– CIÊNCIA & CONSCIÊNCIA
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“Quando morreres, só levarás aquilo que tiveres dado”.
MUSHARRIF OD-DIN SAADI (1184-1291), poeta persa.
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I – “MORTES”
“Quantos mortos trago vivos
no fundo do coração
e dentro em mim quantos vivos
há muitos mortos estão”.
(BELMIRO BRAGA, 1872-1937, poeta brasileiro)
Há pessoas que não morrem só uma vez. Quando for contada em livro a história da grande vida de Terezinha de Jesus Almeida Silva Rego – e, a partir de uma queda em casa, de sua inesperada morte, dia 3/5/2024 –, o pesquisador e escritor mais diligente poderá incluir, sem intenção de blague, os registros apressadamente feitos – e envergonha…
CONCLUSÃO (TEREZINHA DE JESUS ALMEIDA SILVA REGO - CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA)
PREMIAÇÕES & HOMENAGENS – Se gentileza gera gentileza, o trabalho bem feito pode render reconhecimentos. Terezinha Rego foi homenageada pela Câmara de Comércio Brasil – China, pois os asiáticos estavam agradecidos à cientista maranhense pelo envio de medicamentos fitoterápicos que curaram os chineses que sofriam com o surto da doença “pneumonia asiática” em 2003.
E do sul da Ásia outra distinção, desta vez da Índia, de onde veio para Terezinha Rego um troféu como forma de reconhecimento e homenagem... Ela observa: “No Exterior eu sou mais conhecida do que aqui no Brasil”.
Por escolha da Sociedade Botânica do Brasil, a maranhense passou três meses na Inglaterra, onde apresentou estudos e experiências, pelo que recebeu reconhecimento. Na oportunidade, esteve em dois lugares icônicos de Londres, a capital da Inglaterra e do Reino Unido: os Reais Jardins Botânicos de Kew ou apenas Jardins de Kew (em inglês: Royal Botanic Gardens, Kew; ou apenas Kew Gardens), criados em 1840; e The British Museum, o famoso Museu Britânico, fundado em 1753. Os Reais Jardins Botânicos são considerados os maiores do mundo, pelo critério de variedade de plantas (em maio de 2019 eram 16.900 espécies), um herbário com mais de 7 milhões de espécies e “2.000 anos de conhecimento sobre plantas em uma das mais extensas bibliotecas botânicas do mundo”... e um mundo de coisas mais, vegetais, gastronômicas, arquitetônicas etc. Já o Museu Britânico é o detentor do fragmento da Pedra (ou Estela) de Roseta, “a mais famosa pedra do mundo”, cujas inscrições em três antigas línguas (egípcio hieroglífico, demótico e grego) foram decifradas em 1822 pelo filólogo e egiptólogo francês Jean-François Champollion, o que provocou uma saudável, esperada e necessária (r)evolução para a Arqueologia (em especial a Egiptologia) e a Paleografia, pois, a partir da decodificação da pedra, instaurou-se uma referência para futuras novas traduções de antigos textos ou inscrições.
E, volte-se a lembrar, que, ainda na Europa, um estudo de Terezinha Rego ganhou o 1º lugar em evento em Córdoba, cidade espanhola de mais de 22 séculos e Patrimônio Mundial da Unesco. Observa a escritora Arlete Nogueira da Cruz, em texto de 2023: “Antes do Brasil, [Terezinha] foi reconhecida fora, na Holanda, Portugal, Itália, viajando a convite pelo Japão, Cuba, Espanha [...], Londres e outros países que se beneficiavam com as suas medicações”.
O programa “Globo Rural”, da TV Globo, fez homenagem à pesquisadora maranhense.
Em 2001, o nome e trabalho, a vida e obra de Terezinha Rego foi tema de samba-enredo da maior campeã (pelo menos 20 títulos) do Carnaval da capital maranhense, a Sociedade Recreativa Escola de Samba Favela do Samba. O título do samba – "De cabaça a cabacinha, eu sou mais Terezinha" – destacou o fruto cabacinha (ou buchinha, entre outros nomes), do qual Terezinha isolou o princípio ativo e, ao final dos estudos e outros esforços científicos, produziu um dos seus mais conhecidos medicamentos fitoterápicos, aqui já citado. O samba, feito com os parceiros Tião e Riba do Palmares, foi a última composição do músico rosariense Escrete (José Henrique Pinheiro Silva), falecido aos 54 anos (15/3/1952-25/01/2007).
Em 2002, nas comemorações do Dia do Farmacêutico em Brasília, Terezinha Rego foi uma das 22 pessoas, entre farmacêuticos e autoridades, a receber homenagem do Conselho Federal de Farmácia.
Em setembro de 2009, o Senado Federal rendeu homenagem a Terezinha Rego, em sessão especial em Brasília, pela dedicação à flora e à Fitoterapia, à formação de novos profissionais, ao trabalho em favor da saúde de populações carentes etc.
Em 26 de outubro de 2010, Terezinha Rego recebeu o título de Doutora "Honoris Causa", da Universidade Estadual do Maranhão (Uema). O discurso de saudação foi feito pela fundadora e diretora do Curso de Ciências Biológicas, professora e pesquisadora Zafira da Silva de Almeida – que faleceu em 11 de dezembro de 2021 e que, imperatrizense de nascimento, teve seu nome por mim escolhido para o patronato da Cadeira nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz, que (re)fundei na “Princesa do Tocantins” em março de 2023, “ressuscitando” os esforços, de outros e meus, de criação do Instituto em 23 de fevereiro de 1989, data que o novo Estatuto do IHGI manteve. Na entrega do Diploma, o reitor José Augusto Silva Oliveira destacou: "O título ‘Honoris Causa’ reconhece o esforço e o trabalho realizado por cientistas como Terezinha Rêgo à sociedade e legitima o papel da universidade diante do seu corpo docente".
