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Imperatriz, 16 de julho de 2020: 168 anos*

ESTA É IMPERATRIZ

(UM HINO DE AMOR E DOR PARA A CIDADE)

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Imperatriz. Fundada em 16 de julho de 1852. 168 anos de história e desenvolvimento. 260 mil habitantes. Um dos maiores índices de crescimento do país: 10,57% no período 1970/1980.

Cidade-majestade, crescendo no tempo e no espaço.

Esta é Imperatriz. Uma das maiores cidades de todo o país. A de número 101 em população, no total de 5.570 outras cidades brasileiras. Uma das maiores economias do Brasil, com seus mais de 6,5 bilhões de reais em 2017, o que a coloca em 153º lugar no “ranking” de todos os 5.570 municípios.

Imperatriz de muitos títulos: Princesa do Tocantins. Portal da Amazônia. Capital Brasileira da Energia. Metrópole da Integração Nacional. Polo Nacional do Xadrez. Capital Norte-Nordeste do Automobilismo. Cidade Esperança.

Imperatriz é sede de uma grande região, polo urbano de grande influência, reinando absoluta em todo o sudoeste do Maranhão, sul do Pará e norte do Tocantins. Dezenas de municípios com ela convivem, e muitos dela dependem.

Imperatriz é a Pré-Amazônia Maranhense, entre a região dos Cerrados e a região Amazônica.

Nosso clima é tropical. Vai do úmido ao de savana. Terra de calor gostoso (veja-se o crescimento da população...), cidade de poucas luzes (lâmpadas), mas de muito sol: o astro-rei bota quente e está presente com cerca de 2.500 horas de calor e iluminação por ano. A incidência solar é direta durante todo o ano devido à nossa privilegiada situação tropical.

E nessa história de sol e água, o Rio Tocantins é o elemento de maior relevo – na geografia e em nossos corações.

Imperatriz é uma São Paulo no interior do Maranhão, começo da Amazônia. População comprovadamente heterogênea, a estatística mais recente diz que apenas 37% dos imperatrizenses nasceram aqui. A grande maioria, 63%, vem de tudo quanto é lugar, da Amazônia e do Nordeste, do Brasil e do mundo.

É Imperatriz, oferecendo seu corpo a gentes cosmopolitas, cidadãos do mundo, que aqui trabalham e sofrem, constroem e edificam, empurrando para frente, erguendo para mais alto os destinos de uma comunidade – que são, em última análise, o destino de cada um.

Área de forte imigração, Imperatriz recebeu os maranhenses do vale do Mearim, em 1950. Eles começaram, espontânea e mansamente, a ocupação das terras devolutas do município. Muitos queriam ir para Goiás e Pará. Mas beberam da água do Tocantins e aqui ficaram e começaram a fazer história, muitos antes da existência dos grandes eixos viários que rumavam para o inferno verde da Amazônia.

Nos fins da década de 1950, começa a construção da rodovia Belém-Brasília. Depois, a Transamazônica e o sistema rodoviário do Maranhão na década de 1960. E, a partir de 1970, o asfalto na Belém-Brasília e a criação do Programa Grande Carajás. E aí nem a cidade nem a região aguentaram. Virou o fole do velho Félix. Gente de todo jeito. Gente entrando pra dentro – ou seja, saindo da zona rural e indo pra cidade.

Em 1960, apenas 23% da população estavam na zona urbana. Em 1970, o percentual pulou para 43%. Em 1980, chegou a mais da metade (50,72%). E, a partir do ano 2000, quase a totalidade (95%) da população de todo o município passou a viver, sobreviver e subviver na chamada zona urbana.

É o fascínio do concreto armado. Do ferro fundido. Da pedra lascada, concretada. Da vida agitada. Estranho canto de sereia em selva-mar de pedra.

Em 1970, Imperatriz tinha 6 pessoas e uns quebrados para cada quilômetro quadrado. Dez anos depois, havia mais de 16 pessoas, que aumentou mais de ONZE vezes mais em 2019, com 188,95 habitantes ocupando a mesma área (população oficial de 258.682 habitantes – IBGE, 2019). A densidade populacional de Imperatriz é 7,6 vezes maior do que a do Brasil.

