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Pelé, museu da seleção

O futebol brasileiro tem, a partir desta terça-feira (2), uma data oficial para celebrar aquele que é considerado o maior jogador de futebol de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento, Pelé. A Lei nº 14.909, de 1º de julho de 2024, que institui o Dia do Rei Pelé, está publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União.

A lei sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, determina o 19 de novembro como a data que marca a homenagem ao mais famoso camisa 10 da história do futebol mundial, falecido em dezembro de 2022. Nesse dia, em 1969, Pelé marcou o seu milésimo gol, na partida entre o Santos e o Vasco da Gama no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã.

Expectativa pelo milésimo

Naquele 19 de novembro de 1969, a expectativa pelos mil gols de Pelé era enorme. Torcedores de clubes de futebol do Brasil e também internacionais tinham suas atenções voltadas para o Maracanã. Toda a imprensa brasileira e jornalistas estrangeiros já haviam reservado os espaços no estádio para acompanhar de perto o feito inédito de um jogador de futebol atingir a marca dos mil gols. E esse jogador era Pelé, o Atleta do Século.

Pelé, Fotografia de um dos gols marcados pelo Brasil na vitória sobre a Argentina em jogo válido pela Copa Roca de 1957. Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã.

A marca dos 999 gols foi atingida dias antes, no jogo amistoso contra o Botafogo da Paraíba, quando o Santos venceu por 3 a 0, no Estádio José Américo de Almeida, em João Pessoa. Mas a expectativa da torcida pelo segundo gol de Pelé no jogo, e milésimo na carreira, acontecer em solo paraibano foi frustrada quando ele assumiu a função de goleiro após a lesão do titular da posição.

 No dia 16 de novembro, um domingo, a equipe santista voltava a jogar fora de São Paulo. Dessa vez, em Salvador, contra o Bahia, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. O jogo terminou empatado em 1 a 1, e Pelé não marcou.

Três dias depois, noite de quarta-feira, no Rio de Janeiro, mais de 65 mil pessoas estavam no Maracanã. Para o momento histórico, todo um esquema foi montado pelas emissoras de televisão, visando a cobertura do milésimo gol do Rei do Futebol. Um plano de segurança, inclusive, foi colocado em ação a fim de evitar a invasão do gramado.

Enfim, o gol histórico

O Santos entrou em campo com o seu uniforme tradicional, todo de branco. O time tinha como treinador Antoninho, que escalou a equipe com jogadores como Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Clodoaldo, Lima, Edu e o camisa 10, Pelé. O Vasco, do técnico Célio de Souza, tinha no gol o argentino Andrada, a zaga formada por Fidélis, Moacir, Renê e Eberval; o meio de campo formado por Fernando, Buglê, Benetti; e o ataque com Acelino, Adilson e Danilo Menezes. O árbitro da partida foi Manoel Amaro de Lima.

Brasília (DF), 02.07.2024 - O jogador Pelé marca o seu milésimo gol. Foto: SantosFC/Divulgação

O Santos começou o jogo dominando o time de São Januário, mas foi o Vasco que abriu o placar do Maracanã, com Benetti, aos 16 minutos do primeiro tempo. O primeiro tempo terminou com 1 a 0 para a equipe carioca. Na segunda etapa, o Santos conseguiu o empate logo aos 10 minutos, com um gol contra de Renê. Após o gol, o time santista continuou pressionando o Vasco.

O pênalti aconteceu aos 33 minutos, quando Pelé foi derrubado na área, após receber um passe de Clodoaldo. Manoel Amaro não teve dúvida e apontou para a marca de cobrança da penalidade. Na hora da cobrança, apenas Pelé, a bola e o goleiro Andrada estavam na área, os demais jogadores das duas equipes ficaram reunidos no meio de campo. Ninguém parecia admitir a possibilidade de desperdício daquela penalidade.

Fãs tiram foto em frente a mural de Pelé em Santos

O camisa 10 precisou de três passos, deu a paradinha e, com o pé direito, colocou a bola com um chute rasteiro no canto esquerdo do goleiro. Andrada ainda conseguiu tocar na bola, mas não evitou o gol mil de Pelé, exatamente aos 34 minutos e 12 segundos.

Diferentemente das comemorações anteriores, o Rei do Futebol não deu o soco no ar. Foi até o fundo do gol e pegou a bola. Nesse momento, os jornalistas que estavam atrás do gol invadiram o gramado e levantaram Pelé, colocando-o nos ombros. O nome do craque santista era ouvido em todo o Maracanã, no grito dos torcedores.

Naquele instante, vestiram uma camisa com o número 1.000, com a qual Pelé deu a volta olímpica no Maracanã. Seguido pela imprensa e em um dos maiores momentos de sua carreira, o maior camisa 10 de todos os tempos não aproveitou os microfones para exaltar seus feitos ou agradecer a quem o ajudou na carreira, como seria esperado. Em vez disso, pediu às autoridades para não esquecerem das crianças, das pessoas pobres e dos idosos.

“Pelo amor de Deus, olha o Natal das crianças, olha Natal das pessoas pobres, dos velhinhos cegos. Tem tantas instituições de caridade por aí. Pelo amor de Deus, vamos pensar nessas pessoas. Não vamos pensar só em festa. Ouça o que eu estou falando. É um apelo, pelo amor de Deus. Muito obrigado”, disse o Rei, encerrando um dos mais gloriosos capítulos do Maracanã, dele próprio e do futebol brasileiro.

(Fonte: Agência Brasil)

– No Maranhão, apresentou-se em São Luís e Caxias.

*

Uma vida curta não é, necessariamente, uma vida pequena. A grandeza de uma existência não é expressa pela quantidade de dias decorridos entre a certidão de nascimento e o atestado de óbito.

Grandeza tem a ver com qualidade, intensidade. Dedicação. Grandiosidade.

Hoje, 1º de julho de 2020, completam-se 100 anos de nascimento do poeta, declamador, jornalista e radialista Rogaciano Bezerra Leite.

Do município de São José do Egito, mais exatamente no Sitio Cacimba Nova, Povoado Umburanas, hoje território de Itapetim, em Pernambuco, onde nasceu em um dia hoje, em 1920, numa quinta-feira, até o Rio de Janeiro (RJ), em uma terça-feira, 7 de outubro de 1969, quando o coração do homem não aguentou a intensidade do artista, Rogaciano Leite caminhou caminhos nunca dantes caminhados pela maioria de seus conterrâneos nordestinos. Nesse itinerário de vida e ofício, Rogaciano, jornalista, escreveu reportagens premiadas; poeta, escreveu versos declamados; compositor, escreveu canções gravadas; declamador, recitou e interpretou poemas aplaudidos.

