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 “Caxias é o berço de uma farta produção

literária, artística e cultural.

Em cada esquina, uma rima;

em cada canto, um conto;

em cada conto, um encanto.

É uma cidade que transpira letras

 e inspira poesia e literatura”.

(Raimundo Borges, 15/8/2025)

*

Neste 1º de setembro de 2025, marcam-se 55 anos de vida jornalística do caxiense Raimundo Borges, 30 deles à frente da Direção de Redação de “O Imparcial”, de São Luís, jornal que, daqui a exatos nove meses, parirá 100 anos de informação, opinião, reflexão e algum entretenimento e se confirmará como o mais antigo em circulação no Maranhão.

Fui diretor de sucursal de “O Imparcial”, com Pedro Freire no comando geral e o Borges em sua diária magia de transformar fatos e opiniões em palavras e imagens. Mais de meio século nessa lida talvez recomende que, cheio de dedos, nós jornalistas desviemo-nos de regra não escrita que nos impõe não sermos nós mesmos, na Imprensa, motivo de destaque, objeto de notícia, assunto de manchete  – e, olhe lá, nem mesmo um rodapé...

Entretanto, não devemos esperar que uma invasão a uma redação, um sequestro de jornalista, ou  – cruz credo! – uma violência contra nós ou um resumo em obituário possam ser as únicas razões e registros a que devamos ter direito, envolvendo nosso sacrossanto nome...  Não. Louve-se (ou, se não, registre-se) a meritória longevidade profissional-pessoal dessa nossa luta quotidiana usando mente e mãos e também convertamos o mérito duradouro em palavras de respeito e reconhecimento. De minha parte, trago estes registros, colhidos do discurso de recepção a Raimundo Borges, que pronunciei na sua posse no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, em 12 de dezembro de 2019, e que integra nosso livro inédito “Educação e Comunicação”. 

É coisa do destino o fato de, em Raimundo Borges, a maior parte de sua vida ímpar ser... imparcial?   (E. S.)

*

Temos motivos de sobra para dizermos ao Brasil sobre os valores caxienses e maranhenses. Deveríamos nos contrapor às notícias nacionais, veiculadas por todas as mídias    impressas, eletrônicas, digitais   que teimam em sublinhar, realçar, destacar que o Maranhão, como um todo e no geral, é o pior Estado em indicadores sociais e econômicos. Não é de agora que jornais, rádios, televisões, mídias digitais vêm estampando com triste regularidade que nosso Estado é o último ou está entre os piores entes federativos em determinados indicadores de desenvolvimento.

Claro, Senhoras e Senhores, não se combatem desigualdades sociais com retórica. Nenhum livro de receitas substitui um prato de comida. Sabemos que águas passadas não movem moinhos..., vírgula: não movem os moinhos de hoje, assim como as águas atuais não moverão os moinhos futuros. Cada coisa a seu tempo... Está no Eclesiastes.

Assim, todos nós caxienses, maranhenses, devemos assumir compromisso com nosso passado glorioso e afirmar, de peito estofado e queixo erguido, com todas as células de nosso ser, toda energia de nossa mente e toda fé da nossa alma, que, se nos dias atuais, o presente, derruba o nosso Estado para as últimas colocações, o passado do Maranhão o alevanta e o coloca entre os primeiros e de maior importância em nosso País    importância histórica, cultural, econômica, política e nos diversos segmentos, importância para a qual tanto contribuiu a nossa Caxias, pelo vigor, pela coragem, pelo pioneirismo, pelo talento de nossos conterrâneos. Exemplos? Ah!... a noite é pouca para o desfile de nomes e realizações de caxienses e maranhenses que contribuíram positivamente para termos hoje um Brasil melhor.

Caxias é nossa primeira pátria. Filhos dela, conterrâneos nossos, deram para este País talento, esforço e sangue. Aqui, além do autor de versos do Hino Nacional (Gonçalves Dias) e do criador da Bandeira Brasileira (Teixeira Mendes), aqui nasceu João Mendes de Almeida, um gigante como humanista, advogado, escritor e abolicionista, principal redator da Lei do Ventre Livre, homenageado com grande praça e busto pela maior cidade do Brasil, a capital São Paulo, e incompreensivelmente esquecido de qualquer homenagem oficial pública nesta Caxias que o viu nascer. No seu livro “Algumas Notas Genealógicas”, João Mendes escreve com orgulho: “Alguns acham que sou paulista. Não, sou de Caxias, no Maranhão”.

