira vez que o prédio estará aberto à visitação pública, que as nossas portas, que são tão fotografadas, estarão abertas às pessoas que passam por aqui e têm curiosidade em saber o que acontece aqui dentro. A gente está querendo que o público entre, conheça o Iphan, saiba o que é o instituto e quem trabalha nele”, concluiu.
De acordo com a superintendente, a preservação do patrimônio cultural é uma forma de defender a soberania e a identidade do Brasil. “Neste momento em que a nossa soberania está sendo ameaçada por um país estrangeiro, que colocou a gente na parede, mesmo por questões econômicas, é muito importante quando a cultura entra como laço de identidade nacional. A cultura é nossa primeira foto de identidade, é quando eu, você e todas as pessoas que moram neste país quase continental nos identificamos como cidadãos do mesmo país. Mesmo com a nossa diversidade, a nossa origem é a mesma. Isso a gente consegue por meio da cultura, o grande laço de fortificação de soberania, de identidade de reconhecimento pátrio. É isso que nos une no final das contas. Resguardar esse patrimônio é também resguardar a nossa brasilidade, a nossa história”, afirmou.
Artistas com deficiência sempre existiram, mas por muito tempo o capacitismo os manteve excluídos da cultura brasileira. Ainda hoje, poucos deles são conhecidos ou reconhecidos no país e, no caso da literatura, poucos deles são lidos.
“A principal dificuldade dentro da discussão da literatura é reconhecer o sujeito com deficiência como um sujeito produtor”, destacou a pesquisadora, filóloga e escritora Amanda Soares, 25 anos.
Criadora do perfil no Instagram chamado PCD Perigosa, Amanda reforça que a literatura é um caminho para que as histórias de vida dessas pessoas com deficiência sejam conhecidas. No entanto, destaca ela, essas narrativas ainda são pouco acessíveis no país.
“A literatura é responsável por fazer com que a gente guarde a memória do mundo e com que a gente também reflita sobre um tempo específico do mundo. Ela é responsável por documentar cada tempo. Mas o que a gente sabe sobre pessoas com deficiência para além de acessibilidade e inclusão? Por isso é preciso estudar as narrativas de pessoas com deficiência, principalmente aquelas que são criadas sobre elas”, disse ela à Agência Brasil antes de dar uma oficina sobre Liter Def - literatura produzida por e para pessoas com deficiência - na Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flipelô, que acontece no centro histórico de Salvador.
Uma dificuldade encontrada por esses escritores, exemplificou Amanda, é conseguir participar de festas literárias, como a Flipelô, onde poderiam divulgar seus trabalhos.
“Pouquíssimos autores conseguem chegar aqui por uma série de questões financeiras ou estruturais porque o corpo com deficiência precisa de muito mais para conseguir se estabelecer. E a arte no Brasil é complicada, insalubre para qualquer corpo. Então, para um corpo que precisa demais, é bem complicado falar sobre essa visibilidade”.
Participar dessas festas literárias, defende Amanda, seria extremamente importante tanto para os escritores Liter Def quanto para seus leitores. “É necessário que a gente esteja presente fisicamente porque a literatura PCD [pessoa com deficiência], em geral, acaba se propagando no digital, que é muito importante, mas o contato físico ou o contato humano é muito significativo para a construção da memória porque é a partir dele que a gente entende a as características de humanidade. Eu me reconheço em você e você, mesmo sendo uma jornalista que não tem uma deficiência, se reconhece em mim em vários pontos porque a gente se atravessa. Esse tipo de contato é primordial para um autor com deficiência, inclusive para uma rede de contatos de trabalhos”, destacou.
Mapeamento
O universo desses escritores PCD ainda não é conhecido no Brasil. Mas, no ano passado, o Ministério da Cultura e a Universidade Federal da Bahia começaram a fazer um levantamento para mapear artistas, agentes culturais e profissionais com ou sem deficiência que atuam na área da acessibilidade cultural. Chamado de Mapeamento Acessa Mais, o projeto busca identificar esses profissionais em todo o território brasileiro com o objetivo de fomentar a criação de políticas públicas que possam tornar a cultura brasileira mais acessível e inclusiva.
Esses dados, diz o ministério, serão fundamentais para garantir que o setor cultural seja inclusivo e atenda às necessidades e demandas de artistas e profissionais com deficiência.
O mapeamento, destaca Amanda, vai ajudar a dimensionar a produção e, principalmente, ajudar a conhecer os autores PCD do país. “Acho que falta uma profundidade para trabalhar pessoas com deficiência dentro da literatura e dentro dos demais assuntos. Nós ficamos sempre [focando] no ponto da acessibilidade e inclusão, só que eu acredito que a acessibilidade e a inclusão são [apenas] ferramentas. Mas quem usa essas ferramentas? Se a gente soubesse mais sobre o sujeito, a gente defenderia melhor as ferramentas, justamente porque a gente saberia o por quê que ele as utiliza. É a partir do sujeito que se estuda todas as outras coisas”.
Ela também defende que esse levantamento poderá ajudar a desenvolver políticas públicas mais eficientes para essa população, que não pode ser baseada somente em cotas. “O fato de haver cota não necessariamente garante que a pessoa vai conseguir acessar a cota”, diz ela.
As cotas são super importantes mas, muitas vezes, a gente está definindo qual corpo vai conseguir acessar essa cota porque o corpo que tem deficiência intelectual, por exemplo, vai precisar de um terceiro para conseguir chegar até lá. Talvez falte uma política pública voltada a como preencher esses formulários e a identificar esses artistas e conseguir direcioná-los”.
A programação da Flipelô se encerra neste domingo. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas no site https://flipelo.com.br
“Conto as coisas como foram, / Não como deviam ser”.
