Skip to content

Jornalista Washington Novaes — Foto: Reprodução/TV Anhang

O jornalista Washington Novaes morreu na noite de ontem (24), em Aparecida de Goiânia, Goiás, aos 86 anos. No último dia 13, ele foi submetido a uma cirurgia para a retirada de um tumor no intestino e não resistiu às complicações decorrentes do procedimento.

O jornalista e documentarista atuou nas redações dos principais jornais e emissoras do país e é referência na cobertura de temas ligados ao meio ambiente e aos povos indígenas.

“Além de nós, filhos que ficamos órfãos, perdemos essa referência dele, e da minha mãe e dos netos que ficam sem ele, é uma perda muito grande para o Brasil pela referência que ele foi em trazer a pauta ambiental para dentro da grande mídia, quando pouco se falava sobre esse assunto na década de 80 e, sobretudo, na defesa dos povos indígenas”, disse à Agência Brasil o cineasta Pedro Novaes, filho do jornalista. “Acho um legado importante que eu espero que possa nos inspirar nesse momento tão difícil no Brasil”, completou.

Novaes dirigiu duas grandes séries de documentários sobre os povos indígenas do Xingu. Em 1984, revelou as culturas indígenas da região e, vinte anos depois, retornou aos mesmos locais para retratar as mudanças e pressões culturais e ambientais sobre as comunidades.

Nas redes sociais, diversas autoridades e profissionais da imprensa manifestaram pesar pela morte de Novaes. O deputado federal Rodrigo Agostinho, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados e coordenador da Frente Ambientalista do Congresso, reconheceu a trajetória do jornalista. “Tive o privilégio de acompanhar seu trabalho desde a minha adolescência. Era uma bússola para os jovens, referência de crítica e luta socioambiental. Meus sentimentos aos amigos e familiares”, escreveu.

O jornalista André Trigueiro, que também atua na área ambiental, disse, em vídeo, que o legado de Novaes continuará vivo nas gerações seguintes de jornalistas. “Tudo que eu sou nessa profissão na área ambiental eu devo ao exemplo, à contundência e coragem do mestre Washington Novaes. A trajetória dele abriu caminhos para várias gerações de jornalista que entenderam ser possível, sem prejuízo da isenção e da imparcialidade, denunciar o que não pode ser objeto de qualquer dúvida, que é a defesa da vida, do meio ambiente e dos direitos das comunidades indígenas”, destacou.

(Fonte: Agência Brasil)

(Grajaú/MA, 5 de junho de 1932 – São Luís/MA, 24 de agosto de 2020)

**

Faleceu na manhã dessa segunda-feira, 24 de agosto de 2020, em São Luís (MA), Sálvio de Jesus de Castro e Costa (Sálvio Dino), advogado, jornalista, orador, pesquisador, historiador, escritor, político e acadêmico.

Nascido em Grajaú (MA), em 5 de junho de 1932, Sálvio Dino tinha 88 anos, 2 meses e 19 dias. Morava em João Lisboa (MA), município do qual foi prefeito duas vezes. Ele já havia apresentado problemas nos pulmões e no coração. Tempos atrás, haviam-lhe colocado dois “stents” – os revolucionários microtubos que foram aperfeiçoados e postos nas artérias coronárias, pela primeira vez no mundo, pelo médico José Eduardo Moraes Rego Sousa, maranhense nascido em Pedreiras.

Internado em hospital de Imperatriz (cidade vizinha a João Lisboa), Sálvio Dino parecia ter se recuperado dos males, ... até ser infectado pelo coronavírus, com progressão para a doença covid-19. No dia 19 de agosto, meados da semana passada, tendo apresentado visíveis melhoras, já se cogitava de Sálvio Dino receber alta na sexta-feira, seguindo o que já ocorrera com a esposa, Dª Iolete Aranha de Castro e Costa, que recebera alta e estava de volta à residência no município joão-lisboense.

Tanto se sentia bem o Sálvio que ele pedira e recebera livros para leitura. Lamentavelmente, poucas horas depois, já no dia 20 de agosto, quinta-feira, um repentino agravamento no quadro de sua saúde levou-o a ser transferido via aérea para São Luís. Saiu do Hospital Macrorregional Drª Ruth Noleto, de Imperatriz, para o Hospital de Referência Estadual de Alta Complexidade Dr. Carlos Macieira, no Bairro Calhau, em São Luís (MA). Ambos os hospitais são estabelecimentos da rede pública estadual de Saúde.

Na capital maranhense, Sálvio Dino ainda recebeu mais “stents”, os microtubos revolucionários que facilitam o fluxo de sangue no coração. Seu corpo teria reagido bem – mas a agressividade da nova doença virótica ampliou o comprometimento dos pulmões e levou a um estado geral de agravamento da saúde do grande sertanejo grajauense.

Sálvio Dino, ao invés da noite, escolheu – pode-se dizer – o amanhecer do primeiro dia útil da semana, 24 de agosto, para dar início à sua jornada rumo à nova vida. E ainda, por assim dizer, “desmentiu” apressados escrevedores de notícia, os quais, antecipando-se a Deus e ao próprio Sálvio, (des)informaram milhares e milhares de pessoas com o registro de que o Grande Tribuno dos Sertões havia falecido na tarde de domingo, 23 de agosto.

Entre o fim e o começo de um período, o escritor Sálvio tomou a liberdade de resistir ainda mais, para somente entregar-se à Eternidade quando o rei Sol fizesse acontecer o raiar de um novo dia...

**

Nascido em 5 de junho de 1932, Sálvio de Jesus de Castro e Costa era um dos três filhos do casal Maria José Barros de Castro e Costa e Nicolau Dino de Castro e Costa. Dos dois irmãos de Sálvio, colhi o nome de Nicolau Dino de Castro e Costa Filho, militar, da Intendência do Exército Brasileiro, que, em dezembro de 1970, era capitão e estava sendo promovido ao posto de major.

Do pai Nicolau Dino, nascido no Estado do Amazonas, é que veio o nome – incorporado oficialmente ou não – pelo qual Sálvio e seus descendentes são tão conhecidos. “Dino” é prenome e também sobrenome com origem na forma diminutiva, reduzida, popular ou coloquial com que, na Itália, eram tratadas pessoas que tinham prenomes ou sobrenomes como “Bernardino”, “Fernandino”, “Galdino”, “Ricardino”, “Ubaldino” etc., valendo também para o gênero feminino – Dina.

A mãe de Sálvio, Maria José, era maranhense, descendente de família de quatro costados do Grajaú, como ele, Sálvio, filho, conta em seu livro ainda inédito – que o próprio Sálvio, premonitoriamente, chamou de “meu canto do cisne” (a última obra), cujos originais foram a mim confiados, em maio passado, para fazer a revisão, prefácio e edição. Nesse livro, cujo projeto gráfico-editorial já está pronto e foi entregue em sua residência, escreveu Sálvio Dino sobre o casamento de seus pais:

“Outra personagem marcante: Nicolau Dino de Castro e Costa, magistrado-poeta, que deu singular brilho à sua atuação no terreno da magistratura e da nossa vida social e cultural. Diga-se, ‘en passant’, aqui, neste histórico casarão [o atual prédio-sede da Academia Grajauense de Letras e Artes, presidida por Sálvio], ele casou-se no civil e no religioso com a jovem Maria José, filha de uma das mais tradicionais famílias grajauenses, a família Barros. E quem fez esse casamento foi o então juiz de paz Gustavo Santos, também do mesmo naipe de conceituada família de nossa terra”.