Os caminhos que Rogaciano caminhou levaram-no, no Brasil, de Norte a Sul do País, sendo destacado e distinguido tanto em Manaus, capital do Amazonas, referência da maior floresta tropical do mundo, quanto em Santos, em São Paulo, referência do maior porto da América Latina.

Os caminhos que Rogaciano caminhou, os ares por onde voou e os mares que atravessou levaram-no a países da Europa (Portugal, França e Espanha), de onde tirou fotos, informações e inspiração para escrever reportagens e outros textos.

O filho dos agricultores Manoel Francisco Bezerra e Dª Maria Rita Serqueira Leite, o marido da aracatiense Maria José Ramos Cavalcante, o pai de Rogaciano Leite Filho, Anita Garibaldi, Roberto Lincoln, Helena Roraima, Rosana Cristina e Ricardo Wagner, era um peripatético, andarilho, “globe-trotter”, em igual tempo sertanejo e cosmopolita, andando e ensinando, escrevendo e emocionando. Um homem homenageado. Conhecido e reconhecido.

Talento tão singular quanto plural – a ponto de ser Rogaciano um incomum caso de estudante a ingressar em uma Faculdade (de Filosofia do Ceará, em Fortaleza) para um curso superior (Letras Clássicas) apresentando uma obra sua (“Acorda, Castro Alves!”) e fazendo a prova vestibular de Latim em versos... mas versos alexandrinos, de 12 sílabas e outros que tais, e ainda evocando Cícero e Ovídio, consagrados escritores e poetas clássicos romanos dos séculos I e II antes de Cristo. Mereceu nota dez. Além disso, com sua atividade de jornalista e poeta o levando para muito além da capital cearense, onde estava a Faculdade, Rogaciano foi liberado da presença nas aulas e só comparecia nos dias de prova. Formou-se – tendo sido “o primeiro Cantador a alcançar um grau tão elevado”, como atestam os igualmente cantadores Francisco Linhares e Otacílio Batista, em sua “Antologia Ilustrada dos Cantadores”, obra publicada em 1976, com segunda edição em 1982.

Talento destacado também por seus pares. Foi amigo do poeta Manuel Bandeira, pernambucano que nem ele. O romancista baiano Jorge Amado que escreveu e o elogiou pelo poema a Castro Alves. Câmara Cascudo, o notável antropólogo, advogado, historiador e jornalista potiguar, fez a apresentação da principal obra rogacianiana, “Carne e Alma”, publicada por Irmãos Pongetti Editores, do Rio de Janeiro, em 1950. Na música, “monstros sagrados” da MPB clássica como Francisco Petrônio, Nélson Gonçalves e Sílvio Caldas, entre outros, gravaram composições de Rogaciano. Foi ele quem destravou as portas do tradicional e à época elitizado Theatro José de Alencar, na capital cearense, para os cantadores, os repentistas, os cordelistas, os agentes, fazedores e admiradores da rica cultura popular nordestina. Como jornalista, Rogaciano ganhou, em diversas categorias, nada menos que dois prêmios Esso de Jornalismo, além de uma menção honrosa. Não é pouco...

Em 1947, Rogaciano Leite veio ao Maranhão – esteve em São Luís e em Caxias. Intelectual, poeta e declamador, apresentou-se, por obra e graça dos amigos ludovicenses, no Teatro Artur Azevedo. Desse tempo, sobrevivem memórias em seus colegas escritores que o conheceram naqueles idos, entre os quais o advogado, ex-deputado e acadêmico Sálvio Dino e o advogado, poeta e crítico literário Fernando Braga.

Em Caxias, Rogaciano apresentou-se em noite concorrida no Cine Rex. Lembranças dessa apresentação ainda mantêm-se presentes, por exemplo, em Arthur Almada Lima Filho, desembargador, escritor, acadêmico, e Frederico José Ribeiro Brandão, advogado, escritor, ex-deputado federal por São Paulo, que participaram do evento – ambos caxienses e meus confrades no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e na Academia Caxiense de Letras.

Conheci dois dos filhos de Rogaciano Leite: o Roga Filho, como alguns o chamavam, também jornalista e escritor, conheci-o em Fortaleza e até o homenageei em um poema, "Estoril", sobre um bar e restaurante dos intelectuais e boêmios da noite fortalezense; e Helena Roraima Iracema Cavalcante Leite, engenheira civil e doutora em Economia Política e Social pela Universidade Complutense de Madrid, conheci-a em Brasília (DF). Rogaciano Filho faleceu em 05 de março de 1992, em São Paulo (SP). Helena Roraima, que mora há anos na capital da Espanha, conheci-a na Capital Federal, onde por anos foi minha colega, na assessoria da presidência da maior instituição financeira federal de desenvolvimento regional da América Latina.

É Helena Roraima que, com as limitações ditadas pela atual pandemia mundial, desenvolve, com competência e carinho, um esforço enorme para juntar os ecos, repercussões e ressonâncias de e sobre seu pai, documentados em matérias de jornais, fotografias de amigos, depoimentos de admiradores, enfim, tudo o que, espalhado na materialidade dos documentos físicos ou na digitalidade do universo virtual, possa (re)constituir um pouco dos muitos passos dados por Rogaciano Leite Brasil adentro e mundo afora.

Procurado por Helena Roraima décadas depois de nossas atividades em Brasília, juntei-me aos esforços da filha e também saí em busca de informações e pessoas que pudessem enriquecer e ampliar ainda mais o acervo que está sendo montado, para exposição em futuro evento pós-pandemia  --  o que também o farão as prefeituras dos municípios de São José do Egito e Itapetim, que já haviam elaborado grande – e adiada "sine die" – programação em homenagem ao ilustre filho pernambucano.

Por enquanto, um dos principais suportes de documentação e divulgação do acervo rogacianiano está no endereço eletrônico https://www.facebook.com/centenariorogaciano.leite.1  . Este “link” leva a uma página da rede social Facebook, criada e administrada por Helena Roraima. Nesse espaço, estão desde versos escritos até áudios, imagens, depoimentos etc. da breve vida e vasto mundo do poeta Rogaciano Leite.

