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O CAXIENSE OSVALDO FERREIRA DE CARVALHO*

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Nessa quinta-feira, 22 de outubro de 2020, a Biblioteca Pública Municipal Professor Osvaldo Ferreira de Carvalho completou seus 50 ANOS.

Entre as diversas “coisas” que se poderia lembrar – e cobrar –, como a ampliação do acervo da Biblioteca, a melhoria de suas instalações ou construção de uma sede adequada, lembremo-nos, também, da pessoa que dá nome àquela casa de Saber.

O educador Osvaldo Ferreira de Carvalho nasceu em Caxias (MA), em 23 de maio de 1933, e faleceu há quase 30 anos, em 6 de janeiro de 1991, em Imperatriz. Em sua terra natal, foi professor (de Inglês) nos colégios Caxiense, São José e Diocesano. Anos depois, foi professor no curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão (Uema, hoje Uemasul), em Imperatriz.

Seus pais eram José Ferreira de Carvalho, maestro da banda Lira Operária Caxiense, e Eloya Maria dos Santos, a Dona Ló, que tiveram também Oneide Carvalho de Melo (residente em Caxias); Osvaldina Carvalho dos Santos (Rio de Janeiro/RJ); Maria de Carmo Carvalho da Silva (falecida); Odenise Ferreira de Carvalho (Rio de Janeiro/RJ); Oseneide Maria de Carvalho Pereira (Rio de Janeiro/RJ); e Marcus Vinicius de Carvalho (Rio de Janeiro/RJ).

Um de seus alunos em Caxias foi Jacques Inandy Medeiros, escritor, pesquisador, médico-veterinário, professor emérito e ex-reitor da Uema, membro e diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e, também, ex-diretor do Banco do Estado do Maranhão, ex-secretário municipal de Educação e de Cultura de Caxias e ex-presidente da Academia Caxiense de Letras. Jacques Medeiros (falecido em 16/10/2019, em São Luís) recorda que, na condição de reitor da Uema, quando vinha ao “campus” de Imperatriz, ficava duplamente feliz, porque, nas reuniões na Uema local, ele tinha um ex-aluno (o engenheiro civil Ronaldo Neri Farias, professor da Uema) e um ex-professor, Osvaldo Ferreira de Carvalho, que viera de Caxias para Imperatriz a convite do irmão de Jacques, o desembargador aposentado Antônio Carlos Medeiros, que, na época, foi juiz em Imperatriz e apresentou Osvaldo Carvalho ao também magistrado José de Ribamar Fiquene, fundador da Faculdade de Educação de Imperatriz, instituição de Ensino Superior que mais tarde seria incorporada à Federação das Escolas Superiores do Maranhão (Fesm), depois Uema e, desde 3 de novembro de 2016, pela Lei Estadual nº 10.525, Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul). Curiosidade: Antônio Carlos Medeiros foi diretor do Colégio Caxiense quando Osvaldo Carvalho lá era professor e, mais tarde, viria a ser padrinho de um dos filhos de Osvaldo, Wladimir.

O que pouco se sabe ou o de que quase não se lembra é que, como conta Jacques Medeiros, Osvaldo Carvalho “foi um dos maiores jogadores de futebol que eu já vi na minha vida; era um craque”. Outros caxienses, conhecedores de futebol, asseguravam que Osvaldo foi um dos maiores centroavantes (jogador de ataque, geralmente o camisa 9) que eles viram jogar, no nível do mineiro Heleno de Freitas, que, de 1940 a 1953, atuou profissionalmente no Botafogo, Boca Juniors, Vasco da Gama, Santos, Junior de Barranquilla e América (do Rio de Janeiro). O economista e escritor Antônio Augusto Ribeiro Brandão, membro da Academia Caxiense de Letras, diz ter conhecido “muito” o jogador Osvaldo: “Jogava no Comercial, em Caxias, um time amador daqueles tempos. Uma das ‘linhas’ era formada por Galvão, Zeca, Osvaldo, Nonato e Flávio”. Conta-se que o Sampaio Corrêa Futebol Clube, de São Luís (MA), "ficou doido" para contratá-lo, mas o futuro professor caxiense “não ligou”: à bola no pé, preferiu o giz na mão. As “quatro linhas” (do campo de futebol) tornar-se-iam as da lousa, o quadro-negro ou verde das salas de aula.

Com a esposa, Hermínia Maria Lisboa de Carvalho, nascida em Fortaleza (CE) e residente em Palmas (TO), Osvaldo Ferreira de Carvalho teve um casal de filhos, que deram três netos aos pais: Aimée Desano, nascida em Fortaleza e casada com o norte-americano Tim Desano, com quem tem um filho (Rafael Desano) e reside no Estado de Michigan, nos Estados Unidos; e Wladimir Lisboa de Carvalho, residente em Palmas (TO) e casado com Selma Carvalho, com quem tem duas filhas, Mariana Carvalho e Fernanda Carvalho.