Além do singular e forte nome “Dino”, também vieram do pai Nicolau para o filho Sálvio e seus descendentes o gosto pela leitura, o exercício da escrita, a atuação na Imprensa e o pendor para as Ciências Jurídicas, o Direito, a Magistratura, a Justiça: todos os quatro filhos de Sálvio Dino têm formação em Direito.

O amazonense Nicolau Dino, pai de Sálvio, nasceu em 16 de maio de 1900 e faleceu em 1976, em São Luís. Estudou em Belém, onde foi redator do jornal “Folha do Norte” e onde se diplomou bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em dezembro de 1920. Vindo para o Maranhão, teve sólida e ascendente carreira jurídica: foi promotor público na Comarca de Grajaú, na qual, a partir de 1926 e por quase duas décadas, foi juiz de Direito, transferindo-se, em 1948, para São Luís. Na capital maranhense, em 1950, foi nomeado desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, desempenhando seguidamente as funções de corregedor, vice-presidente e presidente. Também foi presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (1955) e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Publicou diversos livros no campo jurídico, literário e histórico, entre os quais: “Da Inseminação Artificial Humana”, “Magistrados Poetas” e “O Visconde Vieira da Silva”.

Sálvio Dino é pai de quatro filhos, todos nascidos em São Luís, os três primeiros (Nicolao, Flávio e Sálvio Junior) com Dª Rita Maria dos Santos Castro e Costa, advogada, e o quarto, Saulo, em segundas núpcias, com Dª Iolete Aranha de Castro e Costa, que foi secretária municipal de Desenvolvimento Social e de Saúde de João Lisboa:

– Nicolao Dino de Castro e Costa Neto, nascido em 25 de agosto de 1963. É mestre em Direito, professor universitário, subprocurador-geral da República e foi vice-procurador-geral eleitoral do Brasil (2016/2017);

– Flávio Dino de Castro e Costa, nascido em 30 de abril de 1968. É advogado, mestre em Direito, professor universitário e ex-diretor da Escola de Direito de Brasília, do Instituto Brasiliense de Direito Público. Exerceu funções nos três Poderes da República: no Judiciário, foi juiz federal (1994/2006); no Legislativo, foi deputado federal, de 1º de fevereiro de 2007 a 1º de fevereiro de 2011; e, no Executivo, foi presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), de junho de 2011 até março de 2014, e governador do Maranhão, eleito e reeleito (2014 e 2018), exercendo a função há seis anos, desde 1º de janeiro de 2015;

– Sálvio Dino de Castro e Costa Junior, nascido em 1º de fevereiro de 1975. É advogado, especialista em Direito Processual Civil, professor universitário e sócio-fundador da Dino, Figueiredo & Lauande Advocacia e Consultoria, em São Luís. Foi secretário estadual de Justiça e Cidadania (2005/2006) e presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Maranhão;

– Saulo Aranha de Castro e Costa (Saulo Dino), o mais novo, nascido em 13 de dezembro, é bacharel em Direito, empresário e ex-atleta de basquetebol. Foi secretário de Esportes e Lazer do município de Imperatriz (MA) e secretário municipal de Infraestrutura e Urbanismo em Açailândia (MA).

**

Sálvio Dino teve uma vida onde seu talento precoce e sua coragem cívica foram revelados, ampliados e postos à prova. Ao longo da sua vida, e desde a minoridade, assumiu – e desempenhou – diversos cargos e encargos; não negou sua participação, envolvimento, luta em nome de coisas e causas coletivas.

Depois dos primeiros estudos na terra natal, Grajaú, Sálvio Dino foi para São Luís, fazer o curso secundário, ou 2º grau, hoje ensino médio. Depois, ingressou no curso de Ciências Jurídicas e Sociais, da Faculdade que hoje integra a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e sobre a qual Sálvio mais tarde escreveria e publicaria o livro “A Faculdade de Direito no Maranhão”, prefaciado pelo médico e professor Natalino Salgado, reitor da UFMA.

Na vida ESTUDANTIL, logo se tornou referência. Foi ativo membro da União Maranhense dos Estudantes Secundaristas (Umes). Líder estudantil, integrou o Parlamento Escola da Faculdade de Direito e foi eleito orador oficial do Centro Acadêmico Clodomir Cardoso, da mesma Faculdade. Na EDUCAÇÃO, como vereador na capital, foi autor do projeto de lei que criava o Colégio Municipal de São Luís.

Na IMPRENSA, foi revisor e repórter dos Diários Associados, em São Luís. Colaborou por décadas como articulista e cronista do jornal “O Estado do Maranhão”, além de contribuições variadas para outras publicações, inclusive o jornal “O Progresso”, de Imperatriz.

No mundo do DIREITO, como ressaltou em nota oficial a Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão (OAB-MA), “foi um profissional atuante e que muito contribuiu para a advocacia maranhense”. Foi um grande advogado criminalista e júris de que participava tornaram-se famosos, tanto na capital do Estado quanto nos demais municípios maranhenses. Foi, por vários anos, chefe da assessoria jurídica da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem). É da autoria de Sálvio Dino a proposição para a criação da subseção da OAB em Imperatriz, considerada a primeira do interior da extensa Amazônia Legal. Foi conselheiro da OAB-MA e editor-geral da revista científica da Ordem, tendo sido homenageado por essa Entidade com o Diploma de Honra ao Mérito pelos 100 anos do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão, em 2018.

Na POLÍTICA e ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, foi eleito vereador de São Luís em 1954 e reeleito em 1958. Em seguida, foi eleito deputado estadual em 1962, cujo mandato foi cassado, em 1964, por alegadas atividades subversivas. Foi reeleito para a Assembleia Legislativa em 1974, exercendo o mandato de deputado estadual de 1975 a 1979. Chegou a ser considerado o melhor deputado do ano de 1977, pelo Centro Social Estudantil Maranhense. Foi eleito prefeito de João Lisboa por dois mandatos: de 1988 a 1991 e de 1996 a 2000. Foi presidente da Associação dos Municípios da Região Tocantina (AMRT) e da Associação dos Municípios do Sul do Maranhão (Amsul). Ocupou e exerceu diversos cargos de relevo no governo estadual maranhense.

No campo das LETRAS, da HISTÓRIA e da CULTURA em geral, Sálvio Dino deu exemplo de iniciativa e participação, como membro da Academia Maranhense de Letras, da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, da Academia Imperatrizense de Letras, da Academia João-lisboense de Letras e da Academia Grajauense de Letras e Artes, da qual era presidente. Também fundou e foi presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão.