Em 2010, Terezinha Rego foi uma das 15 mulheres finalistas da 15ª edição do “Prêmio Cláudia”, da revista feminina de mesmo nome publicada desde outubro de 1961 pela Editora Abril, de São Paulo (SP). O Prêmio Cláudia “consagra mulheres brasileiras que alcançaram relevância em uma das seguintes áreas: Políticas Públicas, Trabalho Social, Negócios, Cultura e Ciências, sendo que as vencedoras são escolhidas por três júris (o de notáveis, o da redação e o de leitoras)”. Terezinha estava na categoria “Políticas Públicas”.
Em 20 de dezembro de 2016, por sua dedicação à pesquisa científica em Fitoterapia e estudos conexos (Etnobotânica, Hortas Medicinais, Medicina Popular etc.), Terezinha Rego foi homenageada pelo governo estadual, no Encontro Anual dos Profissionais da Força Estadual de Saúde do Maranhão. Terezinha já havia capacitado todos os farmacêuticos e nutricionistas da Força de Saúde, além de ter ministrado palestras em diversos municípios maranhenses.
No ano seguinte, em outubro de 2017, a dedicação de Terezinha Rego à Ciência das plantas maranhenses foi objeto de homenagem da Câmara Municipal de São Luís.
Em 2019, foi homenageada com o Prêmio Fapema, concedido em São Luís pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão.
REGISTROS (MUITO) PESSOAIS
"De quantas vidas se faz uma vida? Quantas passam? Quantas ficam?"
(E. S.)
Conheci Terezinha Rego. Até seu falecimento, tivemos em comum a pertença, em tempos variados, aos quadros e atividades de pelo menos cinco organizações, instituições ou entidades: a Academia Maranhense de Ciências (AMC, fundada em 2008), o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM, fundado em 1925), o Partido Socialista Brasileiro (PSB, fundado em 1947), o Rotary Club/Rotary International (fundado em 1905), e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC, fundada em 1948). Na Política, ela na capital e eu no interior maranhense, nos “aventuramos”, demos a cara à tapa colocando-nos disponíveis e dispostos e concorrendo a mandatos eletivos – Terezinha, a senadora, e eu, a quase tudo. E pagamos o “preço” que a “pulítica” errada e minúscula cobra dos que ousam torna-la menos ruim. Político que não é corrupto não é confiável...
Tenho os livros de Terezinha, que obtive com autógrafo e dedicatória para outrem, uma terceira pessoa de quem a obra se deve ter descolado e ido para venda em loja especializada de raridades assim – onde eu, capt!, peguei!
Puxando pela memória, creio que a primeira vez que encontrei-me com Terezinha Rego – e não foram muitas – deve ter sido na década de 1990. E, como dizem os latinos: “Pauca, sed bonna” – poucas vezes, mas boas vezes. Uma das conversas mais interessantes e emocionantes que (man)tivemos deu-se em um evento técnico da Embrapa, a excepcional, incomparável Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, criada em 1973 pelo governo federal . Foi assim:
No interior maranhense, eu era gestor de um órgão público voltado para o Desenvolvimento Integrado. Como sempre nessas estruturas da Administração Pública, quem está à frente de Pastas assim têm mais poder de sugestão do que de decisão... Então, eu me dedicava também a escrever artigos, ministrar palestras, auxiliar na organização ou dinamização de entidades, com uma obstinação crédula, quase quixotesca. (Nós, os idealistas...).
Por saudável insistência de uma técnica/gestora da Embrapa, que fora alertada por um engenheiro seu irmão e conhecedor de meus esforços e intenções, aceitei convite para contribuir com a formulação do Planejamento Estratégico da Empresa, que se daria em São Luís, com a presença de mais de uma centena de técnicos e outras boas gentes do ramo, do Brasil e do exterior, que ficaram dois dias “internados” em hotel, dedicado exclusivamente a observar e absorver a metodologia e a aplica-la quando da parte “prática”, da elaboração de ideias, metas, objetivos, ações, essas coisas.
O evento era uma espécie de “Future Search Conference”, um encontro de busca de futuro, ou seja: Atrás do quê mesmo a Embrapa deveria correr? No Maranhão, o encontro tinha o nome, se não me engano, de “Busca de Prioridades do Agronegócio do Maranhão” – e, adianto logo, quando terminou o evento, minha participação fez a diferença na definição de qual a cidade do interior onde iria dar-se o próximo encontro...
Recordo-me que, durante os dois dias, mais de cem técnicos maranhenses e não maranhenses contaram com a participação de especialistas de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e do exterior, discutiram a definição de temas e linhas de ação da Embrapa, na região do Meio-Norte brasileiro. Durante as atividades, fui eleito coordenador de grupos de discussão e relator de trabalhos. Ao final da reunião, foram relacionados seis grandes pontos desejáveis para a atuação da Embrapa nos próximos cinco anos: Agronegócio Familiar, Grãos, Fruticultura, Cadeias Produtivas, Pecuária e Recursos Naturais. Entre as sugestões que apresentei e defendi, estava a necessidade de continuidade do processo de Gestão Participativa não só na formulação e formatação das linhas de planejamento estratégico para a elaboração do Plano Diretor da Embrapa mas também no compartilhamento das informações e implementação das ações.