Em 2002, na área do pretendido futuro Estado do Maranhão do Sul, de 146.539 quilômetros quadrados (km2), a população era de 1.126.050 habitantes. Sozinha, Imperatriz tinha mais de 20% dessa população... em menos de um por cento do território. Resultado: uma elevada taxa de densidade demográfica imperatrizense, que pulou de 34 habitantes em 1995 para quase 190 em 2019, o que representa 7,6 vezes mais do que a densidade populacional do Brasil (de 24,69 habitantes/ km2) e 8,8 vezes mais a densidade do Maranhão (21,46 habitantes/ km2).

Imperatriz tem classes de gente e, pois não, temos gente de classe: professores, pregadores espirituais e funcionários públicos, garis do homem e da terra que alimentam mentes, almas e estruturas.

Temos também aqueles que sobrevivem com o salário-miséria do mês, trabalhando o dia todo todo dia, para ganhar o pão de cada café da manhã e, às vezes, somente este ou, pior, nem esse. (Mas – tá dito – nem só de pão vive o homem. Para alguns, há a água também. A rapadura. A farinha de puba. Os “lixões” fora e dentro da cidade, em terrenos – DEZENAS DE MILHARES deles – espalhados pelos desvãos urbanos... e até no centro também, bem na fusca das tais autoridades. Os tonéis de lixo dos supermercados. Felizes os muito pobres que comem carne seca. Farinha seca. A garganta seca. Os olhos secos. Vidas secas. E a vontade líquida de chorar. E vai por aí, e olhe lá. Pois a vida é uma grande rapadura: é doce, mas não é mole. Osso duro de roer.

Esta é Imperatriz. De gente forte. E de doentes também. E, por isso, os muitos hospitais, clínicas, institutos, centros e postos médicos. E os próprios médicos, centenas e centenas de médicos, em mais de vinte especialidades que cuidam do corpo todo e dos poucos por cento da mente, que tratam o indivíduo (paciente ou não) da cabeça aos pés, que assistem à criança que nasce e o velho que morre.

Há, em Imperatriz (saúde!), o clínico médico, cirurgião, o ginecologista, o dermatologista. Há o sanitarista, o patologista, o anestesiologista. Há o cardiologista, o neurologista, o oftalmologista, o optometrista. Há o obstetra, o pediatra e o psiquiatra. Há o ortopedista, o traumatologista, o urologista.

Há também os indizíveis acupunturistas, os gastroenterologistas e (valha-me Deus) os otorrinolaringologistas.

Há o hemoterapeuta, o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional. O radiologista, o pneumologista, o nefrologista, o proctologista e o próprio legista.

Não esquecer o neonatologista, o clínico geral, o cirurgião vascular, o médico nuclear, o psicólogo, o odontólogo, o podólogo. O bioquímico, o farmacêutico, o instrumentador cirúrgico, as enfermeiras, os técnicos e os auxiliares de Enfermagem. Os assistentes sociais e os administradores hospitalares.

Há aqui toda essa gente sadia. E há doentes para todos, para essas e outras especialidades, ao gosto do freguês.

Para quem é de saravá, há, opcionalmente, macumbeiros e rezadeiras, umbandistas e quimbandistas, cartomantes e quiromantes.

Esta é Imperatriz. Das igrejas e religiões. Das crenças e seitas. Do espírito e do espiritismo. Dos cultos e missas. Dos encontros e sessões. Das romarias e procissões. Do corpo e da alma. Matéria e anti. Céu e inferno.

Esta é Imperatriz.

De homens fortes, inclusive o sertanejo. Imperatriz de gente-nordeste, cabras da peste.

Terra de fulano. De sicrano. E de beltrano também.

Esta é terra de gente da terra inteira. Sem eira. Nem beira.

Às vezes, gente sem parente. E nem aderente.

Gente de dentro e gente de fora.

Paulistas e mineiros. Amazonenses e acrianos, roraimenses e rondonianos. Amapaenses, paraenses e tocantinenses. Mato-grossenses e sul-mato-grossenses. Goianos e candangos. Paulistas e mineiros. Capixabas e fluminenses. Gaúchos, catarinenses e paranaenses. Baianos, sergipanos e alagoanos. Pernambucanos e paraibanos. Potiguares e cearenses. Piauienses e maranhenses.

De todos os continentes, todas as gentes. Americanos das três Américas. Africanos das várias Áfricas. Europeus e asiáticos. O Ártico e o Antártico. A Oceania e a Zelândia – e, se brincar, até a Atlândida...

Esta é Imperatriz. Terra da gente.

Nos confins do Maranhão, o portão da Amazônia, pulso do planeta, peito aberto, fronte erguida. Nosso mundo.

Esta é Imperatriz.

168 anos.

* EDMILSON SANCHES