Inaugurada pelo então imperador Dom Pedro II, em 1873, a Biblioteca Parque do Rio de Janeiro já mudou de endereço e de nome, enfrentou incêndio e fechamento. Contudo, foi revitalizada e, nesta quarta-feira (15), completa 150 anos como uma das referências culturais do centro da cidade do Rio.
Segundo o superintendente de Leitura e Conhecimento da Secretaria Estadual de Cultura, Yke Leon, a Biblioteca Parque é mais do que um lugar para encontrar e ler livros.
“A Biblioteca Parque Estadual, aqui do centro, é a maior biblioteca pública do Rio de Janeiro. E é também um equipamento que hoje abriga a Secretaria de Cultura do Estado. A casa da cultura do Estado é esta biblioteca. E nesse equipamento hoje, nós criamos uma sala de dança, um estúdio de música, laboratórios ligados à economia criativa, teatro, auditório. E tudo isso está à disposição da sociedade”.
Localizada atualmente na Avenida Presidente Vargas, a principal da região central, ao lado do Campo de Santana, a biblioteca foi concebida em 15 de março de 1873, como uma proposta assinada pelo então presidente da Câmara Municipal do Rio, Antônio Barroso Pedrosa.
Com o nome de Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, o espaço, no anexo do Arquivo da Câmara, só começaria a funcionar, em dezembro do ano seguinte, um ano e nove meses depois de sua criação. Depois disso, ainda passaria a funcionar na Escola Orsina da Fonseca e em instalações próprias na mesma rua, no Bairro da Tijuca, na zona norte.
Em 1943, finalmente se mudou para seu atual endereço. Um incêndio destruiu parte do prédio e do acervo em 1984, o que fez com que um novo edifício precisasse ser erguido.
O prédio atual foi inaugurado em 1987 e fechado novamente em 2008 para passar por reformas, quando ficou fechado por seis anos, até que fosse reinaugurado em março de 2014.
Nesses 150 anos, mudou de nome várias vezes: Biblioteca Municipal do Distrito Federal, Biblioteca Estadual da Guanabara, Biblioteca Pública Estadual e Biblioteca Estadual Celso Kelly. Em 2014, por fim, ganhou o nome atual, de Biblioteca Parque do Rio de Janeiro.
Eventos
Em comemoração ao sesquicentenário, a Biblioteca Parque promove vários eventos. Na tarde de hoje, por exemplo, haverá uma roda de conversas sobre a importância das políticas voltadas para bibliotecas públicas e comunitárias.
O espaço terá, ainda, eventos com Ruy Castro (no dia 20), Flávia Oliveira (no dia 21) e o músico Frejat (no dia 22).
“A Biblioteca Parque é a casa da cultura porque ela respira cultura e transmite cultura para quem dela consome e ela frequenta”, afirmou Leon.
Também foi lançado, hoje, o edital Literatura Resiste, uma chamada pública que tem por objetivo financiar até 110 propostas de fomento à cadeia literária no Estado. Serão investidos R$ 5,5 milhões para viabilizar a continuidade de projetos literários que já existem (contação de histórias, oficinas, concursos literários, saraus, publicação de livros em coleções literárias existentes entre outros), a criação de feiras literárias e a manutenção de bibliotecas comunitárias.
As inscrições para os interessados em concorrer com projetos começam na próxima segunda-feira (20). Informações podem ser obtidas no site da Secretaria Estadual de Cultura.
A partir desta quarta-feira (15), os estudantes pré-selecionados devem fazer a complementação das informações das inscrições na página do programa na internet. O prazo vai até as 23h59 do dia 17 de março.
Depois, é necessário validar as informações apresentadas no ato da inscrição em até cinco dias úteis após a data da complementação da inscrição, feita na página do Fies. Para validar, o pré-selecionado deve procurar diretamente a instituição de ensino superior, que irá informar ao estudante sobre o meio a ser utilizado para o recebimento da documentação exigida, se em formato físico ou digital.
A classificação é feita em ordem decrescente, com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e as demais regras do processo seletivo. Medicina, direito, enfermagem, odontologia e psicologia foram os cursos mais procurados.
Segundo o MEC, em 2023, serão ofertadas 112.168 vagas para o Fies.
Lista de espera
Quem não foi selecionado nessa chamada é automaticamente incluído na lista de espera do Fies para disputar as vagas que não forem preenchidas. O candidato deve ficar atento às convocações, acessando o sistema de inscrição do programa. A convocação da lista de espera será feita entre 21 de março e 18 de maio.
O que é o Fies
O fundo concede financiamento a estudantes com renda bruta familiar per capita de até três salários mínimos para que possam estudar em instituições privadas. O estudante deverá pagar as prestações após encerrar o curso. As prestações são calculadas levando em consideração o limite de renda, sem cobrança de juros.
Pela primeira vez, o Parque Santa Cruz conquistou o título da Copa Santa Inês de Futebol Amador, iniciativa patrocinada pelo governo do Estado e pela Indústria de Água Aguafina, por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte. No último domingo (12), o Santa Cruz levou a melhor sobre o Fluminense, venceu a decisão por 1 a 0 e garantiu o título do torneio. A partida foi realizada no Campo da Capoeira.