Em sessenta anos de vida política e de pesquisas históricas e culturais, publicou diversos livros e deixou, pelo menos, um inédito e praticamente pronto para impressão. Suas obras publicadas têm início em 1959, com “Um Moço na Tribuna”; depois, seguiram-se: “Trilogia da Emoção” (1964), “Raízes Históricas de Grajaú” (1974), “Nas Barrancas do Tocantins” (1981), “Semeando Manhãs” (1985), “Quem Passar por João Lisboa” (1989), “Luzia, Quase Uma Lenda de Amor” (1990), “Onde é Pará, Onde é Maranhão?” (1990), “O Perfil Histórico do Rio Tocantins” (1992), “A Faculdade de Direito do Maranhão: 1918-1941” (1996), “Clarindo Santiago: O Poeta Maranhense Desaparecido no Rio Tocantins” (1997), “Leões: Um Palácio de Histórias, Lendas, Mitos & Chefões” (1997), “Verde, Sertões e Vidas” (1999), “Parsondas de Carvalho: Um Novo Olhar Sobre o Sertão” (2011), “Do Grajaú ao Cume da Intelectualidade” (2014) e “A Coluna Prestes a Exilar-se – Passagem pelo Sul-maranhense” (2016). Inédito, deixou “Louvação a Grajaú”, considerado por ele seu “canto do cisne” (última obra), conforme declarações ao jornalista, escritor e editor Edmilson Sanches, escolhido por Sálvio Dino para fazer o prefácio (já lido e aprovado por Sálvio) e mais a revisão e edição da obra.

Permanentemente ativo e criativo, Sálvio Dino alimentava outros projetos literários, entre os quais uma segunda edição, revista e ampliada, do livro sobre a Coluna Prestes, de 2016, e um livro sobre o militar e escritor maranhense Augusto Tasso Fragoso, que, em 1930, foi da Junta Governativa do Brasil. Sálvio estava em fase de leituras sobre o possível biografado, conforme conta Agostinho Noleto Soares, advogado, escritor e colega de Sálvio na Academia Imperatrizense de Letras.

O advogado e escritor Fernando Braga, residente em Brasília (DF), amigo e contemporâneo de Sálvio Dino, ouviu o ilustre grajauense referir-se a um terceiro projeto, um livro sobre a tradicional família Barros, de Grajaú, da qual descende Dª Maria José Barros de Castro e Costa, mãe dele, Sálvio. Aliás, Sálvio Dino tem praticamente pronto o material para esse livro “post mortem”: a série de crônicas sobre a família Barros, que ele escreveu e que, parte delas, foi publicada em jornal e em espaço virtual da Academia Maranhense de Letras. É só reunir e dar o tratamento gráfico-editorial necessário, realizando mais esse desejo e premiando mais esse esforço genealógico e historiográfico do grande pesquisador.

**

Conheci Sálvio Dino na década de 1970, mas as referências mútuas e a amizade consolidaram-se nos anos 1980 e, em especial, no início da década seguinte, quando, em 27 de abril de 1991, fundei a Academia Imperatrizense de Letras (AIL), para cuja constituição o convidei, junto com outros doze humanistas, totalizando catorze membros fundadores: Adalberto Franklin, dom Affonso Felippe Gregory, Edmilson Sanches, Eucário Rodrigues, José de Sousa Breves Filho, José Geraldo da Costa, Jucelino Pereira da Silva, Jurivê de Macedo, Lourenço Pereira de Sousa, Lourival de Jesus Serejo Sousa, Neneca Motta Mello, Sálvio Dino, Tasso Assunção e Vito Milesi. Logo após a fundação, ainda em 1991, trouxe até Imperatriz os escritores Jomar Moraes e José Chagas, da Academia Maranhense de Letras. Sabendo que Sálvio tinha, em São Luís, interlocução com aqueles acadêmicos, convidei-o para a mesa diretora dos trabalhos, nós quatro, no concorrido evento realizado no auditório da Associação Médica de Imperatriz.

Tempos depois, após retornar de longos anos de estudo e trabalho em Fortaleza (CE), Brasília (DF) e São Paulo, eu voltei a me encontrar com Sálvio com mais frequência, sobretudo nas reuniões das tardes e noites das quintas-feiras na AIL. Um ano desses, um dia qualquer, antes do início da reunião, Sálvio diz-me que seu filho estava na Praça da Cultura (em frente à Academia) e ele, Sálvio, convidava-me para tirar uma foto com eles, antes de a reunião começar. Lembro-me de que perguntei: “Qual filho, Sálvio?”. Ele respondeu-me: “O Flávio”. Fomos à praça, e Sálvio, Flávio Dino e eu posamos para as lentes de um fotógrafo que ali já estava. Flávio, brincando, disse: “Essa foto é o futuro do Maranhão”. Talvez falasse por ele...

Sálvio manifestava espontânea e publicamente seu apreço pelas coisas que eu escrevia e falava e pelo ativismo cultural que eu desenvolvia, estimulando e/ou auxiliando na criação de entidades culturais, sindicais, profissionais, desde academias de letras em São João do Sóter ou em Buriticupu, em Santa Inês ou João Lisboa, Aldeias Altas ou Açailândia, a associações de quebradeiras de coco no Povoado Açaizal Grande, em Senador La Rocque, ou de produtores rurais no Olho d’Água do Tucum, no Tocantins, ou sindicato de bancários e de contabilistas, além de diversas associações de moradores em Imperatriz.

Por causa desse ativismo, certamente, Sálvio Dino me pediu para criarmos uma Federação das Academias de Letras do Maranhão. Fiz a pesquisa das entidades acadêmicas e assemelhadas existentes no Maranhão, elaborei uma minuta de estatuto, fiz um apanhado de documentos impressos sobre a existência de entidades federativas do gênero pelo país e passei tudo para o grande tribuno. Dito e feito: a Federação foi criada. Uma vez, em sua casa em João Lisboa, ele disse que seria realizado um congresso das academias de letras e que o evento se daria em Caxias, “em homenagem a Edmilson Sanches e sua contribuição para a Federação e para a criação de academias no Estado”. Claro, agradeci também bem-humorado. O congresso até que foi pensado, mas não se realizou.

Sálvio aqui e acolá telefonava e pedia para eu ir até o vizinho município – ele cuidava de pedir ao Nonato, motorista dele, para vir me buscar. Lá, na residência dele, conversávamos, eu levava livros para ele, e ele ofertava livros para mim. Há uns dois anos, mais ou menos, ele queria saber sobre um estudo meu, já concluído, acerca da autoria do livro “O Sertão”, atribuído a Carlota Carvalho. Essa autoria já foi tema de bons debates na Academia Imperatrizense. Sálvio estava particularmente interessado por algumas informações inéditas nos trabalhos sobre Parsondas de Carvalho, as quais localizei em obras em francês e em português – os dois volumes da raríssima obra “Le Brésil: Excursion a Travers ses 20 Provinces”, de Alfred Marc, publicada em Paris, no século XIX (1890), e o livro “Alcântara: Subsídios para a História da Cidade”, do maranhense Antônio Lopes, publicado pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1957.

Por várias vezes, fui por surpreendido pelo Sálvio em cena pública com manifestações espontâneas e elogio e reconhecimento – como na noite de 6 de julho de 2019, no seu discurso na concorridíssima solenidade de inauguração da sede própria da Academia Grajauense de Letras e Artes, que ele .

No fim de 2019, Sálvio soube de um projeto meu – a “Enciclopédia Maranhense” – e, novamente, convidou-me para conversar lá em João Lisboa. Pediu-me que lhe levasse uma cópia – levei mais de uma... Ficou absolutamente extasiado com as centenas de nomes de maranhenses que tanto fizeram pelo Brasil em todas as áreas do Conhecimento (Agricultura, Artes, Ciências, Cinema, Cultura, Economia, Indústria, Medicina & Saúde, Música, Política & Administração Pública etc.). Nomes que o Maranhão ou não conhece ou, adequadamente, não reconhece. Ou os dois. Pessoalmente ou por telefone, Sálvio antecipava que, até o fim do ano (2020), iria me pôr frente a frente com quem pudesse se apaixonar por aquele projeto, e financiá-lo.

