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São Paulo (SP) 30/05/2024 - Arcebispo Metropolitano, Cardeal Odilo Pedro Scherer, presidiu missa campal da Solenidade de Corpus Christi, na Praça da Sé, destacando as maravilhas da Eucaristia para humanidade e para toda a Igreja. Foto: Paulo Pinto/Agencia Brasil

Com o encerramento do Carnaval nesta Quarta-Feira de Cinzas (5), tem início o período da Quaresma para os cristãos. Mas, você sabe o que é a Quaresma? Ela tem sua origem nos primeiros séculos do Cristianismo, quando foi estabelecida a data da Páscoa. A Igreja Católica instituiu um tempo de penitência e preparação para a Páscoa, observado entre a quarta-feira de cinzas e a quinta-feira santa, época sagrada para os cristãos.

A contagem do período da Quaresma faz referência aos 40 dias em que Jesus Cristo esteve no deserto.

Em 2025, a Quaresma vai até o dia 17 de abril, antes da celebração da Quinta-feira Santa. Após a Quinta-feira Santa, tem início um novo período, o chamado tríduo pascal, que compreende a sexta-feira santa, o sábado de aleluia e o domingo de Páscoa.

Para a Quaresma de 2025, o papa Francisco propôs o lema Peregrinos da Esperança, para que os fiéis façam uma reflexão sobre a fé, arrependimento, renovação espiritual, além de preparação para a Páscoa. A Igreja orienta a prática de penitências como jejuns, obras de caridade e oração.

Para os fiéis, a quarta-feira de cinzas é um dia em que se deve ir à missa. Na cerimônia, os fiéis são benzidos com um pouco de cinza proveniente de ramos queimados utilizados no Domingo de Ramos do ano anterior.

Ao benzer os fiéis, o padre traça uma cruz de cinzas, enquanto recita as palavras Convertei-vos e crede no Evangelho, que sinaliza o estado de penitência que o fiel deverá guardar nos 40 dias seguintes, e representa a fragilidade humana.

Na data da quarta-feira de cinzas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove o início da Campanha da Fraternidade. Este ano, a campanha vai abordar o tema Fraternidade e Ecologia Integral e o lema bíblico, extraído de Genesis 1, 31, Deus viu que tudo era muito bom.

O ponto alto da campanha é a Coleta da Solidariedade, feita em todas as comunidades do Brasil no Domingo de Ramos, que neste ano é celebrado no dia 13 de abril. Os recursos são destinados a projetos sociais em todo o país.

O papa Francisco enviou uma mensagem para felicitar a realização da campanha. Na mensagem encaminhada à CNBB, Francisco chama atenção para a necessidade de mudança de atitude em relação ao meio ambiente, diante da “crise ecológica”.

“Por isso, louvo o esforço da Conferência Episcopal em propor mais uma vez como horizonte o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal de cada fiel a Cristo. Que todos nós possamos, com o especial auxílio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”, diz a mensagem.

O papa frisou ainda que o tema da Campanha da Fraternidade deste ano expressa também a disponibilidade da Igreja no Brasil em dar a sua contribuição à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro. 

A mensagem diz que a realização do evento no coração da Amazônia é um sinal que serve para que “as nações e os organismos internacionais possam comprometer-se efetivamente com práticas que ajudem na superação da crise climática e na preservação da obra maravilhosa da Criação, que Deus nos confiou e que temos a responsabilidade de transmitir às futuras gerações”.

Feriado

É bom lembrar que a Quarta-feira de Cinzas não é feriado oficial. No entanto, muitos estabelecimentos comerciais não funcionam, mesmo tendo autorização para abrirem. Algumas repartições públicas e agências bancárias só funcionam a partir do meio-dia. Conforme o local, é ponto facultativo até as 14h.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF) 05/03/2025 - Ecologia Integral é tema da Campanha da Fraternidade 2025.
Arte CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança, nesta Quarta-Feira de Cinzas (5), a Campanha da Fraternidade 2025, com o tema Fraternidade e Ecologia Integral. 

Já o lema bíblico escolhido para a campanha e extraído do livro do Genesis é: “Deus viu que tudo era muito bom”.

Em nota, a CNBB destacou que a campanha foi inspirada na publicação da Carta Encíclica Laudato Si’ do papa Francisco que, em 2025, completa 10 anos; nos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; e na 30ª Conferência das Partes (COP30), a ser realizada em novembro em Belém.

“O objetivo geral da campanha é promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”, informou a entidade.

Mensagem do papa

A CNBB divulgou, ainda, uma mensagem enviada pelo papa Francisco em razão da Campanha da Fraternidade 2025. No documento, o pontífice louva o que chama de “esforço em propor o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal a Cristo”.

O santo padre chama a atenção de toda a humanidade para a “urgência de uma necessária mudança de atitude” em nossas relações com o meio ambiente e recorda que a atual crise ecológica simboliza um apelo a uma profunda conversão interior.

“O meu predecessor de venerável memória, São João Paulo II, já alertava que era preciso estimular e apoiar a ‘conversão ecológica’, que tornou a humanidade mais sensível ao tema do cuidado com a casa comum”, destacou Francisco.

“Que todos nós possamos, com o especial auxilio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”, concluiu.

Entenda

Celebrada nacionalmente desde 1964, a campanha da fraternidade, de acordo com a CNBB, é um modo de a Igreja Católica no Brasil celebrar o período da quaresma, em preparação para a Páscoa, com atitudes de oração, jejum e caridade.

“O ponto alto da campanha é a coleta da solidariedade, realizada em todas as comunidades do Brasil no Domingo de Ramos – neste ano, nos dias 12 e 13 de abril. Os recursos são destinados a projetos sociais em todo o país”.

(Fonte: Agência Brasil)

São Paulo (SP) 18/08/2024 UNIP em São Paulo, candidatos  do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) a espera da abertura dos portões.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Quatro dias após a divulgação do resultado do Concurso Nacional Unificado (CNU), o governo atualizou as listas finais de aprovados com as vagas abertas por candidatos que desistiram do curso de formação. As novas relações estão disponíveis na página.

Para consultar as listas atualizadas, é necessário login no Portal Gov.br. Qualquer pessoa com conta no Gov.br pode acessar as relações, não precisando ser candidato.

Em nota, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) informou que pediu que a Fundação Cesgranrio, banca organizadora do CNU, revisasse as listas após denúncias de “inconsistências nos resultados divulgados no dia 28 de fevereiro”. Durante o procedimento, descobriu-se que o sistema gerou listas incompletas, ao não repor as vagas de candidatos que desistiram dos cursos de formação.

“Esse trabalho foi realizado desde o fim de semana e indicou que, ao processar a lista final de resultados, o sistema considerou desistências para os cursos de formação sem as novas convocações para as mesmas vagas. Esse procedimento fez com que diferentes listas de convocação para matrícula tenham sido divulgadas de forma incompleta. Essa situação já foi resolvida, e as novas listas já estão disponíveis na área do candidato”, destacou o comunicado.

O MGI também esclareceu que a lista atualizada respeita as novas notas mínimas divulgadas em novembro após acordo entre a pasta e o Ministério Público Federal, o tratamento dado aos candidatos sub judice (que estão recorrendo do resultado na Justiça) e a reclassificação de candidatos inscritos como cotistas, mas que não tiveram a situação reconhecida pela banca examinadora.

“Em decorrência dos critérios acima descritos e da reinclusão, nas convocações para cursos de formação de candidatos que haviam confirmado vaga nos dias 11 e 18 de fevereiro, outros candidatos chamados para cargos com curso de formação nas listas anteriores ao dia 28 ou no próprio dia 28 tiveram sua situação alterada”, ressaltou o MGI, ao recomendar que todo mundo verifique o resultado novamente.

O ministério reafirmou que nenhum resultado será homologado sem a garantia de total observância dos editais do CNU. A homologação continua programada para 7 de março, próxima sexta-feira.

(Fonte: Agência Brasil)

LITERATURA E POLÍTICA, POEMA E POLÍTICA, PARTIDARISMO E POLÍTICA, SECTARISMO E POLÍTICA, MENTIRA E POLÍTICA

(“Spoiler” para os apressados: Neste texto faz-se defesa da Literatura e do direito do Autor à sua Obra)

*

Às vésperas de completar 88 anos (em 27 de março), morreu nessa terça-feira (4 de março de 2025), no Rio de Janeiro, vítima de Alzheimer, o professor e escritor mineiro Affonso Romano de Sant’Anna. Sua morte se dá exatos 35 dias depois do falecimento, em 28/1/2025, de sua esposa, a também escritora Marina Colasanti. Agora, ambos se reveem na Eternidade, onde (con)viverão muitas bodas de ouro, além daquela presente nos 54 anos de casamento que o casal desfrutou neste lado de cá da Vida.