(GONÇALVES DIAS, “Sextilhas”)
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DIA DE GONÇALVES DIAS – Neste 10 de agosto, em 1823, nascia o escritor maranhense Gonçalves Dias, que escreveu aqueles versos que praticamente todo brasileiro, de agora e de outrora, conhece: “Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá”.
Sou da mesma cidade (Caxias, Maranhão) e morei na mesma rua daquele ilustre brasileiro – aliás, a ÚNICA rua em que Gonçalves Dias morou em Caxias.
A casa do Poeta ficava/fica em um quarteirão, ali pela metade da rua, e a casa em que eu morava ficava no quarteirão seguinte, uma em um lado, a outra no outro.
Mais: o primeiro livro que li também foi o primeiro livro lido por Gonçalves Dias na sua infância. Foi a “História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França”, emprestado por um vizinho, o Seu Miguel, que era paraplégico, marido de Dona Corina (Seu Miguel, por óbvio, não andava e era transportado daqui prali por Seu João, um moreno forte, pescador, agregado da família.
Li a “História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França” ali entre 5 e 6 anos. É claro que dessa leitura não entendi quase nada à época, mas até hoje (re)lembro de alguns nomes de personagens – além do próprio imperador Carlos Magno –, entre os quais Oliveiros, Roldão...
A seguir, texto que escrevi e atualizei sobre pessoais pontos de contato entre Gonçalves Dias e Edmilson Sanches.
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Hotel Serra Azul, em Gramado, Rio Grande do Sul, década de 1980.
Náutico Clube, Fortaleza, Ceará, início dos anos 1990.
Colégio Rio Branco, bairro Higienópolis, São Paulo.
Campina Grande, Paraíba. Rio de Janeiro, Maceió, Recife, Curitiba...
Onde quer que eu esteja, Caxias é presença e referência permanente. Caxias e, claro, seu maior poeta e sua melhor rima –– Gonçalves Dias.
Caxias, terra e rima de Gonçalves Dias.
Qualquer que seja o espaço, qualquer que seja o tempo, a mesma constatação: Gonçalves Dias vive.
Em todos os lugares acima, e muitos outros mais, em momentos internacionais, em conferências nacionais, em encontros regionais, em palestras locais, em discursos ocasionais, em eventos formais, em “provocações” casuais ou em bate-papos triviais, dou um jeito de fazer um “teste”: crio um pretexto dentro do contexto e digo, falsamente desafiador, o primeiro verso da “Canção do Exílio” (“Minha terra tem palmeiras”)... somente para, logo em seguida, perceber/receber os sorrisos cúmplices da plateia de ouvintes não-maranhenses, o que denuncia que todos estavam continuando mentalmente – quando não recitando audivelmente – o verso seguinte: “Onde canta o sabiá”.
Aí eu digo: “Sou dessa terra!”, e daí em diante fica fácil puxar ou esticar conversa acerca de literatura, de Cultura, dos “verdadeiros valores” da pessoa e das comunidades humanas. Dizer da permanência do que tem valor e da finitude do que tem preço. Preço, dá-se a coisas. Valor, dá-se a pessoas. Os versos gonçalvinos entram como exemplo de um “valor” que se sobrepõe a muitas “coisas”. Embora a fragilidade do papel, os versos foram mais resistentes que as grandes construções de pedra e cimento, como as fábricas de tecido. Estas, aparência; aqueles, essência –– e por aí podem ir as obviedades, quase platitudes.
Escritos em julho de 1843, quando Gonçalves Dias ainda não completara 20 anos, os versos da “Canção do Exílio” atravessam gerações e se depositam e se (re)transmitem quase como que por hereditariedade. Parece não mais ser essa fixação resultado da leitura, mas produto de um código genético, uma informação cromossômica que se repassa no intercurso sexual e se vai instalando na mente de cada novo ser.
Seja em gente da antiga, seja no jovem de hoje, a poesia cometida em Coimbra está inscrita na memória das várias gerações de brasileiros dos últimos 180 anos, a partir da primeira edição dos “Primeiros Cantos”, o primeiro livro de Gonçalves Dias e cuja primeira poesia é exatamente a “Canção do Exílio”. Sobre a retenção da “Canção” na memória, ressalve-se que, em grande número de vezes, nunca esteja o poema inteiro, de 24 versos, 5 estrofes, 113 palavras, 487 letras.
Mas aqueles dois primeiros versos, quando não toda a primeira estrofe, não há negar: está na cabeça, melhor, está na alma do brasileiro.
Tudo isso me chega à lembrança no instante em que, também neste 10 de agosto de 2025, Caxias continua a nos relembrar, a nós conterrâneos e contemporâneos, a importância de ser a cidade onde, mais que um poeta, nasceu uma expressão de maranhensidade e de brasilidade. Muito da obra de Gonçalves Dias mostra de peito aberto o amor, o orgulho, o sentimento de pertença ("ownership") que o poeta tinha e desenvolvia pela sua própria terra. Quantos, hoje, manifestamente, denunciam assim orgulhosa e escancaradamente essa emoção telúrica, essa querença pátria?
Fora a conterraneidade, tenho outras “aproximações”, bem particulares, com Gonçalves Dias. A primeira delas, o primeiro livro que um e outro lemos: “História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França”. Gonçalves Dias o leu aos dez anos de idade, em 1833, enquanto ajudava na casa comercial paterna, ali na Rua do Cisco (depois Benedito Leite, depois Fauze Simão), para onde seus pais, João Manuel e Vicência Ferreira, haviam se mudado, oito anos antes (1825). De minha parte, aos cinco, seis anos de idade já havia “ouvido” e lido aquela obra, ali na Rua da Palmeirinha – onde as casas tinham, como fundo de quintal, o rio Itapecuru.
