As provas do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos para Pessoas Privadas de Liberdade ou sob Medida Socioeducativa que incluam privação de liberdade (Encceja PPL) 2023 serão aplicadas nesta terça (17) e quarta-feiras (18), para o ensino fundamental e médio, respectivamente, nas unidades indicadas pelos órgãos de administração prisional e socioeducativa.
O exame é realizado desde 2002 em colaboração com as secretarias estaduais e municipais de Educação. As provas obedecem aos requisitos básicos, estabelecidos pela legislação em vigor, para o ensino fundamental e médio. A emissão do certificado e da declaração de proficiência é responsabilidade das secretarias de Educação e dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, os exames do Encceja PPL têm o mesmo nível de dificuldade que as provas do Encceja regular. A única diferença está na aplicação, que ocorre dentro de unidades prisionais e socioeducativas indicadas pelos respectivos órgãos de administração prisional e socioeducativa de cada Unidade da Federação.
Os valores das bolsas a profissionais das redes públicas de educação e estudantes beneficiários do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) foram reajustados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As novas regras para concessão e manutenção do benefício estão publicadas no Diário Oficial da União (DOU), desta terça-feira (17), e passam a valer no dia 1º de novembro.
Os professores dos cursos executados em parceria com o Incra, por meio do Pronera, podem receber bolsa para desempenhar as funções de coordenador-geral, coordenador pedagógico, educador e educador-orientador. O valor das bolsas para essas funções foram estipuladas por hora trabalhada, e passam a variar de R$ 65 a R$ 90 conforme a função desempenhada.
Os estudantes que desempenharem atividades de monitoria ou apoio pedagógico também receberão por hora de atividade o valor de até R$ 32. Para bolsas de estudo concedidas aos alunos da Educação para Jovens e Adultos (EJA) foi estipulado o valor máximo de R$ 180 por mês.
Para estudantes de nível médio e superior, as bolsas variam de R$ 180 a R$ 710, e para estudantes de pós-graduação o valor pode chegar a R$ 890 mensais.
As instituições de ensino que desenvolvem projetos com recursos do Pronera poderão conceder bolsas aos docentes das redes públicas federais, estaduais e municipais, e ainda aos estudantes matriculados nos cursos abrangidos pelo programa. O benefício não poderá ser concedido aos profissionais administrativos das instituições, ou a qualquer servidor do Incra.
As novas regras determinam que os valores e a duração das bolsas devem ser apresentados pelas instituições de ensino, nas planilhas de detalhamento de despesas e no plano de trabalho que serão entregues ao Incra, durante a formalização da parceria. E, para a manutenção das bolsas, será necessário comprovar a frequência e o pagamento aos bolsistas.
A norma também prevê a revisão dos valores pagos aos bolsistas a cada 2 anos.
Financiamento
O Incra também reajustou os valores máximos pagos às instituições de ensino para financiar os jovens e adultos que participam de projetos de alfabetização e escolarização, de cursos técnicos profissionalizantes, de graduação ou pós-graduação, por meio do Pronera. A mudança também está publicada no DOU.
Para a modalidade EJA, passam a ser repassados às instituições de R$ 6,5 mil a R$ 8,5 mil por estudante, ao ano, conforme a região do país e o nível de ensino. Já para cursos técnicos profissionalizantes, o valor máximo financiável é de R$ 9 mil, por estudante na Região Norte, e R$ 8 mil por estudante das demais regiões do país.
Para graduação, os valores variam conforme o curso de R$ 17,9 mil a R$ 33,3 mil por estudante, ao ano. Para financiar a educação de pós-graduação pelo programa, o Incra pagará, no máximo, R$ 20,1 mil, por estudante.
Os novos valores entram em vigor em 1º de novembro e valerão apenas para as parcerias celebradas a partir do segundo semestre de 2023, e que comecem a ser executadas em 2024.
Educação no campo
O Pronera é uma política pública que financia projetos de educação direcionados aos jovens e adultos que moram em assentamentos criados pelo Incra, ou em territórios indígenas e quilombolas reconhecidos pela instituição. Professores e educadores que desempenham atividades voltadas à educação no campo e pessoas atendidas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário também podem participar do programa.
O Maranhão teve um excelente desempenho na 27ª edição do Campeonato Brasileiro de Karate (/ê/) Shotokan, competição realizada no último fim de semana, no Ginásio Rio Vermelho, na cidade de Goiânia (GO). A equipe maranhense brilhou no evento promovido pela Confederação Brasileira de Karate Shotokan (JKS Brasil) e terminou sua participação conquistando 33 medalhas no total: 8 ouros, 10 pratas e 15 bronzes.
Dentre os medalhistas maranhenses no Campeonato Brasileiro, destaque para Marco Aurélio Mota, que subiu quatro vezes ao pódio. O carateca foi ouro no Kumite Individual Master I e no Kumite (/ê/) Open. Além dessas conquistas, ele foi prata no Koten Kata (19 anos acima) e foi bronze no Kata Individual Master I.
Quem também voltou de Goiânia cheia de medalhas foi Radhyja Costa. A jovem atleta foi campeã do Kata Individual Roxa (acima 15-16 anos), prata no Kumite Individual Roxa (acima 15-16 anos) e bronze no Kumite por Equipe (15-16 anos).