Em Caxias nasceu Teixeira Mendes, que, além de criador da bandeira Brasileira, redigiu a Lei que separou a Igreja do Estado, permitindo que toda pessoa em nosso País passasse a escolher sua própria religião ou mesmo decidisse não ter nenhuma. Também é de Teixeira Mendes lutas e leis que deram origem à proteção à mulher trabalhadora, ao menor trabalhador, aos doentes mentais e aos índios do Brasil, tendo o caxiense inspirado a criação da atual FUNAI, Fundação Nacional do Índio. No final dos textos e livros que escrevia, Teixeira Mendes acrescentava, logo após seu nome: “Nascido em Caxias, Maranhão”.

Em Caxias nasceu Aderson Ferro, o dentista e jornalista considerado “Glória da Odontologia Brasileira”, autor do primeiro livro científico brasileiro sobre essa Ciência.

Em Caxias nasceu Cristino Cruz, o criador do Ministério da Agricultura e presidente de honra da Sociedade Nacional da Agricultura. E isso é tanto mais representativo em um país como o nosso, que tem no Setor Primário grande parte de sua base econômica.

Em Caxias nasceu o escritor e desportista Coelho Netto, responsável pela dignificação e aceitação social da Capoeira como dança, jogo, técnica ou arte de respeito, tradição e cultura.

Em Caxias nasceu Armando Maranhão, o nome mais importante do Teatro do Estado do Paraná, que na Europa foi aluno de grandes mestres do Cinema e Dramaturgia mundial, como Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni e Laurence Olivier. Um outro caxiense    Coelho Netto   é o introdutor no Brasil do cinema seriado, e o próprio Coelho Netto escrevia o roteiro e dirigia o filme.

Em Caxias nasceu Berredo de Menezes, advogado e escritor, com obras traduzidas para o exterior e que foi exemplo de administrador público como prefeito de Vitória, capital do Espírito Santo. Berredo de Menezes era conterrâneo, amigo e poeta da especial predileção do médico veterinário, ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão, professor, pesquisador e escritor caxiense Jacques Inandy Medeiros, que foi sócio e até há poucos dias vice-presidente deste Instituto. Em setembro deste ano, por repetida solicitação de Jacques Medeiros, repassei-lhe meu exemplar da obra inaugural de Berredo de Menezes, “Catedral dos Vácuos”, de 1955, da qual Jacques Inandy recitava de cor poemas inteiros e de cuja edição consegui obter um outro volume. Como sabemos, e sentimos, o Dr. Jacques faleceu agora em outubro, no mesmo dia em que Caxias perdeu o amigo capitão Pedro Carneiro, escritor e professor de gerações, ex-presidente da nossa congênere a Academia Caxiense de Letras.

De Caxias é Dona Francisca do Lindô, ativista cultural já falecida, premiada pelo Ministério da Cultura pela ação e preservação de ritmos e danças tradicionais e populares.

De Caxias é mãe Andresa Ramos, que viveu exatos cem anos, líder espiritual de religião de matriz afro-brasileira, visitada por presidentes da República e citada em livros por antropólogos e outros estudiosos de diversos países.

De Caxias saíram nomes como Francisco das Chagas Oliveira Luz, gênio das Ciências da Saúde a serviço da pesquisa, em um laboratório da Universidade de Brasília, em favor da vida dos mais pobres. Outro nome da Saúde, o médico e escritor caxiense José Murilo Martins, formado nos Estados Unidos, é o introdutor dos serviços de Hematologia no Ceará.

Nosso arquiteto, músico e ativista cultural Antônio Nascimento Cruz, membro desta Casa e recentemente falecido, era reconhecido pela Imprensa como renovador da Música Brasileira em nível internacional nos diversos países onde Cruz esteve, residiu e atuou. Mais para trás no tempo, temos outro grande exemplo no mundo musical: o maestro caxiense Elpídio Pereira, aplaudido na França e na Amazônia, mas de obra clássica desconhecida em sua terra e Estado natal, exceto    e olhe lá!... –  pela música do Hino de Caxias, que Elpídio compôs para a letra feita por outro talentoso caxiense, Teodoro Ribeiro Júnior, escritor e historiador literário, que foi cônsul do Brasil na França.