Explico o porquê do “ouvido” o livro. No mesmo lado da Rua da Palmeirinha, algumas casas adiante da minha, morava o casal “Seu” Miguel e Dona Corina. Esta, naqueles idos, vivia de lavar e passar roupa. Sustentava a casa. “Seu” Miguel era paraplégico, ficava como que sentado em uma rede, um pano cobrindo as pernas macérrimas pendentes, e lia, lia muito. Usava um cachimbo, cujas baforadas recendiam em toda a casa. Más línguas diziam que era diamba, tirada de algumas mudas que, diziam, eram bem cuidadas no seu quintal, para a produção das endiabradas folhas e sua transformação em trescalante fumo.
Acostumei-me a visitar o “Seu” Miguel. Ele gostava da minha atenção; eu gostava das suas histórias. Ouvia a leitura de capítulos e capítulos e, às vezes, o resumo de “romances” –– que era o nome que também se dava aos folhetos de literatura de cordel.
Um dia, "Seu" Miguel me emprestou um livro que eu já “ouvira”. Era a história do imperador Carlos Magno. Ali, além do magno imperador, estavam Roldão, Oliveiros, Ferrabraz e tantos personagens mais... Lembro que eu li todo o livro e que pedi explicações sobre o motivo da morte e posterior “reaparecimento” de alguns personagens após a “parte” da morte. Claro que eu estranhava aquela minha primeira leitura “séria”: naquela idade, os textos a que estava acostumado eram os de “cartas de ABC” e outras cartilhas escolares, bastante fáceis para mim, demasiado, por assim dizer, lineares, sem recursos nem estilos mais elaborados.
Em Caxias, da Rua da Palmeirinha mudei-me para a Rua da Galiana (aliás, nome da mulher do imperador Carlos Magno). Tempos depois, nasceu um irmão meu... e chama-se Carlos Magno (depois veio Júlio César, outro irmão “imperador” na família).
Décadas mais tarde, consegui, em um sebo do Rio de Janeiro, um exemplar igual ao que me fora emprestado pelo “Seu” Miguel: capa em tecido e sem o nome do autor (Vasco de Lobeira). Reli os dez capítulos da obra e revi(vi)-me criança. (Uma curiosidade: Meu irmão Carlos Magno, depois que aprendeu a ler e escrever, não se fez de rogado: pegou o raro e caro livro, empunhou uma esferográfica e, nas folhas de rosto, onde houvesse o nome do imperador, um sobrenome – “Sanches” – foi acrescentado...). Ao invés de ficar chateado com a “intervenção” fraterna em páginas da obra, fiquei foi, digamos, orgulhoso, pela demonstração de inteligência, raciocínio, reconhecimento – e ampliação – do próprio nome.
Outra “aproximação” com o autor d’"Os Timbiras": Mudei-me para a Rua do Cisco, número 1000, próximo à “casa onde morou o poeta Gonçalves Dias” (era assim que registrava uma placa acobreada e quase despercebida). Eu estava aí por volta dos 15 anos e diariamente subia e descia quase toda a extensão da rua, para trabalhar no Banco do Brasil na condição de seu primeiro menor estagiário, o primeiro da agência, admitido em processo seletivo.
Invariavelmente, eu passava pela casa onde morara o Poeta. Ali morava a família – hoje, apenas filho(s) – de Dona Labibe Gedeon Simão e do “Seu” Fauze Elouf Simão. Um dos filhos, Jamil Gedeon, atualmente desembargador do Tribunal de Justiça em São Luís, e eu fomos colega de turma no 2º Grau (Ensino Médio), no “colégio das Irmãs” (missionárias capuchinhas), o colégio São José. Nesta escola fui presidente do Grêmio Santa Joana d’Arc durante três anos (Roldão – Roldão Ribeiro Barbosa –, coincidentemente nome de personagem do livro sobre Carlos Magno, ganhara a presidência no primeiro ano e renunciara meses depois; assumi, como o segundo mais votado na eleição, anual, do Grêmio, para o qual fui reeleito duas vezes, até o final daquele nível de ensino). O ex-secretário de Cultura Renato Meneses (ex-presidente da Academia Caxiense de Letras) e o ex-presidente da Fundação Vítor Gonçalves Neto, Jorge Bastiani (“in memoriam”), também estudavam ali, nós todos sob o tacão da querida Irmã Clemens (Maria Gemma de Jesus Carvalho). Pois foi o colega secundarista Jamil quem me disse, em uma das vezes que caminhávamos para o colégio, que encontrara moedas, papéis e outros objetos e itens antigos quando da demolição – sim, foi demolida... – da casa de Gonçalves Dias.
Mas as referências à casa da rua do Cisco não terminam aí. Dona Labibe foi secretária de Educação de Caxias, na administração de José Ferreira de Castro. Ali pelos bares do Artur Cunha e do Herval, no Largo de São Benedito (ou Praça Vespasiano Ramos, no centro de Caxias), contava-se a história de que a secretária Labibe, pretendendo morar numa casa melhor, que oferecesse mais conforto para a família, e não querendo derrubar a “casa onde morou o poeta”, se esforçou junto ao seu superior, instando para que ele, como prefeito, adquirisse a casa e a tombasse como patrimônio histórico. Conta-se que a resposta do prefeito foi pouco cavalheiresca e fazia comparação entre comprar a casa onde Gonçalves Dias “morou” e tombar o riacho do Ponte, onde ele, o Poeta, digamos... lavava as partes, digamos, pudendas. Pode não ser verdade o fato, mas era verdadeiro o boato –– e, pelo menos este, se cuida de preservar aqui. Resumo da ópera: a casa de Gonçalves Dias foi destruída e, no seu lugar, ergueu-se uma residência de feições modernas, que “combinava” com o prédio da outra esquina, de uns poucos andares, que abrigava as instalações de uma companhia de telecomunicações.