Apresentei ainda sugestões de ações tecnológicas e não tecnológicas, aprovadas em grupos e pelo plenário da reunião. Entre as sugestões, a de realização de convênio entre a Embrapa e o Projeto Banco do Nordeste/PNUD (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para a capacitação empresarial de pequenos empreendedores de agronegócios. Essas sugestões e intervenções receberam apoio e elogios de autoridades e técnicos presentes, entre os quais um do interior maranhense, o deputado estadual e engenheiro agrônomo Mercial Arruda, que disse estar a região tocantina “muito bem representada com a participação do secretário Edmilson Sanches”.
Também elogiaram a nossa participação e manifestaram apoio às propostas que apresentei o agrônomo e pesquisador Marco Aurélio, diretor da Empresa Maranhense de Pesquisa Agropecuária (Emapa), o economista e professor universitário Arlindo Raposo (consultor do Consórcio Intermunicipal de Produção e Abastecimento-Cinpra), o produtor e consultor Enílton Grill, a engenheira Rosa Lúcia Rocha Duarte (pesquisadora em Horticultura da Embrapa em Teresina - PI) e a chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa, Maria Pinheiro Fernandes Corrêa. Ainda tive tempo de ter reuniões na capital com técnicos do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do governo federal) e do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes, do governo do Maranhão).
E onde aparece Terezinha Rego nessa história? Relembro: as sugestões que eu havia apresentado – de minha parte e como líder de grupos –, abrangiam seis áreas ou subáreas: Agronegócio Familiar, Grãos, Fruticultura, Cadeias Produtivas, Pecuária e Recursos Naturais.
Pois bem: na hora que fui convidado a apresentar as reflexões, ideias e proposições do grupo que eu liderava, entre as propostas detalhadas estava a que elevava a importância da Botânica, da flora, da Medicina Natural, da Fitoterapia, das plantas e demais vegetais do Maranhão. Reclamei do pouco caso, do acaso e descaso que há entre autoridades e formuladores e executores de Políticas Públicas, que detêm nível de decisão acima dos “operadores” da Fitoterapia maranhense, como os Farmacêuticos-Bioquímicos, os Botânicos, os Fitoterapeutas, os Nutrólogos, os Nutricionistas, os Engenheiros Alimentares, os Técnicos Agrícolas, os Naturopatas e, entre outros, os pajés e demais indígenas responsáveis, nas comunidades tribais, pela condução do ritualismo mágico, por serem ou terem a autoridade xamanística relacionada à invocação e controle de espíritos e o uso tradicional de plantas, o que, em suma, torna os pajés ou outros indígenas os indivíduos de referência, reverência e, quase sempre, primeira preferência em assuntos da mística e realidade de cada tribo e de exercício ou manifestação de poderes encantatórios, tanto oraculares (consulta a divindades) quanto vaticinantes (profecias ou predição de futuro) e, é claro, CURATIVOS.
Era exatamente este aspecto – “curativo”, medicamentoso – do uso da Flora maranhense que eu busquei ressaltar na apresentação das propostas. Devo ter dito de minhas lembranças com o sem-número de remédios, de “banhos de cheiro”, de “lambedores”, de mezinhas e compressas, até “benzeduras” com galhinhos que murchavam e o quê mais que minha zelosa mãe, Dona Carlinda (falecida aos 49 anos) preparava, à base de cascas, folhas, sementes, óleos, pós, folhas, flores e frutos ou frutas, mas sobretudo preparava à base de afinco e de afeto, com muita habilidade, com a maior bondade... e o melhor resultado, comprovadíssimo pela melhoria ou restauro da saúde de filhos, familiares, vizinhos e muitas pessoas a quem Dona Carlinda (linda até no nome) acudia em nossa residência, sem nada cobrar ou receber de todos que a procuravam. A aqueles “preparos” minha mãe e eu, bem-humorados, brincávamos denominando-os de “garrafadas” ou “gororobas”, “xamberebas” ou... De minha parte, até hoje nunca “arrepunei” (repugnei, rejeitei), nunca “enjeitei” (recusei) tomar chá ou suco de mastruz, ou de folho de boldo com laranja, entre outras “soluções”, guardadas em garrafas de vidro que eram mantidas na geladeira sempre cheias daqueles líquidos preciosos, milagrosos...
A veemência e emoção com que defendi as plantas e a Fitoterapia maranhense falaram fundo em Terezinha Rego, de cuja presença eu sequer sabia no lotado salão onde os grupos àquela hora se concentravam. (Durante os dois dias os grupos se haviam espalhados por diversos pontos do hotel, ali no Bairro São Francisco, da capital maranhense).
Recordo-me de que, após ter feito sua exposição, o líder do grupo de que participava a professora Terezinha Rego anunciou um momento de fala solicitado pela pesquisadora. Não deu outra. Terezinha Rego começou com impacto e com emoção, ao elogiar as palavras que eu dissera, agradecer a proposição que eu fizera e do modo com que eu expusera. Disse que nem mesmo no grupo em que ela estava foi lembrado o uso ou utilização das plantas medicinais do nosso Estado para integrar parte das ações do plano estratégico da Embrapa, que ali se formulava.