Outro atleta que foi muito bem no Campeonato Brasileiro foi Vitor Augusto Sousa Nascimento Moraes que, em sua primeira competição nacional, colocou o Maranhão duas vezes no pódio. O carateca foi prata no Kata Individual Vermelha a Verde (15-16 anos) e bronze no Kumite Individual Vermelha a Verde (15-16 anos).
Vale destacar que, nesta edição do Campeonato Brasileiro de Karate Shotokan, a Seleção foi composta por 20 atletas: Marco Aurélio Mota, João Guilherme Maciel, Samuel Rocha de Amorim, Radhyja Costa, Daniel Silva Caripunas, Gilbert Demousseau, Garance Lobato Demousseau, Manuel Cortez de Paula, Marina de Miranda Martins, João Batista Pereira, Leopoldo Pereira Martins, Hayka Emanuelly Diniz, Hanny Manuelly Diniz, Vitor Augusto Sousa Nascimento Moraes, Paulo Ricardo Silveira, Álvaro Olindino Filho, Ronilson Davi Carvalho, Fernando Silva Araújo, Davi Rocha Santos e Elvaci Rebelo Junior.
RESULTADOS DO MARANHÃO NO BRASILEIRO DE KARATE SHOTOKAN
Marco Aurélio dos Santos Mota
Bronze Kata Individual Master I
Prata Koten Kata (19 anos acima)
Ouro Kumite Individual Master I
Ouro Kumite Open
João Guilherme Barcelos Maciel
Ouro Kata Individual (até 6 anos)
Ouro Kumite Individual (até 6 anos)
Samuel Rocha de Amorim
Prata Kata Individual (10-11 anos)
Bronze Kumite Individual (10-11 anos)
Radhyja do Carmo Silva Costa
Ouro Kata Individual Roxa (acima 15-16 anos)
Prata Kumite Individual Roxa (acima 15-16 anos)
Bronze Kumite por Equipe (15-16 anos)
Daniel Silva Caripunas
Bronze Kata Individual Vermelha a Verde (15-16 anos)
Ouro Kumite Individual Vermelha a Verde (15-16 anos)
Gilbert Demousseau
Bronze Kata Individual (49-59 anos)
Bronze Koten Kata Individual (50 anos acima)
Garrance Lobato Demousseau
Bronze Kata Individual Roxa a Preta (19-37 anos)
Prata Koten Kata (19 anos acima)
Manuel Cortez Martins de Paula
Bronze Kata Individual Branca e Amarela (7-8 anos)
Marina de Miranda Martins
Ouro Kata Individual Master I Branca e Amarela
João Batista Matos Pereira
Prata Kata Individual Vermelha a Verde (17-18 anos)
Hayka Emanuelly Oliveira Diniz
Bronze Kata Individual Vermelha a Verde (15-16 anos)
Bronze Kumite por Equipe (15-16 anos)
Hanny Manuelly Oliveira Diniz
Prata Kata Individual Vermelha a Verde (17-18 anos)
Prata Kumite Individual (17-18 anos)
Bronze Koten Kata (13-18 anos)
Vitor Augusto Sousa Nascimento Moraes
Prata Kata Individual Vermelha a Verde (15-16 anos)
Bronze Kumite Individual Vermelha a Verde (15-16 anos)
Paulo Ricardo Dantas Silveira
Bronze Kumite Individual Vermelha a Verde (19-37 anos)
Álvaro Olindino Chagas Filho
Prata Kumite Individual Master II Roxa a Preta
Ronilson Davi da Silva Carvalho
Bronze Kumite Individual Roxa a Preta (19-37 anos até 65 kg)
Fernando Silva Araújo
Prata Kumite Individual Vermelha a Verde (19-37 anos)
Dono de um currículo recheado de conquistas nacionais e internacionais, o nadador maranhense multicampeão voltou a brilhar em um evento fora do país no último fim de semana. O atleta, que conta com os patrocínios do governo do Maranhão e do Grupo Mateus, via Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, foi destaque na edição de 2023 do Meeting Internacional de Natação, uma das principais competições da modalidade na atual temporada. Na disputa na França, Frederico garantiu a medalha de bronze na prova dos 100m borboleta e colocou o Maranhão e o Brasil no pódio.
O desempenho de Frederico Castro na França reforça a boa fase do nadador que continua sendo um dos principais atletas do Estado na atualidade. Além de atletas do Brasil, o Meeting Internacional teve a participação de nadadores de 35 nacionalidades.
“É muito gratificante sair com mais um resultado expressivo de uma competição dessa magnitude. Chegar aqui na França, competir lado a lado com grandes atletas e levar o Maranhão e meus patrocinadores para o pódio é a recompensa de todo o trabalho. Só tenho a agradecer a todos que estão comigo, à minha família e, em especial, ao governo do Estado e ao Grupo Mateus”, afirmou Frederico Castro.
Antes de conquistar a medalha de bronze no Meeting do último fim de semana, Frederico foi muito bem em duas importantes competições. Em fevereiro, nos Estados Unidos, competiu no Grand Prix da Flórida, nos Estados Unidos. O evento serviu como preparação para a Copa Norte de Natação, que ocorreu no dia 28 de abril. Na ocasião, Frederico foi tão bem que conquistou o título dos 100m borboleta com direito a recorde no evento.
Próximo desafio
Após brilhar na França e garantir a medalha de bronze, Frederico Castro coloca suas atenções no Grand Prix dos Estados Unidos. Assim como ocorreu nesta temporada, o nadador maranhense disputará a competição no ano que vem. A disputa ocorrerá entre os dias 10 e 13 de janeiro de 2024, em Knoxville, no Tennessee.
