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Quando o amor é uma questão de língua…*

O AMOR É LINDO...

Uma vez alguém me perguntou se eu havia percebido, na avenida principal da cidade, uma faixa cuja mensagem de amor não obedeceria aos padrões da norma culta da Língua Portuguesa.

Passando pela dita avenida, conferi. Estava lá: “PARABÉNS, N., PELO O SEU ANIVERSÁRIO. ESTA HOMENAGEM É UM POUCO DO TUDO QUE POSSO TE OFERECER”.

Vou frustrar aquele alguém, meu leitor. O que tem a mensagem? Há uma impropriedade: “pelo” seguido do artigo “o” (“pelo” já é aglutinação de preposição mais artigo).

Agora, é outro papo a “mistura”, numa mesma mensagem, da terceira pessoa do singular (“seu”, de “seu aniversário”) com a segunda pessoa do singular (“te”, de “te oferecer”).

Em defesa do emissor, poderíamos, “mutatis mutandis” [mudado o que deve ser mudado], repetir o professor Napoleão Mendes de Almeida: “Ortografia é processo de escrever a fala, e não processo de obrigar a escrever o que não se fala”.

No caso do “seu” + “te”, a mensagem reproduz um hábito dos mais arraigados no falar cotidiano – a migração espontânea do “você” para o “tu” e vice-versa.

Foi essa mesma singeleza e despreocupação, essa informalidade própria das declarações, ambientes e “jogos” românticos, foi essa “coisa” muito mais verdadeira que o anônimo amigo/namorado/marido mandou reproduzir na mensagem.

O amor é lindo, e se ele não segue nem os trilhos da racionalidade, como iria obedecer às leis gramaticais?

Uma das ilustrações desta postagem contém frase (“Te amo”) que também não está no dito padrão “culto”, formal, clássico. Mas, exceto em novelas e literatura de época, quem haveria de escrever (ou, de preferência, falar, ao pé da nuca, os pelinhos se eriçando...) a forma “correta” "AMO-TE", que é claudicante, entrecortada)? Assim, prefira o fluido, contínuo, sussurrante “TE AMO”.

O amor vai além da Gramática. Chega às nuvens... (e sabe Deus até onde ele chega mais... chega mais...).

Sobretudo para o amor fica valendo a observação: A Gramática é muito boa para quem chega até ela, mas é ruim para quem não passa dela.

Repita-se: o amor vai além da gramática...

...embora, na hora certa, exija bom uso... da língua... [rs].

(Ah bondosa "maldade...).

* EDMILSON SANCHES