O 25º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte (FestCurtasBH), que começa nesta quarta-feira (11), vai homenagear a cineasta e artista multimídia afro-americana Cauleen Smith. O festival vai até o dia 22 deste mês, com exibições presenciais na Fundação Clóvis Salgado - Palácio das Artes, e on-line no site do Cine Humberto Mauro. A programação completa do FestCurtasBH pode ser consultada aqui. Todo o festival é gratuito e aberto ao público.
Nascida em Riverside, na Califórnia, no dia 25 de setembro de 1967, Cauleen Smith é mais conhecida pelo longa-metragem Drylongso e por trabalhos experimentais que abordam a identidade afro-americana, especificamente as questões enfrentadas, atualmente,e pelas mulheres negras.
Atualmente, Caullen é professora do Departamento de Arte da Universidade da Califórnia, situada em Los Angeles. “Ela é uma artista multidisciplinar. Trabalha com várias mídias. Na base, ela é cineasta, mas desenvolve trabalhos como exposições, álbuns de música, poesia e performances, além de ser professora. É uma artista bem múltipla e tem uma liberdade muito grande de ir de um meio a outro”, informou, na última segunda-feira (9/10), à Agência Brasil a curadora do festival, Ana Siqueira.
Diálogo
Segundo Ana Siqueira, a ideia é apresentar vários aspectos do trabalho de Cauleen, englobando sessões de curtas e o longa-metragem Drylongso que, embora tenha sido reconhecido, teve circulação bem limitada. “O filme foi restaurado e está sendo redescoberto agora e aclamado, porque, na época, não teve o reconhecimento devido”, disse Ana. Cauleen estará presente no festival no dia 19, no Palácio das Artes, onde conversará com o público, às 21h, e sobre seus filmes e instalações mais recentes. “Dá para conhecer os pensamentos dela, de muita liberdade artística”. Esta é a primeira vez que a cineasta vem ao Brasil.
No dia 22, às 17h, será aberta a mostra Cauleen Smith – As possibilidades cotidianas da imaginação, seguida da exibição do filme Drylongso, com classificação para 14 anos. Às 20h, haverá sessão de filmes premiados.
Segundo a curadora do evento, Cauleen é muito conhecida no mundo. “Ela tem muita circulação no exterior, mas, no Brasil, foi exibida de forma mais pontual. Nunca veio ao Brasil. Seu nome dela chegou para nós em um momento em que estávamos lidando muito com o cinema negro”, ressaltou Ana.
Desde 2018, o trabalho de Cauleen Smith vem sendo acompanhado pela curadoria do FestCurtasBH, mas sua vinda esbarrou na pandemia de covid-19. Agora, chegou a hora do encontro. “Ela está ansiando por isso. Já trabalhou com pessoas brasileiras. Era um desejo dela também ter a experiência no meio do cinema do Brasil”, enfatizou Ana Siqueira.
Cauleen é participante do movimento do Afrofuturismo, estética literária e cultural emergente que combina elementos de ficção científica e histórica, fantasia, afrocentricidade e realismo mágico com cosmologias não ocidentais, a fim de criticar não apenas os dilemas atuais de pessoas de cor, mas também para revisar, interrogar e reexaminar os acontecimentos históricos do passado.
O festival
Além de filmes de curta-metragem, o FestCurtasBH promove diversas atividades artísticas, como shows, apresentações teatrais e exposições, em busca de uma "amarração" com outras atividades artísticas, informou a curadora. O festival faz parte de um centro cultural importante, a Fundação Clóvis Salgado, que trabalha com diversas formas de arte. “O FestCurtasBH está bem inserido aí”.
Das 3.031 inscrições recebidas, o evento selecionou 142 curtas-metragens de 34 países e 18 unidades federativas brasileiras entre mostras competitivas, paralelas e especiais: São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco, Rio De Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, Amapá, Distrito Federal, Mato Grosso, Piauí e Rio Grande do Norte.
Haverá mostras de filmes contemporâneos ”mais interessantes, mais instigantes na atualidade, tanto no Brasil, como no mundo”, destacou a curadora. Entre os 142 filmes selecionados, estão os curtas contemporâneos e, também, os de mostras especiais, como Cauleen Smith: as possibilidades cotidianas na imaginação e Manifestar o desejo: mulheres e dissidências na América Latina, de 1966 a 2021. As duas mostras não envolvem filmes recebidos, mas têm uma proposta de curadoria.
Fora as mostras especiais, o FestCurtasBH reúne eventos competitivos contemporâneos, com curtas brasileiros e de outros países, de 2022 e 2023, englobando competição internacional, competição Brasil, competição Minas. Além disso, há mostras para a juventude e de animação e infantis, mais segmentadas em relação ao tema, gênero, interesse, geografia e faixa etária.
Há, também, atividades formativas. “Já é o sexto ano que a gente faz oficinas de crítica”, disse Ana Siqueira. Nos últimos anos, já foram formados ou aprimorados cerca de 50 críticos. Segundo Ana, trata-se de um processo de formação muito importante, que contribuirá tanto para a formação de espectadores quanto de críticos de cinema. Atividades de teatro infantil também estão previstas. “Nosso desejo é formar público desde criança”, destacou a curadora. Ela acrescentou que a programação do FestCurtaBH é aberta a todas as idades.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deverá mudar nos próximos anos, acompanhando as alterações nos currículos do ensino médio em todo o país. Essa mudança, no entanto, ainda deve demorar. Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, um novo modelo poderá começar a ser aplicado apenas a partir de 2025, depois de ser amplamente discutido. A Agência Brasil conversou com estudantes e especialistas sobre o que esperar do futuro do Enem.
Atualmente, o Enem é composto por provas de linguagens, ciências humanas, matemática e ciências da natureza que, juntas, somam 180 questões objetivas de múltipla escolha, além de uma prova de redação. O exame é aplicado em dois domingos. Teoricamente, o Enem deveria cobrar o que os estudantes aprenderam ao longo da trajetória escolar.
Em 2017, no entanto, o país aprovou o chamado novo ensino médio, que começou a ser implementado nas escolas públicas e particulares no ano passado. A previsão era que o Enem também mudasse, em 2024, para se adequar ao novo ensino. Pelo novo modelo, parte das aulas é comum a todos os estudantes do país, direcionada pela chamada Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios estudantes podem escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. As opções permitem ênfase nas áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino técnico. A oferta de itinerários depende da capacidade das redes de ensino e das escolas brasileiras.
Um parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2022 sugeria que o novo Enem tivesse duas etapas, uma tendo como referência a BNCC e, outra, que poderia ser escolhida pelo estudante de acordo com a área vinculada ao curso superior que pretende cursar. O governo anterior chegou a anunciar a nova proposta, mas ela não saiu do papel.
Critérios
O novo ensino médio sofreu várias críticas e, atualmente, está sendo rediscutido no âmbito do governo federal. Com isso, o cronograma de mudanças no Enem foi suspenso. As provas, que deveriam mudar já em 2024, agora terão também as mudanças adiadas.