Há quatro anos, em 16 de abril de 2021, ante o uso do nome do poeta para atribuição de falsa autoria de poema, escrevi o texto a seguir, mesmo sabendo que Affonso Romano, membro da Academia Brasileira de Letras, saberia ele mesmo defender-se ou esclarecer a má utilização de seu respeitado nome.

Condolências à Literatura e à Cultura brasileira e universal. (E. S.)

*

LITERATURA E POLÍTICA, POEMA E POLÍTICA, PARTIDARISMO E POLÍTICA, SECTARISMO E POLÍTICA, MENTIRA E POLÍTICA

*

“É um presidente que mente,

Mente de corpo e alma, completa/mente.

E mente de maneira tão pungente

Que a gente acha que ele mente sincera/mente,

Mais que mente, sobretudo, impune/mente...

Indecente/mente.

E mente tão nacional/mente,

Que acha que mentindo história afora

Vai nos enganar eterna/mente”.

(Autoria atribuída a Affonso Romano de Sant’Anna)

*

Não tenho procuração para escrever em nome de um escritor de mais de 80 anos (de fato, acabou de completar 84, em 27 de março). Affonso Romano de Sant’Anna é um respeitado poeta nascido em Minas Gerais.

Pois bem: tanto Affonso quanto Clarice Lispector, Fernando Pessoa e muitos outros autores brasileiros ou estrangeiros têm sido alvo, com o uso de suas obras, da sanha, do furor incontrolável travestido ora de ideologia, ora de cidadania, ora de libertarismo, ora disso e ora daquilo.

Para nós, autores, nossos escritos, nossos livros são como filhos de celulose e tinta – e, por mais que tentem se justificar, o uso desrespeitoso dos textos com autoria definida é mais que uma desconsideração: é um crime, uma contravenção, um ilícito. Nenhum pai ou mãe quer ver um filho seu destratado...

Autores não podem controlar o que deles ou sobre eles se publica no vasto e-mundo da Internet, nos incontáveis espaços virtuais– e nem sempre virtuosos – das redes sociais e que tais.

Mas, não se contentando com o uso desrespeitoso de textos, pessoas na Internet, com comportamento de rebanho, vão não só multiplicando o uso criminoso das produções literárias: agora vão-se dando ao luxo de alterar, reescrever, adaptar aos seus objetivos nem sempre honrosos os textos que essas mesmas pessoas sequer despenderam tempo e esforço e, sobretudo, talento para compô-los.

“Poema da mente” (também titulado "Poema da mente que mente") é um texto em versos que campeia solto no fazendão das redes sociais, no vastíssimo território digital. Ele é replicado irresponsavelmente e tripudia sobre a obra original de Affonso Romano de Sant’Anna.

Esse poema não foi escrito contra o atual presidente nem contra presidente nenhum. O poema é da primeira metade da década de 1980 e faz referência a outros fatos -- com o modo “especial” com que a linguagem literária sabe fazê-lo.

Affonso Romano até poderia escrever uma paródia, uma paráfrase de seu próprio poema e poderia soltá-la para alimentar a fome de rebanhos, varas, alcateias humanas de qualquer lado das muitas cercas (literárias, políticas, ideológicas etc.).

Mas o Autor, podendo dispor como quiser de sua obra, não o fez. Entretanto, pessoas desconhecidas, acreditando-se seguras pelo cipoal do anonimato da Internet, arrogaram-se, avocaram-se, atribuíram a si mesmas o condão, o direito que o próprio Autor não quis exercer ou exercitar.

O poema original (“A implosão da mentira”) tem 107 versos. Repita-se: 107 versos. O “outro” poema (acima, no início deste texto) tem nove. Mas a pequenez não para aí. O poema original é vazado, é escrito na terceira pessoa do plural, o que leva o verbo “mentir” e outros verbos também para o plural: “[Eles] mentem”. Sem falar em detalhes de partição ou separação dos versos e formação das estrofes, coisas que cada apropriador criminoso faz à sua imagem e dessemelhança, às vezes antiliterariamente.

E aí o que faz o criminoso apropriador de textos que ele não conseguiu ou não sabe escrever? Despeja seu vômito ideológico-intelectualista em uma obra referenciada de um Autor respeitado de seu País, procura com lupa a parte que mais se adequa aos seus propósitos, adapta os trechos, muda palavras, reconstrói frases, (des)constrói versos e estrofes... e irresponsavelmente, criminosamente, atribui a autoria ao mesmo Autor original!...

Sabe aquela estória de “pau que dá em Chico dá em Francisco”? Pois é o caso. Esse poema chama-se, verdadeiramente, “Implosão da mentira” e foi publicado no livro “Política e Paixão”, de 1984, pela Editora Rocco, do Rio de Janeiro (RJ). Tenho comigo um exemplar da 1ª edição dele.

Mas, o que tem a ver a estória de “pau que dá em Chico dá em Francisco”?

É que, por mais que a “bola” da vez seja o atual presidente, esse poema, em sua versão ou apropriação desvirtuada, não foi feito só para o atual “Chico”. Ele foi, bem antes, muito antes, feito para o “Francisco” anterior. Como se pode ver nas ilustrações, extraídas da Internet, esse mesmo “poema” já foi jogado no mundo da Internet contra um ex-presidente. Portanto, a lógica dos conteúdos do “poema” que se espalha agora é a mesma do “poema” em 2008 e em 2016, para ficar só em duas datas que estão devidamente documentadas na rede mundial de computadores.

Em outras palavras, se quem fez ou quem espalha quer com o “poema” atribuir a alguém a característica de mentiroso deve admitir que a “verdade” desse “poema” é a mesma para o político de 2008 e 2016. Ou tem algum seguidor que se julga mais cheio de “direitos” e de “verdades” do que os demais seguidores de nove e treze anos atrás? Atire a primeira pedra quem não pecou, e anda pecando até agora...

É bom para a democracia que haja gente com consistência ideológica, consciência política e constância crítica. Mas ideologia, política e crítica não se podem tornar sedativo ou entorpecente que tome de conta de todas as faculdades lógicas, mentais de um ou mais seres humanos... Aí já é caso médico...

O grande escritor norte-americano Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido pelo pseudônimo Mark Twain, disse uma vez: “Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém” .

Por mais que apareçam com cara de santo, políticos, sobretudo políticos, têm o que esconder. É da natureza de tão sensível atividade (a Política), posta em mãos de tão insensíveis pessoas (os “políticos”).

É sintomático (para não dizer outra coisa) o exercício cotidiano, a todo instante, de defender à exaustão um ou outro político, achar que só o seu político de estimação é que se comporta ou se comportou todo o tempo, o tempo todo, com a ética, a honestidade, a lisura, apesar do mundo de tentações de poder e dinheiro à sua volta

Os argumentos ainda poderiam ir mais longe, mas para-se por aqui. Procurei não ser ofensivo a quem quer que seja. Primeiro, porque estudei demais, tive “criação” demais para só agora ser mal-educado assim.

E, segundo, porque no tal Estado Democrático de Direito toda pessoa tem o sagrado direito de ir pro inferno em paz... desde que não leve ninguém...

... – exceto, claro, seus políticos de estimação...

E, “para não dizer que não falei de flores”, reproduzo a íntegra do poema (original, verdadeiro) de Affonso Romano de Sant’Anna:

A IMPLOSÃO DA MENTIRA

Mentiram-me. Mentiram-me ontem

e hoje mentem novamente. Mentem

de corpo e alma, completamente.

E mentem de maneira tão pungente

que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.

Não mentem tristes. Alegremente

mentem. Mentem tão nacional/mente

que acham que mentindo história afora

vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases

falam. E desfilam de tal modo nuas

que mesmo um cego pode ver

a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil

e para alguns é cara e escura.

Mas não se chega à verdade

pela mentira, nem à democracia

pela ditadura.

Evidente/mente a crer

nos que me mentem

uma flor nasceu em Hiroshima

e em Auschwitz havia um circo

permanente.

Mentem. Mentem caricatural-

mente.

Mentem como a careca

mente ao pente,

mentem como a dentadura

mente ao dente,

mentem como a carroça

à besta em frente,

mentem como a doença

ao doente,

mentem clara/mente

como o espelho transparente.

Mentem deslavadamente,

como nenhuma lavadeira mente

ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem

com a cara limpa e nas mãos

o sangue quente. Mentem

ardente/mente como um doente

em seus instantes de febre. Mentem

fabulosa/mente como o caçador que quer passar

gato por lebre. E nessa trilha de mentiras

a caça é que caça o caçador

com a armadilha.

E assim cada qual

mente industrial/mente,

mente partidária/mente,

mente incivil/mente,

mente tropical/mente,

mente incontinente/mente,

mente hereditária/mente,

mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente

constroem um país

de mentira

—diária/mente.

Mentem no passado. E no presente

passam a mentira a limpo. E no futuro

mentem novamente.

Mentem fazendo o sol girar

em torno à terra medieval/mente.

