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– Milla...

– Hummm...

Madrugada sonolenta. A janela traz-me o mesmo olhar de estrelas, imensidão e lua.

Deitada lindamente a amada. Dela tornara-me senhor e nela escrava isaura escravizara meu amor.

Que coisa! Em mil dias mil vezes o amor se fez e liqüefez-me dentro dela. Sêmen sangue suor saliva sexo.

Sabe, neste momento em que acoplo minhas mãos em concha sobre o contorno dos teus seios...

Milla. Mil.

Mil corações valsou ataulfo. Mil lágrimas chorou adelino. Mil mulheres cantou herivelto. Mil. Mil coisas.

Ronronando educadamente, um Mille (o Mille é Uno; fia-te nele) atravessa lá embaixo a madrugada que não descamba. A lua lá em cima acima de nós espia pelas frestas e nos percebe nus. Agora por exemplo tuas ancas se repartem e cada parte me aglutina me deglute amalgama catalisa catalético cataplasma cataclismo. É assim nós dois. Fundimo-nos. Fundimos o que podemos. E mil vezes nós nos podemos quase tudo.

Madrugada sem horas. “Uma chuva chocha e chata chapinha o chão e chacoalha o choco coaxar de coxos sapos”.

Mil. Milla. Mil milhas nós nos andamos nossos corpos. Mil vezes a mastro e vela tuas costas eu litoraneei. Mil vezes tu e eu, nós, milady milord. My Lord! Mil! – a imortalidade da felicidade, a longevidade dos justos. Cada dia da árvore da vida, mil anos. “Mil anos são como um dia”, salmeia a Bíblia. Adão perdeu sua vida de mil anos porque pecou uma vez. Uno. Mille. Pecamos adamicamente mil vezes e, eu e ela, quanto tempo perdemos? Sei lá.

Milla... Esse teu corpo mil-flores que incenso, millefoliu que desfolho, despetalo talho entalho e criminosamente retalho, te entalo, ingresso em teus lugares vazios espaços apertados até tu te sentires completa ocupada lotada. Lotação esgotada. Amar a mil (kama sutra é prefácio perto de nós).

Milla. Una. Mil e um motivos para amar mais uma vez. Mil e uma trapalhadas fez sinhô. Mil e uma noites marchou joão de barro. Mil e uma noites eu conto. Mil. Mil... e uma vez mais dentro de ti. Assim, “aliso espremo vergo tremo martirizo gemo: nervo de Touro em carnes de Virgem”. E tu também de tremes te torces retorces contorces te mexes remexes tu gemes nós gêmeos...

Como uma lava leve neve láctea meu eu líquido te leva ao enlevo e percebo tuas bordas íntimas róseas tua vulva ígnea qual miniatura de vulcão preparando sua erupção e regurgitando de prazer e jorro. Quase morro. E essa calma quase morte que se afoita e se afoga em nossos corpos quase mortos sem fôlego...

As janelas escancaram e deixam passar a brisa açoitada pela chuva. Surpreendida na sua espreita, a lua espiã puxa para si uma nesga de nuvem que passeava plúmea e plúmbea e se esconde, agora corada de vergonha e relâmpagos.

Cá embaixo, na cama, Milla e eu levantamos um brinde igualmente rubro. Depois, liberados os copos, de corpos nas mãos, esperamos o sol, o solene amanhecer.

E, logo mais, manhã cedinho, novamente o amor acontecer...

Ahhhnnn....

* EDMILSON SANCHES

Reabrem, nesta terça-feira (13), os museus e espaços culturais da cidade de São Paulo após seis meses fechados devido à quarentena para evitar a disseminação do coronavírus. Entre os locais que abriram a compra de ingressos e o agendamento de visitações, estão o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Instituto Moreira Salles (IMS). A Pinacoteca vai reabrir a partir de quinta-feira (15).

No Masp, que fica na Avenida Paulista (região central da capital), o destaque é a exposição “Hélio Oiticica: a dança na minha experiência” que apresenta os rumos de pesquisa do artista, com o estudo de elementos rítmicos e coreográficos, até chegar nos “Parangolés”, na década de 1960. A mostra reúne 19 dessas estruturas, pensadas para serem vestidas e usadas pelo público, sendo que 14 são réplicas que podem ser manuseadas pelos visitantes da exposição. A bilheteria física do Masp está fechada, mas os ingressos com horário agendado podem ser adquiridos pela página do museu. O uso de máscara durante a visita é obrigatório e o guarda-volumes está fechado.

No MAM, localizado no Parque Ibirapuera (zona sul paulistana), reabre hoje com três exposições. Uma traz as obras do artista plástico Antônio Dias que fazem parte da coleção dos próprios trabalhos feita pelo paraibano ao longo da vida. Dias faleceu em 2018 aos 74 anos. Recobrindo as paredes de parte do museu com pau a pique, técnica de construção muito usada no período colonial, a instalação “Roçabarroca”, de Thiago Honório também faz parte dos trabalhos que podem ser vistos a partir de hoje com a reabertura da instituição. Há, ainda, uma exposição feita a partir das escolhas do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM. Os ingressos devem ser comprados de forma antecipada “on-line”.

O IMS, também na Avenida Paulista, abre uma exposição com 170 imagens da fotógrafa chilena Paz Errázuriz, que trabalhou com temas à margem da sociedade, como travestis e pessoa internadas em hospitais psiquiátricos, em plena ditadura de Augusto Pinochet. A partir dos arquivos da instituição, poderá ser visto, ainda, um recorte das 35 mil imagens do arquivo do fotógrafo alemão Peter Scheier, com fotografias feitas entre as décadas de 1940 e 1970, parte na passagem pela revista “O Cruzeiro”. Também em cartaz no instituto está uma mostra com a produção em vídeo da fotógrafa Maureen Bisilliat. A entrada é gratuita mediante agendamento.