Com o resultado magro, o Parque Santa Cruz acabou com o sonho do Fluminense chegar ao tricampeonato da Copa Santa Inês. Nas duas edições anteriores da competição, o time tricolor havia se sagrado vencedor.
Vale destacar a caminhada do Parque Santa Cruz rumo ao título. Nas oitavas, o time superou o Angelim nos pênaltis (5 a 3) após empate por 1 a 1 no tempo normal. Na eliminatória seguinte, vitória fácil sobre o MEC por 6 a 2 e vaga garantida para as semifinais.
Nas semis, o Parque Santa Cruz teve muitas dificuldades para superar a Vila Marcony. Após empate por 2 a 2, a vaga para a final foi conquistada nas penalidades (6 a 5).
Tudo sobre a Copa Santa Inês de Futebol Amador está disponível nas redes oficiais do evento (@copasantaines).
Se 2022 já foi especial para o nadador Davi Hermes, que foi eleito o melhor atleta paralímpico do Maranhão, a temporada 2023 começou mostrando que o atleta segue a todo vapor. No fim de semana, o maranhense, que conta com o patrocínio do governo do Estado e da Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, brilhou no primeiro evento oficial do ano. Davi conquistou três medalhas de ouro no Torneio Início, competição promovida pela Federação Maranhense de Desportos Aquáticos (FMDA).
No Torneio Início, Davi Hermes competiu em três provas: 400m livre, 50m e 200m borboleta. Em todas as provas, o nadador terminou no lugar mais alto do pódio. “O ano de competições finalmente começou com o Torneio Início da FMDA. Bom rever os atletas e técnicos de várias escolas juntos pelo nosso esporte. Estou feliz porque nadei bem e conquistei o ouro nos 400m livre, 50m e 200m borboleta”, afirmou Davi.
Após esse bom início em 2023, o nadador maranhense volta suas atenções aos treinos visando as próximas competições do ano. Davi competirá nos eventos locais promovidos pela FMDA, nas etapas dos torneios da Associação Maranhense Master de Natação (AMMN), nas competições nacionais da Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Intelectuais (CBDI), além dos Jogos Universitários Maranhenses (JUMs) e Jogos Universitários Brasileiros (JUBs).
Grande fase
Em 2022, Davi Hermes conquistou 18 medalhas de ouro, três pratas e um bronze em competições regionais, nacionais e internacionais, além de quebrar três recordes brasileiros e três recordes sul-americanos. O jovem atleta maranhense de 19 anos também defendeu a Seleção Brasileira no Campeonato Mundial de Natação para Síndrome de Down, onde ficou em quarto lugar no mundo nas provas de 50m e 100m borboleta na categoria Sênior.
Os excelentes resultados credenciaram Davi a ser eleito o melhor atleta paralímpico do Maranhão em 2022. Pela primeira vez, ele recebeu o Troféu Mirante Esporte, maior premiação esportiva do Estado.
Em reconhecimento à sua carreira vitoriosa, Davi, que é um dos principais atletas do Maranhão e revelação do esporte paralímpico do Brasil, ainda recebeu a Medalha de Mérito Legislativo José Ribamar de Oliveira “Canhoteiro”, da Assembleia Legislativa do Maranhão.
Uma das principais revelações do esporte maranhense, a nadadora Sofia Duailibe se destacou na terceira etapa da Copa Brasil de Águas Abertas, competição organizada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e disputada no sábado (11) e no domingo (12), em Porto Alegre (RS). A atleta da DM Aquatic, que conta com os patrocínios do governo do Estado e da Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, sagrou-se campeã geral feminino na prova de 1,5km e ficou com o vice-campeonato geral feminino nos 2,5km da competição nacional.
Antes de brilhar em sua segunda competição na temporada de 2023, Sofia Duailibe conquistou excelentes resultados na etapa de Petrolina da Copa Brasil de Águas Abertas, que ocorreu nos dias 4 e 5 de março. Com um desempenho de alto nível, Sofia faturou os títulos das categorias Geral e Infantil 1 nas provas de 1,5km e 2,5km em águas pernambucanas.
Os troféus conquistados em Porto Alegre e Petrolina reforçam o excelente momento de Sofia Duailibe no cenário nacional da natação. No ano passado, ao disputar a etapa de Brasília da Copa Brasil de Águas Abertas, Sofia foi campeã da categoria Petiz 2 nas provas dos 1,5km e 2,5km e ficou na terceira posição da categoria Geral nos 1,5km.
Temporada vitoriosa
Em suas últimas competições de 2022, Sofia sagrou-se campeã da prova dos 800m feminino da Travessia Felipe Camarão e faturou quatro medalhas de ouro no Campeonato Maranhense de Verão da Federação Maranhense de Desportos Aquáticos (FMDA).
Representando o Colégio Literato na última temporada, Sofia Duailibe também faturou a medalha de ouro nos 100m borboleta, garantiu a medalha de prata nos 50m peito e 200m medley, e ficou com a medalha de bronze na disputa dos 400m livre nos Jogos Escolares Maranhenses (JEMs), realizados em agosto. Já nos Jogos Escolares Ludovicenses (JELs), Sofia foi campeã nas provas dos 100m costas e 100m borboleta, além de ficar com o vice-campeonato na competição dos 400m livre.
