Estou com Erasmo Dias: Fernando Braga é um poeta nato, que traz dentro de si, como afirmava Corrêa de Araújo, uma centelha de divindade. Poeta nato – não dessa precocidade que impressiona, mas pode não vingar, era sim dessa maturidade que, mesmo nos seus primórdios, se manifesta como uma decidida e decisiva afirmação de força interior.
Seus primeiros versos tinham a marca do mórbido poeta do EU, da qual se foi desvencilhando, até, quando, entretanto na poesia atual, em que se alicerçou, de Augusto somente ficaram uns restos de adjetivação fisiológica (náuseas e quejandos) e um ou outro verso de revolta e lástima. No mais, é a poesia pura dos dias que correm.
Dessa poesia que precede à futura, de que é Nauro Machado, entre nós, um precursor, pois a poética de Fernando Braga, neste seu Silêncio Branco, não carece de acompanhamentos eletrônicos, para se fazer ouvida e apreciada – ou detestada, como é o meu caso...
Não. Sob a influência ancestral, que é lusitana de boa cepa, sua poesia é mansa e doce, como o rolar das águas do Mondego; saudosa e suave, como as lontananzas paisagística de Entre-Minho e Douro; lírica e amorosa como o arfar de seio; cascateante, sem fúrias de Paulo Afonso, mas escorrendo, múrmura, entre pedrouços.
Uma poesia simultaneamente alta e singela; desataviada e graciosa; gritante e quieta – mas toda ela sem altos e baixos, nivelada e una, firmada em estilo e em valimento, juntando as escolas e reafirmando-se em ambas.
Vejo, nos versos de Silêncio Branco, desde Casemiro até Raul de Leoni, com uma parada definitiva em Fernando Pessoa, que é, no presente, como já foi Dos Anjos no passado, o seu altar e o seu deus.
Ou não será Fernando Braga um dos muitos pseudônimos do poeta luso?
* Fernando Viana. Artigo publicado no “Jornal do Dia”, São Luís (MA), de 19 de dedezembro de 1968.
Foto (1) de Fernando Braga, autografando; em pé, o professor Rubem Almeida; Luis Carlos Bello Parga, presidente do Banco do Estado do Maranhão (BEM), e Amadeu da Cunha Santos Aroso Netto, chefe de Gabinete do pres. do BEM, no Salão Nobre da Academia Maranhense de Letras, na noite de 30 de dezembro de 1967, por ocasião do lançamento de Silêncio Branco, livro de estreia de Fernando Braga (FB).
Foto (2) de Fernando Braga e do professor Rubem Almeida, no Salão Nobre da Academia Maranhense de Letras, na noite de 30 de dezembro de 1967, por ocasião do lançamento de Silêncio Branco, livro de estreia de FB.