Vale destacar que o multicampeão Frederico Castro é patrocinado pelo governo do Estado do Maranhão e pelo Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte.
O estudante Álvaro Ribeiro, de 21 anos, fez o Exame Nacional do Ensino Médio utilizando o recurso de videoprova em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, em 2018 e em 2019. A primeira vez foi só para conhecer a prova, e, na segunda, ele conseguiu a pontuação suficiente para ingressar no curso de Gestão Pública do Instituto Federal de Brasília (IFB), na capital federal.
Apesar de entender bem a Língua Portuguesa, o aluno, que tem deficiência auditiva e paralisia cerebral, sente dificuldade para compreender algumas palavras e expressões. Para ele, a oportunidade de fazer a prova em Libras, que domina, foi fundamental para ingressar no ensino superior.
“Para mim, é complicado entender o português escrito, não são todas as palavras que entendo. Se não tivesse a videoprova, iria me prejudicar, seria uma barreira para eu entender as questões”, diz Ribeiro.
A videoprova do Enem em Libras é um recurso oferecido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) desde 2017. Nela, as questões e as opções de respostas são apresentadas na Língua Brasileira de Sinais por meio de um vídeo. Os editais, as cartilhas e as campanhas de comunicação do Enem também são disponibilizados em Libras.
O recurso é importante porque muitos surdos e deficientes auditivos têm a Libras como primeira língua e o português como segunda, o que dificulta o entendimento da prova no formato tradicional. Em 2023, 641 candidatos ao Enem pediram a aplicação da videoprova em Libras e 718 candidatos pediram um tradutor-intérprete em Libras. Segundo o Inep, cerca de 61,5 mil alunos da educação básica têm alguma deficiência relacionada à surdez no Brasil.
Além do recurso da Libras para os estudantes surdos, o Inep oferece outros tipos de atendimento e recursos de acessibilidade no Enem. Nesta edição, o Inep aprovou 38.101 solicitações de atendimento especializado e 70.411 pedidos de recursos de acessibilidade.
Entre os recursos mais pedidos pelos participantes, estão o auxílio para leitura, com 10.721 solicitações aprovadas, a correção diferenciada, com 8.703, o auxílio para transcrição, com 7.507, e a sala de fácil acesso, com 6.449 pedidos. Entre os atendimentos especializados, as solicitações de pessoas com deficit de atenção alcançaram o maior número, com 13.686 pedidos aprovados, seguido pelo número de inscritos com baixa visão, que totalizaram 6.504.
Outros recursos de acessibilidade oferecidos são auxílio para leitura e para transcrição, leitura labial, leitura tátil e cartão-resposta ampliado.
Você sabia que Santa Teresa d'Ávila não morreu no dia 15 de outubro, mas no dia 4 desse mês?
Saiba a grande coincidência, de alcance mundial, que ocorreu neste dia. Teresa d'Ávila é considerada um dos maiores gênios que a Humanidade já produziu.
Mesmo ateus e livres-pensadores enaltecem sua vida e inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo bom senso. (Edmilson Sanches)
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No dia 15 de outubro de 1827 dom Pedro I oficializou o ensino no Brasil. Em 1963, a data foi nacionalmente oficializada também como Dia dos Professores. O 15 de outubro é o dia em que se homenageia, em diversas partes do mundo, Santa Teresa d'Ávila.
A santa de Ávila também é a santa da Vila. Da Vila do Frei. Da Vila de Imperatriz.
(2) A PADROEIRA
15 de outubro é o dia de Santa Teresa d’Ávila, também chamada Santa Teresa de Jesus. A data é a do dia de sua morte, há 441 anos, em 1582. Santa Teresa é a padroeira de Imperatriz e conta-se que sua imagem foi trazida pelo frei Manoel Procópio do Coração de Maria, o fundador da cidade. Segundo a Diocese de Imperatriz, a imagem da santa que se encontra na igreja imperatrizense que leva o seu nome foi trazida pelo frade carmelita, que logo cuidou de erguer um templo próprio para Santa Teresa. Esse templo, hoje, é a igreja matriz, na Avenida Frei Manoel Procópio do Coração de Maria.
(3) A CIDADE
Santa Teresa nasceu em 28 de março de 1515, na cidade de Ávila, Espanha. Daí o nome com que também chamam a santa: Teresa d’Ávila, que significa Teresa da cidade de Ávila. No tempo em que viveu, chamado o “século áureo” da Espanha, Santa Teresa pôde ver seu país tornar-se um grande império, que ia além de seu continente, a Europa, e estendia-se da Argentina à Califórnia, nos Estados Unidos. Hoje, a Espanha é um país de 506 mil quilômetros quadrados (menor que o Estado de Minas Gerais) e 47 milhões de habitantes (pouco mais do que o Estado de São Paulo, que tem 44,4 milhões de habitantes). A cidade de Ávila é classificada como Patrimônio da Humanidade. Tem 231km2 e 58 mil habitantes. Está situada a mais de 1.100 metros de altitude (dez vezes mais que Imperatriz) e é comum nevar no inverno, com ventos fortes, gerando bloqueio das rodovias. Ávila é cercada por uma muralha do século XI – a mais bem conservada da Europa –, que mede 2km de comprimento e tem 88 torres. Em homenagem a sua ilustre filha, há muitos templos religiosos dedicados a Santa Teresa. A Catedral de Ávila tem em seu exterior desenhos de imagens selvagens, que, segundo acreditavam, serviam para assustar invasores.
