A HISTÓRIA DO PRIMEIRO LIVRO DE IMPERATRIZ
*
Há 52 anos, em 19 de março de 1972, era lançado o livro “Eu, Imperatriz”, escrito pela professora, historiadora e, à época, servidora pública municipal Edelvira Marques de Moraes Barros.
Em 2012, quando se completavam 40 anos da publicação, foi aprovada a Lei Municipal nº 1.468/2012, que criou o “Dia do Livro Imperatrizense”, de autoria do jornalista e vereador Edmilson Sanches, também o criador e presidente, por duas vezes, da Academia Imperatrizense de Letras, entidade da qual Edelvira Marques foi membro.
O livro
O livro “Eu, Imperatriz” consumiu dois anos de pesquisa e redação. Ele foi “composto e impresso nas oficinas da Editora Rio Bonito”, em Goiânia, como está no colofão (inscrição em página final de um livro com informações sobre data e local de impressão da obra). Da recepção dos originais à entrega dos livros, cerca de cinco meses se passaram.
O livro tem o formato de 15 centímetros (cm) de largura por 22,5cm de altura. Tem 294 páginas, das quais 277 numeradas, resultando numa lombada de 1,5cm. Traz a partitura de uma marcha-hino em homenagem à Transamazônica, feita por Benedito Santana, e um pequeno mapa de Imperatriz (“planta placográfica”), desenhado pelo técnico agrícola Natanael, onde se distribuem 458 quarteirões, nenhum deles após a BR-010, exceto as indicações da estrada para o município de João Lisboa, o aeroporto e as instalações da usina da Cemar [hoje, Equatorial] e do armazém da Cibrazem.
O conteúdo do livro é dividido em duas partes, a primeira com 78 itens e, a segunda, com 46, além de um “Apêndice” com 15 biografias.
Basicamente, a primeira parte trata de assuntos históricos, passados, reservando-se à segunda parte para os aspectos mais atuais da vida do município (“atuais”, aqui, refere-se aos dois primeiros anos da década de 1970, quando governava Imperatriz, em mandato tampão – até janeiro de 1973 –, o prefeito Renato Cortez Moreira, que tomara posse em 31 de janeiro de 1970, tendo como vice Dorgival Pinheiro de Sousa. Ambos, Renato e Dorgival, além de terem estado unidos pela missão de governar, também se uniriam, fatidicamente, pela violência, com a triste coincidência de morrerem assassinados à bala – Dorgival Pinheiro em 12 de novembro de 1971 e Renato Moreira em 6 de outubro de 1994).
O livro “Eu, Imperatriz” foi escrito na primeira pessoa do singular, como se fosse a cidade de Imperatriz contando sua própria história, como se fosse uma autobiografia.
Os textos são de fácil leitura e vêm com “vocabulário” que dá o significado das palavras mais “difíceis”. Traz, ainda, espaço para exercícios de fixação e sugere atividades como, por exemplo, visitar a igreja da qual se falou na página anterior.
A capa do livro, em duas cores, foi desenhada pelo assistente social Nestor, que, tempos depois, se mudaria para Montes Altos. A cor azul representa a água (do Rio Tocantins), e a vermelha simboliza a terra fértil do município. No canto inferior direito, um desenho, também em azul, projeta uma espécie de marco ou obelisco para a cidade, um desejo pessoal do capista. Nestor, como assistente social, trabalhou em missões marcantes, como a realocação de famílias do município de Alcântara, a ilha maranhense onde hoje está um dos mais estratégicos centros de lançamentos de foguetes do mundo.
“Eu, Imperatriz” não é livro pronto e acabado (pois livros assim não existem), mas, além de referência primeira da bibliografia e da história de Imperatriz, serve como elemento de introdução para começar a conhecer, em linguagem simples, um pouco do passado do município, que teve início em 16 de julho de 1852, mais de 172 anos atrás.
A autora
Edelvira Marques de Moraes Barros era professora, historiadora, escritora, servidora do município e política.
Nascida, criada e casada em Imperatriz, onde também deu à luz filhos e livros e se tornou a referência primeira e por excelência quando o assunto é a memória do município.
Foi secretária municipal e vereadora em Imperatriz, de 3 de maio de 1958 a 31 de janeiro de 1963. Publicou três livros, todos sobre a história da cidade: “Eu, Imperatriz” (1972), “História da Fundação de Imperatriz” (1993) e “Imperatriz: Memória e Registro” (1996). Deixou pronto outro livro: “O Sertanista Mundico Barros”, sobre Raimundo de Moraes Barros, seu pai, que, entre outros cargos e funções, foi prefeito de Imperatriz e é patrono da Cadeira nº 6 da AIL, ocupada por Lília Diniz desde abril de 2008.
