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A família do jornalista Helio Fernandes comunicou, nesta quarta-feira (10), o seu falecimento, aos 100 anos de idade, de causas naturais. “Comunicamos com tristeza o falecimento, aos 100 anos, do jornalista Helio Fernandes. A família agradece aos amigos e admiradores que por tanto tempo o acompanharam nesse espaço (Facebook) e em tantos outros meios onde Helio sempre se expressou ativa e firmemente. É triste a notícia da partida, mas a certeza da vida longa e bem vivida sempre nos confortará”.

Irmão mais velho do desenhista, humorista e escritor Millôr Fernandes, nome artístico de Milton Viola Fernandes, Helio Fernandes foi um dos profissionais da comunicação mais perseguidos durante a ditadura militar. Ele adquiriu o jornal Tribuna da Imprensa em 1962, dirigindo-o até 2008, quando o impresso deixou de circular. Era conhecido pelo estilo combativo de fazer jornalismo. Trabalhou também na revista O Cruzeiro e no jornal Diário Carioca.

Seu centenário, completado no dia 11 de janeiro deste ano, foi comemorado com o lançamento do documentário Confinado, do jornalista Mario Rezende. O documentário mostra o período em que Helio Fernandes foi confinado pelo governo militar por um mês, em um quartel em Pirassununga (SP), depois de ter sido enviado com o mesmo propósito para Fernando de Noronha.

O jornalista Randolpho de Souza, nessa época trabalhando para o Jornal do Commercio, foi o único profissional de imprensa do Rio de Janeiro a registrar a visita a Helio feita por sua mulher, Rosinha, em Pirassununga, acompanhada do cunhado Millôr Fernandes. Como não era permitida a aterrissagem em Pirassununga, o avião pousou em Campinas, e dali os parentes de Helio e o jornalista Randolpho de Souza e o fotógrafo do JC Carlos Alberto, seguiram para o quartel, de carro. “Inclusive, a gente foi extremamente vigiado pela Polícia Federal. Na churrascaria, tivemos que sentar em uma mesa do lado da deles”, recordou Souza à Agência Brasil.

Helio era pai dos também jornalistas Rodolfo Fernandes, ex-diretor de Redação do jornal O Globo, e Hélio Fernandes Filho, ambos mortos em 2011. Ele deixa outros três filhos: Isabella, Ana Carolina e Bruno e os netos Felipe, Leticia e Helio.

No livro A Ditadura Escancarada, o jornalista Elio Gaspari revela que a Tribuna da Imprensa “sofreu mais de vinte apreensões e teve censores dentro do seu prédio por dez anos e dois dias”. Gaspari acrescenta que antes do presidente Garrastazu Médici chegar ao governo, Helio Fernandes já passara “por quatro cadeias e dois desterros”.

A família informou que o corpo do jornalista deverá ser cremado amanhã (11).

(Fonte: Agência Brasil)

O 6º Rio Choro 2021 – Mostra Virtual Competitiva selecionou 48 semifinalistas para a fase de votação popular, que ficará aberta até o próximo dia 17 no canal do evento no YouTube. A música instrumental que obtiver mais “likes” (curtidas) ganhará o Prêmio Waldir Azevedo, no valor de R$ 6 mil. Após dez anos de ausência do cenário musical, a mostra voltou trazendo, pela primeira vez, premiação em dinheiro. A mostra terá formato virtual, em virtude da pandemia de covid-19. A edição 2021 do Rio Choro recebeu 273 inscrições.

No dia 19, o Rio Choro divulgará o vencedor do Prêmio Aldir Blanc para o melhor choro-canção, isto é, choro com letra em português, também no valor de R$ 6 mil.

Em seguida, a comissão julgadora selecionará 12 finalistas, que concorrerão aos prêmios Ernesto Nazareth para o 1º colocado (R$ 12 mil), Pixinguinha, para o 2º lugar (R$ 9 mil) e Jacob do Bandolim, para o 3º classificado (R$ 6 mil). Os nomes dos vencedores serão anunciados no dia 26 de março. Os nove finalistas restantes receberão, cada um, prêmio de participação no valor de R$ 1.000.

O diretor-geral do Rio Choro, José Schiller, destacou que o evento não tinha característica de concurso, quando foi criado pelo saxofonista, flautista e compositor Mário Sève. “Era um ciclo de choros, um panorama. Tinha mais esse sentido de juntar uma série de conjuntos, de grandes intérpretes, tocando um repertório, uma série de peças, sem premiação. Simplesmente refletindo o que estava sendo produzido. Esta é a primeira edição competitiva”, afirmou Schiller, em entrevista à Agência Brasil.

Qualidade

Para esta edição, só foi permitida a inscrição de compositores residentes no Estado do Rio, maiores de 18 anos de idade. Antes, o Rio Choro era aberto para compositores em nível nacional, lembrou Schiller.

O idealizador da mostra, Mário Sève, destacou que o número de inscrições superou as expectativas. “E o melhor é a qualidade das músicas. Basta ouvir a playlist com os 48 semifinalistas que é possível perceber o alto nível das obras”, afirmou.

Para José Schiller, o choro é um gênero de música popular e instrumental brasileira que tem uma linguagem “super-rica”. “Era de se esperar que as músicas inscritas fossem de altíssima qualidade”, comentou.