Também em 2022, Sofia Duailibe foi a campeã da categoria Petiz na prova dos 1.650m do tradicional Desafio do Cassó, no mês de julho, em Primeira Cruz (MA), conquistou três medalhas de ouro nas provas dos 200m medley, 400m livre e do revezamento 4x50m livre misto no Campeonato Maranhense de Natação de Inverno / Troféu Rodrigo Almeida, que ocorreu no início de julho, e sagrou-se campeã dos 1.500m e dos 2.500m na segunda etapa do Circuito Cearense de Águas Abertas, realizado no fim de junho, no Iate Clube, em Fortaleza (CE).
A nadadora Sofia Duailibe é patrocinada pelo governo do Estado e pela Potiguar, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. Ela ainda conta com os apoios da DM Aquatic e do Colégio Literato.
Entidades e pesquisadores da área da educação afirmam a necessidade de revogação da lei de 2017 que estabeleceu o novo ensino médio e sugerem a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio publicadas em 2012. Na última semana, o Ministério da Educação (MEC) abriu consulta pública para avaliação e reestruturação da política nacional de ensino médio, mas, para os especialistas, antes do diálogo, é urgente a revogação da medida.
“E, ao ser revogado, é necessário que o governo receba estudantes, professores e profissionais da educação pra poder formular e concretizar um modelo de ensino que faça sentido pra nossa geração”, disse à Agência Brasil a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz.
Para o professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, a abertura de diálogo é sempre positiva, mas a consulta do MEC não deixa a agenda completamente aberta para discussão.
“Ela restringe a participação a um cronograma muito apertado e, simplesmente, a questões de implementação da reforma, sendo que a demanda dos estudantes e dos professores é a revogação”, disse. “O que a reforma tem gerado de desorganização das redes, de desestruturação curricular e de baixíssima formação dos estudantes é algo que precisa ser, de fato, denunciado”, completou.
A consulta tem prazo de 90 dias para as manifestações, com possibilidade de prorrogação. Ela será implementada por meio de audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas nacionais com estudantes, professores e gestores escolares sobre a experiência de implementação do novo ensino médio nos 26 Estados e Distrito Federal.
Para a professora e coordenadora do Observatório do Ensino Médio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mônica Ribeiro da Silva, a estratégia da consulta pública, pelo prazo apresentado, pode desmobilizar o debate nacional que já está em andamento. Ela sinaliza que não há a disposição do governo para uma mudança mais estrutural, de revogação, mas sim de fazer ajustes naquilo que já existe na reforma do ensino médio.
“Esperávamos um ministério que, de fato, pusesse um fim àquela lei que nasceu do golpe de 2016, pelo governo [Michel] Temer, por medida provisória, no debate apressado no Congresso Nacional e que acabou sendo regulamentada em cada rede estadual de um jeito. Nós temos, hoje, 27 ensinos médios pelo Brasil. Nós temos currículos com 200 páginas e currículos com 900 páginas, todos eles com assessoria privada. Este novo ensino médio é um enorme mercado que existe apenas para atender as fundações empresariais”, apontou a professora da UFPR.
Procurado pela reportagem, o MEC encaminhou declaração pública do ministro da Educação, Camilo Santana, em que esclarece que a consulta é exatamente para orientar e subsidiar as decisões que serão tomadas.
“Já identificamos que há necessidade de correções, necessidade de um bom debate. Porém, acho que é do processo democrático, até porque o ensino médio já está em andamento na sua implementação, [acho que] é importante ouvir as entidades, os especialistas da área, os estudantes, professores, para que a gente possa, com muita responsabilidade, tomar decisões. Nosso grande objetivo é garantir qualidade, um bom ensino médio para os estudantes jovens do Brasil”, disse.
Segundo o ministro, as decisões precisam ser tomadas brevemente, pois as diretrizes da política servirão de base para a elaboração do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024.
No entanto, uma pesquisa recente do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi) sobre as mudanças que estão sendo realizadas apontam o desconhecimento da população sobre a reforma. “Infelizmente, não houve uma articulação estruturada sobre as mudanças trazidas entre a aprovação da nova legislação, em 2017, e o início da obrigatoriedade de sua implementação, no início de 2022”, disse o diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.
O novo ensino médio
A atual política do ensino médio, Lei 13.415/2017, foi aprovada em 2017 com o objetivo de tornar a etapa mais atrativa, instalar o ensino integral e evitar que os estudantes abandonem os estudos.
Com o modelo, parte das aulas deverá ser comum a todos os estudantes do país, direcionada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios alunos poderão escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. Entre as opções, está dar ênfase às áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ao ensino técnico. A oferta de itinerários, entretanto, depende da capacidade das redes de ensino e das escolas.
A implementação ocorre de forma escalonada até 2024. Em 2022, ela começou pelo 1º ano do ensino médio com a ampliação da carga horária para, pelo menos, cinco horas diárias. Pela lei, para que o novo modelo seja possível, as escolas devem ampliar a carga horária para 1,4 mil horas anuais, o que equivale a sete horas diárias. Isso deve ocorrer aos poucos.
Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), mesmo em meio à pandemia de covid-19, as secretarias estaduais mantiveram o cronograma e todos os Estados já estão com os referenciais curriculares do novo ensino médio homologados. Em 2023, a implementação segue com o 1º e 2º anos, e os itinerários devem começar a ser implementados na maior parte das escolas. Em 2024, o ciclo termina, com os três anos do ensino médio.
Além das atribuições no Observatório da UFPR, Mônica coordena uma rede de 23 grupos de pesquisa pelo país que acompanha, desde 2017, a regulamentação e implementação do novo ensino médio nas escolas. Segundo ela, o movimento estudantil, as entidades de classe e as sociedades científicas já entregaram ao MEC o resultado desses anos de pesquisa que aponta os problemas da política atual do ensino médio, material que poderia ser utilizado para embasar a revogação e acelerar as mudanças necessárias.
Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, as entidades de classe querem o retorno do Fórum Nacional da Educação, na composição que existia em 2016, antes de ser alterado pelo governo Michel Temer. O fórum é um espaço de interlocução entre a sociedade civil e o governo, estabelecido pela lei do Plano Nacional da Educação (PNE), de 2014.
“Ele é composto de 50 entidades e movimentos da educação e tem a tarefa de avaliar políticas públicas e fazer propostas ao MEC sobre os melhores encaminhamentos. Entendemos que esse espaço, restituído sua composição de 2016, seria o espaço adequado para fazer esse debate do ensino médio”, disse ele, também defendendo a revogação da atual lei.
Diretrizes adequadas
Para Araújo, uma das alternativas é a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio definidas em 2012 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) após extenso debate, mas que acabaram paradas com a desorganização política do país a partir de 2013. “Elas apontam a perspectiva de projeto entre as disciplinas, para integrar esse processo de formação e encontrar uma forma de deixar o ambiente mais adequado no processo de ensino e aprendizagem”, explicou o presidente da CNTE.
O texto traz avanços quanto à concepção do ensino médio como um direito social de cada pessoa e dever do Estado em sua oferta pública e gratuita a todos. A resolução do CNE articulou os eixos do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura para formação integral do estudante, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.
Para a professora da UFPR, “nenhuma lei é eterna e, assim como foi mudada em 2017, pode ser alterada novamente”. “Nós tínhamos no Brasil experiências muito interessantes dos governos do PT antes dessa reforma, por exemplo as diretrizes curriculares nacionais de 2012, que sequer foram implementadas, que trazem outra concepção do ensino médio e de juventude”, ressaltou.
“Nós tínhamos a experiência do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, a experiência do Ensino Médio Integrado. Então, não dá para dizer também que não tem o que pôr no lugar. E, obviamente, a partir daí, outras contribuições seriam necessárias”, acrescentou.
Segundo Daniel Cara, a aplicação das diretrizes de 2012 fariam com que o Brasil construísse “um caminho de fortalecimento da etapa do ensino médio”. Além disso, para ele, o que também poderia ser alternativa seria colocar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que a implementação dos itinerários fosse facultativa para as redes e escolas.
“E eu tenho certeza que, se ela for facultativa, em pouquíssimo tempo, a maior parte das redes públicas não vão seguir com a reforma, o que significa concretamente que a reforma não é boa, elas estão sendo forçadas à implementação”, argumentou.
Disciplinas: brigadeiro e sabonete
A professora Mônica Ribeiro afirma que o novo ensino médio fragiliza a formação dos estudantes e aumenta a evasão e abandono escolar. Ela cita a redução de carga horária de disciplinas como sociologia, filosofia e biologia, “que os estudantes precisam, inclusive se quiserem cursar a universidade”, e critica a substituição dessas por “coisas” como: “como fazer brigadeiro, como cuidar dos pets, como fazer sabonete”.
“O que significa para um jovem de escola pública, que é 85% das matrículas no Brasil do ensino médio, cursar essas quinquilharias? Será que nós já não temos elementos suficientes para uma intervenção mais séria? Enquanto se realiza essa famigerada consulta pública, os estudantes continuarão a ter essas ‘coisas’ que eu me recurso chamar de disciplinas. Isso é que eu chamo de uma violência”, disse.
Já para a presidenta da Ubes, Jade Beatriz, além da grade curricular ruim, o novo ensino médio desconsidera as diversas realidades estruturais do país e agrava as desigualdades sociais. “Enquanto estudantes de escolas particulares estão nos laboratórios de robótica, química e física, temos aula de como fazer brigadeiro na grade curricular da escola pública. Isso é muito injusto! Nesse modelo, não há um incentivo e capacitação para querer adentrar a universidade”, argumentou.
“Nossas escolas não têm estrutura. É só fazer um recorte e ver a fotografia da escola pública hoje: teto desabando, salas alagadas quando chove, banheiro sem pia, escola sem banheiro, muitos sem saneamento e sem merenda. [...] Como aumentamos tanto a grade curricular para escolas que não tem o mínimo de estrutura pra executar?”, questionou.