Osvaldo formou-se Bacharel em Letras Anglo-germânicas em abril de 1960, pela Faculdade Católica de Filosofia, da Universidade do Ceará. Uma curiosa coincidência: o diploma, expedido seis anos depois da formatura, é assinado, entre outros, pelo reitor Antônio Martins Filho (1904-2002), advogado, professor e escritor, nascido em Crato (CE) e que, em 1929, em Caxias (MA), fundou a firma “A Cearense” e, em 1935, foi um dos 14 fundadores do Ginásio Caxiense, do qual também foi diretor. Talvez nem o formando nem o reitor soubessem que Caxias e aquele diploma eram elos que os ligavam à “Princesa do Sertão Maranhense”. Antônio Martins também deu a Caxias um filho talentoso: nasceu o caxiense José Murilo Martins, médico formado nos Estados Unidos, talentoso escritor e pioneiro em Hemoterapia no Ceará.

Até hoje, Osvaldo Ferreira de Carvalho não sai das lembranças de muitos de seus alunos. Wilton Lobo, engenheiro-agrônomo e ex-vereador de Caxias, lembra: “Foi meu professor no Colégio Caxiense”. Cleide Magalhães, de Mirador (MA) e professora universitária em Imperatriz, diz ter de Osvaldo “saudosa memória... meu professor na Uema”. Fernando Cunha, fotógrafo e escritor imperatrizense, que o conheceu, atesta: “Grande educador”. Inês Maciel, advogada e escritora, membro da Academia Caxiense de Letras, relembra: “Foi um dos meus professores de Inglês, em Caxias. Gratas recordações!”

Música e formada em Letras, a acordeonista e vocalista Fátima Boré, de Imperatriz, com “saudades eternas desse grande educador”, escreve: “O professor Osvaldo era um poço de sabedoria. Se bem me lembro, em suas aulas de Latim, o assunto que mais chamava a minha atenção, eram os ‘casos’ e as cinco declinações, não esquecendo a fábula ‘Lupus et Agnus’!” (Em português, “O Lobo e a Ovelha”, escrita originalmente pelo grego Esopo, dos séculos VII e VI antes de Cristo e reescrita para o Latim por Caio Júlio Fedro, romano do século I da Era Cristã).

Colega do professor Osvaldo e, por um tempo, coordenadora do curso de Letras onde ambos ensinavam na Universidade, Liratelma Cerqueira revela: “Sanches, com estes registros, ascendeu-me a saudade de um grande amigo e companheiro de milenares labutas profissionais. Criamos, artesanalmente, o jornal ‘O Coruja’, de cuja safra devo ter algum exemplar, também. Lembra?” Lembro...

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Além de conterrâneo, fui amigo do professor Osvaldo Ferreira de Carvalho. Conhecemo-nos na faculdade de Imperatriz (MA), onde eu fazia o curso de Letras. Nosso gosto comum pela Cultura e Literatura e, sobretudo, por nossa cidade de Caxias, além da franqueza da amizade, do sentir-se à vontade com o outro, tudo isso permitiu-nos uma relação saudável, amiga, orgulhosa de nossa conterraneidade.

Brincávamos que, de tanto aprender outros idiomas (alemão, latim, grego, inglês...), ele, Osvaldo, já era quase não inteligível em português... Após as aulas, depois das 22h, às vezes ele fazia questão de me dar carona ou nos sentávamos a uma mesa de um discreto barzinho, para trocar ideias e relembrar Caxias. Como nem sempre uma carona é de graça, frequentemente eu tinha de ajudar o Osvaldo... a empurrar o fusquinha, para “pegar” e seguirmos pela cidade, cujas ruas àquela hora estavam pouco habitadas de seres automobilísticos.

Não soube de imediato do falecimento do notável professor da Universidade Estadual do Maranhão, hoje Uemasul. O ano de sua morte, 1991, foi também o ano de passamento de minha mãe, que vinha, há tempos, enfrentando uma rara doença (colangite primária), de pouco mais de 30 casos no mundo na época. Atordoado com a progressiva, inexorável, inelutável perda materna e tendo de realizar muitos cuidados e viagens para atrasar o inevitável, não fiquei sabendo que, no começo daquele ano, já o grande amigo havia partido...

Auxiliei o Osvaldo para, junto com a professora Liratelma Cerqueira, criarmos um jornalzinho na universidade – parece-me que o nome era mesmo “O Coruja”. Devo ter, com certeza, exemplares entre as dezenas de milhares de itens bibliográficos de minha biblioteca.

Apesar de, para alguns, ser um professor “severo”, creio que essa característica pode ser relativizada, em especial se dada por alunos que queriam, só, facilidades ou não se “aplicavam” nos estudos. Eu nunca encontrei dificuldade nas disciplinas do ilustre professor conterrâneo.

Sua importância na Educação em Imperatriz foi reconhecida para além do carinho de seus alunos. A Biblioteca Pública Municipal de Imperatriz, criada em 1970, tem seu nome...

... e completou ontem, 22 de outubro de 2020, MEIO SÉCULO de existência e grandes serviços prestados sobretudo às mentes adolescentes de Imperatriz e região.

* EDMILSON SANCHES

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Fotos:
O professor caxiense Osvaldo Ferreira de Carvalho (1933-1991) com a esposa, Hermínia, os amigos e colegas professores José de Ribamar Fiquene e Liratelma Alves Cerqueira, e os amigos, conterrâneos caxienses e colegas professores Jacques Inandy Medeiros, Antônio Carlos Medeiros e Antônio Augusto Ribeiro Brandão.