Segundo ele, o júri, formado por “craques” conhecedores e comprometidos com a linguagem do choro, é garantia também do elevado nível do festival. Ele não tem dúvida de que o evento é um espaço que ajuda a dar visibilidade a compositores novos e de qualidade. A maioria dos inscritos está na faixa de 30 a 40 anos de idade.

Entre os autores participantes, compositores do interior do Estado e artistas mais conhecidos como os cantores Cláudio Nucci, Anna Paes e Alfredo Del Penho, o maestro Cristóvão Bastos, o trompetista Silvério Pontes, o sanfoneiro Marcelo Caldi, o violonista Zé Paulo Becker, o pianista Leandro Braga e o flautista Antônio Rocha, entre outros. As inscrições foram gratuitas e se encerraram no dia 14 de fevereiro.

Criação

O Rio Choro foi criado em 2000. A primeira edição beneficiou a produção do gênero da época, reunindo a maior parte dos músicos envolvidos – intérpretes e compositores – para vários concertos no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Humaitá, Rio de Janeiro.

As obras dos novos compositores foram interpretadas pelos grupos Nó em Pingo d’Água, Galo Preto, Água de Moringa, Rabo de Lagartixa e Trio Madeira Brasil, e os instrumentistas Cristóvão Bastos, Armandinho, Zé da Velha, Silvério Pontes, Henrique Cazes, Andrea Ernest Dias e Bruno Rian.

Com produção de Mário Sève, o Rio Choro 2000 produziu um álbum de partituras com novos choros, que teve distribuição gratuita.

(Fonte: Agência Brasil)

A vida virou de ponta-cabeça. Literalmente. O então capitão do Exército José Hermógenes de Andrade Filho, de 35 anos de idade, surpreendeu a família quando passou a fazer exercícios “desconhecidos”. Era flagrado com a cabeça no chão e os pés para o alto no banheiro de casa, onde “se escondia” em busca de concentração. Mal sabia a família que aquela era apenas uma das transformações que o homem passaria a apresentar. Até chegar àquela prática, ele buscava, na verdade, uma solução para um sofrimento. A novidade faria com que ele não fosse conhecido no futuro apenas como docente de história e filosofia do Colégio Militar, mas como o professor e precursor do ioga no país. 

"Eu era muito menina e lembro que ele se escondia no banheiro para que a minha mãe não pensasse que ele estava ficando maluco. Ele olhava para mim e falava, 'fique tranquila porque eu estou ficando bom. O ioga vai me deixar bom. Vou me curar’”, recorda a filha de Hermógenes, a pedagoga Ana Lúcia Leão.

A novidade de ficar de cabeça para baixo foi uma alternativa descoberta ao acaso para um problema de saúde que o assustou. Em meio às dores, Hermógenes, depois de percorrer consultórios médicos atrás de alguma explicação para a dificuldade de respiração que sentia, recebeu a notícia, em 1956, que estava com tuberculose. A história dele começou a mudar quando ele descobriu, no centro do Rio de Janeiro, dois livros estrangeiros (um em inglês e outro em francês) sobre uma então desconhecida prática que falava sobre saúde e respiração.

Integração

O primeiro divulgador do ioga entendeu que se tinha encontrado de corpo e alma, como revelam seus descendentes. Hermógenes, que nasceu na cidade de Natal, em 9 de março de 1921 (há um século), foi estudar no Rio de Janeiro aos 20 anos, e morreu em 13 de março de 2015.  Durante toda a vida, fazia questão de participar de eventos para falar sobre a reviravolta em sua vida. Publicou mais de 30 livros sobre o tema. Não tinha viés religioso, mas uma filosofia prática de vida. Chamada de hatha yoga, a vertente que ele abraçava pregava a melhora do corpo físico para aperfeiçoar a consciência.

"É muito importante mantermos esse legado e a memória dele vivos. Ele deixou, por exemplo, o Instituto Hermógenes, que disponibiliza estrutura para a prática. A ioga é uma ciência milenar que visa à integração de corpo, mente e espírito, com práticas corporais e mentais - como a meditação, que faz parte de toda a filosofia do ioga. Ioga significa união e integração. Ele falava que essa prática é para todos nós. A ioga não é para quem pode, e sim para quem precisa. E todos nós precisamos. Visa à melhora da qualidade de vida e não tem pré-requisitos para que se pratique. É uma prática que visa viver melhor o tempo presente”, afirma o neto, Paulo Raphael Bitencourt, que é professor de história e de ioga no Rio de Janeiro. “Há um grande benefício da saúde física com a prática regular. Promove, também, um contato maior com nossos pensamentos e, assim, nos conhecermos”.

Tempo

O neto de Hermógenes entende que a pandemia é um contexto de afastamento dos outros e de nós mesmos. “A obra dele é muito atual. Há um livro dele, por exemplo, chamada Yoga para Nervosos. A prática ajuda a nos organizarmos, tranquilizarmos. [Ajuda em] questões relacionadas a distúrbios como insônia e entendemos que a prática pode nos trazer bem-estar. O ioga traz esperança de dias melhores”. O neto entende que iniciantes podem começar a prática com o tempo que tiver disponível e pode ser feita dentro de casa.  

Paulo Raphael explica que é necessário praticar ioga 24 horas, com postura responsável no dia a dia. “Precisamos estar sempre evoluindo e aprendendo cada vez mais. Ele dizia assim: 'Faça ioga para ser melhor para os outros e não para ser melhor do que os outros'. Servir melhor à sociedade, com mais equilíbrio. A mensagem dele é muito atual e podia ser mais aplicada a momentos duros como o que estamos passando. Tem quatro palavras que ele sempre repetia que são: entrego, confio, aceito e agradeço. Era como um mantra na vida dele".