No mesmo ano da derrubada da casa, como réquiem à memória de Gonçalves Dias, escarafunchei o arquivo do fotógrafo Sinésio Santos (falecido), que ficava ali próximo à agência central do Banco do Brasil, e consegui localizar negativos da residência – foto, aliás, que eu mesmo pedira ao grande Sinésio que tirasse para mim, seu cliente (pois eu periodicamente comprava fotos da cidade no seu estúdio). Pedi que fossem feitas cópias daquelas e de outras “vistas” de Caxias. Separei uma foto da ex-morada de Gonçalves Dias e a enviei, junto com um breve texto, para a Rede Globo de Televisão, no Rio de Janeiro. Foi menos por denúncia e mais por sentimento de perda. Disseram-me que saiu um rápido registro no jornal (nacional) do meio-dia ("Jornal Hoje"). Não confirmei.
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Estas anotações, com algo de nostálgico e confessional, são uma episódica e epidérmica contribuição ao trabalho de um punhado de jovens caxienses de todas as idades, que, décadas atrás, teimavam em cuidar do que Gonçalves Dias merece – memória – na cidade que há 202 anos o viu nascer – História.
E quem está fazendo não faz isso só por “vocação”: faz por legitimidade, com competência e algum sentimento de dever.
Parabéns, Caxias! Viva Gonçalves Dias!
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
1) O poeta Gonçalves Dias (pintura). 2) Casa de sobrado onde morou o escritor, em Caxias, e, na esquina, a mercearia do seu pai. 3) O mesmo imóvel, sem o sobrado, antes de ser demolido. 4) A Praça Gonçalves Dias, no Centro de Caxias. 5) Edmilson Sanches (no centro, de óculos), com outros estudiosos, em visita ao Baixio dos Atins, região no município maranhense de Guimarães, em cujo litoral Gonçalves Dias faleceu, como única vítima, por afogamento, do navio "Ville de Boulogne" (Cidade de Bolonha) em 3/11/1864. 6 e 7) Folha de rosto da 1ª edição de “Primeiros Cantos” (1846) e o poema “Canção do Exílio”.
Pela primeira vez em nove edições, a Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flipelô, decidiu trazer o universo cosplay para a sua programação. E foi assim que personagens como o Menino Maluquinho de Ziraldo, os irmãos Mário e Luigi do jogo Super Mario e o Doutor Facilier, de A Princesa e o Sapo, desfilaram pelo palco da Vila Literária, no Largo Tereza Batista, no centro histórico de Salvador, na noite de quinta-feira (7).
Cosplay é um termo em inglês formado pela junção das palavras costume (fantasia) e roleplay (brincadeira ou performance). Nessa atividade, as pessoas se fantasiam de seus personagens fictícios favoritos da cultura pop que estão em animes, games, mangás, filmes, animações e até em livros, como é o caso do Menino Maluquinho, personagem criado pelo escritor brasileiro Ziraldo (1932-2024).
“Essa é uma história assim que me cativou bastante, porque me lembrou a minha infância”, disse Deivid Aquino, de 20 anos, um influencer digital, ator e cantor que desfilou na Vila Literária como cosplay do Menino Maluquinho.
“Eu achei essa ideia de desfile cosplay na Flipelô muito inclusiva. O cosplay, por si só, já é inclusão e diversidade. Eu amo interpretar criança: também interpreto o Pedrinho, do Sítio do Picapau Amarelo. O menino maluquinho é maluquinho e eu sou maluquinho também”, brincou Deivid.
Apesar de viver em Salvador, ele nunca tinha participado da Flipelô. Foi o desfile cosplay que o fez participar do evento pela primeira vez. “Vim por causa do evento de cosplay, mas eu também queria pisar meus pés aqui pela primeira vez. Eu não leio muito não, mas eu estou começando a ler”.
E, como bom baiano, Deivid avisou que, logo após o desfile, iria utilizar parte dessa fantasia na cozinha. “Vou fazer a feijoada quando eu chegar em casa com essa panela aqui que não pode ficar aqui só na cabeça. Tem que estar no fogão também”, falou, sob risos.
Vila Literária
Localizada no Largo Tereza Batista, a Vila Literária é um espaço dedicado ao público jovem. Quando ela surgiu, dentro da Flipelô, ainda era um local dedicado quase que exclusivamente aos autores independentes. Mas, nos últimos anos, começou a receber também os amantes e fazedores de quadrinhos. É o caso de o Samuel de Gois Martins, um quadrinista paraibano que participa da Flipelô pela primeira vez.
“Eu estou vendendo e expondo aqui o meu material, que vai de quadrinhos, coletâneas de tirinha a gravuras feitas em serigrafia e até cartas de tarot”, disse ele, que ainda vai participar de um bate-papo com o público neste sábado (9).
“Eu amo feiras independentes de arte e quadrinhos alternativos. Acho que isso precisa ser cada vez mais forte aqui na Região Nordeste. E ver tantos autores de várias regiões aqui, do Nordeste, fortes e presentes [na Flipelô], mostra o quanto a gente está, aos poucos, conseguindo se unir e criar um cenário nosso local”, destacou.
Neste ano, a Vila Literária se ampliou. Além do desfile de cosplay e dos quadrinhos, ela também se abriu para todo um universo pop, promovendo até mesmo uma batalha de desenhos e apresentações musicais. Mas sem deixar de lado o seu lado literário.