(4) A FAMÍLIA
O nome de Santa Teresa era Teresa de Cepeda y Ahumada, filha de dom Alonso de Cepeda e dona Beatriz de Ahumada. Seu avô paterno era Juan Sanches, um rico mercador judeu, admirado pelos seus dotes de administrador mas odiado por ser um “cristão-novo”, isto é, um judeu convertido ao cristianismo através do batismo, o primeiro dos sete sacramentos da Igreja Católica Apostólica Romana. Os filhos de Juan Sanches, inclusive dom Alonso, pai de Teresa, ingressaram na nobreza. Não era a “alta” nobreza, mas uma nobreza, digamos, “classe média”. Para isso, compraram direitos de fidalguia e casaram-se com mulheres fidalgas. Santa Teresa, porém, em seus escritos, não menciona esses aspectos de nobreza da sua família. Teresa teve bastante irmãos, 10 ou 11 ao todo. Era, contudo, a mais querida. Os pais eram tementes a Deus e ensinaram Teresa na virtude da piedade e das prendas domésticas. Ouvia muito seus pais lerem a vida de santos da Igreja. O ambiente era convidativo: noites longas de inverno, lareira e o calor da família. Essas leituras impressionaram tanta a garotinha que, aos 7 anos de idade, junto com seu irmão Rodrigo, tentou uma fuga da cidade, pois queria “ver a Deus”.
(4) A RELIGIOSA
Quando tinha 13 anos, Teresa vê morrer-lhe sua mãe, dona Beatriz, que era a segunda esposa de seu pai. Sem sua mãe, Teresa lança-se aos pés da Virgem Maria, pedindo-Lhe que seja sua mãe. O pai a coloca no Mosteiro das Irmãs Agostinianas e, em um ano e meio que lá permanece como interna, reacende em Teresa sua vontade de servir a Deus. Aos 20 anos, Teresa foge de casa. Era o dia 2 de novembro de 1535. Entra no Mosteiro da Encarnação de Ávila. Quer ser religiosa, carmelita – coisa que o pai não aprovava. Mas Teresa sabia que o amor que ela queria não estava nem na Terra nem nos homens. Eram os céus, era Deus a fonte provedora do amor que lhe bastava. Passou três anos em dedicada vida religiosa, que foi obrigada a largar para tratar-se, pois estava severamente doente. O mal se agravou e, em 1539, é dada como morta. Só não foi enterrada porque seu pai não deixou. Três dias depois, Teresa volta à vida e, embora paralítica, retorna ao mesmo convento em Ávila. É a São José que ela credita seu restabelecimento. Nos 15 anos seguintes (seu pai já morrera, em 1543), Teresa tem crises espirituais, resiste e, aos 39 anos, tem sua transformação mais profunda. Isso ocorre após contemplar uma imagem de Jesus Cristo cheio de feridas das lanças dos soldados. Daí o nome de Teresa de Jesus. Sua conversão é tão completa que ela rompe seus laços com a materialidade humana.
Morre a mulher. Começa a nascer a santa.
(5) A CARMELITA
Aos 45 anos, em 1560, Santa Teresa ouve, numa reunião de monjas, uma sugestão meio brincalhona de fundar um convento. Contra tudo e contra todos, ela cria, em 24 de agosto de 1562, o Mosteiro São José – o nome era a lembrança do santo que lhe devolvera à vida. Os superiores carmelitas não aprovaram a iniciativa de Teresa e ela foi obrigada a voltar ao convento. Mas não descansou: no fim de 1562, é aprovada a fundação e Roma dá-lhe a condição de fundadora e legisladora. Daí em diante, até o ano de sua morte (1582), Teresa fundou 17 mosteiros para mulheres e 13 para homens. Eram os Carmelitas Descalços, expressão que lembra a observância à pobreza e à disciplina rigorosa. Os carmelitas só deixaram de andar descalços quando viram ser mais prudente estar calçados, no caso, com humildes sandálias de cordas, as mais usadas pelos mais pobres.
(6) A SANTA
Santa Teresa d’Ávila escreveu muito, orou sempre. Foram mais de 15 mil cartas e diversos livros, entre eles “Livro da Vida”, “Caminho de Perfeição”, “As Moradas”, “As Fundações”.
Em 15 de outubro de 1582, na cidade de Alba de Tormes, Teresa mudou de vida. Morreu para sobreviver nos corações e na fé dos que a ela se devotam. Em 27 de setembro de 1970, o Vaticano declarou Santa Teresa “Doutora da Igreja”. Com isso, a doutrina e espiritualidade de Santa Teresa deixaram de lhe pertencer e também deixaram de ser apenas da ordem carmelita. Foram transformados em tesouro de toda a Igreja.
(7) A DOUTORA
Santa Teresa de Ávila está entre os 33 doutores da Igreja, entre eles três mulheres. Foi a segunda mulher a ter esse título. A primeira foi Santa Catarina de Sena (nascida em 1347; morreu em 1380); a terceira foi Santa Teresa de Lisieux (1873–1897).