Para a pedagoga Ana Lúcia Leão, filha de Hermógenes e mãe de Paulo Raphael, a serenidade do pioneiro foi um aprendizado de vida para a família. “Ele mantinha um bom humor sempre. A vida dele era leve e, ao mesmo tempo, profunda. Fazer ioga não é só colocar a cabeça para baixo”.  Ana Lúcia Leão recorda ainda que o pai, diante da necessidade de espalhar a novidade, passou a trabalhar bastante de madrugada para escrever livros, além da preparação das aulas que ele desenvolvia no Colégio Militar, no Rio de Janeiro, por 25 anos. “De madrugada, ouvíamos o barulho da máquina de escrever. Quando ele faleceu, nós desfizemos o apartamento que ele morava e encontramos um enorme material. Ele deixou tamanho legado que há grupos de estudos em Portugal, com direito à estátua dele em Lisboa”.

No Colégio Militar, ele desenvolveu pedagogia instigando os alunos com perguntas, com obras que ele mesmo elaborava e até histórias em quadrinhos. "Ele trazia o aluno para dentro da situação e tinha concepções diferenciadas, como as de Paulo Freire. E ele já trabalhava valorizando o saber do aluno na década de 1950”. O neto Paulo Raphael, que é historiador, pretende escrever biografia sobre o avô pioneiro em parceria com o irmão, Thiago Leão.

A vida intensa do avô fez com que ele percorresse diferentes países e elaborasse estudos até hoje não publicados. No mestrado, Paulo Raphael pesquisou a atividade acadêmica do professor Hermógenes no Colégio Militar, focado na metodologia "a pergunta que ensina", que preparava o aluno para a aprendizagem da história. Hermógenes trabalhou no Colégio Militar até a aposentadoria, quando foi para reserva como tenente-coronel. "Ele teve uma vida de mais de 30 anos como militar. Como professor, ele também deu aula sobre ioga e filosofia oriental para os alunos da instituição mantida pelo Exército".

Fora do colégio, Hermógenes influenciou também pessoas como Palmerim Soares, que o conheceu com apenas 18 anos de idade. “Foi uma mudança completa na minha vida, com alteração de alimentação e, também, de comportamento diante da vida”. Quarenta anos depois, o hoje experiente professor de matemática, que também ensinou ioga, explica que a valorização das atividades físicas é parte desse processo. Ele garante que raramente fica doente, em razão da preservação do sistema imunológico. "Alimentação e atividade física equilibradas” são caminhos que o professor cita. Ele explica que o caminho para esse autoconhecimento tem relação com a serenidade. "Quando o lago está agitado, não se vê o fundo", compara.

Na teoria

A vida diferente do pioneiro foi, há cinco anos, tema do documentário Hermógenes, Professor e Poeta do Yoga, dirigido por Bárbara TavaresComo praticante e admiradora da prática, a cineasta, em parceria com o diretor de fotografia Frandu Almeida, traduziu em imagens o que nem sempre as palavras conseguem explicar. "Como cineasta e documentarista, sempre pensei que eu gostaria de passar um pouco do que é a vivência do que sinto quando faço uma aula de ioga, de transformação interna”.

Os realizadores, que hoje moram na cidade do Porto, em Portugal, percorreram os caminhos de Hermógenes durante três anos, com filmagens realizadas em lugares como São Paulo, Salvador e na Índia, e chegaram a ter contato com o mestre da ioga pouco antes de ele morrer. "O professor Hermógenes é uma referência na ioga há anos, uma figura que é muito conhecida não só dentro da ioga, mas dentro da terapia holística também. E não havia nenhum filme de cinema sobre ele. Na época, existia um filme que foi feito para a televisão", lembra. 

Bárbara Tavares entrevistou vários famosos (como o ator Jackson Antunes, a monja Coen e o músico Marcelo Yuka) e anônimos que testemunham os benefícios da prática na vida deles. "Esse filme foi uma experiência incrível, em que conseguimos concluir graças ao financiamento coletivo", conta. O lançamento foi no Cine Odeon, alugado pelos próprios realizadores, e o interesse pela vida de Hermógenes foi tamanho que os ingressos foram esgotados dias antes da exibição lotada. O sucesso fez com que o filme entrasse em cartaz na tradicional sala de cinema, com sessões sempre cheias, e despertasse o interesse de uma distribuidora, que o levou para o circuito nacional. É possível assistir ao filme nas plataformas Google PlayAmazon PrimeITunesLooke e Filmin

Assista à edição do Sem Censura, da TV Brasil, de 2016, que destacou o documentário sobre o professor Hermógenes

(Fonte: Agência Brasil)

Os estudantes pré-selecionados em lista de espera do processo seletivo do Programa Universidade para Todos (Prouni), edição do 1º semestre de 2021, têm até a sexta-feira (12) para comprovar as informações da inscrição para obter a bolsa para uma das opções de curso escolhidas.

A documentação comprobatória de que o pré-selecionado atende aos critérios do Prouni deve ser entregue na instituição para a qual o estudante foi pré-selecionado. A instituição de ensino deve, obrigatoriamente, entregar ao pré-selecionado o protocolo de recebimento da documentação solicitada.

