Nascido em 15 de dezembro
FREI EPIFÂNIO DA BADIA: CONSTRUTOR DE OBRAS... E BOM DE BOLA
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– “Quero ficar em Imperatriz”
Com essas quatro palavras, Frei Epifânio Taioli, o Frei Epifânio da Badia, respondeu a uma oferta para ir para uma cidade que pudesse oferecer melhor assistência médica, inclusive cirúrgica, em meados de 1983.
Mas, como quem prefere não se afastar da cidade amada, Frei Epifânio deu seu último suspiro em Imperatriz há 40 anos, às 18h30 de 8 de fevereiro de 1983. Como testemunhou por escrito o Frei Elias Baldelli, Frei Epifânio, no começo daquele mês, foi acometido “por incômodo intestinal persistente” e “foi cuidadosamente atendido e internado no vizinho Hospital Santa Maria” (situado a poucos metros da Igreja São Francisco, a menos de um quarteirão de onde eu morava). A certidão de óbito registrou: “a) parada cardíaca pós-operatória; b) apendicite supurada, com peritonite; c) aterosclerose coronária”. Tinha 66 anos.
Os registros dizem que, com o anúncio da morte de Frei Epifânio, “Imperatriz parou”. O Poder Executivo decretou luto oficial e feriado em 9 de fevereiro, dia em que se faria o sepultamento, no Cemitério Campo da Saudade.
Para o velório e enterro vieram pessoas de diversas cidades, pessoas que se juntaram à população imperatrizense no adeus ao Frei realizador do novo, como a prática apaixonada e tecnicamente talentosa de futebol e a construção de igrejas, capelas e outras obras até hoje existentes em Imperatriz. O “Atleta de Cristo”, se era pequeno na estatura física, era enorme como realizador da obra de Deus e construtor de obras dos homens.
O filho de Badia
Quando nasceu para o mundo, sua família deu-lhe o nome de TAIOLI GIUSEPPE GINO. Quando renasceu para Deus, ele escolheu o nome FREI EPIFÂNIO TAIOLI, abreviado como nome religioso para FREI EPIFÂNIO, ao qual foi incorporado, como tradição, o primeiro nome da cidade italiana em que nasceu – Badia Calavena, da província de Verona. Assim, ficou conhecido o religioso bom de obras, bom de Bíblia, bom de bola: FREI EPIFÂNIO DA BADIA, nome oficial do Estádio Municipal de Imperatriz, conforme eleito pelos torcedores e de acordo com a lei cujo projeto foi de autoria do jornalista Edmilson Sanches, quando vereador, em maio de 2010. Ao ato na Câmara Municipal compareceram religiosos da Ordem franciscana.
Frei Epifânio nasceu no dia 15 de dezembro de 1916, quando o mundo estava no meio da 1ª Guerra Mundial. Seus pais eram Dª Maria Consolaro e o Sr. Taioli Giuseppe.
Com 25 anos, em 25 de julho de 1942, foi ordenado sacerdote. Escolheu “Epifânio” como nome religioso em homenagem a Santo Epifânio, que nasceu na Palestina em cerca de 310 e faleceu no ano 403, em naufrágio perto de Salamina, à época cidade-estado grega onde era bispo, na ilha de Chipre.
“Epifânio” é nome formado dos termos gregos “epí”, que significa “a mais” ou “somado a”, e “phaíno”, que significa “brilhar”, “tornar visível”, “mostrar”, “revelar”. Daí vem a palavra “epifania”, que é, na Igreja Católica, a manifestação da potência de Deus, a aparição de Jesus Cristo.
Desde o princípio, Frei Epifânio queria ser missionário, atividade associada ao sacerdócio, pois, como ele próprio declarou, queria ter à sua disposição “todos os meios possíveis para a salvação das almas”.
Chegou ao Brasil em 27 de novembro de 1947, prestes a completar 31 anos. A intensa participação de Frei Epifânio nas comunidades não conflitava com os rígidos princípios que ele mantinha.
Após chegar ao Brasil, foi para o Estado do Ceará, onde permaneceu pouco tempo. A partir daí, deu início à sua odisseia religiosa, comunitária e construtiva em solo maranhense.