“De certa forma, estão sendo feitos ajustes, não há como fazer um novo exame sem que o ensino médio esteja sendo implementado de forma clara”, diz o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais Chico Soares. Soares é ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que é responsável pelo Enem e é também ex-integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), onde foi um dos relatores da BNCC.
Soares explica que as mudanças no Enem ainda devem demorar, porque, mesmo depois que o novo modelo para o ensino médio for definido, ainda será preciso readequar as provas. “Vamos mudar o tipo de expectativa de aprendizagem”, diz. O Inep precisará, então, elaborar e testar novas questões antes de aplicá-las.
Segundo o ministro da Educação, o Enem deverá começar a ser reformulado a partir do ano que vem, para que as mudanças passem a valer a partir de 2025. As discussões devem ocorrer dentro dos debates do Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece metas para a educação a cada dez anos. Para Soares, a previsão é otimista. Ele estima que uma nova prova deve ser aplicada ainda mais tarde, a partir de 2026.
Preocupação
Para os estudantes, a situação provoca muita preocupação, segundo a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz. “Nos preocupa muito, porque o modelo de ensino mudou. Objetivamente, o ensino médio teve uma mudança muito brusca, uma redução da carga horária básica, que é muito importante e é o que cai no Enem. Tivemos uma redução e a gente acaba não vendo tudo no ensino médio e é o que será cobrado no Enem. Isso nos prejudica muito”, diz.
Segundo ela, o ensino médio anterior ao novo modelo não era o ideal, mas a redução da formação básica de forma abrupta acirrou a desigualdade entre escolas públicas e particulares, uma vez que cada rede de ensino oferta a formação de acordo com a própria capacidade.
A estudante diz que, embora o cronograma do novo ensino médio preveja a implementação gradual ano a ano, todas as séries do ensino médio estão sendo impactadas, inclusive quem atualmente cursa o 3º ano e vai prestar o Enem para buscar uma vaga no ensino superior. “Não tem as matérias que serão cobradas. Então, na visão do estudante da escola pública, vou fazer uma prova que sei que não vou passar”, diz e acrescenta: “Todas as séries estão sendo impactadas. E é surreal, porque serão três gerações, contando a partir de hoje, que serão atingidas por isso. O novo ensino médio nos aproxima do subemprego”.
Enem 2023
O Enem 2023 será nos dias 5 e 12 de novembro. De acordo com o Inep, mais de 3,9 milhões de pessoas estão inscritas. Desse total, 1,4 milhão, o equivalente a 35,6%, concluem o ensino médio este ano. Outros 1,8 milhão (48,2%) já concluíram o ensino médio em anos anteriores, e os demais 16,2% dos inscritos ainda não concluíram o ensino médio e farão a prova apenas para testar os conhecimentos, os chamados treineiros.
O Enem é a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil. É utilizado para o ingresso em instituições públicas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e para obtenção de bolsas de estudo em instituições privadas pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Também é usado para obter financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Além disso, os resultados do Enem também podem ser aproveitados nos processos seletivos de instituições estrangeiras que possuem convênio com o Inep para aceitar as notas do exame.
Dos 789,1 mil alunos ingressantes em cursos de licenciatura em 2022, 81% foram na modalidade de ensino a distância. Nas instituições privadas, 93,7% dos alunos de licenciatura que ingressaram foram nessa modalidade. Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior 2022, divulgado, nessa terça-feira (10), pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Para o ministro da Educação, Camilo Santana, é preciso atenção com a qualidade dos cursos de licenciatura na modalidade a distância. “Para nós, a formação do professor é fundamental para garantir a qualidade da aprendizagem das crianças e jovens da educação básica”, disse, lembrando que, no último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), as notas dos alunos dos cursos de licenciatura foram baixas.
Segundo Santana, o Ministério da Educação está estudando a adoção de uma reserva de 40% das vagas remanescentes do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para alunos de licenciatura, além de condições diferenciadas de pagamento do financiamento para quem ingressar nesses cursos, especialmente em áreas como Português, Matemática e Física. “Precisamos estimular nas áreas específicas, onde estamos precisando de professor”, disse Santana.
O Censo também mostrou que, nos últimos quatro anos, o número total de vagas oferecidas em cursos presenciais caiu 11%, e as vagas em cursos a distância aumentaram 139,5%. O número de cursos oferecidos a distância cresceu 189,1% no período. Dos 4,75 milhões de estudantes que ingressaram em cursos de graduação no Brasil, em 2022, 3,1 milhões foram na modalidade EaD e outros 1,6 milhão na modalidade presencial.
“Isso exige sinal amarelo ou vermelho aceso para que possamos tomar medidas importantes diante desse cenário”, disse o ministro. Segundo ele, o MEC irá reavaliar todo o marco regulatório do ensino a distância no Brasil e fazendo uma avaliação de 16 cursos para verificar a viabilidade de serem oferecidos na modalidade a distância. “A nossa preocupação não é o fato de ter um curso a distância, mas garantir a qualidade nesse curso que é oferecido. E é impossível determinados cursos serem oferecidos na modalidade a distância”, disse.
Instituições
O Brasil registrou 2.595 instituições de educação superior, em 2022, sendo 1.449 instituições privadas com fins lucrativos, 834 privadas sem fins lucrativos, 133 estaduais, 120 federais e 59 municipais. O número é um pouco maior que o de 2021, quando foram cadastradas 2.574 instituições.
Segundo o Censo, 41% das instituições possuem até 300 alunos e detém apenas 1% das matrículas de graduação. A rede privada conta com mais de 7,3 milhões de alunos, o que garante uma participação de 78% do sistema de educação superior.
Censo
Realizado, anualmente, pelo Inep em parceria com as instituições de educação superior que oferecem curso de graduação no Brasil, o Censo da Educação Superior é o instrumento de pesquisa mais completo do país sobre as instituições de educação superior que ofertam cursos de graduação e sequenciais de formação específica, bem como sobre seus alunos e docentes.
Todas as instituições de ensino devem responder ao Censo, sob risco de serem impedidas de aderir a iniciativas do Poder Público. A instituição que não preenche o Censo fica impossibilitada de participar do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), de aderir ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e ao Programa Universidade para Todos (Prouni) e de participar dos programas de bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) no ano seguinte.
O objetivo da pesquisa estatística é oferecer informações detalhadas sobre a situação e as tendências da educação superior brasileira, assim como guiar as políticas públicas do setor. Também contribui para o cálculo de indicadores de qualidade, como o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC). A atuação do Inep se concentra na apuração, na produção e no tratamento das estatísticas.
O português João Barrento é o vencedor do Prêmio Camões 2023, a mais importante honraria da literatura em língua portuguesa. A escolha se deu por consenso entre os jurados, em reunião virtual nesta terça-feira (10).
Ensaísta, crítico literário e cronista João Barrento, ele fará jus a uma quantia de 100 mil euros, valores concedidos por meio de subsídio do governo de Portugal e da Biblioteca Nacional do Brasil. Em nota de justificativa, o júri destacou algumas de suas qualidades.
