Devido à grande procura na reta final da chamada pública Seleção TV Brasil, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) prorrogou até as 12h do dia 7 de maio (quarta-feira) o prazo para inscrição de projetos.
O edital completo e fichas de inscrições estão disponíveis aqui
A iniciativa, voltada à TV pública em parceria com a Agência Nacional do Cinema (Ancine) e com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, representa o maior investimento da história no campo público: um valor recorde de R$ 110 milhões para a contratação de, no mínimo, 35 produções independentes de conteúdo audiovisual brasileiro.
As obras selecionadas e produzidas serão posteriormente exibidas na programação da TV Brasil e da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP).
Os projetos deverão contemplar uma das sete linhas temáticas propostas: infantil, infantojuvenil, natureza e meio ambiente, futebol feminino, sociedade e cultura, produção e finalização de longas-metragens, e produção de novela.
Cada linha contempla formatos diversos – unitários ou seriados – com quantidades de episódios e durações variadas.
Inicialmente, os interessados poderiam se inscrever até as 23h59 desta segunda-feira (5), mas em razão do grande volume de inscrições a data foi estendida.
“O volume de inscrições comprova o sucesso deste edital, que contempla diversos segmentos, categorias em todas as regiões do país, alinhando-se à proposta de uma programação inclusiva e diversa para a TV Brasil e para o sistema público de comunicação”, afirma o diretor-presidente da EBC, Jean Lima.
Processo seletivo
O processo seletivo se dará em três etapas subsequentes e eliminatórias: habilitação (checagem da documentação e do material enviados); avaliação preliminar (soma das notas atribuídas aos projetos); e avaliação final de investimento (sessão de pitching com os projetos finalistas de cada linha, avaliados pela comissão de seleção).
Dois homens solitários, alheios aos protocolos sociais, constrangidos a serem parte de um mundo que lhes é estranho. Um tenta simular pertencimento, o outro aprofunda fuga e introspecção. Paulo e Jonas são os protagonistas de dois contos inéditos de Rubem Fonseca, que serão publicados em maio na comemoração do centenário de nascimento do escritor.
Um box especial, com três volumes, será lançado pela editora Nova Fronteira, e reunirá todos os contos já publicados do autor. Rubem Fonseca nasceu em 11 de maio de 1925 e morreu em 15 de abril de 2020 aos 94 anos. Deixou um legado literário que inclui trinta livros, entre os quais romances, novelas e coletâneas de contos.
Um dos textos inéditos que chega ao leitor chama-se Natal. No enredo, um homem chamado Paulo percebe-se envelhecendo e fica angustiado por não ter companhia para comemorar a data.
“Percebeu que todos, ou quase todos, levavam embrulhos, sentindo-se subitamente mal com as mãos vazias, como se não fosse daquele mundo de pessoas apressadas, com um objetivo”, diz um trecho do livro.
O outro texto, chamado Arinda, traz Jonas, escritor que mergulha na própria ficção a ponto de afastar-se da realidade e passar a misturar as duas.
“Pouco importava a Jonas a sujeira do mundo em que vivia, o rosto magro e precocemente marcado das crianças que afagava, os homens cheios de rancor e desgosto, desesperadamente agarrados a uma vida que tudo lhes negava. Nada tinha que esquecer ou lembrar. Mágoas ou gozos, infância, adolescência, carinhos, mãe”, diz um trecho.
Bia Corrêa do Lago, escritora e filha de Rubem Fonseca, encontrou os textos inéditos em um armário na casa do pai, pouco tempo depois do falecimento. O móvel estava lotado de papéis que ela desconhecia, sobre os quais o pai nunca tinha comentado. Entre eles, contos escritos em 1948, aos 23 anos de idade, cerca de 15 anos antes do primeiro lançamento oficial como escritor.
“Escolhi esses contos porque me pareceram muito diferentes em estilo entre si. Ao mesmo tempo, estão muito relacionados com o que ele veio a desenvolver como escritor, como contista depois. Achei muito interessante ver que já estava ali o germe, a semente do escritor que ele viria a ser e que publicou o primeiro livro em 1963”, disse Bia, em entrevista à Agência Brasil.
“Para mim chama muito a atenção a originalidade dos contos e a maneira de escrever. Os temas também eram muito caros a ele, voltados para a solidão humana”.
Novidades
Cada um dos três volumes da edição especial terá um prefácio assinado por estudiosos da obra de Rubem Fonseca. O primeiro fica a cargo de Vera Lúcia Follain de Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Ela analisa os textos iniciais e os contos inéditos.
Maria Antonieta Pereira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresenta um estudo sobre a produção das décadas de 1990 e 2000 do escritor. E, no terceiro volume, Miguel Sanches Neto, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paraná, traz uma leitura sobre o estilo do autor em seus últimos anos.
Rubem Fonseca e a filha Bia Correa do Lago
A caixa que abriga os volumes também tem um texto do ensaísta e poeta Silviano Santiago, que analisa a importância de Rubem Fonseca para a literatura brasileira.
“Estou realmente muito feliz de comemorar o centenário com esse box. Porque tem gente que se perde, não sabe nem o que procurar do meu pai. A coleção de contos é uma maneira de você ter tudo junto e conhecer a obra completa contística dele. Além de ter os inéditos, há estudiosos que comentam cada fase da obra dele. Acho que isso vai atrair muitas pessoas e novos leitores”, disse Bia Corrêa do Lago.
Outra novidade é que alguns textos do escritor foram revisados de acordo com as próprias anotações. A família cedeu anotações e correções do autor feitas nos exemplares pessoais dele. Há questões de pontuação e de grafia, e até palavras que ele julgou melhor substituir.
Considerado um “mestre do conto”, Rubem Fonseca ficou conhecido pelo estilo direto e escrita moderna. Entre as principais obras estão O caso Morel (1973), Feliz Ano Novo (1975), O Cobrador (1979), A grande arte (1983) e Agosto (1990). Venceu o Prêmio Jabuti seis vezes, os prêmios Juan Rulfo e Camões, e o Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Projetos que incentivam o conhecimento em matemática em pré-escolas, desenvolvidos em escolas públicas, poderão receber até R$ 80 mil. Para isso, basta se inscreverem no edital inédito de Letramento Matemático na Pré-escola, lançado nesta terça-feira (6) pelo Itaú Social, com o apoio da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC).
Podem participar tanto profissionais da educação, como professores, coordenadores e gestores de escolas públicas, quanto organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e universidades. Também podem se inscrever professores universitários, pesquisadores, estudantes de graduação e licenciatura, além de iniciativas de extensão e projetos de iniciação científica voltados ao letramento matemático na pré-escola.