Por isto, desta vez, não é Galileu

quem mente.

mas o tribunal que o julga

herege/mente.

Mentem como se Colombo partindo

do Ocidente para o Oriente

pudesse descobrir de mentira

um continente.

Mentem desde Cabral, em calmaria,

viajando pelo avesso, iludindo a corrente

em curso, transformando a história do país

num acidente de percurso.

Tanta mentira assim industriada

me faz partir para o deserto

penitente/mente, ou me exilar

com Mozart musical/mente em harpas

e oboés, como um solista vegetal

que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.

mesmo se têm um caçador à sua frente.

Penso nos pássaros

cuja verdade do canto nos toca

matinalmente.

Penso nas flores

cuja verdade das cores escorre no mel

silvestremente.

Penso no sol que morre diariamente

jorrando luz, embora

tenha a noite pela frente.

Página branca onde escrevo. Único espaço

de verdade que me resta. Onde transcrevo

o arroubo, a esperança, e onde tarde

ou cedo deposito meu espanto e medo.

Para tanta mentira só mesmo um poema

explosivo-conotativo

onde o advérbio e o adjetivo não mentem

ao substantivo

e a rima rebenta a frase

numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva

se não explode pra fora

pra dentro explode

implosiva

(Poema de Affonso Romano de Sant’Anna, no livro “Paixão e Política”, 1984, Editora Rocco, RJ)

* * *

* EDMILSON SANCHES

Ilustrações:

Affonso Romano de Sant'Anna e seu livro "Política e Paixão". "Print screens" da Internet, com "poema" atribuído ao escritor mineiro em 2008, 2016 e 2021.

No dia de hoje, há treze anos, em 4 de março de 2012, publiquei em minha página no Facebook. Acho que deixei de registrar, entre outros trabalhos, a “Enciclopédia de Imperatriz”, que escrevi e que foi lançada em março de 2003. Atualmente, contam-se às centenas a quantidade de trabalhos escritos e/ou publicados sobre Imperatriz, sobretudo, destaque-se a participação de dezenas e dezenas de textos acadêmicos, como os trabalhos de conclusão de curso (TCCs), as monografias de especialização “lato sensu”, as dissertações de mestrado, as teses de doutorado e até os relatórios de pós-doutoramento, sem falar em trabalhos de disciplinas, tudo isso no ambiente das instituições de ensino superior (Universidades, Centros Universitários, e Faculdades, inclusive ensino a distância – EaD). Todas as obras constam de minha biblioteca:

*

PARA CONHECER MAIS E MELHOR IMPERATRIZ

Em 1972 foi publicado o primeiro livro de Imperatriz e sobre Imperatriz. O título da obra não poderia ser mais sugestivo: "Eu, Imperatriz". A autora, Edelvira Marques de Moraes Barros, já falecida, foi funcionária pública municipal, historiadora, professora há gerações, e, mais ainda, imperatrizense de umbigo e coração, alma e pregação.

Daquele tempo até agora decorreram 40 anos e cerca de 500 obras. Diversos autores, filhos ou não de Imperatriz, escreveram e publicaram trabalhos literários, técnicos, científicos, religiosos, livros sobre a história e outros diversos aspectos da vida do município.

Cada livro tem suas peculiaridades, aquilo em que é forte, aquilo em que é ausente. Mas todo o livro tem sua utilidade. Não há livro inútil.

Recomendo, a quem se interessar por mais “coisas” sobre Imperatriz, a leitura das obras aqui relacionadas. Cada uma a seu modo – e, também, em seus limites – pode contribuir para a ampliação de conhecimentos e de visão sobre a história, o corpo e a alma do povo imperatrizense e da terra em que ele nasceu, ou escolheu habitar e desenvolver. Observação: Esta lista foi feita em 2002, há 10 anos. Outras obras foram escritas nesse período. (EDMILSON SANCHES)

*

ELA, IMPERATRIZ

É a cidade contando sua própria história. Textos curtos, de fácil leitura e compreensão.

"Eu, Imperatriz" – Publicado em 1972. Autora: Edelvira Marques de Moraes Barros. 285 páginas. Formato: 15 cm X 22,5 cm. Capa em azul, vermelho, branco e preto. Sem editora.

GRILAGEM

Traz documentos e relata episódios ligados à luta pelas terras em terras maranhenses, de 1957 a 1977. Das 215 páginas, oito são diretamente relacionadas a Imperatriz. Há passagens com o nome do município em diversas outras páginas.

"Grilagem – Corrupção e Violência em Terras do Carajás". Publicado em 1982. Autor: Victor Asselin. 215 páginas, com anexos. Formato: 16 cm X 23 cm. Capa em vermelho, preto e branco. Editora Vozes (Petrópolis – RJ).

BIOGRAFIAS

Traz 40 biografias (inclusive a do autor) de políticos, empresários, profissionais liberais, administradores e outros profissionais de Imperatriz.

"Eu e os Ilustres – Livro Biográfico". Publicado em 1982. Autor: Frank Barros. 47 páginas. Formato: 16 cm X 21 cm. Capa em azul e branco. Sem editora.

VIOLÊNCIA

Traz a transcrição de diversos “Encontros Sobre Violência e Direitos Humanos” realizados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 1985 e 1986 em cidades do Maranhão, Pará e Goiás. O livro traz ainda outros documentos, notas, relações, estatísticas etc. O encontro de Imperatriz ocupa 30 páginas.

"Violência no Campo: Documento da OAB – Conselho Federal". Sem data de publicação (provavelmente entre 1986/88). 282 páginas. Formato: 15 cm X 22,3 cm. Capa em vermelho, preto e branco. Editado pela OAB.

DESENVOLVIMENTO

Relatório final do “Plano de Desenvolvimento da Região Araguaia-Tocantins (1984/1994)”. O projeto foi concebido para realizar pesquisa e planejamento nos Estados do Goiás, Maranhão, Mato Grosso e Pará.

"Plano de Desenvolvimento da Região Araguaia-Tocantins (1984/1994) – Relatório Final do Projeto". Publicado em 1987. Governo Brasileiro e Organização dos Estados Americanos – OEA. 344 páginas. Formato: 18 cm X 25,3 cm. Capa em azul, verde, preto e branco. Secretaria de Administração da Presidência da República (Brasília – DF).

MORADORES

Dissertação de mestrado que traz estudo sobre a ação política e educativa em bairro da periferia de Imperatriz. A dissertação foi apresentada à Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).

"Ação Político-educativa numa Periferia Urbana: Um Estudo sobre Associação de Moradores – Imperatriz (MA)". Novembro de 1988. Autora: Maria da Assunção Calderano. 293 folhas. Formato. 20 cm X 28,5 cm. Capa em amarelo, marrom, preto e branco. UFRJ (Rio de Janeiro – RJ).

RIO

Traz informações sobre o Rio Tocantins: a descoberta; seus navegadores; o nome; o Tocantins no Maranhão etc.

"O Perfil Histórico do Rio Tocantins". Publicado em 1992. Autor: Sálvio Dino. 20 páginas. Formato: 15,5 cm X 22,5 cm. Sem editora.

FUNDAÇÃO

Relata “o conjunto de fatos que marcaram o ato da fundação de Imperatriz e dos fatos que o antecederam”.

"História da Fundação de Imperatriz". Publicado em 1993. Autora: Edelvira Marques de Moraes Barros. [Série “Caderno de Debates”, nº 2]. 20 páginas. Formato: 15 cm X 20,5 cm. Academia Imperatrizense de Letras / Ética Editora (Imperatriz/MA).

SUBSÍDIOS

Traz informações a partir das tentativas de conquista do Rio Tocantins até a constituição de entidades associativas em meados da década de 1980. No meio de tudo, religião, economia, política, educação, cultura, saúde, urbanização etc.

"Imperatriz – Subsídios para a História da Cidade". Publicado em 1994. Autor: Mílson Coutinho. 238 páginas. Formato: 15 cm X 21,5 cm. Editora: Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE – São Luís – MA).

JORNALISTA

É uma espécie de “autobiografia jornalística”, com relato dos fatos cobertos pelo autor em sua atividade profissional. Cobre 20 anos da vida da cidade em seus diversos aspectos. Reproduz artigos e transcreve um estudo de 27 páginas do professor João Renôr de Carvalho sobre Imperatriz.

"A História de um Jornalista Despretensioso: Autobiografia Jornalística: Fatos que Marcaram a História de Imperatriz". Publicado em 1996. 202 páginas. Formato: 15 cm X 20,5 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

CASA

Traz, em crônicas e poesias, lembranças da autora: sua infância, as cidades em que morou e atividades que exerceu. A cidade de passa Quatro (MG), onde a autora nasceu, e Imperatriz são destaques.