O Ministério da Educação alerta que o candidato deve ficar atento quanto à exigência de entrega de documentos adicionais, caso seja julgada necessária pelo coordenador do Prouni na instituição. A perda do prazo ou a não comprovação das informações implicará a reprovação do candidato. 

Prouni

No primeiro semestre de 2021, o Prouni registrou 599.223 inscritos. Cada candidato pode escolher até duas opções de curso. Ao todo, foram ofertadas bolsas do Prouni para 13.117 cursos de graduação em 1.031 instituições privadas de ensino superior em todos os Estados e no Distrito Federal. A oferta foi de mais de 162 mil bolsas de estudo.

O Prouni é um programa de acesso ao ensino superior, destinado a quem não tem diploma de graduação, que oferece bolsas de estudo integrais, que cobrem a totalidade da mensalidade do curso, e parciais, que cobrem 50% do valor da mensalidade, em instituições privadas de ensino superior.

(Fonte: Agência Brasil)

A jornalista Lúcia Leme morreu hoje (8) vítima de um câncer no pulmão. Amanhã (9), ela faria 83 anos.

Em sua página no Facebook, os filhos da jornalista comunicaram a morte: “Devastados de tristeza, lamentamos informar que nossa mãe, Lúcia Leme, uma mulher extraordinária, profissional exemplar, mãe maravilhosa e avó muito amada, faleceu hoje vítima de câncer de pulmão. Partiu no Dia Internacional da Mulher. ❤️ Assinado: Fernanda Leme, Luciana Leme, João Henrique Leme e Renato Carvalho Leme Almeida.

Sua trajetória na televisão foi marcada, especialmente, pela longa passagem como apresentadora do Sem censura, programa da TV Brasil que comandou entre 1986 e 1996.

Lúcia começou no jornalismo como estagiária na extinta TV Tupi, no fim da década de 1970. Em seguida, foi convidada por Paulo Alberto Monteiro de Barros, o Artur da Távola, para auxiliá-lo em sua coluna no jornal O Globo, que dava notícias sobre televisão.

Trabalhou também nas revistas MancheteFatos e FotosAmigaEle & Ela, da organização Bloch. Esteve ainda na Rádio Manchete e, posteriormente, na TV Manchete. “Dali, me convidaram para ser debatedora do Sem Censura e eu fui. Um ano depois, me chamaram para ser a apresentadora desse programa e ali fiquei por dez anos. Fiz, ainda, os programas Front Page, Intervalo, Olhar 2001/2/3/4/5/6 e, depois, o mesmo programa passou a se chamar Espaço Público e foi até 2009”, revelou a jornalista em perfil profissional.

Paralelamente, fez programa na Rádio Roquete Pinto e na Rádio MEC AM. Trabalhou ainda na internet, fazendo um programa na Web-rádio da MultiRio para a Prefeitura do Rio de Janeiro que distribui essas produções a escolas da rede municipal de ensino. Carioca, divorciada, Lúcia Leme tinha mestrado em Comunicação na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Sua página no Facebook ficou cheia hoje de mensagens de tristeza, enviadas por amigos como o ator Edwin Luisi: “No Dia Internacional da Mulher, presto minha homenagem a uma grande mulher que acaba de partir. Lucia Leme, agora você é luz”. A apresentadora Luciana Barreto, da TV CNN, lamentou a morte de Lúcia Leme: “Perdemos uma grande mulher”. A amiga e colega de rádio Heloísa Paladino a homenageou: “Tristeza profunda pela partida da querida Lúcia Leme. Tantas histórias e papos, tanto trabalho em conjunto, tantos ensinamentos. Vamos eternizar esse brinde pela brilhante mulher que você foi. Mas agora você vai brilhar em outro plano. Descanse em paz”.

“Sou movida a carinho e verdade”, dizia Lúcia em sua página no Facebook. O velório será hoje, a partir das 14h30, e o enterro está marcado para 16h30, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio. 

(Fonte: Agência Brasil)

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibilizou, em seu site, os resultados das análises dos recursos contra o resultado provisório da prova escrita discursiva, referentes ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida) 2020. Os resultados das provas objetiva e discursiva e o status de aprovação na primeira etapa do exame foram publicados dia 5, no Sistema Revalida.

Segundo o Inep, somente os aprovados na primeira etapa podem participar da segunda. “Uma novidade desta edição é que, se o médico formado no exterior reprovar na segunda etapa, ele poderá se reinscrever diretamente nessa fase, nas duas edições consecutivas. Anteriormente, era necessário realizar todo o processo desde o início. Cronograma, diretrizes e procedimentos da segunda etapa serão publicados, em breve, em edital próprio”, informa o Inep.

Revalida

O Revalida tem o objetivo de aferir conhecimentos, habilidades e competências requeridos para o exercício da medicina, adequados aos princípios e necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), em nível equivalente ao exigido dos médicos formados no país. A revalidação do diploma é responsabilidade das universidades públicas que aderirem ao Revalida.

De acordo com o Inep, as referências do Revalida são os atendimentos no contexto de atenção primária, ambulatorial, hospitalar, de urgência, de emergência e comunitária, com base na Diretriz Curricular Nacional do Curso de Medicina, nas normativas associadas e na legislação profissional, conforme previsão da Matriz de Referência do Revalida.