(8) A DATA
O dia 15 de outubro só se tornou o dia de Santa Teresa D’Ávila por uma coincidência. Na verdade, Teresa morreu em 4 de outubro, 11 dias antes. Entretanto, exatamente naquele dia, mês e ano (4 de outubro de 1582), aconteceu a reforma do calendário: saiu o calendário juliano, adotado pelo imperador Júlio César desde o ano 46 antes de Cristo, e entrou, com poucas modificações, o calendário gregoriano, criado pelo papa Gregório XIII. A substituição de calendários se deu porque a Igreja não estava concordando com uma incorreção no calendário anterior – que, por sua vez, substituíra com vantagem o calendário egípcio. Uma falha de cálculo fizera com que, ao longo do tempo, houvesse um erro de 11 dias. Assim, como os dias santos da Igreja baseavam-se no calendário, poderia ocorrer que a Páscoa caísse no inverno e o Natal, no outono. O acerto no calendário foi feito e o dia 4 de outubro de 1582, quando morreu Santa Teresa, passou a ser 15 de outubro. Esse calendário é o que usamos ainda hoje.
*
CRONOLOGIA
1515
Nasce Teresa, em 28 de março, na cidade de Ávila, Espanha.
1522
Com um irmão, tenta fugir de casa, aos sete anos de idade, para “ver a Deus”.
1528
Morre sua mãe, dona Beatriz.
1535
Foge de casa, em 2 de novembro, e entra no Mosteiro da Encarnação de Ávila.
1538
Sai do mosteiro, severamente doente, para tratar-se em casa.
1539º
O mal se agrava e é dada como morta. Três dias depois, volta à vida.
1543
Morre seu pai, dom Alonso.
1560
Ouve, aos 45 anos, sugestão para fundar um convento.
1562
Cria, em 24 de agosto, o Mosteiro São José.
1582
Morre aos 67 anos, em 15 de outubro, na cidade de Alba de Tormes (Espanha).
*
FRASES DE TERESA D'ÁVILA
“O progresso da alma não está no muito refletir, mas no muito amar”.
“A oração não é senão um ato de amor, e é insensato pensar que só se pode orar quando se dispõe de tempo e de solidão”.
“Deus tem cuidado dos nossos interesses muito mais do que nós mesmos”.
“Uma ou duas pessoas que digam a verdade valem mais do que muitas reunidas”.
“Jamais chegaremos a conhecer-nos se juntos não procuramos conhecer a Deus”.
“A companhia do bom Jesus é proveitosa demais para que nos afastemos dela. O mesmo acontece com a companhia de Sua Santíssima Mãe!”
“Quem começa a servir verdadeiramente o Senhor, o mínimo que Lhe pode oferecer é a própria vida”.
“Nada te inquiete, nada te meta meda. Tudo passa, Deus sempre permanece o mesmo. A paciência tudo consegue. Àquele que tem Deus consigo, nada há de faltar. Só Deus basta!”
*
QUER CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE A PADROEIRA DE IMPERATRIZ?
Alguns livros de e sobre Santa Teresa d'Ávila (ou Santa Teresa de Jesus), da biblioteca de Edmilson Sanches:
1) “Teresa, a Santa Apaixonada” – Rosa Amanda Strausz – (Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2004)
2) “30 dias com Santa Teresa de Jesus” – Padre Antônio Lúcio da Silva Lima (org.) – (Editora Paulus, São Paulo, 2001)
3) “Itinerário Espiritual de Santa Teresa de Ávila” – Frei Pedro Paulo Di Berardino – (Editora Paulus, São Paulo, 1999)
4) “’Deixe-se Amar’ – Experiência de Deus com Teresa d’Ávila” – Frei Patrício Sciadini – (Edições Loyola, São Paulo, 2004)
5) “Quando o Coração Reza...” – (seleção de textos de Frei Patrício Sciadini) - (Editora Cidade Nova, São Paulo, 2007)
6) “As Fundações” – Santa Teresa de Jesus - (Edições Loyola, São Paulo, 2012)
7) “La Vida, Las Moradas” – Santa Teresa de Jesús (edição em castelhano) – (PML Ediciones, Madrid, 1995)
8 -) “Caminho de Perfeição” – Santa Teresa de Jesus - (Edições Paulinas, São Paulo, 1977)
9) “Livro da Vida” – Santa Teresa de Jesus - (Edições Paulinas, São Paulo, 1983)
10) “Santa Teresa” – (coleção Gigantes da Literatura Universal – Editorial Verbo, Lisboa, 1972)
A peça teatral “Teresa”, de Alexandre Dumas, não está relacionada a Teresa d'Ávila (tenho uma edição em italiano de 1880, publicada em Milão pelo livreiro C. Barbini, número 297 da Biblioteca Ebdomadaria Teatrale).
* EDMILSON SANCHES.
Ilustrações:
A igreja de Santa Teresa d'Ávila, em Imperatriz (MA), e capa de alguns livros de/sobre Santa Teresa d'Ávila, da biblioteca de Edmilson Sanches.
A professora brasileira Maria Janerrandra, que fala espanhol, ensina alunos venezuelanos de 6 a 18 anos na Escola Classe Café Sem Troco, na área rural do Distrito Federal. A escola recebe crianças e adolescentes indígenas, da etnia Warao Coromoto, que vieram refugiados da Venezuela para o Brasil. Muitos deles, além de não falarem o português, não estão alfabetizados.
