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Haroldão setentão*

No dia 16 de junho de 2020, completou 70 anos de vida Haroldo Freitas Pires de Saboia, o Haroldo Saboia.

Um técnico com boa formação acadêmica. Um político com positiva prática ética. Uma pessoa com saudável percepção humana, ou humanista.

Agora, Haroldo Saboia é o homem que sabe que está em seu passado o maior legado que deixará ao futuro – de presente. Claro, um passado que será enriquecido, fortalecido, com os muitos dias e meses e anos e décadas que Haroldo haverá de incorporar em seu ser e de enriquecer esse tempo com seu trabalho e viver.

Com graduação e mestrado em Economia em Paris (Sorbonne) e Direito (UnB, Brasília), além de ter estudado, sem concluir, Jornalismo, Haroldo Saboia é desses “think tanks” (ou “réservoir d'idées”), além de sua capacidade de trabalho, a serviço da causa de um maior e melhor desenvolvimento para todos, em particular, para o Maranhão.

Em fevereiro de 1979, quando ele assumia como deputado estadual no Maranhão, em São Luís, eu estava tomando posse no Banco do Nordeste do Brasil, em Imperatriz. Poucos anos depois, na década seguinte, como acadêmico do curso de Letras, eu participei de mais uma edição do Congresso Universitário, que só se realizava na capital maranhense. Uma de minhas propostas naquele evento era o que eu chamava de “interiorização dos congressos universitários no Maranhão”. Na época, Jomar Fernandes, também acadêmico, e eu éramos diretores do Diretório Acadêmico. O Joãozinho Ribeiro era o presidente do Diretório Central (DCE). Minha proposta, depois de colocada em pauta, chegou a ser combatida por colegas universitários de Imperatriz (comportamento que não entendi, mas respeitei, claro). A minha defesa enfática e pragmática convenceu Joãozinho Ribeiro, que se manifestou favoravelmente à proposição – e, logo no ano seguinte, realizamos o melhor e mais produtivo Congresso até aqueles idos de meados dos anos 1980.

O que tem a ver Haroldo Saboia com isso? Nada. Exceto que, não fosse aquele Congresso Universitário na capital, eu não teria sido apresentado a ele (acho que pelo Jomar), em almoço que, solidariamente, Haroldo nos serviu em sua residência. (Ocorria que, nos congressos universitários em São Luís, no horário das refeições, cada um se virava, e isso causava uma indesejada dispersão, além de muitos estudantes não retornarem para a continuidade dos trabalhos após o almoço. Isso não aconteceu em Imperatriz, pois eu próprio garanti alimento para todos, tendo adquirido bois inteiros e sacos de arroz, além de outros ingredientes para as refeições, que eram feitas e servidas nas dependências da Uema, em cujas salas também foram colocados colchões e colchonetes que o Armazém Paraíba, a meu pedido, gentilmente cedeu, para repouso e dormida dos acadêmicos de outras cidades, durante todos os dias e noites do evento. Deste modo, no Congresso Universitário de Imperatriz, o grau de dispersão foi mínimo, e o de interação, máximo).

Daqueles idos da década de 1980 para cá, Haroldo Saboia e eu mantivemos mais ideias e ideais do que conversas e outros contatos. Afinal, ele é destacado nome federal e estadual; eu, quando muito, ultrapasso as linhas de meu próprio leito... Ainda assim, esporadicamente, lembramo-nos um do outro. Por exemplo, há exatamente um ano e 25 dias, em 22 de maio de 2019, Haroldo contatou-me para informar que o escritor mineiro, radicado em São Paulo, Fernando Morais iria proferir palestra naquela data em Imperatriz. Haroldo disse ainda que, sendo amigo de Fernando, falou sobre mim para o conhecido biógrafo, autor de “A Ilha” e “Olga” e duas vezes deputado estadual paulista. Pedia Haroldo que eu estivesse presente à palestra e, se possível, ofertasse ao Fernando Morais um exemplar de um livro acerca do qual ele, Haroldo, já falara ao Fernando.

Eu já estivera com Fernando Morais (que completa 74 anos em 22 de julho) na época em que ele foi secretário estadual de Cultura de São Paulo (1988-1991). Morais e eu fomos palestrantes em um Congresso de Jornalismo no Memorial da América Latina, na capital paulista. Ali, nós dois pudemos conversar e, lembro-me, à época ele segredou-me sobre alguns aspectos do que viria a ser seu futuro “best-seller” “Chatô, O Rei do Brasil”, biografia do grande imperador do jornalismo Assis Chateaubriand, que fundou os “Diários Associados” (do qual faz parte o jornal maranhense “O Imparcial”). O livro foi lançado em 1994 e, como me disse Fernando Morais, o título inicial seria “O Tigre de Papel”. Fernando também foi secretário estadual de Educação, de 1991 a 1993.

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Pois é. Na vida, as tramas, teias, laços e nós enredam e enleiam pessoas. A vida é um texto têxtil que se tece com muitos fios, deles que não se veem e, de repente, se fazem vistos. Alguns desses fios, como cordames ou rédeas, ficam em nossas mãos, mas, a maioria deles, não.

Os 70 anos de Haroldo Saboia, como qualquer idade de quaisquer outras pessoas, são assim essa trama tecida em invisíveis teares manuseados por invisos tecelões.

No caso de Haroldo, esse tecer o tecido de sua vida levou-o a estudos primeiros e posteriores em São Luís, onde nasceu, em Minas Gerais, em Brasília, em Paris... O tear também uniu fios haroldianos a fios de vida de brava gente brasileira como João Quartim de Moraes, Maria José Aragão, Cristovam Buarque... Outros fios o (e)levaram a mandatos políticos, parlamentares, de vereador a deputado federal... Bem que tentou ser prefeito, governador, senador, mas, já se disse, cabeça de juiz, bumbum de bebê e voto de eleitor... é bom não ter certas certezas...

Uma vida setentã tem muuuuuuuitos e compriiiiiiiiidos fios. Mas o melhor é que, com saúde e paz, uma vida assim está pronta para tecer ou ser tecida por muitos anos mais.

É isso que desejamos a Haroldo Saboia. Sendo, além de economista, político, jornalista, advogado também, que o Contrato de Haroldo com a Vida se renove por muitos e muitos anos, pois esse bom maranhense é necessário como testemunha, usuário e agente destes estranhos dias de agora e dos outros – estranhos ou não – tempos que hão de vir.

Felicidades, Haroldo.

* EDMILSON SANCHES