Além dos horários marcados e o uso obrigatório de máscaras, os espaços culturais devem receber, no máximo, 60% da capacidade total de visitantes. O público deve estar atento as orientações para evitar aglomerações e manter o distanciamento social, como o tempo máximo de visitação e o fluxo a seguir no percurso das exposições.

(Fonte: Agência Brasil)

Rio Tocantins, por José Lobato

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Há seis anos, em 11/10/2014, o jornalista James Pimentel lançava, no 12º Salão do Livro de Imperatriz (Salimp), sua obra “Histórias de Pescador”, livro-reportagem e trabalho de conclusão de seu curso de Comunicação Social – Jornalismo.

A seu pedido, fiz o texto abaixo, que James aproveitou como prefácio. A honra é minha.

Vida longa ao livro e ao autor. (E. SANCHES)

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Hoje o Rio Tocantins dá mais histórias que peixe.

Pelo menos na parte maranhense que passa por Imperatriz, o outrora caudaloso, piscoso e limpo rio é o lugar permanentemente móvel, a referência líquida e incerta que recebe mais esgotos que anzóis e de onde se extraem mais saudades que alimentos.

Não é de estranhar, portanto, que os principais seres vivos do nosso Tocantins sejam os pescadores – não os peixes. Pescadores sem pescado... mas, pelo menos, com muita coisa e muito causo pra contar.

E quem lhes poderia resgatar e documentar as histórias e estórias, as farturas e agruras, vivências e sofrências? Que novo Cristo meter-se-ia a fisgador de gentes, pescador de pescadores?

Jornalistas e historiadores, sim, podem ser os novos colhedores das gentes das águas.

Um desses – James Pimentel, jornalista –, da mais recente fornada do curso de Comunicação Social do “campus” imperatrizense da Universidade Federal do Maranhão se apresenta aqui, com suas Histórias de Pescador.

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Em agosto de 1864, um decreto estabeleceu que o Rio Tocantins pertencia também ao Estado do Maranhão. A imensa serpente d’água de 2,4 mil quilômetros fazia toca e leito em nossas terras submersas. E às vésperas de completar 150 anos de “maranhensidade” legislativa, estamos mantendo vivo e forte o rio que, à base de hidrogênio e proteína, tanta vida alimentou, tanta força deu, gerou?

Às vésperas do século e meio daquele decreto, que histórias boas temos a contar para o rio que transportou pessoas e permitiu o início da História imperatrizense? Como já escrevi, foi pelo Tocantins, foi com ele e foi nele que tudo começou. O registro de nascimento de Imperatriz não foi escrito à tinta – foi escrito com água. O Tocantins é a grande pia batismal onde a cidade, ontem, fez sua iniciação e, hoje, exige purificação. Esse rio trouxe, há 162 anos, os fundadores da cidade. Ajudou a fazer a cidade. Ajudou a fazer História. Um rio que só é velho porque se renova. Desde 1852, fundação de Imperatriz, o Tocantins foi um rio que passou, e continua, em nossa vida. Um rio que é permanente porque é passageiro. Transitoriamente eterno.

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Foi conversando à beira desse rio e também navegando por sobre suas águas, foi nadando – e, muitas das vezes, se afogando – em um caudal de informações e possibilidades que James Pimentel fez vir à tona este livro.

O jovem e promissor jornalista e escritor soube ancorar, no Cais do Porto não tão (geologicamente) seguro, seu talento de observador de pessoas, coisas e situações e absorvedor de fatos, relatos e emoções. Na busca de material, envolveu-se emocionalmente, padeceu fisicamente – nada que já não fosse esperado e tão próprio do ofício de caçar conversas e notícias.

Os personagens (entre outros, pescadores e burocratas, atravessadores ou intermediários daqueles profissionais e de seus esforços e produtos), sem o saberem e sem procurarem, encontram em James Pimentel alguém que, sem abdicar dos sentimentos próprios – do que não se envergonha o “new journalism” –, soube capturar e documentar os depoimentos. Para isso, utilizou-se de discrição e descrição... e em uma e outro soube/sabe ser eficiente.

Vários são os (bons) exemplos em que Pimentel usa essa arriscada arma de dois gumes que é a redação descritiva – que pode ser fastidiosa ou fastigiosa, tanto pode cansar quanto motivar. Para captar/capturar os elementos, anotá-los e transformá-los em texto contínuo, uniforme, a discrição foi uma “arma” adequada – que ele revela no texto... discretamente.

Histórias de Pescador é um livro-reportagem, esse gênero e suporte que põe mais água (com saber e sabor...) no feijão jornalístico. Afinal, o jornalismo não pode “alimentar” seus, digamos, consumidores apenas com esse “fast-food” dos textos poucos, curtos, como se tivéssemos, nós leitores, apenas dois neurônios (são cem bilhões, viu?).

Aí, com a desculpa de que “as pessoas não têm mais tempo de ler”, certo jornalismo em prática, em especial nas cidades de interior, vai servindo informações em pílulas de mesmo formato, semelhante conteúdo, igual gosto. É dose!... Jornalismo homeopático. Uma sensaboria...

O texto jornalístico e os neurônios estão carecendo de mais plasticidade e menos plastificação. Quase ninguém ousa, pelo menos por estas bandas. Preferem os jornalistas ser usados a ousados. Ninguém arrisca começar a linha inicial do texto de uma reportagem sobre um assassinato (mais um...) com uma prolongada interjeição de dor ou sofrimento:

“Aaaaaaaaiiii!...”

Ou a sequência onomatopaica de tiros disparados:

“Bangue! bangue! bangue!”.