Durante toda a programação da Flipelô, a Vila vai promover lançamentos e vendas de livros, debates e bate-papos com escritores, ilustradores, cineastas e artistas conhecidos do público como Lázaro Ramos, Thalita Rebouças, Rafael Calça e Rosane Svartman.
“Aqui tem espaço para todo mundo: para o pessoal das redes sociais, do cosplay e da literatura”, esclareceu Deco Lipe, curador do espaço.
Segundo ele, a Vila Literária comprova que os jovens não se interessam apenas pela cultura pop ou por redes sociais, mas, também, buscam a literatura como um meio de interesse.
“Hoje existe uma grande rede que é o BookTalk [uma comunidade para amantes de livros] e que potencializou a leitura para os jovens. Aqui, na Vila Literária, a gente também tem mediadores e autores que veem da rede social. Eu venho da rede social, inclusive. Temos aqui essa quebra de paradigma em que se coloca que os jovens hoje não estão lendo já que existem essas comunidades de leitores nas redes sociais”, comentou Deco.
A diversidade da Vila Literária, destacou ele, vem mostrar que não existe oposição entre redes sociais e literatura entre os jovens, porque ambas podem caminhar juntas. “Durante a pandemia houve um grande boom das redes sociais, onde as pessoas estavam reclusas e começaram a criar conteúdos, e nisso surgiu esse boom do TikTok e do Instagram, que são literários também”, disse.
Deco ressaltou que os jovens, hoje, estão lendo muito por meio das redes sociais, que oferecem ampla possibilidade de leitura. “Se formos ver, a rede do TikTok traz, por exemplo, os livros mais vendidos no país e consegue trazer livros internacionais a serem traduzidos para cá. Muita gente diz que se o jovem está em rede social, ele não lê. Mas, pelo contrário, estamos vendo um movimento em que os book talkers estão arrastando multidões. Temos uma potencialidade muito grande de leitores e as redes [sociais] podem ajudar nesse aspecto”, explicou.
A programação da Vila Literária é toda gratuita e vai até este domingo (10). Mais informações sobre a programação deste espaço e também sobre a Flipelô podem ser consultados no site oficial da Festa Literária.
Os inscritos na primeira edição da Prova Nacional Docente (PND) que tiveram o pedido de atendimento especializado recusado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) já podem entrar com recurso de revisão no Sistema PND. O prazo termina na próxima terça-feira (12).
O participante deverá inserir novamente no sistema um documento legível, em língua portuguesa, que comprove a condição que motiva a solicitação de atendimento, para ser considerado válido para análise.
A documentação enviada deve conter o nome completo do participante; diagnóstico com a descrição da condição que motivou a solicitação e/ou o código correspondente à Classificação Internacional de Doença (CID 10); além da assinatura e identificação do profissional competente, com respectivo registro no conselho de classe que emitiu o parecer.
Divulgação do recurso
De acordo com o Inep, o resultado do recurso será divulgado no dia 18 de agosto.
Caso o documento, a declaração ou o parecer da solicitação de atendimento especializado for reprovado novamente, o participante terá os recursos de acessibilidade solicitados no ato da inscrição, exceto os direitos ao tempo adicional, à calculadora e à correção diferenciada da prova chamada de CNU dos Professores.
Mas, se for aceito, o participante terá direito ao tempo adicional de 60 minutos da prova.
PND
A Prova Nacional Docente não é um concurso público e não é uma seleção unificada. O exame foi criado em 2025 para melhorar a qualidade da formação dos professores e estimular a realização de concursos públicos e demais processos seletivos pelas redes de ensino estaduais, do Distrito Federal e dos municípios e, desta forma, estimular o ingresso de profissionais qualificados no magistério público.
A partir de 2026, os gestores das redes estaduais e municipais de ensino podem usar a nota da prova obtida pelo candidato como etapa única ou complementar de concursos públicos e em seleções simplificadas de contratação destes profissionais para educação básica.
A adesão, porém, não obriga os estados e municípios a usar os resultados da PND em todos os seus processos seletivos.
A prova é parte do programa Mais Professores para o Brasil, criado em 2024 para fortalecer a formação docente, incentivar o ingresso de professores no ensino público e valorizar os profissionais do magistério. A iniciativa pretende atender 2,3 milhões de docentes em todo o país.
Além da PND, as ações do programa englobam a Bolsa Mais Professores, Pé-de-Meia Licenciaturas e o Portal de Formação.
Nesta sexta-feira (8), o Brasil se despede de um de seus maiores talentos musicais - o multi-instrumentista, compositor e ícone do samba, Arlindo Cruz. Com a saúde debilitada desde 2017, quando sofreu um grave Acidente Vascular Cerebral (AVC), Arlindo Cruz morreu aos 66 anos.
Em comunicado publicado nas redes sociais, a família informou a morte e agradeceu as mensagens de amor, apoio e carinho que receberam nos últimos anos, e em especial agora na hora da partida. "Arlindo parte deixando um legado imenso para a cultura brasileira e um exemplo de força, humildade e paixão pela arte. Que sua música continue ecoando e inspirando as próximas gerações, como sempre foi seu desejo", diz a nota. Arlindo deixa a esposa, Bárbara, e os filhos Arlindinho e Flora.
Nesta sexta-feira, o Sem Censura exibe uma homenagem a Arlindo Cruz, que já estava gravada e programada para a data. Assista ao vivo:
Nascido em 14 de setembro de 1958, em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Arlindo Domingos da Cruz Filho cresceu embalado pelo batuque das rodas de samba. Aos 7 anos de idade, ganhou seu primeiro cavaquinho. Ainda muito jovem, começou a trabalhar como músico, ao lado de grandes artistas, como Candeia. Mais tarde foi para a Escola Preparatória de Cadetes do Ar, mas sem jamais abandonar a música. Em participação no programa Sem Censura, da TV Brasil, ele contou da herança musical que recebeu dentro de casa, por influência do seu pai Arlindão Cruz, que tocava cavaquinho, e a mãe Aracy, que tocava bateria e cantava.