*

Não seria pedir muito que o centenário de Rogaciano Leite fosse comemorado com ele aqui presente, em carne, osso, alma e talento. Já não se estranha o completar-se um século de vida – até porque a Ciência anda aí anunciando que o homem bicentenário já está entre nós, ou seja, corre-se o saudável risco de um bebê que nasceu por estes dias ter festa de aniversário vivinho da silva em 2020.

Assim, especialmente hoje, morrer aos 49 anos parece uma afronta, uma indignidade ao ser humano, única criatura feita à imagem e semelhança do Criador... Dá para imaginar o quanto de potencialidades ainda flamejavam no íntimo mental de Rogaciano Leite. Mas, segundo os velhos latinos, “aquele a quem os deuses estimam, morre jovem” – ou, no idioma do antigo Lácio, que tão bem Rogaciano dominava: “Quem dil diligunt, adolescens moritur”. É frase de Titus Maccius Plautus, o dramaturgo romano Plauto, que viveu ali entre o segundo e o terceiro séculos antes de Cristo e que teria se abeberado em obra do grego Ménandros, o autor original da oração.

A valer essa máxima greco-latina, pode-se dizer que os deuses têm lá seus momentos de bom gosto: já cansados de bobos, truões e bufões em sua corte divina, nada como os deuses “pescarem”, no grande oceano da vida humana, alguém muito bom, que os pudesse deleitar com récitas ou recitais, canções e composições e, ainda, de quebra, pudesse escrever-lhes os perfis e seu cotidiano eterno.

Talvez Rogaciano Leite, sabendo dessa sentença, tenho imprimido um ritmo tão intenso na arte de escrever, fazer e viver em sua vida de 49 anos, 3 meses e 1 semana. Foram pouco mais de 49 anos que bem parecem cem.

Pois ele sabia: os bons, quando os deuses querem, correm o risco de partirem mais cedo...

Viva Rogaciano.

EDMILSON SANCHES

AFINAL, ROGACIANO LEITE É EGIPCIENSE OU ITAPETINENSE?

*

O Rio Pajeú passa por diversos municípios no Estado de Pernambuco. Só na microrregião do Pajeú são uns 17. Mal comparando, o rio parece um espesso fio líquido (e incerto, já que sazonal) unindo cidades como se fossem contas ou camândulas em um imenso terço ou rosário.

Praticamente bem no centro do Estado, na parte norte, na divisa com a Paraíba, está o município de Flores, por onde, neste leriado, começamos a construir a resposta para a pergunta-título deste texto.

Flores é velha que nem pé de serra. O início de sua história remonta ao século XVI, lá pelas metades do ano de 1589. Neste ano, chegou a uma aldeia, nas terras da hoje Flores, pelo Rio Pajeú, uma expedição de portugueses e índios escravizados, uma das muitas expedições que o administrador colonial lusitano Garcia d’Ávila enviava para colonizar regiões e ampliar seu latifúndio, que chegou a 800.000 quilômetros quadrados de área, 40 vezes o tamanho de um país como Israel.

O que a expedição luso-indígena não contava é que, quando ela aportou no hoje Alto das Flores, tiveram todos os expedicionários aprisionados pelos índios tapuias, que exatamente naquele dia estavam em festas, homenageando um chefe índio da aldeia da Baixa Verde, nas terras do hoje município de Triunfo, dali das vizinhanças, digamos assim.

Os expedicionários foram mortos, exceto duas meninas, cuidadas pelos tapuias como pequenas deusas. Aracê e Moema, foram os nomes indígenas que as meninas receberam. As meninas ensinaram a língua portuguesa para índios e os ajudaram a ser mais tolerantes com os ditos brancos. Cerca de 15 anos depois, em 1603, apareceu nova expedição, mas aí o tratamento foi outro. Novas e melhores habitações foram construídas – transferência de tecnologia...

E a história de Flores se foi fazendo... Em 1783 era oficialmente distrito. Em 1810, vila – extinta em 1851 e recriada em 1858. E, finalmente, em 1º de julho (dia e mês em que o poeta e jornalista Rogaciano Leite nasceu...) de 1909, Flores ganha sua autonomia, transformando-se em município e cidade-sede.

Como diz o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, órgão do Governo Federal), “o município de Flores, outrora, compreendia uma vasta região que iniciava onde hoje se situa o município de São José do Egito, indo até o atual município de Tacaratu”.

Pois bem. Todos que tentam puxar a naturalidade de Rogaciano Leite para São José do Egito ou para Itapetim saibam uma coisa: as terras de diversos municípios aí na região são endodivisões (divisões internas), são áreas, nacos, pedaços dos chãos da antiga Flores.

E como é que a naturalidade (local de nascimento) de Rogaciano Bezerra Leite entra na história?

Você conhece o provérbio que diz que “o futuro a Deus pertence”. Uma pessoa que nasce e é registrada no seu município não tem qualquer condição de saber se, mais tarde, tempos depois, anos, décadas ou séculos adiante o território de um município vai ser desmembrado.

Digamos, só por hipótese, que a menina Aracê, a mais velha daquelas duas que os índios adotaram na antiga terra de Flores em 1589, transformou-se em uma escritora famosa. Ainda no terreno da hipótese, Aracê foi registrada como filha de Flores  – portanto, era florense. Flores é município independente desde 26 de maio de 1858, confirmado por lei de 03 de agosto de 1892.

Em 1º de julho de 1909 Afogados de Ingazeira, por sua vez, torna-se município (era distrito desde 1836), desmembrado do território de Flores. Digamos que as terras de Aracê estivessem na parte que ficou para o município de Afogados de Ingazeira. E agora, o registro de nascimento de Aracê tem de ser mudado, para substituir Flores por Afogados de Ingazeira?

Mas a história anda... São José do Egito (que era distrito desde 21 de março de 1872) torna-se município independente, desmembrado de Afogados de Ingazeira. As terras de Aracê ficaram com São José do Egito. E aí? Nossa personagem Aracê, que inicialmente era de Flores, depois mudou-se para Afogados de Ingazeira, agora terá de registrar-se como filha de São José do Egito...

Por fim, das terras de São José do Egito sai a área territorial de Itapetim, transformado em município em 29 de dezembro de 1953... e a parte do antigo território de Aracê ficou com Itapetim. Afinal, qual a naturalidade dessa moça Aracê? Ela foi transformada em trânsfuga de sua própria terra, com um novo registro de nascimento a cada desmembramento territorial, a cada divisão municipal que inclua o pedaço de chão onde ela se criou...