“Em particular, as suas traduções de literatura de língua alemã, que vão da idade média à época contemporânea, e em todos os gêneros literários, formam o mais consistente corpo de traduções literárias do nosso patrimônio cultural e constituem indubitavelmente um meio de enriquecimento da língua e de difusão em português das grandes obras da literatura mundial”, registra o texto.
O Prêmio Camões foi instituído, em 1988, pelos governos do Brasil e de Portugal, como o objetivo de promover o estreitamento dos laços culturais entre os vários países lusófonos e enriquecer o patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. A primeira edição ocorreu em 1989. O júri, renovado a cada dois anos, é constituído por seis integrantes, sendo dois portugueses, dois brasileiros e mais dois designados em comum acordo pelos demais países lusófonos.
O nome do prêmio homenageia o poeta português Luís Vaz de Camões. Ele é atribuído aos autores, pelo conjunto da obra e pela contribuição para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. Considerando todas as edições, já foram agraciados 14 escritores portugueses, 14 brasileiros, três moçambicanos, dois angolanos e dois cabo-verdianos.
João Barrento será a segunda pessoa a receber o prêmio em 2023. Isso porque, em abril desse ano, finalmente houve a entrega ao compositor Chico Buarque, vencedor em 2019. Ele viveu uma situação atípica. O então presidente Jair Bolsonaro, de quem é crítico, se recusou a assinar o diploma de premiação. Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva destravar a premiação. (Fonte: Agência Brasil)
Tudo pronto para o início da segunda edição do Praia do Futebol, competição que promete agitar a cidade de São Luís a partir deste mês. As disputas dessa iniciativa, que conta com os patrocínios do governo do Estado, do Grupo Audiolar e da Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, vão começar no próximo domingo (15), com os duelos do torneio de travinha Sub-15, a partir das 9h15, na Praia do Calhau, em São Luís.
Dezesseis equipes estarão competindo pelo título do torneio de travinha Sub-15, que terá formato eliminatório. No domingo, haverá os confrontos das oitavas e quartas de final. Todos os duelos foram definidos durante o lançamento oficial do torneio, realizado na semana passada.
Dessa maneira, os duelos de oitavas de final ficaram assim: 15 de Novembro x América, Palmeirinha x Juventude, Lyon x Audaz, Os Feras x Geração Alpha, Comercial x Campinas, PAC x Ganbattê, Ferinhas da Vila x Flamengo e Grêmio Ribamarense x Projeto B9. Os vencedores destes jogos avançam às quartas de final, que também ocorrerão no domingo.
Nesta edição, o Praia do Futebol contará com disputas de três modalidades: além do torneio de travinha Sub-15, haverá duelos de futebol 7 beach Sub-17 e futebol de areia Adulto Feminino. Ao todo, a competição contará com representantes das 32 equipes participantes.
Vale destacar que todos os times receberam kits com uniforme completo com camisas, calções e coletes (exclusivos para as equipes do futebol de travinha). O material será utilizado pelas equipes ao longo de toda a competição.
Siga as redes sociais oficiais do Praia do Futebol no Instagram e no Facebook (@praiadofutebol) e fique por dentro de todos os detalhes da competição.
A segunda edição da Taça Grande Ilha de Futebol Society, competição patrocinada pelo governo do Estado, pelo El Camiño Supermercados e pela Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, começou com muitos gols. Ao todo, nas 12 partidas realizadas nas categorias Sub-15 e Sub-17, as redes balançaram em 57 oportunidades, o que representa uma média de 4,75 gols por jogo. Todas as partidas foram realizadas na Arena Olynto, no Bairro do Olho d’Água.
Pelo torneio Sub-15, o duelo do Grupo C entre Flamengo e Deck Fitness foi responsável pela maior quantidade de gols na rodada. No total, foram marcados 12 gols na partida. No fim, melhor para o Deck Fitness que venceu por 8 a 4 e largou bem na competição. Pela mesma chave, o Ferinhas da Vila goleou o CTFC por 8 a 1.
Outras quatro partidas completaram a rodada de abertura na semana passada. Pelo Sub-15, o Olímpica bateu o IJC por 2 a 0. Já pelo Sub-17, o Corinthians do Bequimão venceu o Madri por 2 a 1, o Geração Jovem superou o América por 1 a 0 e o XV de Novembro fez 2 a 1 sobre o RAF 07.
Outros resultados
Seis partidas haviam aberto a segunda edição da Taça Grande Ilha há duas semanas. Pelo Sub-15, os resultados foram os seguintes: Jeito Moleque 1 x 1 Revelação, GM Sports 0 x 3 CT Sports e Os Feras 6 x 3 Craque na Escola. Pelas disputas do Sub-17, o Mercado derrotou o Audaz por 4 a 3, o Lyon fez 2 a 0 sobre o Geração Alpha, enquanto que PAC e SLZ Soccer ficaram no empate por 2 a 2.
Taça Grande Ilha
Vale lembrar que os grupos dos torneios das categorias Sub-15 e Sub-17 da segunda edição da Taça Grande Ilha de Futebol Society foram definidos durante a solenidade de lançamento da competição, que ocorreu no dia 19 de setembro. Ao todo, 24 times participam desta edição: 12 equipes no Sub-15 e outras 12 no Sub-17.
Durante o lançamento desta edição da Taça Grande Ilha, todos os 24 times participantes receberam kits contendo uniforme completo (camisas, calções e meiões) e bolsas esportivas personalizados. Todo o material será utilizado pelas equipes ao longo de toda a competição. Todos jogos ocorrerão na Arena Olynto.
Todos os detalhes da Taça Grande Ilha de Futebol Society estão disponíveis nas redes sociais oficiais do evento no Instagram (@tacagrandeilha).
Foi às 18h15 dessa segunda-feira (9) que o poeta, intelectual e escritor Mário de Andrade, trajando um terno branco bem cortado, chapéu e trazendo um buquê de rosas brancas nas mãos, chegou de táxi à sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um casarão histórico instalado na Avenida Angélica, em São Paulo. E foi com um coral de mulheres que ele foi saudado, logo na entrada do prédio.
“Parabéns a você, parabéns,
toda felicidade
muitos anos de vida também
e sempre a nossa amizade”.
Hoje se completam 130 anos de nascimento de um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, Mário de Andrade. Nascido em São Paulo, no dia 9 de outubro de 1893, Mário, nesse 9 de outubro de 2023, representado pelo ator Pascoal da Conceição, morreu em 1945, vítima de um infarto. Entre as obras mais conhecidas de Mário de Andrade, estão Macunaíma, PauliceiaDesvairada e Amar, Verbo Intransitivo.
Para celebrar a data, o Iphan promoveu uma cerimônia com leitura de cartas escritas por Mário de Andrade para Rodrigo Melo Franco de Andrade, ambos responsáveis pela fundação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), hoje o Iphan.
O intelectual teve papel fundamental na trajetória da preservação cultural em São Paulo e no Brasil, publicando sobre a arte, cultura e identidade brasileiras. Em 1937, a convite do então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, redigiu o anteprojeto de criação do Sphan.
