– “[...] o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada”.
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Há quase cinco anos, em 28/11/2015, a Poesia maranhense e universal perdeu um Poeta maranhense e universal. Na madrugada daquele dia, um sábado, Nauro Diniz Machado morreu.
Hoje, Nauro (re)nasce. É dia de seu aniversário de nascimento, havido em São Luís.
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Por mais que digam que poetas não morrem, isso é só... uma liberdade poética.
Poetas morrem, sim, embora possa não morrer a poesia de cada um, poesia que, contrariamente, pode até se tornar mais vívida e vivida.
Nauro Machado havia completado, em 2015, seus exatos 80 anos de nascimento. Se sua poesia era universal, o poeta era provinciano, isto é, gostava de ficar, de permanecer em sua cidade natal, dela só se afastando para raras incursões fora do Estado.
Desde a década de 1970 que conheço Nauro. Conheci-o por intermédio do jornalista e escritor teresinense-caxiense Vítor Gonçalves Neto: eu escrevia, adolescente, uma página literária no jornal “O Pioneiro”, de Caxias, dirigido pelo Vítor (falecido há 30 anos, em 1989).
Em Caxias, Imperatriz e São Luís reencontrei Nauro Machado em momentos fortuitos. Apenas uma vez combinamos um encontro, um almoço, momento que juntos partilhamos em Imperatriz.
Além de alguns livros com dedicatória, tenho e mantenho do Nauro boa imagem como pessoa, agradável e sem “intelectualismos” nas conversas que (man)tivemos, bem-humorado, apesar da gravidade do rosto nas fotos.
Chego a dizer que, pelo menos nos momentos comuns que dividimos, Nauro Machado era um sujeito muito simples. Claro que, aqui e acolá, se a conversa descambava para algo mais, digamos, sofisticado em termos de Literatura, ali estava o literato à altura. Sua obra, então, nem se fala: mentes mais competentes dela já falaram e vêm falando, analisando, avaliando... com as melhores notas.
Se Nauro era ou parecia ser um sujeito comum, sua obra, não.
Nauro, filho de "seu" Torquato e dona Maria de Lourdes, marido de Arlete (escritora de ótimas obras), homem versado nas Artes e na Filosofia, partiu há quase cinco anos para o desvelamento do mistério pós-morte.
Em verso não metrificado, Nauro media-se a si mesmo, ao dizer que estava ocupando...
... “o espaço que não é meu, mas do universo”,...
...”espaço do tamanho do meu corpo aqui, enchendo inúteis quilos de um metro e setenta e dois centímetros [...]”.
Nesse poema “do ofício”, Nauro menciona aqueles que o...
...”mandam pro inferno, se inferno houvesse pior que este inumano existir burocrático”.
Também ouve ou identifica “o escárnio da minha província” e vaticina (pois que é um vate...) que...
... “o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada”.
Liberdades poéticas e sensibilidades literárias à parte, claro que Nauro Machado era, com Ferreira Gullar e José Salgado Maranhão, a grande referência maranhense contemporânea além-Maranhão na difícil arte da grande “ars poética”.
Claro que seu espaço ia além, muito além, dos automedidos 172 centímetros.
Claro que o inferno não é uma escolha nem lugar para onde se mande, se ele existir – como o verso nauriano se permitiu duvidar.
Claro que não há escárnio – só ex-carne.
É claro que o mundo e a Vida continuarão sem Nauro – pois é do mundo e da Vida continuarem, ainda que sem um ser que sabia observá-los,...
...sabia absorvê-los...
... e sabia (re)pintá-los com originais pinceladas de letras.
* EDMILSON SANCHES