Começou no município de Barra do Corda, na Missão de Alto Alegre. Após alguns anos, foi para a prelazia de Grajaú. A seguir, em 1953, nomeado pároco de Porto Franco e Imperatriz. Três anos depois, em 18 de novembro de 1956, é nomeado pároco exclusivamente de Imperatriz – e, como diz a expressão popular, daqui não saiu nem morto. “Fiat voluntas tua”. Foi feita a vontade dele.
Obras
Além de edificar um grande número de pessoas para a Fé, Frei Epifânio foi quem construiu ou deu início à construção do maior número de igrejas e capelas em Imperatriz, bem como idealizou e construiu o Centro de Treinamento Anajás, no Bairro Bom Jesus. Entre outras obras suas, registrem-se: o ginásio e a Igreja de São Francisco (centro de Imperatriz), a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (centro), a Igreja do Menino Jesus de Praga (Bairro Vila Nova) e a capela Nossa Senhora Aparecida (no Cemitério Campo da Saudade, Bairro Santa Inês) e a Igreja Nossa Senhora Aparecida (Entroncamento).
Na Academia
Após uma vida de serviços à causa de Deus e dos homens em Imperatriz e região, Frei Epifânio da Badia chegou aos bancos acadêmicos – não como professor, que ele poderia ser, mas como objeto de estudo, de pesquisa e reflexão. Tema de trabalho universitário no Curso de Teologia da Faculdade de Educação Santa Teresinha (Fest). E chegou pelas mãos e mente de alguém que aprendeu a gostar de Frei Epifânio a partir das arquibancadas, vendo o notável religioso jogar – jogar bem... e bem-vestido (de batina). Era o menino Jackson Pereira Silveira, que, encantado com o frei e o futebol, anos depois, tornou-se o melhor árbitro desse esporte em Imperatriz e redondezas, com destaque também em jogos de competições nacionais.
O trabalho de conclusão de curso intitula-se “O FUTEBOL COMO INSTRUMENTO DE EVANGELIZAÇÃO: O EXEMPLO DE FREI EPIFÂNIO EM IMPERATRIZ” e é o primeiro a reunir um vasto número de documentos e informações inéditas, muitas delas utilizadas neste texto. Jackson da Silveira, de grande ativismo religioso na Igreja Católica imperatrizense, está sendo “cobrado” e incentivado por amigos seus e admiradores de Frei Epifânio para publicar seu trabalho em forma de livro o mais breve possível. Será uma apreciada contribuição à vida do frei, à causa da Igreja e às “coisas” do Esporte.
Eterno
Frei Epifânio está eternamente na cidade, como eterna serão suas obras ou, pelo menos, a lembranças delas e, sobretudo, a lembrança dele.
Mais sobre Frei Epifânio no texto a seguir. (EDMILSON SANCHES)
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ESTÁDIO TEM NOME OFICIAL DE FREI EPIFÂNIO DA BADIA
Abaixo, a íntegra do projeto de lei que oficializou o nome da principal praça de esportes do município maranhense de Imperatriz. A seguir, a “justificativa” do projeto, onde o autor, Edmilson Sanches, mostra as razões para o ato oficial.
Projeto de lei
DISPÕE SOBRE O NOME OFICIAL DE PRAÇA ESPORTIVA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
Art. 1º – Fica denominado oficialmente “ESTÁDIO MUNICIPAL FREI EPIFÂNIO DA BADIA” o campo de futebol, com suas instalações, arquibancadas e demais obras de construção civil, situado no Centro de Imperatriz, no quarteirão formado pelas ruas Coriolano Milhomem, “Y”, Rui Barbosa e Gonçalves Dias.
Parágrafo único – Para efeitos históricos, ficam registradas as antonomásias de origem popular “Gigante da Mané Garrincha” e “Colosso do Frei” como denominações sinônimas, qualificativas e laudatórias.
Art. 2º – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
SALA DAS SESSÕES DO PALÁCIO DORGIVAL PINHEIRO DE SOUSA, EM IMPERATRIZ, ESTADO DO MARANHÃO, AOS 6 DIAS DO MÊS DE MAIO DE 2010. (EDMILSON SANCHES – Vereador)
Justificativa
O nome do campo de futebol municipal, com suas instalações, arquibancadas e outras obras civis, não foi oficializado até hoje. Pesquisa feita pela Secretaria Executiva da Câmara Municipal de Imperatriz, a pedido do vereador signatário, confirma que desde a década de 1960, a partir da qual existem em arquivo as leis municipais, não se registra nenhuma lei que trate da matéria.