Ou a expressão gráfica do ronco do motor em uma corrida de automóveis:

“Vruuuuuuuuuummmmm!”

Resumiram o texto jornalístico a uma fórmula e a transformaram em trilho, fôrma e forma: a ocorrência (o que), os personagens (quem), o tempo (quando), o modo (como), local, espaço, ambiente (onde), motivo (por que), intenções, consequências (para que). E, com sete elementos, faz-se o Jornalismo e descansa-se como uma divindade dos fatos, um deus do texto que descansa no sétimo dia.

Evidentemente, o que deve sair impresso das máquinas, todo dia, é uma publicação jornalística, não um livro de criatividade literária. Mas, convenhamos, há de haver algo a se somar, a se juntar a esse jornalismo-água – insípido, inodoro, incolor, que escorre e some pelos desvãos neuronais para no instante-dia seguinte nada restar. Nem lembrança.

Este livro-reportagem não é apenas um livro que contém uma reportagem e tampouco é tão só uma reportagem que se imprimiu em forma de livro. O texto é alongado para os padrões tradicionais, usuais, do espaço e do cotidiano dos jornais. O texto, sem pretensão de ser literário, tem literariedade – qualidade que a redação jornalística nem sempre observa ou absorve. O autor é mais que autor: aqui e acolá também é personagem – discreta, mas presente, nominada (diria, “pronominada”, identificada por pronomes).

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Quem tem medo do livro-reportagem? Da grande reportagem? A cultura ocidental, pelo visto, não tem (da oriental não pesquisei exemplos). O Brasil medo também não deveria ter – e temos antiguidade nesta área, como os relatos de Euclides da Cunha no final do século XIX para o jornal “O Estado de S.Paulo”, que se transformaram na citada e felicitada obra “Os Sertões”. E João do Rio. Revista “O Cruzeiro”. E “Realidade”. E...

Livro-reportagem é sobretudo Jornalismo, com o emprego também – por que não? – dos recursos linguísticos, do senso estético da Literatura. Embora quebrando a imposição do lead, porquanto fugindo de uma fórmula eivada de pronomes, advérbios, conjunções..., nem por isso o livro-reportagem abdica da boa prática jornalística: primeiro, informar-se; depois, informar. Só que isso não precisa ser confinado à horizontalidade do papai-mamãe se há a variedade do Kama Sutra...

Já escrevi também que Literatura é ofício com letras. Ainda que use linguagem “média” para comunicar a uma “média” de leitores, o Jornalismo não deve dispensar o uso estético da linguagem escrita e, também, imagética (fotografias, desenhos...).

Há diversos autores – jornalistas e/ou escritores – de livros-reportagem: Gay Talese, Norman Mailer, Tom Wolfe e Truman Capote, “fundadores” do “new journalism”, o novo jornalismo, que, entre características diferenciadoras do jornalismo “tradicional”, apura com mais precisão e retrata com mais beleza literária os fatos. Tenho o livro e o filme, por exemplo, “A Sangue Frio”, obra (literária? jornalística?) de Truman Capote considerada referência em termos de “new journalism”. Ao pesquisar sobre o assassinato de toda uma família nos Estados Unidos, Capote produziu mais de oito mil páginas de anotações e investigou durante cinco anos.

Evidentemente que na cozinha jornalística tanto se servem pratos rápidos (o “fast-food” cotidiano) quanto se preparam as comidas mais elaboradas. Há espaço para isso e algo mais; não deve havê-lo para concepções esculpidas em aço, para o “taken for granted”...

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Li, reli e treli este livro. O autor sabe disso. Sabe dos elogios – e das observações e sugestões – que lhe fiz.

A obra vale a pena ler. É boa de ler. O texto é fluido como as águas do rio a que se refere e de onde já se pescaram muitos peixes e alegrias, e por onde já navegaram incontáveis certezas, e onde, hoje, adernam ou soçobram esperanças, e em cujo cais aportam, fundeiam decepções de pescadores.

Este livro é Jornalismo, é Literatura e é História. Aqui se recuperam e se documentam aspectos da vida de pessoas e instituições, de suas características e comemorações. A Colônia de Pescadores e a Associação dos Barqueiros (e as intrigas institucionais e políticas entre elas e a partir delas, que o autor, discreta mas espertamente, pescou)... As festas dos pescadores para São Pedro e para São João (lamentavelmente descontinuadas)... Reflexos e reflexões.

O imperatrizense James Pimentel termina um livro e mal começa a mostrar o bem que pode fazer a partir da escrita, com o cardápio de teorias e o instrumental das práticas que a Universidade lhe serviu. Orgulha-me ter sabido, com surpresa e satisfação, que James Pimentel foi um dos muitos e esforçados ouvintes que já tive em meio a muitos e esforçados ouvintes de minhas palestras em cursos pré-vestibulares, para onde, em meu solitário ide-e-pregai, sou convidado a ministrar palestras sobre Imperatriz, sobre educação, conhecimento e cultura, sobre motivação pessoal e profissional, sobre orientação vocacional, sobre razões primeiras e fins últimos. Sobretudo sobre tudo.

Parabéns, James Pimentel. Imperatriz o viu nascer.

Agora, a Cidade-Majestade se vê em renascimento pelas mãos – e talento – de seu filho igualmente nobre.

E isto não é história de pescador...

* EDMILSON SANCHES

Um novo projeto de acessibilidade inclusiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a TotoyKids começou a postar, nesta segunda-feira (12), vídeos adaptados no YouTube.

A ação #MúsicaParaTodos envolve artistas que apresentam regravações dos sucessos do canal infantil, a partir de um modelo adaptado para promover total acessibilidade às crianças com deficiência, por meio de produções com audiodescrição, Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) e legenda.