O edital prevê duas modalidades. Uma delas é a Reconhecimento, voltada para projetos que já promovem práticas de letramento matemático na pré-escola da rede pública. Os selecionados nessa categoria receberão até R$ 10 mil. A intenção é que esses projetos inspirem outras ações nessa etapa de ensino. Eles farão parte de uma coletânea e poderão integrar uma trilha formativa da Escola da Fundação Itaú, que oferece formação gratuita.
A modalidade Fomento, por sua vez, é para projetos ou pesquisas aplicadas em parceria com instituições de educação infantil da rede pública. Essas propostas podem ser inéditas ou estar em andamento, desde que tenham conclusão prevista até julho de 2026. Os selecionados, que receberão até R$ 80 mil, terão acompanhamento técnico e pedagógico do Itaú Social.
Os projetos inscritos serão avaliados com base em critérios como inovação, redução das desigualdades, eficácia na promoção da aprendizagem e aderência aos objetivos curriculares da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A seleção dará prioridade, de acordo com o Itaú Social, a iniciativas que demonstrem impacto pedagógico, embasamento conceitual e potencial para inspirar mudanças nas práticas de letramento matemático.
Os resultados serão anunciados na Plataforma de Editais da Fundação Itaú em setembro.
Matemática na pré-escol
No Brasil, o aprendizado de matemática é um gargalo. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostram que 27% dos alunos brasileiros alcançaram o nível 2 de proficiência em matemática, considerado o patamar mínimo de aprendizado, enquanto a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na disciplina é 69%.
Além disso, apenas 1% dos estudantes brasileiros atingiu os níveis 5 ou 6, considerados os mais altos, quando os alunos resolvem problemas complexos, comparam e avaliam estratégias. A média da OCDE é 9%.
De acordo com o Itaú Social, estudos revelam que as dificuldades em matemática começam nos primeiros anos de escolaridade, por isso a ênfase do edital nessa etapa.
A pré-escola é voltada para crianças de 4 e 5 anos de idade, etapa voltada para o desenvolvimento integral e por práticas pedagógicas estruturadas no brincar, na exploração e na convivência.
É na educação infantil que as crianças têm os primeiros contatos com a matemática. Segundo a BNCC, que estipula o que os estudantes devem aprender em cada etapa de ensino, desde cedo as crianças se deparam com conhecimentos matemáticos como contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias e reconhecimento de formas geométricas.
Nesta quarta-feira (7), diretamente do Rio de Janeiro, o Grupo Moitará inicia sua temporada especial no Maranhão, com o projeto “A BUSCA – trocas, acessibilidade e pesquisa”. Várias ações culturais e sociais ocorrerão até o dia 20 de maio, em diversos pontos de São Luís, de forma gratuita e aberta a todos os públicos.
Com foco no fortalecimento do intercâmbio entre grupos de teatro nacionais, pesquisa dos saberes ancestrais femininos e fomento à acessibilidade de qualidade junto ao público e artistas surdos e ouvintes, o projeto é fomentado pela Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz.
Nos dias 7, 8 e 9 de maio, no Teatro Sesc Napoleão Ewerton (no Jardim Renascença), a partir das 20h, será apresentado “A BUSCA – versão bilíngue (Libras e Português)”, o segundo espetáculo da trilogia sobre a temática do feminino desenvolvida pelo Grupo Moitará. Por meio da dramaturgia resultante da investigação e dos estímulos sensoriais, a performance convida o espectador a se conectar com sua natureza íntima e a refletir sobre a qualidade das relações que estabelece com o mundo ao seu redor.
As apresentações contam com duração de 55 minutos e são destinadas ao público em geral – com foco nos estudantes, artistas e pesquisadores das artes cênicas. Excepcionalmente, a sessão da quinta-feira (8) será seguida por um bate-papo aberto com o público, a partir das 21h.
No sábado (10), também no Teatro Sesc Napoleão Ewerton, das 15h às 17h, o público poderá conferir uma roda de conversa sobre acessibilidade na cultura para a comunidade surda, que visa compartilhar e debater experiências, conquistas e desafios de cada território.
Já no dia 14 de maio, o projeto contará com a palestra-espetáculo “A Máscara na Energia do Ator/Atriz” que destaca os princípios de trabalho com a máscara teatral e apresenta de forma lúdica a pesquisa desta linguagem, abordando a importância deste elemento cênico para o treinamento de atores e sua contribuição na criação dos personagens e do processo criativo da cena. A ação será no Xama Teatro, localizada na Rua das Esmeraldas 3, 1 casa, no Araçagi.
Oficinas
A partir do dia 10, iniciam-se as oficinas do Grupo Moitará. Nesse dia, a ação terá como foco o Visual Vernacular (VV) para surdos e ouvintes, com destaque para este recurso artístico e poético próprio das Línguas de Sinais em que a imagem é narrada para além dos signos das palavras, utilizando elementos de poesia e mímica. A atividade ocorrerá das 9h às 13h, na Sala de Dança do Sesc Deodoro, na Av. Silva Maia, 164, no Centro de São Luís.
A segunda oficina do projeto será sobre treinamento de atores e atrizes na linguagem da máscara teatral e será realizada nos dias 15, 16 e 17 de maio (das 14h às 18h), na Sala de Dança do Teatro Arthur Azevedo, na Rua do Sol, S/n, também no Centro da capital maranhense.
Intercâmbios e pesquisa
A programação contará, ainda, com outros destaques, como a reunião do Grupo Moitará com os grupos Xama Teatro, Núcleo Atmosfera e Companhia Cambalhotas. Essa atividade será nos dias 12 e 13 de maio, das 14h às 18h, no Xama Teatro, e terá como foco central compartilhar pesquisas e experiências criativas a partir do tema sobre saberes e ancestralidades femininas.
Além disso, a passagem do projeto pelo Maranhão também será acompanhada por trabalhos de pesquisa e entrevistas com grupos de mulheres quebradeiras de coco-babaçu. Esses conteúdos serão uma das fontes de inspiração para o novo espetáculo do Moitará sobre saberes ancestrais femininos em terras brasileiras e que estará concluindo a trilogia que o Grupo vem trabalhando de espetáculos criados sobre o tema.
Prevista para os dias 18, 19 e 20 de maio, a pesquisa objetiva aproximar os integrantes do grupo aos saberes, tradições, técnicas, hábitos e comportamentos que sejam expressões de ancestralidades femininas das quebradeiras de coco-babaçu do Maranhão.