Ressalte-se que o projeto de lei que agora se apresenta não mudará o nome da pessoa homenageada (diga-se e reforce-se: homenageada com justiça, pelo pioneirismo de Frei Epifânio e por seu amor ao futebol como esporte como técnica, como tática, como arte, como prática). A presente proposição apenas oficializará qual das designações será adotada em Lei: “Estádio Municipal Frei Epifânio da Badia” ou “Estádio Municipal Frei Epifânio”.
Pela lei, quem oficializa nome em ruas, praças e prédios públicos é o Poder Legislativo, a Câmara. E como a Câmara, em tese, representa o Povo, nada como perguntar à população sobre algo que se relaciona com o esporte de mais paixão do povo brasileiro – o futebol.
Para sugestão do nome oficial, foi feita votação entre torcedores, jornalistas desportivos, atletas e dirigentes de clubes, além de populares nas ruas de Imperatriz.
Foram visitados programas de rádio sobre esporte e assuntos comunitários, com participação ao vivo de torcedores, populares, jornalistas e dirigentes esportivos. Destes, inclusive, a recomendação ou reforço para que fossem consultados, no Estádio, os torcedores, o que foi feito na tarde-noite do dia 1º de maio de 2010, quando pela primeira vez, após a inauguração das novas instalações, jogaram os clubes profissionais do município JV Lideral e Imperatriz. Assessores da Câmara, colaboradores e o vereador signatário, todos pagantes dos ingressos, distribuíram folheto explicativo sobre a pesquisa e recolheram a sugestão daqueles que se dispuseram a participar. O resultado foi apurado na manhã de quinta-feira, dia 6/5/2010, na Câmara Municipal, em contagem aberta e transparente.
O homenageado, Frei Epifânio da Badia, nasceu em 15 de dezembro de 1916 em uma pequena cidade italiana de menos de 2.500 habitantes. Essa cidade se chama Badia Calavena. É daqui que veio o nome religioso do frade desportista: Frei Epifânio da Badia (não é “Abadia” nem “da Abadia” nem “d’Abadia”).
E qual o porquê do nome? Desde antigamente, as pessoas que se devotam ao mundo religioso escolhem ou têm seu próprio nome religioso. É como se “morressem” para o mundo material, secular, e “renascessem” para um novo mundo, o espiritual, com novo nome. Geralmente esse nome faz referência ao nome da cidade onde a pessoa nasceu. Cite-se, por exemplo, São Francisco de Assis, da cidade de Assis, Itália, cujo nome verdadeiro, oficial, era Giovanni di Pietro di Bernardone.
Assim também é com Cristo, chamado “Jesus de Nazaré”, pois o Filho de Deus procedia da cidade de Nazaré, em Israel.
Maria Madalena, filha da cidade de Magdala (Israel).
Paulo de Tarso, o apóstolo, era filho de Tarso, na Turquia.
Santa Teresa d’Ávila, padroeira de Imperatriz, era filha de Ávila, cidade da Espanha.
E mais uma: Madalena de Canossa, que dá nome a uma escola de Imperatriz, era uma rica princesa italiana, da cidade de Canossa, que abandonou tudo para se dedicar aos pobres.
Com 22 anos Frei Epifânio foi ordenado sacerdote. Veio para o Brasil cinco anos depois, em 1947. Veio para Imperatriz em 10 de outubro de 1952. Aqui morreu trinta anos depois, em 1982.
Frei Epifânio gostava de futebol e o praticava. Era conhecedor de técnicas e táticas. Jogou de batina até conseguir autorização da Igreja para jogar de calção.
Foi um frei que prestou muitos serviços para o município de Imperatriz: foi responsável por duas grandes paróquias (São Francisco e Fátima), dirigiu e construiu igrejas, organizou clubes de futebol e, entre outras atividades e realizações, dirigiu o Ginásio Bernardo Sayão. (EDMILSON SANCHES –Vereador)
Fotos:
Frei Epifânio, de batina, jogador do Nacional Futebol Clube, de Imperatriz, em 1960. E com a seleção de futebol de Montes Altos e a equipe do Formiga Futebol Clube.