(Fonte: Agência Brasil)

Ser mulher é enfrentar um desafio diferente todos os dias. É superar barreiras, muitas vezes, invisíveis. Apesar de serem a maioria da população brasileira (51,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), elas ainda enfrentam cenários desiguais, seja na divisão das tarefas domésticas ou nos ganhos no mercado de trabalho. Muitas vezes, elas assumem tripla jornada. Saem para trabalhar, cuidam da casa, dos filhos. Em vários lares, elas são arrimo e sustentam sozinhas suas famílias. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), em 2018, 45% dos domicílios brasileiros eram comandados por mulheres.

Mas, apesar de liderarem casas e assumirem as contas, as mulheres ainda têm de lidar com a discriminação. Estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostra que 90% da população mundial ainda tem algum tipo de preconceito na questão da igualdade de gênero em áreas como política, economia, educação e violência doméstica.

Segundo o estudo, que analisou dados de 75 países, cerca de metade da população considera que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres, e mais de 40% acham que os homens são melhores diretores de empresas. Além disso, 28% dos consultados consideram justificado que um homem bata na sua esposa. Apesar da longa jornada enfrentada por elas ao longo da história, os números mostram que ainda há muito a caminhar.

Marco histórico

Considerado marco histórico na luta das mulheres por mais oportunidades e reconhecimento, o 8 de março foi instituído como Dia Internacional da Mulher pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975.

Muitos historiadores relacionam a data a um incêndio que aconteceu em 1911, em Nova York, no qual 125 mulheres morreram em uma fábrica têxtil. A partir daí, protestos sobre as más condições enfrentadas pelas mulheres trabalhadoras começaram a ganhar espaço.

Mais de um século depois, as mulheres continuam na luta por igualdade de direitos. 

Martha Halfeld

Para a juíza Martha Halfeld, primeira mulher a ocupar a Presidência do Tribunal de Apelações da Organização das Nações Unidas, não há mais espaço para a ideia de “concessão masculina”. Tudo o que as mulheres conseguiram, ao longo da história, foi com base em muito trabalho, dedicação e suor. Na visão da juíza, o 8 de março deve ir muito além de flores ou presentes.

"Oferecer a rosa, pode ser visto como: eu te concedo uma assistência. Eu, homem, te concedo aquilo. Hoje, não existe mais espaço para eu concedo. Não, nós conquistamos. E nós conquistamos, com muito trabalho, um espaço de perfeita igualdade em termos intelectuais, pelo menos. Temos tanta capacidade intelectual quanto qualquer homem”, afirma Halfeld que permanece na Presidência da Corte até janeiro de 2022 e continua na ONU até 2023.

Livro como arma

Para conquistar um espaço na academia e na literatura, a mineira Conceição Evaristo sabe o quanto teve de lutar. Sua primeira arma foi o livro, que a acompanhou desde a infância pobre vivida em Belo Horizonte. "Eu não tinha muita coisa em termos materiais. Brinquedo era uma coisa rara, passear era uma coisa muito rara, viajar muito menos. Então, o livro vem preenchendo um vazio. A escola onde estudei os meus primeiros anos primários tinha uma biblioteca muito boa. Desde menina, eu sempre gostei de leitura”, conta.

Segunda de nove irmãos, a escritora foi criada pela mãe e por uma tia. Conceição, que trabalhou como empregada doméstica e lavadeira, foi a primeira da família a conseguir um diploma universitário.

Depois da graduação, veio o mestrado, o doutorado e as aulas em universidades públicas. Em paralelo aos estudos, ela se dedicava a outra paixão: a escrita. Seus contos e poemas foram publicados na Série Caderno Negros, na década de 1990, e seu primeiro livro, o romance Ponciá Vicêncio, foi publicado em 2003.

Conceição Evaristo

Em 2019, foi a homenageada do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura brasileira. “Foi preciso um prêmio me legitimar. Enquanto eu não ganhei o Jabuti, as pessoas não acreditaram que estavam diante de uma escritora negra”, afirma.

Reconhecida como uma das escritoras brasileiras mais importantes da atualidade, Conceição conta que as barreiras que teve de enfrentar por toda sua vida foram o combustível para suas obras. "A minha escrita é profundamente contaminada pela minha condição de mulher negra. Quando eu me ponho a criar uma ficção, eu não me desvencilho daquilo que eu sou. As minhas experiências pessoais, as minhas subjetividades, o lugar social que eu pertenço, isso vai vazar na minha escrita de alguma forma”

Para ela, o 8 de março é uma data para ser celebrada, mas também um momento de reflexão e de vigília constante. "Todas as mulheres precisam ficar alertas àquilo que é do nosso direito, àquilo que nós temos de reivindicar sempre porque nada, nada nos é oferecido, tudo é uma conquista”, conclui.

(Fonte: Agência Brasil)

Estive lá depois. E a marca dos destroços. Esqueletos de casebres esquecidos na morte. Cruzes de todas as aflições. A dor ainda insepulta. A dor no chão chorando nos pedaços das estacas que ficaram denunciando a brutalidade da devastação. Vi a sombra de todas as desgraças num movimento macabro de recordações fantásticas: mulheres correndo na noite procurando filhos desnutridos, filhos magros, filhos doentes. Vi homens soluçando os mais desencontrados desesperos. A perda da moradia fincada na lama, a perda da miséria que lhe agasalhava o sono, que lhe abrigava das intempéries. Vi angústia pregadas na noite escura. Esperanças na voragem da fogueira imensa queimando promessas, desesperos de mil bocas que pediam pão, de mil braços que pediam trabalho. Vi, na noite escura, estas sombras que ficaram vivendo, que ficaram fora do braseiro, olhando. Vi, na noite escura, estas sombras que ficaram vivendo, que ficaram fora do braseiro, olhando, que ficaram na destruição das enxergas, das paredes de palha, do teto de palha, casinhas de sonhos, de pesadelos, feitas com o barro de todas as angústias. Vi o vazio. O horror. O nu de todas as aflições. O nu que espanta, que faz medo, que provoca revoltas. Vi a desolação num concretismo brutal, violento, asfixiando todos os protestos.