Mais recentemente, desde maio, Sálvio ligava duas ou três vezes semanalmente. Ele acabara de receber um livro prefaciado por mim e, ao ligar, disse: “Vou te enviar os originais do meu canto do cisne, meu último livro, e não posso publicar esse livro sem o seu prefácio”. Ainda “ralhei” com ele sobre aquela história de “canto do cisne”, de “último livro”, e ele ria...

Após receber o texto do prefácio que escrevi, fez dois telefonemas onde, por quase uma hora, ele demonstrava a satisfação com o prefácio. Depois, pediu: “Esse livro só pode sair se for com sua revisão e sua edição; faça o projeto editorial e me envie, para eu tratar das condições para publicá-lo”. Sálvio aceitou todas as ideias para o projeto gráfico-editorial do livro, a partir da sugestão de um nome mais curto e forte – “Louvação a Grajaú” –, além de ilustrações em cores, índices cronológico e onomástico etc. Ele queria que estudantes e pessoas mais jovens se sentissem atraídas para manusear e, claro, ler sua “Louvação” à cidade de que ele é orgulhoso – e ilustre – filho. Um exemplar do livro, que nas gráficas chamamos “boneco”, foi feito e foi levado à residência joão-lisboense do grande tribuno dos Sertões. Tomara que lhe tenha sido entregue e que ele possa ter visto, tão contente estava com seu trabalho...

O Sálvio aqui e acolá lembrava a coincidência – de resto trivial – de um de seus filhos e eu termos nascidos no mesmo dia e mês. Outro ponto de contato foi a eleição de Sálvio Dino para a Academia Maranhense de Letras Jurídicas, em 2014. A Cadeira que ele passou a ocupar ficara vaga com o falecimento, naquele ano, de um grande amigo meu e por muito tempo meu colega de república em Imperatriz: o itapecuruense Leomar Barros Amorim de Sousa (1955—2014), mestre em Ciências Jurídico-políticas em Lisboa (Portugal), que, à época, era advogado do Banco da Amazônia e depois, por concurso, tornou-se juiz federal, chegando a desembargador federal do Tribunal Federal de Recursos da 1ª Região, professor universitário e membro do Conselho Nacional de Justiça.

Para não alongar mais ainda este escrito – de qualquer forma pequeno para a imensidão multifacetada de Sálvio Dino –, relembro um recente episódio que tanto o alegrou: o reencontro com a filha de um amigo dele da distante primeira metade do século XIX – o jornalista e poeta Rogaciano Leite, nascido em Pernambuco mas radicado em Fortaleza (CE) e viajado por todo o país e exterior, fazendo reportagens que ganharam prêmios Esso e realizando apresentações culturais, com recitais poéticos Brasil adentro. Rogaciano Leite esteve em São Luís e em Caxias. Na capital, conheceu Sálvio Dino e tornaram-se amigos.

Coincidentemente, lá pelo ano 1995 ou 1996, quando eu morava em Brasília, recebi uma visita surpresa de Sálvio Dino ao meu local de trabalho. A satisfação ante o reencontro foi enorme. Aí, lembrei-me de que uma colega de trabalho, a engenheira civil e gestora Helena Roraima Iracema Cavalcante Leite, era uma das filhas do poeta Rogaciano Leite. Apresentei-a ao Sálvio Dino, oportunidade em que ele logo contou à Helena Roraima como conhecera o pai dela. Duas décadas e meia depois, agora em 2020, comemoram-se cem anos de nascimento do grande poeta nordestino. Helena Roraima, há anos morando em Madri (Espanha), realiza, de longe, um enorme, gigantesco esforço para coletar mais e mais informações sobre seu pai e fazer, ainda que de modo virtual (em razão da pandemia do coronavírus), uma exposição sobre ele. Helena Roraima pede depoimentos em áudio e vídeo e textos, solicita recortes de jornais que mencionem seu pai, fotografias, enfim, o que for possível. Pediu-me ajuda, queria um plano de pesquisa nos diversos Estados brasileiros, consulta a coleções de jornais em biblioteca ou nas sedes dessas publicações, gravação de entrevistas... Um mundo de coisas.

Fiz o planejamento e o enviei para a Helena Roraima – e, “de quebra”, disse para ela que havia localizado alguns conhecidos de Rogaciano Leite ou apreciadores de sua obra. São os amigos escritores Arthur Almada Lima Filho, desembargador, e Frederico Brandão, advogado, que conheceram Rogaciano em Caxias; Edmilson Franco, advogado, que conhece de cor e salteado a cidade natal e diversos outros lugares por onde Rogaciano andou; Valdizar Lima, empresário, conterrâneo de Rogaciano... e Sálvio Dino, velho conhecido do poeta sertanejo. Da Espanha, Helena Roraima ligou para todos e, pela magia das telecomunicações, teve momentos emocionantes com pessoas que falaram, e falaram bem, de seu pai... Sobre Sálvio Dino, a filha de Rogaciano Leite enviou-me, nesse 24 de agosto, o seguinte depoimento:

“Foi em 1947 que ele [Sálvio Dino] conheceu o poeta Rogaciano Leite, meu pai. Cinquenta anos depois, o conheci, apresentado pelo meu amigo Edmilson Sanches, quando trabalhávamos no gabinete da presidência do BNB [Banco do Nordeste do Brasil], em Brasília.

Vê-lo lembrar-se tão bem do papai, depois de 50 anos, me pareceu fantástico! Recentemente, tive nova oportunidade de contatá-lo (encontro também facilitado pelo Sanches) e por telefone conversarmos prazerosamente por longo tempo e, por fim, pude convidá-lo para participar do documentário sobre papai... pós-pandemia... Ano 2020...

Vejam só... Já são 73 anos [do encontro entre Sálvio Dino e Rogaciano Leite] e 23 do nosso encontro... e mesmo assim, depois de tantos anos, sua memória [de Sálvio Dino] e energia de menino me impressionaram e me encheram de emoção e de carinho... por ele... por suas lembranças, dele e minhas, guardadas na sua bagagem de memórias de seus 88 anos.

Não pude deixar de me emocionar com sua internação, seguida de minhas preces... e meu desejo de voltar a conversarmos e rirmos juntos...

Sua ausência, agora, nos separa... mas levo comigo o vínculo que criamos, antes com o pai, agora com a filha. Sálvio Dino é marcante! Se sinto essa dor ao saber dessa notícia triste (pelo meu amigo Sanches), que me enche de emoção, fico a imaginar o sentimento de quem o conheceu faz tempo...

Solidarizo-me com o sentimento de todos os seus admiradores, amigos e familiares, desejando-lhes o conforto, sentindo a ausência física, mas crendo na vida espiritual, que sei que não morre!...

Os dois amigos [Sálvio Dino e Rogaciano Leite], a essas horas devem estar juntos, relembrando e contando suas histórias...

O meu adeus a Sálvio Dino! Gratidão por conhecê-lo.

Sanches, gratidão por ser o intermediário desses nossos felizes encontros que a vida nos proporciona”. (HELENA RORAIMA LEITE)

**

A natureza das lembranças e impressões de Sálvio Dino em muitas pessoas pode ser aferida pelos comentários a partir de dois pequenos textos que fiz e coloquei dia 24/8 em página em meu nome na rede social Facebook. Lindalva Bastos Lopes escreveu: “Saudades eternas; eu admirava muito o intelectual Sálvio Dino. Um homem culto, um intelectual admirado e amado por muitos [...]”.