O aniversário
O evento de aniversário ocorreu na sede da Superintendência paulista do Iphan.
O casarão que abriga a sede do instituto desde 2010, em São Paulo, é da primeira década do século XX e foi construído pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo para ser a residência de dona Sebastiana de Sousa Queirós. O escritório de Ramos de Azevedo também foi responsável por outros edifícios emblemáticos na capital paulista como o Theatro Municipal, a Pinacoteca e a Casa das Rosas.
Integrante do Teatro Oficina, fundado por Zé Celso, falecido recentemente, Pascoal da Conceição interpreta Mário de Andrade há muitos anos, tendo feito minisséries, teatro e performances, devido à sua semelhança física com o poeta. Pascoal também é um estudioso da obra e vida do escritor.
“Desde 1989, eu interpreto o Mário”, contou ele à reportagem da Agência Brasil. “Na verdade, em 1989, eu fui em um evento da cidade, no Solar da Marquesa de Santos, e fui convidado para falar um poema do Mário de Andrade. Mas só fui saber que eu era parecido com o Mário de Andrade em 1994, quando emitiram uma nota [moeda] de quinhentos mil cruzeiros [que tinha estampada a figura do escritor]”, falou.
“O Mário de Andrade viveu como todos nós perrengues econômicos, governamentais, culturais, de vida. Mas, com sua inteligência, ele deixou, em sua obra, um grande legado de como era viver cada um desses momentos. Ele é exemplo de pessoa que vive sua vida com grandeza”, falou o ator.
Já o historiador, antropólogo, músico e ator Danilo Nunes, superintendente do Iphan em São Paulo, interpretou Rodrigo. “O Rodrigo Melo Franco de Andrade foi o primeiro superintendente [do Iphan]”, disse ele, também em entrevista à Agência Brasil.
“O Iphan cuida de bens materiais, móveis, imóveis e imateriais. Temos uma instituição de patrimônio cultural que muitas vezes foi ‘europeizada’, trouxe uma visão europeia para cá. E nós, brasileiros, precisamos olhar também para o que temos aqui, nossas comunidades. Não existe muro sem ser humano. E não existe ser humano sem lugar. O patrimônio é o que a gente faz. O ser humano é patrimônio, e o Iphan tem que cuidar de tudo isso”, disse Danilo.
Para Pascoal da Conceição, o escritor Mário de Andrade foi importante não só pelo que escreveu ou criou, mas por ter pensado também na ideia do patrimônio imaterial. “O Mário de Andrade, em 1937, fez um anteprojeto para que o patrimônio da humanidade não fosse só o patrimônio material. Ele colocou como patrimônio as casas de pescadores, as cruzes de beira de estrada, os instrumentos de trabalho e indígenas. E, depois, ele criou uma outra categoria, a de patrimônio imaterial – que ele dizia que tinha mais potência que os outros – como as cantigas, as receitas, o samba, entre outros”, falou.
“Isso só vai ser reconhecido pela Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] em 1960. E ele falou sobre isso em 1937. Ele elevou em uma categoria de patrimônio uma sabedoria que, muitas vezes, ficaria em segundo plano. Coisas que estamos vendo serem cada vez mais importantes como os saberes indígenas e quilombolas. Ele foi o primeiro a fazer isso”, explicou o ator.
Viva, Mário!
Durante sua apresentação nessa noite, Pascoal da Conceição leu o trecho de uma das cartas escritas por Mário.
“Chora, irmão pequeno, chora,
Cumpre a tua dor, exerce o rito da agonia.
Porque cumprir a dor é também cumprir o seu próprio destino”.
E, ao término dessas leituras, foi saudado pelo público. “Viva, Mário! Viva!”, gritaram os convidados da festa.
O evento se encerrou após um parabéns tradicional, com direito a um bolo de aniversário e três velinhas, que Mário apagou com um sopro.
Para ter sucesso na realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é preciso, além de estudo, prestar atenção às exigências e proibições estabelecidas pelo edital para não correr o risco de ser eliminado no dia da prova. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) estabelece, todos os anos, várias regras a serem cumpridas pelos candidatos no dia da avaliação.
Como ocorre desde 2017, o exame será realizado em dois domingos consecutivos – antes, era aplicado em um único fim de semana, sábado e domingo. Em 2023, será nos dias 5 e 12 de novembro.
Será eliminado do Enem o participante que se comunicar de qualquer forma com qualquer pessoa que não seja o aplicador da prova ou utilizar livros, notas, papéis ou impressos durante a aplicação do exame. Também não pode registrar ou divulgar, por imagem ou som, a realização da prova ou qualquer material utilizado no exame.
Sair da sala de provas a partir das 13h sem o acompanhamento de um fiscal ou ir embora do local antes de ter passado duas horas do início das provas também podem eliminar o candidato. O mesmo vale para quem iniciar as provas antes das 13h30 ou da autorização do aplicador.
Ao ingressar na sala de provas, o candidato deverá guardar, no envelope porta-objetos, todos os seus pertences, como óculos escuros, chapéu, caneta de material não transparente, lápis, lapiseira, borrachas, réguas, corretivos, livros, chaves e qualquer equipamento eletrônico (que deverá estar desligado). Quem não seguir essa regra também pode ser eliminado da prova. Se o aparelho eletrônico, ainda que dentro do envelope porta-objetos, emitir qualquer tipo de som, como toque ou alarme, o participante será eliminado.
No dia da prova, os candidatos serão submetidos à revista eletrônica, e os objetos e lanches também serão vistoriados. A recusa sem justificativas dessas vistorias pode ser motivo de eliminação. Também é preciso prestar atenção aos documentos exigidos, pois a permanência no local de prova sem documento de identificação válido pode eliminar o candidato.
No primeiro dia de prova, os participantes fazem as questões de Linguagens e Códigos, Ciências Humanas e redação. No segundo dia, de Ciências da Natureza e Matemática.
Nos dois dias, a abertura dos portões será às 12h e o fechamento às 13h, pelo horário de Brasília. O início da prova está marcado para as 13h30 nos dois dias de prova, mas o horário de término é diferente: no dia 5 de novembro, as provas terminam às 19h e, no dia 12 de novembro, às 18h30.
Todas as informações sobre a realização do Enem estão na página do Inep.
Pesquisadores dizem que a origem da cultura hip hop está relacionada com as festas organizadas no início da década de 70 por jovens afro-americanos que residiam no Bairro do Bronx, em Nova York. Embora esse tenha sido um processo lento, um desses eventos é hoje celebrado como pedra fundamental. Em 11 de agosto de 1973, há exatos 50 anos, um edifício de 102 unidades, situado no número 1.520 da Avenida Sedgwick, testemunhou grande mobilização para marcar a volta às aulas.
A festa foi organizada pelo DJ Kool Herc, que comandou os toca-discos, enquanto B-boys e B-girls dançavam e os MCs agitavam o público. Não é por acaso que o edifício que sediou a agitação daquela juventude foi reconhecido em 2007 como o "berço do hip hop" pelo Escritório de Parques, Recreação e Preservação Histórica do Estado de Nova York.