Grupo Moitará
O Grupo Moitará foi criado, em 1988, por Erika Rettl e Venício Fonseca. Há 36 anos, desenvolve uma pesquisa continuada sobre o trabalho de preparação de atores e atrizes, buscando compreender os princípios que fundamentam sua arte, tendo nos estudos dos aspectos e funções da Máscara Teatral a base para a elaboração de uma metodologia própria. Ao longo desses anos, vem realizando projetos artísticos, didáticos e socioculturais por meio de oficinas, espetáculos e palestras-espetáculos, sendo reconhecido nacionalmente por sua contribuição na área artística e didática.
Em 2008, o Grupo Moitará criou o projeto “Palavras Visíveis”, voltado à capacitação técnica para atores surdos a partir da linguagem da máscara teatral. Caracteriza-se por ser um projeto bilíngue (Libras/Português) que tem como objetivo unir experiências teatrais entre surdos e ouvintes, fortalecer e ampliar a produção artística da comunidade surda na cena contemporânea brasileira.
O piloto maranhense Ciro Sobral teve um desempenho histórico na etapa de abertura da Fórmula 4 Brasil, que foi realizada no último sábado (3) e nesse domingo (4), no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, considerado o "templo do automobilismo brasileiro". Disputando a F4 Brasil pela segunda temporada consecutiva na TMG Racing, Ciro mostrou muita habilidade e personalidade nas três corridas do evento na capital paulista: além de conquistar a sua primeira vitória na principal categoria-escola em monopostos do automobilismo nacional, o jovem piloto inicia a competição no Top 5 da classificação geral, mostrando que está no caminho certo para brigar pelo título.
Dono do melhor tempo no treino classificatório que foi realizado na sexta-feira (2), Ciro Sobral largou na pole position na Corrida 1 em Interlagos, realizada na manhã de sábado (3), e garantiu uma vitória de ponta a ponta, se defendendo muito bem das tentativas de ultrapassagem do vice-líder Ethan Nobels. Esse foi o primeiro triunfo de Ciro na Fórmula 4 Brasil e a primeira vez que um piloto do Norte/Nordeste conquista o lugar mais alto do pódio na história da categoria-escola.
Já na Corrida 2, que ocorreu na tarde de sábado (3) e teve grid invertido entre os oito primeiros colocados da Corrida 1, Ciro Sobral largou na 8ª colocação e teve um bom início, ganhando duas posições e encurtando a distância para o pelotão de elite, mas sofreu um toque de outro piloto e saiu da pista de Interlagos. Mesmo fora da briga pela vitória, o piloto maranhense conseguiu voltar e concluiu a segunda prova da Fórmula 4 Brasil em 14° lugar.
A Corrida 3 da primeira etapa da Fórmula 4 Brasil 2025, por sua vez, ocorreu na manhã de domingo (4), com Ciro Sobral largando novamente na pole position em Interlagos. Assim como na Corrida 1, o piloto maranhense mostrou força ao se defender dos avanços de Ethan Nobels, porém, uma tentativa do adversário tirou Ciro da pista, na saída do S do Senna, e provocou a entrada do safety car. Com muita bravura, o jovem piloto ultrapassou alguns rivais e garantiu o oitavo lugar, com pontos preciosos na briga pelo topo da classificação.
Com os resultados nas três corridas em Interlagos, Ciro Sobral inicia a temporada da Fórmula 4 Brasil 2025 na quinta posição, com os mesmos 29 pontos do quarto colocado Murilo Rocha, performance que credencia o piloto maranhense ao seu principal objetivo no ano: ser campeão da categoria-escola.
"O fim de semana da primeira etapa da Fórmula 4 Brasil foi muito positivo no geral em termos de performance. Tivemos as poles positions, ganhei a minha primeira corrida, estive em um ritmo forte, é uma grande evolução em relação ao ano passado, ficamos muito satisfeitos com o resultado. As últimas corridas não saíram como o esperado, fui prejudicado por toques, mas corrida é corrida, ainda temos mais seis etapas pela frente e vamos para cima! Conto com o apoio e toda a torcida do Maranhão nessa temporada!", destaca Ciro Sobral.
Em busca de novas vitórias e pontos importantes na briga pelo título, Ciro Sobral volta a competir pela Fórmula 4 Brasil entre os dias 27 e 29 de junho, no Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu, que receberá as próximas três etapas da categoria-escola. A volta do piloto maranhense a Interlagos, por sua vez, será em novembro, quando a F4 Brasil terá uma etapa incluída no cronograma oficial do GP de São Paulo de Fórmula 1.
Ciro Sobral
Em sua segunda temporada consecutiva na TMG Racing, atual campeã por equipes da F4 Brasil, Ciro Sobral se consolidou como uma das revelações da modalidade e chega a esta temporada como um dos postulantes ao título. Em 2024, quando fez a sua temporada de estreia e foi o único piloto do Norte/Nordeste a participar da categoria-escola, Ciro colecionou bons resultados e garantiu o Top 5 do campeonato dos novatos, além de atingir o Top 10 da classificação geral, adquirindo um grande aprendizado para a sequência da carreira no automobilismo.
No ano passado, Ciro Sobral teve uma temporada de estreia com oito etapas, cada uma com três corridas, e subiu ao pódio três vezes, com destaque para o segundo lugar na abertura da competição, ocorrida no Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu. O piloto maranhense também garantiu o terceiro lugar na quarta etapa, que foi disputada em Goiânia, e na quinta etapa, em Buenos Aires, faturando o seu primeiro pódio internacional justamente na estreia da F4 Brasil no exterior.
Em processo de adaptação à Fórmula 4 Brasil e de evolução a cada corrida, Ciro Sobral encerrou a temporada de 2024 com ótimos resultados. Além de ficar em 4º lugar no campeonato dos novatos, com 260 pontos, Ciro esteve no primeiro pelotão da classificação geral durante toda a F4 Brasil 2024 e concluiu o ano em 9º lugar, somando 109 pontos, sendo peça importante na vitória da TMG Racing no campeonato por equipes.
Treinos e corridas na Itália
Em meio à temporada 2024 da Fórmula 4 Brasil, Ciro Sobral teve uma experiência internacional de destaque no fim de outubro, participando de treinos e disputando três corridas da sétima e última etapa da Fórmula 4 Italiana no Autódromo de Monza, um dos circuitos mais famosos do automobilismo mundial e conhecido como o "Templo da Velocidade".