"A Casa da Esquina". Publicado em 1997. Autora: Neneca Motta Mello. 184 páginas. Formato: 14 cm X 21,5 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

FÓRUM

Traz a transcrição de 19 discursos, palestras e debates havidos durante encontro de discussões sobre as viabilidades econômicas de Imperatriz e região, em 1997, com participação de autoridades políticas, técnicos, executivos financeiros, produtores, representações sindicais e associativas.

"1º Fórum de Debates sobre Viabilidades Econômicas de Imperatriz e Região". Publicado em 1998. 259 páginas. Formato: 15,5 cm X 22,5 cm. Câmara Municipal de Imperatriz.

18 ANOS

Relato sobre o que o autor viu, leu e ouviu em quase duas décadas morando em Imperatriz. Suas impressões sobre os diversos acontecimentos. É confissão de amor e é protesto, reivindicação e denúncia.

"18 Anos de Imperatriz: O que vi, li e ouvi". Publicado em 1998. Autor: Livaldo Fregona. 415 páginas. Formato: 15 cm X 21 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

REVOLTA

Faz um relato testemunhal sobre a chamada “Revolução de Janeiro” [de 1995], quando a população de Imperatriz, de modo organizado e pacífico, ocupou a Prefeitura e a Câmara municipais, dizendo um “basta!” à forma com que a cidade estava sendo administrada (?). A partir daí, o autor apresenta um completo projeto político-ideológico-filosófico-cidadão de cidade e país.

"Carta Urgente: Da “Revolta Cidadã” à Utopia Brasil". Publicado em 1999. Autor: Ulisses de Azevedo Braga. 228 páginas. Formato: 14,5 cm X 20,2 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

SERTÃO

A formação histórica, cultural, econômica etc. “dos altos sertões maranhenses”, formado de vários municípios, entre eles Imperatriz, cuja parte específica ocupa oito páginas da obra. Reedição revista e anotada, com estudos introdutórios, do livro O Sertão, da professora maranhense Carlota Carvalho, publicado em 1924, no Rio de Janeiro.

"O Sertão – Subsídios para a História e a Geografia do Brasil". Publicado em 2000. Autora: Carlota Carvalho. 332 páginas. Formato: 18 cm X 25,2 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

MÃES

Relato sobre a fundação e as atividades do Clube das Mães de Imperatriz. Traz 20 páginas de “álbum iconográfico” (fotografias).

"Clube das Mães – 30 Anos". Publicado em 2001. Autora: Conceição Medeiros Formiga. 142 páginas. Formato: 13,8 cm X 20 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

CARVALHO

Traz “algumas dezenas das tantas crônicas, contos, opiniões e poemas” onde também se encontra muito de Imperatriz – sua gente, seus fatos e, sobre tudo isso, as impressões do professor italiano radicado em Imperatriz.

"O Carvalho de Tasso". Publicado em 2001. Autor: Vito Milesi. 155 páginas. Formato: 14 cm X 19,5 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

REGISTRO

Provavelmente a obra mais completa sobre os diversos aspectos da história imperatrizense, escrita pela autora pioneira na documentação dos fatos passados e presentes do município.

"Imperatriz: Memória e Registro". Publicado em 1996. Autora: Edelvira Marques de Moraes Barros. 428 páginas. Formato: 16 cm X 22 cm. Editora: Ética (Imperatriz/MA).

REVOLUÇÃO

O livro traz um relato das andanças e mudanças do autor e família, por várias cidades, até chegar a Imperatriz. Registra diversos acontecimentos políticos, esportivos e culturais da cidade. Traz uma parte com o título de “Imperatriz Atual”, com dados sobre a Imperatriz de meados da década de 1980.

"Imperatriz Após a Revolução". Publicado em 1984. Autor: Domingos Cezar. 52 páginas. Formato: 14,5 cm X 20,5 cm. Editora: CEJUP (Centro de Estudos Jurídicos do Pará – Imperatriz/MA).

150 ANOS

A pedido, membros da Academia Imperatrizense de Letras escreveram sobre diversos aspectos da vida imperatrizense, desde a origem do município até os dias atuais. Obra indispensável para o conhecimento e a compreensão de quem queira ler, estudar, pesquisar e refletir acerca de Imperatriz.

"Imperatriz, 150 Anos". Publicado em 2002. Autores: vários. 265 páginas. Formato: 19,3 cm X 26 cm. Editora: Academia Imperatrizense de Letras.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:

Imagens de Imperatriz e obras de Edmilson Sanches sobre a cidade e desenvolvimento não listadas no texto.

Brasília (DF) 04/03/2025 - Morre, no Rio, o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.
Frame Grupo Editorial Global

O escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna, morreu hoje (4), aos 87 anos, em casa, na zona sul do Rio de Janeiro, vítima de Alzheimer. Mineiro de Belo Horizonte, nascido em 27 de março de 1937, publicou mais de 60 livros, de gêneros como poesia e crônica. Foi também colunista do Jornal do Brasil e de O Globo. Foi casado com a também escritora Marina Colasanti, de quem ficou viúvo em janeiro deste ano. O velório será nesta quarta-feira, (5), das 11 às 14h, na Capela do Cemitério da Penitência, zona portuária do Rio. Depois, haverá uma cerimônia fechada, entre parentes e amigos. Em seguida, o corpo será cremado.

O acadêmico e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marco Lucchesi, disse nas redes sociais sobre o amigo: “Recebo com emoção a notícia da morte de Affonso Romano de Sant’Anna, ensaísta, ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), implantou um sistema público de leitura, grande poeta civil. Devo-lhe inesquecíveis gestos de amizade. Foi um dos grandes leitores das contradições das belezas de nosso Brasil”.

Biografia

Nas décadas de 1950 e 1960 participou de movimentos de vanguarda poética. Em 1961 formou-se em letras neolatinas pela então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UMG, atual Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).[1]

Em 1965 lecionou na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Estados Unidos, e em 1968 participou do Programa Internacional de Escritores da Universidade de Iowa, que agrupou 40 escritores de todo o mundo.

Em 1969 doutorou-se pela UFMG e, um ano depois, montou um curso de pós-graduação em literatura brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Foi Diretor do Departamento de Letras e Artes da PUC-Rio, de 1973 a 1976, realizando então a "Expoesia", série de encontros nacionais de literatura.

Ministrou cursos na Alemanha (Universidade de Colônia), Estados Unidos (Universidade do Texas e UCLA), Dinamarca (Universidade de Aarhus), Portugal (Universidade Nova) e França (Universidade de Aix-en-Provence).

Sua tese de doutorado abordou uma análise da poética de Carlos Drummond de Andrade, com o título Drummond, um gauche no tempo, em que faz uma análise do conceito de gauche ao longo de sua obra literária.

Durante os anos de 1990-1996 foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional, onde desenvolveu grandes ações de incentivo à leitura, como o Sistema Nacional de Bibliotecas.

(Fonte: Agência Brasil)

Inezita Barroso

Nesta terça-feira (4), completa-se o centenário de nascimento de uma das mais importantes artistas brasileiras: Ignez Magdalena Aranha de Lima, ou melhor, Inezita Barroso. Nascida em 1925, em São Paulo, Inezita foi cantora, atriz, instrumentista, apresentadora de rádio e televisão, além de folclorista, professora e pesquisadora da cultura popular brasileira.

Inezita teve uma trajetória que deixou uma marca indelével na arte do país, principalmente na chamada cultura caipira, incentivada e divulgada no seu trabalho. Também deixou saudades pela apresentação do saudoso programa Viola, Minha Viola, na TV Cultura, criado em 1980 e que é, muitas vezes, reprisado até os dias de hoje pela emissora.

O sucesso de Inezita pode ser explicado não apenas pelo seu talento artístico, mas também pelo vasto conhecimento que tinha do gênero que abraçou. 

“Inezita era obcecada pela cultura brasileira. Eu acho que ela fazia disso um objetivo de vida, de divulgar a cultura popular brasileira”, disse Aloisio Milani, jornalista, roteirista e pesquisador que trabalhou por oito anos com Inezita na produção do Viola, Minha Viola.

Milani vai lançar um livro digital sobre Inezita, com “causos” sobre a “moda da pinga”, sua música mais conhecida, composta por Ochelsis Aguiar Laureano. Mas, segundo ele, entre vários outros assuntos, tem também histórias de “seu grupo de música na época de estudante como Paulo Autran, Renato Consorte, Tullio Tavares, Paulo Vanzolini, sobre os bastidores de seus discos preferidos, sobre suas alegrias e tristezas”.

O jornalista ressaltou a dedicação e zelo de Inezita na condução do programa, que trazia tanto nomes consagrados quanto os novos talentos que emergiam no cenário da música interiorana. Assim, os palcos do Viola, Minha Viola receberam desde as Irmãs Galvão, Liu e Léo, Pedro Bento e Zé da Estrada, Craveiro e Cravinho até Almir Sater, então um jovem e talentoso violeiro de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

O pesquisador Walter de Souza, da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo e autor do livro Moda inviolada – uma história da música caipira, destacou que ela fez vários registros históricos de todas as regiões do país.