Curiosamente, em menos de quatro meses, o rapper MV Bill também completa 50 anos. Enquanto o hip hop surgia no Bronx, nascia um menino negro na Cidade de Deus, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. Ele se tornaria um dos precursores do movimento que, inspirado naquele caldo cultural da periferia de Nova York, acabou se instalando no Brasil a partir da década de 80. No fim do ano passado, foi apresentado seu novo álbum Dr. Drill, onde faz novas apostas rítmicas sem perder de vista a crítica social e o chamado à conscientização, marcas de suas letras.
Bill não é só rapper multipremiado, tendo se enveredado ainda por outras áreas como o audiovisual e a literatura. Ccom o produtor cultural Celso Athayde e a artista Nega Gizza, é também fundador da Central Única de Favelas (Cufa), considerada a maior organização não governamental do mundo que atua desenvolvendo projetos em comunidades. Além disso, carrega a experiência de ter integrado, em 2008, a primeira formação do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), órgão composto por integrantes da sociedade civil extinto, em 2016, por medida provisória assinada pelo então presidente Michel Temer.
Nessa entrevista à Agência Brasil, ele compartilha perspectivas construídas ao longo de toda a trajetória. Em suas respostas, o rapper revela olhar atento para transformações relacionadas à comunicação social. Ele vê o enfraquecimento do poder da TV, mas faz um alerta sobre a internet: "o algoritmo só apresenta o que mais está em voga".
Agência Brasil:
Desde o seu surgimento, o hip hop precisou lutar por espaço e hoje existem diversos festivais específicos de rap, por exemplo, o que não era comum no passado. O Ministério da Cultura propôs instituir o 11 de agosto como o Dia Nacional do Hip-Hop. Como você avalia este momento? Dá pra dizer que o hip hop garantiu seu espaço ou essa é uma luta permanente?
MV Bill:
Vejo que teve um crescimento muito grande. Avançou bastante, principalmente em uma discussão que, para mim, era totalmente infundada: se o rap é ou não uma música. Acho que ao longo dos anos se provou que rap sim é música, só que tem uma forma diferente de fazer. Você pode fazer com auxílio de DJ, que aí você fica na parte eletrônica. Mas já têm inúmeras experiências que misturam o rap com banda. Eu tenho três ou quatro projetos assim. Houve um preço que a gente teve que pagar lá atrás para que hoje pudéssemos usufruir disso sem ter que ficar explicando que é música. E isso falando da música rap. Podemos também falar mais do hip hop como movimento enquanto cultura que contém quatro elementos: o rap, o DJ, o break dance e o grafite. O rap é só um desses elementos. E tem gente que ainda chama a música de hip hop. É verdade que há muitos eventos rolando, muitos festivais. Mas muitos deles que abrigam somente um dos quatro elementos que é o rap. São poucos os festivais que trazem o hip hop como um todo. Que têm dança, grafite, DJ. Falta um pouco disso ainda no Brasil. Talvez ocorra quando a gente tiver pessoas nossas trabalhando não somente na parte musical, como rappers e MCs, mas também nos bastidores, na curadoria de eventos, captando verba e sendo dono do evento. Acho que isso vai fazer com que a gente coloque o hip hop como um todo em evidência.
Agência Brasil:
No ano que vem teremos olimpíada e, pela primeira vez, o break, que é a dança do movimento hip hop, será uma modalidade olímpica. O que você acha desse movimento? Isso fortalece o hip hop ou precisa ser olhado com cautela?
MV Bill:
O break dance talvez seja o elemento menos reconhecido da cultura hip hop. Falando bem a verdade, os grafites são bem reconhecidos e bem procurados quando alguém quer fazer uma pintura na fachada de sua casa. Os DJs tocam em tudo que é lugar. Tem DJ que ficou famoso no mundo inteiro. E o rap está em primeiro lugar nas plataformas. Já o break, os B-boys e B-girls não têm tanta visibilidade assim. Então, estarem dentro de uma competição olímpica vai colocá-los em evidência. E acho que em nenhum momento vai tirar a força do break que vem na rua, que é completamente diferente. Às vezes tem uma batalha de rua ou às vezes é só dançar, só exercitar o grupo ou só entrar em contato com o movimento.
Agência Brasil:
A gente sabe que todo o estilo musical sofre transformações ao longo do tempo e não é diferente com o rap. Mas as letras do rap sempre estiveram muito vinculadas a temáticas sociais, chamando atenção para as demandas da periferia. Neste momento, a gente tem alguma questão específica que está mais em evidência? O rap que se faz hoje tem alguma peculiaridade que o faz ser diferente do que se fazia tempos atrás?
MV Bill:
O rap se tornou conhecido. E com o conhecimento houve um pouco do esvaziamento desse discurso, na medida em que a gente tem também jovens de classe média, de famílias mais abastadas, jovens brancos fazendo rima e fazendo sucesso. E, com isso, muitos assuntos acabam saindo de pauta. Isso acontece com a questão racial e a questão da violência. Porque são jovens que não vêm necessariamente desse tipo de realidade, não convivem com esses assuntos. São temas que não estão mais tão presentes como já estiveram outrora. Isso não quer dizer que não tenha gente da atualidade fazendo bons trabalhos, trazendo essas questões. Tem, mas tem que garimpar porque senão o algoritmo só apresenta o que está fazendo sucesso e o que mais está em voga. São raps que só falam de amor, de diversão, de ostentação. Há até algumas letras denegrindo a imagem feminina. Quando eu quero fazer uma playlist com músicas que falam de determinados assuntos, eu tenho que garimpar os trabalhos atuais ou recorrer às músicas mais antigas. Mas esse é um caminho natural por conta do crescimento do rap. Eu acompanho bastante a cena norte-americana e a cena do hip hop europeu. Também vejo que eles acabaram indo nessa direção. Acho que o crescimento de qualquer movimento, de qualquer cena, acaba trazendo esse lado mais pop.
Agência Brasil:
Mas o que faz com que esse seja um caminho natural?
MV Bill:
Isso vai desde os contratantes que preferem os artistas que têm essa cara e essa forma mais pop. E acho que o público também tem influência muito grande nisso, na medida em que faz suas escolhas de qual artista vai ouvir. Hoje, a gente não tem tão forte a cultura do jabá, como era quando o artista pagava para tocar no rádio. Também não vivemos mais no tempo em que a música só vai ser sucesso se for trilha sonora de uma novela. Hoje, muita coisa que faz sucesso sequer aparece na grande mídia. Tem coisa que nunca apareceu na televisão e é supersucesso, como resultado do nosso like, do clique nas pessoas. Então se um grupo de pessoas pretas da favela dá um clique no artista que nunca ligou para elas, estão exaltando alguém que nunca estará preocupado com a sua questão social e racial. Acho que falta um pouco dessa consciência. Somos um público grande e forte, podemos levantar qualquer artista. Podemos levantar qualquer pessoa, qualquer influencer. Mas a falta de consciência pode te levar a clicar na pessoa errada. Tem gente na favela clicando em racista, clicando em fascista, clicando em pessoa que é contra a nossa existência. Então a gente tem que estar atento a isso.