Percebe-se que isso não faz sentido. Do mesmo modo com Rogaciano Leite. E se o Sítio Cacimba Nova, o chão onde ele nasceu viesse a compor o território de um novo município, desmembrado de Itapetim, qual seria a cidade de nascimento de Rogaciano? E quem assegura que o futuro não reserve outras divisões municipais? Basta ver o tamanho das comunas, cidades ou o que corresponda a município em diversos países da Europa – lugares pequenos com pouquíssimos milhares, senão centenas, de moradores e uns poucos quilômetros de área.

Acham que isso é impossível? Nasci na mesma terra de Gonçalves Dias e Coelho Netto: Caxias, Maranhão. O sítio onde Gonçalves Dias nasceu atualmente faz parte de outro município, ali vizinho a Caxias. Agora imagine se o pai de Gonçalves Dias, um português, para evitar o clima “pesado” contra os lusitanos, tivesse ido com a esposa grávida para as matas do hoje município maranhense de Itinga do Maranhão, cujas terras integravam o território da antiga Caxias. Ora, Itinga saiu de Açailândia, que saiu de Imperatriz, que saiu de Grajaú, que saiu de Pastos Bons, que saiu de Caxias. Então, o poeta Gonçalves Dias, que nascera caxiense, teria de mudar a certidão e tornar-se pastos-bonense, depois grajauense, depois imperatrizense, depois açailandense e, por fim, itinguense?

Decididamente, não faz sentido. Rogaciano Leite nasceu em 1920, quando a terra em que respirou pela primeira vez era parte do município de São José do Egito, e assim deve constar de sua certidão de nascimento. Quando Rogaciano morreu no Rio de Janeiro (RJ), em 7 de outubro de 1969, Itapetim, tornado município em 29 de dezembro de 1953, tinha completado 16 anos...

Câmara Cascudo, em sua apresentação ao livro “Carne e Alma”, de Rogaciano Leite, publicado em 1950, diz, com data de 10 de junho de 1948, que “Rogaciano revive as florestas de Gonçalves Dias”. Pois a menção ao meu conterrâneo caxiense lembra-me o quanto Gonçalves Dias, em seus poemas, cantou Caxias. Se não bastasse a certidão de nascimento, poemas de Gonçalves Dias atestariam sua naturalidade...

Assim também com Rogaciano Leite. Ele cantou a sua terra. No longo “Poema de Minha Terra”, depois de declarar que “nasceu num recanto do meu sertão – que amo tanto!”, que se criou “lá na Fazenda”, Rogaciano não se faz de rogado e, como em uma rogação, ao final da poesia, data: “São José do Egito - Pernambuco, 1943”. Seis anos antes, no poema “Uma Noite na Fazenda”, dedicada a seu irmão José Bezerra Leite, Rogaciano datava assim: “Cacimba Nova – São José do Egito, 1937”. Dois anos depois, compusera “Flamboyant (Enfermo)”, para esta árvore, que morria; e na datação: “Cacimba Nova – São José do Egito, 1939”. Aqui, Rogaciano estava com 19 anos e encerra o poema, um soneto decassilábico, escrevendo que ia “morrer, talvez, com vinte e dois”.

Na “Canção de Agradecimento”, para pessoas de Santos (SP), que “concorreram para a publicação” de seu livro “Carne e Alma”, Rogaciano Leite, em décimas heptassílabas (estrofes de dez versos de sete sílabas) diz de onde vem e quem é: no primeiro verso: “Venho de longe [...]”. E nas linhas iniciais da terceira estrofe: “Sou José: numa cilada / Venderam-me a Faraó!”

Essa “Canção”, datada de 13 de novembro de 1950, uma segunda-feira, não consta do livro “Carne e Alma”. Foi publicada em uma edição de domingo, 19 de novembro de 1950, do jornal “A Tribuna”, de Santos. Página inteira. Convém anotar que poesia, no mais das vezes, é uma forma “diferenciada” de dizer certas coisas. Na “Canção do Agradecimento”, os dois primeiros versos da terceira estrofe – “Sou José: numa cilada / Venderam-me a Faraó!” – também podem se referir à cidade de nascimento de Rogaciano Leite. O antropônimo “José” e o título “Faraó” podem estar evocando uma das origens do politônimo (nome de cidade) “São José do Egito”. A imagem de São José, que veio para a cidade, apresentava o santo calçado com botas, o que seria um costume do Egito. A estória pegou e terminou compondo o nome do município. Ainda por cima, classificaram-se na cidade três “dinastias” de poetas (“faraós”) nascidos em São José do Egito: a primeira seria a de Antônio Marinho do Nascimento (5/4/1887 – 29/9/1940), chamado “A Águia do Sertão” e considerado um dos maiores cantadores de todos os tempos; a segunda, de Rogaciano; e a terceira, de Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú (6/1/1915 — 5/12/1992), considerado “O Rei do Trocadilho” e também um dos mais famosos poetas populares do Brasil. Todos os três “faraós” nascidos em terras de São José do Egito. Segundo o “site” da Prefeitura de São José do Egito, “esses homens, com seu lirismo, ajudaram a disseminar as sementes da poesia pelo mundo”.

Enfim, do ponto de vista legal e, sobretudo, poético-literário-cultural, Rogaciano Bezerra Leite nasceu em território do município de São José do Egito, 33 anos antes da emancipação de Itapetim. Como, pelo que se sabe, Rogaciano não tirou segunda via de seu registro de nascimento entre 1953 e 1969, quando morreu, nasceu, viveu e faleceu como egipciense.

No mundo do Direito, há expressões como “verdade registral”, “verdade biológica” e “verdade socioafetiva”. Eu acrescento outras duas: “verdade histórico-cultural” e “verdade geopolítica”. O Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), diz, em seu Artigo 1.604, que “ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro”. Forçando a interpretação (já que a Lei é ela e a interpretação dela), se o registro de Rogaciano o põe como criança nascida em São José do Egito, daqui ele é. Talvez, se ele perdesse sua certidão e fosse tirar uma segunda via após a autonomia de Itapetim, ele sairia do cartório com um registro dando-o como itapetinense, em razão de o lugar onde nasceu agora pertencer ao território de Itapetim. Mas não foi o caso.

Vencida a “verdade registral”, temos a “verdade biológica”: Rogaciano, quando nasceu (e nascer é ato biológico), nasceu em terras do município de São José do Egito.

Quanto à “verdade socioafetiva”, até os versos (como listados acima) e, quem sabe, outros textos rogacianianos mencionam São José do Egito com os elementos básicos de formação de vida de uma criança, de um menino, de um adolescente... O maior registro de nascimento é esse que se vê e não se vê na alma do ser nativo, nascidiço.