Sim, vi Goiabal despido, nu. Vestido de nu. Vi Goiabal sem o alarido das crianças, sem o grito dos meninos, sem as travessuras das meninas. Sem a presença da mãe catando comida para os filhos. Sem a presença dos pais colhendo o alimento cá fora, suando a camisa rasgada. No rosto, o vermelho de todas as vergonhas.

Sim, vi Goiabal. Vi Manuel Bandeira indo para Pasárgada. Vi, antes, Augusto na tragédia da hemoptise. Sim, vi Goiabal. E no silêncio do EU, meu EU trancado em mim. Sinto e acredito: CHOREI as lágrimas que choraram. E voltei, vim de volta para casa. E seria melhor que estivesse ido.

* * *

O avião deixou o aeroporto. Minha filha Maria Catarina olhou o relógio: (...) Uma manhã de sol anunciando o dia. Catarina despediu-se das duas senhoras: uma mais velha, a sua sogra, dona Tomásia Romana Guterres Soares.  A outra, quarenta e poucos anos, a sua cunhada, dona Ana Beni Guterres Soares. O avião ia para Pinheiro. Iam para a Fazenda Ibiratuba onde o chefe da família morava. A casa da fazenda acabara de passar por uma reforma. Havia doces dispostos sobre a mesa. Chegariam para saborear com o marido e pai das duas senhoras. Alegria nos olhos de Alexandre Fabrício Gomes Soares, o velho Pantin, de 70 e poucos anos. Uma vida ao lado da esposa, da filha, dos filhos. Catarina viu o avião da firma Morais, contratado pelas duas passageiras, vencer as alturas e, junto delas, um parente de nome Helvécio. O pequeno “aparelho” subiu. No comando, o jovem aviador Antônio José Vidal. Catita só se afastou do campo quando não mais olhava o “pássaro” levando, em suas asas, a carga preciosa: uma mãe e uma filha ávidas por chegarem a Pinheiro, sair da sede do município e tomar o caminho da Fazenda Ibiratuba.

Helvécio, assim se diz, ficaria no caminho. Com o aviador, também, as suas obrigações. Deixar as passageiras e voltar, chegar em casa, abraçar a esposa de quem esperava o nascimento de um filho, o primeiro, pois que casara em maio, mês das flores. E os dois caminhavam para o primeiro aniversário de casamento. Tudo assim, assim tranquilo, assim num mundo de pensamentos os mais encantadores.

E Maria Catarina voltou. Contou em casa o fato. A despedida. O avião subindo... E a vida entrou no ritmo de sempre: trabalho, obrigações, tarefas. Gente correndo nas ruas apressadas... Coletivos transitando. Corações desesperados. Batidas fortes. O “pássaro” descendo. Não mais obedecia às ordens do piloto. E veio o inevitável, a descida rápida, violenta, desastrosa. O mergulho do avião nas águas do canal, do mar que estava no fenômeno brutal da enchente. Mergulha o “aparelho”. Com  ele, a carga preciosa. Com ele, vidas que estavam na vida e que agora, ali estavam na morte.

E às seis horas... Tirirical. Corpos que chegavam. Chegavam com os olhos fechados, com as bocas fechadas, com a vida parada. E depois isto, a morte. E depois isto, a vida.

No alto, a Hora do Angelus. Tristezas no coração dos que ficaram. E, depois, a cerimônia lá no Gavião. E aí, meus olhos mais choravam. Goiabal... São Marcos... Vida. Morte.

Sim, há sempre uma dor chorando por aí...

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 22 de outubro de 1968 (terça-feira).

Neste primeiro domingo de marco/21, apresentamos...

Mais dúvidas dos leitores

1ª) Ano-Novo OU Ano Novo OU ano novo?

“Ano-Novo” corresponde ao réveillon: “Não compareceu à ceia da noite do Ano-Novo”. É o conjunto de festejos que acompanha a passagem de ano.

Com hífen, mas com letras minúsculas (ano-novo), segundo o dicionário Houaiss é o mesmo que “ano-bom, ano entrante, meia-noite do dia 31 de dezembro e dia primeiro de janeiro”.

“Ano novo” (sem hífen) são duas palavras: substantivo “ano” + adjetivo “novo”. Seria o oposto de “ano velho”. Corresponde a novo ano:

“A empresa espera fechar muitos negócios neste ano novo”.

2ª) Cidade-Natal OU cidade-natal OU cidade natal?

Segundo o dicionário Houaiss, devemos escrever sem hífen: cidade natal, cidade baixa, cidade universitária, cidade alta, cidade aberta, cidade dos pés juntos, cidade das sete colinas…

Escrevemos com hífen quando o segundo elemento é substantivo: cidade-dormitório, cidade-satélite, cidade-jardim, cidade-museu, cidade-Estado…

3ª) Mostra OU amostra?