“Muitos estudantes precisam frequentar mais de uma escola pra poder conseguir cumprir toda a grade. Isso envolve muito, envolve passagem de ônibus, envolve alimentação, envolve um pequeno recurso que pode vir a ser muito para os estudantes, que por consequência, acabam desistindo”, finalizou.
Estrutura insuficiente
Além disso, para Mônica, é falsa a possibilidade de escolhas dos estudantes, já que muitas escolas, justamente pela falta de estrutura citada por Jade, oferecem apenas um itinerário formativo, sobretudo aquelas dos municípios menores ou das periferias das grandes cidades, “gerando uma desigualdade imensa do acesso a conhecimento entre os estudantes”.
Nesse mesmo sentido, o presidente da CNTE lembra que em Pernambuco, onde um modelo semelhante ao novo ensino médio já vinha sendo aplicado há 17 anos, mais de 800 mil jovens entre 15 e 29 anos não concluíram o ensino médio, enquanto aqueles que concluíram ou estão matriculados somam 341 mil. Segundo ele, o modelo passou a ser aplicado quando Mendonça Filho era vice-governador de Pernambuco, o mesmo que foi ministro da Educação do governo Temer, na ocasião da reforma nacional.
“Quando você fecha três turnos da escola e coloca ela em tempo integral, você tira a juventude da escola, principalmente os mais pobres que precisam ajudar a família a ter o sustento do dia a dia”, disse Araújo, também destacando negativamente o esvaziamento do conteúdo disciplinar.
Para o professor Daniel Cara, apesar de algumas poucas escolas conseguiram ofertar a educação integral e o aprofundamento curricular dos itinerários, a reforma do ensino médio fracassou.
“Temos sempre que pensar a política educacional na escala, são 180 mil escolas no Brasil e boa parte oferta o ensino médio. E pensando no conjunto das escolas, a reforma hoje tem gerado mais problemas do que trazido soluções. […] O novo ensino médio está sendo implementado e não está acontecendo, porque ele é tão caótico, é tão desorganizado que ele sequer se estruturou”, explicou. “O problema não é de implementação e organização, o problema é que a reforma não é adequada”, completou.
Segundo ele, pelo que se tem visto nas escolas e nos trabalhos relacionados a projeto de vida e empreendedorismo, o Brasil será “uma fábrica de coachings de Instagram” se houver insistência na atual reforma. “É um conteúdo completamente absurdo nas escolas, é tratar questões sérias como filosofia, sociologia, história e geografia como autoajuda. Isso não pode prevalecer”, disse.
Para o diretor do Sesi/Senai, Rafael Lucchesi, a reforma vai na direção certa ao superar o modelo de ensino passivo-reprodutivo e incentivar o protagonismo do estudante na construção de um projeto de vida e de carreira por meio de uma abordagem interdisciplinar.
“Acreditamos, portanto, que os debates devem ser direcionados para identificar os gargalos e possibilitar uma implementação efetiva do modelo”, disse. “Para isso, são indispensáveis investimentos, não só em estruturas físicas e equipamentos, como também na formação de professores, cujo papel é determinante para as transformações do sistema de ensino e manutenção da qualidade da prática pedagógica e dos resultados da aprendizagem”, destacou.
O ator, diretor, roteirista e produtor Antônio Pedro morreu neste domingo (12), no Rio de Janeiro, aos 82 anos, de insuficiências renal e cardíaca. Ele estava internado em um hospital na cidade. Segundo o Crematório e Cemitério da Penitência, o velório será na segunda-feira (13), a partir das 10h, na capela 2, no Bairro do Caju, região portuária da capital. A cremação foi marcada para as 15h30.
Em nota, divulgada no seu site, a Rede Globo informou que o ator carioca, nascido em 11 de novembro de 1940, levou uma vida dedicada às artes. A carreira começou na década de 1960. Após fazer cursos e especializações em Paris, passou a atuar também como diretor, roteirista, humorista e produtor em dezenas de filmes, peças e obras na televisão.
A estreia foi na TV Tupi, em 1969, na telenovela Super Plá. Três anos depois, entrou para a TV Globo, onde começou na novela O Bofe. O currículo em novelas, humorísticos, infantis e séries inclui ainda Sassaricando (1987), Bebê a Bordo (1988), Escolinha do Professor Raimundo (1990/92/94), Caça-Talentos (1996), Explode Coração (1996), Sítio do Picapau Amarelo (2002), A Diarista (2006), Malhação (2007/2009) e Zorra (2015-2017).
As últimas atuações na emissora foram na novela Sucesso (2019), e nas séries Shippados (2019) e Filhas de Eva (2021). Para a Rede Globo, a atuação de Antônio Pedro na TV “sempre foi intensa”.
No cinema nacional, teve destaque em filmes como Gabriela, cravo e canela (1983), Dias Melhores Virão (1989), O que é isso Companheiro (1997) e também em grande parte dos filmes do também ator e diretor Hugo Carvana.
Antônio Pedro teve ainda importante participação no cenário político, sendo filiado ao PDT. Na década de 1980, foi nomeado diretor de teatros da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj) e secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Nos anos 90, foi coordenador do projeto Teatro na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
No seu perfil no Instagram, a atriz Ana Baird, uma das filhas do ator, postou uma mensagem ao pai com fotos dos dois.