Francisca Carvalho Sousa, maranhense residente em São Paulo, solidariza-se na dor e relembra: “Meus sentimentos a todos familiares. O conheci demais, porque ele ia à casa de meus pais nos anos 1970. Eu votava nele e meu pai votou nele. Sinto muito; eu também o admirava muito”.

Nascida em Anápolis (GO), mas há muito radicada em Imperatriz e no vizinho Estado do Tocantins, onde é professora, Eunice Mendes dos Santos reconhece: “Um homem simples, mas de uma grandiosidade infinita! Muita Paz e Luz em seu retorno ao Lar original! Aos familiares, meus sinceros sentimentos!”

Bancário aposentado, João Silva Lima lamenta: “Foi-se um dos maiores intelectuais do Maranhão, político de renome e uma das maiores expressões do Direito Penal. Imortal da Academia de Letras, autor de vários livros. Que Deus o Tenha”.

Funcionário da Caixa Econômica Federal e “designer” gráfico, Marcos David P. Almeida relembra: “Grande homem!! Conheci o Dr. Sálvio Dino quando eu trabalhava na Gráfica e Editora Brasil, em Imperatriz. Meus pêsames aos familiares!!”

Advogado e escritor, de tradicional família de Montes Altos (MA), Márcio Ferraz conta: “Desde quando eu era criança, já ouvia falar de Sálvio Dino, como advogado e ‘homem das letras’ do Estado... Pesquisou, resgatou e escreveu, por exemplo, sobre o Parsondas de Carvalho (persona que Sálvio tanto admirava) e é um dos símbolos culturais de Montes Altos (minha terra). Sem dúvida ficará uma lacuna imensa, mas ficará também tudo de excelência feito pela cultura do Maranhão pelas mãos deste ilustre filho de Grajaú”.

Homem do povo, que conhecia muito do futebol brasileiro, Sálvio Dino é lembrado por esse viés por alguns amigos, entre eles o empresário Newton Oliveira, de Imperatriz: “Mais um botafoguense nos deixa...”.

Meu amigo Fernando Mendonça, juiz de Direito, que bons serviços prestou à Justiça em Imperatriz e hoje está em São Luís, escreveu: “Muito querido e sempre atencioso com amigos e conhecidos! Os números da covid-19 transformados em pessoas amadas e exemplo de compromisso com a evolução da vida em sociedade. Pêsames à família enlutada!”

Nascido em São Paulo, mas definitivamente radicado em Imperatriz, José Emivaldo Carvalho Lima faz um “tour” pelas próprias lembranças: “Fazendo uma memória póstuma, lembro agora, também, desde meus tempos de criança, em Montes Altos. Sálvio Dino já fazia frente de movimentos políticos, nos meados dos anos 1970. [...] Tinha um ‘voz’ [sistema de som] que divulgava sua chegada na cidade. Se não me falha a memória, quem fazia frente desses movimentos era o ex-prefeito Adail Albuquerque de Sousa, a saudosa Laura Rocha e também o Sr. Mesquita. Enfim, só boas lembranças hoje do passado. [...]”.

Nascido em Carlos Chagas (MG), residente em Belo Horizonte e com negócios em Imperatriz, onde também mora, o médico-veterinário, consultor e empresário rural Mauroni Cangussú, um dos maiores especialistas mundiais sobre fome e alimentos, convidado pela ONU para os mais importantes eventos sobre esse tema, relembra: “[Sálvio Dino foi o] Primeiro político que conheci aqui no Maranhão. Andando pelas ruas de João Lisboa, me desejou boas-vindas ao Maranhão. Aqui estou há mais de 30 anos”.

Júlia Gomes, advogada e de tradicional família de Montes Altos (MA), servidora aposentada do Tribunal Regional do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho, lembra-se de Sálvio Dino: “Meus sentimentos à família de nosso amigo ilustre Dr. Sálvio Dino. Tive a honra de atendê-lo muitas vezes na Justiça do Trabalho em Imperatriz, no exercício da advocacia. Guardarei sempre na memória uma ligação que recebi dele no primeiro semestre de 2017, me convidando para o lançamento em São Luís de um dos seus livros. Foi um homem notável, de grande inteligência e amor ao Maranhão. Deixou um grande legado. Que Deus o receba em Seus braços e lhe dê a salvação eterna!”

A médica Marilda Albuquerque Ferraz escreve: “Lamento profundamente a perda de um grande amigo do meu pai, Vanderly Ferraz, ex-prefeito de Montes Altos. Compartilhavam das mesmas ideias políticas e literárias! Que Deus o tenha entre os bons e os justos!”

O gerente comercial e escritor Humberto Barcelos, autor de livros de poesia e contos, relata: “– Um abraço, caro mestre. // – Igualmente, meu filho. Vou ficar aqui ao som dos meus passarinhos. // Estas foram as últimas palavras que troquei com o acadêmico Sálvio Dino, por telefone. Eu havia acabado de passar pelo doloroso processo de recuperação da covid-19. Falamos sobre bem-estar físico e literatura. Para aqueles que conheceram o mestre Sálvio não restam dúvidas a respeito da capacidade que ele possuía de nos ensinar através de suas vivências e conhecimento de nossa literatura. // Ele me falou empolgadamente sobre o livro no qual estava trabalhando, cujo lançamento seria/será em breve. Enquanto isso, era possível ouvir, ao fundo, os cantos dos passarinhos, que provinham do belo espaço ao redor de sua casa rodeada de natureza. Rodeada de tranquilidade. E, agora, rodeada de saudade. // Nossa cultura e literatura sempre necessitam de defensor@s para que ganhem o espaço merecido e necessário dentro da sociedade. Aqueles que nesse sentido se dedicaram são merecedores de elogios e reconhecimento, principalmente porque o objetivo final se resume no ato de educar. Educar para a vida. Nesse respeito tivemos o apoio incontestável de Sálvio Dino. // Nossas sinceras condolências à família enlutada e aos amigos que terão que lidar com a saudade”.

**

Cada ser humano tem dentro de si seu próprio cemitério. Ali, ele guarda e cultiva seus mortos. Talvez, haja tumbas descuidadas, sepulcros não caiados... Túmulos negligenciados, sepulturas indiferentes, mausoléus desleixados. Como em todo campo santo, também no cemitério de nossa mente e coração há que se ter zelo pelos que se foram, cuidar ou, ao menos, (re)lembrar do legado que, querendo ou não, deixaram por aqui, para os dias sem fim que hão de vir.

Sálvio Dino é desses que lutou por coisas e causas nobres – da História, da Cultura, da Arte, da Literatura... Da boa Política, da correta Administração, do bom Direito, da adequada Justiça.

Meio milênio antes de Cristo, um dos sete sábios da Grécia Antiga, Quílon de Esparta, escreveu, e os latinos adotaram: “De mortuis nil nisi bonum” (“Não se fale nos mortos, a não ser para dizer bem”).

Cordial, cavalheiro, apaziguador, para se falar bem de Sálvio Dino ele não precisava morrer...

Os Céus acabam de ganhar seu mais entusiasmado tribuno...