“Em termos culturais, representou a tradição musical caipira paulista, mesmo enquanto esta se misturava a ritmos de fora do país, como a guarânia paraguaia, o bolero cubano, a rancheira mexicana e a versão brasileira do rock, o iê-iê-iê, até virar o gênero sertanejo”, disse Souza.

“O que sempre a moveu foi a defesa da música brasileira, ou seja, a manutenção da identidade caipira contra o afã do capital como força motriz do crescimento do gênero sertanejo”, completou o pesquisador.

Inezita Barroso se apresenta no auditório da Rádio Nacional de Brasília - Acervo Arquivo Público do Distrito Federal

Carreira

Nascida em São Paulo, Inezita teve uma carreira profícua. Formou-se em biblioteconomia na Universidade de São Paulo (USP). Por seus estudos com folclore e cultura popular, chegou a ser ganhar o título honoris causa pela Universidade de Lisboa.

Na Rádio Clube de Recife interpretou músicas coletadas pelo escritor Mário de Andrade. Entrou na rádio Bandeirantes em 1950, e em seguida, foi contratada pela Record. Foi também em 1950 quando adotou o nome artístico Inezita Barroso – um apelido de infância com o sobrenome do marido.

No cinema, Inezita esteve em filmes como Ângela (1950), O craque (1953), Destino em apuros (1953) e É proibido beijar (1954), entre outros.

Na década de 70, Inezita apresentou-se numa série de eventos internacionais. Começou a apresentar programas de televisão e rádio, sendo o mais famoso o até hoje reverenciado Viola, Minha Viola, que comandou por 35 anos. 

Ela esteve à frente do programa de 1980 a 2015, pouco antes de morrer em 8 de março, quando completou 90 anos.

(Fonte: Agência Brasil)

Director Walter Salles poses with the Oscar for Best International Feature Film for

O cinema brasileiro fez história na noite desse domingo (3), na 97ª edição do Oscar, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, foi o grande vencedor na categoria de melhor filme internacional. Uma conquista inédita para o cinema brasileiro. 

O filme brasileiro superou Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia).

Walter Salles dedicou a conquista para Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva desaparecido na ditadura, cuja busca em saber o destino do marido norteou o roteiro do filme. Em seu discurso de agradecimento, o cineasta brasileiro também ressaltou os trabalhos de Fernanda Torres, e sua mãe, Fernanda Montenegro.

Indicado também para a estatueta de melhor filme, Ainda Estou Aqui perdeu para Anora, maior vencedor da festa com cinco estatuetas no total.

Fernanda Torres, indicada ao prêmio de melhor atriz, não levou a estatueta, que acabou nas mãos de Mikey Madison, de Anora. Mesmo assim, Fernanda Torres entra na história do cinema repetindo sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada na edição de 1999 do Oscar como melhor atriz, mas a laureada foi a estadunidense Gwyneth Paltrow.

Clima de Copa do Mundo

A coincidência das datas da maior premiação do cinema com o Carnaval brasileiro acabou em clima de torcida da Copa do Mundo. Máscaras de Fernanda Torres e de Selton Mello (intérprete de Rubens Paiva), fantasias da estatueta dourada do prêmio, boneco gigante de Olinda, entre outras referências ao Oscar, estiveram presentes em desfiles e blocos carnavalescos pelo país inteiro.

Com suas indicações, o filme de Walter Salles sobre o desaparecimento do deputado Rubens Paiva (1929-1971) e a saga de sua esposa Eunice Paiva (1929-2018) já chegou vitorioso à festa da indústria cinematográfica.

Especialistas consultados pela Agência Brasil disseram que, entre as qualidades do filme, estão a capacidade de abordar o passado de uma forma diferente e a maneira como a obra conseguiu dialogar com os tempos atuais.

O livro autobiográfico que nomeia o filme, de autoria de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice,  foi para o topo das listas dos mais vendidos. O próprio caso Rubens Paiva ganhou novos desdobramentos recentemente. Por determinação da Justiça, em janeiro deste ano, a certidão de óbito do ex-deputado foi corrigida. Na versão original do documento, ele foi tido como “desaparecido político”. Na nova redação, consta agora que sua morte foi violenta, causada pelo Estado brasileiro.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu analisar se a Lei da Anistia, adotada com o fim do regime de exceção, se aplica ou não a crimes de sequestro e cárcere privado cometidos na época da ditadura militar brasileira.

Os premiados nas 23 categorias foram:

Ator coadjuvante – Kieran Culkin, em A verdadeira dor

Animação – Flow

Curta-metragem animado – In The Shadow of Cypress

Figurino – Wicked

Roteiro original – Anora

Roteiro adaptado – Conclave

Maquiagem e penteado – A substância

Edição Anora

Atriz coadjuvante – Zoe Saldaña, por Emília Pérez

Design de produção – Wicked

Canção original – El Mal, de Emilia Pérez

Documentário de curta-metragem – A única mulher na orquestra

Documentário   - No other land

Som – Duna: Parte 2

Efeitos visuais Duna: Parte 2

Curta-metragem em live-action – I´m not a robot

Fotografia – O Brutalista

Filme internacional – Ainda estou aqui

Trilha sonora  – O Brutalista

Ator –Adrien Brody, em O Brutalista

Direção – Sean Baker, de Anora

Atriz – Mikey Madison, em Anora

Filme Anora

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF), 23/01/2025 - Cena do filme Ainda estou aqui. Foto: Alile Dara Onawale/Sony Picutres

Repercussões nacionais e internacionais de diferentes características. Públicos emocionados e curiosos sobre o que foi a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Cinema brasileiro reconhecido ao tratar do impacto do autoritarismo (que ainda hoje ameaça democracias)... São variados os motivos que fazem o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, já chegar vencedor ao Oscar, neste domingo (2), avaliam estudiosos. Mesmo se não vierem estatuetas.

Brasília (DF), 23/01/2025 - Atriz do filme Ainda estou aqui, Fernanda Torres. Foto: oficialfernandatorres/Instagram

Inspirada em livro de 2015 com escrita biográfica de mesmo título, de autoria do escritor Marcelo Rubens Paiva, a obra foi lançada em 2024 e levou mais de cinco milhões de pessoas ao cinema. Em caso de vitória neste domingo, será a primeira estatueta para o Brasil. Em 1960, porém, o longa brasileiro Orfeu Negro venceu na categoria de melhor filme estrangeiro, mas o filme representava a França (do diretor Marcel Camus).

Marcelo Rubens Paiva é um dos cinco filhos da advogada e ativista Eunice Paiva (1929-2018).e do ex-deputado Rubens Paiva (1929-1971), que teve o mandato cassado e, depois, foi perseguido, sequestrado, torturado e morto por agentes da ditadura (da Aeronáutica e do Exército). 

Até agora, o longa recebeu 38 prêmios nacionais e internacionais, entre eles, o Prêmio Goya e o Globo de Ouro de Melhor Atriz. No Oscar, foi indicado em três categorias melhor filme, melhor atriz, para Fernando Torres, e melhor filme internacional.

Presente

Em geral, estudiosos ouvidos pela Agência Brasil explicam que remexer no passado de uma forma diferente, em diálogo com um presente atribulado, mobiliza crítica e o público, o que já, de antemão, representa vitória. 

De acordo com o professor Arthur Autran, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e que lidera grupo de pesquisa sobre cinema e audiovisual na América Latina, a repercussão é “enorme” em diversos níveis, independentemente se o longa receber algum Oscar neste domingo.

Há o que o pesquisador chama de uma “repercussão social”.

“O filme se tornou, de fato, uma espécie de evento. Muitas pessoas se interessaram pelo cinema brasileiro”, explica.

Brasília (DF), 01/03/2025 - Bloco de carnaval, Vai quem fica, nas ruas de Brasília.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Para ele, isso evidentemente cria um clima bastante positivo e, mesmo sem utilizar diretamente de recursos públicos, é uma expressão da política pública brasileira para o audiovisual.

Outra vitória do filme para o país citada pelo professor é a valorização da memória nacional. “(O assassinato de Rubens Paiva) Foi um crime praticado pela ditadura militar brasileira. O filme é trazido de uma forma muito emocionante e candente. Houve muita competência em recontar essa tragédia brasileira e trazer isso de uma forma narrativamente muito poderosa”, diz Autran. 

O filme, em si mesmo, segundo analisa o especialista, ao trazer uma narrativa poderosa, coloca luz sobre o cinema brasileiro. 

“Nós temos voz”

Outra estudiosa, a professora de artes cênicas Dirce Waltrick do Amarante, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), identifica que a visibilidade fora do Brasil significa uma vitória expressiva para a arte brasileira.