Agência Brasil:
Recentemente, o rapper mineiro Djonga respondeu a um fã nas redes sociais, após ser criticado por ter lançado um álbum mais leve, abordando menos temas políticos. Ele rebateu dizendo que suas músicas antigas são eternas e estão disponíveis para ser ouvidas, mas que é legal explorar outros assuntos. Existe, em alguns momentos, pressão de parte do público para limitar o rap a uma coisa só?
MV Bill:
Eu já sofri muito isso, nunca levei a sério. Nunca deixei isso me interromper ou interferir na minha criatividade. Lancei meu primeiro disco Traficando Informação, em 2000. E, depois, as pessoas começavam procurando em todos os discos a música Soldado do Morro. Todo disco que era lançado, a pessoa ia procurar Soldado do Morro lá. Mas não dá para fazer músicas como essa assim de uma hora para outra. Ali, eu vivi um momento específico, morando numa Cohab dentro da Cidade de Deus, quase não saía de casa. Então a minha janela virava uma tela de cinema, onde eu ficava vendo acontecer tudo aquilo que narrei. Eu tinha um tipo de vivência. E hoje nem sei se conseguiria fazer uma música como essa, cheia de verdade. Quem quiser ouvir uma letra minha como Soldado do Morro, a música está lá, em todas as plataformas. Está disponível a hora que você quiser. Mas, como artista, preciso ter a criatividade liberada para falar de outros assuntos, ou até para falar desse assunto de outras formas. No caso do Soldado do Morro, ainda fiz mais duas músicas que dialogam entre si: Soldado Morto e Soldado Que Fica. Mas sem pressão. Eu mesmo senti que dava para fazer, que era uma necessidade minha. Isso não quer dizer que eu só vou falar desse assunto. Eu tenho músicas que falam de relacionamento, tenho músicas sobre entretenimento. Acho que tem que ser assim mesmo. Mas sei qual é a minha raiz. Se você se referir a mim, não vai falar: "o Bill é aquele cara, canta a música A Noite". Não. Você vai falar: "o Bill é o cara que canta Soldado do Morro, que canta Só Deus Pode Me Julgar". Essa é a minha raiz. Eu sinto isso que me caracteriza. O que não quer dizer que eu também não possa ter uma música divertida como A Noite. Acho muito importante ter essa diversidade musical dentro de cada artista. Não precisa ter um artista, um rapper, que só sabe cantar música romântica ou só faça música festeira, e um outro que só faz música triste, social. Eu acho que você pode costurar e transitar por todos esses temas, sem ficar preso a um só.
Agência Brasil:
Eventualmente, ouvimos pessoas tentando desqualificar uma crítica dizendo algo como "Falar é fácil, quero ver colocar a mão na massa". E você não é um rapper que se limitou a escrever e cantar. Como ativista, você passou a liderar projetos sociais e fundou a Cufa. Qual a importância de articular o discurso com esse trabalho buscando transformar a vida de pessoas da periferia?
MV Bill:
A Cufa foi uma grande oportunidade que tive de colocar em prática aquilo que estava discursando nas minhas músicas. Lá no início de tudo, com o Celso Athayde e a Nega Gizza, a gente estava fazendo algumas oficinas e aquilo foi crescendo. Como não tinha nenhum trabalho governamental capaz de alcançar o jovem da periferia, o nosso trabalho chegou como uma bomba, como grande salvação, grande território de possibilidade para quem não tinha nenhuma. Com o crescimento do trabalho, começamos a ir para outros Estados. E a cada lugar, fui percebendo que a gente também foi criando novas lideranças. Logo percebi que chegou um momento em que não precisava mais estar à frente de tudo. Já tínhamos construído lideranças que poderiam me substituir. Então, hoje tem oito anos que não faço mais parte da Cufa. Continuo entusiasta da ideia, continuo amigo de todas as pessoas, mas parei para cuidar da minha vida, da minha saúde, da minha música, da minha carreira. Mas sempre participando quando posso. Vejo claramente a diferença dos lugares que abrigam projetos sociais para os lugares que não têm esses projetos. Não estou dizendo só sobre os projetos da Cufa, mas em geral. Nesses locais, a incidência do jovem indo para criminalidade é muito menor. Não estou dizendo que não tenha, mas é muito menor. Onde esses projetos não chegam, infelizmente ainda há muito jovem que acha que o tráfico de drogas é um meio de ascensão social.
Agência Brasil:
Falta um trabalho mais incisivo do Estado?
MV Bill :
Uma das coisas que me preocupavam muito, quando eu estava na Cufa, era a gente não parecer que queria substituir o Poder Público. E sim mostrar que existe uma lacuna na falta de políticas públicas, que eles não implementam. Ou de políticas públicas que são implementadas, mas não chegam a esses lugares. Em alguns momentos, a gente até se colocou como porta-voz, para fazer essa ligação entre as políticas públicas nas favelas, que estão necessitando dessas políticas. Em alguns momentos deu certo, mas em outros não, porque era feito pensando em voto, pensando em eleição, sempre de forma muito eleitoreira. Sou um cara que nunca fez campanha para ninguém. Sou político-social. Tenho meus posicionamentos políticos. Mas levantar bandeira para político e pedir voto nunca foi a minha onda. E dentro da Cufa, também não podia deixar que descambasse para esse lado. Sempre tomei muito cuidado pra não querer substituir o Poder Público e nem deixar que ele nos engolisse.
Agência Brasil:
No seu álbum mais recente, Dr. Drill, você trata de duas questões que aparecem também em músicas de outros momentos de sua carreira: a importância de jovens da periferia valorizarem a educação e a ilusão da cultura armamentista. Qual a importância de insistir na discussão dessas questões?
MV Bill :
Nesse trabalho, explorei duas novas vertentes do rap que estão bem em evidência na atualidade. Uma delas é o trap e a outra é o drill. Só que fiz à minha maneira, do meu jeito, sem voz robotizada. Para esse disco, eu quis trazer também algumas parcerias com gente jovem, que realiza um trabalho que gosto. Tem ali o Major RD, o Froid, o Lord, o Rod. E a abertura do disco é feita pelo Erik Skratch. Então, foi muito importante juntar essa galera toda, que é de outra geração e de outro momento, para trabalhar comigo. E ainda tem Rashid. Aí a gente traz esses assuntos que não estão tão em voga. Na música Aulas e Palestras, juntamos três gerações para falar da importância da escolaridade. Na música Soldadrill, a gente fala dessa ilusão dos jovens de favela, que ainda acham que ser criminoso é legal, que entrar para o crime é tirar algum tipo de onda. Quando morre, é a família que vai chorar. E quem estava junto, na situação de amigo, não vai nem ligar. No máximo, vai colocar uma camisa com a sua foto em um baile da semana, que vem pra dizer que está com saudade de você. Vai colocar uma foto no Facebook. Então trazer esses temas em cima desses ritmos, além de ser uma parada interessante, mostra que estou antenado com as novas vertentes que o rap traz. E também mostra versatilidade, capacidade de rimar em vários tipos de batida e de se conectar com as novidades que estão chegando. Talvez eu seja o cara da minha geração, da old school do rap nacional, que mais fez colaborações com novos artistas. Isso é algo que carrego como um dos meus troféus.