Além de escrever livros, muitos e bons livros, autores caxienses criaram escolas literárias ou as introduziram em todo o Brasil, como o Indianismo de Gonçalves Dias e o Parnasianismo de Teófilo Dias, além do Modernismo nas Artes Plásticas, introduzido a partir do Rio de Janeiro pelo caxiense Celso Antônio de Menezes, cujo talento enorme nas Artes e na escrita mereceu a admiração explícita de outros gigantes da Cultura Brasileira, entre eles Otto Lara Resende, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

É de Caxias o brasileiro    nosso Conselheiro Sinval Odorico de Moura – cuja competência e honestidade o credenciou para aconselhar o Imperador e, a convite, administrar quatro estados de nosso País.

No próximo ano, 2020, o Brasil todo vai se submeter ao Censo Demográfico, que, como sabemos, é realizado a cada dez anos. A população e os recursos de nossa Nação serão transformados em números. O que muitos brasileiros    maranhenses e caxienses incluídos   não sabem é que a primeira contagem oficial da população de nosso País começou com um caxiense de nome e talento enormes Joaquim José de Campos Costa Medeiros e Albuquerque, que é pai do não menos talentoso Medeiros e Albuquerque, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Caxias é exemplar ou, no mínimo, é exemplo de cidade que inspira e é inspiradora, cantada e decantada. Tema de letras e músicas, poesia e prosa. A ela e a filhos dela devem nome e existência diversas cidades do País, como Caxias do Sul, em terras gaúchas, Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Marabá, no Pará, Vilhena, em Rondônia, e mais...

Por tudo o que aqui se expôs    e há muito mais , não é sem razão a lapidar citação de Arthur Almada Lima Filho, em feliz construção frasal iniciada com um advérbio de negação para, exatamente, continuar e concluir como uma veraz afirmação, sem modéstia nem ufanismo. Disse Arthur Almada:

“Não há História do Brasil, sem a História de Caxias”.

Arthur Almada Lima Filho é esse caxiense de empedernida e acendrada caxiensidade, homem da Magistratura e do Magistério, desembargador e educador, rigoroso pesquisador e competente escritor, que há muito deveria ser mais desse mundão de meu Deus e ter largado esse vício de ser caxiense em excesso, espécie de cachaça espiritual, telúrica, que Arthur e eu, entre outros, bebemos com os sentimentos carregados na mente e coração, únicos lugares possíveis de caber    e dividir, distribuir   o sadio orgulho pela honrosa e nem sempre honrada grandeza caxiense.

Senhoras e Senhores: Também não foi sem razão o que escreveu Luís da Câmara Cascudo, o monumental  nordestino, historiador, antropólogo, advogado e jornalista nascido no Rio Grande do Norte e intérprete maior da cultura brasileira. Escreveu Câmara Cascudo:

“Maranhão, Maranhão, onde os burros nascem mortos [...]”. 

Essa exclamação do grande antropólogo e historiador brasileiro, que logo nos lembra o Prêmio Nobel William Faulkner e seu “Absalão! Absalão”, é parte de um texto em que Câmara Cascudo elogiava o jornalista e escritor maranhense, de Brejo, Tobias Pinheiro, com quem almocei em seu apartamento no Rio de Janeiro.

“Maranhão, Maranhão, onde os burros nascem mortos [...]” é frase publicada há 44 anos, em 21 de março de 1976, por notável coincidência em o “O Imparcial”, jornal de que Arthur Almada foi diretor e no qual o novo membro desta Casa, Raimundo Borges, mantém-se há 25  anos [em 2019] na direção de redação.

Ora, Senhoras e Senhores: O que levaria o conhecido e reconhecido antropólogo Câmara Cascudo a fazer sua afirmativa  digamos, exagerada, mas nem por isso falsa ou fora do razoável – acerca da inteligência maranhense não fora ele, um sábio, sabedor da quantidade e qualidade do contributo de filhos e filhas do Maranhão à História, à Cultura e a muitos outros aspectos do Brasil? A troco de quê se arriscaria Câmara Cascudo a escrever loas, em especial uma que realça esse traço, esse aspecto histórico-cultural do nosso Estado?