Único piloto do Norte/Nordeste a disputar a F4 Italiana 2024 e representante do Brasil na última etapa da competição, Ciro Sobral correu pela escuderia Jenzer Motorsport e teve um desempenho regular na categoria mais competitiva do mundo para jovens pilotos, com destaque para o Top 20 na primeira corrida em Monza.
Fórmula 4 Brasil 2025
Com Ciro Sobral entre os candidatos ao título, a Fórmula 4 Brasil terá sete etapas na temporada de 2025. As primeiras corridas serão realizadas no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, circuito que também receberá a quinta etapa da categoria-escola, em novembro, como parte do cronograma oficial do GP de São Paulo de Fórmula 1, e a etapa final, marcada para dezembro.
A Fundação Tide Setubal, por meio da Plataforma Alas, está em campanha para arrecadar doações destinadas a garantir bolsas para estudantes negros. A ação ocorre por meio da plataforma de matchfunding: a cada R$ 1 doado por pessoas físicas ou jurídicas, o Fundo Alas investe mais R$ 2, triplicando o valor arrecadado.
O financiamento coletivo é voltado para Açãoampliação do acesso e da permanência de estudantes negros no ensino básico e superior, além de oportunidades de formação em idiomas e intercâmbio. A campanha, que prossegue até 14 de junho, tem apoio financeiro da Fundação Tide Setubal, do Movimento Bem Maior, e da Fundação Lemann.
Na última edição, realizada em 2024, foram mobilizados R$ 916.965 para apoiar os estudos de estudantes negros. Do total, R$ 345.825 foram arrecadados por meio de financiamento coletivo, e R$ 571.140 por fundos de matchfunding. A expectativa para este ano é mobilizar mais de R$ 1 milhão em recursos.
As instituições que vão oferecer formação aos estudantes são Instituto Semear, Insper, FEA-USP, Escola Politeia e Associação Santa Plural do Colégio Santa Cruz.
Segundo a Tide Setubal, são selecionadas instituições de excelência, que têm a potência de formar lideranças e pouca representatividade negra no corpo discente.
O coletivo Negros do Bixiga realizou nesse sábado (3), em São Paulo, mais uma edição do passeio que aproxima participantes de pessoas e locais fundamentais para a memória e para sustentar a pulsação vigorosa da cultura negra da região. A rota de afroturismo tem dez paradas, dura aproximadamente cinco horas e começou a ser trilhada em 2018.
Conforme explicou à Agência Brasil o idealizador do projeto, Wellinton Souza, a região em que o Bixiga fica é chamada oficialmente de Bela Vista. Mas, quando alguém utiliza o nome Bixiga está subjacente o vínculo afetivo que mantém com o lugar. "Bixiga é um nome de pertencimento", sintetiza ele.
O curador ressalta que a iniciativa gera um debate importante: o de que nem sempre o termo periferia se refere a uma localidade distante do centro da cidade, podendo remeter à falta de garantia de direitos básicos. Souza lembra que a fundação do Bixiga coincide com a história do Quilombo Saracura, algo que voltou à tona recentemente, de forma mais intensa, com a necessidade de preservação diante dos danos que as obras da Linha 6 - Laranja do metrô poderiam ocasionar.
Morador do Bixiga há 17 anos, Souza observa que, permitindo que pessoas de fora de São Paulo compreendam que o discurso prevalecente é de que a região é associada à imigração italiana, perspectiva que o afroturismo busca transformar. "É mais bonito e mais vendável contar a história branca", critica.
Favalização
Outro exemplo de apagamento existente na capital, bastante conhecido, é o do processo de favelização da comunidade de Paraisópolis, que vive na penúria ao lado do bairro Morumbi, de classes média e alta.
Uma segunda comparação comum é a da tentativa de destruição do passado das populações negra e indígena que viveram escravizadas e deixaram sua marca no bairro da Liberdade. Também localizado na zona central da cidade, o bairro é fortemente identificado como um endereço da cultura japonesa.
"Lá a história negra ficou apagada, abafada. No Bixiga, isso também acontece, mas não com as pessoas que moram no bairro. Esse apagamento histórico não é feito por pessoas que moram no Bixiga, mas por conta da sociedade. Pessoas que não conhecem o bairro, que vêm de fora, até mesmo de outros bairros de São Paulo, conhecem por ser um bairro italiano, um bairro branco, não por ser um bairro negro. É um universo paralelo, um multiverso, quando você vem para um restaurante italiano, para a Achiropita, e quando você vem para um ensaio da [escola de samba] Vai-Vai, um samba do bairro", afirma.
"São coisas diferentes, o público é diferente, a história que é contada é diferente, as narrativas são outras, o pertencimento é outro", acrescenta.
Também em 2018, os integrantes do projeto engrenaram a produção de um documentário com diversas figuras importantes para narrar essas histórias sobre o Bixiga, trabalho que se estende até os dias de hoje.
"Essa produção audiovisual não é para falar do bairro, é para falar das pessoas. Mas, como a pessoa tem uma ligação muito afetiva com o bairro, acaba falando dele de uma forma diferente", diz.
Outra fonte de importantes reminiscências, também abordada no contexto de uma "oralidade que não está presente no livro da história e não é ensinada", é um musicista que morou em pensões e mencionou que a rua Santa Madalena foi, outrora, caracterizada por um conjunto de cortiços, algo que talvez não se imagine ao se ver os prédios que o substituíram. Desse modo, destaca Souza, é que o coletivo vai juntando valiosos retalhos, recortes históricos de diversas épocas.
Para este domingo (4), o coletivo organizou uma conversa com a escritora, artesã, professora e pedagoga Maria Aline Soares. O tema foi a literatura e o território como lugar de afirmação e memória negra. O evento teve início às 15h, na Livraria Simples.
A Festa Literária das Periferias (Flup) vai levar oito destacados escritores da literatura brasileira contemporânea para a 34ª edição do Étonnants Voyageurs, em Saint-Malo, na França. Bernardo Carvalho, Daniel Munduruku, Djamila Ribeiro, Eliana Alves Cruz, Geovani Martins, Itamar Vieira Junior, Jeferson Tenório e Marcelo Quintanilha vão participar de debates e apresentações dos seus trabalhos. A intenção da curadoria foi reunir “autores cujas obras reinventam as noções de identidade, memória e resistência, destacando a vitalidade e a diversidade da produção literária nacional”.