A “verdade histórico-cultural” tem muito da “verdade socioafetiva”: são os elementos da terra natal identificáveis na obra do escritor.

E a “verdade geopolítica” é a que contempla Itapetim, antigo distrito de São Pedro das Lajes, depois Itapetininga até a redução para o atual topônimo: por um ato político-administrativo, legal, o antigo distrito de Itapetim é emancipado e seu território, desmembrado do município-pai (São José do Egito), vem com o pedaço de chão (geografia) em que Rogaciano Bezerra Leite nasceu.

A “verdade geopolítica” está ao lado de Itapetim. Por exemplo: Se um turista vai a São José do Egito e diz que quer conhecer o lugar onde Rogaciano nasceu... tem de ir até Itapetim. Ponto. É a “verdade geopolítica” (um pedaço de terra que, por um ato político de redivisão municipal, passou a fazer parte da geografia do novo ente federativo municipal). Agora, se um turista for a Itapetim e pedir para ver uma cópia da certidão de nascimento... ter-se-á de apresentar aquela, e única, que foi assentada no cartório da velha São José do Egito...

Do ponto de vista legal, pode haver dupla (ou tripla etc.) nacionalidade. Mas não se sabe de dupla naturalidade. Pois a naturalidade é uma questão de vida, e a nacionalidade, uma questão de viver. Em termos de vida, só se nasce uma vez  -- pelo menos cada um de nós, aqui na terra. Em termos de viver, é uma questão de modo – “modus vivendi”, uns tempos, está em um país; outros tempos, naqueloutro...).

Enfim, não se pode sair por aí alterando a certidão de nascimento de todo filho ilustre que nasceu em lugares que foram assumidos por novos municípios. Se olharmos detidamente a genealogia dos Estados e de muitos municípios, constatar-se-á o quanto em muitos deles ocorreram endodivisões, bipartições, tripartições, multipartições. Um nascituro e seus pais não têm controle sobre isso. A cidade de quem nasce é a cidade onde ele nasceu. Claro, há a possibilidade legal de, por meio da Justiça, adequar-se a uma nova realidade geopolítica, desde que isso seja uma expressão de vontade do indivíduo ou uma determinação judicial mandatória, imperativa, obrigatória.

Quem compulsar e pesquisar biografias poderá, sem muito esforço, com algumas averiguações, confirmar diversas situações de pessoas ilustres que nasceram em um determinado lugar que depois passou a território de outro – e nem por isso se está deblaterando ou requerendo a naturalidade legal forçada dos filhos ilustres. Outros tempos e outros grandes filhos poderão nascer nos dias que hão de vir...

Portanto, em uma só oração, ou frase: Rogaciano Bezerra Leite é egipciense nascido em terras atualmente itapetinenses.

A propósito, o IBGE grafa “egipsiense”, o que é evidente lapso. Por outro lado, tenho que a formação correta do gentílico para quem nasce em São José do Egito deveria ser “egitense”, por vir de “Egito”, ou, se quisesse, “são-joseense”, designativo para habitantes de pelo menos 14 municípios no Brasil. Por outro lado, pode-se argumentar que “egípcio” é “relativo ao Egito”; assim, de “egípcio” faz-se “egipciense”, o que se constitui em uma evidente “terceirização” na formação de adjetivo gentílico, já que a palavra “egípcio” não consta do nome. Em favor dos egipcienses, também pode-se dizer que a palavra “soteropolitano” e “ludovicense” não derivam de palavras que estejam na composição do nome Salvador (BA) ou de São Luís (MA) – apenas são, “terceirizadamente”, gentílicos provindos da forma grega de “Salvador” (“sotérion”) e da forma latina de “Luís” (“Ludovicus”). Melhor ficar quieto...

Encerrando, transcrevo o que já escrevi sobre assunto idêntico, acerca da naturalidade de Gonçalves Dias, que nasceu em Caxias mas seu chão de nascimento agora está no município de Aldeias Altas, como dito lá pelos começos deste texto:

“[...] O debate é válido. E, claro, tenho minha própria opinião, se é que ela vale algo.

Minha opinião até agora é a de que não parece ser justo o querer transferir-se uma naturalidade em razão de endodivisões geográficas ou repartições internas de um território. Se isso vingasse, ocorreriam inúmeras situações de sucessivas "atualizações" de certidões de nascimento de uma mesma pessoa.

Será lógico, racional, nascermos em um município e não termos segurança histórica e legal de que não nos mudarão a naturalidade, pelo simples fato de que não podemos antever como as divisões e redivisões de um dado território acontecerão ao longo do tempo?

E como ficaria a situação ou a certidão de nascimento de pessoas que nasceram em terras de diversos Estados que, em séculos passados, pertenceram e depois "despertenceram" a outros Estados. São Paulo já pertenceu ao território do Rio de Janeiro, a cujo governo “ficou sujeito, tanto administrativamente como no Judiciário”, como anotou Ildefonso Escobar. Mais: São Paulo já foi também do território da Bahia, de cujo governo “ficou dependente”.

Por sua vez, o Paraná já pertenceu ao estado de São Paulo.

Partes dos territórios de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso já foram de São Paulo.

A capital paranaense, Curitiba, e o estado de Santa Catarina já foram paulistas.

São Paulo também já foi e "desfoi" do território do Rio de Janeiro, em um puxa-encolhe que, como sanfona, resfolegou, veio e voltou do século XVI ao século XVIII.

Isto posto – é só uma amostra... –, dever-se-ia aplicar a lógica das sucessivas mudanças de naturalidade ao sabor e ao longo desses processos de redivisão e endodivisão? Faz sentido isso? Ora!... Uma hora determinado território é de município ou Estado ou país "X", outra hora passa (ou pode passar) a pertencer a município, estado ou país "Y".

Então, ninguém está seguro de sua naturalidade. Haja tempo, esforço e outros recursos para a revisão de certidões de nascimento e atestados de óbito...

É... Pelo visto, corre-se o risco de não sabermos em que terra nascemos.

E, pior, não teremos nem onde cair mortos...”

* EDMILSON SANCHES

(Escrito em 1º de julho de 2020, no centenário do Poeta e Jornalista. FOTOS: Rogaciano Leite e “Carne e Alma”, seu livro maior: criador e criatura.)