Apesar dos pesares, de seus problemas socioeconômicos (de que não detém exclusividade), o Maranhão é, sim, é, mesmo, terra de gente inteligente, esforçada, destemida, realizadora!... Respeite-se o Estado que é o único a estar na origem e na essência dos dois maiores símbolos do País, desde a sugestão do caxiense Coelho Netto, quando deputado federal, para criação de uma letra para o Hino Nacional (que antes era somente música); a partir da presença de versos de outro caxiense, Gonçalves Dias, na letra do Hino; a partir autoria da expressão “ordem e progresso”, escrita e publicada em 1846 por Gonçalves Dias anos antes de Auguste Comte, que só a publicou em 1852, seis anos depois; e a própria criação da Bandeira Brasileira, pelo também caxiense Raimundo Teixeira Mendes.

Portanto, em qualquer lugar do Brasil e do Mundo, seja em um submarino brasileiro no fundo do mar, seja no traje do astronauta brasileiro que foi para muito além do ar, aí está e estará a nossa Bandeira, aí estará o Maranhão, aí estará Caxias, a única cidade, entre 5.570, presente quatro vezes na história e na realização dos dois maiores símbolos de nosso País.

Seja cantando o hino na formação escolar, seja na parada militar, seja em frente a órgãos públicos, seja diante de estabelecimentos privados, seja nas competições esportivas nacionais ou internacionais, nas Olimpíadas ou na Copa do Mundo, seja nos consulados, embaixadas e outras representações oficiais, seja  como hoje de manhã, neste Instituto – à frente de Organizações Sociais e Culturais, enfim, onde quer que se hasteie a Bandeira, onde quer que se cante o Hino de nosso País, diga-se, em alto e bom som, que, pelo gênio e patriotismo de nossos conterrâneos caxienses, quem cante ou onde seja cantado o Hino do Brasil igualmente se estará cantando Caxias e o Maranhão; e quem alevante ou hasteie ou onde se erga a Bandeira Brasileira também se estará hasteando, levantando, içando, erguendo para o mais alto nosso País e nosso Estado, pela força, talento e esforços de filhos de Caxias!

Caxias soma para o Maranhão um conjunto de feitos de seus filhos, e esses feitos devem, por justiça, serem juntados a tantos outros, realizados por maranhenses de outros municípios. Para citar poucos exemplos: o criador, na Literatura, do Concretismo e do Neoconcretismo é o maranhense Ferreira Gullar; da Antropologia Criminal, Nina Rodrigues; o primeiro cateterismo no Brasil e inovações na Cardiologia, como a invenção do “stent”, a prótese interna que tanto tem salvado e prolongado a vida de pessoas com problemas de coração no mundo todo    tudo feito por um médico maranhense, de Pedreiras, José Eduardo Moraes Rego Sousa, professor em Harvard, que é homenageado do Ocidente ao Oriente, Estados Unidos e Japão.

Se bancos privados existem no Brasil, a ideia de criação deles nasceu no Maranhão. Do Maranhão são um dos fundadores da União Nacional dos Estudantes (a UNE), Oswaldino Ribeiro Marques; o primeiro presidente do Banco do Brasil, João Duarte Lisboa Serra, nascido em Itapecuru-Mirim; o primeiro ministro da Ciência e Tecnologia, Renato Archer; o criador da primeira companhia imobiliária de nosso País, Antônio Eugênio Richard Júnior, de Grajaú. Um maranhense, Miguel Vieira Ferreira, de São Luís, doutor em Ciências Matemáticas e Físicas, foi o criador, em 1879, da Igreja Evangélica Brasileira.

O Maranhão é terra de um escritor de tal talento (por sinal, caxiense: Coelho Netto), que foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel. É um maranhense, Catulo da Paixão, de São Luís, o autor da primeira música sertaneja gravada no Brasil. A Tradução Criativa, ou Transcriação, tem como precursor o ludovicense Odorico Mendes. O escritor Viriato Correia, de Pirapemas, dá nome à Biblioteca Infantil de São Paulo, tal a importância que o autor de “Cazuza” e suas dezenas e dezenas de outras obras têm na literatura para crianças. Do Maranhão é também o homem considerado o maior matemático do Brasil, Joaquim Gomes de Sousa, o Sousinha, de Itapecuru-Mirim. Do Maranhão é a primeira romancista brasileira  a são-luisense Maria Firmina dos Reis. O patrono da cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras é um maranhense, Adelino Fontoura, de Axixá. O pioneiro no estudo do Folclore no Brasil, Celso Magalhães, é maranhense de Viana. A renovação do Jornalismo no Brasil deu-se com o maranhense de São Luís Odylo Costa, filho. O maior impressor de livros que o Brasil já teve foi um maranhense, o axixaense Belarmino de Matos. É maranhense o aviador e combatente, considerado herói da 2ª Guerra Mundial, brigadeiro Rui Moreira Lima, de Colinas.