“Referência. Amor incondicional. Honra e orgulho. Obrigada por tudo. Obrigada por tanto. Vai na luz,Pai. Tem um elenco maravilhoso te esperando do outro lado pra festa. O Teatro te agradece. Eu te agradeço imensamente. Te amo”.
Em resposta à mensagem de Ana, o ator Lúcio Mauro Filho postou uma mensagem: “Meu amor!!! Toda a luz do mundo pra iluminar o caminho do papai pela imensidão da eternidade! Grande homem, grande referência! Te amo!”.
Ainda na rede social, a atriz Heloísa Perissé escreveu para a amiga: “Amada um beijo enorme no coração de vocês!!! Obrigada por tudo que seu pai foi pra nossa cultura!!! E por ter deixado duas filhas tão talentosas! Te amo”, disse lembrando da irmã de Ana, a também atriz Alice Borges. Além das duas, Antônio Pedro era pai de Fábio Borges.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, emitiu nota de pesar em que destacou a importância de Antônio Pedro na cultura nacional. “O brilhante ator Antônio Pedro nos deixou, neste fim de semana, aos 82 anos. Um profissional completo que além de ator, diretor e roteirista, teve participações importantes na gestão pública da cultura do nosso Estado. Ele nos fez rir e chorar nas dezenas de participações em novelas e peças teatrais e, fora dos palcos, na administração pública”, disse .
“A ausência de Antônio Pedro vai representar um vazio e uma perda enorme para a cultura brasileira. Meus profundos sentimentos de pesar aos familiares e amigos”, completou.
A Restaura Natureza, Olimpíada Brasileira de Restauração de Ecossistemas do WWF-Brasil, está com as inscrições abertas para a sua segunda edição. Nesta edição, a competição colaborativa será estendida ao 1º ano do ensino médio, além de abranger estudantes do 7º ao 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas de todo o país. As inscrições podem ser feitas pelo site.
Um novo tema formativo, Segurança Alimentar, foi incluído na olimpíada em 2023, juntando-se a outros nove temas atuais que se conectam ao currículo escolar e são caminhos importantes para restaurar a natureza e a conexão das pessoas com ela.
A olimpíada é composta por duas fases simultâneas: a fase on-line, que apresenta os temas formativos e convida os estudantes a testarem seus conhecimentos individualmente, e a fase prática, realizada em grupo, em que as crianças e jovens vão desenvolver, acompanhados de um professor responsável, os seus projetos relacionados ao uso de tecnologia, plantio, mudanças na gestão da comunidade, campanhas de engajamento ou qualquer ação criativa que promova a restauração dos ecossistemas.
Os alunos acumulam pontos em ambas as fases. Também é possível ganhar pontos convidando amigos para a Restaura Natureza. Todos os grupos que enviarem um relato de suas ações concorrerão em duas categorias: Comissão Julgadora e Voto Popular, que valem prêmios.
Comunidade escolar
Para que a Restaura Natureza atingisse as demandas da comunidade escolar, foi realizado um processo de escuta com professores e profissionais de educação de diversas cidades brasileiras. O desenvolvimento da olimpíada também considerou as necessidades e temas urgentes apontados por especialistas em restauração do WWF-Brasil e parceiros técnicos.
A olimpíada tem como embaixador o personagem Chico Bento, por meio de parceria institucional com a Mauricio de Sousa Produções. Também são parceiros institucionais o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os Escoteiros do Brasil, a Mostra Ecofalante de Cinema, a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre) e o Criativos da Escola, do Instituto Alana. Conta com o apoio da marca Bom Ar®, da Reckitt Hygiene Comercial, com quem o WWF-Brasil iniciou em 2021 uma parceria de três anos pela restauração do Cerrado e da Mata Atlântica, e da Aegea.
A competição é organizada pela Quero na Escola, associação sem fins lucrativos voltada à educação em parceiria com o WWF-Brasil, governos e empresas em todo o país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza, além de buscar soluções urgentes para a emergência climática.
Retomar o valor da ciência e fortalecer a educação como um meio de desenvolvimento para o país estão entre as metas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para os próximos anos. Esses objetivos foram descritos pela presidente da instituição, Mercedes Bustamante, em entrevista ao programa Brasil em Pauta, que vai ao ar neste domingo (12), na TV Brasil.
“É a ciência que vai poder nos conduzir, nos orientar nesse desenvolvimento que o Brasil precisa, com mais justiça social, com mais equidade e também com mais sustentabilidade. Então, acho que são duas ferramentas [ciência e educação] fundamentais que precisam ser trabalhadas e valorizadas se o Brasil quiser ter uma perspectiva de futuro até o final desse século”, disse a pesquisadora.
O reajuste das bolsas de pós-graduação, iniciação científica e formação de professores da educação básica anunciado pelo governo federal em fevereiro, foi outro tema tratado pela presidente da Capes. Segundo ela, é necessário que os reajustes ocorram com mais constância e tenham previsibilidade e estabilidade na forma como são feitos. O último reajuste nos valores das bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado havia ocorrido em abril de 2013.