Quando deixou a Aeronáutica, Arlindo Cruz passou a frequentar as rodas de samba do Cacique de Ramos, ao lado de Jorge Aragão, Beth Carvalho, Almir Guineto, Zeca Pagodinho e Sombrinha, que viria a ser seu grande parceiro. Ali, recebeu o convite para participar do grupo Fundo de Quintal. Foi nesse tempo que o samba ganhou nova forma, com uma sonoridade moderna, mas sem perder a essência dos quintais e terreiros. Suas composições logo passaram a figurar nas vozes de Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione e tantos outros. Foram, então, 12 anos de trabalho, deixando o g
Assista ao programa Samba na Gamboa, da TV Brasil, com Arlindinho Cruz, que homenageou o pai
Autor de mais de 700 músicas, Arlindo Cruz escrevia com o coração e a alma. Suas letras entoavam o amor, a fé e a luta, traduzindo o cotidiano de milhares de brasileiros. Entre os maiores sucessos estão O Show Tem que Continuar, Meu Lugar e Bagaço de Laranja.
Arlindo também era uma voz marcante no carnaval do Rio de Janeiro e figura querida nas quadras de escolas de samba, como o Império Serrano. Defensor fervoroso da cultura popular, foi torcedor apaixonado do Flamengo.
Fiel à sua religião, o candomblé, e aos Orixás, lutava contra a intolerância.
“Responder uma carta é um gesto de amizade”, era o que dizia o escritor baiano Jorge Amado à filha, também escritora, Paloma Jorge Amado. E como era amigo de muitas pessoas, Jorge Amado nunca deixou de responder a uma carta – e nem de guardar as milhares de correspondências que recebeu durante sua vida.
Todo o acervo de cartas está sob a guarda da Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador. É um material vastíssimo, de quantidade total ainda desconhecida. São caixas e caixas de correspondências que o famoso escritor baiano trocou com escritores, políticos, artistas e com Zélia Gattai, com quem foi casado. Até bilhetes eram guardados por ele, que sabia do valor que o material carregava. Inclusive, em muitas das cartas há a inscrição “para guardar”, escrita pelo próprio Jorge Amado, como orientação para ser armazenada em acervo.
“Jorge Amado tinha uma preocupação extraordinária em guardar. Tanto que muitas cartas trazem escrito, logo acima, as palavras guardar ou arquivar. Ele tinha cuidado com o acervo, que passou para a fundação. A gente trabalha nele há muitos anos. E é um acervo delicado, porque há coisas que não podem ser abertas, por serem [muito] pessoais”, explicou Bete Capinan, coordenadora editorial da fundação.
“É uma correspondência imensa e até hoje a gente não conseguiu chegar ao fim.”
Parte do material já foi transformado em livro, como as cartas trocadas entre ele e o escritor português José Saramago e com o cineasta Glauber Rocha. Mas, agora, a Fundação Casa de Jorge Amado resolveu se debruçar ainda mais sobre o material, e criar uma coleção de livros que serão publicados pela Casa de Palavras, braço editorial da fundação.
O primeiro livro da coleção foi lançado na noite de ontem (7), no Palacete Tira-Chapéu, durante a Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador. Com o título de Cartas: Dias Gomes – Jorge Amado, o primeiro livro apresenta cartas que foram trocadas entre Jorge Amado e o autor de telenovelas e escritor também baiano Dias Gomes, que é o homenageado desta edição da famosa festa literária.
“Esse é o livro que dá início à Coleção Um Gesto de Amizade. A gente pretende publicar outros”, disse Angela Fraga, presidente da Fundação Casa de Jorge Amado, instituição responsável pela realização da Flipelô.
Segundo Ângela, o livro de Dias e Jorge apresenta uma correspondência muito leve, porque é uma correspondência realmente entre amigos. "Numa época em que não existia e-mail e em que até o telefone era difícil, eles realmente se correspondiam muito”, disse.
A seleção, organização e notas sobre as cartas foram realizadas por Bete Capinan, coordenadora editorial, e Paloma Jorge Amado, membro do Conselho da Fundação Casa de Jorge Amado.
Segundo Paloma, os próximos livros a serem publicados, desta coleção, são as correspondências trocadas entre seu pai e os escritores Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade e João Ubaldo Ribeiro. O livro com João Ubaldo pode ter cerca de 400 páginas, de tanto material que conseguiram reunir, informou.
“A história do João Ubaldo é muito boa. Eu perguntei para a Emília, a filha mais velha de João Ubaldo, se ela tinha as cartas do papai para o João, porque a gente tinha as do João para o papai. E ela me disse: ‘Menina, papai não era organizado como Jorge, era uma bagunça, até hoje a gente não conseguiu ver esse acervo e tal, mas eu agora vou passar o carnaval na ilha e vou dar uma olhadinha lá, quem sabe eu acho alguma coisa’. E aí, quando ela chegou na ilha, tinha uma estante lá com várias coisas, inclusive tinha uma pasta grande, onde estava escrito ‘correspondência de Jorge Amado’. E foi então que ela me disse: ‘Era a única coisa organizada lá’. O livro do João Ubaldo vai ser o mais difícil [de organizar], porque é um livro de quase 400 páginas. Mas ele é divertidíssimo. É não só engraçado, como é de chorar também de emoção. E é uma aula de escritura”, contou Paloma Jorge Amado.