Tanto faz. “Mostra” ou “amostra” é o “ato de mostrar ou amostrar”. Tanto o substantivo quanto o verbo apresentam as duas formas registradas em nossos principais dicionários. O que pode fazer diferença é o uso:

1) O dia de hoje foi apenas uma mostra do que será o verão deste ano (primeira impressão);

2) Compareceu à mostra da coleção de inverno (apresentação, exibição);

3) Era uma mostra de fotografias (exposição que reúne uma coleção de obras afins);

4) Ganhou uma amostra do perfume (porção, miniatura);

5) Este quadro é uma amostra do talento do pintor (trecho, porção, fragmento representativo de alguma coisa).

“Amostragem” é a “ação, processo ou técnica de escolha de amostra(s) adequada(s) para análise de um todo”:

“Esta pesquisa é uma amostragem dos eleitores brasileiros”.

4ª) Foliã OU foliona?

Embora a forma “foliã” seja muito usada, os nossos dicionários só registram a forma FOLIONA.

5ª) Peixe-mulher OU peixe-vaca?

Parece piada, mas não é. O feminino de “peixe-boi” é PEIXE-MULHER.

6ª) Capitã OU a capitão?

O feminino de CAPITÃO sempre foi CAPITÃ: “Fernanda foi, durante muito tempo, a capitã da nossa seleção de vôlei”.

Na vida militar, tornou-se comum usar os substantivos masculinos, que sempre foram usados somente para homens, como substantivos de dois gêneros: o soldado/ a soldado; o sargento/ a sargento; o tenente/ a tenente; o oficial/ a oficial… O CAPITÃO/ A CAPITÃO.

7ª) Poetisa OU a poeta?

O feminino de POETA sempre foi POETISA. A realidade, porém, é que, no meio literário, toda mulher que escreve versos de reconhecido valor literário é chamada de A POETA. POETISA seria usada num sentido mais genérico, e A POETA num sentido mais específico (para indicar reconhecimento literário).


Teste da semana

Que opção completa, corretamente, a frase a seguir?

 “Quando __________ os técnicos contratados, __________ que a direção das empresas __________ as providências necessárias”.

(a) chegarem / espera-se / tomem;

(b) chegar / espera-se / tomem;

(c) chegar / esperam-se / tome;

(d) chegarem / espera-se / tome;

(e) chegarem / esperam-se / tome.

Resposta do teste: letra (d).

O sujeito de CHEGAREM é “os técnicos contratados” (= plural). O sujeito de ESPERA-SE é a oração “que a direção das empresas tome as providências necessárias”. O sujeito de TOME é “a direção das empresas” (= o núcleo do sujeito determinado simples é “a direção”).

Poeta Luís Augusto Cassas num dos sobradões de São Luís (MA)

Um dia desses [lê-se agosto de 2008], o poeta Luís Augusto Cassas lançou na Academia Maranhense de Letras, dentro do calendário do Centenário da Casa de Antônio Lobo, o livro “Evangelho dos peixes para a ceia de aquário”, com a participação do escritor e crítico de arte Marco Lucchesi, hoje presidente da Academia Brasileira de Letras, que fez uma brilhante análise sobre a poética do autor de “A República dos Becos”.

Nesse livro, ora lançado, Luís Augusto Cassas é trazido ao cenário poético por  dois dominicanos do mais alto nível humanístico, Leonardo Boff e Carlos Alberto Libânio Christo que outro não é senão o frei Beto, portando os dois o lema  “Licet ad capiendos”, uma das bulas dirigidas a essa plêiade de sacerdotes ilustres, apesar de Boff não mais se encontrar encardinado no “Ordo Predicatorum”, o que mesmo assim nunca deixará de ser filho Seráfico de São Domingos de Gusmão, com ou sem a Teoria da Libertação; já o Beto, não. Apesar de suas ideias e concepções, continua engajado na mística da velha Igreja Romana.

Neste “Evangelho dos peixes para a ceia de aquário”, Cassas nos revela um salmista e um anunciador, onde o tema dessa sua homilia é o peixe, e o peixe litúrgico por excelência, que, no dizer de Lucchesi, “trata-se da força prodigiosa das águas de um oceano generoso que abriga peixes, palavras, costumes, relações profundas com aquelas que o fundo marinho guarda...” E canta o poeta ao homem renovado, isto é, ao homem novo pela remissão dos pecados, seria esse o conceito teológico: “Se queres nascer de novo / rompe o mar psíquico do ovo / ergue-te à estrela de fogo / acalanta os pés de couro / carrega as dores do povo / queres ser amigo do todo? / faz então tudo de novo”.

E o poeta mergulha pelo Eclesiastes, sinagogas, eucaristias, milagres e outras deidades misteriosas. Como o Apóstolo Paulo, ele, Cassas, é cônscio de suas obrigações sapienciais e até místicas: “domingo da ressurreição: sal na mesa / Cristo no coração”. No Sábado de Aleluia, o poeta personifica-se em Davi, arrependido de ter mandado Urias, o “heteu”, para a guerra, para comer-lhe a mulher, e salmodiar depois...: “Sábado de aleluia: refeição do luto / jejum absoluto”. Já na Sexta-feira da Paixão, reveste-se da inteligência dos Cantares do Rei-poeta e despreza o anátema para dizer: “chá de bardana à moda samaritana / salada com nozes e avelãs / berinjelas e maçãs”. E paga por isso na página ao lado, o ônus de um pesado Carma.