Eu me lembro dos olhos brilhantes, chorosos, emocionados, verdadeiros da tão dedicada cientista da flora do Maranhão. Ali, pequena, aparentemente frágil, mas já com um portifólio real e potencial de conteúdos, ações e soluções práticas que, em milhares de casos, beneficiaram ou viriam a beneficiar mais ainda muuuuuuita gente, seja no Maranhão, seja no Brasil, seja na China.
Todos ouviram respeitosamente, e igualmente emocionados, a professora Terezinha Rego. Era a lutadora ali, querendo quem sabe abrir ou confirmar mais um espaço de (boa) ação, de (bom) uso para suas / nossas plantas. Foi aplaudida de pé. O engenheiro Mercial Arruda (não lembro se ele integrava meu grupo; atualmente é prefeito de Grajaú (MA)), com o (bom) hábito de deputado que era à época e com o conhecimento de engenheiro-agrônomo, do interior, pediu a palavra e fez um escancarado elogio – esses políticos amigos... – ao que eu e a professora Terezinha dissemos e propusemos e defendemos. Saiu um ou dois dias depois no jornal “O Estado do Maranhão”, terceira página.
Assim conheci Terezinha Rego.
Na lida. Na luta.
II – MORTE
"[...] o rio mais cansado / alcança a salvo nalgum lugar o mar."
(SWINBURNE, 1837-1909, escritor inglês)
A morte de Terezinha Rego deu-se a partir de uma queda em sua residência, quando bateu a cabeça. Levada a hospital, onde ficou internada, o quadro evoluiu para pneumonia e, ao final, a grande mestra veio a falecer às 2h30 de sexta-feira, 3 de maio de 2024, em razão de insuficiência respiratória. Em declarações à TV Difusora, uma sobrinha da fitoterapeuta, Elaile Silva Carvalho, detalhe o ocorrido: “No domingo [28 de abril], ela caiu ao tentar se levantar e minha prima levou-a ao hospital para ver se ela não havia quebrado nada. Os médicos acharam melhor que ela ficasse em observação por 24 horas. À noite, ela se sentiu mal e vomitou. Pela manhã, ela vomitou e broncoaspirou. Em decorrência dessa broncoaspiração, ela contraiu uma pneumonia”. Depois, segundo a notícia, “os médicos passaram a administrar antibióticos para tentar evitar que o quadro pulmonar evoluísse, mas o quadro se agravou”. A sobrinha continua: “Ontem [2 de maio] pela manhã, ela até dormiu bem, mas, já na metade da manhã, os médicos chamaram a família para dizer que os antibióticos não estavam fazendo mais efeito”. A sobrinha finaliza, com um retrato 3 x 4 de uma pessoa de grandes dimensões, profissionais e sobretudo humanas: “Ela teve uma vida plena. Uma pessoa festiva, gostava de festas e de reunir as pessoas. Tratava todo mundo igual, independentemente da condição social e econômica da pessoa. Ela ajudou muitas famílias e durante esses noventa e um anos de vida dela. Ela deixa um legado para nós lembrarmos dela eternamente”.
Terezinha Rego ter sua morte causada por problemas respiratórios é uma lamentável coincidência e triste ironia, pois foram doenças e problemas respiratórios o que tanto ela estudou e de que tanta gente ela cuidou e curou com vários de seus medicamentos, dum lado ao outro do mundo, do Brasil à China. Pelo visto e sentido, a vida continua fazendo suas estranhas poesias... O corpo de Terezinha Rego foi cremado na tarde do dia 3 de maio, no Cemitério Jardim da Paz, após ter sido velado no Salvatore Funeral Home, em São Luís.
III – PÓS-MORTE
"Do lado esquerdo carrego meus mortos. / Por isso caminho um pouco de banda".
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, 1902-1987, escritor brasileiro)
A FALTA QUE ELA FAZ... – Após a morte de Terezinha Rego, pessoas físicas e jurídicas, instituições de que ela fazia parte, emitiram notas onde registraram seu pesar e reconheceram a contribuição de cientista e humanista maranhense à Ciência e à Sociedade. Trechos das manifestações institucionais de que tive conhecimento:
A UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA), “alma mater” de Terezinha Rego, destacou em sua Nota; "Farmacêutica por formação e professora do Departamento de Farmácia da UFMA, Terezinha Rêgo era apaixonada pela flora medicinal desde a infância. Dedicou mais de cinco décadas de sua vida ao estudo e à valorização das plantas medicinais como ferramentas para a promoção da saúde e do bem-estar. (...) Entre tantas outras premiações, com base em seus estudos, a pesquisadora contribuiu para que a UFMA alcançasse destaque no cenário internacional. A Universidade se solidariza com familiares e amigos neste momento de dor e consternação".
O PODER EXECUTIVO DO MARANHÃO, pelo governador do Estado Carlos Brandão, apresentou “[...] solidariedade aos familiares, amigos e alunos da professora Terezinha Rêgo. Sem dúvidas, ela entra para a história da ciência maranhense pela sua importante contribuição para a Botânica e Biotecnologia, com especial atenção aos que mais precisam. Descanse em paz!”
O PODER JUDICIÁRIO DO MARANHÃO (Tribunal de Justiça/TJ-MA) registrou que Terezinha Rego era “reconhecida pelo seu conhecimento em Farmacologia natural baseada na flora medicinal maranhense” e informou que, “em seu discurso oficial durante a solenidade de posse da nova Mesa Diretora do TJ-MA (biênio 2024-2026), realizada na última terça-feira (30/4), o desembargador Froz Sobrinho homenageou a professora, pelos serviços prestados à ciência e à população no Maranhão. A professora Terezinha de Jesus Almeida Silva Rêgo [...] era irmã dos desembargadores (aposentados) José Antônio e Orville de Almeida e Silva (in memoriam). Notabilizou-se na UFMA e na comunidade acadêmica por suas inúmeras pesquisas e seu empenho como coordenadora do Herbário da Universidade [...]”.