O projeto une inclusão, educação e diversão para reforçar que o lugar de criança é brincando e estudando. Os clássicos do canal passam pela interpretação de Lara Gomes, tradutora e intérprete da linguagem brasileira de sinais, que junto a artistas como MC Soffia, Rodrigo Faro, Maria Viel Faro, Daniel, Wanessa Camargo, Felipe Mafra, Paty, Elba Ramalho, Isa Vaal e Daniela Mercury.

Ganharam uma nova versão clássicos como “Somos Todos Iguais”, “Vírus Aqui Não” e “Sorrir Te Faz Feliz”, que utilizam de maneira educacional o lúdico para dar asas à imaginação dos pequenos, fazendo com que aprendam de maneira leve e construtiva.

(Fonte: Agência Brasil)

A Subsecretaria de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde do Rio, publicou, em edição extra do “Diário Oficial” do município, o formulário de autodeclaração de protocolo sanitário (Faps) para os estabelecimentos da rede particular de ensino. Criado por meio de portaria, o documento é de preenchimento obrigatório para creches e escolas de educação infantil, ensino fundamental e médio que queiram retomar as atividades de ensino presenciais.

De acordo com a Fase 6B do plano de flexibilização do município, escolas particulares estão autorizadas a voltar com as aulas presenciais de forma voluntária desde 1º de outubro. Diante disso, a decisão tem como objetivo colher informações sobre quais procedimentos foram adotados pelas unidades de ensino como medidas de prevenção da covid-19, como as Regras de Ouro e os protocolos higiênico-sanitários específicos desenvolvidos para essas atividades.

A nota informa que as escolas e creches devem preencher os formulários eletrônicos em sete dias corridos a partir da data da publicação, sob o risco de penalidade. A partir de novembro, a autodeclaração deverá ser preenchida mensalmente, até o quinto dia útil de cada mês, e será obrigatória enquanto estiverem vigentes as medidas de prevenção para o enfrentamento da pandemia no município. A documentação está disponível na página da Vigilância Sanitária.

Uma vez declaradas, as informações dos formulários serão avaliadas pela Vigilância Sanitária, que poderá direcionar as ações de educação e fiscalização para estabelecimentos que estejam funcionando de maneira inadequada ou apresentando dificuldade para cumprir os protocolos estabelecidos para prevenir o risco de contaminação.

O documento diz ainda que, diante da proporção da rede de educação privada do município, a autodeclaração é uma forma de proporcionar celeridade no processo e favorecer o desenvolvimento de ações eficientes de educação e fiscalização, com base nas informações prestadas pelos próprios administrados, que são completamente responsáveis pelo que foi relatado.

As penalidades para aqueles que não preencherem o formulário ou que o fizerem com informações falsas pode variar de R$ 593,60 a R$ 2,6 mil, além da possibilidade de interdição e cassação da licença sanitária.

(Fonte: Agência Brasil)

Abílio Maranhão e a esposa, Carmen.

Parece que foi ontem que, no Rio de Janeiro (RJ), o aeronauta, advogado e escritor José Herênio e eu conversávamos sobre o Abílio Maranhão, até pelo aniversário de cem anos de vida, em 13 de abril de 2011.

Menos de seis meses após seu centenário, em 10 de outubro de 2011, o carolinense Abílio Maranhão Gonçalves saiu da imortalidade estatutária das academias para a imortalidade eterna dos céus.

Na época, apresentei pêsames à família e sentimentos de solidariedade ao casal amigo José Herênio e Sophia, por aqueles momentos de pesar, dor, luto e saudade. De José Herênio recebi a seguinte notícia:

“ACABA DE FALECER EM GOIÂNIA, AOS 100 ANOS E 6 MESES DE IDADE, O GRANDE IRMÃO E BENFEITOR COMUM DOUTOR ABÍLIO MARANHÃO GONÇALVES. POR SUA VIDA COMO MÉDICO INCANSÁVEL E PELA ABNEGAÇÃO COM QUE SE HOUVE EM FAVOR DA ESPÉCIE, OS RIBEIRINHOS DA REGIÃO TOCANTINA E OS AMAZÕNIDAS DE TODOS OS TEMPOS – RECONHECIDOS E EM PRECES – ROGAM A DEUS PELO SEU MERECIDO DESCANSO ESPIRITUAL. FRATERNALMENTE, JOSÉ HERÊNIO DE SOUZA [Rio de Janeiro-RJ]."

A inscrição de Abílio Maranhão no Conselho Regional de Medicina de Goiás era a de número 25.

Abaixo, dois textos da Academia Goiana de Medicina, da qual Abílio era membro. O primeiro texto é do presidente da Casa, quando do centenário de vida de Abílio Maranhão. O segundo texto é a biografia.

Abílio Maranhão era também membro correspondente da Academia Imperatrizense de Letras.

* EDMILSON SANCHES

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Aniversário 100 Anos Dr. Abílio Maranhão

Academia Goiana de Medicina

Homenagem ao Dr. Abílio Maranhão Gonçalves

A Academia Goiana de Medicina, com muita honra e imensa satisfação, participa da celebração do centésimo aniversário do Dr. Abílio Maranhão Gonçalves, maranhense de Carolina hoje o decano da medicina goiana, por força da Justiça Divina.

Nosso querido confrade Abílio Maranhão nos idos de 1936, então recém-formado, foi nomeado Médico Militar do Estado de Goiás pelo governador Pedro Ludovico Teixeira, dando início aos indeléveis serviços prestados à Medicina Goiana particularmente em Saúde Pública, uma vertente do exercício da Medicina do mais alto sentido humanístico.

Lotado em Pedro Afonso, no longínquo norte goiano, Abílio Maranhão não atendia apenas os militares e famílias, mas todos que necessitavam de cuidados médicos, com ênfase em medidas higiênicas e na prevenção de doenças.