A delegação conta ainda com a cineasta indígena e educadora Graciela Guarani e o pianista Amaro Freitas. É por meio do audiovisual que Graci Guarani da etnia Guarani Kaiowá dá visibilidade e mostra a resistência dos povos indígenas, sobretudo das mulheres. Nos filmes Tempo Circular e Mensageiro do Futuro, expôs saberes tradicionais e práticas cotidianas para mostrar modos de vida invisibilizados. Amaro Freitas fará um concerto exclusivo no Grand Auditorium. O pianista é reconhecido internacionalmente pelo estilo de jazz inovador, com a mistura de ritmos do Nordeste brasileiro com influências afro-diaspóricas.
Brasil-França 2025
A viagem se insere na Temporada Brasil-França 2025, que marca os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Criado pelo escritor francês Michel Le Bris, em 1990, o Étonnants Voyageurs é um dos mais conceituados festivais literários europeus e reconhecido por a cada ano receber autores de todo o mundo para debater literatura, cinema e direitos humanos. A programação, entre 7 e 9 de junho, vai desde mesas de discussão, lançamentos de livros, encontros com o público, a exibições de filmes, exposições e espetáculos musicais.
Desde a sua criação, a Flup promove a literatura em comunidades cariocas, como Mangueira, Cidade de Deus, Morro dos Prazeres, Vigário Geral, Babilônia, Vidigal e Maré. Em 2023 foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro e premiada com o Jabuti de Fomento à Leitura em 2020. Também em 2025, participará de outros eventos internacionais importantes, como o "West Indian Carnival" em Leeds, no Reino Unido, em parceria com o National Poetry Centre, e do "Middle Ground: Interactions - Transitions e Reciprocities" em Berlim, na Alemanha.
Para o curador da participação brasileira no Festival francês e diretor-geral da Festa Literária das Periferias, Julio Ludemir, os autores que participarão do festival na França dialogam com a vocação da Flup de acolher narrativas periféricas com o mundo todo.
“A gente usa a Festa Literária das Periferias no plural porque o nosso diálogo não é só territorial, ele envolve outras ideias como debate racial e de gênero. Para que a gente fosse para a França, a gente tinha que ir com essas nossas digitais. Nós não somos a Bienal, não somos a Flip. Não temos as mesmas características”, apontou, revelando que também estava prevista a presença da escritora Conceição Evaristo entre os autores, mas ela não podia viajar neste período por causa de outros compromissos.
De acordo com Ludemir, a ligação do governo francês com a Flup vem desde a sua primeira edição em 2012, quando ainda “era um projeto improvável”, sempre tendo uma presença francófona expressiva na Flup. Na parceria com a Flup, o Étonnants Voyageurs trará uma delegação de autores franceses e francófonos ao Brasil em novembro de 2025, reforçando os laços culturais entre os dois países.
“A gente tem uma longa história com essa cultura, não exatamente aquilo que a gente entende ser a França. A gente tem dialogado bastante importante com a diáspora francesa”, contou à Agência Brasil, acrescentando que neste período já participou por dois anos do Étonnants Voyageurs, festival que estava com integrantes presentes na última edição da Flup, no ano passado, no Circo Voador, centro do Rio.
“Isso é algo que já vem sendo costurado há alguns anos. As ideias que a gente tinha era dialogar com o caribe francês, Martinica, Guadalupe, principalmente, mas também a Guiana Francesa, tem uma forte presença negra e mais que uma presença, têm grandes pensadores em escala mundial, como Aimé Césaire, que está na origem da criação do panafricanismo [outro conceito de negritude]. Ele é de uma geração de intelectuais negros que frequentavam a metrópole Paris para estudar”, indicou, incluindo nesse cenário da capital francesa François Fanon e Édouard Bisson.
Na visão de Ludemir, o mundo adora o Brasil, porém não conhece o país, que passou por transformações com a adoção do sistema de cotas e fez surgir uma nova classe média com maior presença de negros na produção cultural nacional.
“O Brasil não é conhecido lá fora apesar de amado. Sabe mais quem é João Gilberto e Tom Jobim, sabe mais o que é Garota de Ipanema do que esse Brasil que tem Krenak e Munduruku. Por mais que o Étonnants Voyageurs seja um festival aberto, eles não conheciam isso”, observou.
O diretor geral da Flup está confiante que a presença dos autores brasileiros no festival francês vai trazer mais visibilidade ao trabalho deles, mas a divulgação precisa continuar após esta atividade. Para ele, é bom que ocorra agora no ano Brasil-França, no entanto, defendeu que pode se estender a outros países. “Isso tem uma continuidade. Ali, a gente vai estar em contato com o mercado editorial francês e todo mercado saberá quem é Djamila Ribeiro, Itamar Vieira, Jeferson Tenório, porque os debates serão intensos”, pontuou.
Djamila Ribeiro
Para a filósofa, ativista e escritora Djamila Ribeiro, autora entre outros títulos de Pequeno Manual Antirracista e Cartas para minha avó, é superimportante levar vários autores e autoras brasileiras para a França, mostrando também a diversidade da literatura brasileira.
“Eu por exemplo sou autora de não ficção, estou ali no meio de vários autores ficcionistas, cada um escrevendo a partir de diversas perspectivas. Acho interessante quebrar com essa imagem que muitas vezes se tem do Brasil como uma imagem única, mas de mostrar vários escritores que partem de lugares diferentes, de abordagens diferentes e não necessariamente são autores de ficção, o que é o meu acaso”, disse, por meio de áudio, a pedido da Agência Brasil.
A participação no encontro é motivo de satisfação para Djamila, que já tem uma história de alguns anos na França.
“Desde de 2019 eu vou à França divulgar meus livros. Em maio de 2019 fiz uma tour por várias cidades da França e também na Bélgica, divulgando o Lugar de Fala e o Quem tem medo do feminismo negro. Depois, em novembro do mesmo ano, eu voltei para mais uma turnê de divulgação em Toulouse, Lyon, Rennes. Lille e fomos a muitas cidades. Voltei novamente em 2021 e lancei um livro junto com a professora francesa Nadia Yala que à época era professora da Paris 8 [Vincennes Saint-Denis] e hoje é professora da NYU [Universidade de Nova York], que só está disponível em francês. Em 2023 voltei para mais uma turnê”, informou.
A escritora contou ainda que como coordenadora da Coleção Femininos Plurais, tem uma parceira, da sua editora francesa, que é a Paula Anacaona, responsável pela divulgação do pensamento de tantas autoras brasileiras.