* EDMILSON SANCHES

A 2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo, realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em formato “on-line”, foi prorrogada por mais uma semana, até o dia 30 de agosto.

Cada um dos 24 filmes da programação agora também ficará em cartaz por um período maior. Os títulos poderão ser assistidos em um intervalo de 24 horas, contado a partir das 17h do dia da exibição.

Serão reprisados três filmes dirigidos por mulheres: o documentário “Joana d'Arc Egípcia” (2016), de Iman Kamel, que discute as experiências das mulheres egípcias que derivaram da Primavera Árabe; “Saída para o sol” (2012), estreia da diretora Hala Lotfy, que mostra o cotidiano de duas mulheres que cuidam de um familiar doente; e “Vila 69” (2013), de Ayten Amin, comédia dramática que retrata a vida de Hussein, um arquiteto em estado de saúde terminal, que tem a rotina alterada pela chegada da irmã e do neto.

Também serão reexibidos, em sessões inclusivas, dois filmes: “Fotocópia” (2017), de Tamer Ashry, um dos filmes mais elogiados pelo público da mostra, com audiodescrição, e “O Portão de Partida” (2014), de Karim Hanafy, que aborda temas como a morte e a tristeza e conta com legenda descritiva.

As exibições são gratuitas, e a programação completa está disponível no “site” do evento.

(Fonte: Agência Brasil)

Poeta José Maria Nascimento

Rainer Maria Rilke um dos escritores mais lidos de língua alemã foi vastamente traduzido no Brasil, tanto em verso como em prosa; nesta, encontra-se “Cartas a um jovem poeta”, endereçadas ao jovem Franz Kappus – aprendiz de poeta –, (a correspondência com a intelectual Lou Andreas-Salomé, um dos seus grandes amores, responsável pela mudança de seu nome de René para Rainer, como as “Cartas sobre Cézanne”, trocadas com a artista plástica Clara Rilke, sua terna esposa). E mais, dentre estas, ainda, Manuel Bandeira como na versão “Torso arcaico de Apolo”, ou de Cecília Meireles para “A canção de amor e de morte – estandarte Cristóvão Rilke”, ou várias versões feitas por Augusto de Campos, como a “Coletânea de vinte poemas de Rilke”, agora em versos.

Apesar dos caminhos tomados por Rainer Maria Rilke, como “o poeta do inefável”, das “legiões dos anjos” para quem se dirige em “Elegias de Duíno”, ou com a pressão do olhar em que descreve a pantera ou a dançarina espanhola em “Novos Poemas”, que tanto encantou João Cabral de Melo Neto... Teve grande penetração no Brasil, chegando a formar uma espécie de “rilkeanismo na geração brasileira de 45”; no Maranhão, em particular, a geração de 60 embebida pelos métodos teóricos e artísticos da de 30, foi, em José Maria Nascimento que essa adjetivação atingiu em cheio, com a temática de “Oferenda aos lares”, frontalmente no contexto de seu livro”‘Silêncio em Família”: “O não ter Natal / e do Natal a alegria tão-somente / de saber-se hoje uma criança, / assim sentada, / a conferir estrelas entre um templo e um sobrado”.

Aqui se vê, claramente, “o aspecto metafísico elaborado com uma visão pessoal da religião nas histórias do Bom Deus; a valorização do aprendizado do olhar sobre a superfície das coisas, teorizada também em “Rodin”, livro que reúne dois ensaios sobre o escultor francês de quem o autor chegou a ser secretário em Paris e a casar-se depois com uma aluna do grande mestre (Clara que lhe deu, mais tarde, uma única filha, Ruth).

Em “O Livro da Peregrinação”, segunda parte de “O Livro das Horas”, que, assim como o “Livro da Vida Monástica”, é denominado pelo pressentimento de um Deus ainda por vir, enfeixa versos de um teor lírico muito grande, e talvez, por isso, inconscientemente, leva o poeta José Maria a apegar-se a uma espécie de judaísmo, talvez levado pela influência onírica de José Erasmo Dias, o judeu dos Apicuns que, assim, como “O Livro da Vida Monástica”, é dominado pelo pressentimento de um Deus ainda por vir, enfeixa versos de um teor lírico muito grande, o qual oferece ao imortal autor de “Páginas de Crítica”: “Noturnos doloridos finos sons / no ar carregado em verde cruz / Vibram melancólicos pistons / à rósea penumbra da meia-luz...” Ou ainda: “Agora o corpo assim frio exposto / (herança de um sonho estagnado) / pouco reflete da beleza no rosto / terno e triste como a canção ao lado...”

Diz Franklin de Oliveira, um dos maiores críticos brasileiros de todos os tempos, que a altíssima poesia de Rilke, uma das mais gloriosas do nosso século, se lhe serviu de instrumento de fixação da hora perplexa na face dos homens; também ele a usou como veículo de penetração no núcleo mais recôndito de tudo que está aquém e além do homem... E José Maria Nascimento começa por saudar o poeta em sua elegia, enfeixada em sua belíssima “Antologia Poética” a merecer lugar de destaque no Cancioneiro Brasileiro, por ser um livro bonito e por conter a beleza da alma do poeta maranhense: “Como se de tudo só a dor lhe resguardasse, / e a solidão costumeira fosse a sua graça; / e todo o coração nas trevas se iluminasse / ao impacto da luz do sol contra a vidraça”.

Sabe-se, contudo, que Rilke, nascido em Praga, a eslava cidade barroca dos mergulhadores do obscuro, dentre eles Franz Kafka, de lá observou a matéria-prima de sua criação lírica, tendo, a meu ver, em Nascimento, um dos seus grandes seguidores, entre nós, em língua portuguesa, vez que o poeta maranhense é um lírico inato até pela sua personalíssima condição de garimpeiro da linguística, a fazer dançar a bateia para apurar os rubis que se liquefazem no vinho e na fermentação de sua própria vida. E continua... “Como se naquela tarde alguma outra lembrança / flutuasse por sobre os móveis encardidos; / e algo retornasse junto aos dias de criança, / despertando alegrias e tormentos dormidos...”

Ao exercitar a poesia, não apenas com angústia e enigmas oníricos, sem o ar de pesadelo que se expande em tudo, mas com um manejo conceitual de originalidade a duelar nas fronteiras da expressão, como prefere Oswaldino Marques, José Maria Nascimento sabe que a poesia não se prende apenas ao pensamento ou às preces de litania, e prossegue a cantar sua elegia ao poeta de “Eu tenho mortos”: “Como se um amigo estivesse sempre ao seu lado, / testemunha das cismas que a madrugada oferta; / e, de súbito o alvorecer ficasse imobilizado / em homenagem à penúltima e sagrada hora incerta”.

Depois do Impressionismo alemão, nenhum outro movimento teve tão grande relevância de consequências estéticas como o Simbolismo, e Rener Maria Rilke só se individualiza com essa nova estética, quando, então, aparece “O livro das imagens...” E Nascimento conclui: “Como se na intimidade de um longo sonho falho, / o corpo revelasse a sua história num momento; / e na aridez dessa existência houvesse orvalho, / cobrindo as folhas e os frutos do pensamento”.

Já que, se Rilke se dizia uma ilha... Nascimento, em “Naufrágio da Ilha”, completa: “O rio Ingaúra está seco, / morreram as lavadeiras”.