O PODER EXECUTIVO MUNICIPAL DE SÃO LUÍS, por intermédio do prefeito Eduardo Braide, ressaltou em Nota que Terezinha rego foi “pioneira e incansável no estudo da fitoterapia e flora maranhense, teve a vida dedicada a estudar o poder de cura através das plantas, ajudando milhares de pessoas e, assim, tornou-se uma referência para o Maranhão, o Brasil e o mundo!”. Foi decretado “luto de três dias no município de São Luís em razão de sua partida, pelo grande legado de cura e ensinamentos que ela nos deixa. Descanse em paz. A sua luta é e será para sempre inspiração”.
O PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL DE SÃO LUÍS (Câmara de Vereadores) destaca que “Terezinha Rêgo deixa um grande legado para São Luís, para o Maranhão e todo o Brasil. Foi uma das mais influentes farmacólogas do País e seus tratamentos eram baseados em medicamentos naturais, sendo pioneira e reconhecida, nacionalmente e mundialmente, pelo estudo da flora medicinal do Maranhão.”
A UEMASUL – UNIVERSIDADE ESTADUAL DA REGIÃO TOCANTINA DO MARANHÃO confirma que Terezinha “dedicou sua vida ao estudo das propriedades curativas das plantas, sendo reconhecida nacional e internacionalmente por sua pesquisa inovadora, especialmente no tratamento de sinusite e outras doenças respiratórias”, que ela “era apaixonada pela formação de novos profissionais e pela preservação da rica flora medicinal do Maranhão” e lamenta “a perda desta figura ímpar que tanto contribuiu para o avanço da ciência, da educação e da cultura do nosso Estado. Terezinha Rêgo deixa um legado de amor à natureza, conhecimento e compromisso com o bem-estar da comunidade.”
O CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA inicia seus registros lamentando “profundamente a perda de um dos maiores expoentes da profissão farmacêutica no país”, realçando que “a farmacêutica Terezinha de Jesus Almeida Silva Rêgo, conhecida como Terezinha Rêgo”, “[...] tinha 91 anos e era a farmacêutica com maior tempo de atividade do Maranhão”; que “foi uma das fundadoras da Academia Maranhense de Ciências, sendo pioneira e reconhecida nacional e mundialmente, pelo estudo da flora medicinal do Maranhão”; que “sua paixão pelas plantas começou com a instalação de hortas medicinais nas periferias de São Luís, por meio de uma pesquisa junto às comunidades carentes”; que “a fitoterapia a acompanhou por toda a vida”; que “um dos destaques da sua carreira foi o lançamento de um medicamento para sinusite, rinite alérgica e adenoide”; que esse “medicamento demorou 20 anos para ser lançado”; que “Terezinha Rego também pesquisou a chanana, uma flor amarela [que] tem uma substância energética que melhora o sistema imunológico” e “foi usado no tratamento do câncer no Hospital Aldenora Bello, em São Luís”. Os registros se encerram com “sentimentos” apresentados “à família, amigos e a todos aqueles que tiveram o privilégio de serem alunos ou pacientes da professora Terezinha Rêgo”.
Em sua Nota, a FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DO MARANHÃO (Fapema) “lamenta a morte da Pesquisadora Terezinha Rêgo, referência estadual, nacional e internacional em fitoterapia e que possui um legado inestimável resultado de mais de 50 anos de dedicação ao estudo da flora medicinal maranhense. Teresinha estará sempre imortalizada em sua produção e na memória de amigos, familiares, colegas, alunos e pesquisadores do Estado”.
A APRUMA (antiga ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DO MARANHÃO, hoje SEÇÃO SINDICAL DO ANDES – SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR anota que Terezinha rego era “Professora aposentada do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão” e que ela continuava “contribuindo com o Departamento, inclusive depois de aposentada”. História que “a professora foi sindicalizada da Apruma desde o início da década de 1980” e que “teve grande e admirável contribuição para a formação de centenas de farmacêuticos no estado do Maranhão, com destaque para as experiências na área de Botânica, e na sua atuação na Fitoterapia, [...], com mais de 75 medicamentos lançados pelo herbário da UFMA, o qual por muitos anos coordenou”. A Nota avalia que Terezinha Rego “consolidou-se, assim, como parte da história da Fitoterapia do Brasil e do Exterior e sempre destacou a importância da rica flora do Maranhão.” Continua: “A mestra, também, sempre colocava em evidência a necessidade dos investimentos em educação e pesquisa por parte dos governos e externava o desejo de dias melhores para a Ciência.” Finaliza a Nota reconhecendo: “Homenageada por diversas entidades e instituições acadêmicas e científicas, inclusive pela Apruma, por sua forma de fazer e ser Ciência, por sua força como mulher e cidadã e pelo reconhecimento da sociedade dos seus atendimentos, principalmente às populações mais carentes.”