Em 1943, após ampliar seus conhecimentos em saúde pública no Rio de Janeiro, ingressou no Serviço Especial de Saúde Pública, sendo imediatamente designado para cuidar da saúde dos trabalhadores na extração do látex, na Região Amazônica, insumo básico para a produção de borracha, então de fundamental importância, pois a segunda guerra mundial estava em pleno transcurso.

Logo que pôde, Abílio Maranhão retornou ao Norte Goiano, onde plantou as sementes da saúde pública, implantando, em alguns municípios, centros de formação de pessoal de apoio para assistência à saúde.

Em 1956, foi criado o escritório do Sesp em Goiânia o que ensejou a Abílio Maranhão, como seu condutor, oportunidade para que fossem criadas unidades deste importante Serviço em nove municípios do Norte Goiano que vieram a constituir as bases da Saúde Pública no hoje Estado do Tocantins, bem como de participar ativamente do planejamento das ações de saúde desenvolvidas no centro-sul do Estado de Goiás.

Em 1964, quando o Sesp começou a ser desativado, o nosso homenageado passou a integrar a equipe da antiga Organização de Saúde do Estado de Goiás, contribuindo de forma sempre relevante com as ações de prevenção e controle das Doenças Transmissíveis.

Como diretor do antigo Hospital Oswaldo Cruz, então referência para Doenças Transmissíveis em Goiás, vim a conhecer Abílio Maranhão em 1973 quando ele assessorava o superintendente da Osego, Dr. Alcyr Mendonça, e seu diretor-técnico, Dr.Dóris Gramacho, de saudosa memória.

Assim, pude contar com o irrestrito apoio da dupla, Abílio Dóris, para a contratação emergencial de pessoal médico e de enfermagem, bem como aquisição de antibióticos, à época de última geração, para que o antigo Hospital de Isolamento, hoje Hospital de Doenças Tropicais, pudesse enfrentar o maior surto epidêmico de Meningite Meningocócica do século passado, em pé de Igualdade com o Hospital Emilio Ribas de São Paulo, então referência para Doenças Transmissíveis na América Latina.

Abílio Maranhão é membro fundador da AGM. Sempre presente e proativo, participou da diretoria em vários mandatos e, sem dúvida, um dos mais entusiastas de seus membros eméritos.

Parabéns, Abílio Maranhão. Seus colegas da AGM estão certos de que Você, um lídimo exemplo do bem viver, contará sempre com a proteção divina!

Joaquim Caetano de Almeida Netto – Presidente

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Abílio Maranhão Gonçalves nasceu em Carolina (MA), em 13-4-1911, e formou-se em 1935, na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. Após sua formatura. estabeleceu-se em sua cidade natal onde clinicou durante um ano. Trazido, para Goiás, pelo deputado goiano João de Abreu que, à sua revelia, pediu ao interventor Pedro Ludovico Teixeira para nomeá-lo primeiro-tenente médico da Polícia Militar do Estado de Goiás. Nomedo imediatamente, foi designado para integrar a 4ª Companhia Isolada em Pedro Afonso (TO).

Abílio Maranhão, depois de quase dois anos na cidade, foi transferido para Goiânia, vindo então a pedir baixa da corporação para, no Rio de Janeiro, fazer especialização em obstetrícia. De volta à sua cidade, montou consultório e clinicou por mais um ano, mas acabou optando por se instalar em Marabá (PA), cidade que o atraía profissionalmente. Em 1943, foi novamente convocado à vida militar e acabou entrando para o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), um grupo que dava assistência aos trabalhadores que faziam extração de látex na Amazônia.

Em 1956, um escritório do Sesp foi montado em Goiânia, e Abílio tornou-se seu responsável. Em 1964, passou a fazer parte da equipe da antiga Osego, de onde só saiu em 1990, quando se aposentou. Foi ainda professor na Faculdade de Medicina da UFG.

Atualmente, Abílio Maranhão, aos 98 anos, é membro Emérito da Academia Goiana de Medicina.

1

Ele nasceu no dia en 10 de outubro de 1934. Foi numa fazenda, de nome “Alegre”, no pequeno município paraibano de Princesa Isabel (368 quilômetros quadrados, 23 mil habitantes, R$ 212 milhões de Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços produzidos anualmente).

Acompanhando os pais, a família, o princesense Benedito Batista saiu da terra natal para Nova Olinda de Piancó, também na Paraíba. Depois vieram para o Maranhão, para Grajaú, velha cidade e matriz histórico-cultural do sul do Maranhão, para onde já vinham vindo os parentes de Benedito a partir de 1877, quando a grande seca esturricou solos e sonhos e expulsou gentes para lugares férteis, sobretudo, para o interior maranhense.

Benedito Batista permaneceu em Grajaú, de dezembro de 1949 até janeiro de 1960. Estudou. Fez, nas férias escolares, curso de Educação Física em Fortaleza. Na velha Chapada (Grajaú), Benedito Batista fundou e presidiu o Grêmio Lítero e Recreativo Gonçalves Dias, para o qual foi reeleito.

Depois, Benedito foi para Amarante do Maranhão e aí ensinou primeiras letras (mestre-escola) para crianças amarantinas. Também foi vereador no município. Três anos e três meses depois, Benedito Batista deu com os costados na terra de sua paixão – Imperatriz. Centenas, senão milhares, de estudantes puderam tê-lo como professor (1969/71) em escolas como Bernardo Sayão, Técnica de Comércio, Bandeirantes (atualmente, Nascimento de Moraes) e Ebenézer (onde também, por pouco tempo, dei aulas).