“Nós temos conseguido erguer a nossa voz. É uma voz falada em português, de um país periférico como o Brasil. Uma voz que tem sido ouvida”, explica a pesquisadora. 

O alcance do filme, de acordo com o que Dirce Waltrick entende, tem trazido repercussão às produções brasileiras na arte. “Esse filme é importantíssimo em razão dessa temática e tem muitas chances de vencer no Oscar. De toda forma, eu acho um filme fundamental, uma virada de chave para a nossa cultura”. 

Para a professora, a função da obra de arte é de fato mexer e perturbar.

“As pessoas se sentem instigadas a ir atrás e a saber mais sobre quem foi Eunice Paiva, que lutou pelo direito dos indígenas (o que é menos abordado no filme)”.

De olho no presente

Para o professor de história Marco Pestana, da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador do tema da ditadura, o filme tem diferentes méritos, como o de, mesmo tratando de um período obscuro, conseguir dialogar de maneira direta com o presente. “É um filme que, nessa conjuntura, tem cumprido um papel importante”. 

Em um cenário de expansão de correntes autoritárias pelo mundo, como ele avalia a ascensão do extremismo em países de diferentes continentes, o longa apresenta-se como uma linguagem universal e que pode ser compreendida além do cenário do passado brasileiro. 

Segundo considera Pestana, esse avanço político foi conquistado por uma disputa ideológica ferrenha, inclusive com uma ideia reverberada e falsa de que haveria tranquilidade no Brasil e que tinham problemas com a polícia e com a justiça quem estava fazendo algo de errado. “Isso é parte da construção ideológica de valorização desse período”, explica. 

O professor entende que o filme mostra que aquele período não era exatamente uma era de ouro para o Brasil. “Evidentemente dialoga (e contesta) com esse imaginário que a extrema-direita tenta fomentar”.

Direitos

Naquele cenário da obra, o filme destaca o impacto da ação repressiva sobre um membro da família. “E como isso tem consequências para o conjunto daquela família, não só naquele momento, e como é um impacto de longa duração. Não deixa de mostrar o momento da luta e o em que a família consegue o atestado de óbito”, explica.

Sobre o direito da família, a advogada Ariadne Maranhão reconhece que o filme traz visibilidade ao tema da morte presumida.

“O reconhecimento antecipado da morte foi um avanço que garantiu não apenas segurança jurídica, mas um alívio necessário para que essas famílias seguissem com suas vidas dentro do ordenamento", explica.

Ela entende que a repercussão do filme Ainda Estou Aqui, no âmbito do direito de famílias e sucessões, é relevante, já que evidenciou como o contexto histórico impactou diretamente as estruturas familiares e a autonomia das mulheres. 

“Como sabemos, por séculos, as mulheres foram silenciadas e relegadas ao papel de zeladoras da família, sem voz, para participar das decisões que moldavam suas próprias vidas”. Para a especialista, o filme retrata essa realidade sob a ótica de Eunice Paiva.

“A arte desempenha um papel fundamental para alertar a sociedade sobre os seus direitos”. 

“Fura a bolha”

O professor de história Marco Pestana, da UFF, argumenta que o filme consegue ter repercussão até com pessoas que não conheciam ou compreendiam as violências perpetradas pelos agentes da ditadura. Com Oscar ou sem, há uma vitória nesse sentido. 

“Furou a bolha. Em alguma medida, isso tem relação com a estratégia narrativa de politizar pelo viés do cotidiano, da vida familiar”.

No entender do professor Arthur Autran, da UFSCar, a esse respeito, houve um esforço do filme de tentar falar para um público o mais amplo possível dentro do Brasil e fora do Brasil também. Ainda que, conforme os especialistas, com limitações a “quem não quer ouvir”. Ele lembrou que Marcelo Rubens Paiva, que é cadeirante, foi atacado quando estava em um bloco de carnaval. 

Brasília (DF), 23/09/2024 - Cena do filme Ainda estou aqui. Foto: Alile Dara Onawale/Sony Pictures

Justiça

Depois que o filme foi lançado, o Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu analisar o processo que estava com trâmite parado há uma década. Agora, a Corte anunciou que vai julgar se a Lei da Anistia se aplica aos crimes de sequestro e cárcere privado cometidos durante a ditadura militar a partir das investigações da morte do ex-deputado Rubens Paiva.

Marco Pestana avalia que a decisão tem relação com o filme e a conjuntura. “O STF soube ler (o momento) e entendeu que era momento para pautar isso". 

(Fonte: Agência Brasil)

– "Até onde iríamos nesse desfile de grandes nomes maranhenses que, em geral, nós maranhenses deles pouco sabemos, ou não sabemos? A quantidade de nomes é tal que dobraríamos as esquinas da paciência e testaríamos o limite de páginas de papel e espaços digitais".

– (...) "Essa coleção de nomes forma um patrimônio simbólico, um potencial da Economia Criativa, um capital intelectual fantástico que não pode ser deixado assim, no desperdício, na não recorrência, no esquecimento".

*

Há dez anos, no dia 1º de março de 2015, na página principal de apenas um “site” de notícias, a expressão “Cidade Maravilhosa” aparecia pelo menos sete vezes em manchete e títulos de textos (como, por exemplo, no endereço eletrônico http://noticias.uol.com.br/rio-de-janeiro, às 9h12) . “Cidade Maravilhosa”, como se sabe, é uma figura de linguagem (autores classificam como perífrase, antonomásia, epíteto...) para denominar a cidade Rio de Janeiro, capital do Estado brasileiro de mesmo nome.

Dez anos depois, neste 1º de março de 2025, a ferramenta de buscas Google traz incontáveis referências aos 460 anos do Rio de Janeiro e à expressão “Cidade Maravilhosa”, um sinônimo para a capital fluminense.

Essa expressão – “Cidade Maravilhosa” –, de tanto que “pegou”, é nome de música (de 1934, depois considerada hino oficial do município carioca: “Cidade Maravilhosa / cheia de encantos mil...”).

“Cidade Maravilhosa” também foi nome de programa de rádio, é título de diversas obras: a escritora francesa Jane Catulle Mendès (1867-1955) publicou em 1913 em Paris “La Ville Merveilleuse” (“A Cidade Maravilhosa”), livro de poemas sobre o Rio de Janeiro, onde estivera dois anos antes, de setembro a dezembro de 1911. Tenho um exemplar de obras com esse nome, de 1922, de autoria de Olegário Mariano, pernambucano que morava no Rio, e outra de igual título do maranhense de Caxias Coelho Netto, que também residia na capital carioca.

Enfim, no Brasil e no mundo, é automático: “Cidade Maravilhosa” é sinônimo de “Rio de Janeiro”. Dezessete letras por doze. Métrica e poeticamente, um septissílabo e um pentassílabo.

Pois bem: antes de 1º de março, em 2015 e neste 2025, há dias que a grande Imprensa (rádio, jornal, televisão, Internet), sobretudo a do Sudeste, vinha fazendo e divulgando matérias sobre o Rio de Janeiro e seus 450 / 460 anos. Invariavelmente, a expressão “Cidade Maravilhosa” está ali, naquelas matérias. “Cidade Maravilhosa” é a expressão-alma que dá “vida” ao nome-corpo “Rio de Janeiro”.

O que não vi, não li, não escutei foi a referência, mínima que pudesse ser, a quem se tornou o maior divulgador da expressão “Cidade Maravilhosa” como perfeita substituta, dublê de corpo e alma do topônimo “Rio de Janeiro”. A expressão “cidade maravilhosa” já constava de textos e títulos de matérias jornalísticas veiculadas pela Imprensa carioca pelo menos desde 1907 e 1913.

Pois o maior divulgador desse epíteto / perífrase / antonomásia / metonímia foi um maranhense multitalentoso – como o eram os diversos maranhenses, sobretudo escritores, que, individualmente ou com a família, se mudaram para a antiga Capital Federal, o Rio, em especial no século XIX.

O grande divulgador da expressão “Cidade Maravilhosa” é o maranhense de Caxias Henrique Maximiano Coelho Netto, que surpreendeu e encantou o Brasil com seus mais de cem livros e milhares e milhares de textos em jornais, além de centenas de discursos e outros pronunciamentos.

O Maranhão de hoje não sabe fazer jus aos maranhenses talentosos de ontem. O Maranhão não se autorreconhece. Não adotou um pingo de sadia ousadia, de criativa audácia, para (im)pôr-se em seu lugar como instrumento de destaque no concerto da Federação.

Falando no geral, pergunte-se a um estudante maranhense ou a um outro cidadão a escalação do seu time de futebol (geralmente paulista ou carioca) e ele lhe poderá detalhar até como deram os passos e passes que culminaram no terceiro gol do segundo tempo do primeiro turno do ano de mil e lá vai fumaça. Genial. Louvável. É o amor ao futebol.