Um maranhense  Joaquim Campelo Marques   foi o principal auxiliar de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira na elaboração do famoso “Dicionário Aurélio”.  Do Maranhão é o responsável pela existência do Teatro Municipal do Rio de Janeiro  Arthur Azevedo. E, não podia ser diferente, do Maranhão é Sotero dos Reis, o autor da primeira gramática da Língua Portuguesa no Brasil. E o grande professor Tarquínio Silva, maranhense de Viana, é considerado em São Paulo “Mestre dos Mestres”.

Senhoras e Senhores: bem sei que a noite e a paciência são curtas demais para fazermos justiça com a menção dos mais e muitos nomes caxienses e maranhenses de que nós todo santo dia nos deveríamos orgulhar  orgulhar de modo mais enfático, contínuo, concreto, visível, com estudos, obras e homenagens, e não esse orgulho que, muitas das vezes, são meras, epidérmicas, menções, vazias de substância e sentido.

Esse desfilar de nomes mostram, à exaustão, o quanto há de verdade potencial, documentada e explícita nas palavras de Câmara Cascudo  “Maranhão, Maranhão, onde os burros nascem mortos [...]”   e na frase lapidar de Arthur Almada Lima Filho: “Não há História do Brasil, sem a História de Caxias”. 

Todo esse desfilar de nomes e feitos  cansativo para uns, interessante e até surpreendente para outros   seria dispensável caso Educação e Comunicação, em Caxias sobretudo, insistissem, com apoio (em especial das Autoridades), em fazer conhecer aos caxienses, aos estudantes, à população em geral os méritos de nossa cidade e de nosso Estado.

[...]

Há poucos dias, em 24 de novembro [de 2019] completaram-se 160 anos de publicação do livro “A Origem das Espécies”, obra de renome mundial, demarcadora de tempos e conhecimentos em toda a história da Humanidade, de autoria do cientista inglês Charles Darwin. Pois bem: um caxiense, de vasta obra escrita e ainda mais vasto talento  literário e técnico   é autor de raro e competente trabalho publicado em livro, em 1959, quando a tese darwiniana completava cem anos. Embora publicado no Rio de Janeiro, não é de estranhar que o livro “O Centenário da ‘Origem das Espécies’”, a obra do muito talentoso caxiense Manoel Caetano Bandeira de Mello, sequer houvesse sido citada agora nas 16 décadas de publicação do monumental e polêmico, muito citado e pouco lido livro de Darwin.

O que é de estranhar é a ignorância    seja a ignorância que é desconhecimento seja a que é descortesia, grosseria. [...] . Temos de nos apropriar, de nos assenhorear de momentos assim, até mesmo para posicionar ou, se for o caso, reposicionar Caxias e o Estado como terra mãe de inovadores, de pioneiros, de produtores de conhecimentos de tal nível. O que Caxias e o Maranhão já fizeram por nosso País não pode, de jeito e maneira, merecer o esquecimento, o acinzentamento, a obscuridade, nem muito menos a mofa, a zombaria, a desqualificação.

O passado de lutas, honra, talento, competência, esse passado é o presente de maior futuro para Caxias, para o Maranhão. Caxias e o Maranhão construíram marcos e marcas permanentes para a Civilização brasileira. Que a ignorância não ouse negá-los.

[...]

O jornalista caxiense Raimundo Nonato Borges, conhecido e reconhecido diretor de redação de “O Imparcial”, jornal de referência do Maranhão sediado em São Luís, é daquela linhagem de nordestinos maranhenses e caxienses que praticamente tinham tudo para dar errado na vida... mas, à maneira euclidiana, eram antes de tudo fortes.

O próprio Raimundo Borges se considera uma “síntese de improbabilidades”    mesma síntese que também pareciam ser e pareciam carregar outras pessoas que nasceram negras, pobres e no interior maranhense; pessoas que deram tratos à bola e, com asas na imaginação e fortes desejos no coração, suportaram e superaram as condições adversas.

Assim foi com outros negros como nós: o Ubirajara Fidalgo da Silva, do povoado caxiense São Pedro, hoje com pouquíssimos moradores. Ubirajara Fidalgo foi para o Rio de Janeiro e tornou-se ator, produtor e empreendedor teatral, considerado o primeiro dramaturgo negro do Brasil, a quem o próprio Governo Federal homenageou atribuindo o ano de 2016 como “Ano Ubirajara Fidalgo da Cultura”.

