* Entrevista com Edmilson Sanches, para o jornal “Arrocha”, do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão (Imperatriz/MA, 2019)
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1 - ADALBERTO FRANKLIN NO LIVRO “APONTAMENTOS E FONTES PARA A HISTÓRIA ECONÔMICA DE IMPERATRIZ”, FALA SOBRE CICLOS IMPORTANTES DA CIDADE (COMO O CICLO DO GADO, DA BORRACHA, DA CASTANHA, DO ARROZ E DA MADEIRA). A CONTRIBUIÇÃO DOS MESMOS PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DA CIDADE FOI SIMILAR OU DENTRE OS CICLOS PODEMOS ENCONTRAR ALGUM QUE FOI DE MAIOR DESTAQUE?
EDMILSON SANCHES
Minha opinião é a de que os ciclos não tiveram contribuição semelhante.
Embora todos os ciclos listados na pergunta tenham origem no Setor Primário da Economia (gado, borracha, castanha, arroz, madeira), alguns incorporaram valor agregado, por sua utilização no Setor Secundário (indústria) de Imperatriz – como, por exemplo, a indústria de beneficiamento de arroz e a indústria madeireira e moveleira.
Também no gado bovino, houve, em termos de pecuária leiteira, aproveitamento industrial no município, com processamento tecnológico e artesanal do leite, daí derivando desde o leite integral ou em pó até o fabrico de queijo e outros derivados, embora em menor escala.
Não tenho conhecimento, ou ainda não localizei, dados segmentados, séries históricas da produção primária, industrial e terciária dos produtos desses ciclos. De qualquer modo, ressalvados aspectos ambientais e sociais, o ciclo da madeira teve forte influência durante as décadas de 1970 e 1980. Depois, as fontes de extração da madeira se foram distanciando, chegando às matas do Pará, o que onerava a produção, com os custos de logística.
Na década de 1980, Imperatriz foi impactada com a extração de ouro do garimpo de Serra Pelada. Muitos imperatrizenses eram investidores (“donos de barrancos” ou de percentuais deles) ou trabalhadores (os chamados “formigas”). Muitos milhões foram internalizados em Imperatriz e sua região mais próxima, a partir dos valores que eram transferidos para cá das agências bancárias das terras paraenses ou que eram trazidos em espécie e depositados na rede bancária imperatrizense, em cujo mercado também grande parte desses valores era aplicada, em especial no segmento agropecuário (com compra de fazendas) e imobiliário (com aquisição ou construção de imóveis, deles de muitos andares).
Registre-se, por oportuno, que o ciclo do arroz sofreu bastante com o que atribuo a descaso das autoridades públicas e lideranças empresariais do segmento. De grande região produtora e exportadora, Imperatriz e sua jurisdição tornou-se importadora de arroz. Para se ter uma ideia, minhas pesquisas mostram números desconcertantes em relação à cultura do feijão (primeira e segunda safras), arroz, milho e mandioca. No caso do arroz, por exemplo – e para citar só o mais grave e simbólico –, comparado a um período de dez anos, de 1984 a 1994, enquanto, em 1984, a produção de arroz ocupava 40.000 hectares e atingia 60.480.000kg do cereal, em 1994 a produção desabou: menos de 7.000 hectares de área e menos de 14.000.000kg de arroz. E o mais grave: nesse período (1984 a 1994), não houve desmembramento territorial de Unidades Federativas, e nenhum político ou referência empresarial do segmento procurou saber se essa queda de produção era ocasionada por falta de terras produtivas, por falta de estradas vicinais, por falta de sementes adequadas, por falta de mão de obra especializada, por falta ou excesso do regime hidrológico/de chuvas, por falta de recursos financeiros nos bancos emprestadores, por elevação excessiva das taxas de juros, por mudança dos padrões de consumo à mesa, por falta de dinheiro no bolso dos consumidores etc. etc.
O descompromisso, a falta de inteligência e competência de autoridades fizeram Imperatriz submergir em relação à produção e produtividade de um dos itens mais essenciais do cotidiano dos cidadãos maranhenses e brasileiros.
2 – QUAL A IMPORTÂNCIA DA RODOVIA BELÉM/BRASÍLIA PARA A CIDADE DE IMPERATRIZ?
EDMILSON SANCHES
Importância total, fundamental, essencial, vital... Qualquer que seja o adjetivo, deverá ser definidor do que chamo de “refundação” de Imperatriz: a Rodovia Bernardo Sayão (nome oficial da Belém/Brasília) foi o caminho para o crescimento de Imperatriz e de outros municípios em sua área de influência. Exemplifique-se que, até antes de sua inauguração e asfaltamento, na década de 1950, o máximo da população de Imperatriz era 14.064 habitantes. A partir da década de 1960, Imperatriz aumentou quase geometricamente sua população: quase 40.000 habitantes em 1960, chegando ao pico de 310.894 em 1995, menos de duas gerações após a conclusão da rodovia.
3 – O QUE O RIO TOCANTINS REPRESENTOU E REPRESENTA PARA IMPERATRIZ?