“Fui a primeira autora de não ficção que ela publicou. Tenho uma parceria de que os livros que publico aqui no Brasil da Coleção, envio para ela o que faz sentido para o contexto francês. Neste sentido já são sete livros da coleção, sete autoras e autores publicados em francês todos fizeram turnê na França divulgando os seus livros então tem um trabalho de internacionalização do projeto para o francês”, revelou, acrescentando que já vendeu mais de 20 mil livros na França, a partir de uma editora independente, do trabalho da Paula Anacaona, de viagens por várias cidades, na realização de encontros em universidades, como um lançamento na Universidade Rennes 2, visitas às cidades de Toulouse e Lyon e também em livrarias e movimentos sociais da França.
“Atualmente tenho quatro livros em francês, três traduzidos, um com a professora Nadia Yala, Diálogo Transatlântico e estou indo agora para o festival para divulgar meu quinto livro em francês, porque sai agora o Cartas para a Minha Avó em francês. Estou indo especificamente para divulgar esse livro. Também acho importante dizer da minha relação com essas autoras francesas a Nadia Yala escrevemos um livro, juntas, a Françoise Vergès assina o prefácio da edição francesa do Pequeno Manual Antirracista e tive oportunidade de trocar com muitias intelectuais negras francesas nos últimos anos, nesta relação que nós temos desde 2019 quando fiz a primeira tour de divulgação dos meus livros”, afirmou.
Djamila contou também que na primeira vez que foi à França, em março de 2019, participou do programa Personalidades do Amanhã do governo francês, do Ministério de Relações Exteriores. “É uma relação muito sólida já de alguns anos, de muitos eventos, de muitos diálogos. Fico feliz de ir agora para o festival, que é considerado um dos mais importantes festivais literários, junto com outros autores brasileiros para divulgar o nosso trabalho e que para mim, individualmente, também de solidificar essa relação que já tenho com o público francês”, comentou.
A escritora valoriza muito o fato de ver sua obra conhecida em vários países
“Isso significa ser lida por pessoas em Camarões, recebo contatos, tem uma foto minha, por exemplo, como pessoas criativas em um museu de Dakar, no Senegal, não necessariamente só com o público francês, muito pelo contrário, mas também com essa África que foi colonizada pelos franceses e fala também francês e esse contato que tenho com autoras africanas e também da diáspora”, concluiu.
Munduruku
O autor de Meu avô Apolinário e Histórias de Índio, escritor indígena premiado pela UNESCO, Daniel Munduruku, disse que o seu convite para integrar a delegação de escritores é resultado do seu trabalho já muito conhecido no Brasil e que tem desenvolvido, sobretudo, o tema indígena para crianças e jovens. “Me sinto muito honrado de fazer parte deste time, que está indo representar o Brasil nesta feira na França”, completou em entrevista à Agência Brasil.
Para Munduruku, o festival é uma oportunidade de ampliar o número de leitores de seus livros tanto entre os franceses e de outros países como os brasileiros que moram fora.
“Isso pode ajudar a eles entenderem mais a própria identidade brasileira. Confesso que a minha preocupação sempre foi atingir o público brasileiro, claro que participar de festival internacional dá abertura para a gente poder falar do Brasil para aqueles que não conhecem o Brasil. Isso pode gerar uma visibilidade tanto para a obra que a gente produz, quanto para os próprios problemas que esses povos passam em nosso país. Tenho certeza de que participar vai gerar essa visibilidade tão importante e necessária e ao mesmo tempo vai criar uma proximidade com os brasileiros que moram naquele país e com os franceses que têm uma sensibilidade cultural e afetiva com o Brasil”, comentou.
Na visão do escritor, os livros que serão apresentados no encontro podem despertar o interesse de editores locais em fazer a tradução para o francês e lançar as obras na França.
“Eu sempre levo comigo os meus livros, acho importante levá-los porque a gente acaba atingindo também um público que lê em português e pode se interessar pelas nossas obras. Normalmente faço uma seleção de títulos, tenho 65 livros publicados e costumo levar 10 títulos e alguns exemplares de cada título”, revelou
Entre os livros que ai levar estão Meu avô Apolinário; Memórias de Índio - uma quase autobiografia; o Banquete dos Deuses, que considera um livro muito instrutivo e educativo sobre a temática indígena no Brasil e ainda Um estranho sonho de futuro, que narra um encontro de um não indígena com a cultura indígena e, que para ele, faz uma ponte entre os dois saberes.
Munduruku começou a escrever quando já era adulto. O início do contato com os livros foi na adolescência, mas eram mais relacionados às disciplinas escolares e poucos voltados à literatura.
“Quando fui para a universidade [com 23 anos para fazer curso de graduação em Filosofia] me dediquei muito mais à leitura e à literatura e isso foi despertando em mim o interesse de entender melhor como a sociedade de comporta em relação aos povos indígenas e achei necessário e urgente criar uma ponte entre essas sociedades através da literatura. Então a literatura virou uma ferramenta de construção de pontes. Tenho produzido muito. Acho que quanto mais a gente falar sobre povos indígenas mais se consegue arrancar da mente e coração das pessoas certos preconceitos e estereótipos”, apontou.
Três em cada dez brasileiros com idade entre 15 e 64 anos ou não sabem ler e escrever ou sabem muito pouco a ponto de não conseguir compreender pequenas frases ou identificar números de telefones ou preços. São os chamados analfabetos funcionais. Esse grupo corresponde a 29% da população, o mesmo percentual de 2018.
Os dados são do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nesta segunda-feira (5), e acendem um alerta sobre a necessidade e importância de políticas públicas voltadas para reduzir essa desigualdade entre a população.
O Inaf traz ainda outro dado preocupante. Entre os jovens, o analfabetismo funcional aumentou. Enquanto em 2018, 14% dos jovens de 15 a 29 anos estavam na condição de analfabetos funcionais, em 2024, esse índice subiu para 16%. Segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo, o aumento pode ter ocorrido por causa da pandemia, período em que as escolas fecharam e muitos jovens ficaram sem aulas.
Teste
O indicador classifica as pessoas conforme o nível de alfabetismo com base em um teste aplicado a uma amostra representativa da população. Os níveis mais baixos, analfabeto e rudimentar, correspondem juntos ao analfabetismo funcional. O nível elementar é, sozinho, o alfabetismo elementar e, os níveis mais elevados, que são o intermediário e o proficiente correspondem ao alfabetismo consolidado.