Agora, pergunte-se quem e que (enorme) diferença fizeram ao Brasil ou ao mundo escritores, cientistas, gestores públicos, artistas e políticos nascidos em muitos casos nas brenhas da hinterlândia maranhense, muitas das vezes com todas e aparentes pré-condições para darem errado na vida, pela soma de fatores socioeconômicos, educacionais, familiares, territoriais...

Maranhenses que causariam orgulho aparente, explícito, e não apenas latente, potencial, a cidades como Paris, a países como a França... Mas esses nossos irmãos – ilustres desconhecidos – não mereceram até hoje dos setores Público e Privado um conjunto de ações sistêmicas e sistemáticas, orgânicas e organizadas para, até mesmo, (re)validar nossa “fama” de “Atenas Maranhense” e (re)ativar ou inspirar espíritos conterrâneos para os valores e validade da Cultura, da Arte, da Educação, do Conhecimento, da Ciência, da Literatura, da (boa) Política.

Dá vergonha ou, mais ainda, tristeza, saber o tanto de esforço, tempo, talento e outros recursos que homens e mulheres maranhenses despenderam em nome de uma coisa, em defesa de uma causa. Gentes maranhenses que têm recebido muito mais reconhecimento e homenagens em solo não maranhense do que na própria terra que as viu nascer.

Nestas comemorações dos 460 anos do Rio de Janeiro o Maranhão poderia estar saudando a antiga capital brasileira em peças publicitárias copatrocinadas, em textos assinados, em matérias jornalísticas, onde se destacasse o talento do maranhense Coelho Netto como autor da expressão “Cidade Maravilhosa” e se resgatasse ou se reafirmasse a identidade ou coirmandade maranhense e carioca, a partir mesmo da enxurrada de ações e realizações de que foram agentes os muitos e talentosos maranhenses que tiveram o Rio como segunda terra em sua vida.

Poucos Estados ombreiam-se com o Maranhão na quantidade e qualidade de seus filhos de destaque. MANOEL ODORICO MENDES, escritor, político, tradutor, é o precursor no Brasil da moderna tradução criativa. Sua tradução das obras de Virgílio e Homero são até hoje objeto de estudos e elogios. A Unicamp (Universidade Campinas) e seu Instituto de Estudos da Linguagem têm , permanente, o “Projeto Odorico Mendes”. Odorico Mendes é nome de rua no Rio de Janeiro e é bisavô de Maurice Druon, famoso escritor francês, autor do mundialmente conhecido livro “O Menino do dedo Verde”, decano da Academia Francesa, falecido em 2009.

TEÓFILO ODORICO DIAS DE MESQUITA, advogado, jornalista, escritor, é patrono da Academia Brasileira de Letras e autor da obra responsável pela introdução do Parnasianismo no Brasil.

JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE DE CAUKAZIA PEREIRA, o Sousândrade, escritor vanguardista, formado em Paris, é autor de obra tida como das mais originais e instigantes do Romantismo no Brasil e precursor do Modernismo na Literatura.

JOÃO MENDES DE ALMEIDA, advogado, jornalista, líder abolicionista, escritor, foi o maranhense redator da Lei do Ventre Livre e foi considerado o jornalista mais completo do Brasil. Em São Paulo, sua vasta obra jurídica foi relançada. João Mendes mereceu busto e praça com seu nome na maior cidade brasileira, São Paulo, além do nome de seu filho, João Mendes de Almeida Júnior, dado ao fórum paulistano... No Maranhão, quem sabe disso?, quem o estuda?, que escola ou rua ou praça recebe seu nome?, que homenagens lhe são creditadas?, que honrarias lhe são, mesmo pós-morte, atribuídas?

ADERSON FERRO, odontólogo, formado em Paris, considerado “Glória da Odontologia Nacional”, autor de obra pioneira nessa Ciência – foi o primeiro brasileiro a escrever um livro sobre Odontologia. É também um dos introdutores da anestesia odontológica no Brasil. Quanto ao Maranhão, deixa-nos de boca aberta o desconhecimento e o não esforço para reassumir a maternidade desse ilustre filho, reconhecido e homenageado em outros lugares – mas não aqui. Há livro inteiro dedicado a Aderson Ferro... de autoria não maranhense.

JOAQUIM GOMES DE SOUSA, o Sousinha, matemático, escritor, tradutor, estudou Matemática e Medicina (em que se doutorou) na Europa. É considerado o primeiro físico e matemático brasileiro e, segundo alguns, o maior matemático do Brasil até hoje. Também surpreendeu a Europa com seus vastos conhecimentos nas ciências dos números e cálculos.

HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO, eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, entre tanta coisa que legou ao Brasil, a consolidação do título “Cidade Maravilhosa” para o Rio e a autoria do título “Cidade Verde” para Teresina. E mais: desportista e capoeirista que era, foi o responsável pela elevação da capoeira no Brasil e pela ampliação de significado da palavra “torcida” com o sentido de grupo de adeptos de um time de futebol. Seu filho João, apelidado “Preguinho”, foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira de futebol em Copa do Mundo.

MARIA FIRMINA DOS REIS é considerada a primeira romancista brasileira. Seu primo, FRANCISCO SOTERO DOS REIS, é autor de monumental obra de estudos filológicos (Língua Portuguesa).

ANTÔNIO GONÇALVES DIAS é introdutor do Indianismo na Literatura brasileira, autor de decantados livros e dos mais declamados e citados versos da Poesia brasileira: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá / ...”. Quem canta o Hino Nacional Brasileiro também canta Gonçalves Dias e o Maranhão, pois a mais importante composição musical do país tem versos desse maranhense de Caxias.

RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA, magistrado, professor, diplomata, escritor, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, é autor maranhense citado e recitado pela beleza de seus versos e importância dentro do Parnasianismo e Simbolismo brasileiros.

CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES é o maranhense pioneiro do estudo do folclore no Brasil, responsável pelo lançamento das bases metodológicas do folclorismo nacional. Embora voltado mais para a poesia popular, seu trabalho se estendeu também pelo teatro, a poesia, a ficção e a crítica.

HUMBERTO DE CAMPOS VERAS, escritor, jornalista, político, da Academia Brasileira de Letras, é autor de volumosa obra, conhecida e reconhecida por muito tempo.

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE (seu pai era do Ceará; sua mãe, maranhense), nascido em São Luís, é o poeta e músico autor do que é considerado o “hino nacional sertanejo” e primeira música sertaneja gravada no Brasil, “Luar do Sertão” (quem não se lembra de “Não há, ó gente, ó não, / luar como este do sertão (...)”. “Luar do Sertão” foi gravada por, entre outros, Luiz Gonzaga, Vicente Celestino e Maria Bethânia. Trata-se, como dito, da primeira música sertaneja gravada no Brasil – e o que o Maranhão faz com esta informação, nestes tempos de proliferação da música dita “sertaneja”? Além disso, Catulo, que foi relojoeiro no Rio e parceiro de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, é considerado o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da "modinha", uma espécie de canção espirituosa ou amorosa.

E os talentosos irmãos Azevedo? ALUÍSIO TANCREDO BELO GONÇALVES DE AZEVEDO, escritor, diplomata, jornalista, caricaturista, desenhista e pintor, que lançou no Brasil o Naturalismo, com seu romance “O Mulato”, de 1881. ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO, mais velho que Aluísio, dramaturgo, poeta, contista, crítico, jornalista brasileiro, é no Brasil o principal autor do gênero teatral chamado “teatro de revista”, que traz números musicais com sensualidade e comédias com críticas políticas e sociais. Foi o maranhense Artur Azevedo o responsável pela criação da lei que obrigava a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro -- inaugurado, aliás, com uma peça do igualmente maranhense Coelho Netto. Ambos os irmãos moraram no Rio e foram sócios fundadores da Academia Brasileira de Letras.

ADELINO FONTOURA CHAVES, jornalista, ator e poeta, maranhense que é o patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras. Sua obra, sua vida precisam ser divulgadas, conhecidas...

ODYLO COSTA, FILHO, jornalista, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, chefiou redações de publicações importantes no Rio de Janeiro e São Paulo, é considerado o responsável pela renovação do jornalismo brasileiro, a partir da modernização do “Jornal do Brasil”, hoje extinto. Poucos sabem que Odylo foi primeiro diretor da revista de reportagens “Realidade” (1966-1976), da Editora Abril, empresa da qual também foi membro do Conselho Editorial.

CELSO ANTÔNIO SILVEIRA DE MENEZES, pintor, escritor e professor brasileiro, um dos maiores escultores brasileiros, considerado o introdutor do Modernismo nas Artes Plásticas do Brasil. Amigo de Di Cavalcanti, Cândido Portinari, mereceu os melhores reconhecimentos de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e, entre outros, Otto Lara Resende, autor de um verdadeiro manifesto onde escreve, textualmente: “(...) considero um absurdo que até hoje, no final de 1989, um artista do valor e da importância de Celso Antônio não tenha tido ainda o reconhecimento que merece”. E o Maranhão, o que faz, o que diz?