EDMILSON SANCHES
Seja na História, seja na Economia, o Rio Tocantins foi elemento de existência e de permanente suporte para a vida do município. Na História, foi o caminho líquido e certo que deu na fundação da cidade em 1852, pelo frade baiano Manoel Procópio do Coração de Maria. O Rio Tocantins é a pia batismal de Imperatriz.
Na Economia, o Rio Tocantins, desde meados do século XIX, era a via por excelência para que chegasse até Imperatriz os produtos indispensáveis para a população. Por barcos e canoas eram transportados e comercializados diversos itens, além do transporte de pessoas, que chegavam e que saíam. Embora, no Maranhão, o Rio Tocantins só ocupe 9,4% da área e 3,8% da bacia, ainda assim – todos os imperatrizenses sabem – o Rio Tocantins não só é o responsável pela criação de nosso município quanto, também, é, em grande parte, a razão de sua existência, além de orgulhosa referência geográfica, turística e sociocultural para todos de Imperatriz. Falta, só, boa vontade e competência de autoridades para uma ação interinstitucional, intermunicipal e interestadual – pois o rio é federal, passando por cinco Estados mais o Distrito Federal – para que haja maior acompanhamento e tomada de decisões em relação aos usos econômicos que estão acontecendo, desde sua nascente até a sua foz, tanto no aspecto de geração de energia (usinas hidrelétricas) quanto nas atividades pesqueira e agrícola e de lazer, além dos efluentes urbanos, atividades essas que contribuem para impactos que precisam ser avaliados, tendo em vista a maior e melhor qualidade das águas e existência do rio.
4 – QUAL A IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO NA CIDADE PARA A GERAÇÃO DE EMPREGOS E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO?
EDMILSON SANCHES
O total da Economia de Imperatriz é de R$ 5 bilhões e 964 milhões. É o chamado Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma do que se produz no município em termos de produtos e serviços. Desses quase R$ 6 bilhões, o Setor Terciário (Serviços) contribui com R$ 2 bilhões e 803 milhões, ou praticamente 47% do total – quase a metade. O comércio – atacadista ou varejista – é um segmento do Setor de Serviços (ou Setor Terciário). Portanto, os números justificam que os segmentos do Comércio, da prestação de serviços de Educação, Saúde, Cultura etc., são formadores de grande parcela da Economia do município, o que implica geração de trabalho, formal ou não (formal é o trabalho com carteira assinada).
5 – EM VISTA DA ATUAL SITUAÇÃO DA CIDADE NO QUE DIZ RESPEITO AO DESENVOLVIMENTO E GERAÇÃO DE EMPREGO, COMO VOCÊ VÊ IMPERATRIZ HOJE E COMO VOCÊ IMAGINA ELA NOS PRÓXIMOS ANOS?
EDMILSON SANCHES
Imperatriz está distante centenas de quilômetros de capitais e de outras grandes cidades. Assim, não tendo proximidade com nenhuma cidade grande, Imperatriz, pela força de seu povo, teve de tornar-se ela mesma grande. Tornou-se destinatária e intermediária de aquisição de produtos e prestação de serviços. Dezenas de municípios do Maranhão e de outros Estados têm na segunda maior cidade maranhense o suporte essencial para o dia a dia de suas populações.
Imperatriz saiu de uma situação estacionária até a década de 1950, entrou em fase de progresso (aumento da produção econômica) e, depois, passou para a fase de crescimento (que adiciona componentes de tecnologia). Agora, precisa ser pensada para entrar na fase de desenvolvimento, que acontece mais nas pessoas e menos no exterior delas.
Não é preciso ter chaminés (indústrias) para um município ser desenvolvido. Imperatriz pode e deve ter indústrias-âncora, indústrias de referência, sobretudo indústrias de produtos de valor agregado, mas precisa, sobretudo, e a partir de um planejamento estratégico, pensar e coletivamente fazer um desenvolvimento que seja inclusivo, participativo, mitigador de desigualdades socioeconômicas.
Precisa de projetos que se iniciem no pensar o município (pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades – a chamada Matriz SWOT) e continuem com projetos de captação de recursos, atração de investimentos e empreendimentos, sensível ampliação de sua Economia da Cultura, um capilarizado projeto de geração de trabalho e renda para nano, micro, mini e pequenos empreendedores (isolados / autônomos ou organizados em associações e cooperativas), criação de uma Agência de Desenvolvimento Municipal (ADM), criação de Empresas de Participação Comunitária (EPCs), forte integração aos “think tanks”, representados por mais de cem cursos superiores presenciais e não presenciais, às Empresas Juniores, desenvolvimento de Empresas de Base Tecnológica (EBTs)..; enfim, entrar na era do desenvolvimento significa, literalmente, entrar de cabeça, isto é, com o cérebro, com a mente – claro, sem esquecer os braços e pernas que, bem comandados pelo cérebro, carregam e conduzem as pessoas e sua cidade para o futuro que há muito tempo lhe é devido, e que é de seu direito reivindicar... e por ele lutar.
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Foto (Aeroset): Que ponte unirá Imperatriz ao desenvolvimento? (Ponte Dom Affonso Felippe Gregory, em Imperatriz. Edmilson Sanches ministrando palestra de Economia na Faculdade Santa Teresinha (Fest).