Seguindo a classificação, a maior parcela da população, 36%, está no nível elementar, o que significa que compreende textos de extensão média, realizando pequenas interferências e resolve problemas envolvendo operações matemáticas básicas como soma, subtração, divisão e multiplicação.
Outras 35% estão no patamar do alfabetismo consolidado, mas apenas 10% de toda a população brasileira estão no topo, no nível proficiente.
Limitação grave
Segundo o coordenador da área de educação de jovens e adultos da Ação Educativa, uma das organizações responsáveis pelo indicador, Roberto Catelli, não ter domínio da leitura e escrita gera uma série de dificuldades e é “uma limitação muito grave”.
Ele defende que são necessárias políticas públicas para garantir maior igualdade entre a população.
“Um resultado melhor só pode ser alcançado com políticas públicas significativas no campo da educação e não só da educação, também na redução das desigualdades e nas condições de vida da população. Porque a gente vê que quando essa população continua nesse lugar, ela permanece numa exclusão que vai se mantendo e se reproduzindo ao longo dos anos”.
A pesquisa mostra ainda que mesmo entre as pessoas que estão trabalhando, a alfabetização é um problema: 27% dos trabalhadores do país são analfabetos funcionais, 34% atingem o nível elementar de alfabetismo e 40% têm níveis consolidados de alfabetismo.
Até mesmo entre aqueles com alto nível de escolaridade, com ensino superior ou mais, 12% são analfabetos funcionais. Outros 61% estão na outra ponta, no nível consolidado de alfabetização.
Desigualdades
Há também diferenças e desigualdades entre diferentes grupos da população. Entre os brancos, 28% são analfabetos funcionais e 41% estão no grupo de alfabetismo consolidado. Já entre a população negra, essas porcentagens são, respectivamente, 30% e 31%. Entre os amarelos e indígenas, 47% são analfabetos funcionais e a menor porcentagem, 19%, tem uma alfabetização consolidada.
Segundo a coordenadora do Observatório Fundação Itaú, Esmeralda Macana, entidade parceira na pesquisa, é preciso garantir educação de qualidade a toda a população para reverter esse quadro que considera preocupante. Ela defende ainda o aumento do ritmo e da abrangência das políticas públicas e ações:
“A gente vai precisar melhorar o ritmo de como estão acontecendo as coisas porque estamos já em um ambiente muito mais acelerado, em meio a tecnologias, à inteligência artificial”, diz. “E aumentar a qualidade. Precisamos garantir que as crianças, os jovens, os adolescentes que estão ainda, inclusive, no ensino fundamental, possam ter o aprendizado adequado para a sua idade e tudo aquilo que é esperado dentro da educação básica”, acrescenta.
Indicador
O Inaf voltou a ser realizado depois de seis anos de interrupção. Esta edição contou com a participação de 2.554 pessoas de 15 a 64 anos, que realizaram os testes entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, em todas as regiões do país, para mapear as habilidades de leitura, escrita e matemática dos brasileiros. A margem de erro estimada varia entre dois e três pontos percentuais, a depender da faixa etária analisada, considerando um intervalo de confiança estimado de 95%.
Este ano, pela primeira vez, o Inaf traz dados sobre o alfabetismo no contexto digital para compreender como as transformações tecnológicas interferem no cotidiano.
O estudo foi coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social. A edição de 2024 é correalizada pela Fundação Itaú em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Há exatos 100 anos, o ícone da ciência Albert Einstein desembarcava no Rio de Janeiro, para a sua primeira e única temporada no Brasil.
"Chegada ao Rio ao pôr do sol, com clima esplêndido. Em primeiro plano, ilhas de granito de formato fantástico. A umidade produz um efeito misterioso", escreveu ele em seu diário de viagem, naquele dia 4 de maio de 1925.
Einstein já havia pisado em solo brasileiro no dia 21 de março, por algumas horas, durante a parada do navio que o levava a Buenos Aires, na Argentina. Mas a breve temporada brasileira foi reservada para o final da sua incursão de um mês e meio pela América do Sul, que incluiu também uma passagem por Montevideo, no Uruguai.
O objetivo da viagem era divulgar e discutir a recém verificada Teoria da Relatividade com estudiosos sul-americanos, mas também fazer conexões com as comunidades judaicas e alemãs, em meio à escalada de poder do Partido Nazista. Uma evidência disso é que a viagem foi organizada e financiada por organizações judaicas, com o apoio de instituições científicas.
Einstein passou sete dias no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e, além de se encontrar com seus compatriotas, visitou instituições como a Fundação Oswaldo Cruz, o Museu Nacional e o Observatório Nacional, e fez duas grandes palestras públicas, uma na Academia Brasileira de Ciências e outra no Clube de Engenharia. A maior contribuição da visita para a ciência brasileira, na opinião do professor do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), Alfredo Tolmasquim, foi o incentivo para as chamadas "ciências puras", que ainda engatinhavam no país.
Exemplar da revista Annalen der Physik assinado por Albert Einstein
"O Brasil teve uma influência positivista muito grande no Século 19, e essa corrente defendia que o importante é utilizar a ciência para a melhoria da sociedade, e não fazer pesquisas que eles consideravam como um proselitismo inútil. Então, o início do Século 20 é o período em que justamente começa a vir o movimento que eles chamavam de "ciência pura", que eram as pesquisas em ciência básica. Pra gente ter uma ideia, nessa época, a única universidade que a gente tinha era uma junção das escolas de engenharia, medicina e direito", explica o professor do Mast.
"A gente não pode dizer que uma visita de uma semana do Einstein foi capaz de mudar a realidade brasileira. Não foi. Já era algo que estava acontecendo, mas ele contribuiu para esse debate", complementa Tolmasquim que, em 2011, lançou a obra Einstein: o viajante da relatividade na América do Sul, com a tradução dos diários escritos por Einstein durante a viagem, e a contextualização sobre o cenário científico do Brasil na época.
Alfredo Tiomno Tolmasquim
Essa "lacuna" de pesquisadores avançados nas ciências básicas teve um resultado curioso: Einstein acabou mais interessado por assuntos alheios à física, como peças de história natural exibidas no Museu Nacional, e o trabalho do psiquiatra Juliano Moreira, que revolucionou o atendimento aos "alienados mentais" e combateu ferozmente a tese de que a mestiçagem poderia resultar em desequilíbrio mental, e outras teorias racistas. À convite de Moreira, Einstein visitou o então manicômio que o médico dirigia e conheceu as oficinas terapêuticas que ele implementou.