Cartas para Dias Gomes
“Caro compadre. Você concedeu-me o mais eufórico despertar de toda a minha vida, ao telefonar-me, há poucos dias, às 8h da matina, para elogiar meu despretensioso romance, Decadência. É bem verdade que, no generoso propósito de me estimular, você pode estar fazendo um grande mal à literatura brasileira, incitando-me a cometer outros”, escreveu Dias Gomes, em junho de 1995, a Jorge Amado.
O pequeno trecho inicial da carta já apresenta um dos estilos mais característicos de Dias Gomes: a ironia, que foi também muito utilizada em várias de suas telenovelas exibidas na Rede Globo como Roque Santeiro e O Bem Amado.
Essa característica peculiar de Dias Gomes é também uma grande lembrança para sua neta, Tatiana Dias Gomes, que está participando da homenagem ao avô na Flipelô.
Em entrevista à Agência Brasil, ela conta que leu as cartas trocadas entre seu avô e Jorge Amado e que sua fina ironia e seu jeito brincalhão estavam muito presentes em várias correspondências.
“Eu achei o livro lindo, que mostra uma amizade profunda. E a gente vai vendo essa amizade se aprofundando cada vez mais. Ao ler as cartas do meu avô, isso me deu muita saudade, porque vi ali o jeitinho dele falar: seu humor e seu jeito irônico e debochado.”.
Tatiana era ainda adolescente quando seu famoso avô faleceu. Sua avó, a também telenovelista Janete Clair, ela não chegou a conhecer. Por isso, na leitura dessas cartas, ela se comoveu com uma delas, que foi assinada por ambos. “Tem uma carta que eu achei bonitinha, em que ele escreve junto com a minha avó. Essa me chamou a atenção por ver o jeitinho dela junto com ele”, revelou.
Assuntos
Nas cartas, Dias Gomes e Jorge Amado falavam sobre livros, novelas, censura de obras, viagens e até indicação para a Academia Brasileira de Letras. Mas um tema específico chamou a atenção de quem leu: a Disney.
“As conversas são deliciosas. Tem um trecho do Dias Gomes contando para Jorge Amado que ele estava indo para a Disney levar a filha Mayra e que ele nunca pensou que, como comunista, ele iria para a Disney”, disse Bete Capinan, a coordenadora editorial da seleção dos documentos.
O trecho em que cita a viagem para a Disney fez a neta Tatiana rir, já que seu avô era um ferrenho comunista. “Eu lembro que ele gostava muito de ir para a Disney e a gente achava isso engraçado, porque ele se divertia muito. Ele falava: ‘nossa, lá eu viro criança."
E é exatamente isso que Dias Gomes escreve na carta a Amado: “A verdade é que na Disney, os pais se divertem muito mais que os filhos. Todos temos, afinal, uma criança dentro de nós”.
A Flipelô prossegue até domingo (10), no centro histórico de Salvador, com programação inteiramente gratuita. Mais informações sobre a festa podem ser obtidas no site.
Brincadeiras, cultura, música, lazer e inclusão social de forma gratuita. Após seis anos, o Projeto Arena Alegria está de volta para levar diversão e transformar a rotina de várias comunidades de São Luís. Em sua quarta edição, o projeto criado por Cássia Melo, da Oito Projetos Criativos, conta com os patrocínios do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Desta vez, o Arena Alegria promoverá três eventos em bairros da região do Itaqui-Bacanga, uma das mais populosas da capital maranhense: Cidade Nova, Vila Embratel e Vila Nova. A programação terá início no dia 16.
"A gente optou por voltar com o Arena Alegria em três praças, em regiões onde o projeto ainda não havia acontecido. São espaços onde pretendemos estimular a ocupação pela comunidade. Nesse momento onde a preocupação dos pais é a exclusividade da tecnologia na vida das crianças, a gente deixa essa mensagem da ocupação de espaços públicos com brincadeiras, reunindo toda a comunidade com interação de forma real das pessoas, não só em redes sociais e em espaços tecnológicos. Queremos que as famílias se divirtam juntas, aproveitem essa oportunidade da melhor maneira possível”, explicou Cássia Melo, idealizadora e diretora-geral do projeto.
O Arena Alegria é um projeto para todos, onde as crianças e suas famílias poderão participar gratuitamente de várias atividades e acompanhar apresentações culturais. Nos dias dos eventos, a programação terá início às 16h e vai até às 20h, contando com uma série de gincanas e brincadeiras, auxiliadas por uma equipe que ajudará as crianças a desenvolverem suas habilidades nessas atividades coletivas. Uma das principais atrações do projeto, o palhaço mímico Gilson César vai interagir com a garotada durante todo o evento.
Logo após as gincanas, a programação do Arena Alegria terá continuidade com a participação do mágico Viktor Aiko e a apresentação da banda Vagalume, que encerra o dia de muita diversão. A cantora Camila Reis também irá se apresentar na abertura do projeto, que ocorre no dia 16 de agosto, na Praça das Mangueiras, no bairro Cidade Nova. Vale ressaltar que o Arena Alegria terá cadeiras reservadas para idosos e pessoas com mobilidade reduzida, além de intérprete de Libras.
“Acreditamos que o Arena Alegria é um modelo importante para todo o Brasil, propondo e realizando projetos onde se perceba a necessidade social e contribua para essas consciências sobre a ocupação dos locais públicos, estimular famílias a brincar mais com seus filhos, além de gerar emprego e renda. Agradecemos ao patrocínio do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale nesse projeto e também os apoios da Secretaria Municipal de Cultura e das instituições ligadas às comunidades. Tenho certeza que o Arena Alegria fará dias muito animados, com energia positiva e que vão mudar o coração de muitas pessoas", concluiu Cássia Melo.