A nota da ACADEMIA DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DO BRASIL (anteriormente, ACADEMIA NACIONAL DE FARMÁCIA) registra o “legado inestimável” que Terezinha Rego deixa “para o Maranhão e para a comunidade científica”, reconhece a “contribuição para a fitoterapia e seu incansável trabalho em comunidades carentes”, destaca a “atuação exemplar na pesquisa e ensino” e confirma que “Terezinha Rêgo foi uma líder acadêmica respeitada, fundadora do Herbário Ático Seabra e coordenadora de importantes projetos científicos, como o Polo de Biotecnologia do Maranhão.” E lembra que “seu compromisso com a preservação do conhecimento botânico e seu empenho em promover mudanças estruturais na forma como a Ciência é percebida são legados que perdurarão”, concluindo: “Que a memória e o exemplo de Terezinha de Jesus Almeida Silva Rêgo permaneçam vivos em nossos corações e inspirem-nos a seguir seus nobres ideais.”
A ACADEMIA MARANHENSE DE CIÊNCIAS (AMC), em sua Nota, “manifesta seu mais profundo pesar pelo falecimento da professora e fitoterapeuta Drª Terezinha de Jesus Almeida Silva rego, que, de 2008 a 2024, ocupou a Cadeira nº 14, como Membra Efetiva e fundadora da AMC.”
O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO divulgou Nota comunicando o falecimento de Terezinha Rego e lembrou que a “professora, pesquisadora” foi a “pioneira no estudo da Fitoterapia no Maranhão” e era “sócia honorária do IHGM”.
A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FITOTERAPIA (ABFIT) destacou o “legado imensurável para a fitoterapia'” que Terezinha rego deixou “com sua dedicação ao estudos das plantas medicinais” e que “sua representação na pesquisa Etnobotânica fora do Brasil é orgulho para todos nós que nos dedicamos a trabalhar com as plantas medicinais”.
Em sua “Nota de Pesar e de Reconhecimento”, a ACADEMIA BRASILEIRA ROTÁRIA DE LETRAS (ABROL/MA) resumiu a formação, atuação e envolvimento sociocomunitário e institucional de Terezinha Rego. Registrou a presidência de clube rotário de Terezinha Rego e destacou suas “atividades de voluntariado uma vez associada do Rotary International”. A Nota encerra, reconhecendo: “Por todas as atividades desempenhadas, pela democratização da Ciência, pelas vidas salvas, pela dedicação com todos que se beneficiaram dos seus conhecimentos e dedicada atenção, ficam as homenagens a essa mulher maranhense de grande contribuição ao ensino e à pesquisa científica nacional e de merecido reconhecimento internacional”.
Em sua Nota, a ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL) qualificou Terezinha Rego como “uma importante figura no campo científico nacional, conhecida por suas contribuições ao estudo da Farmacologia Natural e da Fitoterapia, especialmente com foco na flora medicinal do Maranhão” e que “sua trajetória destaca-se por décadas de trabalho em pesquisa, educação e promoção da saúde”.
O INSTITUTO FLORENCE, estabelecimento privado de Ensino Superior, de São Luís, também se manifestou. Trouxe em sua Nota (“Lágrimas que regam plantas”): "Como membro fundadora da Academia Maranhense de Ciências e professora titular do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), seu legado na formação de estudantes e na pesquisa da medicina popular são indeléveis. Os estudos de Terezinha Rêgo na área da fitoterapia sempre priorizavam a busca de tratamentos a populações mais carentes, demonstrando seu compromisso com a saúde pública e o bem-estar social".
A FAVELA DO SAMBA lembra em sua nota que “Terezinha Rego foi tema do nosso desfile de Carnaval no ano de 2001” e que “neste momento de luto, unimo-nos em solidariedade à família e amigos de Terezinha, compartilhando as memórias de sua vida extraordinária”. Ao final, a escola de samba deseja “que a jornada” de Terezinha Rego “seja iluminada pelo brilho que ela trouxe ao mundo”.
IV – CIÊNCIA, CONSCIÊNCIA
Um casulo é o túmulo de uma lagarta e o berço de uma borboleta;
também a morte para o homem é o princípio de uma nova e melhor vida.
(MARQUÊS DE MARICÁ, 1773-1848, filósofo e escritor brasileiro)
Terezinha Rego, avessa à política, não queria FAZER PODER – ela só queria trabalhar, isto é, PODER FAZER. Para não dizer que ela pelo menos não tentou na política, em 2002 concedeu-se o direito cidadão de concorrer a uma candidatura, ao Senado, pelo PSB. Os maranhenses, entretanto, não a elegeram, pois tinham ciência e certeza de a partir de qual cadeira Terezinha Rego fazia bem feito o bem que fazia para o Maranhão, o Brasil e o mundo: era na cátedra magisterial, não na poltrona senatorial.
Outra declaração de amor se junta àquela: “[...] acho que essa é a minha grande paixão: a botânica, lutar pelas nossas plantas e mostrar o valor que elas têm.” E mais adiante continua, com um olhar no futuro – que lamentavelmente já está presente, com a morte de Terezinha, que expressou um desejo: “Eu espero que alguém continue esse meu amor pelas plantas, que não deixe morrer essa importância que elas têm no dia a dia de cada um de nós, não só na saúde, como também na alegria, pois as flores trazem também muita alegria. Sou uma inteira apaixonada pela Botânica.” E por ser forte e grande, embasado e verdadeiro, o amor de Terezinha à Botânica contagia: um ex-aluno que se tornou presidente da Agência Nacional de Vigilância sanitária (Anvisa), do Governo Brasileiro) emocionou sua antiga mestra ao dizer em entrevista nos Estados Unidos: “Tudo que eu tenho, esse amor, tudo que já consegui fazer através das plantas, devo a minha professora de Botânica, Terezinha Rêgo”. Para ela, essa declaração foi a “emoção maior”.