Além de professor, Benedito Batista foi secretário de escola e dirigiu, à época, o Departamento de Educação de Imperatriz, nos anos 1963/64. Trabalhou no Estado, nomeado, nas áreas Fiscal e de Coletoria (esta, em João Lisboa).

Seu talento, experiência, dedicação, prestação de serviços tornaram-no vereador da Câmara Municipal imperatrizense e, depois, secretário de Educação do município (1977/78) e diretor regional de Educação (1979/80).

Competente assessor também para assuntos partidários e políticos, tanto em Grajaú quanto em Amarante do Maranhão e, em Imperatriz, participou de fundação e administração de siglas político-partidárias, delas que secretariou ou presidiu.

Em 18 de outubro de 1983, recebeu o título de Cidadão João-lisboense.

Membro da Academia Imperatrizense de Letras, Benedito Batista foi o fundador da Cadeira 7. Benedito Batista escreveu em verso e prosa. Deixou livros, que precisam ser (re)descobertos pelos estudiosos (?) locais, pelos cursos de Letras, de História, de Comunicação Social, de...

Do farto material que certamente escreveu e do qual, certamente, restam muitos inéditos, Benedito Batista, em um intervalo de 24 anos, legou-nos, publicados: “Canto Ocasional” (de 1985); “Cultura Popular Maranhense: Do Grajaú ao Tocantins” (1996); “Zeca Leda e Sua Poesia” (1997); “Arpejos em Tom Menor” (1997); “Canto do Amanacy” (1998); “Melopeia Dual” (1998); “Vozes do Silêncio” (2002) e, no ano de sua morte, “Antologia Poética” (2009).

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No último 10 de outubro, Benedito Batista Pereira completaria 86 anos, e o sábado seria de festa. Uma pessoa de bondade, grande cantor, orador e declamador (voz forte), pertinaz na pesquisa do folclore e outros aspectos da Cultura. Poeta inspirado – e, na sua bonomia, dizia e, certa vez, escreveu: “Edmilson Sanches – Espírito lúcido e generoso. (...) Jornalista de primeira linha, poeta dos meus encantos”.

Era assim o Benedito Batista. Ele, sim, um “espírito lúcido e generoso”. Cavalheiro. Humilde. Quantas vezes lembro dele achegando-se a mim e, bem de perto, fechando os olhos, ele iniciava a cantar uma canção “daquelas”, dos tempos em que se faziam música e letra que faziam cantar e encantar...

Convenhamos, 86 anos já não é mais uma idade rara de se fazer, completar, aniversariar. Benedito Batista merecia – mas o que sabemos nós?... Ante o inefável, o impostergável, ele se foi há onze anos, em 11 de setembro de 2009, um mês antes de completar os 75 anos.

Honra e glória a Benedito Batista Pereira.

* EDMILSON SANCHES

DEIXE SUA CRIANÇA TOMAR CONTA DE VOCÊ...

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Eu conheço esta criança. O rosto sério... O ar grave...

Essa criança governa o homem. O homem tem medo dessa criança. Medo de envergonhá-la. De não merecê-la.

Eu não posso mudar a criança. Posso colocar nela uns enfeites, tentá-la com um novo brinquedo. Mas é o espírito dela que brinca comigo.

A criança é anterior ao homem. A criança é mais velha que eu.

E eu aprendi a respeitar os mais velhos.

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Caxias é a fundação, a base, o baldrame, enfim, tudo o que dá sustentação ao erguimento da edificação de mim.

Tenho orgulho e, mais que isso, tenho prazer da infância riquíssima que tive. Não me lembro bem das coisas que fiz há cinco, dez, vinte anos... mas como estão vivos e vívidos os ontens vividos na minha meninice!

As ruas onde morei... As escolas onde estudei...

Menino pobre de infância rica: bom nadador, atravessava de um só fôlego o Rio Itapecuru (que nem de longe se parece com os restos mortais líquidos e incertos de hoje). Décadas depois, em Fortaleza, estava fazendo mergulho no mar, em profundidade de 40 metros, como mergulhador submarino (mergulho autônomo).

Ainda em criança, costumava ser levado pelos parentes e amigos para pescar, pois eu era o único com “coragem” para, no meio ou nas margens do rio, descer da canoa, afundar-me nas águas, acompanhar a linha da vara de pescar e ir recuperar o anzol que corria o risco de se perder – ou porque fisgara o muçum que teimava em não sair da loca, ou porque, teimando em não se render, o peixe enroscara a linha em vegetações, troncos e galhos no fundo do rio. Era uma festa cada anzol recuperado (devidamente acompanhado do habitante fluvial que o engolira).

Infância rica de menino pobre: nadar no Porto dos Homens; espiar, por entre o mato, as garotas no Porto das Mulheres. Pegar frutas na quinta do seu Antônio João. Buscar as doces canaranas que se derreavam na outra margem do rio, quebrando-as debaixo d’água, para que o vigia não percebesse o barulho e não atirasse com sua espingarda com carga de sal. Acordar cedinho para catar no chão os caroços das sapucaias abertas na noite pelos morcegos.

Na quinta da Maria Poquinha e em outras quintas e cantos, muito antes de surgir os impedimentos legais (ainda bem que vieram!), caçar passarinhos, de baladeira (não se chamava estilingue), marcando no cabo a quantidade de bichinhos que se pegara. Preparar arapucas e outras armadilhas para bichos de pena e bichinhos do mato. Criar guriatã, canário, sabiá (inclusive sabiá-cagona), pipira, anum, vim-vim (não se chamava gaturamo). Ouvir o canto da rolinha fogo-apagou, do tiziu (passarinho que dava saltos mortais no ar e pousava seguro no galho).

Buscar pequi na chapada, onde também se colhiam frutinhas como coroa-de-frade, canapu, seriguela, cajá, umbu...