Assim foi com a caxiense Andresa Ramos, a, como já dito, líder espiritual de religião de matriz afro-brasileira, a quem visitavam em São Luís presidente da República do Brasil e estudiosos estrangeiros de diversos países, estes que faziam estudos sobre ela e a mencionaram em diversos livros.

Assim foi com João de Deus do Rego (1867—1902), poeta caxiense talentoso que inspirava outros talentos; que, no Norte do Brasil, sobretudo em Belém, desenvolveu carreira intelectual, jornalística, poética e literária em geral, a ponto de, em sua homenagem, ser patrono de Cadeira na Academia Paraense de Letras e suas congêneres Maranhense e Caxiense.

Assim foi com José Salgado Maranhão, poeta caxiense, nascido em novembro de 1953 lá no povoado Cana-Brava das Moças, que, a partir da capital do Rio de Janeiro, aonde chegou em 1973, tem construído uma das mais consistentes obras poéticas de todo o País, a ponto de ser considerado o maior poeta vivo do Brasil, após a morte do mineiro Carlos Drummond de Andrade (em agosto de 1987) e, depois, do pernambucano João Cabral de Melo Neto (em outubro de 1999) e, por último, em dezembro de 2016, do igualmente maranhense Ferreira Gullar.

Assim foi com Raimundo Borges, que, nascido no povoado Jaguarana, no 3º Distrito caxiense, não imaginava, a princípio, que seus pés iriam para além do caminho da roça e que suas mãos serviriam para algo mais que manusear, desde criança, amoladas foices e afiados machados e enxadas e colher FAMA, isto é, “F” de feijão, “A” de arroz, “M” de melancia e mandioca e outro “A”, de abóbora. Isso quando não estava aparando palhas de carnaúba, de onde ele e o pai, o lavrador sem terra e sem letras Francisco Borges da Silva, retiravam o precioso pó, mais valioso que o babaçu   babaçu cujas amêndoas ou sementes a quebradeira de coco Dª Demétria Maria da Silva, mãe de Raimundo Borges, dedicava-se artesanal e penosamente a extrair, no arriscado ofício de abrir a cacete, machado e habilidade os múltiplos revestimentos do fruto, inclusive o duríssimo endocarpo.

*

Não foi fácil a vida do menino Raimundo, que, sem que ele soubesse de Carlos Drummond, sabia existir, bem além, um mundo, vasto mundo, do qual, naquela década de 1950, ele, isto é, seu nome, era só uma rima e não uma solução. Mas, sem saber de Drummond, esse Raimundo, menino, sabia que mais vasto que o mundo era seu coração...

Foi assim, com a mente cheia de esperanças e quem sabe um aperto no coração, um pequeno nó já lhe entalando a garganta e os olhos desfingindo lágrimas, foi assim que aquele garoto de 16 anos, com a anuência dos pais, pegou um pouco de dinheiro da venda de uns porquinhos, ajuntou uma trouxa de roupas socada talvez em tosca valise, onde já estava posta a tradicional latinha de leite em pó cheinha de frito de galinha..., foi assim que ele encompridou o olhar para abarcar de uma enxergada só as mais ou menos 25 casas humildes de Jaguarana... e foi assim que o garoto partiu para a cidade    na verdade, a Estação de ferro de Caxias (esta aqui!) , novo ponto de partida, onde comprou passagem para a não conhecida nem imaginada São Luís capital.

Assim, aos 16 anos, acolhido na capital maranhense por um irmão de um amigo de seu pai, o rapazinho Raimundo Borges  que somente em São Luís tirou a Certidão de Nascimento, pois nem isso tinha   começa a ir para a escola, ampliando as letras que sua mãe lhe ensinara e as leituras que ele mesmo fizera nos muito conhecidos “romances” ou literatura de cordel. Quem diria que tempos depois daqueles versos aquele menino estaria escrevendo e contando, em prosa, outras histórias, todo santo dia, para um mundo de gente ler!... Pois o que não é o Jornalismo senão um jeito nem sempre divertido, mas profissionalmente obrigatório, de fazer contação de histórias    muitas das vezes duras histórias (tão duras que são chamadas “matérias”).