Com ela, o conhecimento, isto é, a ciência dos benefícios das plantas levou os benefícios das plantas à Ciência. Com ela, o EMPIRISMO, no que este tem de observacional e experiencial, chegou ao CIENTIFICISMO, no que este tem de rigor metodológico e de positividade de resultados.
A Ciência de Terezinha Rego despertava-lhe tanto um sentimento de amor profissional quanto um sentido de consciência social. Para fazer Ciência, ela própria diz com outras palavras, se envolvia tanto e viajava tanta que a própria mãe dela, Dona Chiquinha, se perguntava ou sugeria por que Terezinha já não deixava permanentemente a mala na garagem... Terezinha confirma, em entrevista à Fapema, em 2010: “Eu sempre lutei por isso. Eu me lembro que viajava muito em busca de pesquisa, deixava minhas filhas pequenas mais com o pai, que foi meu grande apoiador. Graças a Deus, minhas filhas e toda a minha família entenderam a minha paixão pela botânica, pelo meu trabalho. Sou inteiramente apaixonada.” Bem-humorada e entre risos, avalia: “Olha, eu não sei se, por causa desse amor pela Botânica, se eu fui uma boa mãe, uma boa avó”.
Para ter o que fazer com a Ciência, após tanto conhecimento observado e absorvido, Terezinha Rego foi dividi-la com pessoas, famílias, comunidades pobres, inicialmente apeando seu acervo de Ciência e Consciência e compartilhando “essa ideia das hortas” (iniciada em 1955 ou 1956) com pessoas do Apeadouro, bairro do século XVII e um dos mais antigos de São Luís, situado entre os bairros João Paulo, Fátima, Monte Castelo e Alemanha.
DOR – A dor a que aqui se refere não é a dor da tortura, do sofrimento, mas a dor do incômodo, do inconformismo. Não é a dor nervo, sensação, mas a dor sentimento, coração. Doía em Terezinha Rego a falta de apoio, declarada em diversas entrevistas. A falta de melhor e mais adequada estrutura – espaço, equipamentos, tecnologia, investimentos, pessoal (houve época em que Terezinha Rego só contava três auxiliares – um engenheiro agrônomo, uma secretária e um auxiliar. Em 2011, ela revelava: “Olha, tem mês que o dinheiro arrecadado não dá para cobrir a folha [de pagamento] e a gente tem que entrar nos recursos da gente”.
Havia também em Terezinha Rego uma “dor cívica”, cidadã, trazida pela necessidade social de redução de certas demandas de comunidades de favelas e invasões carentes de um mínimo de assistência e dos medicamentos que ela teria condição de produzir, receitar e distribuir em maior quantidade, com garantida e qualidade, caso não fosse o quase descaso à sua causa.
Havia em Terezinha Rego a dor ante o poder da influência das multinacionais farmacêuticas sobre o uso de medicamentos fitoterápicos – isso combinado com a resistência “muito grande” da classe médica, à época. Disse a pesquisadora, em 2007: “A fitoterapia é milenar, mas foi marginalizada no Brasil devido a interesses de multinacionais que perderiam mercado para seus produtos alopáticos”.
A dor ante a falta de um laboratório para controle de qualidade, daqueles cuja tecnologia apresenta, em minutos, resultados que ela, Terezinha, só conseguia após 15 ou 20 anos de estudo. “É muito triste”. Ela ficou sem condição de competição ante o elevado grau de desenvolvimento tecnológico que estava sendo alcançado por laboratórios e faculdades de outros países. O Maranhão e o Brasil perderam muito...
A dor histórica por, no início, não ter espaço adequado para trabalhar, tendo conseguido uma sala pequena em um porão da universidade, local cujo acesso cobrava tempo e paciência e alguma chateação: era muita lama para enfrentar... o automóvel atolava... os alunos tinham de ajudar, empurrando o veículo da professora... Não há vitória sem sacrifício...
A dor por não ter conseguido laboratório de alta tecnologia que seria doado pela China, porque a universidade, à época, disse não condição de dar a contrapartida – que era tão só o espaço físico para instalação dos equipamentos.
A “dor” causada pela insatisfação de, durante muito tempo, o Maranhão não se perfilar a Estados como Ceará e Pará, que já apresentavam avanços nos estudos científicos das plantas medicinais.
A dor ante as críticas injustas. “Fui muito criticada”. Por exemplo, em um congresso científico em Belém (PA), só faltou Terezinha ser queimada fisicamente, como uma nova Joana d’Arc, pois verbalmente foi agredida por cientistas que a chamaram de “feiticeira” durante e após a exposição da farmacêutica maranhense sobre plantas medicinais.
“Eu certamente não estarei aqui – disse Terezinha Rego, em entrevista –, mas quando conseguirem o princípio ativo capaz de contribuir para a cura do câncer, esse princípio virá das plantas”.