Durante o projeto, será realizada, ainda, uma coleta seletiva por parte da empresa RL Serviço Geral para conscientizar as pessoas sobre o descarte correto de lixo. Todo o material recolhido será direcionado para entidades que trabalham com o reuso de materiais.
Eventos gratuitos
Depois da abertura no dia 16 de agosto, na Cidade Nova, o Arena Alegria terá outros dois eventos: no dia 23 de agosto, as atividades serão realizadas na Praça 1° de Maio, na Vila Embratel, enquanto a Orla do Bonfim, no bairro Vila Nova, sediará a programação do dia 30 de agosto.
Nesta edição, o projeto contará ainda com o apoio de comunidades parceiras, como a Associação Mulheres Unidas Cidade Nova e o GUME (Grupo de Mulheres Empreendedoras), da Vila Nova.
Todas as informações, atrações e programação da quarta edição do Arena Alegria estão disponíveis no Instagram oficial do projeto (@projetoarenaalegria).
Os estudantes que estão na lista de espera do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), referente ao processo seletivo do segundo semestre de 2025, já podem conferir se foram pré-selecionados. O programa financia a graduação em cursos superiores não gratuitos em instituições de educação superior privadas que possuírem avaliação positiva no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). A consulta deve ser feita pelo estudante na página do Fies no Portal Único de Acesso ao Ensino Superior.
As convocações dos pré-selecionados pela lista de espera do programa federal ocorrem até 19 de setembro, exclusivamente pela página do Fies, em que o candidato pode acompanhar sua classificação.
Vagas
A pré-seleção está condicionada à disponibilidade de vagas no curso de graduação, turno e local de oferta pela instituição de ensino superior. O Ministério da Educação (MEC) esclarece que ainda deve ser observado o tipo de vaga e a modalidade de concorrência.
A participação na lista de espera do Fies é automática. Todos os inscritos que não foram pré-selecionados na chamada única entram para a lista de espera.
Ao todo, o programa recebeu 276.140 inscrições, com um total de 111.402 inscritos — cada candidato pôde selecionar até três opções de curso.
Este ano, o MEC disponibilizará mais de 112 mil vagas para o Fies, somadas as oportunidades do primeiro e do segundo semestre. Na edição deste segundo semestre, foram 74,5 mil vagas.
Etapas
O candidato pré-selecionado na lista de espera deve acessar o Fies Seleção, utilizando o login do portal Gov.br, e complementar sua inscrição em até três dias úteis. Neste momento, basta confirmar as informações declaradas no momento da inscrição.
Após a etapa da complementação das informações da inscrição, os estudantes devem comprovar as informações declaradas no ato da inscrição, por entrega de forma física ou digital, em até cinco dias úteis, junto à Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento (CSPSA) da instituição de ensino superior em que foi pré-selecionado.
Caso a comissão da faculdade privada identifique erros ou inconsistências referentes às informações prestadas, a instituição de ensino superior poderá exigir a apresentação de documentação complementar.
Porém, se a documentação for aprovada, o próximo passo é a validação das informações em um agente financeiro em até dez dias, contados a partir do terceiro dia após a validação da inscrição pela comissão da faculdade.
Somente após a aprovação do banco poderá ser formalizada a contratação do financiamento.
Fies Social
Metade das vagas é reservada ao Fies Social, ocupada por candidatos com renda familiar per capita de até meio salário mínimo (R$ 759,00 em 2025), inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico).
Este candidato pré-selecionado à vaga do Fies Social está dispensado da comprovação de renda familiar. No entanto, ele deve comparecer à comissão da faculdade privada para validação das demais informações.
No período da complementação da inscrição, poderá solicitar a contratação de financiamento de até 100% dos encargos educacionais cobrados pela instituição de ensino superior.
A cidade de Lago da Pedra receberá, pela primeira vez, um evento do Campeonato Maranhense Oficial de Beach Tennis, competição chancelada pela Federação de Beach Tennis do Maranhão (FBTM), entidade que representa oficialmente a modalidade no Estado. A sétima etapa do Estadual será realizada entre sexta-feira (8) e domingo (10), na Mega Arena Sport Club, e reunirá os principais nomes da modalidade no Estado, valendo pontos para o ranking maranhense e o ranking nacional.
Com promessa de grandes partidas e muita emoção, a 7ª etapa do Campeonato Maranhense Oficial de Beach Tennis vai distribuir mais de R$ 15 mil em premiações. A competição em Lago da Pedra é uma das últimas oportunidades para os atletas do Estado competirem por vagas no Time Maranhão, que disputará o Campeonato Brasileiro de Beach Tennis em novembro, na cidade de Vila Velha (ES).
"É uma felicidade muito grande para toda a comunidade do beach tennis maranhense a realização de mais uma etapa do Maranhense Oficial, dessa vez em Lago da Pedra, que também abraçou a modalidade e vai sediar uma bonita festa do esporte, estimulando também a participação de mais cidades em eventos futuros. Estamos muito felizes por ver o fortalecimento do beach tennis em todo o Maranhão e tenho certeza que a 7ª etapa será inesquecível", afirma Menezes Júnior, presidente da FBTM.
Outras etapas
De acordo com o calendário divulgado pela Federação de Beach Tennis do Maranhão (FBTM), a cidade de Santo Amaro receberá, pela quarta vez, a 8ª etapa do Campeonato Maranhense Oficial de Beach Tennis, em um dos eventos mais aguardados da temporada. As inscrições para a competição, que será realizada entre os dias 22 e 24 de agosto, começam nesta quinta-feira (7), no LetzPlay.
Outras informações sobre Campeonato Maranhense Oficial de Beach Tennis 2025 estão disponíveis no Instagram oficial da Federação de Beach Tennis do Maranhão (@maranhaobeachtennis).