Dificuldades, sabe-se bem, não escolhem lugar, mas sempre acertam em pessoas. Também não estava fácil a vida na capital para o jovem de Jaguarana: as necessidades se tornarem tão prementes que ele não podia mais se manter e assim suspendeu os estudos na escola e, bom filho, voltou para casa.

Porém, caxiense obstinado, Raimundo Borges não esquentou muito a rede na interiorana Jaguarana. Retornou para São Luís, fez de tudo um pouco (feirante em mercado, ajudante de pedreiro...), serviu o Exército e descobriu a fotografia. Tornou-se retratista de monóculos e de chapa, com cópias em papel.

Dedicado e bom no que fazia, aventurou-se a procurar uma vaga de repórter fotográfico em “O Imparcial”. Foi aprovado. Depois de três anos, em 1973, foi trabalhar em São Paulo (SP), em outros jornais dos Diários Associados, a mesma grande cadeia de veículos de comunicação social à qual pertencia também “O Imparcial”.

Nesse período, dois nomes se destacaram no apoio ao novo e bem intencionado fotorrepórter: Adírson Vasconcelos e Arthur Almada Lima Filho, gestores de “O Imparcial”, que reconheciam o talento do caxiense, a quem foi assegurada vaga de trabalho quando Raimundo Borges resolveu encerrar sua estada profissional na maior cidade do País.

Daí para diante, a realidade dos acontecimentos passou a ser contada contínua e continuadamente. O caxiense Raimundo Borges sabia retratar os fatos, era competente tanto ao escrever com fotos (como em seu início no jornal) quanto ao fotografar com letras. Em ambos os casos, a ocorrência registrada, a história contada, a vida documentada para sempre, ainda que na transitoriedade de um dia... dia a dia.

Com já cinquenta anos [em 2019] só na atividade jornalística, Raimundo Borges tem metade desse tempo no comando da redação do mais acreditado veículo de comunicação da Imprensa maranhense. Não é fácil ser imparcial nestes tempos tão líquidos, tão fluidos, tão voláteis, tão cambiantes, tão imprecisos e, para dizer o mínimo, tão obscuros senão obscurantistas, senão estranhos à civilidade e à Civilização    embora se diga que cada era guarda ou expõe sua própria estranheza...

O menino de Jaguarana venceu as pré-condições que teimavam em querer fincá-lo à terra-localidade onde nasceram ele e seus dez irmãos.

Se não perdeu o jeitão boa-praça e caboclo é porque não nos perdemos de nós mesmos    e aqueles que mais negam a si mesmos, eles sabem, mais fundamente reafirmam em suas entranhas o que são. Quanto mais são negadas as origens, mais isso faz sofrer.

Raimundo Borges, fisicamente grande, tornou-se profissionalmente maior. Sem descuidar de “O Imparcial”, seu talento foi convidado e convocado por outros jornais, revistas e pela Imprensa eletrônica (televisão) e digital, em “sites”, “blogs”, páginas e grupos sociais. Para informar o povo, tornou-se polvo, uma cabeça operando por meio de diversos tentáculos, que reproduzem as informações, interpretações e opiniões que seu privilegiado talento colhe, verifica, confirma, desenvolve e transforma em textos ou áudios e transfere para os leitores, ouvintes, espectadores, internautas.

O trabalho jornalístico desse caxiense já foi solicitado e documentado pelos maiores órgãos da Imprensa brasileira. Não é para todo mundo, jornalisticamente falando, escrever por anos e anos para jornais como “O Globo” (do Rio de Janeiro), “Correio Braziliense” (do Distrito Federal), “O Estadão” ou “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S. Paulo”. Além disso, por ser “buona gente”, Raimundo Borges teve matéria de grande repercussão reproduzida na revista “Internazionale”, da Itália, que desde 1993 divulga, a partir de Roma, o que de melhor é publicado pelos jornais do mundo.

Casado, Raimundo Borges mora em São Luís, onde, além dos três livros inéditos que escreveu e daqueles de que é coautor ou prefaciador, também escreveu seu DNA borgeano em sete filhos, os quais, por sua vez o reescreveram nos dez netos.

As cidades de São Luís e Caxias emolduraram o nome de Raimundo Borges nas diversas honrarias com que o distinguiram, como o título de cidadania são-luisense e a Comenda Simão Estácio da Silveira, ambos concedidos pela Câmara de Vereadores ludovicense, a Medalha do Mérito Legislativo “Manoel Beckman”, da Assembleia estadual, e a Medalha Gonçalves Dias, da Prefeitura de sua terra natal, onde Raimundo também tem assento em duas das Casas de Cultura da cidade    a Academia Caxiense de Letras e este Instituto Histórico e Geográfico, onde passou a ocupar a Cadeira nº 11, que, em igual tempo, é patroneada e abençoada pelo primeiro bispo de Caxias, Dom Luiz Gonzaga da Cunha Marelim.