Em “Visões”, o lirismo de José Maria Nascimento – o poeta do Ribeirão –, chega ao cume de um soluço que adormece: “Da juventude aquele olhar ficou, / novas paixões edificando sonhos, / tantas moedas se partiram ao meio, / sobraram pedras sobre mágoas cruas”.

Por fim, o poeta de “Harmonia do Conflito” se confessa arrependido, já que não bebe [nunca mais] nem cachaça de Oratório: “... lançou-me contra as ruínas / das mais tristes boêmias; / foi a dose dupla de minha queda /... contida na bilha da vergonha”.

Não tenhas vergonha, poeta, do vinho virgem bebido, porque, voltando um pouco no tempo, o inconvencional Rimbaud, em “Uma Temporada no Inferno”, confessa “sonhos e terras distantes, desejo de solidão e sede e conhecimento, o passado ancestral e a busca pelo desconhecido (...) Dele emerge o homem rebelde e aventureiro, vivendo – como dizia Verlaine “a própria vida inimitável”: “Jadis, si me souviens biens, ma vie était um festin oú s’ouvraiient tous lês coeurs, ou tous les vins coulaient”. (Antes, se lembro bem, minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, todos os vinhos corriam).

O epitáfio de Rilke, escrito por ele mesmo, diz: “Rosa, ó pura contradição, alegria, alegria / de ser o sonho de ninguém sob tantas pálpebras”.

O do poeta José Maria Nascimento, a cantar o verso, esse seu estranho amigo, bem que poderia ser este, de aqui a mil anos como diria Baudelaire: “Tigre faminto de termos originais / pantera da minha jovialidade; / ele o solitário verso / banhou-se nas minhas lágrimas / comeu todo o sal do meu batismo”.

Todas as grandes vozes poéticas do nosso tempo, desde T.S. Eliot a Fernando Pessoa, tiveram seus ecos apocalípticos em “Terra Devastada”. Uma espécie de código, de estrondo!

Mas o grito de José Maria Nascimento transcende como se este fosse: “Quem, se eu gritasse, entre os anjos me ouviria?”

* Fernando Braga, in “Caderno Alternativo”, do Jornal “O Estado do Maranhão”, 10, de outubro de 2007; in “Conversas Vadias” [Toda prosa], antologia de textos do autor.

A Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura está com inscrições abertas para o Curso Livre de Preparação do Escritor (Clipe), dessa vez em formato “on-line”, até 7 de setembro, com o objetivo de colaborar com a formação e o aprimoramento de novos escritores. Durante o isolamento social devido à covid-19, toda a programação da instituição está sendo realizada de forma virtual.

A versão “on-line” do curso, que não limita o número de vagas, possibilita o acesso a maior número de participantes espalhados por todas as regiões do país, que gostam de escrever e buscam desenvolver técnicas da escrita criativa nos gêneros conto, crônica e ensaio. A formação é voltada a pessoas com idade a partir dos 18 anos, e o pagamento será apenas no ato da inscrição, no valor de R$ 60.

Ministradas pelos escritores Veronica Stigger, Marcelino Freire e Tiago Novaes, as aulas ficarão disponíveis a partir do dia 8 de setembro em plataforma virtual. Os inscritos têm 21 dias, a contar do primeiro acesso, para entrar nos conteúdos e 30 dias para enviar os textos propostos nos módulos.

Os próprios participantes podem escolher os melhores dias e horários para aproveitar o curso. Serão 12 aulas, sendo quatro de cada gênero – conto, crônica e ensaio –, incluindo propostas de exercícios e indicação de bibliografia para leituras complementares.

De acordo com a organização do curso, o material produzido pelos alunos passará por uma seleção no fim do curso com a possibilidade de publicação no “site” do museu, pelo Centro de Apoio ao Escritor (CAE), e na revista eletrônica “Grafias”, ações da Casa das Rosas voltadas à criação literária e à reflexão sobre o ofício dos escritores.

Criado, em 2013, o Clipe ocorre anualmente. Já teve mais de 6 mil inscritos em sete anos de atividade e acolheu 420 participantes, o que resultou em mais de 100 títulos publicados, muitos deles com prêmios de incentivo para publicação.

A Casa das Rosas faz parte da Rede de Museus-Casas Literários da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do governo do Estado de São Paulo, gerenciada pela Poiesis.

A inscrição deve ser feita pelo link https://hotmart.com/product/clipe-online/U39111193J.

(Fonte: Agência Brasil)

Em tempos de pandemia do novo coronavírus, a 15ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto (15ª CineOP) será realizada este ano em formato virtual. O evento, gratuito, ocorre de 3 a 7 de setembro. Desde sua criação, em 2006, na cidade mineira de Ouro Preto, o festival se destaca dos demais por se dedicar à preservação do audiovisual e a tratar o cinema como patrimônio cultural.

“A gente está conseguindo reunir uma programação abrangente, mantendo o mesmo propósito do evento presencial de oferecer uma programação estruturada em três temáticas: preservação, história e educação”, disse à Agência Brasil a coordenadora da CineOP e diretora da Universo Produção, Raquel Hallak. O público vai poder conhecer filmes relacionados a cada uma das temáticas e, também, participar de 20 debates com profissionais ligados ao audiovisual, à educação e à preservação. Os debatedores vão refletir sobre o momento atual que o audiovisual está passando, quais são as perspectivas de futuro, como se dá o diálogo entre cinema e educação e quais são as expectativas em relação à preservação, “que é sempre um setor que fica à margem da cadeia produtiva do audiovisual”, lembrou a coordenadora.

Raquel Hallak destacou que o evento comemorativo dos 15 anos da CineOP tem o desafio de reunir, na programação, atividades de formação, com a oferta de oficinas e palestras internacionais; realizar o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais e o Encontro Latino-americano de Educação; além de mais de 90 filmes em exibição. “O diferencial de Ouro Preto é que ele é o único evento que trata o cinema como patrimônio e convida a educação a dialogar, para estar presente, a entender como a educação utiliza o audiovisual como instrumento de transformação social, construção da cidadania e como essas duas linguagens se enriquecem mutuamente”.

Segundo Raquel, a mostra evidencia como o audiovisual pode estar próximo da educação e pensar o contexto das imagens na escola, do ponto de vista da produção, com os próprios alunos produzindo conteúdo e, também, da difusão. “E direcionando para uma discussão para além do que se vê nos filmes. O que as imagens estão nos dizendo”.

Televisão

A 15ª CineOP vai abordar, também, os 70 anos da televisão brasileira, que serão comemorados no dia 18 de setembro. O evento fará um recorte do tema central Cinema de Todas as Telas. “Cada temática do festival fez um recorte curatorial”. Na preservação, serão enfocados os arquivos televisivos e, ao mesmo tempo, as novas formas de difusão; na educação, será abordada a ressignificação das telas das janelas como enquadramento e possibilidade de gerar imagens; e a história, que fará um retrospecto do que foi a televisão, do que é e do que poderá ser.

Estão previstas quatro oficinas para um público acima de 16 anos. Elas fazem parte do programa de formação do evento e visam despertar novos talentos, além de ser oportunidade de reciclagem. “É uma questão vital para o crescimento da indústria cinematográfica no país. Sem mão de obra, a gente não consegue fomentar essa indústria”, comentou Raquel Hallak.