“A ideia é que a gente não espere mais de dez anos pelo próximo reajuste. Esperamos que daqui para frente possamos contar com a implementação de reajustes mais periódicos e que consigam acompanhar um pouquinho mais o custo de vida no Brasil. Acho que isso vai ser um estímulo importante para a atração dos pesquisadores que o Brasil perdeu nos últimos quatro anos e para fixar os pesquisadores que estamos formando aqui”, afirmou.
Mercedes Bustamante destacou que as bolsas têm papel importante na indução e na manutenção de jovens pesquisadores na carreira científica.
Mulheres na ciência
Em meio a discussões sobre a representatividade da mulher na sociedade e nos diversos setores produtivos, em razão da comemoração no Dia da Mulher, em 8 de março, Mercedes Bustamante falou sobre a participação das mulheres na ciência. Ela destacou que, quando considerado o número de bolsistas da Capes, as mulheres já são maioria nos mestrados e doutorados. A presidente da Capes observou que, no entanto, ainda há muito o que fazer para garantir que essas jovens pesquisadoras permaneçam na carreira científica e acadêmica.
Segundo ela, é preciso construir um ambiente mais adaptado para acolher a presença feminina na área das ciências. Para isso, estão em discussão estratégias como a de incorporar a informação sobre a licença-maternidade de jovens docentes e discentes nos relatórios de avaliação. Outra estratégia seria modificar a lei que restringe a prorrogação da bolsa por maternalidade ou parentalidade, estendendo o prazo atual de quatro meses para seis meses.
“Percebemos que ainda há uma sobrecarga muito maior para as mulheres, ainda que existam mecanismos para fazer um pouco mais essa divisão de esforços, ele ainda é fortemente concentrado nas mulheres. Isso aponta que, muitas vezes, após o parto ou a adoção, existe uma queda da produtividade científica das mulheres”.
Mudanças climáticas
A presidente da Capes afirmou que o Brasil é sempre colocado como potência socioambiental e está na hora de ver a realização desse potencial, com o auxílio da ciência. Para isso, segundo a pesquisadora, é preciso mudar parâmetros da economia brasileira, já que, ao longo de séculos, o Brasil tem sido um exportador de commodities, o que tem pouco valor agregado e resulta em uma exploração predatória que traz impactos ao meio ambiente. “Parte desse processo da participação da ciência é como agregamos valor nacional e reduzimos os impactos ambientais ao mesmo tempo”, disse.
Mercedes Bustamante avalia que, por ter biomas ricos em biodiversidade e também em carbono, o Brasil pode contribuir com a solução para duas das grandes agendas ambientais que é a perda da biodiversidade e a questão das mudanças climáticas. “O mundo esperava do Brasil exatamente essa liderança de servir como um exemplo para essa faixa tropical do globo que vai ser tão importante nessa discussão das mudanças ambientais globais”.
Veja a entrevista completa no programa Brasil em Pauta, que vai ao ar neste domingo (12) às 22h30.
Os animais mitológicos, folclóricos e fabulares pintados por Chico da Silva (1910?-1985) compõem a nova exposição em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, no centro da capital paulista. Intitulada Chico da Silva e o Ateliê de Pirambu, a exposição é a primeira grande mostra panorâmica dedicada ao artista pela Pinacoteca, e vai apresentar ao visitante os diversos dragões, sereias, bestas, peixes, serpentes e aves que fazem parte desse universo fantástico e único criado por ele. A mostra fica em cartaz até o dia 28 de maio, na galeria principal da Pina Luz.
Essa é a maior exposição individual já dedicada ao artista de origem indígena e reúne coleções públicas e particulares que percorre a produção feita entre os anos de 1943 a 1984. Entre os destaques da mostra, está o conjunto de obras Caboclo Peruano, um grupo de desenhos realizados pelo artista entre os anos de 1943 e 1944. A curadoria é de Thierry de Freitas.
“A historiografia convencionou datar o nascimento dele como 1910, mas é provável que este dado esteja errado e que ele tenha nascido entre 1922 e 1923. Então, de certa maneira, essa exposição também é uma homenagem ao centenário do artista”, disse o curador, em entrevista à Agência Brasil.
“O Chico nasceu na Amazônia. A mãe dele teria ido para o Acre para trabalhar em um seringal. Em 1922, ele nasceu na Amazônia, na região do Rio Tejo, filho de um indígena peruano, provavelmente da etnia campa, e de uma cearense. O ambiente em que o Chico viveu até os 10 ou 12 anos é esse da Amazônia, da fauna e flora diversa, desse lugar também cheio de cearenses que haviam ido trabalhar na extração de látex. O Chico também dizia que seu pai era barqueiro e que ele subia e descia os rios com seu pai. É claro que essas experiências constituíram um pouco desse imaginário com que ele viria a trabalhar depois”, explicou Freitas.
A exposição apresenta 124 obras de Chico da Silva e outros artistas que fizeram parte do Ateliê do Pirambu. A mostra percorre o legado de um dos primeiros artistas brasileiros de origem indígena a alcançar destaque no cenário nacional e no exterior. “Acho que o Chico da Silva é um fenômeno incrível do Ceará, e acho quase impossível contar uma história da arte brasileira que se propõe plural e diversa sem contar a história do Chico”, disse o curador.