“Tudo é muito novo para eles. Acho que, hoje em dia, eu não me imagino numa sala normal, fazendo aquela coisa tradicional”, afirma a professora.
Essa é uma das histórias contadas no programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, que vai ao ar neste domingo (15), às 22h. No Dia do Professor, serão apresentadas histórias de profissionais que colocam em prática a educação do país, mesmo que nem sempre tenham apoio, investimentos e atenção.
Outra história é a da professora Gina Vieira Ponte, criadora do projeto “Mulheres Inspiradoras”, que, por meio da leitura de livros, levou os alunos a conhecer histórias de mulheres que mudaram o mundo. Ex-aluna de Gina, Joyce Barbosa Pereira teve a oportunidade de ilustrar a capa do livro que foi o resultado do projeto. A partir dali, inspirada pela professora, surgiu a vontade de dar aula. “Essa professora que tento ser hoje é muito desta professora que eu me inspiro na Gina, de chegar aos alunos, de inspirar e de ser um agente de transformação social”.
O professor de Sociologia Osvaldo Lima de Oliveira divide o tempo em sala de aula com reuniões de coordenação, planejamento de aulas e correção de provas. “Você acaba extrapolando literalmente o horário que é necessário porque você quer ver a coisa funcionar, você quer oferecer não só o feijão com arroz”.
As questões de saúde mental dos profissionais também são abordadas no programa. “Tem professores, especialmente dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, que são responsáveis por mais de 200, 300 alunos, que trabalham em mais de duas escolas, com jornadas de trabalho extenuantes, às vezes acima de 40 horas”, afirma a diretora de Políticas Educacionais do Instituto Península, Mariana Breim.
A programação da TV Brasil pode ser acompanhada pelo canal aberto, por TV por assinatura e por parabólica.
Quando a pandemia da covid-19 começou e o ensino remoto se tornou a única alternativa pedagógica, não faltaram análises otimistas sobre o uso dos recursos digitais. Além de potencializar o aprendizado, esperava-se que a comunicação entre estudantes e professores fosse mais próxima e horizontal. Mas o que têm sido identificado por especialistas em educação e entidades sindicais é que os ambientes virtuais registram cada vez mais casos de violência e hostilidade. Também são lugares favoráveis para disseminação de discursos de ódio, que podem resultar em agressões presenciais. Nos dois casos, professores são alvos comuns e precisam lidar com as consequências na saúde física e mental.
Queixas do tipo aumentaram no Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Sepe). A coordenadora Helenita Beserra diz que estudantes e responsáveis têm utilizado as redes sociais dos professores ou contatos diretos via WhatsApp para os desrespeitar e os atacar.
“Temos, aqui, um grupo grande de profissionais que está se sentindo perseguido. Entram nas redes sociais deles, para fazer patrulhamento da posição política e contestam, de forma agressiva, as publicações ali. Esses casos estão se tornando corriqueiros, e os profissionais estão sofrendo com essa pressão psicológica e o estresse”, diz Helenita.
Há algumas semanas, profissionais do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, relataram que uma professora de inglês levou tapas de um aluno por causa de um desafio publicado na rede social Tik Tok. Outros casos comuns de violência envolvem linchamentos virtuais, cyberbullying e gravações não autorizadas com o objetivo de humilhar os profissionais.
Quando o professor é vítima dessas agressões, a orientação sindical é procurar as autoridades competentes para que agressor ou pais sejam responsabilizados.
“Em casos mais graves contra os profissionais, colocamos o departamento jurídico à disposição para ajudá-los a fazer esse enfrentamento. Quando a situação é ainda mais delicada, o correto é procurar uma delegacia para fazer o registro policial. De preferência alguma especializada em crimes cibernéticos”, orienta Helenita.
Motivações
Violências contra professores têm diferentes motivações. Quando se trata especificamente do ambiente virtual, o pesquisador Antônio Álvaro Soares Zuin tem uma tese para explicar uma das dimensões que explicam a hostilidade de estudantes contra professores.
No livro “Cyberbullying contra professores”, lançado em 2017, o professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) argumenta que vivemos em uma “era da concentração dispersa” impulsionada pelas tecnologias de comunicação. Nesse contexto, os alunos projetam uma espécie de rivalidade entre dispositivos digitais e os professores.
“Desde os primórdios das relações ensino-aprendizagem, os professores foram responsáveis pela manutenção do foco de atenção dos alunos em relação aos conteúdos. Várias metodologias foram desenvolvidas para garantir isso. Desde a via dialógica até a aplicação de punições físicas e psicológicas. Hoje em dia, é preciso um esforço muito grande para manter a atenção e ler qualquer conteúdo em profundidade, uma vez que queremos ficar conectados aos celulares o tempo todo” argumenta Zuin.
“Para os alunos, vai ficando absolutamente insuportável focar durante horas numa figura como o professor. E aí, eles acabam, de certa maneira, se vingando contra essa figura que historicamente foi responsável pela manutenção da atenção deles”, completa.
Quando a escola não favorece o diálogo, silencia estudantes e o professor se coloca como uma figura autoritária, casos de violência podem ser potencializados. A análise é de Telma Brito Rocha, doutora em educação e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela é autora do livro “Cyberbullying: ódio, violência virtual e profissão docente”, de 2012.