“As nossas plantas estão indo para o Exterior, estão sendo patenteadas lá e nós não temos o direito de utilizá-las mais aqui”. Em setembro de 2007, Terezinha Rego declarava em entrevista: “[...] ainda temos muita dificuldade com a lei de patentes e a falta de recursos para pesquisa”. Pessoalmente, ela confirmava nunca ter patenteado uma fórmula dela, “porque o processo é muito complicado e caro no Brasil. Os pesquisadores não têm recursos para patentear suas fórmulas”. E informava – não sem um travo de decepção ou descontentamento ou frustração ou desapontamento, ou tudo isso junto e misturado – que “os japoneses patentearam a babosa (“Aloe vera”) e estão tentando patentear o “Peumus boldus”, o boldo brasileiro, porque descobriram que essa planta contém ácido acetilsalicílico, o princípio ativo da aspirina”.
Quando consultora da Central de Medicamentos do governo federal, Terezinha rego era sua consultora. Um de seus deveres era despachar pelos Correios plantas para serem estudadas, por exemplo, na nonagenária Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Essa atividade lhe valeu mais uma dor -- a dor da suspeição injusta: “[...] eu fui barrada nos Correios pela Polícia Federal, [...] pela frequência com que eu transportava as plantas, como se eu tivesse traficando, como se tivesse mandando maconha [...]”. Terezinha compara: “Eu que lido com isso [plantas medicinais] desde os oito anos de idade, [...] eu fui chamada, e esses que levam as nossas plantas para lá (para o Exterior]? Eles são ao menos autuados? Não são [...]. É uma tristeza, viu. A gente sente uma revolta muito grande”.
V – LEGADO: E AGORA?
"Se nada se perde no mundo, se luz, som, pensamento, alma, tudo tem substância e tem força
– onde estarão a voz, o pensamento, a alma daqueles que fecham os olhos [...]?"
(RACHEL DE QUEIROZ, 1910-2003, escritora brasileira)
Com milhares e milhares de anos de história, a Fitoterapia passa pelo Irã, pelo ginseng e cânfora da China, pelos receituários do Egito, pelo grego Hipócrates (pai da Medicina, que já receitava plantas), passa pela antiga Roma com Dioscórides e sua Farmacognosia... E, ante nossa riqueza florística, a Fitoterapia tem lugar cativo no Brasil para chegar e ficar e ser desenvolvida, enriquecida pela rica variedade de ervas, plantas e outros vegetais.
Morreu Terezinha Rego – a pessoa, pois viverá seu exemplo. E o quê, já nestes dias de hoje e nos tempos que hão de vir, o que se fará com os amores e dores dela?
Seu maior legado não é tão somente o que ela era e o que ela fez, mas, até muito mais, o que ela poderia ter sido e o que poderia ter feito, tal a miríade de desejos irrealizados mas factíveis; tais as potencialidades e possibilidades de fazer negadas, em diversos casos e em determinados momentos, por quem (de)tinha o poder.
Que na História permaneçam de modo indelével os esforços, estudos e realizações da farmacêutica, da fitoterapeuta, da botânica, da pesquisadora, da professora, da escritora Terezinha Rego.
Tudo isso é CIÊNCIA.
Que em nossa Memória, individual, comunitária e/ou coletiva permaneçam – e nos melhorem com seu exemplo – o modo de se dar com e para os outros, o jeito “Terezinha” de ser equânime e equilibrado, afetuoso e interessado e de ser humilde mas não, nunca, ser humilhado. Isto é (e)terno.
E isso tudo é CONSCIÊNCIA.
*
A Ciência sabe o que Terezinha Rego fez COM e POR ela.
E nós, maranhenses sobretudo, o que faremos com o que Terezinha Rego fez?
*
Com a mudança de Vida de Terezinha Rego para a Eternidade, Deus reforça seu time: agora os futuros Édens que Ele criar já podem contar com gente muito boa para deles cuidar... Uma profissional do ramo – do ramo... da flor... da folha... da semente...
Paz e Luz, Amiga.
* EDMILSON SANCHES
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(*) Ou 1960. Por oportuno, deixe-se patente que em alguns casos as fontes apresentam pequenas divergências de registros de datas, quantidades, lugares, fatos etc. Embora não lhe caiba a origem, ao autor deste texto cabe-lhe a responsabilidade das escolhas que fez. Futuramente, para este – e outro(s) texto(s), espera-se – estudos e pesquisas com coleta de dados primários e novas entrevistas com colaboradores de Terezinha Rego poderão contribuir para a precisão e fixação definitiva das informações. (E. S.)
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REFERÊNCIAS – “sites”: www.academia.edu; amc-ma.org; apruma.org.br; www.camara.slz.br; site.cff.org.br; cienciasfarmaceuticas.org.br; claudia.abril.com.br; cristalinolodge.com.br; difusoranews.com; www.escavador.com; www.fapema.br; farmaceuticos.org.br; www.florence.edu.br; gauchazh.clicrbs.com.br; www.gbif.org; g1.globo.com/ma; cidades.ibge.gov.br; ihgb.org.br; www.instagram.com/p/C6gsFqwut69/; jornalpequeno,blog.br; www.jusbrasil.com.br; www.kew.org; miscelaneama.blogspot.com; namu.com.br; www.nybg.org/; portaloinformante.com.b; portal.sescsp.org.br; super.abril.com.br; www.terra.com.br; www.uemasul.edu.br; portalpadrao.ufma.br; /umsoplaneta.globo.com; https://whc.unesco.org; www.uol.com.br/ecoa; viajonarios.com; https://pt.wikipedia.org; www.youtube.com/watch?v=XuOqmoNoMvQ (TV UFMA); https://www.youtube.com/watch?v=wO5vNt9Wn9o (TV UFMA).
RÓNAI, Paulo. Dicionário Universal Nova Fronteira de Citações. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.