*

Ao Borges, nossas saudações e votos de saúde, agora e nos muitos anos que hão de vir  e virá o sexagésimo, em 1º de setembro de 2030. Abraços deste seu Conterrâneo (de Caxias), Colega (de Jornalismo), Confrade (de Academias), Companheiro (de Ideais) e Amigo (de sempre).

* EDMILSON SANCHES

Foto:

 Raimundo Borges e “O Imparcial”.

Brasília (DF) 10/11/2024 – Segundo dia do Enem: candidatos respondem a 90 questões até 18h30
Candidatos chegaram cedo para evitar surpresas antes da prova
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

As 4.811.338 inscrições confirmadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025 são, em sua maior parte, de candidatos do Nordeste. Na região, há 1.737.789 inscrições confirmadas, dos quais 587.935 são de concluintes do ensino médio.

O dado consta no Painel Enem 2025, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

A segunda região brasileira com o maior número de inscritos confirmados nesta edição é o Sudeste, com 1.631.563 participantes confirmados, sendo 662.388 concluintes do ensino médio.

Em seguida, aparecem os 561.004 candidatos confirmados do Norte do país, com 193.150 concluintes do ensino médio.

O Sul ocupa a quarta posição em número de candidatos confirmados: 492.876. Do total, 211.433 se formam no ensino médio neste ano.

Por fim, o Centro-Oeste registra 388.106 inscrições confirmadas. Delas, 157.044 são de estudantes que estão no 3º ano do ensino médio.

Estados

Com base no Painel Enem 2025, o Estado com o maior número de inscrições é São Paulo, com 751.648, seguido de Minas Gerais (464.994) e da Bahia (428.019).

Somente o município de São Paulo tem 197.626 inscrições confirmadas. Dessas, 81.179 são de concluintes da educação básica.

As três Unidades da Federação com os menores números de candidatos confirmados são: Amapá, com 33.193; Acre, com 28.962; e Roraima, com 14.162.

Confira o número de inscrições confirmadas por Unidade da Federação:

Unidade federativaInscritos no Enem
Acre28.962
Alagoas96.488
Amazonas110.842
Amapá33.193
Bahia428.019
Ceará275.937
Distrito Federal82.975
Espírito Santo85.920
Goiás166.761
Maranhão211.383
Minas Gerais464.994
Mato Grosso 80.429
Mato Grosso do Sul57.941
Pará289.392
Paraíba142.050
Pernambuco272.299
Piauí120.040
Paraná195.870
Rio de Janeiro329.001
Rio Grande do Norte113.229
Rio Grande do Sul186.541
Rondônia46.801
Roraima14.162
Santa Catarina110.465
Sergipe78.344
São Paulo751.648
Tocantins37.652
Brasil4.811.338

Acessibilidade

No Enem 2025, foram aprovadas 116.541 solicitações de atendimento especializado. Pessoas com déficit de atenção constituem o perfil com o maior número de pedidos: 41.732, correspondente a 35,81%.

Em seguida, vêm candidatos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com 26.051 ou 22,35% das solicitações de atendimento especializado. Os inscritos com baixa visão somam 13.430 pessoas (11,52%). Já 9.741 pessoas com deficiência física (8,36%) farão as provas do Enem.

O exame também disponibilizará 164.864 recursos de acessibilidade. Tempo adicional foi o recurso mais requerido (48.546). Em seguida, estão: auxílio para leitura (25.548); correção diferenciada (24.089); e auxílio para transcrição (17.037).

Perfil dos inscritos

Confira aqui o perfil dos inscritos no Enem 2025. A predominância é de mulheres, pessoas pardas e jovens.

Provas

As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 serão aplicadas nos dias 9 e 16 de novembro de 2025, em quase todo o país.

As exceções são os municípios de Belém, Ananindeua e Marituba, no Pará, devido à realização da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, de 10 a 21 de novembro.

Nas três cidades paraenses, os candidatos do Enem farão as provas nos dias 30 de novembro e 7 de dezembro.

(Fonte: Agência BRASIL)