Exposição
Cada sala da galeria expositiva foi dedicada a um período na vida do artista. A primeira sala, mostra o início de sua produção. Nessa sala, encontra-se uma foto que mostra Chico da Silva desenhando na parede de uma casa na Praia Formosa, em Fortaleza, pouco antes de ter sido descoberto pelo pintor suíço Jean Pierre Chabloz, que o levou a experimentar a pintura a guache. “O Chico começou a produzir na década de 40, ‘descoberto’ por um artista e crítico suíço, chamado Jean Pierre Chabloz, que estava no Ceará”, disse o curador da exposição.
“Ele tinha como hobby pintar pássaros em muros de casas. Isso não era bem-visto pelos donos das casas, mas o Chabloz viu esses desenhos, se encantou e foi atrás do autor”, disse Thierry de Freitas.
Foi então que Chico da Silva passou a pintar sob encomenda. E uma das primeiras telas que pintou, ainda na década de 40, é uma paisagem com montanha, um lago, dois dirigíveis e alguns peixes, já antecipando técnicas e formas que ele viria a utilizar com mais frequência em suas próximas obras. “[Na primeira sala], estão os primeiros quadros que já mostram um pouco desse vocabulário do Chico com pássaros em troncos de árvores, preenchidos por pontilhismo e com fundo e figura se fundindo ou com preenchimentos muito semelhantes”, explicou o curador.
A segunda sala é dedicada aos painéis, que são os trabalhos mais raros do artista. “Os painéis representam uma espécie de auge do Ateliê [do Pirambu]. São o que há de melhor na produção do Chico, porque, pelo tamanho e pela primazia da execução, conseguem mostrar toda a contribuição da escola”, explica Thierry de Freitas.
A terceira sala reúne um conjunto especial de obras realizadas no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc), onde o Chico trabalhou na década de 60.
A quarta sala é dedicada ao Ateliê de Pirambu, criado pelo artista quando deixou o Mauc, por volta de 1963. É nessa década que a produção do artista alcançou grande qualidade técnica. É nessa época também que ele começou a produzir em grande quantidade.
“O Pirambu é um bairro do centro de Fortaleza muito próximo à Praia Formosa, de uma comunidade de baixa renda. Na época do Chico, era uma favela, e ele morava lá. Quando ele saiu do emprego do Mauc, em 1963, ele foi pintar por conta própria, em casa. Várias crianças, jovens e adolescentes passaram a se interessar pela pintura que ele estava fazendo, e ele começou a convidar essas pessoas para pintarem junto com ele”, explicou o curador.
A partir de 1969, Chico passou a enfrentar problemas com o alcoolismo e acabou se afastando do ateliê. “Paralelo a isso, há uma série de denúncias na imprensa dizendo que os quadros do Chico não eram feitos por ele, mas por pessoas do ateliê. Essa é uma fase muito complicada para ele. De fato, na década de 70 ele pintou muito pouco e passou a não administrar a produção do ateliê. Inclusive ele passou por internações para tratar desse problema [com o alcoolismo]”, disse Freitas.
Sua produção só foi retomada a partir de 1977, quando ele começou a adotar novas estratégias para a venda de seus trabalhos. São essas obras que são apresentadas na sala seguinte. “Quando o Chico volta a pintar, ele se cerca de outras estratégias. Aqui, ele está pintando praticamente sozinho. Ele tenta inserir outras estratégias para autenticar os trabalhos, autenticando-os em cartórios. A maioria dessas telas tem um papel atrás escrito: ‘eu Chico da Silva certifico que esse trabalho foi pintado por mim’. E ele também passa a se fotografar ao lado dos trabalhos, com pincéis”, descreveu o curador. Nessa época, ele também passa a assinar suas telas com o dedo. “Quando começaram a surgir essas notícias de que os trabalhos eram feitos por outras pessoas, ele passou a colocar o dedo para autenticar a obra”, disse Freitas.
Além da produção de Chico, a exposição mostra também a produção de outros artistas que participaram do Ateliê de Pirambu, como Babá (Sebastião Lima da Silva); Chica da Silva (Francisca Silva, filha do artista); Claudionor (José Claudio Nogueira); Garcia (José dos Santos Gomes) e Ivan (Ivan José de Assis). “Esses artistas foram fundamentais para o ateliê e foram transformando o trabalho do Chico. O ateliê fez o trabalho evoluir muito em qualidade técnica”, disse Freitas.
Essas obras são apresentadas na última sala da exposição. É nessa sala que também se encontra um vídeo performance e uma sequência de fotos de uma pintura coletiva dos artistas do ateliê. “Essa performance é uma espécie de marco, porque foi a primeira vez que o Chico apareceu junto dos artistas do ateliê”, disse o curador.
A Pinacoteca de São Paulo fica em frente à Estação da Luz. Aos sábados, a entrada é gratuita. Outras informações sobe a exposição podem ser obtidas no site da Pinacoteca.