“Sabemos que o professor sofre com uma série de violências cotidianas. Mas também é preciso entender como as agressões dos estudantes podem ser ressonâncias de práticas escolares”, diz Telma. “Essa violência vem muitas vezes do professor, que imprime uma perseguição por causa de determinados comportamentos dos alunos em sala de aula. Existe a repressão em relação a como o aluno se senta, como fala, como se veste, como deve se portar e estar no ambiente. Isso tudo acaba por gerar revoltas, que por sua vez podem gerar outras violências”.
Caminhos alternativos
Os dois pesquisadores entendem que, para combater as agressões contra professores, sejam nos ambientes presenciais ou virtuais, é preciso transformar a escola em lugar permanente de diálogo e resolução de conflitos. Em outras palavras, dar mais espaço para que os alunos sejam ouvidos e expressem insatisfações.
“O espaço educacional é um espaço de conflito e cooperação. Não é um lugar sempre tranquilo, onde as pessoas vão sorrir o tempo todo. A gente tem que buscar a via pedagógica para resolver os problemas. Não é eliminar o aluno que agrediu, enviar para outro colégio e transferir o problema. Precisamos que o Poder Público, as secretarias de Educação, invistam em equipes multidisciplinares. O problema exige cada vez mais estratégias que possam dar conta dessa complexidade e envolver diferentes áreas do conhecimento”, diz Telma Brito Rocha.
“O professor tem que redimensionar o significado da autoridade educacional. Principalmente no sentido de realizar uma espécie de autocrítica, de não querer persuadir o aluno que ele é o dono da verdade. Além disso, a escola deveria promover espaços e situações em que professores, alunos e pais possam se reunir e tentar entender o porquê de estar acontecendo alguma violência, para tentar estabelecer determinadas ações conjuntas. Se houver um espaço propício para esses contratos sociais pedagógicos, a prática de cyberbullying tende a cair”, diz Antônio Zuin.
Educação digital na infância
Projetos que desenvolvem uma educação digital direcionada para crianças e jovens também podem ser caminhos de prevenção e combate à violência na internet. É o caso do programa criado pela professora Maria Sylvia Spínola, chamado de “Educação midiática na prática”. Ele é voltado para crianças do 5º ano, que tem em média 10 ou 11 anos de idade, nas salas de aula da rede pública onde ela leciona. Mestre em ensino e educação na área de tecnologias digitais, Maria Sylvia trabalha principalmente a formação do senso crítico e da responsabilidade nos ambientes virtuais.
Os aprendizados incluem o uso dos mecanismos de busca, checagem de fatos, diferenciar opinião de informação, e como se comportar de forma crítica e ética nas redes sociais.
“Quando a gente trabalha questões de bullying, golpe, assédio ou violências que acontecem na internet, as crianças muitas vezes conseguem perceber quando elas são vítimas. Mas elas não conseguem perceber quando elas estão sendo agressivas ou usando linguagens impróprias. Eu trabalho em cima dessa perspectiva também”, explica a professora. “Considerando que a educação midiática tem como base a formação da cidadania, que ajuda no bom uso das ferramentas e em como se expressar de maneira responsável, acredito que estamos contribuindo na construção de um cidadão ético”.
A professora reforça, no entanto, que as instituições de ensino não são as únicas responsáveis por prevenir violências e comportamento inadequados dos estudantes nas redes. É preciso engajar toda a sociedade nesse processo.
“A gente precisa considerar todas as questões sociais, emocionais, e os ambientes familiares. Muitas crianças não têm orientação parental sobre o bom uso da internet, não estão envolvidas em práticas seguras”, reforça Maria Sylvia. “A escola é muito cobrada como parte responsável por educar a sociedade, e a gente esquece a importância de envolvimento da família e do Poder Público. É aquela máxima, não se educa uma criança sem o movimento de uma aldeia inteira”.
A saúde dos professores não vai bem no Brasil. É o que aponta o livro Precarização, Adoecimento & Caminhos para a Mudança. Trabalho e saúde dos Professores, lançado, na semana passada, pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).
O livro foi lançado durante o V Seminário: Trabalho e Saúde dos Professores – Precarização, Adoecimento e Caminhos para a Mudança. Durante o seminário, os pesquisadores apontaram que, seja na rede pública ou na rede privada, os professores sofrem de um mesmo conjunto de males ou doenças, em que há predomínio dos distúrbios mentais tais como síndrome de burnout, estresse e depressão. Depois deles, aparecem os distúrbios de voz e os distúrbios osteomusculares (lesões nos músculos, tendões ou articulações).
“Os estudos têm mostrado que as principais necessidades de afastamento para tratamento de saúde dos professores são os transtornos mentais. Quando olhávamos esses estudos há cinco anos, eles apontavam prevalência maior de adoecimento vocal. Mas isso está mudando. Hoje, os transtornos mentais já têm assumido a primeira posição em causa de afastamento de professores das salas de aula”, disse Jefferson Peixoto da Silva, tecnologista da Fundacentro.
Segundo Frida Fischer, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), entre os principais problemas enfrentados por docentes no trabalho está a perda de voz, a perda auditiva, os distúrbios osteomusculares e, mais recentemente, as doenças mentais. “Essas são as principais causas de afastamento dos professores”, disse, em entrevista coletiva.
Uma pesquisa realizada e divulgada, recentemente, pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) já havia apontado que muitos professores estão enfrentando problemas relacionados à saúde mental e que isso pode ter se agravado com a pandemia do novo coronavírus.