JOTÔNIO MOREIRA VIANA

(29/6/1957-29/7/2022)

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Manhã de 29 de julho de 2022. Jotônio Moreira Viana, 65 anos, jornalista e artista plástico caxiense, deixa as páginas e telas desta Vida. Coincidentemente, sua morte deu-se exatamente um mês após seu aniversário, em 29 de junho.

Jotônio havia sido internado em 27 de julho, dois dias antes de seu falecimento, no Hospital Estadual Macrorregional de Caxias. Problemas pulmonares e debilitação em razão de um câncer foram dificuldades que não deram descanso nos últimos tempos ao talentoso homem de Comunicação e Cultura. E embora mantivesse o sorriso no rosto, outras forças – físicas – lhe iam faltando, minando-lhe homeopaticamente as energias vitais. Em 2021, foi diagnosticado com covid-19, que ele superou.

Jotônio veio adolescente para Caxias. Era filho de Grajaú, município maranhense “neto” de Caxias e “filho” de Pastos Bons, este cujas terras foram desmembradas em 1820 da área territorial caxiense e, em 1881, Grajaú é elevado à categoria de cidade, deixando a condição de distrito pastos-bonense.

Além de nossa convivência em minha terra natal, Caxias; além de momentos comuns na época escolar e na Academia Caxiense de Letras e em um ou outro encontro pelas ruas da “Princesa do Sertão”, soube do Jotônio quando ele estava em Imperatriz, segunda maior cidade maranhense, como revisor do jornal diário “O Progresso”, na segunda metade da década de 1970. Depois, em conversa pessoal, ele me confirmou entre risos os distintos momentos vividos na “Princesa do Tocantins”.

Bom jornalista, Jotônio sabia que lugar do profissional de Imprensa é escrevendo a notícia, e não sendo ela. Mas, algumas vezes, ocorreu de sua atividade o levar ao destaque jornalístico, em razão de, intimorato, Jotônio não arredar de convicções e de seu caráter e publicar o que ele julgava ser publicável, ainda que gente “ofendida” e sobretudo ofensora tentasse vez ou outras ameaçá-lo (fisicamente) ou enodoá-lo (moralmente). (Em tabela anexa à sua dissertação de mestrado de 2021, a acadêmica Aline Pereira Rios anotou sobre Jotônio Viana: “Citado em artigo assinado por ex-deputado sob o título ‘Cavando a própria sepultura’”. Assim mesmo...).

Jotônio sofreu, suportou e superou esses embates, espécie de corolário das verdades e versões que ele coletava nas fontes e publicava nos espaços noticiosos que criou ou que ocupava. Entre esses espaços, em Caxias, Jotônio foi colunista do Portal Noca;

... foi um dos organizadores da enciclopédia “Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias” (2015), publicação da Academia Caxiense de Letras, entidade de que era membro fundador;

... foi membro do conselho editorial da publicação eletrônica “Itapicuru – Suplemento Cultura da Academia Caxiense de Letras” (2019);

... integrou a equipe de pesquisadores do grande livro “Por Ruas e Becos de Caxias”, de autoria do arquiteto, urbanista e professor universitário Ezíquio Barros Neto, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e atual presidente da Academia Caxiense de Letras.

A coluna “Caxias em Off”, que ele mantinha desde 1997, no “Jornal Pequeno”, de São Luís, era um indescartável termômetro e tabelionato para se aferirem temperaturas e registros acerca da vida política e da cultura e sociedade caxienses. Com certa frequência, as notas dessa coluna eram base para menções em discursos de deputados da Assembleia Legislativa do Maranhão e vereadores da Câmara Municipal de Caxias.

Em 2006, seu trabalho foi tema de texto universitário: “Representações jornalísticas de Jotônio Viana sobre  a  política  de  Caxias  (2005)”, de Filomena Áurea M. M. Simão (Centro de Estudos Superiores de Caxias da Universidade Estadual do Maranhão).

Sua coluna era alvo do serviço de “clipping” (recortes de jornais e outros veículos de Comunicação) de instituições como o Tribunal de Justiça do Maranhão.

Jotônio foi eleito presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (1998). Foi diretor da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, quando esta foi dirigida por Renato Meneses, escritor e ex-presidente da Academia Caxiense de Letras. Foi tesoureiro da Academia Caxiense de Letras, na gestão de Wybson Carvalho, biênio 2012/2014.

O trabalho jornalístico jotoniano foi multiplicado por diversos modos e meios, desde o simples compartilhamento em “blogs”, “sites” e grupos sociais a até citações em trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação. Seu nome é citado em textos em prosa e poesia.

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Creio que conheci Jotônio nos tempos da Escola Coelho Netto, na Rua Libânio Lobo, onde estudamos. Depois, ele foi para o Diocesano; eu fui para o Duque de Caxias (Bandeirantes) e, em seguida, fiz todo o ensino médio no Colégio São José, das Irmãs Missionárias Capuchinhas.

Nascido em 29 de junho de 1957, em Grajaú, filho de José e Antônia Viana, Jotônio tinha outros irmãos – Éden, Edgar, Fátima e Lúcia, falecidos, e Graciene e Mábio. O Edgar, que morreu há cerca de nove anos, e eu costumávamos visitar a residência um do outro, para ver livros, revistas e outras curiosidades (coleções de moedas, chaveiros etc.). Na residência dele, o Edgar mostrou-me parte de sua coleção “Os Cientistas”, da Editora Abril, uma sofisticada publicação iniciada em 1971, de 50 números, que vinham acompanhados de um “kit” de aparelhos e acessórios científicos (inclusive microscópio) para iniciação em Biologia, Física e Química. Foi esse irmão do Jotônio, o Edgar, que me mostrou, pela primeira vez, alguns dos seres infinitamente pequenos nas lâminas sob as lentes de microscópio – seres de cuja existência sabíamos apenas pelo que o professor e os livros de Biologia diziam.

Há quase 40 anos, Jotônio estava casado com Rosário Marques Teixeira, com quem formava um querido e discreto casal e a quem conhecera em Fortaleza, onde se deu a união. Na capital cearense, alencarina, o jornalista caxiense, gonçalvino, empregara seu talento a serviço de grandes órgãos de Imprensa, como os diários “O Povo”, “A Tribuna” e “Correio do Ceará”. Já aposentada, Rosário Marques esmerava-se nos cuidados com o marido.

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Há dois anos, e exatamente um mês após completar seu 65º aniversário, Jotônio Viana partiu para a descoberta do Mistério Maior. Artista das imagens e das letras, saberá muito bem pintar as nuvens de azul  – ou, com o branco das nuvens, escrever belos textos nas imensas páginas cor de anil dos Céus...