Agência Brasil:
No ano passado, você lançou o livro A Vida Me Ensinou A Caminhar, reunindo crônicas sobre suas experiências. Dá pra dizer que esse trabalho literário se relaciona com a sua produção musical de alguma forma?
MV Bill:
Acho que estão muito ligados, apesar de um livro ser completamente diferente de uma música na hora da escrita. No livro, dá pra ser mais aprofundado. Mas, apesar de ser literatura, é um livro também muito musical, porque ao fim de cada capítulo tem um QR Code que te leva para alguma mídia relacionada à história que você acabou de ler. E muitas dessas mídias são musicais. E dentro das histórias, eu também cito muitas músicas. É um livro cheio de informações musicais. E que registra, deixa para a eternidade, como foi o meu começo. Como eu conheci o rap, como eu me envolvi, como me inseri na cultura hip hop. E a minha história pessoal se confunde muito com a construção impressionante do rap aqui no Rio de Janeiro. Então, o livro é interessante por conta disso. Dentro do livro, eu falo de coisas e alguns assuntos como nunca falei na minha vida para ninguém.
Para quem faz rap do jeito que faço, que é o rap história, percebe que no livro é possível ir além da música. Quando faço uma música tipo Soldado do Morro, conto a história ali dentro do que o ritmo me permite. Conto a história respeitando o tamanho da música. Agora quando escrevo um livro, o texto é muito mais solto. Eu posso me aprofundar muito mais. Eu posso ser muito mais detalhista. E tem gente que já acha os meus raps cheios de detalhes. Mas, no livro, a gente pode detalhar muito mais. E tem outra vantagem: aqui no Brasil, nosso povo é mais acostumado com músicas que têm mais melodia. E, às vezes, o tipo de rap que faço não tem tanta melodia, ele é mais falado. E não é todo mundo que tem ouvido preparado para isso. Eu conheço gente mais velha que diz que falo muito rápido, que não consegue pescar. Essa mesma pessoa, quando tem acesso ao livro, assimila totalmente o conteúdo. Então, para mim, além de ser uma forma de extravasar, acaba sendo um jeito de me comunicar melhor, mais amplamente.
Agência Brasil:
Recentemente, você comentou sobre a desconfiança dos seus familiares com relação à autoria do livro.
MV Bill :
É muito triste lançar um livro e os familiares questionarem se foi eu mesmo que escrevi ou se tive ajuda de alguém. Mas não levei para o coração, porque eles também não estão acostumados a ver muitos escritores pretos. Eu já li muitos escritores pretos, que gosto da atualidade. Mas o que me levou a ser um artista multifacetado foram as referências do rap. Todos os caras que eu admirava, da minha geração, se transformaram em atores, apresentadores de programa, diretores de cinema e alguns deles também lançaram livros. Então, quando vi que dava para ser rapper, mas também dava para ser multifacetado, eu falei 'eu quero isso da minha vida'. Já tenho ideia de um novo livro para o futuro. Mas divulgar um livro é muito difícil. Não tem muito espaço na mídia tradicional. As pessoas também não entendem o livro como uma forma de adquirir conhecimento, acham que é caro. Mas, às vezes, custa o mesmo preço de um balde de cerveja. E elas não entendem que o livro também é para alimentar a mente, outra parte do seu corpo. Por isso, o período de lançamento de um livro no Brasil, ainda mais independente, pode levar até três anos. Ainda vou correr bastante para fazer mais coisas com esse livro. Mas até pelos resultados já alcançados, me deu muita vontade de começar a pensar numa sequência. Porque eu fui parar para pensar, cara, e há vários outros contos tão interessantes quanto esses.
Agência Brasil:
Contornar limitações da mídia tradicional é inclusive uma das missões da Empresa Brasil de Comunicação. E você fez parte do Conselho Curador. A partir dessa experiência, como você vê hoje o papel da comunicação pública?
MV Bill :
Penso sempre que a imprensa precisa ser livre, ter total liberdade. Talvez a Empresa Brasil de Comunicação seja uma das poucas oportunidades que a gente tem de dizer o que pensa, de os artistas poderem expor sua arte. É um dos poucos lugares que pode ter uma programação isenta do poder do dinheiro das grandes corporações da propaganda. Mas ela não pode sofrer interferência governamental. Tem que trabalhar com muita independência e liberdade. E inclusive para criticar o próprio governo, se for o caso. Infelizmente, o último período foi bem desastroso. No último governo, achei até que fosse acabar. Que bom que não acabou. Torço para que exista bastante liberdade para fazer um jornalismo do jeito que tem que ser: livre.
Agência Brasil:
Em 2006, você produziu o aclamado documentário Falcão - Meninos do Tráfico, que retrata a cooptação de jovens pelo tráfico de drogas e traz entrevistas com alguns deles. É um documentário que aborda uma realidade social preocupante, muitas vezes é produzido pensando em pressionar pela transformação dessa realidade, em alertar para um problema, em conscientizar. Você acha que passando todo esse tempo, quase 20 anos, algo mudou?
MV Bill:
Quando a gente lançou o documentário houve uma comoção nacional. Muita gente se mostrou preocupada. Mas foi uma comoção que acabou passando. Virou uma comoção momentânea. Eu acho que ali a gente, como sociedade, perdeu grande oportunidade de olhar mais para a juventude. Não tinha como tirar da criminalidade aqueles jovens que me deram entrevista, não tinha como tirar quem estava no tráfico naquele momento. Mas podia ser feito um trabalho para coibir a entrada de novos jovens, por meio de projetos. Tentar se antecipar à criminalidade. Não deixar que o crime virasse algo atrativo para a juventude. Nada foi feito. A política de guerra e de combate às drogas se demonstra fracassada, na medida em que a violência só aumenta. Não existe um plano de inteligência. Não estou nem falando de inteligência só para prender, mas para fazer com que os jovens não entrem na criminalidade. Porque uma vez que ele entra no crime, é mais difícil resgatar esse jovem. Então precisava de um trabalho governamental de muita força, para fazer com que mais jovens estivessem dentro da escola e em projetos sociais. Mas parece que não é tão interessante salvar esses jovens. E isso virou uma tarefa mais nossa, do morador, de agentes sociais espalhados pelo Brasil. Isso deveria ser uma preocupação do governo. Por isso que sou um grande incentivador de pessoas de favela e de pessoas pretas se candidatarem a cargos públicos. Como exigir de um político branco, hétero e rico que olhe para essas mazelas que existem no Brasil? Ele não vai olhar, não vai se sensibilizar. Então precisamos de mulheres pretas em cargos públicos, de pessoas de favela, de pessoas trans. Essas pessoas que sentem na pele o dia a dia.