Violência
Outro problema que agravou a saúde dos professores é a violência, aponta Renata Paparelli, psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Segundo ela, o adoecimento dos professores pode ser resultado de três tipos de violência: a física, como as agressões e tapas; as ameaças; e também as resultantes de uma atividade psicossocial cotidiana, como os assédios, por exemplo, relacionados à gestão escolar. Além disso, destaca, há também os episódios de ataques contra as escolas.
As consequências dessas violências, diz Renata, podem resultar tanto em um problema físico, tais como uma lombalgia ou lesão, quanto em uma doença relacionada a um transtorno de estresse pós-traumático.
“A escola não é uma ilha separada de gente. A escola está dentro de uma comunidade, está na sociedade, e todos os problemas da sociedade vão bater lá na porta da escola. O tempo todo a escola reflete os problemas que existem na sociedade”, ressaltou Wilson Teixeira, supervisor escolar da Secretaria Municipal de Educação da prefeitura de São Paulo. “Então, a escola também pode ser promotora de violência. Uma gestão autoritária, por exemplo, pode causar sim adoecimento dos professores”, destacou.
Além da violência, a falta de recursos ou de condições apropriadas também contribui para que o professor adoeça. Isso, por exemplo, está relacionado não só à infraestrutura da escola como também aos baixos salários, jornadas excessivas e até a quantidade de alunos por salas de aula. “As doenças relacionadas ao trabalho estão diretamente relacionadas às condições de trabalho, aos recursos que os professores têm para a administração de seu cotidiano. Quando as condições de trabalho são precárias, tanto em infraestrutura quanto em recursos ou exigências, e quando existe um desequilíbrio entre o que o professor tem de fazer e aquilo que é possível ser feito dentro daquelas condições, as pessoas vão adoecer”, disse Frida Fischer.
Para Solange Aparecida Benedeti Penha, secretária de assuntos relativos à saúde do trabalhador da Apeoesp, parte desses problemas podem ser resolvidos com o fortalecimento das denúncias e também por meio de negociações entre os sindicatos e os governos. “Defendemos menos alunos nas salas de aula, professores valorizados e, consequentemente, isso vai trazer uma melhoria para a educação”, disse.
Para Jeffeson Peixoto da Silva, todas essas questões demonstram que é necessário que sejam pensadas políticas públicas voltadas também para o bem-estar dos professores. “A principal conclusão do livro é a questão das políticas públicas, a importância de termos políticas públicas e que sejam favoráveis às melhorias das condições de saúde e de trabalho dos professores. Medidas pontuais podem beneficiar alguns, mas temos, no Brasil, um número muito grande de professores, mais de 2 milhões, que vivem em regiões e situações diferentes. Então, as políticas públicas são aquelas capazes de abranger toda essa necessidade”, disse Silva.
No dia a dia e no entra ano e sai ano de suas atividades, vocês todos têm aprendido uma dura lição: lutar é preciso. Protestar é preciso. Reivindicar é preciso. Denunciar é preciso.
Há quem defina o ensino como um sacerdócio. Há quem queira ver o professor apenas como um sacerdote. Assim, o professor não teria um trabalho, mas uma missão. A função do professor seria apenas educativa, social, e não política, (r)evolucionária.
Mas não é isso – ou, melhor, não é apenas isso. Do sacerdote (pelo menos, da imagem antiga que se faz dele), espera-se paciência, contrição, suportação. Sofrer calado. Aguardar resignado. Esperar sentado. E, enquanto isso, sobreviver à custa de dízimos miseráveis e infrequentes.
Chega! Basta! Ou, como se diz por aí: “Fala sério!...”
Professor rima com trabalhador. Professor é trabalhador. Ele está sujeito aos mesmos mecanismos de freios e contrapesos a que são submetidas outras categorias do mercado de trabalho e das relações laborais.
Ora, se aos professores se aplicam regras trabalhistas, por que, correspondentemente, não podem eles salvaguardar-se brandindo as armas de que dispõem, efetivando os recursos que têm? As relações de trabalho não se baseiam apenas na hierarquia, mas também, senão sobretudo, no direito. Bilateralismo. Mão dupla.
Desse modo, é válida a luta.
Já houve momentos em que se acusaram professores pelo atraso do calendário escolar, mas os acusadores eximiram-se do atraso no calendário de pagamento dos salários.
Já acusaram professores de prejudicar os alunos, mas absolveram-se do prejuízo econômico, social e até moral que, pela dinâmica da economia, ante a irregularidade de pagamentos salariais, contamina a família dos professores e os negócios e a vida daqueles com quem os professores mantêm interações econômicas e sociais.
Já acusaram professores de má conduta, mas esqueceram-se de que ela pode ser um bom exemplo. Por paradoxal que pareça, mas até uma ausência temporária do professor a uma sala de aula pode, de algum modo, servir de “lição” de cidadania para o aluno.
Se adequadamente apropriados, alguns dias de ausência podem transformar-se, no aluno, em aprendizado permanente: o de saber que, no mundo humano, até paciência tem limite; o de que a todo dever corresponde um direito; o de que a toda ação (ou falta dela) corresponde A uma reação – preservada a razoabilidade.
Afinal, educar não é tão-só dar aulas, mas, muito mais, ser exemplo.
E, pelo visto, enquanto categoria, professores devem ser exemplo: são maleáveis, mas não moles; flexíveis, mas não frouxos.
É importante que, além de serem educadores, continuem sendo educados.