SINVAL ODORICO DE MOURA, magistrado e político, um raro caso de alguém que foi governante de quatro Estados no Brasil. Era conselheiro do imperador.

RAIMUNDO TEIXEIRA MENDES, maranhense de Caxias cuja luta em prol das causas sociais, a partir do Rio de Janeiro, inundou o país de benefícios, como redator das primeiras leis de proteção à mulher trabalhadora, ao menor trabalhador e aos, à época, doentes mentais. Também defendia questões indígenas e a criação da hoje Fundação nacional dos Povos Indígenas (Funai) foi criada sob sua inspiração. Se hoje há legalmente diversidade religiosa e liberdade de crença e culto, ela teve início com Teixeira Mendes, redator do dispositivo constitucional que fez a separação Igreja—Estado... Entre tantas “coisas” que fez e foi, é um dos principais nomes do Positivismo (aqui e no mundo) e é autor da Bandeira Brasileira. Não fosse Teixeira Mendes e correríamos o risco de ter, como nossa, a bandeira dos Estados Unidos pintada de verde e amarelo.

CÉSAR AUGUSTO MARQUES, múltiplo talento de médico atuante, pesquisador incansável, escritor e historiador, autor de obras inaugurais da historiografia maranhense e brasileira.

ANDRESA MARIA DE SOUSA RAMOS, estudada por escritores, sociólogos e antropólogos brasileiros e estrangeiros, é a Mãe Andresa, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta africana fon. Andresa Ramos comandou durante 40 anos a Casa de Mina em São Luís, até morrer em 1954, aos cem anos de idade. O vice-presidente e presidente da República João Fernandes Campos Café Filho vinha ao Maranhão cumprimentar e pedir as bênçãos a essa maranhense de Caxias.

O grande UBIRAJARA FIDALGO DA SILVA, o primeiro dramaturgo negro brasileiro, ator, diretor, produtor, bailarino, apresentador de TV e criador do Teatro Profissional do Negro, reconhecido e homenageado nos grandes centros brasileiros como Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Enquanto isso, no Maranhão, quem sabe da existência de tamanho talento, falecido em 1986, no Rio de Janeiro? Quem do Maranhão já patrocinou montagem de suas peças, a edição de seus textos em livros, encenados e inéditos? Qual autoridade bancou uma exposição sobre seus trabalhos, a exibição de documentários sobre Ubirajara Fidalgo, desconhecido em vida por seus conterrâneos de Caxias, onde nasceu, e não reconhecido após a morte, e cuja filha, a cineasta Sabrina Fidalgo, luta pela preservação e divulgação da obra de seu pai e nosso conterrâneo?

No Maranhão, nasceram CÉSAR FERREIRA OLIVEIRA, “revolucionário constitucionalista” em São Paulo e “Herói da Guerra de Canudos”, e JOÃO CHRISTINO CRUZ, responsável pela criação do Ministério da Agricultura, agrônomo que fez estudos em outros países e é o presidente de honra da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), em cujo auditório fiz pronunciamento relembrando a importância, entre outros, desse grande maranhense.

ANTÔNIO CARLOS DOS REIS RAYOL, compositor, tenor, violinista e regente brasileiro, que já aos 13 anos ensinava música, tirou primeiros lugares, foi para a Itália e tem obra ainda a ser, digamos, “popularizada”. Assim também ELPÍDIO PEREIRA, maestro e músico de renome internacional, autor do hino de sua cidade natal, Caxias, estudou e apresentou-se na França e em diversos Estados brasileiros. A obra elpidiana é publicada em livro por outros Estados. No Maranhão, musicalmente, ninguém (se) toca.

JOÃO LOPES DE CARVALHO, pintor e desenhista, que estudou sua arte em Portugal, onde, por seu grande talento, já aos 16 anos, em 1862, foi elogiado por muitos jornais de Lisboa. Nascido em Caxias, sua arte era de tal qualidade que um de seus quadros ele recusou-se a vender, para doar para o Imperador patrono das Artes.

JOAQUIM ANTÔNIO CRUZ foi médico, militar e político e participou da demarcação de fronteira do Brasil com a Argentina e votou pela lei que terminou por abolir os castigos corporais nas Forças Armadas

JOSÉ ARMANDO DE ALMEIDA MARANHÃO, teatrólogo, escultor, caricaturista, considerado “A Pedra Angular do Teatro Paranaense”. Estudou na Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Bélgica e Holanda e teve aulas com nomes notáveis do Cinema e das Artes Cênicas, como Luchino Visconti, Federico Fellini, Roberto Rosselini, Michelangelo Antonionni, Lawrence Olivier, entre outros.

LIENE TEIXEIRA, caxiense, foi a primeira engenheira-agrônoma formada na Universidade federal de Viçosa, em Minas Gerais. Fez doutorado em Botânica, na USP (Universidade de São Paulo). A qualidade de seus estudos e pesquisas levou a Botânica a, após sua morte, homenagear a maranhense com seu nome dado a um espécime vegetal.

E a vida de dedicação do cientista FRANCISCO DAS CHAGAS OLIVEIRA LUZ, falecido em 2017? Maranhense de Caxias, farmacêutico-bioquímico, professor da Universidade de Brasília (UnB), era obstinado na pesquisa e resultados na área de Medicina Tropical, sobretudo os voltados para o diagnóstico e tratamento de doenças que atingem pessoas mais carentes, como calazar e malária. Seu trabalho contribuiu para o aperfeiçoamento e apressamento na identificação e no combate desses males, devolvendo saúde e bem-estar ao grande número de pessoas que eram – e as que ainda são – infectadas.

JOAQUIM JOSÉ DE CAMPOS DA COSTA MEDEIROS E ALBUQUERQUE, nascido em Caxias, chefiava uma unidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio de Janeiro, e tornou-se o realizador do primeiro Recenseamento Geral do Brasil, em 1872.

Maranhense de Pedreiras, o médico JOSÉ EDUARDO MORAES REGO SOUSA (1934-2022) é o pioneiro da Cardiologia Intervencionista e realizou os primeiros exames de cineangiocoronariografia no Brasil (1966). Considerado o “pai” do “stent” farmacológico, para o qual criou a técnica de revesti-lo com um medicamento (rapamicina) e implantá-lo na artéria coronária, responsável pela oxigenação do coração. O Dr. Eduardo foi homenageado em diversos países por sua contribuição à Medicina e à Saúde, com a salvação de milhões de vidas com sua técnica e o nanotubo que está presente no peito de pessoas de todo o planeta.

Até onde iríamos nesse desfile de grandes nomes maranhenses que em geral nós maranhenses deles pouco sabemos, ou não sabemos? A quantidade de nomes é tal que dobraríamos as esquinas da paciência e testaríamos o limite de páginas de papel e espaços digitais.

Ainda assim, ao que parece, maior que o rol de nomes, maior que esse escondido e escuro “hall” da fama, parece ser a desvontade, o desamor, o “nem te ligo” a que o Maranhão submete esses e outros – muitos outros – maranhenses. Há, sim, plenas condições (potenciais e a serem construídas) para se reavivar a estrela do Maranhão na constelação de grandes, ilustres, úteis, talentosos nomes que fizeram positiva diferença para este País e lhe ajudou a construir ou fixar a identidade, a brasilidade, a maranhensidade. Nestes 460 anos do Rio de Janeiro, podemos dizer que o Rio é brasileiro, mas a Cidade Maravilhosa... é maranhense.

Essa coleção (incompleta) de nomes forma um patrimônio simbólico, um potencial da Economia Criativa, um capital intelectual fantástico que não pode ser deixado assim, no desperdício, na não recorrência, no esquecimento.

Programas, projetos e ações factíveis podem ser desenvolvidos, adotados, para estar permanentemente presentes nas escolas e universidades públicas e, quiçá, particulares do Estado. Podem, com a adequada abordagem e o devido estímulo, ser pautas permanentes da Imprensa maranhense, brasileira e, até, internacional; podem ser temas de concursos, objeto de estudos, de pesquisas, de obras de estudiosos, pesquisadores, autores, alunos, professores...

Enfim, podem saudavelmente ocupar a mente de maranhenses e brasileiros, levando multidões a ampliarem ainda mais o salubre e incontido orgulho de ser maranhense e brasileiro.

Este réquiem é lançado para pessoas que, como Moisés, saibam falar do que outros não falam...

... saibam enxergar  o que outros não enxergam...

... saibam fazer onde tantos esqueceram...

Pelos seus 460 anos, parabéns ao Rio em que tantos nadaram, beberam, moraram, viveram.

* EDMILSON SANCHES

IMAGENS:

1º de março de 2025: Rio, 460 anos; o caxiense Coelho Netto e a bandeira do Maranhão. Livros com o título "Cidade Maravilhosa".