O ilustre visitante também se entusiasmou com as iniciativas para popularizar a ciência no país, como a criação da Rádio Sociedade, em 1922, atual Rádio MEC, e chegou a fazer um discurso, transmitido ao vivo, em que disse que sua visita à emissora o levou "a admirar novamente os esplêndidos resultados conquistados pela ciência aliada à tecnologia, resultando na transmissão dos melhores frutos da civilização para aqueles que vivem em isolamento".
Dívida com o Brasil
A viagem também serviu para que Einstein conhecesse pessoas essenciais para a sua trajetória. "Ele se tornou mundialmente famoso a partir de 1919, quando houve a comprovação de um aspecto da Teoria da Relatividade, que é o desvio da luz. A prova foi obtida aqui no Brasil, durante um eclipse observado em Sobral, no Ceará", conta Tolmasquim.
No dia 9 de maio, em visita ao Observatório Nacional, ele conheceu o diretor da instituição Henrique Morize, que liderou a expedição a Sobral seis anos antes, e também os astrônomos envolvidos com o trabalho e, diante deles, reconheceu:
"O problema que a minha mente imaginou foi resolvido aqui no céu do Brasil", disse Albert Einstein.
O atual diretor do Observatório, Jailson Alcaniz, explica que, em 1912, o diretor do Observatório de Córdoba, Charles Perrine, já havia tentado testar a teoria da relatividade durante um outro eclipse, observado a partir de Minas Gerais. Mas uma chuva forte no dia impediu os experimentos. Então, ele contatou Morize, e os dois juntos passaram a organizar a expedição a Sobral, que ofereceria condições perfeitas, no próximo eclipse previsto para sete anos depois, em 1919.
"Esse experimento em Sobral é muito importante para a história da física, da astronomia, porque foi a primeira evidência observacional de que a relatividade geral é a teoria correta da gravidade. E mais do que isso, ela mostrou que a teoria de Newton, que perdurava há séculos, era um caso particular da relatividade geral. Então, ele estabeleceu uma nova teoria que, até hoje, está na vida da gente. O GPS, por exemplo, toda vez que a gente utiliza, ele só indica o endereço certo, porque ele tem correções relativistas", explica Jailson Alcaniz.
Museu de Astronomia
Mas a expedição não foi composta apenas por pesquisadores argentinos e brasileiros: outras duas delegações se juntaram, uma americana e uma inglesa, e cada uma delas aproveitaria o eclipse para obter dados distintos. Coube à inglesa verificar se a Teoria da Relatividade se aplicava à observação feita, o que acabou eclipsando a participação dos americanos.
"O Perrine e o Morize foram fundamentais para essa expedição acontecer, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista logístico. No artigo publicado pelos pesquisadores ingleses, eles fazem um agradecimento especial, mas tanto o Morize como o Perrine mereciam muito mais do que um agradecimento especial. Sem eles, esse experimento não teria saído em 1919", defende o diretor do Observatório Nacional brasileiro.
Jailson acredita que este é mais um exemplo de como a ciência eurocêntrica desmerece os feitos conquistados por pesquisadores de outras origens. Ele conta que até mesmo a contribuição inequívoca do céu brasileiro foi apagada em alguns escritos "A Inglaterra também enviou uma expedição para a Ilha de Príncipe, na África, e quem foi pra lá foi o Arthur Eddington, que era uma pessoa muito importante na época. Mas os dados colhidos lá não foram tão bons porque choveu. Mas, por muitos anos, até muito recentemente, algumas pessoas falavam que a Teoria da Relatividade tinha sido comprovada em Ilha de Príncipe, só porque era o Eddington que estava lá".
Eurocentrismo e racismo
Apesar de reconhecer e agradecer os pesquisadores brasileiros pessoalmente, os relatos íntimos de Einstein revelam que ele também tinham uma visão eurocêntrica sobre o Brasil, e em diversas passagens demonstra pouco apreço pelos interlocutores e chega a "culpar" o clima tropical pelos costumes que considerava inferiores: “Esses camaradas são palestrantes excepcionais. Quando elogiam alguém, eles elogiam — a eloquência. Acredito que tal tolice e irrelevância tenham relação com o clima. Mas as pessoas não pensam assim”.
Em uma das passagens mais controversas do diário, Einstein diz: “Aqui sou uma espécie de elefante branco para eles, e eles são macacos para mim", mas Tolmasquim e outros autores que também traduziram o diário ressalvam que o termo "macacos", no original alemão à época, trazia mais uma conotação de "tolice" do que o significado expressamente racista do seu uso atual.
Em diversos momentos, Einstein se mostrou entusiasmado pela miscigenação brasileira. Escreveu, por exemplo: "A miscelânea de povos nas ruas é deliciosa: Portugueses, índios, negros e tudo no meio, de modo vegetal e instintivo, dominado pelo calor.” Por outro lado, usou o termo "índios" inúmeras vezes como símbolo de selvageria e inferioridade.
Juliano Moreira
Além disso, Einstein ficou tão impressionado com o trabalho do general Cândido Rondon, que chegou a escrever uma carta durante a viagem de retorno para recomendá-lo ao Prêmio Nobel da Paz. “Sua obra consiste na incorporação das tribos indígenas à humanidade civilizada sem o uso de armas ou qualquer tipo de coerção”, descreveu.
Tolmasquin considera que a ideia de superioridade europeia é evidente, mas faz um aparte: "Ele estava muito cansado, porque já estava há mais de um mês viajando, e sentiu que não tinha interlocutores, porque tinham algumas pessoas que estavam estudando essa física mais recente no Brasil, mas não que estavam desenvolvendo pesquisa. Então ele sentiu que a viagem foi um pouco uma perda de tempo. Ele ficava muito incomodado também com esse costume brasileiro dos grandes discursos elogiosos. Era uma coisa enfadonha para ele".
A última frase que escreveu, antes de embarcar de volta para Europa no dia 12 de maio, não poderia ser mais clara: "Longos discursos com muito entusiasmo e excessiva adulação, mas sinceros. Graças a Deus acabou. Finalmente livre, mas mais morto que vivo".
Programação
A efeméride dos 100 anos da viagem de Einsten ao Brasil está sendo lembrada por algumas instituições. O Observatório Nacional faz evento na próxima sexta-feira (09), com diversas mesas de discussão em sua sede no Rio de Janeiro, a partir das 8h50. Ao longo da próxima semana, as visitas ao Museu da Vida, da Fiocruz, também terão esse enfoque e passarão pela Biblioteca de Obras Raras da instituição, onde está guardado o livro assinado por Einstein, durante sua visita.