“É muito emocionante ver uma pessoa que não tem nada e também não se contenta com esse nada. E tudo que é oferecido também não basta”. É assim que a escritora Conceição Evaristo (foto) define a resiliência de Carolina Maria de Jesus. Para o “Caminhos da Reportagem”, Conceição também conta como Carolina inspirou ela própria, e sua família, a “não aceitar a pequenez da vida”.
Carolina nasceu em Sacramento, Minas Gerais, e, ainda jovem, migrou para São Paulo. Morou na favela do Canindé, criou sozinha três filhos catando papel. E escreveu, escreveu muito. Sua obra de maior sucesso “Quarto de Despejo”, que faz 60 anos este ano, foi traduzida para mais de uma dúzia de idiomas, trouxe fama e reconhecimento para a autora que dizia que seu sonho era escrever. Com o sucesso, um estigma: o de ser a escritora ex-favelada, só falava de pobreza e fome.
É essa imagem que pesquisadores e novos escritores negros têm tentado mudar nos últimos anos. “É sempre uma imagem marcada pela subalternidade. Carolina era vaidosa, gostava de se arrumar, usar pérolas e, quando tinha agenciamento sobre si, ela escolhia sempre pela vaidade. Hoje, a gente tem a felicidade em ver que estamos procurando outras imagens de Carolina”, diz Raquel Barreto, historiadora e curadora da exposição promovida pelo Instituto Moreira Sales com o objetivo de desconstruir o estereótipo de Carolina, favelada e sempre com o lenço na cabeça.
Também para celebrar a escritora, vamos conhecer um pouco de suas obras inéditas, que serão publicadas em edição especial pela Companhia das Letras. A doutora em letras, Fernanda Miranda, fala da importância de se ter um conselho curador composto só por mulheres negras para resgatar a essência de Carolina. Livros, peças de teatro, provérbios, e diários inéditos serão publicados sem cortes. “Nós entendemos que essa publicação estabelece um divisor de águas na obra de Carolina, porque não vamos interferir no texto dela. “Quarto de Despejo” e “Casa de Alvenaria” vão ser lidos pela primeira vez em sua totalidade”, diz Fernanda.
Carolina morreu há mais de quarenta anos e, ainda hoje, influencia escritores como Rainha do Verso, poeta, atriz e camelô no Rio de Janeiro. E é essa Carolina que você vai ver no “Caminhos da Reportagem” desta semana.
A íntegra de “Caminhos da Reportagem” fica disponível no “site” do programa.
Ficha técnica
Reportagem: Bianca Vasconcellos, Pollyane Marques
Produção: Bianca Vasconcellos, Deise Machado, Pollyane Marques, Éverton Siqueira (estagiário), Henrique Mathias (estagiário)
Apoio à produção (RJ): Aline Beckstein, Elisabete Pinto, José Victal, Felipe Messina
Imagens: João Marcos Barboza, Bianca Vasconcellos
Auxílio técnico: Caio Araujo
Edição de imagens e finalização:Maikon Matuyama
Roteiro e direção: Bianca Vasconcellos
(Fonte: Agência Brasil)