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Poeta maior à imortalidade*

Lançamentos no Café Ritalia, em Setúbal, Portugal, em setembro de 2014, dos livros 'Elmano, o injustiçado cantor de Inês ‘ e ‘Magma’

Logo ao anúncio que recebi do poeta, ensaísta e crítico literário Fernando Braga, na tarde de anteontem, de que um grupo de amigos lançou seu nome para concorrer à sucessão do prof. José Maria Cabral Marques (ex-reitor da UFMA e do Ceuma, falecido a 28 de maio último), na cadeira 38 da Academia Maranhense de Letras (AML), endossei o manifesto e recordei o ensaísta e editor de mão-cheia Jomar Moraes, que presidiu por muitos anos a AML e defendia que a Atenas Brasileira, entre nós, não sofrera solução de continuidade. Jomar Moraes abraçava, assim, o talante de José Veríssimo, paraense, escritor, educador, jornalista e estudioso da Literatura Brasileira, principal idealizador da Academia Brasileira de Letras (ABL), que incensou o Grupo Maranhense, no séc. XIX, quando a literatura romântica foi o mecanismo legitimador das criações poéticas sobre a grandeza do Maranhão, tendo destaque as personalidades de Gonçalves Dias, Odorico Mendes, João Lisboa e Sotero dos Reis: “Neste ambiente literário, por qualquer motivo que nos escapa, apareceu a bela progênie de jornalistas, poetas, historiadores, críticos, eruditos, sabedores que desde o momento da Independência até os anos de 1860, isto é, durante cerca de quarenta, ilustraram o Maranhão e mereceram a alcunha gloriosa de Atenas Brasileira”. Ele pisou na bola, por não conferir que haveria um tempo pela frente, e Jomar Moraes, atento quanto o Farol de Itacolomi, alumiou mais aquele marzão de ideias: “Certamente, por desconhecer que nosso passado de esplendor literário estava sendo, nos primeiros anos do século XX, afanosamente reconstruído por uma juventude talentosa, determinada, e que a si mesma atribuiu a antonomásia de Os Novos Atenienses, José Veríssimo entendia que à Atenas Brasileira, assim como à Atenas grega, tomada para nosso antonomástico, nunca, jamais, voltaria o tempo de Péricles. Esse tempo, entretanto, estava de volta. E uma das testemunhas da grande luta regeneradora que o devolveu, foi o maranhense Humberto de Campos (1886-1934), que muitos anos depois, numa evocação de sua infância vivida em São Luís, chamou ‘O último estilo de Atenas’ o movimento literário cujo objetivo era a ressurreição de Atenas. Era mais uma ressurreição gloriosa da Atenas Brasileira, diga-se para maior clareza. Bem o haja, porém, o alto destino do Maranhão, que, como fênix reiteradamente renascida das próprias cinzas que lhe têm sido estímulo insofreável e fertilizante regenerador, continua, pelos filhos de hoje, a luminosa tradição de seu grande passado”. Jomar Moraes exorcizou, ali, os francófobos, que, com suas diatribes patogênicas, negaceavam o feito da Fundação de São Luís aos franceses e uma Atenas Brasileira nossa, com argumentos de pouca monta.

O périplo vocacional de Fernando Braga – José Veríssimo (Dias de Matos), falecido no Rio, em 2/12/1916, não presenciaria a renascença da Atenas Brasileira que chegaria ao tempo de Fernando Braga, vocação literária lapidar que da estreia, com “Silêncio Branco”, aos 23 anos, em 30/12/1967, com noite de autógrafos na AML, em 2020, ostenta um acervo considerável, no cimo da Literatura Brasileira. Emplacou títulos que se ombreiam aos cancioneiros de José Chagas (“Os Canhões do Silêncio”), Nauro Machado (com diversas antologias a São Luís), Bandeira Tribuzi (“Romanceiro da Cidade de São Luís”), Ferreira Gullar (“Poema Sujo”), Nascimento Morais Filho (“Clamor da Hora Presente”), Lago Burnett (“A Última Canção da Ilha” / “Os Elementos do Mito”)...

Decadentistas, mas não precisavam abusar!

Deu no jornal, em 4/10/2015, com nota de errar o tempo certo do verbo, nunca mais conjugado no futuro: “O escritor e editor Bruno Azevêdo lança (sic) neste domingo (4), na 9ª edição da Feira do Livro de São Luís (FeliS), no Centro, Um Livro de Crítica. (...) Em 228 páginas, contando ainda com ensaios de Ricardo Leão – autor de ‘Os Atenienses e a Invenção do Cânone Nacional’ – e Henrique Borralho – autor de ‘Uma Athenas Equinocial: a Literatura e a fundação de um Maranhão no Império Brasileiro’, desmistifica São Luís como Atenas Brasileira, em alusão à frondosa geração de intelectuais que viveu no século XIX, ideia que, segundo o autor, contrasta com seu quase um quarto de população analfabeta”. (Brincadeira, rapaz! Falamos de Atenas Brasileira ou não? Você andava aonde, quando o paulista Pasquale Cipro Neto, sem fundamentação científica, retirou do Maranhão falar o melhor português do Brasil, na Revista “Veja”, em 1997, e de lambuja, em 2012, foi obsequiado para ministrar aula inaugural na recepção dos calouros da UFMA? Pasquale não dá um pio sobre a desgraça vernacular da TV Globo, todo santo dia, nos telejornais! Tiveram sorte de não haver na mesa de debates da FeliS um Nascimento Morais Filho (Zé Morais), com a efígie de que, em Atenas Brasileira, além de autor de relevo, há de ter conhecimentos gerais na ponta da língua!