Pegar “carona” em carros e carroças, dependurando-se na traseira desses veículos e fazendo pequenas “viagens”. Andar – muuuuito – de trem, de São Luís a Teresina, memorizando as estações do percurso – entre outras, Aarão Reis, Cantanhede, Carema, Caxias, Cristino Cruz, Urichoca.

Jogar futebol no Campinho, acima do Bar Vavá, próximo à estação de ferro, e participar de brigas, depois de jogar areia ou cuspir no rosto do garoto adversário ou desfazer com os pés uma risca no chão (“Aqui é a tua mãe e aqui é a mãe dele”).

Jogar pedras rente à água do rio para saber quantos filhos ia fazer. Banhar-se no rio até os olhos ficarem vermelhos e assoprá-los para voltarem a ficar “brancos”, senão a taca no lombo seria certa. Catar cobre, alumínio e outros metais para vender no quilo.

Nas quitandas do Natinho, do seu Manoel e de outros Natinhos e Manoéis, fazer compras de óleo em medida, querosene em litro para as lamparinas, quarta de arroz, meio litro de farinha...

Bater em bico de lamparina para o murrão sair. Socar arroz no pilão e catar as escolhas no quibano. Limpar as cinzas do fogareiro feito de barro em lata de querosene “Jacaré”. Comprar cuim na usina de arroz e misturá-lo com o resto de comida de pratos e panelas (“lavagem”) e colocar nos cochos para alimentar os porquinhos.

Deitar na rede, enrolando-se todo de medo da “pesadeira” ou da grande porca que andava pelas ruas altas horas da noite – os adultos diziam.... Ficar cheio de receios e temores ao ouvir a rasga-mortalha grasnando longe, pois se cantasse sobre uma casa significaria que nela, em breve, morreria alguém.

Disputar campeonatos de futebol (sobretudo no clássico Galícia, da Rua da Galiana, contra o Palmeiras, da Rua da Palmeirinha). Fazer e vender gaiolas de buriti e papagaios de papel (sura era o papagaio sem “rabo” e a curica, com; não se chamavam de pipas). Quebrar lâmpadas e transformar o vidro em pó, para fazer cerol (que era passado com as mãos na linha esticada em inúmeras voltas no quintal, onde ficava até secar), e depois disputar nos céus quem cortava a linha de quem.

Jogar triângulo ou chucho, inclusive “de revestrés”. Jogar castanhas. Jogar “casa ou bila” com peteca (não se chamava bolinha de gude), fazendo “casas” (buracos), sobretudo após uma chuva, ou acertando uma na outra com o “cocão” (peteca grande) ou, na vez do outro jogador, substituindo a peteca pela menor que se tivesse (a “mirulinha”).

Colecionar “dinheiro”, que eram as embalagens de carteiras de cigarro – Minister, Hollywood, Continental, Gaivota... O papel brilhante, metálico, dentro das carteiras, era a “cédula” de menor valor.

Subir nos arcos da ponte de cimento. Jogar a câmara de ar e depois jogar-se da ponte de ferro e ir boiando, Rio Itapecuru abaixo, até o porto mais próximo de casa. Banhar-se no Ouro, no Ponte, na Maria do Rosário, no Iamun (Inhamum). Divertir-se na Veneza e suas piscinas e lagos de água mineral e trazer de lá latas cheias de lama medicinal.

Ver os potes “suando” na bilheira, sinal de água fria, bebida em copos de alumínio brilhando de ariado. Deliciar-se com os doces em vasilhames no petisqueiro, cristais na cristaleira. Sentar em peitoril e, à noite, levar para a calçada mochos, tamboretes e, o fino da bossa, cadeiras de macarrão e cadeiras preguiçosas, e ouvir estórias, “causos”. Ouvir também a Rádio Mearim de Caxias e o programa do Jairzinho na Rádio Sociedade da Bahia, onde também se ouvia a novela “Direito de Nascer”, com Albertinho Limonta beijando a Isabel Cristina e Dom Rafael dando bronca e Mamãe Dolores sofrendo... (Ai, Dom Rafael, / eu vi ali na esquina / o Albertinho Limonta / beijando a Isabel Cristina. // A Mamãe Dolores falou: / “Albertinho, não me faça sofrer; / Dom Rafael vai dar a bronca / e vai ser contra o direito de nascer”.).

Ler “romances” (nome que se dava aos folhetos de literatura de cordel, como “Pavão Misterioso”, “O Cachorro dos Mortos”, “O Valente Cancão de Fogo no Inferno”...). Ler muitos livros na Biblioteca Pública Municipal, desde as enciclopédias "Delta-Larousse" às coleções de Monteiro Lobato e também "Os Irmãos Corsos", "Tesouro da Juventude" e muitos outros títulos e coleções... Sem falar nas revistas em quadrinhos, lidas e depois trocadas em frente ao Cine Rex, mas, sobretudo, em frente ao Cine São Luís. Antes, aos cinco, seis anos, já passara pela “Carta de ABC” e “cartilha”, e, sentadinho no chão de terra batida, já ouvira muito Seu Miguel, paraplégico, em uma rede em sua casa, lendo e contando “A História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França” – livro antigo de que consegui um exemplar idêntico décadas depois.

Ceder ao vizinho, através da cerca feita de talos, xícaras de café em pó, açúcar, sal, arroz, óleo. Erguer canteiros e neles plantar coentro, alface e cebola em folha, para serem vendidos em molhos no Mercado Municipal (hoje a prefeitura).