O discurso poético de Cassas se universaliza porque o poeta já se encontra além de sua aldeia a navegar em águas profundas: “Toma novo bule de chá / divide-o em doze xícaras / oferta-os aos necessitados / o resto dá de beber aos rios: / sempre haverá mais”. Essas doze xícaras podem simbolizar os doze apóstolos ou as doze pedras do Jordão. Aqui, existe um laivo de prosperidade, onde se nota a presença de um Cristo vivo, a administrar ao crente em sua obra da multiplicação, uma vida de bênçãos, enfoque tão bem ensaiado por Max Weber no seu “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.

O poeta vale-se da anatomia líquida das águas e do pássaro profético, a trespassar-se nesse canto, onde o gênesis anuncia a boa-nova da relativa verdade dos filhos de Deus que, por outros conceitos, se dizem vindos das águas, apesar do batismo do Espírito Santo ser de fogo; o nosso planeta é de água, como de água é a vivenda amniótica onde nos aconchegamos por algum tempo, essencialmente de água: “buscai a mulher da água / é a porta e a entrada / o amor e a amada / sua alegria faz nascer / o voo das águias”.

Existem gozos feitos de risos e gozos feitos de choros, há quem adormeça sob o Sol e a chuva, com ou sem redes de maresias onde o farol da barra pode ser um simples símbolo fálico, a iluminar a samaritana assentada à borda do poço: “eu madalena maria / n’água do mundo piranha / graças à divina entranha / sagrada bela tainha”.

Faz-se, assim, o código da vida marinha, onde o peixe (pode ser qualquer um, desde o salmão ao papista) evangelizado em qualquer aquário, para ser servido em qualquer ceia, é chamado pelo seu nome natural, acompanhado da infeliz adjetivação de fresco, sem nenhum respeito à sua condição sexual, ou à sua postura de morto, talvez para satisfazer aquela assertiva de que primeiro à pança, depois à moral, como entendia Macbeth.

Há pouco era noite, estava a revisar os originais de um meu livro que teve a graça de ser premiado com a publicação, quando recebi do poeta Cassas, para meu contentamento, e de uma só vez os livros “Ópera Barroca” e “Vampiro da Praia Grande”. No primeiro, o poeta clama por socorro aos seus companheiros metafísicos que moram dentro de suas travessas e vielas, para cantar num grito d’alma: “Amigos, escutai o meu coração: é de pedra / pois cristalizou todo o meu ser. / Ele é o único sobrevivente de mim. / Um rio de amor dorme submerso / nas lamentações do pó. / Páginas da vida / pulsam escondidas / mas é impossível ser / que é o anúncio duro / de um tempo de dor (...) / Amigos, ajudai esse monstrengo a sobreviver”.

Antes de o Barroco chegar, ou na música ou nos altares, creio ter sido o poeta algum místico viageiro, que ainda não depurava certos detalhes e filigranas, mas escrevia poemas na areia, não à virgem, mas ao terror das aranhas que faziam peçonha dentro dos armários onde estavam os seus brinquedos: Há um mundo a nos confinar: “heroína da noite, subjugas o inimigo, / a pálida criança de braços paralisado, / e fazes depor a coragem e a espada de plástico”.

Realmente, a nossa cidade é uma “antífona de ladeiras” que nos comprime e deprime. Ela é mais que matricida, ela é homicida, e cruel, na mais fria letra do Direito Penal, porque não mata apenas seus maridos, mata com crueza qualificada os seus amantes, principalmente aqueles que ela sabe desesperadamente apaixonados: “estupra os seus estetas / e derrama as suas vísceras”.

Aviso ao poeta de que existe, na Madre Deus, uma geração inteira descendentes desses vampiros, tanto nas potestades do Boi quanto nas hostes da querida “Turma do Quinto”, de vampiros, de cuja eugenia provém o nosso Herbert de Jesus Santos, oriundo dos ramos patriarcais dos cantadores: Cristóvão, Jeje e Zé Pedrada: “morde-me quem se atreve? / se quem com dente fere / vampiro será ferido / melhor adiar o enterro / deixá-lo morrer ao vivo”.

Cassas, por derradeiro, nesse livro, canta entorpecido como se dentro da “The Weste Land”, de T.S.Eliot, ele que encarna uma das mais estranhas e poderosas permanências literárias de nossa época, a buscar uma consciência cultural no passado, um tempo a correr no presente, e os sonhos de um vir-a-ser, o que faz sugerir ao poeta Cassas aqueles elementos da antiguidade clássica com os quais trabalhava com mestria: ar, terra, água e fogo, em poemas que não se esgotarão nunca, por suas universalidades temporais. E como Eliot cantou a sua Londres, Cassas, numa outra terra desolada, canta com propriedade “o mictório da litorânea, a feira do João Paulo, os cupins de São Luís, pelo desejo do Xá da Pérsia pela grossura das nossas palmeiras e, até quem diria, pelo instrumento que o nosso saudoso Vitor Gonçalves Neto não só usava para falar”.

A sobrar-lhe espaço, o poeta Luís Augusto Cassas, por fim, diz ao nosso queridíssimo Vampiro da Praia Grande: “45 cabelos brancos / dor nos flancos / se a imprensa taxa / vampiro jovem / anos a solavancos / daqui a pouco vão dizer / do tio nosferatus / sou pajem”.

Poeta é isso aí. Só posso dizer que você já inscreveu seu nome com letras de ouro no Cancioneiro Brasileiro. Parabéns!

* Fernando Braga, in Jornal “O Estado do Maranhão”, São Luís, 14/12/08, originais in “Conversas Vadias”, antologia de textos do autor.