Serão oferecidas, ainda, pela 15ª CineOP quatro “master class” (aula dada por especialista de notório saber em determinada área do conhecimento) internacionais que vão estar dialogando com as temáticas preservação e educação. “A ideia é que os eventos possam estar fomentando essa discussão, aproximando, não deixando essa lacuna acontecer, no momento em que a gente vê que a cultura está sendo o carro-chefe do distanciamento, do isolamento social. A cultura tem sido, cada vez mais, consumida dentro de casa e pouco valorizada”.

Aproximação

A coordenadora da CineOP acha que é o momento de os festivais devolverem esse papel de aproximação e discussão sobre a importância de valorizar o que é produzido no país e incentivar, cada vez mais, que as políticas públicas possam acontecer em favor dessa produção, que produz emprego e renda. “Eu acho que a gente tem de estar junto, mostrando a força que a gente representa em todos os sentidos. Enquanto indústria que não polui; que mais cresce no mundo, que é a indústria da economia criativa; que produz e fala o que nós somos, porque um país sem memória é um país sem identidade”. Na visão de Raquel Hallak, a mostra de Ouro Preto vai ser uma oportunidade e instrumento de luta e salvaguarda pelo patrimônio do cinema.

Essa vai ser a primeira experiência do evento no formato “on-line”. Entretanto, como a “internet” já mostrou que é uma ferramenta que veio para ficar e que as pessoas estão aprendendo a consumir por meio dos canais digitais, Raquel considerou que se trata também de uma oportunidade nova de alcance. “Com uma programação ‘on-line’, você deixa de ter barreiras de deslocamento e de fronteiras. É uma oportunidade de ampliar o alcance do público e o seu engajamento e levar essa ação cultural para o maior número de pessoas possível”.

A expectativa dos organizadores é que as pessoas que já conhecem o evento vão assistir e as que não conhecem terão oportunidade de desfrutar da programação, “que está bem bacana, bem intensa e diferenciada”. Raquel observou que esse é o primeiro evento de festivais que vai ocorrer que não será simplesmente um catálogo de filmes. “Ele está mantendo os pilares de formação, reflexão, exibição e difusão”, concluiu.

Resultados

Ao longo das 14 edições anteriores, a mostra CineOP promoveu 83 dias de programação gratuita, com 465 sessões de cinema e a exibição de 1.115 filmes, sendo 216 longas, 67 médias e 832 curtas metragens.

A CineOP recebeu mais de 3.750 convidados, entre eles 37 estrangeiros, e mais de 800 profissionais de imprensa credenciados. Promoveu 15 edições do Seminário do Cinema Brasileiro: fatos e memória; 15 edições do Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais e dez edições do Encontro da Educação – Fórum da Rede Kino, totalizando 210 debates.

Por meio do Programa de Formação Audiovisual, o evento contabiliza 105 oficinas e “workshops” e uma “master class” realizados. Em parceria com a rede pública de ensino da cidade de Ouro Preto, a mostra promoveu 41 sessões do projeto Cine Expressão – A Escola vai ao Cinema, com exibições especialmente selecionadas para crianças, adolescentes e jovens.

Para estimular o diálogo do cinema com todas as artes, a CineOP promoveu, ainda, 14 exposições, 15 cortejos da arte, sete cine-concertos e 93 “shows”, com a participação de artistas que se têm destacado na cena mineira e nacional, abordando questões políticas, sociais, estéticas, comportamentais e filosóficas.

(Fonte: Agência Brasil)

O Parque Nacional da Tijuca vai reabrir, amanhã (24), ao público a trilha da Pedra Bonita. A visitação poderá ser feita de segunda a sexta-feira. Nos fins de semana, o local permanecerá fechado. A trilha, que foi aberta no dia 9 de julho, precisou ser interditada no dia 1º de agosto.

O fechamento aconteceu porque parte dos visitantes insistiu em descumprir as atuais regras temporárias de visitação. As normas englobam, por exemplo, o uso obrigatório de máscara durante a trilha, o descarte de lixo para fora do Parque, o horário limite de visitação (das 8h às 17h) e o respeito a grupos de, no máximo, 10 pessoas, com distanciamento de 2 metros entre cada uma.

A reabertura será monitorada, e o comportamento das pessoas vai ajudar na decisão futura de reabrir a trilha também nos fins de semana. Em 2019, cerca de 160 mil visitantes realizaram a trilha da Pedra Bonita, que está entre as mais procuradas do parque.

(Fonte: Agência Brasil)

O curta-metragem “Inspirações”, produzido por alunos da Escola Municipal Adalgisa Nery, situada em Santa Cruz, zona oeste do Rio, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação, foi o vencedor da mostra Júri Popular do 3º Festival de Cinema Curta Caicó, no Rio Grande do Norte. O filme foi dirigido e protagonizado pela aluna Ariany de Souza e mostra o racismo como um dos obstáculos na vida dos jovens negros que moram na periferia.

Ariany considerou o prêmio o reconhecimento do esforço, concentração e foco no trabalho. “O filme mostrou que todo mundo pode realizar seu sonho”, disse a jovem, moradora também da zona oeste da capital fluminense. Ela própria escreveu as músicas e poesias do filme.

O Festival de Caicó exibiu 115 filmes, divididos em quatro mostras competitivas e seis paralelas. Os vencedores foram escolhidos por votação “on-line”. O professor Ygor Lioi, coordenador do #CinEscola, com a parceria dos cineastas Nathalia Sarro e André da Costa Pinto, afirmou que é “gratificante saber que a educação pública municipal pode ser um caminho para a transformação social por meio da arte”. Lioi acrescentou que o prêmio “é dedicado aos alunos que foram guerreiros, se empoderaram e hoje são visíveis”.

FestTaguá

A expectativa dos estudantes e do professor Ygor Lioi é que o curta “Inspirações”, fruto do projeto #CinEscola, poderá ser premiado mais uma vez. Ele está na disputa das mostras Competitiva e Seleção Popular do 15º Festival Taguatinga de Cinema (FestTaguá2020), no Distrito Federal, cujo resultado será divulgado no fim deste mês.

Segundo informou a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação, no início do ano passado, o professor de história decidiu criar uma matéria eletiva para ensinar os alunos do 9º ano da Escola Municipal Adalgisa Nery os primeiros passos de uma produção audiovisual.

Além de “Inspirações”, os alunos produziram mais dois curtas. Um deles é “Para todos”, que fala da necessidade de se romper os muros visíveis e invisíveis para possibilitar que pessoas com necessidades especiais, LGBTs, mulheres, entre outros grupos, participem de partidas de futebol; o outro filme é “Ainda somos os mesmos”, que questiona os pais dos jovens sobre quais eram seus sonhos na infância e como eles veem o mundo atualmente.

(Fonte: Agência Brasil)

O cavalo despeado e solto como um poema
livre, galopa com outros cavalos selvagens.
Abstraído, o cavalo é mais verde que o verde
subjetivo que lhe inspira o impressionismo.

O cavalo imaginado pelo gênio de Gauguin
é multifário, e respira pelas largas narinas
o verde de Brasília e o aroma de Martinica.
O cavalo, na pastagem, é mágico e lógico

ao pão do seu alimento, e nunca se mudou
ou fugiu daquele velho quadro na parede.
Abstruso e de um silêncio que se faz ouvir,

o cavalo oculto nunca quis esquartejar-me,
e nunca, relinchante, se foi campo em fora.
O cavalo por si lhe cabe, e à tuna, o tenho!

* Fernando Braga. In “O Sétimo Dia”, São Luís, 1997.