Agência Brasil :
Você já havia feito uma crítica nesse sentido sobre os impactos do filme Cidade de Deus (2002), dizendo que a comunidade ficou esquecida após o sucesso. Faltou um olhar de como transformar essa realidade social?
MV Bill:
Uma das minhas críticas é que a ação policial ficou mais violenta, legitimada pela história do filme. Aquilo que foi chamado de ficção virou uma grande realidade. Quem morava naquele local - que existe e que não é um local fictício - sofreu o reflexo daquilo que foi mostrado. E parece que a mesma produtora que fez o filme está prestes a fazer uma série com o mesmo nome. Podiam colocar um nome fictício. Dependendo do que for contado nessa série, vai acabar trazendo problemas de novo.
Em 1827, teve início a história formal do ensino jurídico no Brasil, com a edição do decreto que criou cursos de direito em São Paulo e em Olinda, Pernambuco, por meio de uma lei de 11 de agosto daquele ano. A criação das faculdades foi necessária porque, depois da Independência do país, em 1822, foi preciso haver brasileiros com conhecimento nessa área.
Desde então, muita coisa mudou no país, que, de monarquista, passou a ser república. A linguagem jurídica, entretanto, não se descolou do passado e continua usando termos rebuscados e de difícil entendimento para o cidadão leigo.
Pensando em auxiliar na mudança dessa situação, a advogada, escritora e jornalista Ivy Farias, que também é autora de Escrever Direito: Manual de Escrita Criativa para Carreiras Jurídicas, vai ministrar nas seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de Mato Grosso um curso inédito para “ensinar” os profissionais da área a simplificar a linguagem. A ideia é trocar o “juridiquês” por uma linguagem que seja compreendida por qualquer pessoa.
“O Brasil mantém uma forte tradição portuguesa, colonialista, no direito. Então, o primeiro ponto é entender que estamos reproduzindo, em vez de produzindo, muitas vezes sem refletir. Hoje, nós lemos mais, mas compreendemos menos, e há uma série de conteúdos que não existiam décadas atrás. A atenção é dispersa. Então, tudo que é feito para economizar o tempo de quem lê é bem-vindo”, diz Ivy.
Segundo a advogada, a questão é complexa, porque faz com que a “pessoa comum” não entenda um direito que é dela, já quem nem mesmo aquelas que têm mais escolaridade compreendem os textos e as sentenças. “É como se você tivesse algo, mas não usasse. Como é possível ter Justiça se ela não é compreendida? Este é o ponto. Se uma pessoa com alto grau de escolaridade não entende, significa que tem algo errado. A proposta é que todo mundo entenda, e de primeira, porque isso economiza tempo e dinheiro.”
Ivy observou ainda que a compreensão dos textos e sentenças do Judiciário encosta na questão da inclusão, pois o princípio da linguagem simples é incluir. “Todas as pessoas se beneficiam muito com isso. E o curso de direito prepara profissionais que acabam atuando na esfera pública e na defesa da cidadania, como a Defensoria Pública, por exemplo”.
Serviço público
Com base nisso, há pelo menos 80 anos, existe um movimento que busca simplificar o linguajar jurídico, tentativa que se estende ao serviço público para diminuir a burocracia estatal. As iniciativas pelo país são inúmeras e, na capital paulista, por exemplo, há uma lei de autoria do ex-vereador, ex-secretário de Inovação e Tecnologia da prefeitura de São Paulo e ex-coordenador do Poupatempo, Daniel Annemberg, que determina que todos os órgãos públicos da cidade busquem esse objetivo.
“Quando a gente está há bastante tempo na área pública, tem a mania de falar por siglas, falar por termos técnicos. Isso é muito ruim porque não se democratiza o acesso às pessoas. Muitas vezes, explica-se algo, e elas simplesmente não entendem. Daí vem a importância de haver, na área pública, como já ocorre em vários países, uma lei que deixe muito clara a forma de se comunicar com a população”, explicou Annemberg.
Para ele, já ficou clara a importância de reduzir a distância entre os órgãos públicos e a população por meio da linguagem. Entretanto, é preciso que, por meio de uma lei, os servidores assimilem esse conceito. Por isso, há ainda necessidade de que todos sejam conscientizados e capacitados para fazer isso na prática.
“A mania de falar difícil afasta as pessoas do que você está dizendo, e são poucos os entendidos em uma linguagem rebuscada. E por que não falar em uma linguagem que as pessoas possam entender de forma mais clara, mais simples, mais transparente? Aí, se atinge muito mais gente”, ressaltou.
De acordo com Annemberg, quando a pessoa atendida em um serviço público não entende o que foi dito, obviamente voltará para falar do mesmo assunto, o que vai provocar filas e idas a lugares incorretos, na tentativa de resolver o problema. “Isso prejudica o cidadão, e o próprio serviço público, que vai ter que atender de novo essa pessoa que não entendeu o que o funcionário escreveu ou falou. Aumenta muitas vezes o trabalho, quando a comunicação não é simples ou direta”, ponderou.
A educadora, jornalista e empresária Heloisa Fischer enfatizou que sempre houve desconexão entre a linguagem técnica, administrativa e burocrática e a linguagem compreendida pelo cidadão. E isso não é exclusividade do Brasil, além de estar muito relacionado à falta de empatia, disse Heloisa. Ela citou como exemplo a linguagem previdenciária, que tem termos técnicos e modos de expressão atrelados a pessoas muito especializadas no assunto.
“Mas o que acontece é que essa pessoa não consegue se colocar no lugar do cidadão que vai ler, que não conhece nada daquele assunto. Isso pode ser levado para qualquer área, pois há sempre uma pessoa técnica, que conhece muito bem o assunto e dá as instruções a quem procura. Heloisa cita o caso de uma pessoa que está dando entrada no pedido de aposentadoria. “Ela só faz isso uma vez na vida. O texto que a informa tem que ser claro para o nível de conhecimento dela no tema”, disse a jornalista.
Para Heloisa, a transformação digital tornou a questão ainda mais urgente, já que a “plataformização” dos governos está baseada em autosserviços, sem que o cidadão precise passar antes por uma pessoa, ir a um balcão ou telefonar para buscar informações. “Dessa forma, consegue-se atender em escala, atender mais gente, porém, isso requer não só letramento digital, como de leitura, além de um conhecimento sobre as plataformas digitais e do próprio funcionamento do sistema”, disse ela.
Por isso, Heloisa afirma que os textos que informam as pessoas nos ambientes digitais precisam reduzir as dúvidas, levando em conta também o alto índice de analfabetismo funcional. “Temos 29% de analfabetos na população brasileira, ou pessoas que têm uma alfabetismo tão rudimentar que elas não funcionam em sociedade, não conseguem dar conta do que precisam ler. Nós só temos 12% de pessoas com proficiência em leitura e 88% com grau de dificuldade para lidar com texto longo, complexo, com informações não tão explícitas, o que já justifica que os textos sejam mais fáceis”, concluiu.