O primeiro Mundial de Futebol de Areia Raiz terá início na próxima terça-feira (8), no Parque Olímpico do Rio de Janeiro e prosseguirá até domingo (13). As partidas serão transmitidas ao vivo, a partir das 17h (horário de Brasília), na TV Brasil. A competição não terá torcida em virtude das recomendações de distanciamento social por causa da pandemia do novo coronavírus (covid-19).
Desde 2005, a Fifa chancela o Mundial de “beach-soccer”, que se popularizou nos anos de 1990. Já o futebol de areia raiz surgiu em 1988, em Porto Alegre. Mas o que é, afinal, o futebol de areia raiz? Muitas respostas parecem mais uma ideia vaga, do que uma definição exata. "É aquele futebol de quando você ia para a praia, colocava dois cocos na areia (para formar a baliza) e jogava aquela peladinha", recorda Toinho, defensor na seleção brasileira de futebol de areia raiz.
Companheiro de Toinho na equipe nacional, o pivô Jonatan também recorre à memória para tentar descrever o que esta modalidade tem de "raiz". "É um futebol de comunidade, que é onde surgiu o futebol. Você joga em qualquer lugar", define.
À primeira vista, o futebol de areia raiz lembra bastante o “beach-soccer”, mas é possível perceber as diferenças nas regras. São seis jogadores em quadra, em vez de cinco. Dois tempos de 20 minutos, e não três tempos de 12 como é no “beach-soccer”. E há outras características específicas do futebol de areia raiz: a areia utilizada costuma ser batida, sem tantas ondulações. Não há “carrinho”. É possível optar por cobrar faltas antes do meio da quadra, no local da infração, ou diretamente do meio.
O “status” das duas modalidades também ajuda a escancarar as diferenças. É verdade que o “beach-soccer” não possui tanta estrutura no Brasil quanto o futebol de campo, mas ainda há caminhos para que um atleta se torne profissional, ainda que as verdadeiras oportunidades estejam na Europa. Entre os adeptos da modalidade “raiz”, isso não é possível. Há quem se mantenha financeiramente na modalidade como Jonatan, que, em 2020, defendeu o Brasil de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, e, em janeiro do ano que vem, embarca para a Finlândia para jogar pelo FC Aland. Alguns enveredam pelo Fut7, uma espécie de soçaite. Já Toinho, por exemplo, ganha a vida como lojista.
A difusão da modalidade pelo mundo é um sinal de que as coisas vêm melhorando. Nove seleções se juntam ao Brasil na disputa pelo primeiro título mundial de futebol de areia raiz: México, Chile, Tunísia, Uruguai, Colômbia, Paraguai, Angola, Bolívia e França. Houve cinco desistências por causa das restrições sanitárias causadas pela pandemia de covid-19: Alemanha, Argentina, Canadá, Croácia e Israel. Tais países estavam confirmados para o evento, inicialmente programado para ocorrer em março deste ano.
Toinho destaca o Uruguai como possível pedra no caminho do Brasil rumo ao título inédito. Segundo ele, a evolução dos adversários em um esporte genuinamente brasileiro é notável. "Tempos atrás, os jogadores de outros países não tinham esse conhecimento que o brasileiro tem, de saber correr da forma certa na areia, saber conduzir a bola. Eles investiram trazendo brasileiros e, hoje, estão muito, muito melhores", atesta.
Faturar o primeiro título mundial de uma modalidade é algo simbólico. Mas conquistar fãs talvez seja ainda mais valioso. São dois objetivos bem definidos da seleção para a próxima semana. O primeiro depende exclusivamente do desempenho na areia. O segundo pode ser impulsionado pela transmissão em TV aberta, que pode compensar a ausência de torcedores sedentos por conhecer a modalidade. Quem assina embaixo é o técnico da seleção, China, que fez parte dos vitoriosos times do Grêmio na década de 80.
"Queremos honrar as cores do Brasil e levar essa modalidade a lugares que não tiveram a oportunidade de ver o futebol de areia raiz".
(Fonte: Agência Brasil)