Pasquale não passou por aqui em brancas nuvens

Embalei, nas redes sociais, que, desde que Pasquale, na “Veja”, destratou nossa fama de falar o melhor português do Brasil, para ele, o Rio, sem nem sequer dar-se ao luxo de vir aqui, além da reverência que recebeu da UFMA, projetei a publicação da cartilha ortográfica “Assim Está Escrito no Maranhão”, aonde, se agora, fazendo um “tour”, no famoso bordel Xirizal do Oscar Frota, no Portinho (sucessor da boêmia Zona do Baixo Meretrício, na Rua 28 de Julho, ou do Giz, e adjacência), seria mandado depressa “Lá pra casa do caralho!”, que existe em Portugal, e de onde se originou o termo chulo, no Brasil. Arremessei ainda que o Maranhão fala bem o português, não só por que usa o pronome “tu” com seus correspondentes verbais, enquanto Fernando Braga, do seu exílio, em Goiás, foi mais professoral: “É preciso que o professor Pasqualini saiba que a língua portuguesa falada em Portugal e no Maranhão, como disse, independe de classe social, ela escorre como música pelo ouvido, além da nossa pronúncia ser maviosa, encantadora de tão aveludada que é”.

Fernando Braga estreou, em 1967, aos 23 anos, com o livro
'Silêncio Branco' autografado, na AML, para o mestre Ruben Almeida

Biobibliografia de São Luís a Portugal

Onde as montanhas ficam em trabalho de parto, mas delas não nasce um ridículo rato, por não haver comparação a Horácio, com “Até o Bom Homero cochila”: Fernando Braga (dos Santos) nasceu em São Luís (MA), em 29/5/1944. É formado pela Faculdade de Direito do Distrito Federal, com pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), e estágio em Direito Penal Comparado pela Universidade de Paris-Sorbonne. Com publicações de críticas literárias e ensaios, em grande escala, deu a lume em poesia: “Silêncio Branco” (1967); “Chegança” (1970); “Ofício do Medo” (1977); “Planaltitude” (1978); “O Exílio do Viandante” (1982); “Campo Memória” (1990); “O Sétimo Dia” (1997); “Poemas do Tempo Comum” (2009); “Magma” (2014); e “Elmano, o Injustiçado Cantor de Inês – ensaio sobre o poeta Bocage” (2014). Livros inéditos: “Travessia” (memórias de um aprendiz de poeta e outras mentiras), “Conversas Vadias” (antologia de textos em prosa), “A Cor do Verbo” (antologia poética) e “O Puro Longe”, traduzido para o espanhol, a ser lançado em breve, em Montevidéu. Seu pai, José Ernani, era português e livreiro da Livraria Moderna, em São Luís.

Um dos maiores cantores da cidade

“Campo Memória” é um canto de amor a São Luís, de Fernando Braga, 88 páginas, composto e impresso pela Gráfica do Senado Federal, para as Edições Corrêa & Corrêa, Brasília, 1990. Neste trabalho, encontra-se um ensaio do escritor e professor Rossini Corrêa intitulado “Em Sonho e em Pessoa: A poética de Fernando Braga”: “Esta imortal Ilha maior, Ilha Grande, como se dizia, há de viver enquanto for sua a poesia”.

O ofertório de um poeta maior

Essa é a segunda vez que Fernando Braga postula vaga para a Academia Maranhense de Letras (AML); a primeira, em 1969, aos 25 anos, em disputa à cadeira nº 10, com o falecimento, em janeiro, do escritor Henrique Costa Fernandes, perdeu para Jomar Moraes, com Benedito Buzar fazendo a diferença com sua poderosa “Coluna Roda Viva”, que assinava sob o pseudônimo de J. Amparo, no “Jornal do Dia”. Benedito Buzar, que nem Jomar Moraes, foi presidente da Casa de Antônio Lobo, e do Sioge, onde os assessorei, começando em 10/12/1975, recepcionado por Jomar Moraes, na Revisão Literária, e com quem aprendi, e com artífices gráficos, a editoração. À afirmação de Mário Luna Filho, nas orelhas de “Poemas do Tempo Comum”, “Um dos mestres da nossa literatura”, assino embaixo, e acrescento que Fernando Braga é um dos maiores poetas brasileiros. Atenas, desde o tempo de Péricles, nunca foi pequena! Em sua norma estatutária, a AML cumpre a função de não só imortalizar os grandes autores, porém de fomentar a literatura para manter efervescente a Cultura do Estado. Já lhe surge um candidato por excelência! Agora e sempre, mais do que justo!

* Herbert de Jesus Santos (jornalista e escritor)
(“JP Turismo” in “Jornal Pequeno”, 13/6/2020)
Fotos: arquivos de Fernando Braga e de Herbert de Jesus Santos