Auxiliar na construção de casas de taipa e ajudar a cobri-las com folhas de palmeiras. Estudar na escolinha de dona Maria Luíza da Luz Mousinho e ter que bater de palmatória nas mãos dos coleguinhas porque era o único a saber soletrar “helicóptero” e “exercício” (sabia até soletrar “Matias”: eme-a-má ti-gui-ti, corta o “t”, pinga o “i”, tira daqui, bota prali, esse-ás Matias...).

No São João, brincar brincadeiras de roda, espocar foguetes, jogar traques e bombinhas, dançar quadrilha, ter madrinha de fogueira e faca na bananeira...

Comer bolo na festa de Reis, ouvindo os tambores e a cantoria (“Ô meu Divino Espírito Santo!”). Criar carneirinhos que eram presentes de aniversário e ensiná-los a marrar, para desespero da mãe, que achava que o animalzinho poderia quebrar a cabeça do “treinador” (e o ensinamento dos mais velhos: “De carneiro que recua é grande a marrada”).

Brincar de pegador, bombaquim, corrida do saco (brinquei muito – era campeão – na Rua Bom Pastor), passa anel (em uma roda de meninas e meninos, colocar uma pedrinha entre as mãos da pessoa escolhida, geralmente uma meninazinha na qual a gente estava de olho...). Brincar de “boca de forno”:

– Boca de forno? – Forno!

– Jacarandá – Dá!

– Se eu mandar? – Vou!

– E se não for? – Apanha!

– Farão tudo que seu mestre mandar? – Faremos todos!

– E se não fizerem? – Ganharemos bolo!

– Remã, remã...

Após o “mestre” dizer “remã, remã”, ele completava com uma tarefa, por exemplo: “Remã, remã, quero que me tragam uma pedrinha de cor preta”; ou “... um caroço de manga”; ou a embalagem de uma determinada carteira de cigarro (que, em outra brincadeira, a ela era atribuído um valor de uma das cédulas de dinheiro da época; etc. etc. Quem não trouxesse, ou quem trouxesse por último (ou outro critério), levaria o “bolo” – que, como sabemos, não era uma comida, mas uma pancada com régua, palmatória, ou com a mão na mão de outrem.

Essas brincadeiras, jogos, tarefas, isso tudo e muito mais, a sadia riqueza que se deve acumular e que ninguém pode roubar.

Mas ocorre o infanticídio, e daí surge o homem, lutando por poucas coisas e brigando por muitas causas.

Feliz Dia da Criança!

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
Crianças brincando e Edmilson Sanches menino, ministrando conferência em Brasília e andando pelo Quartier Latin, bairro de intelectuais e boêmios de Paris.

Neste domingo, continuamos falando sobre....

Palavras homônimas e parônimas

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46. ESPIAR ou EXPIAR
Espiar = olhar, observar:
Ele nos espiava pela janela.

Expiar = cumprir pena:
Passou o resto da vida expiando sua pena nesta prisão.

47. ESTÁTICO ou EXTÁTICO
Estático = paralisado:
Ficou estático diante do perigo.

Extático = em êxtase:
Ficou extático diante de tanta beleza.

48. ESTÂNCIA ou INSTÂNCIA
Estância = fazenda, sítio:
Passarei este fim de semana na sua estância.

Instância = jurisdição, foro:
Lutarei até a última instância.

49. ESTANTE ou INSTANTE
Estante = armário:
Colocou os livros na estante.

Instante = momento, ocasião:
Ele pode chegar a qualquer instante.

50. ESTERNO ou EXTERNO
Esterno = osso dianteiro do peito:
A radiografia provou que não houve fratura no esterno.

Externo = do lado de fora;
Ele quer externar o seu pensamento.

51. ESTRATO ou EXTRATO
Estrato = tipo de nuvem, camada:
Estratos embelezavam o céu.
Vivemos numa sociedade estratificada.

Extrato = essência, concentrado:
Recebeu o extrato de sua conta bancária.
Comprou um extrato de tomates e um extrato do seu perfume preferido.

52. FLUIDO ou FLUíDO
Fluido = qualquer líquido ou gás:
Acabou o fluido do isqueiro.

Fluído = particípio do verbo “fluir”:
A água já tinha fluído completamente.

53. FRAGRANTE ou FLAGRANTE
Fragrante = que tem perfume:
Adorava a fragrância das flores.

Flagrante = evidente;
Foi preso em flagrante.

54. FUZIL ou FUSÍVEL
Fuzil = arma, carabina:
O soldado atirava com o seu fuzil.

Fusível = para proteger contra excesso de corrente elétrica:
Ficamos sem luz elétrica, porque queimou o fusível.

55. HISTÓRIA ou ESTÓRIA
História = real ou fictícia:
Quero conhecer mais a história mundial.

Estória = só ficção:
Ninguém podia acreditar naquela estória.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo?
“Permita-me V.Exa. __________ do assunto, já que _________ por bem recorrer aos meus conhecimentos”.
(a) informá-la / houve;
(b) informar-vos / houvestes;
(c) informar-lhe / houve;
(d) informá-lo / houvestes;
(e) informar-vos / houveste.

Resposta do teste: Letra (a).
Os pronomes de tratamento fazem concordância na terceira pessoa. Em razão disso, não podemos usar o pronome “vos” (segunda pessoa do plural) e as formas verbais “houveste” (segunda pessoa do singular = tu) e “houvestes” (segunda pessoa do plural = vós). O verbo INFORMAR é transitivo direto e indireto com duas regências aceitáveis: informar alguma coisa a alguém ou informar alguém de alguma coisa. Na frase, não é possível “informar-lhe do assunto” porque teríamos dois objetos indiretos (“lhe” e “do assunto”); por isso, devemos “informá-la do assunto” (“la” = objeto direto; “do assunto” = objeto indireto). Embora possa substituir pessoas do sexo masculino também, Vossa Excelência é uma forma do gênero feminino.