Lá fora o mundo me esperava,
com suas mandíbulas pesadas,
abertas e retesadas, querendo mastigar-me;
a guerra era santa e as lanças afiadas,
os dias eram longos, e as noites eram tardas;
o céu imenso, o frio intenso;
e a Universidade era invadida por botas e cavalos;
havia gênios de lâmpadas e dragões alados;
Kafka era encontrado a perambular
pela esplanada,
e teorias e conceitos varavam as madrugadas,
e poemas renasciam em noites enluaradas,
auroras e crepúsculos, planaltos e alvoradas;
voltar não é preciso, navegar é preciso,
por mares nunca dantes navegados.
* Fernando Braga, in “Poemas do tempo comum”, São Luís, 2009.
O poema gira em caleidoscópio unindo as pontes portuguesas através de dois seus mais representativos poetas, Camões e Pessoa. O velho Portugal ancorando-se no poema-barco do Fernando Braga desemboca no pátio da UnB, agora a cavalo, o jóquei? Nada menos que o general Newton Cruz. É, a poesia faz milagres.
O mundo lá fora sempre será um mundo inóspito se o mundo aqui dentro estiver com suas luzes apagadas.
Mirei para o infinito e vi o palco com todas as cenas que dormiam no tempo.