Um grito em lá como num canto místico,
um gozo em ré como numa noite longa,
um dó de resto como no bater da porta,
um sapateiro bêbedo a martelar a sola.
Um padeiro caolho a fermentar o trigo,
um poema, um terço, um cão e um galo,
a assistirem um doido a chupar sorvete
e acertar um velho relógio sem ponteiros.
Um pôster de Che Guevara na parede,
Um retrato do artista quando jovem
e restos de vinho, cigarros e pão dormido.
Eram os bens que tinha, era tudo de meu,
e mais as memórias de Dom Pablo Neruda,
a confessar que amou e que também viveu!
* Fernando Braga, in “Poemas do tempo comum”, São Luís, 2009.
Para POEMAS DO TEMPO COMUM, de tirar o fôlego esse é mais um!
Quem amou e viveu, VIVEU.
Belo e tocante soneto, meu amigo Fernando Braga. A evocação do nosso velho Neruda ao final soou extremamente bela, deu um toque especial de ternura e saudade ao soneto.
Belo poema. Aliás é essa a sua marca: Produzir sempre proficuas obras.
Lindo , poeta, como toda poesia que você faz.