... porque, aqui na Terra, embora Jotônio permaneça em nossa memória, seu jornalismo estará... em “off”.

Paz, Amigo.

* EDMILSON SANCHES

Brasília (DF) 24/01/2022 – Unidade de distribuição dos Correios em Brasília.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Os Correios anunciaram um concurso público para o preenchimento de 3,2 mil vagas, prioritariamente para o nível operacional de carteiro. Além disso, também foi anunciado um Programa de Desligamento Voluntário (PDV).

De acordo com o presidente da empresa, Fabiano Silva dos Santos, desde 2011, a empresa não realiza concurso público. “Os Correios têm uma defasagem de 4 mil a 5 mil cargos, mas, no primeiro momento, as vagas serão preenchidas pelos carteiros, que cobrem todos os municípios do país”.

O edital do concurso deve ser publicado em agosto, e o objetivo é fortalecer os pontos de entrega da empresa. A expectativa é que os novos contratados sejam chamados ainda neste ano, em dezembro. Dentre as mais de 3 mil vagas, haverá também cargos para nível superior, como advogados, arquitetos e engenheiros.

PDV

Segundo Silva dos Santos, o PDV é uma demanda dos servidores da estatal. “Esse pedido é feito pelos próprios funcionários da ECT [Empresa de Correios e Telégrafos] que já estão há bastante tempo na empresa.” O programa ainda precisa ser aprovado pela Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest).

A proposta prevê que sejam elegíveis os empregados do quadro de pessoal próprio dos Correios que estejam na situação de ativo na data do desligamento e que atendam, cumulativamente, até o último dia do mês anterior ao da data de encerramento das inscrições, aos seguintes requisitos: ter idade maior ou igual a 55 anos e menor que 75 anos; ter tempo de efetivo exercício nos Correios maior ou igual a 25 anos; e pelo menos 36 meses de remuneração, nos últimos 60 meses.

(Fonte: Agência Brasil)

Porto Alegre (RS), 25/05/2024 – CHUVAS RS - MERCADO PÚBLICO -  Interior do Mercado Público de Porto Alegre ainda permenece com água. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Uma equipe técnica do Arquivo Nacional viajou nessa segunda-feira (1º), para o Rio Grande do Sul, onde visitará acervos afetados pelas enchentes em diferentes cidades do Estado. A instituição já vinha prestando auxílio por meios remotos desde 30 de abril. O apoio presencial é para acompanhar a situação atual dos documentos e das demandas de cada lugar.

Ainda nessa segunda-feira, houve reuniões com a equipe do Arquivo Público do Rio Grande do Sul (Apers) e com outros representantes de instituições de guarda de acervos.

Até a próxima quinta-feira (4), vão ocorrer mais reuniões e visitas a órgãos que tiveram acervos comprometidos na capital gaúcha, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Segundo o Arquivo Nacional, 19 órgãos do Estado entraram em contato e receberam orientações sobre preservação e recuperação de documentos. A instituição disponibiliza um serviço de helpdesk permanente por e-mail e aplicativos de mensagens.

As chuvas que atingiram o Estado durante o mês de maio provocaram danos ao patrimônio público e privado. Em casos extremos, alguns documentos não têm mais recuperação e precisam ser eliminados. O processo deve seguir uma nota técnica emitida pela instituição, que recomenda a eliminação apenas quando as informações dos suportes estão totalmente inacessíveis. Quando os órgãos estão ligados à administração pública federal, é obrigatória a autorização expressa do Arquivo Nacional.

Os técnicos da Coordenação de Preservação do Acervo do AN realizaram testes e simularam a situação dos arquivos após as enchentes, para pensar em soluções mais eficientes no resgate de acervos. Os experimentos foram monitorados na fábrica de papel mantida pela instituição no Rio de Janeiro.

Uma das orientações dadas aos órgãos com acervos afetados pelas enchentes é o de tomada de decisões. Por exemplo, quando é preciso escolher quais documentos vão ser priorizados no resgate. Aqueles identificados como de guarda permanente, que envolvem garantias de direitos e deveres dos cidadãos, podem ser priorizados. Exemplos são pastas com históricos e funcionários. Também entram na lista aqueles documentos que não têm cópias digitalizadas.

Outro exemplo de recomendação é a de congelamento do acervo quando a quantidade de documentos afetados pela água é maior do que a capacidade de monitoramento e tratamento. Por meio desse processo, o acervo é preservado e o tratamento é feito gradualmente de acordo com as possibilidades de cada órgão. O congelamento impede o crescimento de colônias de microrganismos que podem afetar ainda mais os documentos.

(Fonte: Agência Brasil)

Pontos de cultura têm até o próximo sábado (6) para inscrever suas atividades na Campanha Julho Cultura Viva pelo Brasil. O prazo, que inicialmente terminaria em 30 de junho, foi prorrogado pelo Ministério da Cultura (MinC). Até sexta-feira (28), a campanha contabilizava mais de 200 atividades inscritas.

A proposta, segundo a pasta, é resgatar a memória das duas décadas de existência da rede Cultura Viva, que certifica e fomenta diversos grupos culturais nos territórios, além de possibilitar uma reflexão sobre seus avanços, desafios e futuro.

As inscrições devem ser feitas pela internet, somente para atividades que serão realizadas neste mês de julho.

“Em relação ao tipo de atividade, sugere-se que os grupos e entidades culturais celebrem os 20 anos dentro de sua realidade de atuação. Podem ser realizadas oficinas, espetáculos, seminários, mutirões, intervenções, aulas, rodas de conversa e de leitura, exposições, entre outras”, esclarece o Ministério da Cultura.

(Fonte: Agência B rasil)

Brasília (DF), 01.07.2024. - Foto de uma Mulher Palestina Abraça o Corpo de Sua Sobrinha, para exposição do World Press Photo. Foto: Mohammed Salem/Agência Reuters/Proibida Reprodução

A Caixa Cultural do Rio de Janeiro recebe, nesta quarta-feira (3), a exposição World Press Photo 2024, principal prêmio de fotojornalismo mundial. A mostra, que vai até 25 de agosto, reúne as 129  fotografias vencedoras do 67º concurso anual e apresenta trabalhos com temáticas diversas, entre as quais, as guerras em Gaza e na Ucrânia, migrações, famílias, doenças, como demência, e meio ambiente. Este ano, o júri tomou a decisão excepcional de incluir duas menções especiais na seleção. Quatro fotógrafos brasileiros estão entre os expositores.