Edelvira foi diretora do Educandário Cristo Rei e integrou, em 1972, representando o magistério, a comissão que escolheu o Hino, a Bandeira e o Brasão de Imperatriz, designada, para este fim, pelo prefeito Renato Moreira. Em 1995, recebeu a Comenda Frei Manoel Procópio do Coração de Maria. Em 5 de outubro de 1999, recebeu a Medalha do Mérito Timbira, do governo do Maranhão, pelo seu trabalho em favor da educação no município. Foi membro da Academia Imperatrizense de Letras, da qual recebeu o Prêmio AIL. Faleceu em 21 de novembro de 2007.
Adendo (19/3/2024)
Durante décadas, eu e outros – sobretudo na Academia Imperatrizense de Letras – tínhamos a professora Edelvira Marques de Moraes Barros como a primeira pessoa nascida em Imperatriz a publicar um livro. Não foi. Ela é a primeira pessoa nascida em Imperatriz a ter escrito um “livro imperatrizense” – aqui entendido uma obra que trata de assuntos sobre o município. É Edelvira, portanto, a primeira, a iniciadora, a inauguradora da Literatura, por assim dizer, imperatrizense e pioneira da Historiografia ou Literatura Histórica do município.
Repita-se: Se foi a primeira pessoa a escrever um livro “imperatrizense”, Edelvira Barros não foi a primeira pessoa imperatrizense a escrever um livro. Como o comprovaram pesquisas e achados posteriores, à frente o professor, escritor e membro da Academia Imperatrizense de Letras Ribamar Silva, é Manoel de Souza Lima [1889-1941], também professor e escritor, a primeira pessoa nascida em Imperatriz a escrever e publicar um livro.
Como eu registro no prefácio à mais nova edição da obra poética “Outono”, de Souza Lima, lançada em 2019, no 17º Salimp – Salão do Livro de Imperatriz, em que foi homenageado, “o primeiro livro de Souza Lima, o romance ‘Sete Lagoas ou Igapó Seié’, é de 1927; o segundo é de 1931, o também romance ‘O Tupinambá’, mais conhecido em Imperatriz, onde se publicou sua 2ª edição, de 2015. Inéditos, Souza Lima deixou um terceiro romance (‘Mistérios das Selvas’) e ‘Contos Indígenas’. Também três seriam os livros de poesia: ‘Soluços e Gorjeios’, ‘Poesias da Natureza’ e este ‘Outono’, a primeira obra poética de Souza Lima em livro, cuja 1ª edição é póstuma, de 1993, 51 anos após o falecimento do autor”. (Esse prefácio considera Souza Lima grajauense, como era tido como certo na época. Interessados podem solicitar cópia por “e-mail” ou WhatsApp).
Como é próprio das pesquisas históricas – geológicas, arqueológicas, antropológicas e mesmo literárias –, a naturalidade de Manoel de Souza Lima não se entregou facilmente, ora conduzindo os pesquisadores a rumos boêmios e conclusões inconformes: às vezes, sinalizava fortemente como sendo Souza Lima filho de terras goianas ou tocantinas; outras vezes, havia a certeza – “taken for granted” – de ser filho maranhense... mas nascido em Grajaú... Até que a verdade saiu do poço, ou de gavetas e pastas de papeis, e se atestou, documentalmente, que, sim, Manoel de Souza Lima é nosso, de Imperatriz, “Princesa do Tocantins”, Maranhão, Brasil.
Embora a variedade de sua obra – romancista, contística, poética – e embora as leituras e estudos feitos até agora, ainda não se tem notícia de elementos imperatrizenses na obra manoeliana, que possam vincular o autor-filho à terra-mãe, que possa novamente cerzir, ao ventre maternal, o umbigo filial – ou, ainda, um dia, com a transferência dos restos mortais do Autor, se cumpra a sentença latina do definitiva e terno retorno: “Revertere ad locum tuum” (“Voltarás ao teu lugar”).
Mas estes pontos e narrativas – a pesquisa sobre a naturalidade de Souza Lima e elos de sua obra com a terra onde nasceu – são outras (boas) histórias, para outros contarem...
* EDMILSON SANCHES
FOTOS:
As duas edições de “Eu, Imperatriz” e a autora, professora Edelvira Marques de Moraes Barros. O escritor Manoel de Souza Lima.