Os trabalhos expostos foram selecionadas entre 61.062 inscrições de 3.851 fotógrafos de 130 países. São 24 projetos vencedores e seis menções honrosas, num total de 33 fotógrafos de 25 países: Argentina, Austrália, Azerbaijão, Brasil, Canadá, China, República Democrática do Congo, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Irã, Japão, Myanmar, Palestina, Peru, Filipinas, África do Sul, Espanha, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela.

Entre os destaques da World Press Photo 2024, está a foto do ano Uma Mulher Palestina Abraça o Corpo de Sua Sobrinha, do palestino Mohammed Salem, da Agência Reuters, que representa a perda de uma criança, a luta do povo palestino e as 33 mil pessoas mortas na região, além de  simbolizar o custo do conflito e fazer uma declaração sobre a futilidade de todas as guerras. Na reportagem do ano do World Press Photo, a série Valim-babena, da sul-africana Lee-Ann Olwage para GEO, na qual a fotógrafa aborda a demência, um problema de saúde universal, por meio da lente da família e do cuidado. A seleção de imagens feita por Lee-Ann lembra aos espectadores o amor e a proximidade necessários em tempos de guerra e agressões em todo o mundo.

“A exposição World Press Photo traz o melhor do fotojornalismo global. Somos um prêmio baseado na Holanda, que traz as melhores imagens da imprensa e da fotografia documental. O destaque este ano é o de uma mulher palestina abraçando sua sobrinha. É uma imagem muito impactante”, diz o curador da mostra, Raphael Dias e Silva.

O projeto vencedor da categoria de longo prazo, Os Dois Muros, do venezuelano Alejandro Cegarra, do The New York Times/Bloomberg, traz imagens que são ao mesmo tempo implacáveis e respeitosas, e transmitem as emoções íntimas presentes em diversas jornadas de migração em todo o planeta. E o prêmio de formato aberto, A Guerra É Pessoal, da fotógrafa ucraniana Julia Kochetova, traz imagens emotivas sobre a contínua invasão russa à Ucrânia. A obra traz um fio de simbolismo visual, forte uso de sequências de cores e colaborações com um ilustrador e DJ ucranianos. O uso envolvente de áudio e ilustração – especialmente no diário poético e nas gravações de áudio – destaca-se, conferindo qualidade cinematográfica ao trabalho.

Ao todo, a World Press Photo 2024 será exibida em mais de 60 cidades em todo o mundo.  A mostra já passou por Amsterdã, Londres, Sydney e Cidade do México. Além do Rio de Janeiro e de São Paulo, Berlim, Roma, Hong Kong estão entre as cidades que ainda receberão a exibição.

Brasileiros

Brasília (DF), 01.07.2024. - Foto de barco na areia, para exposição do World Press Photo. Foto: Felipe Dana/Divulgação

Quatro brasileiros que se destacaram no concurso estão na World Press Photo 2024. Com Seca na Amazônia, premiada na categoria Individual da América do Sul, Lalo de Almeida retrata a realidade de Porto Praia, lar dos povos indígenas Ticuna, Kokama e Mayoruna, que não têm acesso rodoviário e normalmente só é alcançável por via fluvial. A estiagem fez com que os moradores tivessem que caminhar quilômetros ao longo do leito seco do rio para chegar às suas casas. Essa fotografia captura a gravidade da crise ambiental global e da seca na Amazônia.

Agraciada com menção honrosa por Insurreição, Gabriela Biló, fotógrafa radicada em Brasília, lança luz sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023.

Os brasileiros Felipe Dana e Renata Brito foram premiados na categoria formato com À Deriva. No ensaio, eles contam a história de um barco vindo da Mauritânia, cheio de homens mortos, que foi encontrado na costa da ilha caribenha de Tobago. Quem eram esses homens e por que estavam do outro lado do Oceano Atlântico? Os jornalistas procuraram respostas, descobrindo uma história sobre migrantes da África Ocidental que buscam oportunidades na Europa por meio de uma rota atlântica cada vez mais popular, mas traiçoeira.

Concurso

 Desde 1955, o Concurso Anual World Press Photo celebra os exemplos mais informativos e inspiradores do fotojornalismo e da narrativa visual de todo o mundo.

Os trabalhos inscritos foram avaliados de acordo com quatro categorias – individual, reportagem, projetos de longo prazo e formato aberto, que são projetos baseados em fotos que utilizam uma variedade de mídias e técnicas de narrativa.

A exposição no Brasil é patrocinada pela Caixa e pelo governo federal, e tem o apoio do jornal O Globo e do Consulado Geral do Reino dos Países Baixos.

(Fonte: Agência Brasil)

Estudantes chegam ao Centro Universitário do Distrito Federal, para o segundo dia de prova do Enem 2020

As inscrições para as vagas remanescentes do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) referente ao primeiro semestre de 2024 serão encerradas nesta segunda-feira (1º) exclusivamente pela internet, por meio do sistema Fies Seleção, disponível no Portal Acesso Único do MEC.

“As vagas remanescentes do Fies referem-se às oportunidades de financiamento que não foram preenchidas durante as etapas regulares de seleção do programa. Elas são destinadas, exclusivamente, aos estudantes efetivamente matriculados no curso, turno e local de oferta para os quais se inscreveram”, informou o Ministério da Educação.

Segundo o MEC, os candidatos devem estar obrigatoriamente em situação de “cursando” no momento da inscrição no Fies ou devem ter cursado o referido semestre com aproveitamento em, pelo menos, 75% das disciplinas, caso o semestre já tenha sido encerrado.

De acordo com o Edital 19/2024, que trata do processo de oferta e ocupação de vagas remanescentes do Fies, o resultado da ordem de classificação e da pré-seleção será divulgado na próxima quinta-feira (4), constituído de chamada única e de lista de espera.

CadÚnico

Candidatos com renda familiar per capita de até meio salário mínimo que estejam inscritos no Cadastro Único para programas sociais do governo federal (CadÚnico) terão prioridade na classificação para a ocupação das vagas remanescentes. Nesses casos, também será possível solicitar a contratação de financiamento de até 100% dos encargos educacionais cobrados pelas instituições.

Entenda

Instituído pela Lei nº 10.260, de julho de 2001, o Fies tem como proposta conceder financiamento a estudantes em cursos superiores não gratuitos. Os cursos devem ser ofertados por instituições de educação superior privadas participantes do programa, bem como ter avaliação positiva no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

(Fonte: Agência Brasil)